tratamento de efluentes de abatedouros de bovino para ... · primeiro a (os) deus (es), por tudo!...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA AMILCAR PEREIRA CARDOSO Tratamento de efluentes de abatedouros de bovino para produção de biogás: Uma abordagem para sustentabilidade Escola de Engenharia de Lorena USP Lorena, 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

AMILCAR PEREIRA CARDOSO

Tratamento de efluentes de abatedouros de bovino para produção de biogás: Uma

abordagem para sustentabilidade

Escola de Engenharia de Lorena – USP

Lorena, 2015

1

AMILCAR PEREIRA CARDOSO

Tratamento de efluentes de abatedouros de bovinos para produção biogás: Uma

abordagem para sustentabilidade

Escola de Engenharia de Lorena – USP

Monografia apresentada como

requisito parcial para a conclusão

de Graduação do Curso de

Engenharia Bioquímica

Orientador: Prof. Dr. Flávio

Teixeira da Silva

Lorena, 2015

2

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A

FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Assessoria de Documentação e Informação

Escola de Engenharia de Lorena

Cardoso, Amilcar Pereira

Tratamento de efluentes de abatedouros de bovinos

para produção de biogás: Uma abordagem para

sustentabilidade / Amilcar Pereira Cardoso;

orientador Flávio Teixeira da Silva. - Lorena, 2015.

52 p.

Monografia apresentada como requisito parcial

para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia

Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo. 2015

Orientador: Flávio Teixeira da Silva

1. Biogás. 2. Efluente de abatedouro. 3.

Sustentabilidade. I. Título. II. da Silva, Flávio

Teixeira, orient.

3

Dedico este trabalho a minha Avó, Dulce de

Campos Pereira, e ao meu Pai, Hamilton Bernardes

Cardoso, que onde quer que estejam tenho certeza

que estão me olhando, me guiando e me apoiando. Ao

meu Avô, João Manoel Pereira Filho, a minha mãe,

Dulce Maria Pereira, meu pai, meu irmão, Augusto

Mayela Pereira Cardoso, os quais sempre me

apoiaram nos momentos mais difíceis e sempre

partilham dos momentos mais felizes. E a minha

namorada, Priscila Berenice da Costa, que está do

meu lado todo dia me fazendo um homem melhor e

lutando as batalhas da vida

4

Agradecimentos

Primeiro a (os) Deus (es), por tudo!

Ao meu Avô, João Manoel Pereira Filho, por me ajudar tanto em todos esses

anos difíceis, sempre me apoiando com suas palavras e seus gestos

indescritíveis e seu coração e amor imenso. A minha mãe, Dulce Maria Pereira,

por ser essa mulher incrível e forte, que me educou para, acima de tudo, ser um

homem lutador, honesto, afetivo e digno. Muito obrigado por ser INCRÍVEL! Ao

meu irmão, Augusto Mayela, sempre juntos.

Aos meus tios e tias por todo o apoio, de todos as maneiras!

A Priscila Berenice da Costa, que me faz ter forças quando não parece existir

mais nada no mundo.

Ao meu orientador, Flávio Teixeira, e a sua esposa, Teresa Paiva, por toda

a paciência e ajuda, durante o processo de elaboração deste trabalho. Ao

Professor Segato, pela mesma paciência e ajuda.

Aos professores que me inspiraram, que serão referência ao longo da vida,

e que realmente me transmitiram conhecimento, da EEL, da UEL, Lawrence

University e da EDN.

Aos meus amigos, que eu amo, que são família, obrigado! De Lorena: Gui,

Didi (Ornellas), Zacarias (Moreti) e Dedé (Carlão), sem vocês não sei como teria

sido essa reta final; muito obrigado, e um “colar de beijos”. Japoneura (Carol

Horie) e Bianca Komodo (Rebeca) obrigado pela amizade verdadeira todos

esses anos. From Lawrence: George Barrios and Danyial Noorani, thanks for all

the inspiration, you are my brothers. Aos grandes amigos de Rio Preto e de

Brasília, eternos!

Ao meu mentor na Accenture, Rafael e aos meus chefes Adriano e Gustavo,

por acreditarem no meu trabalho e apoiarem sempre.

5

“Learn from yesterday, live for today, hope for tomorrow. The important thing

is not to stop questioning.”

Albert Einstein

Tocando em Frente (Almir Sater)

“Ando devagar Porque já tive pressa E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza De que muito pouco sei

Ou nada sei

Conhecer as manhas E as manhãs

O sabor das massas E das maçãs

É preciso amor

Pra poder pulsar É preciso paz pra poder sorrir É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia

Todo mundo chora Um dia a gente chega E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história

Cada ser em si Carrega o dom de ser capaz

E ser feliz”

Tá Escrito (Xande de Pilares)

“Quem cultiva a semente do amor

Segue em frente não se apavora

Se na vida encontrar dissabor

Vai saber esperar sua hora

Às vezes a felicidade demora a chegar

Aí é que a gente não pode deixar de sonhar

Guerreiro não foge da luta e não pode correr

Ninguém vai poder atrasar quem nasceu pra

vencer

É dia de sol mas o tempo pode fechar

A chuva só vem quando tem que molhar

Na vida é preciso aprender se colhe o bem que

plantar

É Deus quem aponta a estrela que tem que brilhar

Erga essa cabeça mete o pé e vai na fé

Manda essa tristeza embora

Basta acreditar que um novo dia vai raiar

Sua hora vai chegar”

6

Resumo

CARDOSO, A. P. Tratamento de efluentes de abatedouros de bovino para

produção de biogás: Uma abordagem para sustentabilidade. 2015. 52 p.

Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação) – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015.

Este trabalho é uma revisão bibliográfica e estuda o tratamento de efluentes

de abatedouros bovinos com o objetivo de produção de biogás para conversão

em energia. Identifica que a prática de descarte dos efluentes como efluente

líquido, com manejo e tratamento inadequado é severa fonte de contaminação

do meio ambiente, criando focos de agentes patogênicos e contaminando as

águas superficiais e subterrâneas. O estudo propõe, referenciado nas

publicações identificadas, que as águas residuárias de abatedouro, que se

caracterizam como efluente com elevada concentração de matéria orgânica,

biomassa, sejam tratadas por biodigestão anaeróbia, com geração de energia.

Trata dos processos de abate, dos modelos de biodigestores e dos processos

de biodigestão anaeróbia. São descritos as fases e os fatores que influenciam

na digestão anaeróbia, com foco na metanogênese, uma vez que o metano é o

componente principal do biogás. Inclui observação sobre a viabilidade financeira

da construção de biorreator em um abatedouro e os possíveis benefícios

financeiros resultantes, inclusive e com a comercialização de crédito de carbono.

O trabalho aborda os programas em que se insere a proposta, identifica em

linhas gerais as possibilidades de produção de energia a partir dos resíduos do

abate de bovinos hoje descartado com impactos negativos para o ambiente e

situa a proposta no contexto da contribuição da engenharia para a produção de

energia limpa e redução de uso de recursos naturais, contribuindo com práticas

tecnológicas mais sustentáveis. O estudo bibliográfico conclui que há prática,

pesquisa e literatura que demonstram ser viável o tratamento de efluentes de

abatedouros de bovino para produção de biogás.

Palavras-chave: Biogás. Efluente de Abatedouro. Tratamento de

efluentes. Sustentabilidade

7

Abstract

CARDOSO, A. P. Biogas production from cattle abattoir wastewater: An

approach towards sustainability. 2015. 52 p. Thesis (Undergraduate Thesis)

– Engineering School Lorena, University of São Paulo, Lorena, 2015.

This work is a literary review and studies wastewater treatment of cattle

slaughterhouses as to produce energy through biogas yield. It identifies its liquid

effluents, and that the inadequacies of its management and disposal as a severe

source of contamination to the environment, creating pathogenic agents and

contaminating surface and underground waters. This study suggests, by

referencing to other works, that slaughterhouse wastewater, which is

characterized as an effluent with high organic and biomass loads, can be treated

by anaerobic digestion, generating biogas, followed by generating energy. It

describes the slaughtering processes, biodigester models and the anaerobic

digestion processes. The anaerobic digestion phases and its influencing factors

are also described, focusing on methanogesis, as methane is biogas’ main

component. It discusses the financial viability of building a biodigester in a

medium sized abattoir and the possible financial benefits from biogas and energy

harnessing and the possibility of Carbon Credits trading. This paper addresses

the programs of which this proposal is inserted, it identifies, from a general

standpoint, the production of energy from the residues of cattle slaughterhouse

and proposes engineering to contribute to a cleaner energy generation and

reduction of natural resources, further contributing to more sustainable

technological practices. The literature review concludes that there are projects,

research and literature to sustain the viability of treating cattle slaughterhouse

wastewater to generate biogas.

Key words: Biogas. Cattle Slaughterhouse wastewater. Wastewater

treatment. Sustainability.

