tratado yassuda 3a edição memória e envelhecimento

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1 Memória e envelhecimento: aspectos cognitivos e biológicos Mônica Sanches Yassuda Tânia Araújo Viel Thais Bento Lima da Silva Marília Silva de Albuquerque O envelhecimento populacional é hoje um proeminente fenômeno mundial. Isso significa um crescimento mais elevado da população idosa com relação aos demais grupos etários (Camarano, 2006). Característico tanto de países desenvolvidos como de nações em desenvolvimento, o envelhecimento populacional tem estimulado pesquisas sobre as alterações cognitivas que surgem com o decorrer dos anos. Nas últimas décadas as pesquisas têm apontado para o aumento das diferenças entre os indivíduos nas fases mais avançadas do envelhecimento. No contexto da cognição, isto significa que alguns indivíduos demonstram poucas alterações cognitivas na velhice, enquanto outros podem apresentar declínio cognitivo significativo ou síndromes demenciais. Devido à grande heterogeneidade encontrada entre pessoas idosas em variáveis de saúde, funcionais e sociais, a idade cronológica, quando usada como variável independente, não explica de modo satisfatório o processo de envelhecimento cognitivo (Izquierdo, 2002). Desta forma, pesquisadores têm almejado identificar variáveis

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Page 1: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

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Memória e envelhecimento: aspectos cognitivos e

biológicos

Mônica Sanches Yassuda

Tânia Araújo Viel

Thais Bento Lima da Silva

Marília Silva de Albuquerque

O envelhecimento populacional é hoje um proeminente

fenômeno mundial. Isso significa um crescimento mais elevado

da população idosa com relação aos demais grupos etários

(Camarano, 2006). Característico tanto de países desenvolvidos

como de nações em desenvolvimento, o envelhecimento

populacional tem estimulado pesquisas sobre as alterações

cognitivas que surgem com o decorrer dos anos.

Nas últimas décadas as pesquisas têm apontado para o

aumento das diferenças entre os indivíduos nas fases mais

avançadas do envelhecimento. No contexto da cognição, isto

significa que alguns indivíduos demonstram poucas alterações

cognitivas na velhice, enquanto outros podem apresentar declínio

cognitivo significativo ou síndromes demenciais. Devido à grande

heterogeneidade encontrada entre pessoas idosas em variáveis de

saúde, funcionais e sociais, a idade cronológica, quando usada

como variável independente, não explica de modo satisfatório o

processo de envelhecimento cognitivo (Izquierdo, 2002). Desta

forma, pesquisadores têm almejado identificar variáveis

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associadas à preservação da cognição, e em particular, da

memória.

Lezak et al. (2004) documentam que o termo memória

refere-se à capacidade de registrar, armazenar e evocar

informações. A partir de bases neurais, o processo de

memorização possibilita diversas formas de aprendizagem. A

memória humana é um fenômeno complexo e multifacetado que é

essencial para a sobrevivência humana, com a finalidade

primordial de gerar previsões e de conectar o passado e o

presente. Sem a memória não nos apropriaríamos das experiências

pessoais que alteram nosso comportamento.

A memória é formada por subsistemas diferentes que têm

em comum a capacidade de armazenar informações e retê-las por

um determinado tempo. Baddeley (1992) destaca que quanto ao

tempo de duração, a memória pode ser classificada como de curta

ou longa duração. Por algum tempo, acreditou-se que a memória

de curta duração seria a fase anterior à consolidação da memória

de longa duração, dentro de um modelo de processamento

seriado. Hoje, porém, sabe-se que a memória de curta duração

pode ocorrer de maneira paralela, representando um processo

independente da memória de longa duração. Tem mecanismos

próprios e distintos, mantendo-se presente até a memória de longa

duração se consolidar (Izquierdo, 2002). Segundo Lamprecht e

Leadoux (2004), as memórias reversíveis ou temporárias são as

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memórias de curto prazo, enquanto as que persistem são as de

longo prazo.

Baddeley (1992) destaca que a memória sensorial refere-se

ao registro inicial das informações captadas pelos sentidos, que

podem ser visuais, olfativas, gustativas, proprioceptivas e táteis,

de curtíssima duração. Essa memória será gravada e transformada

em memória de curto prazo, se for selecionada por processos

atencionais. A memória de curto prazo é dividida em memória

imediata e memória operacional, também chamada de memória de

trabalho. A memória imediata refere-se à memorização

temporária das informações, que perdura pelo tempo suficiente

para a execução de tarefas específicas, como, por exemplo,

memorizar o valor de uma compra, enquanto procura-se o

dinheiro na carteira ou escreve-se um cheque. Este traço de

memória desaparece se não houver repetição das informações, ou

se for classificado como irrelevante.

A memória operacional refere-se à manutenção e

processamento de informações simultâneas (Baddeley, 1992). A

realização de operações aritméticas mentalmente e a resolução de

problemas diários complexos, que exigem o processamento de

muitas informações e previsões hipotéticas, são exemplos da

expressão da memória operacional. Esse tipo de memória é

processada no córtex pré-frontal, também com participação do

córtex entorrinal, parietal superior, cingulado anterior e

hipocampo (Izquierdo, 2002).

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De acordo com, Baddeley e Hitch (1974), a memória

operacional não é somente um sistema temporário armazenador

de informações, mas define-se pela capacidade de manter e operar

informações durante a realização de tarefas cognitivas. Este

modelo prevê a existência de um sistema gerenciador denominado

executivo central, e três subsistemas de apoio, a saber, a alça

fonológica, o rascunho visuoespacial, e o buffer episódico. A alça

fonológica possibilita o armazenamento de informações

fonológicas verbais, podendo ser apoiada pela repetição subvocal,

o que impediria a degradação da informação. O rascunho

visuoespacial estaria encarregado de manter ativas informações de

natureza visual ou espacial. O buffer episódico, por sua vez,

alimentaria o sistema com informações provenientes da memória

de longa duração, favorecendo a integração das informações.

Ao executivo central caberia a coordenação e o

monitoramento destes processos, assim como o recrutamento de

outros subsistemas cognitivos. O executivo central seria

responsável também pela adoção de estratégias cognitivas que

poderiam aumentar a capacidade da memória operacional, como a

estratégia de partição ou categorização. Para uma descrição

detalhada do conceito de executivo central sugere-se a leitura da

revisão de Oliveira (2007) sobre este conceito. De acordo com

esta autora, o conceito de executivo central remonta à Psicologia

Cognitiva russa, que defende que o comportamento humano é

influenciado por planos e intenções, e não somente por

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aprendizagens anteriores. Autores como Lúria (1966), por

exemplo, se referiram à atividade mental como um processo

voluntário, controlado e programado. Em congruência com esta

perspectiva, o modelo de executivo central de Baddeley e Hitch

(1974) prevê a participação de processos atencionais programados

e automáticos, como o sistema atencional supervisor (SAS), de

natureza voluntária, e o sistema atencional pré programado, de

natureza automática e involuntária, ambos descritos por Norman e

Shallice (1980, 1986). De acordo com Oliveira (2007), a inclusão

do conceito do SAS no executivo central ressalta o componente

de volição dos processos cognitivos, e a interrelação entre

memória e atenção.

A memória de longa duração descreve a capacidade de

retenção de informações por longos períodos de tempo. Modelos

atuais descrevem que a memória de longa duração inclui a

memória declarativa (explícita) e a memória não declarativa

(implícita). A memória explícita refere-se à memorização

consciente e voluntária, enquanto a memória implícita refere-se

aos processos automatizados de memorização, que podem ocorrer

à revelia da consciência.

Gazzaniga e Heatherthon (2005) distinguem dois

subsistemas presentes na memória declarativa: a memória

episódica e a semântica. A memória episódica é caracterizada

pelo tempo e espaço físico associados à informação a ser

memorizada. Refere-se à memória autobiográfica quando a

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memória episódica é utilizada para registrar os eventos da vida de

uma pessoa. Em geral, a memória episódica refere-se à

aprendizagem de informações novas. A memória semântica

representa o nosso conhecimento sobre o mundo, como um banco

de dados pessoal construído ao longo dos anos. Tulving (1972)

usou o termo memória semântica para descrever um subsistema,

que quando acionado, por meio de uma rede de associações, traz à

consciência informações sobre a linguagem, dados históricos e

geográficos, importantes à sobrevivência.