8

Sumário

1. Introdução .................................................................................................... 10

2. Objetivos e organização ............................................................................... 15

2.1. Objetivo geral ........................................................................................ 15

2.2. Objetivo especifico................................................................................. 15

2.3. Organização .......................................................................................... 15

3. Processo de abate ........................................................................................ 17

3.1. Recepção .............................................................................................. 18

3.2. Condução e Lavagem ............................................................................ 19

3.3. Atordoamento ........................................................................................ 19

3.4. Sangria .................................................................................................. 19

3.5. Esfolação e remoção da cabeça ............................................................ 19

3.6. Evisceração ........................................................................................... 19

3.7. Corte da carcaça ................................................................................... 20

3.8. Refrigeração .......................................................................................... 20

4. Efluente resultante do abate ......................................................................... 21

4.1. Tratamento do efluente .......................................................................... 21

4.2. Caracterização do efluente .................................................................... 24

5. Tratamento anaeróbio do efluente ................................................................ 26

5.1. Fundamentos da digestão anaeróbia ..................................................... 26

5.1.1. Etapas Bioquímicas da Digestão Anaeróbia ................................... 28

5.2. Fatores que influenciam na digestão anaeróbia ..................................... 31

5.2.1. Temperatura interna do biodigestor ................................................ 31

5.2.2. Controle do pH do meio .................................................................. 32

5.2.3. Concentração de sólidos voláteis ................................................... 32

5.2.4. Inibição pela Amônia ...................................................................... 32

5.2.5. Macro e micronutrientes e substancias toxicas ............................... 32

5.2.6. Quantidade de matéria seca (MS) .................................................. 33

6. Biogás .......................................................................................................... 34

9

6.1. Reatores ................................................................................................ 35

6.1.1. Reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente (UASB) .... 35

6.1.2. Biodigestor ..................................................................................... 36

6.1.3. Lagoas anaeróbias ......................................................................... 39

6.2. Tratamento do biogás ............................................................................ 40

6.2.1. Remoção de umidade ..................................................................... 40

6.2.2. Retirada de gás sulfídrico por óxido férrico ..................................... 40

6.2.3. Remoção de gás carbônico ............................................................ 41

6.3. Fatores operacionais que influenciam produção de Biogás ................... 41

6.3.1. Carga orgânica ............................................................................... 41

6.3.2. Tempo de retenção hidráulica (TRH) .............................................. 42

7. Geração de energia a partir do biogás .......................................................... 44

7.1. Combustão direta .................................................................................. 45

7.2. Geração combinada de energia e calor ................................................. 45

8. Viabilidade financeira .................................................................................... 46

9. Conclusões ................................................................................................... 47

10. Referências bibliográficas ................................................................... 48

10

1. Introdução

O grande desafio da engenharia e do engenheiro contemporâneo é elaborar

projetos e concretizá-los segundo as premissas de sustentabilidade, atendendo

as demandas da sociedade e necessidade de desenvolvimento das sociedades

sem agredir o meio ambiente, ou reduzindo o impacto e a utilização dos recursos

naturais e, ainda assim, conseguir gerar lucro (CRISTINA et al., 2010). A

engenharia sempre foi a grande responsável em suprir as demandas geradas

pela humanidade, de abrigo e mobilidade, por recursos como maior oferta e

melhor qualidade de alimentos, avanços tecnológicos e melhora dos níveis de

conforto (BRAGA et al., 2012). Porém, por desconhecimento dos impactos

ambientais que seriam gerados e aumento desenfreado na demanda pelos

recursos supracitados a partir da revolução industrial, a prática não sustentável

da engenharia, ou a subordinação a modelos não sustentáveis de

desenvolvimento, somada a outras atividades antrópicas, resultou em grande

desequilíbrio ambiental.

Energia é o tema chave quando se fala em desenvolvimento sustentável.

Para que ocorra um desenvolvimento sustentável são necessárias fontes de

energia limpas e economicamente viáveis, que não causem impactos ambientais

e socioambientais negativos. Atualmente as fontes não renováveis de energia

são responsáveis por, aproximadamente, 86%, da oferta energética global

(BRAGA et al., 2012). A produção de energia através de fontes não renováveis

configura um dos grandes problemas ambientais e socioambientais atuais. A

utilização de combustíveis fosseis e seus derivados gera resíduos como como

óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, dióxido de carbono, metano, monóxido

de carbono e particulados. Usinas hidroelétricas, que configuram como fontes

renováveis de energia (BRAGA et al., 2012) e eram tidas como fontes limpas de

energia, segundo estudos recentes são fontes de emissão significativa de

dióxido de carbono e metano (FEARNSIDE, 2008), geram graves problemas

socioambientais devido à construção das represas e formação de grandes lagos

os quais interferem sobre os fluxos dos rios e implicam na destruição de

ecossistemas estabelecidos e realocação das populações nas áreas atingidas.

O biogás é entendido como fonte de energia sustentável e renovável e pode ser

obtido através da conversão da biomassa em metano que pode ser armazenado

11

e utilizado como combustível(BRAGA et al., 2012). Uma das principais fontes de

biogás é de rejeitos orgânicos, consequentemente o que seria lixo e poderia ser

lançado no meio ambiente é transformado em energia. (AHMAD, 2013). Por um

lado, o Brasil assumiu, na Conferência de mudanças Climáticas, em 2012, a

meta voluntária de reduzir a emissão de gases de efeito estufa entre 36,1% a

38,9% até 2020 (em relação ao que emitia em 1990) ((UNITED NATIONS),

2013). Por outro, as práticas de produção e geração de energia ainda são

geradoras de grande impacto. Além do baixo investimento em fontes alternativas

de energia, há pouco investimento na redução do desperdício de matérias primas

que podem ser utilizadas ou reutilizadas, como é o caso dos rejeitos orgânicos

(AMARAL; CORDEIRO; GALERANI, 2011; MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

PECUÁRIA E DESENVOLVIMENTO, 2012)

A bovinocultura, o abate e o processamento de bovinos, é uma das principais

atividades econômicas do Brasil no mercado mundial. O rebanho brasileiro é o

maior do mundo com cerca de 200 milhões de cabeças e, desde 2004, o Brasil

é líder mundial de exportação de carne com um quinto da carne vendida no

mundo (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E DESENVOLVIMENTO,

2015), segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária em 2014 foram abatidas

26,9 milhões cabeças de bovinos no Brasil (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

PECUÁRIA E DESENVOLVIMENTO, 2014).

Parte dos problemas ambientais decorrentes dos abates de bovinos são

resultantes do pouco, ou não tratamento, do efluente gerado a partir das várias

etapas de abate dos animais. Embora o tratamento destes resíduos seja

obrigatório por lei (resoluções 357/2005 e 385/2007 do CONAMA), a fiscalização

dos pequenos abatedouros não é rotineira e criteriosa os resíduos dos mesmos

muitas vezes são descartados sem tratamento no meio ambiente,

frequentemente nos recursos hídricos.

A atividade de abate de bovinos gera uma grande quantidade de efluentes

que em quase sua totalidade é descartada como efluente líquido. Se este

efluente recebe manejo e tratamento inadequado, se torna fonte de

contaminação ao meio ambiente, caso contrário os danos que pode causar

podem ser significativamente reduzidos. As águas residuária de abatedouros

contêm sangue, gordura, excrementos, substâncias contidas no trato digestivo

12

dos animais, fragmentos de tecidos, entre outros, caracterizando um efluente

com elevada concentração de matéria orgânica, biomassa (PACHECO;

YAMANAKA, 2008). Esse efluente, quando disposto ao meio ambiente sem

tratamento, representa focos de proliferação de insetos e de agentes

patogênicos, além de contaminação de águas superficiais e subterrâneas.

Porém, se tratado corretamente, o resíduo pode ser convertido em biogás, fonte

de energia alternativa e renovável de grande potencial (KOTHARI; TYAGI;

PATHAK, 2010).

Um método amplamente empregado no tratamento de resíduos é a

biodigestão anaeróbia para captação destes gases, sendo apontada como um

dos melhores processos para o tratamento de efluentes oriundos de abatedouros

(GAVRILESC & CHISTI, 2005). Como produtos resultantes destacam-se a

produção de energia, redução da matéria orgânica, diminuição de odores

desagradáveis e a eliminação de patógenos. A técnica pode ser definida como

um processo biológico natural que ocorre na ausência de oxigênio molecular, no

qual diferentes tipos de microrganismos interagem para promover a

transformação de compostos orgânicos complexos em produtos mais simples,

resultando, principalmente, nos gases metano e dióxido de carbono (SUNADA,

2011).

Nos processos anaeróbios a degradação da matéria orgânica envolve a

atuação de microrganismos procarióticos anaeróbios facultativos e obrigatórios,

cujas espécies pertencem ao grupo de bactérias hidrolíticas-fermentativas,

acetogênicas produtoras de hidrogênio e metanogênicas, contendo, portanto,

quatro etapas: a hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese

(NASCIMENTO, 2009).

O biogás produzido pela degradação da matéria orgânica (biodigestão

anaeróbia) é composto principalmente de metano e dióxido de carbono com

pequenas quantidades de outros gases, podendo ser utilizado em diversas

aplicações como, por exemplo, na geração de energia elétrica, térmica, ou gás

combustível. O uso do biogás não traz somente ganhos econômicos devido à

redução dos gastos com combustíveis, como também traz ganhos ambientais

por meio da troca de um combustível não renovável por um renovável e redução

13

da contribuição da atividade para o aquecimento global, pela queima dos gases

considerados de maior poder nocivo (OLIVEIRA, 2011).

A biodigestão anaeróbia oferece várias vantagens como: conversão de

resíduos orgânicos em gás metano, o qual pode ser usado diretamente como

fonte energética; redução da emissão de amônia; controle de odores e o efluente

da digestão anaeróbia, que pode ser utilizado como biofertilizante nas

plantações, por ser fonte de vários minerais, além de contribuir para a rápida

amortização dos custos da tecnologia instalada.(AIRES, 2009) (BORIN et al.,

2013)

Produção mais Limpa é o processo de aplicação de métodos e tecnologias

na busca do rendimento total, que maximizem os produtos resultantes das

matrizes produtos-insumos, com a utilização máxima dos insumos no processo

de fabricação, com redução d as emissões de gases de efeito estufa (PEREIRA,

2011).

Os mecanismos e processos para a execução desta forma de produção são

intitulados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). A aplicação contínua

de uma estratégia ambiental preventiva e integrada nos processos produtivos,

nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos relevantes para os seres

humanos e para o ambiente natural é o que se define como Produção Mais

Limpa (P+L).

A redução do desperdício, do impacto à saúde humana e ao ambiente, com

aumento dos lucros, segundo estudos de viabilidade, demonstra que processos

de P+L podem ser vantajosos no caso de tratamento de resíduos gerados nos

abatedores de bovinos.

O Protocolo de Kioto, tratado internacional referente à redução de emissão

de gases de efeito estufa, define que os países com maior desenvolvimento

relativo têm a obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Países

ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções de emissões

tornam-se compradores de créditos de Carbono. Por outro lado, aquelas

indústrias que conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas

determinadas, podem vender o excedente de “redução de emissão” ou

“permissão de emissão” no mercado nacional ou internacional (PEREIRA, 2011).

14

O sistema permite que cada empresa estabeleça seu próprio ritmo de adequação

às leis ambientais. Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2)

equivalente corresponde a um crédito de carbono. Uma tonelada de metano

reduzida corresponde a 21 créditos de carbono. Os créditos de carbono,

portanto, são certificados de redução de emissões de gases do efeito estufa

(GEE) negociados no âmbito do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).

O tratamento de efluentes pode gerar energia e, ainda, segundo estudos,

receitas advindas da venda de créditos de carbono, conforme metodologias de

estimativa da produção de metano em reatores anaeróbios e de cálculo das

emissões aprovadas pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre

Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Os projetos de MDL, especificamente aqueles de crédito de carbono,

passam por etapas complexas de avaliações criteriosas e acompanhamento

técnico. Assim, em si, além dos rendimentos financeiros possíveis, podem ser

importantes para que se estabeleça uma cultura de tratamento de resíduos, no

caso da bovinocultura. A substituição, ou redução do uso de combustível fóssil

pelo biogás tem sido avaliada seguindo: o volume de biogás que substitui o

combustível fóssil consumido pela instalação; o poder calorífico inferior do

biogás; e o conteúdo de carbono do combustível fóssil utilizado.

15

2. Objetivos e organização

2.1. Objetivo geral

Este trabalho tem como objetivo geral estudar o tratamento de efluentes

de abatedouros bovinos com geração de biogás, a partir da literatura.

2.2. Objetivo especifico

O objetivo específico é fazer uma revisão bibliográfica sobre a produção de

biogás a partir do tratamento de efluente líquidos, focando no efluente de

abatedouros de bovinos, de modo que se demonstre a viabilidade da adoção

desta técnica, visando um retorno financeiro para abatedouros de pequeno e

médio porte. Uma vez que o tratamento dos efluentes gerados não é apenas um

dever legal, mas, também, um dever ético socioambiental das empresas, e

considerando-se que o referido processo pode-se autofinanciar, além de evitar

impacto ambiental, a melhor compreensão do mesmo pode iniciar a mudança

necessária na atitude, e mentalidade, dos donos de abatedouros.

2.3. Organização

O capitulo introdutório traça um panorama geral da pecuária bovina brasileira

de corte brasileira e indica a necessidade de um tratamento adequado dos

efluentes desta atividade para combater a deterioração do meio ambiente.

Também introduz o biogás e como sua produção e utilização está intimamente

relacionada ao tratamento e efluentes de abatedouros.

O segundo capitulo define os processos de abate e os efluentes gerados

durante estes procedimentos. Os processos e os efluentes resultantes são

descritos de forma breve e, no caso dos efluentes, de maneira introdutória.

No terceiro capitulo é discutida a caracterização química e bioquímica dos

efluentes.

O tratamento anaeróbio de efluentes orgânicos é o tema do quarto

capítulo. São descritas as fases do processo e os fatores que influenciam na

digestão anaeróbia, com foco na metanogênese pois o metano é o componente

principal do biogás.

16

O quinto capítulo trata sobre o biogás e a sua produção. São discutidos

maneiras de se formar e purificar o biogás, e parâmetros de dimensionamento

de um biodigestor

Já o sexto capítulo trata de algumas maneiras em que se pode utilizar o

biogás para formação de energia.

No sétimo capitulo são apresentados dados sobre a viabilidade financeira

da construção de um biorreator em um abatedouro e os possíveis benefícios

financeiros resultantes.

17

3. Processo de abate

Segundo o Art. 21 do Decreto nº 30.691/52 da Lei Federal nº 1.283/50, que

especifica a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal, a

definição de matadouro, abatedouro ou frigorífico é: “Estabelecimento dotado de

instalações adequadas para a matança de quaisquer das espécies de açougue,

visando o fornecimento de carne em natureza ao comércio interno, com ou sem

dependências para industrialização; disporá obrigatoriamente, de instalações e

aparelhagem para o aproveitamento completo e perfeito de todas as matérias-

primas e preparo de subprodutos não comestíveis. O atendimento correto da

disposição dos resíduos, as fases do processo tecnológico do abate e a rigorosa

observância da higiene, antes, durante e após os seus trabalhos, são princípios

básicos, cujo respeito constitui a garantia da obtenção de um produto

mercadologicamente valioso, higienicamente idôneo e ecologicamente correto”.

De acordo com Pacheco e Yamanaka (2008, p.27) matadouros “realizam o abate

dos animais, produzindo carcaças (carne com ossos) e vísceras comestíveis.

Algumas unidades também fazem a desossa das carcaças e produzem os

chamados “cortes de açougue”, porém não industrializam a carne”.

Durante este processo grande quantidade de sangue, gorduras,

excrementos, substâncias estomacais dos animais e resíduos da lavagem de

pisos, equipamentos e utensílios é descartado. A Figura 1 apresenta um

fluxograma macro dos processos utilizados e dos efluentes gerados. A seguir

uma breve descrição de cada processo e dos efluentes produzidos, de acordo

com Pacheco e Yamanaka (2008).

18

Figura 1- Fluxograma básico de bovinos (PACHECO; YAMANAKA, 2008)

3.1. Recepção

Depois de transportado por caminhões, ou encaminhados pelos

funcionários, os animais são inspecionados e separados de acordo com a

procedência para recuperar-se do stress (Figura 1). Nesta fase diminuem o

conteúdo intestinal e estomacal, portanto deixam excremento pelo local. Os

animais também são lavados para redução do stress e limpeza do couro. Essa

água, junto com os dejetos dos animais, e o produto da posterior raspagem, são

enviados para a ETE.

19

3.2. Condução e Lavagem

Depois do repouso, os animais são enviados par ao abate, este trajeto é

denominado condução, onde também mesmo ocorre a lavagem dos animais

para eliminação de esterco e outras sujidades, os quais seguem para a ETE.

3.3. Atordoamento

Esta fase tem como objetivo deixar o animal inconsciente. Nela o animal tem

o seu crânio perfurado, por uma marreta pneumática, e consequente destruição

do seu cérebro. É comum que os animais vomitem nesta etapa, portanto eles

recebem jatos d’água para limpeza, que segue para a ETE.

3.4. Sangria

Esta etapa tem como objetivo matar o animal, o que é feito através da

exsanguinação a qual resulta em morte por falta de oxigenação no cérebro. O

animal passa por outra lavagem e é içado de ponta-cabeça; o seu pescoço é

cortado, na região dos grandes vasos e o animal sangra até a morte. Cada

animal gera em torno de 15/20 litros, que normalmente são colhidos e reservados

para outros usos ou podem ir para uma ETE.