Na memória explícita estão envolvidas as seguintes regiões

cerebrais: hipocampo, amígdala, substância negra, lócus ceruleus,

núcleos da rafe e núcleo basal de Meynert. Entretanto, não se

conhece ao certo quais as áreas são recrutadas especificamente na

memória episódica e na memória semântica (Izquierdo, 2002).

A memória implícita torna-se evidente durante a

memorização observada nas alterações de comportamento, sem

esforço deliberado, e sem consciência do processo de

aprendizagem ou esforço cognitivo deliberado (Gazzaniga e

Heatherthon, 2005). A memória implícita, na modalidade

procedural, está presente nas experiências do dia-a-dia, como

escovar os dentes, amarrar os sapatos, dirigir um automóvel, entre

outras tarefas. Nesse tipo de memória estão envolvidos o núcleo

caudado (inervado por substância negra) e o cerebelo, mas

também pode haver participação do córtex temporal (hipocampo e

córtex entorrinal), como destaca Izquierdo (2002). O

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condicionamento clássico e operante também estão associados ao

conceito de memória implícita, visto que ensejam aprendizagens

automatizadas à despeito da volição do indivíduo. Os fenômenos

de pré ativação (em inglês, priming) também são considerados

manifestações da memória implícita. Na pré ativação, a

aprendizagem é observada em decorrência de exposições

anteriores à informação alvo, e tem sido estudada em paradigmas

de memorização incidental, isto é, o indivíduo é exposto a novas

informações, sem demanda de aprendizagem, e posteriormente

avalia-se se as novas informações foram memorizadas,

influenciando o desempenho posterior de algum modo.

No contexto do envelhecimento, os estudos longitudinais

que acompanharam adultos e idosos durante décadas indicaram

que os diferentes aspectos da cognição sofrem alterações distintas

com o passar dos anos (Shaie et al., 2004). Os estudos

longitudinais, como o Seattle Longitudinal Study, apontaram

declínio precoce e mais rápido em habilidades como a velocidade

de processamento perceptivo e habilidades numéricas, associadas

ao conceito de inteligência fluida, enquanto as habilidades

verbais, associadas ao conceito de inteligência cristalizada,

declinariam posteriormente.

Quanto aos subsistemas de memória, pesquisas sugerem que

as alterações mais significativas são observadas na memória

operacional e na memória episódica. Nestes subsistemas as

alterações são identificadas mais precocemente no ciclo vital, e o

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ritmo de declínio parece mais acelerado. Como será discutido a

seguir, sugere-se na literatura que este fato seja explicado por

mudanças neurofisiológicas que acontecem na região do

hipocampo e córtex entorrinal, diretamente envolvidos na

formação de novos traços de memória, e no córtex pré frontal,

envolvido em tarefas associadas à memória operacional.

Alterações neurobiológicas do envelhecimento e suas

consequências para a memória

As bases biológicas para a formação das memórias envolvem o

recrutamento de proteínas que são comuns em muitos seres vivos,

humanos ou não. Parte significativa das diferenças entre os

indivíduos refere-se às memórias das experiências que

adquirimos. Para tanto, mobilizamos e ativamos as mesmas

proteínas, mas de diferentes maneiras para criar traços e circuitos

de memórias que são únicos para cada um. De acordo com a

perspectiva de Ramon y Cajal, descrita em 1883 (Izquierdo,

2002), as memórias seriam alterações estruturais de sinapses,

distintas para cada memória ou tipo de memória e poderiam ser

moduladas pelas emoções, pelo nível de consciência e pelos

estados de ânimo.

Assim como ocorre em todos os sistemas biológicos, desde a

concepção do indivíduo até sua velhice, o sistema nervoso central

se desenvolve de forma que, até um determinado momento, o

organismo aumenta a neuroplasticidade com grande velocidade (o

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que poderia ser chamado de maturação). Depois de um certo

ponto no desenvolvimento (ainda não determinado e que

certamente difere entre as pessoas), essa habilidade declina e a

capacidade de aprender uma nova informação, bem como de

recuperar memórias consolidadas, passa a declinar.

Existem, porém, alguns tipos de memórias que aparentemente

não se extinguem durante o envelhecimento normal. Idosos

saudáveis, por exemplo, não se esquecem como escrever, dirigir

ou preparar uma xícara de café. Estas habilidades estão associadas

à memória implícita ou de procedimento, e estão relacionadas a

regiões cerebrais que integram percepções sensoriais, informação

emocional e coordenação motora. As habilidades recrutam áreas

como neocortex, neoestriado, cerebelo e amígdala (Morgado,

2005). Devido à complexidade de estruturas e sistemas neuronais

recrutados em conjunto e inconscientemente, a recuperação da

memória implícita aparentemente reforça sua consolidação,

tornando esse tipo de memória mais duradouro.

A memória explícita ou declarativa é um tipo de memória

associativa, consciente e flexível. Mais lábil que a memória

implícita, depende do sistema hipocampal, da eficácia da

transmissão neuronal e, por vezes, do reforço consciente do

aprendizado. Enquanto a memória episódica é mais vulnerável às

alterações neurobiológicas típicas do envelhecimento, a memória

semântica mostra-se mais preservada. Como exemplo, no

contexto da memória semântica, pesquisas indicam que o

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vocabulário aumenta ao longo da vida, a menos que o indivíduo

seja acometido por hipertensão ou outras doenças crônicas com

impacto na cognição (Albert et al, 2009).

Algumas teorias tentam explicar a manutenção de algumas

memórias, bem como a perda de outras. Essas teorias são

baseadas em conceitos biológicos como a formação e manutenção

da potenciação de longa duração (LTP, do inglês long term

potentiation) e da depressão de longa duração (LTD, do inglês

long term depression). O LTD costuma ocorrer entre fibras

paralelas e células de Purkinje no cerebelo. Aparentemente, esse

pareamento reduz o estímulo de neurônios inibitórios nos núcleos

cerebelares profundos, o que aumentaria a estimulação de

neurônios excitatórios que partem do cerebelo levando, então, à

execução de um movimento (Steuber et al., 2007). Essa teoria

pode estar relacionada com a sustentação da memória implícita.

O LTP, por outro lado, ocorre em muitas áreas cerebrais e é o

único modelo de mudança eletrofisiológica induzida por estímulo

que pode durar por dias ou semanas após uma breve estimulação

aferente. Desde a época em que foi proposto até os dias de hoje,

esse processo é o que melhor descreve e o mais aceito para

demonstrar o que chamamos de memória de longa duração.

O LTP é uma forma específica de neuroplasticidade que

normalmente perdura por longo tempo. Para a constituição e

manutenção das memórias, é importante a formação de LTP em

áreas como hipocampo e amígdala. Aliás, humanos que

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apresentam mudanças graves no processo de memorização são

aqueles que sofreram danos significativos no lobo temporal

medial (que inclui as duas áreas citadas acima), como no famoso

caso do paciente H.M., que sofreu a retirada bilateral dos lobos

temporais como tentativa para se tratar uma persistente epilepsia

(Erickson et al., 2003). Outras regiões cerebrais que participam da

formação das memórias e onde foi demonstrado o processo de

LTP incluem córtex e as projeções septo-hipocampais.

A formação do LTP e manutenção da memória dependem mais

da integridade dos neurônios dos lobos temporais cerebrais do

que de sua quantidade. Com freqüência encontra-se a ideia que a

perda neuronal expressiva estaria associada ao envelhecimento, e

que poderia contribuir para a perda da memória em idosos. Essa

noção comum parte da observação de que neurônios realmente

morrem em consequência de doenças como acidentes vasculares

encefálicos e diversos tipos de doenças neurodegenerativas.

Porém, estudos anatômicos criteriosos mostram que não existe

perda significativa de células neuronais nas regiões dos cornos de

Arnon (principalmente CA1 e CA3) e do giro denteado no

hipocampo de humanos, macacos, ratos e camundongos durante o

envelhecimento. Ademais, trabalhos recentes mostram a

ocorrência de neurogênese em estruturas relacionadas ao sistema

límbico como hipocampo, amígdala, córtex e estriado na fase

adulta, verificada em várias espécies de mamíferos (Bédard et al.,

2002; Erickson et al., 2003; Okuda et al., 2009; Landgren e

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Curtis, 2010). Portanto, a perda na neuroplasticidade parece estar

relacionada não à perda de células neuronais, mas ao declínio na

eficácia do LTP. A redução da eficácia do LTP pode ocorrer nos

três processos de formação das memórias, ou seja, pode estar

relacionada a problemas na aprendizagem, na consolidação ou

também na evocação das informações.