3.5. Esfolação e remoção da cabeça

Esta fase tem como objetivo a remoção da cabeça e a retirada do couro, o

qual é enviado para graxarias. Existem processos de lavagem durante essa

etapa para garantir melhor visualização das estruturas do animal, sendo que os

efluentes líquidos também são direcionados para uma ETE, podendo conter

sangue.

3.6. Evisceração

A evisceração envolve a remoção das vísceras abdominais e pélvicas, além

dos intestinos, bexiga e buxo. Os efluentes gerados são oriundos das águas de

lavagens para visualização de estruturas do animal, e da água resultante da

máquina lavadora de buchos.

20

3.7. Corte da carcaça

Aqui as carcaças serão preparadas para estoque. O efluente gerado é

proveniente da água que lava as serras para retirada de fragmentos ósseos e de

aparas de gordura e outros apêndices que possam estar presentes durante o

processo.

3.8. Refrigeração

Resfriamento das carcaças para reduzir a possibilidade crescimento

microbiano. Outro efluente pode ser gerado quando as câmaras são lavadas.

21

4. Efluente resultante do abate

4.1. Tratamento do efluente

De acordo com o Guia Técnico Ambiental de Abate Bovino e Suíno

(PACHECO; YAMANAKA, 2008) o efluente liquido resultante deve ser submetido

a quatro fases de tratamento:

1. Separação ou segregação inicial dos efluentes líquidos em duas linhas

principais: separar efluentes das áreas dos processos que envolvem

sangue (linha vermelha) dos que não envolvem sangue (linha verde);

2. Tratamento primário: “remoção de sólidos grosseiros, suspensos

sedimentáveis e flotáveis por ação físico-mecânica”(PACHECO;

YAMANAKA, 2008).

3. Equalização: Junção dos efluentes das linhas verde e vermelha;

4. Tratamento secundário: tratamento por ação biológica (o foco deste

trabalho)

5. Tratamento terciário: Ajuste das propriedades físicas, químicas e

bioquímicas de acordo com as exigências legais, para que se faça o

descarte.

Os efluentes resultantes dos processos de abate, normalmente, são

divididos em duas linhas; a linha verde e a vermelha. Na linha verde são

despejados os efluentes líquidos que não contém sangue, isto é, gerados em

áreas que não ocorrem processos que contém a lavagem de sangue, como

recepção, currais, área de condução. Já a linha vermelha contém os efluentes

que contém sangue. Embora separados, e os tratamentos iniciais dos efluentes

das duas linhas são bastante similares e tem o mesmo objetivo: facilitar e

promover um melhor tratamento primário através de processos bioquímicos para

garantir um tratamento biológico, que ocorre após a equalização das linhas.

(MORALES et al., 2009; PACHECO; YAMANAKA, 2008)

No tratamento primário é realizado separadamente em cada linha, porém o

intuito é o mesmo; “remoção dos sólidos grosseiros, suspensos sedimentáveis e

flotáveis principalmente por ação físico-mecânica. Geralmente, empregam-se os

seguintes equipamentos: grades, peneiras e esterqueiras/ (estas, na linha

22

“verde”, em unidades com abate), para remoção de sólidos grosseiros; na

sequência, caixas de gordura (com ou sem aeração) e/ou flotadores, para

remoção de gordura e outros sólidos flotáveis; em seguida, sedimentadores,

peneiras (estáticas, rotativas ou vibratórias) e flotadores (ar dissolvido ou

eletroflotação), para remoção de sólidos sedimentáveis, em suspensão e

emulsionados - sólidos mais finos ou menores”(PACHECO; YAMANAKA, 2008).

No tanque de equalização ocorre a adequação, homogeneização e

equalização dos efluentes das duas linhas, de modo que não haja variação de

carga, vazão ou dos parâmetros ideais do efluente para que ocorra o tratamento

anaeróbio do efluente.

O tratamento secundário consiste no tratamento biológico (neste caso

anaeróbio) do efluente de modo a estabiliza-lo e deixa-lo mais próximo das

características necessárias para o descarte. Detalhes deste tratamento será

descrito mais a fundo no próximo capitulo.

Já o tratamento terciário é realizado no caso em que o efluente resultante do

tratamento secundário seja inadequado para descarte. Ele é considerado como

um “ “polimento” final dos efluentes líquidos provenientes do tratamento

secundário, promovendo remoção suplementar de sólidos, de nutrientes

(nitrogênio, fósforo) e de organismos patogênicos.

Na Figura 2 é possível ver o fluxograma do sistema de tratamento de

efluentes de um Abatedouro na cidade de Lins, em São Paulo, estudado por

MORALES (2009). As linhas verde e vermelha seguem separadas até o tanque

de equalização, assim como sugerido pela CETESB (PACHECO; YAMANAKA,

2008). Os pontos P1 até P8 da 2 representam as duas linhas e são definidos

abaixo (Tabela 1) (MORALES et al., 2009):

Tabela 1 - Classificação dos efluentes da Figura 2

Ponto Tipo de efluente Composição do efluente

P1 Linha vermelha antes

da caixa de gordura

Composto pelas águas de lavagem

da sala de sangria, lavagem da

carcaça, limpeza dos equipamentos,

23

limpeza da graxaria e água de

cozimento;

P2 Linha vermelha após a

caixa de gordura

Composto pelas mesmas águas do

ponto 1;

P3 Linhas vermelha e

verde antes da peneira

Compostas pelas águas

mencionadas no ponto 1 e 2, além da

água de banho, limpeza dos currais e

lavagem do conteúdo ruminal;

P4 Afluente dos

biodigestores

Compostas pelas mesmas águas

do ponto 3;

P5 Efluente do biodigestor

1

Compostas pelas mesmas águas

do ponto 3;

P6 Efluente do biodigestor

2

Compostas pelas mesmas águas

do ponto 3;

P7 Efluente dos

biodigestores 1 e 2 Afluente das lagoas de polimento;

P8 Efluente das lagoas de

polimento Afluente das lagoas de polimento

Fonte 1: (MORALES et al., 2009)

24

Figura 2 - Fluxograma do sistema de tratamento de água residuária do abatedouro de bovinos (MORALES et al., 2009)

4.2. Caracterização do efluente

Para definir a melhor maneira de se tratar esse efluente tanto para descarte

como para a produção de biogás é necessário determinar as características do

mesmo, para que possamos saber quais são as variáveis que devem ser

controladas. O efluente gerado em possui altas cargas de gordura (lipídeos)

óleos e graxas, sólidos suspensos, nitrogênio, fósforo e proteína. Na Tabela 2

estão as características dos efluentes do abate bovino

25

As gorduras, os óleos e as graxas contribuem amplamente para o aumento

da DBO e DQO e, ao mesmo tempo que têm um alto potencial de geração de

metano, a sua baixa taxa de degradabilidade pode gerar vários problemas como:

entupimento de canos, geração de maus odores, flotação do lodo e adesão à

superfície da célula bacteriana. Assim, reduzindo a habilidade de metabolizar o

efluente consequentemente limitando o transporte dos substratos solúveis para

biomassa, portanto reduzindo a eficiência da remoção de DBO e DQO (MCCABE

et al., 2014; STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010). Também, durante a

hidrolise dos lipídios por lipases extracelulares, ácidos graxos de cadeia longa

são produzidos sendo, que estes intermediários, podem inibir a produção de

biogás (RINZEMA et al., 1994; apud PALATSI et al., 2011).

Como o efluente de abatedouros apresenta alta taxa de materiais orgânicos,

principalmente lipídios e proteínas, este efluente pode ser considerado como um

bom substrato para digestão anaeróbia para gerar altas taxa de produção de

metano (PALATSI et al., 2011). Na Tabela 2 estão as características dos

efluentes do abate bovino de acordo com Pacheco e Yamanaka (2008) (apud

UNEP; DEPA; COWI, 2000).

Tabela 2 - Concentrações médias de poluentes em efluentes de abatedouros

Parâmetro Concentra

ção

DBO5 (mg/L) 2000

DQO (mg/L) 4000

Sólidos suspensos (mg/L) 1600

Nitrogênio total (mg/L) 180

Fósforo total (mg/L) 27

Óleos e graxas (mg/L) 270

pH 7,2

Fonte: Pacheco e Yamanaka, 2008 apud UNEP; DEPA; COWI (2000)

26

5. Tratamento anaeróbio do efluente

5.1. Fundamentos da digestão anaeróbia

A digestão anaeróbia é, a base do tratamento anaeróbio, o resultado de

processos metabólicos complexos de vários microrganismos, cada um

realizando uma função especifica e em um sistema balanceado, que tem como

consequência a conversão de matéria orgânica complexa em metano, gás

carbônico, gás sulfídrico, amônia e novas células bacterianas. (CHERNICHARO,

1997; KOVÁCS et al., 2015; LIMA et al., 2001).

O processo de digestão anaeróbia da matéria orgânica pode ser

representado, de modo geral, através das seguintes 4 etapas (CHERNICHARO,

1997; SANT’ANNA JR, 2013):

1) Hidrolise das substâncias e materiais orgânicos: substâncias de alta

massa molar e material orgânico particulado são transformados em

substancias de menor massa molar por bactérias hidrolíticas. O objetivo

é que estas moléculas, agora menores, possam atravessar as paredes

celulares das bactérias fermentativas;

2) Fermentação ácida ou acidogênese: substâncias geradas na fase anterior

são fermentadas gerando ácidos carboxílicos de cadeias curtas;

3) Fermentação acetogênicas: fase crítica, pois nesta fase as bactérias

sintróficas acetogênicas oxidam os ácidos formados na fase anterior em

substrato para os microrganismos metanogênicos;

4) Metanogênese: Os microrganismos metanogênicos utilizam os produtos

dos dois últimos estágios, principalmente H2 e CO2 para formar biogás

(metano e dióxido de carbono - CH4 e CO2).

As Figuras abaixo (Figura 3 e Figura 4) ilustram as etapas e os produtos

consumidos e formados na digestão anaeróbia. A Figura 3 apresenta os

substratos e produtos de cada etapa metabólica, enquanto a Figura 4 foca nos

microrganismos que metabolizam estes substratos.

27

Figura 3 - Ação dos microrganismos na digestão anaeróbia: substratos consumidos e produtos formados (STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010)

28

Figura 4 - Ilustração das etapas da digestão anaeróbia (SANT’ANNA JR, 2013)

5.1.1. Etapas Bioquímicas da Digestão Anaeróbia

5.1.1.1. Hidrólise

Nesta etapa atuam bactérias fermentativas que realizam a hidrólise das

macromoléculas presentes no meio, como polissacarídeos, proteínas, lipídeos e

ácidos nucleicos gerando monossacarídeos, aminoácidos, glicerol, ácidos

orgânicos, purinas e outros; sendo estes últimos os substratos da próxima etapa,

a acidogênica. Esta conversão é executada pela ação de exoezimas, excretadas

pelas bactérias fermentativas hidrolíticas. É normalmente um processo lento,

sendo os lipídios hidrolisados mais lentamente que as outras

moléculas(CHERNICHARO, 1997; LIMA et al., 2001; SANT’ANNA JR, 2013).

Os fatores que podem afetar essa etapa são: temperatura operacional do

reator, tempo de residência do substrato, composição do substrato, pH do meio,

29

concentração de amônio NH4+ e a concentração dos produtos da hidrolise

(CHERNICHARO, 1997).

5.1.1.2. Acidogênese

As macromoléculas hidrolisadas na fase anterior são poderem ser

transportadas para o interior da célula onde, através do metabolismo

fermentativo dos microrganismos acidogênicos, são metabolizadas para ácidos

orgânicos (principalmente acetato, propianato e butirato), álcoois (etanol),

cetonas (acetona), dióxido e carbono, hidrogênio e biomassa. Em geral as

bactérias acidogênicas (microrganismos fermentativos) representam cerca de

90% da população bacteriana total dos digestores anaeróbios, portanto são de

suma importância para o processo.

Vale ressaltar que esta fase só será limitante em relação ao resto do

processo se o material inicial a ser degradado não for hidrolisável. O número e

a diversidade das espécies bacterianas fermentativas envolvidas no processo

dependem largamente da composição do substrato (CHERNICHARO, 1997;

LIMA et al., 2001; SANT’ANNA JR, 2013).

A partir das reações formuladas a seguir (Figura 5), pode-se afirmar que esta

etapa é altamente favorecida termodinamicamente cujas reações ocorrem com

muita espontaneidade visto que a energia livre padrão é muito baixa. Os

microrganismos acidogênicos, são os que mais se beneficiam energeticamente

C6H12O6 + 2H2O → 2CH3COOH + 2CO2 + 4H2

∆Go= -206 kJ/mol

C6H12O6 + 2H2 → 3CH3CH2COOH + 2H2O + 2H+

∆Go= -358 kJ/mol

C6H12O6→ 3CH3CH2 CH2COOH + 2H2O + 2H+

∆Go: -255 kJ/mol

Onde ∆Go é a energia livre de Gibbs no estado padrão (pH=7, pressão de

1tam, temperatura de 25ºC e o líquido sendo água pura).

Figura 5 - Reações da Acidogênese (SANT’ANNA JR, 2013)

30

e, em decorrência, possuem tempo mínimo de geração e elevadas taxas de

crescimento no consórcio microbiano, como mostram as equações químicas da

Figura 5. Os gêneros de bactérias fermentativas acidogênicas são: Clostridium,

Bacteroides, Ruminococcus, Butyribacterium, Propionibacterium, Eubacterium,

Lactobacillus, Streptococcus, Pseudomonas, Bacillus, Escherichia,

Desulfobacter, Micrococcus(CHERNICHARO, 1997; SANT’ANNA JR, 2013)

5.1.1.3. Acetogênese

A acetogênese consiste na oxidação dos compostos orgânicos

intermediários, como propianato e butirato, por bactérias acetogênicas em

acetato, hidrogênio e dióxido de carbono (substratos para os microrganismos

metanogênicos). Essas bactérias são denominadas sintróficas acetogênicas e

os gêneros mais comuns são Syntrobacter e Suntrophomonas. Esta etapa é

fundamental para a digestão anaeróbia pois ocorre a sintrofia entre os

microrganismos acetogênicos e metanogênicos.

Na Figura 6 estão apresentadas algumas reações que ocorrem na

acetogênese. As bactérias acetogênicas sintróficas dependem dos

microrganismos que consomem o hidrogênio do meio (microrganismos

metanogênicos). A equação 4 apresenta a biotransformação do propianato em

acetato e, como pode ser visto pelo ∆Go positivo, essa não é uma reação

termicamente favorável. No entanto, a produção de metano (equação 5) por ação

das arqueas metanogênicas (explicado na próxima seção) é uma reação

termicamente favorável. Portanto, para que ocorra formação de acetato a partir

do propianato é necessário que o hidrogênio do meio seja consumido, assim

CH3CH2COO- + 3H2O→CH3COO- + 3H2 + HCO3- + H++3H2

∆Go=+76,2 kJ/mol

HCO- + 4H2 + H+ → CH4 +2H2O

∆Go= -135,6 kJ/mol

4CH3CH2COO- + 3H2O→4CH3COO- + HCO3- + H++3CH4

∆Go =-102,2 kJ/mol

Figura 6 – Reações das acetogênese (SANT’ANNA JR, 2013)

31

deslocando o equilíbrio da equação 4 para a direita. A equação 6 apresenta a

soma das equações 4 e 5, mostrando a sua viabilidade termodinâmica.

(CHERNICHARO, 1997; SANT’ANNA JR, 2013)

De acordo com Chernicaro (1997) a remoção da DQO da fase liquida

depende da conversão de acetato em metano.

5.1.1.4. Metanogênese

A metanogênese é a etapa final do processo, responsável diretamente pela

produção de metano, e constitui, em muitos casos, o passo que governa todo

processo de degradação do substrato. As bactérias metanogênicas pertencem

ao domínio das arqueobactérias, que são diferentes das bactérias típicas, que

pertence ao domínio das eubactérias. As arqueas exibem vários atributos

bioquímicos e estruturais, únicos, as quais adaptaram viver em habitat

específicos. Estas são anaeróbias estritas, requerendo para o seu

desenvolvimento um potencial redox entre -250 e -300 mv. Possuem coenzimas

e cofatores específicos (coenzima F420, F430, coenzima M, Metanopterina) e

degradam apenas um número limitado de substratos com baixo número de

carbonos: acetato, metanol, metilaminas, formiato, hidrogênio e dióxido de

carbono. (CHERNICHARO, 1997)

5.2. Fatores que influenciam na digestão anaeróbia

De acordo com PALATSI et al. (2011) os lipídios tem efeito limitante na

cinética global da conversão do efluente estudado em metano. Em seu trabalho,

quando houve inibição por altas taxas de substrato o sistema foi capaz de

recuperar a atividade metanogênica e degradar o substrato. Porém a limitação

da degradação de lipídios foi influencia na sintrofia entre os microrganismos

acetogênicos e acidogênicos sendo, portanto, o maior fator limitante na produção

do biogás.

No entanto, existem outros fatores que também influenciam na digestão

anaeróbia e são discutidos a seguir.

5.2.1. Temperatura interna do biodigestor

A produção de biogás depende do desenvolvimento das bactérias

metanogênicas e o último é função da temperatura operacional do digestor.

32

Normalmente a eficiência do digestor (ou reator) é maior em temperaturas mais

altas, porém a temperatura ótima depende do grupo de bactérias utilizadas e das

condições locais. Assim, se a temperatura do meio puder ser ajustada, é possível

dimensionar o digestor de maneira a otimizar o tamanho, diminuindo custos de

construção do mesmo, de acordo com a carga de material e maior produção de

biogás (TEODORITA et al., 2008).