Aprendizado de novas informações – mecanismos para

memória de curta duração (MCD)

Três características básicas são postuladas e ajudam a

esclarecer os mecanismos básicos de armazenamento de curta

duração: 1) é transitório; 2) não necessita de alterações

anatômicas para ser mantido; 3) não necessita de nova síntese

protéica.

Em ensaios farmacológicos utilizando-se inibidores

enzimáticos e de transcrição gênica, foi verificado que a MCD

não inclui ativação de fatores de transcrição, expressão de genes

ou síntese de proteínas, mas requer ativação de cascatas

enzimáticas existentes. Sendo assim, a evocação desse tipo de

memória não requer mudanças complexas nos substratos neurais

das vias envolvidas. Essas memórias têm o importante papel de

manter a informação presente, enquanto seu “alojamento

definitivo” não está construído (memória de longa duração).

Resumidamente, as etapas necessárias à formação da MCD no

hipocampo, córtex entorrinal e córtex parietal posterior,

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envolvem, além da mobilização de receptores glutamatérgicos, a

modulação positiva de receptores colinérgicos (muscarínicos e

nicotínicos), dopaminérgicos (D-1) e noradrenérgicos (β) e,

negativamente, de receptores GABAérgicos.

No hipocampo e no córtex entorrinal, durante os primeiros 60

minutos após o aprendizado, é necessária a ativação de proteínas

cinases cálcio-dependentes (PKC); ainda, nos 30 minutos

seguintes, o hipocampo requer a participação de PKA - proteína

cinase dependente de AMPc (segundo mensageiro intracelular).

Embora haja participação de PKA, não há fosforilação da proteína

ligante do elemento responsivo do AMPc -1 (CREB -1), um fator

de transcrição gênica, ou seja não há transcrição de proteínas

(Izquierdo, 2002; Squire e Kandel, 2008).

Como esse mecanismo depende de vias intracelulares já

presentes, é frequente a existência de MCD preservada em idosos.

Porém, a consolidação de novas informações em MLD, que

ocorre entre 6 a 8 horas após a aprendizagem inicial, é um

processo que exige mais etapas, levando à formação de LTP. Em

alguns indivíduos idosos, esse processo pode ser mais difícil,

porém não impossível.

Consolidação das informações adquiridas em memória de

longa duração (MLD)

A consolidação da memória imediata em memória de longa

duração tem participação ativa do hipocampo e do córtex

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entorrinal e, como dito anteriormente, está relacionada à formação

de LTP. Alguns autores ressaltam que os lobos temporais mediais

não consistem no repositório final das memórias, mas são

responsáveis por coordenar o fortalecimento entre as ligações

neurais. O armazenamento, de fato, está relacionado com os

locais específicos de processamento durante a percepção da nova

informação sendo, portanto, atrelado às áreas sensoriais

(Gazzaniga e Heatherton, 2005).

A formação e manutenção de LTP requerem eventos celulares

e moleculares que resultam na indução, expressão e consolidação

da plasticidade neuronal. A indução é iniciada com a

despolarização celular que pode ser reproduzida

experimentalmente utilizando-se estimulações elétricas do tipo

teta (disparos elétricos a 100 Hz, separados por intervalos de 200

ms). Essas despolarizações (potenciais de ação) são transmitidas

ao longo de todo o axônio neuronal até atingirem o terminal

axônico. Nesse ponto, ocorre a liberação de neurotransmissores e

a sinapse química se estabelece. Essas estimulações conectam

proteínas do citoesqueleto como o sistema integrinas-actina e as

alterações nesse sistema modificam a densidade de espículas

dendríticas pós-sinápticas (Hotulainen e Hoogenraad, 2010).

As estimulações constantes nesses terminais axônicos

promovem mudanças estáveis no citoesqueleto, o que constitui a

consolidação do LTP, visto, microscopicamente, como ligações

cruzadas de filamentos de actina. Após esses eventos, ocorre o

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aumento da densidade de receptores (principalmente

glutamatérgicos) ou a mobilização de áreas extra-sinápticas para

as espículas dendríticas. Como resultado, ocorre a estabilidade de

correntes excitatórias pós-sinápticas.

Os tipos de receptores recrutados para a formação de LTP

dependem da área cerebral onde o LTP está sendo formado. Dessa

forma, na área CA1 do hipocampo, receptores glutamatérgicos do

tipo NMDA (N-metil-D-aspartato) e metabotrópicos são o alvo

para iniciar o LTP. Na área CA3, também no hipocampo, e em

outras áreas, um mecanismo independente do NMDA, que

envolve receptores de cainato, aparentemente é utilizado. Na

amígdala, a fase tardia de manutenção do LTP aparentemente

depende de receptores 5HT4 de serotonina. Para uma revisão

ampla sobre este aspecto da LTP, ver Izquierdo e colaboradores

(2008).

A rede de actina é constantemente modulada por fatores

endógenos que positivamente ou negativamente afetam a

produção e manutenção do LTP estável. Entre os moduladores

positivos estão o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF,

do inglês brain-derived neurotrophic factor) e fator de

crescimento neuronal (NGF, do inglês nerve growth factor), além

de alguns neurotransmissores, como serotonina, acetilcolina,

endorfinas, canabinóides e hormônios, como os corticosteróides e

hormônios sexuais. Como contraponto, o neurotransmissor

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adenosina foi descrito como um potente modulador negativo do

LTP (Lynch et al., 2006; Phale e Korgaonkar, 2009).

Em indivíduos idosos, a funcionalidade do LTP pode ser

afetada por interferências na indução, expressão ou consolidação

do processo, e também como resultado de um declínio dos

moduladores positivos, ou aumento dos moduladores negativos.

Porém, não existe um mecanismo definido para essas alterações

neurofarmacológicas. Por exemplo, a redução da depuração renal

de adenosina extracelular foi observada em ratos idosos, o que

poderia contribuir para o declínio do LTP. Ademais, não há

consenso na literatura sobre a manutenção da quantidade das

neurotrofinas BDNF e NGF no cérebro idoso. Da mesma forma,

possíveis alterações nos sistemas de neurotransmissores e

neuromoduladores poderiam influenciar a manutenção do LTP

relacionado a novas informações adquiridas em idades mais

avançadas.

O reforço na eficácia do LTP ao longo do envelhecimento:

papel da atenção e das emoções

Um importante componente que reforça a consolidação de

informações é a atenção. A quantidade de atenção aplicada

durante o processo de aprendizado reflete não somente uma

melhora na codificação da informação, como também influencia

beneficamente sua subsequente recuperação. Estudos

neuroanatômicos e eletrofisiológicos mostraram que as áreas

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cerebrais que criticamente relacionam a atenção com a

consolidação das memórias são o córtex pré-frontal e o entorrinal,

que mandam projeções para o hipocampo. Dessa forma, quanto

maior a estimulação e manutenção da atenção, maior as chances

de determinada informação ser permanentemente consolidada.

Presume-se, por esta descrição, que a atenção é dependente dos

estados de ânimo e das emoções. Algumas áreas cerebrais vêm

sendo descritas como cruciais na modulação de emoções

prazerosas ou aversivas, o que contribui imensamente para a

consolidação de informações geradas em situações carregadas de

emoções. A amígdala, por exemplo, é uma estrutura que

compreende mais de dez núcleos, formando o chamado complexo

amigdalóide. Tal complexo, localizado no lobo temporal medial,

tem atraído muito interesse devido ao seu papel central no

processamento das emoções.

Cada núcleo recebe projeções de múltiplas regiões cerebrais

como córtex, tálamo, hipotálamo e tronco encefálico. As

aferências corticais e talâmicas fornecem informações de áreas

sensoriais e estruturas relacionadas à memória (córtex pré-frontal,

entorrinal e septo medial). Uma vez que a amígdala tem acesso a

todas essas informações recentes e tem projeções para estruturas

do sistema límbico, estabelecem-se boas condições para fazer

associações entre aferências sensoriais atuais e experiências

passadas (Sah et al., 2003).

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O complexo basolateral da amígdala (BLA) é responsável por

iniciar a aprendizagem associativa. Aferências que trazem

informações sobre estímulos condicionados e incondicionados do

neocórtex, tálamo e hipocampo convergem neste complexo.