No processo anaeróbio é importante a manutenção de uma temperatura

constante do digestor. Pois, embora atuem em temperaturas extremas, de 0 a

97 ºC, as arqueas metanogênicas são sensíveis às variações de temperatura

(PALATSI et al., 2011)

5.2.2. Controle do pH do meio

Embora as bactérias envolvidas no processo de digestão anaeróbia sejam

levemente afetadas pela mudança de pH do meio, a produção de metano no

biogás pode ser afetada. O meio deve ser mantido em uma faixa de pH ótimo,

isto é faixa de pH de 6 a 8, sendo o pH 7 ideal (OLIVEIRA et al., 2012).

5.2.3. Concentração de sólidos voláteis

Os sólidos voláteis da biomassa serão fermentados para produzir o biogás,

portanto quanto maior a sua concentração, também dependendo da eficiência

do digestor, maior a produção de biogás (KHALID et al., 2011).

5.2.4. Inibição pela Amônia

Como o resíduo de abatedouros contem altas quantidades proteína pode

ocorrer formação de amônia. O excesso de amônia (NH3) no digestor tem um

alto efeito inibidor nos microrganismos anaeróbios, principalmente nas arqueas

metanogênicas. A concentração de amônia deve ser mantida abaixo de 80 mg/L

(NIELSEN; ANGELIDAKI, 2008).

5.2.5. Macro e micronutrientes e substancias toxicas

Microelementos como ferro, níquel, cobalto, selênio, molibdênio ou

tungstênio são tão importantes para o crescimento e sobrevivência dos

microrganismos como os macronutrientes Carbono, Nitrogênio, Fósforo e

Enxofre. A razão ótima dos maro nutrientes supramencionados (C:N:P:S) é,

respectivamente, 600:15:5:1. A falta destes macro e micronutrientes pode causar

33

inibição ou interferência no processo de digestão anaeróbia (TEODORITA et al.,

2008).

Outro fator que influencia a atividade anaeróbia dos microrganismos é a

presença de compostos tóxicos. Estes podem sem introduzidos no sistema junto

com a biomassa ou gerados durante o processo. A determinação de valores

limites para compostos tóxicos é muito difícil por dois motivos; primeiro pois as

vezes não é possível limitar a quantidade destes compostos, ou por serem

produtos das reações químicas ou por não ser possível separa-las do efluente.

O outro motivo é devido à capacidade de adaptação de microrganismos

anaeróbios, dentro de alguns limites, às condições do ambiente que estão

presentes, incluído àqueles com as substancias tóxicas (KOVÁCS et al., 2015).

5.2.6. Quantidade de matéria seca (MS)

Para que as bactérias fermentativas sejam capazes de degradar a matéria

orgânica, é necessário que a concentração de matéria seca (MS) não seja maior

que 50%. Porém, para a produção de biogás a concentração de matéria seca

deve estar em torno de 8 – 10%, para que não haja problemas com as tubulações

do digestor/reator.

34

6. Biogás

O francês Jean Louis Mouras, em 1860, “descreveu a liquefação da matéria

orgânica de um efluente doméstico em condições anaeróbias ; 30 anos depois,

Donald Cameron, na Inglaterra, modificou o tanque de Louis Mouras e deu-lhe o

nome de “tanques hidrolíticos”, e este sistema foi escolhido em 1897 pelo

governo local, para o tratamento de todos os efluentes das cidades inglesas”

(MATANGUE, 2011).

Porém foi no início do século XX, na China e na Índia que, a partir de esterco

de animais, principalmente bovinos, iniciou-se o desenvolvimento de biogás a

partir da digestão anaeróbia. Mas foi a partir de 1970, com a crise e o aumento

do preço do petróleo, que a digestão anaeróbia passou a ser pesquisada com

caráter científico, buscando compreender os fundamentos do processo de forma

efetiva e iniciar projetos de digestores e equipamentos auxiliares. Porém foi após

o início da conscientização ambiental, previsto pela Eco-92 e o protocolo de

Kyoto, que a indústria também começou a considerar a implantação de métodos

para produzir biogás a partir de seus efluentes.

O biogás uma mistura gasosa de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2)

que tem alto poder calorifico de 20 a 27 kJ/m³ (sendo que do metano sozinho

igual a 35,800 kJ/m3). O metano normalmente representa 60-70% da mistura,

dióxido de carbono (CO2) 30-40% e pode conter outros gases como nitrogênio,

hidrogênio e gás sulfídrico em proporções menores. A qualidade do biogás estão

diretamente relacionados à quantidade de metano na mistura (COMASTRI

FILHO, 1981) portanto este pode ou não ser purificado, dependendo do seu uso.

No caso de purificação este pode passar por um processo de remoção de

umidade assim que produzido e, quase sempre, passar por um processo de

remoção de gás sulfídrico (H2S). O gás sulfídrico apresenta dois problemas:

1) É um gás corrosível quando em tubos metálicos e;

2) Quando em quantidades maiores que 300-500ppm de H2S, no biogás,

tem um rendimento térmico muito baixo (HOLM-NIELSEN; AL SEADI;

OLESKOWICZ-POPIEL, 2009).

Depois de limpo e purificado, o biogás, ou metano, pode ser ou armazenado

para uso posterior ou utilizado imediatamente, dependendo do sistema de

35

extração. Se não for utilizado pode simplesmente ser queimado diretamente.

Porém, de acordo com o seu poder calorifico, pode ser usado como gás de

cozinha, para caldeiras, motores e, até, como gás combustível de motores para

gerar energia ou ainda ser vendido (STABNIKOVA; WANG; IVANOV, 2010).

Na análise de sistemas energéticos e ambientais, toda entrada e saída de

energia e material em um ciclo de vida pode ser identificado e quantificado.

Porém, em sistemas de produção de biogás há a complexidade devido ao grande

número de possíveis substratos, tecnologias de digestão anaeróbia, além da não

compreensão total do processo de digestão anaeróbia. (BERGLUND;

BÖRJESSON, 2006).

6.1. Reatores

A digestão anaeróbia é um processo que ocorre em diversos ecossistemas

naturais, como no rumem de bovinos, sedimentos aquáticos de lagos de águas

doces ou salgadas e até no intestino humano. Baseado no conhecimento desses

sistemas naturais foram desenvolvidos os artificiais, que simulam as condições

necessárias e permitem que estas reações descritas no capítulo anterior

aconteçam.

Para os fins deste estudo os sistemas significativos são o reator de

anaeróbio de manda de lodo e fluxo ascendente (UASB), as lagoas anaeróbias

e o biodigestor rural.

6.1.1. Reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente (UASB)

O reator UASB é utilizado em industrias para o tratamento do efluente com

altas cargas orgânicas A DBO é convertida anaerobiamente por bactérias

dispersas no reator. O fluxo do líquido é ascendente. A parte superior do reator

é dívida nas zonas de sedimentação e de coleta de gás. A zona de sedimentação

permite a saída dos efluentes clarificados e o retorno dos sólidos (biomassa) ao

sistema, aumentando a sua concentração no reator. Entre os gases formados

inclui-se o metano. O sistema dispensa decantação primária. A produção de lodo

é baixa, e o lodo sai adensado e estabilizado.

(AHMAD, 2013) demonstrou que a utilização teve performance satisfatória

para efluentes com altas cargas de matéria orgânica sem redução na quantidade

36

ou qualidade do biogás. Em relação à temperatura, embora a produção de

biogás quando em temperaturas mais altas tenham sido maiores, devido à maior

taxa de digestão, o reator não mostrou não mostrou grande sensibilidade em

relação a variação de temperatura, mesmo quando o reator foi operado em

baixas temperaturas

6.1.2. Biodigestor

O biodigestor é um biorreator caseiro, um recipiente fechado, construído de

alvenaria, concreto ou outros materiais, que também consegue atingir a

produção de biogás através da digestão de matéria orgânica em condições

anaeróbias.(COMASTRI FILHO, 1981; PEREIRA, 2014). Embora existam vários

tipos de biodigestores dois se destacam, os modelos indiano e chinês.

6.1.2.1. Biodigestor do tipo Indiano

O biodigestor tipo indiano (Figura 7) é utilizado quando existe uma demanda

continua de fornecimento de biogás.

Normalmente a câmara de digestão é construída abaixo do nível do solo,

visando impedir a variação de temperatura do meio reacional, e suas principais

características são possuir uma campânula móvel de material, impermeável e

rígido, como gasômetro e uma parede interna, central, que divide o tanque de

fermentação (COMASTRI FILHO, 1981; PEREIRA, 2014).

37

Figura 7 – Biodigestor Modelo Indiano (FUNDAÇÃO ECOLÓGICA NACIONAL, 2013).

O gasômetro pode ser construído em chapas de ferro ou em fibra de vidro,

o qual pode estar mergulhado sobre a biomassa ou em um selo d’agua externo.