Lesões nessa estrutura impedem a aprendizagem e expressão do

condicionamento de medo.

O condicionamento de medo ocorre quando um estímulo passa

a ser associado com perigo. Em experimentos de

condicionamento de medo, o estímulo condicionado (EC), antes

neutro, passa a ser associado com o estímulo incondicionado (EI)

aversivo. O EC pode ser um som e/ou uma luz, e o EI, um leve

choque nas patas. Com o tempo, o EC sozinho é capaz de gerar as

respostas comportamentais de defesa ou medo, como freezing

(termo que se refere ao “congelamento”: o animal fica imóvel

para que o predador não perceba sua presença, por exemplo).

Assim, este condicionamento permite ao animal detectar e evitar

situações de perigo, o que é fundamental para sobrevivência. Este

é um comportamento rapidamente adquirido e que permanece na

memória por muito tempo (LeDoux, 2000).

Em ratos, os circuitos que medeiam o condicionamento de

medo consistem de aferências relacionadas ao EC e EI, as quais

convergem para o complexo BLA, onde as informações são

processadas. Em seguida, as informações são projetadas para o

núcleo central, de onde saem eferências para o hipotálamo,

resultando na expressão das respostas de medo (como freezing),

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autônomas (como elevação da pressão arterial e taquicardia), e

endócrinas (como aumento na produção de hormônios, por

exemplo, a adrenalina e a corticosterona – correspondente ao

cortisol humano).

Estudos recentes mostram que nas aferências que transmitem o

EC para a amígdala ocorre LTP e fármacos que interferem nesse

tipo de plasticidade, quando infundidos na amígdala lateral,

interferem também no condicionamento de medo. Sugere-se,

assim, que o LTP nesse núcleo pode ser o mecanismo pelo qual se

armazenam as memórias da associação EC-EI. Essa hipótese é

apoiada, ainda, pelo fato de que, se houver interrupção da síntese

de proteínas no complexo BLA não haverá a consolidação da

memória de condicionamento de medo. Isso é consistente com a

idéia, amplamente aceita atualmente, de que a síntese de proteínas

é essencial para a conversão de memória de curto prazo em longo

prazo, nos neurônios que armazenam memórias associativas

(LaLumiere et al., 2005; Sigurdisson et al., 2007).

Em contraponto ao reforço da memória por estímulos

aversivos, os estímulos prazerosos também são capazes de

reforçar a consolidação de informações. Nesse sentido, o núcleo

accumbens (nAc) possui um papel chave no processo.

O nAc é uma estrutura localizada no lobo temporal e faz parte

do chamado sistema límbico, que trata-se de estruturas

interligadas, formando o substrato neural para a experiência

emocional (Lent, 2008). O nAc é dividido em duas regiões: uma

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central (chamada core) e outra lateral (chamada shell). Compõe o

prosencéfalo basal e, juntamente com as porções ventrais do

caudado e do putâmen, constitui o estriado ventral, localizado no

lobo temporal (Jackowski, 2004; Dani e Bertrand, 2007). Esse

núcleo está associado, também, à via de recompensa, a qual é

responsável por reforçar comportamentos prazerosos.

A influência do nAc na formação das memórias vem sendo

demonstrada timidamente na literatura. Em 1999, Goldenberg e

colaboradores descreveram um caso de amnésia declarativa (ou

seja, espacial, temporal) após hemorragia na porção anterior da

região dos gânglios basais, mais especificamente, na região do

nAc. Outros trabalhos mostraram a participação dessa área tanto

na memória espacial, quanto na memória associativa, gerada por

estímulo aversivo (De Leonibus et al., 2005; LaLumiere et al.,

2005). De fato, esse núcleo recebe aferências do córtex pré-

frontal, hipocampo, amígdala e núcleos talâmicos. Juntamente

com sua sabida participação na via de recompensa, é possível

inferir uma participação na formação das memórias, quiçá,

reforçada por estímulos prazerosos.

A influência das emoções na modulação dos fatores positivos e

negativos para a manutenção da eficácia do LTP, ainda constitui

um amplo campo para pesquisa dentro das neurociências.