Porém, como o gás sulfídrico atua como um agente corrosivo quando em contato

com o ferro, e para evitar alto custo tanto com material quanto com a manutenção

das chapas de ferro, é preferível o uso de fibra de vidro sendo que são

adicionados pesos ao mesmo para garantir o aumento da pressão do biogás. A

parede divisória tem a função de fazer com que o material circule por todo o

interior da câmara de fermentação (DEGANUTTI et al., [s.d.]).

Pelo fato do gasômetro estar sobre o substrato ou em um selo d’agua

externo, as perdas de biogás são reduzidas e o biodigestor opera com pressão

constante, já que conforme o gás é produzido ou consumido a canola se

movimenta verticalmente mantendo, assim, a pressão interna constante

(COMASTRI FILHO, 1981; DEGANUTTI et al., [s.d.]).

Para evitar o entupimento dos canos de entrada e/ou saída e permitir a

circulação do resíduo no interior da câmara de fermentação o resíduo a ser

utilizado para alimentar o biodigestor deve apresentar uma concentração de

sólidos totais igual ou inferior a 8%. O abastecimento também deverá ser

contínuo, ou seja, o efluente produzido deve ser despejado de maneira regular.

38

A câmara de fermentação pode ser construída de alvenaria, concreto ou aço

e é de fácil construção, portanto é viável para pequenos e médios abatedouros

na produção de um biogás com médio poder calorifico.

6.1.2.2. Biodigestor do tipo Chinês

O biodigestor do tipo Chinês (Figura 8) é formado por uma câmara cilíndrica

feita de alvenaria e, normalmente, também é feito abaixo do nível do solo. Ele

não possui gasômetro, portanto, como as vezes pode ser submetido a altas

pressões do gás, precisa ser muito bem vedado e impermeabilizado. Sua base

de funcionamento é o princípio da prensa hidráulica, isto é, o aumento da

pressão interna devido à produção de biogás irá fazer com que o meio seja

agitado e que o efluente da câmara de fermentação se movimente para a caixa

de saída quando pressão interna for alta e no sentido contrário quando em menor

pressão (COMASTRI FILHO, 1981; PEREIRA, 2014).

Figura 8 - Biodigestor do modelo Chinês (FUNDAÇÃO ECOLÓGICA NACIONAL, 2013).

Com uma alimentação continua, depois de atingir uma certa pressão este

tipo de digestor pode ser uma fonte continua de biogás. Porém, quando a

pressão está muito alta, ele tende a liberar biogás para a atmosfera. Igual ao

modelo Indiano, a concentração máxima de sólidos totais não deve ser superior

a 8%.

39

6.1.3. Lagoas anaeróbias

Lagoas anaeróbias são amplamente adotadas na indústria de

processamento de carne como o primeiro estágio do tratamento secundário de

efluentes com altas cargas de matéria orgânica, sendo extremamente para a

redução do DBO e DQO (aproximadamente 90% sob condições ideais)

(MCCABE et al., 2014).

As lagoas anaeróbias normalmente tem profundidade mínima de 2,5 metros

e são caracterizadas como reatores abertos que não possuem sistemas

mecânicos de aquecimento ou mistura, e são operadas a temperatura ambiente

e sob condições estritamente anaeróbias (EPA, 2002). Com baixos custos de

investimento em implementação e operação oferecem vantagens de eficiência

satisfatória aliadas a possibilidade de serem aplicadas tanto em pequenas

quanto em grandes escalas. Contudo, estes reatores, por serem abertos, podem

apresentar acúmulo de materiais flutuantes em sua superfície, emissão de mal

odor, causado pela liberação de substâncias voláteis, entre elas o gás sulfídrico,

resultante da digestão anaeróbia de proteínas ou da redução dissimilatória do

sulfato (SAFLEY, 1988), e necessita de grandes áreas para a sua construção.

Os microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica

podem ser encontrados em qualquer ponto da massa líquida, porém, a maioria

da biomassa ativa está disposta no lodo acumulado no fundo da lagoa, onde se

concentra a zona de produção de biogás. Assim, a liberação de gás a partir da

camada de lodo, sob a forma de pequenas bolhas, contribui para a mistura na

camada líquida, promovendo o contato entre as bactérias e a matéria orgânica.

Embora esses reatores sejam abertos, eles podem ser revestidos por lonas

flexíveis, com a finalidade de armazenar e coletar o biogás resultante da digestão

anaeróbia, conforme apresentado na Figura 9. De acordo com MCCABE et al.,

(2014), em relação à produção e captação de biogás, devido à alta carga

orgânica de resíduos de abatedouros, o acumulo e materiais flutuantes tende a

ser maior que em outros tipos de efluentes, e consequente, se torna fator

limitante.

40

6.2. Tratamento do biogás

6.2.1. Remoção de umidade

O processo de remoção da umidade é feito de acordo com o uso do biogás.

A remoção será feita dependendo do grau de umidade e do poder calorifico

desejado. Esse processo pode ser executado com a utilização de glicóis, com

sílica gel ou outro produto que retenha umidade (TEODORITA et al., 2008).

6.2.2. Retirada de gás sulfídrico por óxido férrico

Consiste em passar a mistura gasosa por uma torre com preenchimento de

óxido de ferro III (Fe2O3). Também existem relatos do uso de um filtro de esponja

de ferro antes do armazenamento (JOHNS, 1995). A equação que representa

esta reação é:

Fe2O3 + H2S Fe2S3 + H2O

Estima-se que 1,0 m3 de enchimento com óxido de ferro que seja capaz de

remover cerca de 100 kg de enxofre (RAO et al., 2010).

Figura 9 – Esquema de coletor de biogás a partir de lagoas anaeróbias

41

6.2.3. Remoção de gás carbônico

O gás carbônico pode ser retirado quimicamente ou com água, porém este

processo resulta em um efluente muito ácido, que provavelmente precisará de

um tratamento específico, e caro, para descarte. Devido ao alto custo deste

processo, ele não se aplicaria para os fins deste trabalho.

6.3. Fatores operacionais que influenciam produção de Biogás

6.3.1. Carga orgânica

A construção e operação de um biodigestor tem que tomar em conta fatores

econômicos e técnicos. Para obter o rendimento máximo de biogás, através

digestão completa do substrato, é requerido um longo tempo de retenção do

substrato dentro do digestor e, consequentemente, que este tenha grandes

dimensões. Na pratica, a escolha das dimensões do digestor, ou do tempo de

retenção, é baseado no racional de se obter a maior quantidade, e qualidade, de

biogás ao mesmo tempo que o processo seja rentável. Neste aspecto, deve se

considerar a carga orgânica, que é o parâmetro que indica quanta matéria seca

(MS) deve ser colocado no digestor em função do volume e do tempo, como

apresenta a Equação 7 (AGENCY, 2009; COMASTRI FILHO, 1981;

KARLSSON; SCHMEIER; KARLSSON, [s.d.]; KOVÁCS et al., 2015;

TEODORITA et al., 2008):

𝐵𝑅 = 𝑚 ∗𝐶

𝑉𝑅 (Equação 7)

Tal que:

BR = Carga orgânica [kg/d*m³]

M = Massa de substrato adicionado por unidade te tempo [kg/d]

C = Concentração da matéria orgânica [%]

VR = Volume do digestor [m³].

Como já dito anteriormente, a produção de biogás está relacionada com a

digestão da matéria orgânica, portanto, se não houver adição de material o

processo irá cessar. A carga é a relação da quantidade de material orgânico

adicionado por unidade de tempo, é composta de sólidos totais (ST) e sólidos

42

voláteis (SV) presentes no substrato e deve ser adaptada ao microrganismo ativo

no digestor (KARLSSON; SCHMEIER; KARLSSON, [s.d.]).

A adaptação do microrganismo é indispensável. No caso de adição de uma

carga muito alta, que seja maior que os microrganismos presentes possam

degradar, pode ocorrer a formação de ácidos graxos. Neste caso ocorre uma

diminuição de pH desequilibrando a cadeia de degradação, consequentemente

inibindo a produção de biogás (KARLSSON; SCHMEIER; KARLSSON, [s.d.];

PALATSI et al., 2011).

Também se faz importante a adaptação da temperatura da carga à do reator

para não haver uma mudança brusca na temperatura do meio.

6.3.2. Tempo de retenção hidráulica (TRH)

O tempo de retenção hidráulica é no qual o substrato é mantido no interior

do digestor, isto é, a diferença entre o tempo de entrada e saída dos materiais

no digestor. O tempo de retenção ou de digestão varia em função do tipo de

biomassa, granulometria da biomassa, temperatura do digestor, pH da

biomassa, etc., mas, de modo geral, situa-se na faixa de 4 a 60 dias(COMASTRI

FILHO, 1981). O tempo pode ser estimado de acordo com a Equação 8.

𝑇𝑅𝐻 =𝑉𝑅

𝑉 (Equação 8)

Tal que:

TRH = Tempo de retenção hidráulica;

VR = Volume do digestor [m³]

V = Volume of substrate fed per time unit [m³/d]

De acordo com a Equação 8, aumentar a carga orgânica diminui tempo de

retenção hidráulica, porem o tempo deve ser suficiente para garantir que a

quantidade de microrganismos que saiu (efluente) não seja maior que a que

cresceu no digestor, assim, evitando a lavagem do mesmo. Normalmente a taxa

de crescimento, para que a população anaeróbia duplique é de 10 dias ou mais.

Um baixo tempo de retenção oferece um bom fluxo de substrato, porem menor

produção de biogás, enquanto um alto tempo de retenção fornece uma alta taxa

de produção de biogás mas compromete o fluxo de substrato. Portanto é

43

importante adaptar o tempo de retenção à taxa específica de decomposição do

substrato. Deve se conhecer do tempo de retenção, a quantidade de resíduo

orgânico gerado por dia, o fluxo ideal e a taxa de decomposição do substrato

para construir um digestor com volume ideal, que evite um alto custo de

manutenção e tenha uma produção de biogás que justifique o investimento

(AGENCY, 2009; COMASTRI FILHO, 1981; KARLSSON; SCHMEIER;

KARLSSON, [s.d.]; KOVÁCS et al., 2015; TEODORITA et al., 2008).

44

7. Geração de energia a partir do biogás

A maioria do biogás gerado, tanto no Brasil como no resto do mundo, é

utilizado em motores de combustão interna para produzir energia elétrica.

Quando viável a energia térmica gerada pelo motor, liberada devido ao

aquecimento do mesmo ou as dos seus sistemas de resfriamento, também é

utilizada. Porém, como a maioria das plantas de biogás são localizadas em áreas

rurais a quantidade de energia térmica liberada, normalmente, não é suficiente.

O motor de combustão interna mais utilizado é o do tipo Otto. O biogás também

é, comumente, queimado em caldeiras para produzir agua aquecida e vapor.

Outro exemplo, que não se aplica a este estudo é um dos produtos de maior

valor agregado que pode ser obtido através do biogás, o biometano. Através de

um tratamento mais oneroso, a purificação do biogás através da remoção de

dióxido de carbono, sulfeto do hidrogênio e outros componentes, o biogás pode

ser transformado em biometano, um equivalente do gás natural. Para isso é

necessário que o gás contenha no mínimo 95% de metano.

Abaixo, na Tabela 3, para se ter uma noção da quantidade de biogás

cru/pouco tratado utilizada em tarefas diárias, é apresentada a quantidade de

biogás necessária para se fazer algumas atividades básicas e o seu respectivo

consumo aproximado de biogás.

Tabela 3 – Consumo de biogás por utilidade

Atividades Consumo de Gás

Cozinhar 0,33 m3/pessoa/dia

Eletricidade (1 KWh) 0,62 m3

Iluminação com Lampião 0,12 m3/hora/lampião

Motor Combustão Interna 0,45 m3/HP/hora

Incubador 0,71 m3/m3 espaço

interno/hora

Chuveiro a Gás 0,8 m3/banho

45

7.1. Combustão direta

A maneira mais simples de se utilizar o biogás é queimando-o diretamente

em caldeiras ou queimadores, o que é o comum em pequenos negócios que

produzem biogás. A combustão direta do biogás em queimadores, como

aquecedores caseiros, é muito utilizada. O Biogás pode ser queimado in loco, ou

transportado por rede de tubulação para os usuários finais.

Para combustão direta ou aquecimento o gás não precisa ser beneficiado e

níveis moderados de contaminação não impõem nenhuma restrição ao seu uso.

Porém, para este caso o gás deve, no mínimo, ser condensado, sofrer processos

para retirada de partículas, compressão, resfriamento e secagem.

7.2. Geração combinada de energia e calor

A geração combinada de energia e calor é muito utilizada ao redor do mundo,

em muitos países com o setor de biogás/bioenergia desenvolvido. No Brasil é

utilizado em algumas criações de animais para garantir conforto térmico dos

mesmos (AIRES, 2009; SANTOS; JUNIOR, 2013).

Para que ocorra a conversão em calor e energia, o biogás é drenado e seco

para garantir a sua eficiência e integridade dos motores. A maioria dos motores

de gás têm limites para a concentração de sulfeto de hidrogênio e outras

impurezas. Um motor destes tem eficiência de até 90% e produz

aproximadamente, 35% de eletricidade e 65 de calor. O uso mais comum deste

tipo de geração de energia é resultado da junção de motores de combustão

interna com geradores (ALLEGUE; HINGE; ALLÉ, 2012).

46

8. Viabilidade financeira

A viabilidade energética da produção de biogás através do efluente gerado

a partir do abate de bovinos é ratificada pelos vários estudos sobre geração de

biogás através de efluentes como o esgoto doméstico (GARCILASSO;

VESCOVO, 2012; RAO et al., 2010; TAUSEEF; ABBASI; ABBASI, 2013), de

rejeitos de animais (AHMAD, 2013; BUDIYONO et al., 2011; GARCILASSO;

VESCOVO, 2012; JENSEN et al., 2014; KOTHARI; TYAGI; PATHAK, 2010; RAO

et al., 2010; SANTOS; JUNIOR, 2013; SCIENTIA, 2012), do abate de aves e

suínos (BAYRAMOGLU et al., 2006; BORIN et al., 2013; RAO et al., 2010;

SALMINEN; RINTALA, 2002). No entanto poucos estudos fizeram uma análise

de viabilidade financeira sobre a implementação de um sistema de biodigestor.

OLIVEIRA (2009) fez uma análise econômica sobre a viabilidade de

implementação de um biodigestor do tipo Chinês e com uma estimativa de teor

de metano na mistura de 50%. O biodigestor dimensionado teria câmara de

digestão de 117m3 e poderia armazenar um máximo de 240 m3 e o valor

estimado para executar o projeto, em julho de 2008, foi de R$ 61.822,08.

Analisando apenas o lucro/redução de custo obtido a partir da geração de

energia elétrica, OLIVEIRA (2009) obteve os seguintes resultados através das

suas simulações:

Para o abate de 65 animais por dia; um retorno sobre investimento em

aproximadamente 3,8 anos (46 meses) e uma receita 575.054,80 para o

período de 20 anos;

Para o abate de 90 animais por dia; um retorno sobre o investimento em

aproximadamente 3,24 anos (40 meses) e uma receita de 694.430,00 ao

longo de 20 anos.

OLIVEIRA (2009) também projetou uma economia de R$ 0,0474 kWh

quando a produção de biogás for de 240 m3 e de R$ 0,0345/kWh para quando

for de 117 m3.

47

9. Conclusões

Inicialmente vale considerar que há estudos científicos e literatura que

validam eficiência e várias metodologias, e literatura e legislação que

determinam que se fará o tratamento de efluentes com grande quantidade de

matéria orgânica. Ainda, há vantagens financeiras principalmente se se faz o

tratamento por biodigestão, com a produção de biodiesel. Este estudo

sistematiza parte do conhecimento produzido e permite avaliar que é necessária

a opção ética, ou a prática da responsabilidade ética, como aponta o filósofo

contemporâneo Hans Jonas (2006), ao afirmar que a responsabilidade, como

princípio, precisa ser uma componente da ética na sociedade tecnológica. O

fazer científico e tecnológico, devido à enormidade do alcance das intervenções

e consequente impacto no ambiente. Segundo Jonas, demanda

responsabilidade ética, para que o planeta suporte as interferências da

civilização tecnológica. Afirma Jonas (2006, p.39):

[...] as antigas prescrições da ética “do próximo” – as prescrições da

justiça, da misericórdia, da honradez, etc. – ainda são válidas, em sua

imediaticidade íntima, para a esfera mais próxima, quotidiana, da interação

humana. Mas essa esfera torna-se ensombrecida pelo crescente domínio do

fazer coletivo, no qual ator, ação e efeito não são mais os mesmos da esfera

próxima. Isso impõe à ética, pela enormidade de suas forças, uma nova

dimensão, nunca antes sonhada, de responsabilidade.

O presente trabalho pretende ser, outrossim, uma contribuição para o

exercício ético da engenharia. Ao abordar o tratamento de efluentes oriundos de

abatedouros de bovinos concluímos que o processo pode ser realizado, em larga

escala de forma a se cumprir a legislação, gerar energia e capital, reduzindo o

potencial de impacto ambiental, como a poluição do solo, águas e ar da região.

A literatura existente permite avaliar que o processo de biodigestão anaeróbia é

eficiente e eficaz permitindo a utilização do gás gerado e também de

biofertilizante. Estudos de viabilidade econômica demonstram a possibilidade de

retorno econômico para os empreendimentos com a venda de crédito de carbono

e, sobretudo, com a economia e eventual geração de energia para o sistema.

48

10. Referências bibliográficas

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