A plasticidade estrutural necessária para o processo de

consolidação e, consequentemente, de evocação da memória (ou

seja, a formação do citado mecanismo de LTP) ocorre em função

Page 21: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

21

do desenvolvimento do sistema nervoso central que é modulado

durante toda a vida pelo estado nutricional, equilíbrio oxidativo,

atividades físicas e cognitivas, além dos estados de ânimo, como

descrito anteriormente. O grau de distúrbio no LTP durante a

velhice pode também ser influenciado pela quantidade e

qualidade de estímulos aplicados ao cérebro durante o processo de

envelhecimento. De fato, pessoas que são submetidas a atividades

intelectuais durante a vida têm menor probabilidade de

desenvolver demências (Kramer et al., 2004; Riley et al., 2005).

Esse fato também já foi observado experimentalmente, onde

animais jovens e velhos submetidos a ambientes enriquecidos

(com brinquedos, rampas e rodas de atividades) apresentaram

mudanças comportamentais, bem como alterações morfológicas e

funcionais no sistema nervoso central (Loukavenko et al., 2007;

Baraldi et al., 2010). Portanto, a melhora na qualidade de vida

com aumento das interações sociais, práticas esportivas, estímulos

cognitivos, sensoriais (visuais, auditivos, tácteis, entre outros) e a

adoção de dieta nutricional adequada pode, mesmo em idade

avançada, estimular ativadores da transcrição gênica ou reduzir

sua desativação, o que pode contribuir para a manutenção do LTP

e das memórias declarativas.

Fatores associados ao desempenho de memória: escolaridade,

doenças crônicas e estilo de vida

Page 22: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

22

Cabe destacar novamente que a variável idade pouco explica

a multiplicidade de perfis cognitivos encontrados na velhice.

Fatores como escolaridade, variáveis de saúde física, e estilo de

vida parecem explicar maior parcela da variabilidade no

desempenho cognitivo entre idosos.

Entre as variáveis que notadamente afetam a cognição

ressalta-se a escolaridade, cujo impacto é observado em muitas

tarefas cognitivas e de memória (Nitrini et al., 2004). A aquisição

da habilidade de ler e escrever na infância parece ocasionar

alterações na arquitetura e na funcionalidade cerebral,

influenciando habilidades lingüísticas, a capacidade de processar

informações, e a capacidade de raciocinar de modo abstrato

(Castro-Caldas et al., 1998; Morais e Kolinsky, 2000; Petersson et

al., 2001). A experiência educacional limitada encontra-se

associada a pior desempenho em tarefa de fluência verbal com

restrição fonológica, repetição de pseudo palavras, que são

aspectos da memória operacional (Reis et al., 2003). Outras

funções como cálculos, tempo de reação, e memória de longa

duração verbal também são influenciados pela educação (Ardila

1995, Ostrosky-Solis et al., 1998). Por outro lado, outros aspectos

da cognição, como a memória de longa duração não verbal,

orientação espacial, e fluência verbal com restrição semântica

parecem menos influenciados pela educação (Manly et al., 1999;

Nitrini et al., 2005). Entretanto, estudo brasileiro anterior sugeriu

Page 23: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

23

que até mesmo tarefas motoras podem sofrer modulação da

educação (Nitrini et al., 2005).

O efeito da educação sobre a cognição parece seguir uma

característica logarítmica, isto é, um ou dois anos de educação

impactam de modo positivo à cognição, gerando uma melhora

abrupta no desempenho. Entretanto, poucos ganhos são

observados além de oito anos de escolaridade, com possível efeito

teto (Ardila et al., 2000, Yassuda et al., 2009). Encontra-se bem

estabelecido na literatura que o analfabetismo e a educação formal

muito limitada representam grande risco para declínio cognitivo

na velhice, e grande desafio para o diagnóstico precoce desta

condição (Bottino et al., 2008).

Entre indivíduos idosos, estudos têm demonstrado

desempenho mais baixo em testes cognitivos entre portadores de

algumas condições crônicas de saúde, entre elas a hipertensão e o

diabetes. Idosos hipertensos tendem a apresentar pior desempenho

quando comparados aos normotensos (Freitag et al., 2006).

Autores ressaltam que as alterações cognitivas mais

freqüentemente observadas em indivíduos idosos hipertensos são

a diminuição no desempenho em testes de memória visual e

verbal, e em tarefas de atenção (Warsch et al., 2010; Whitfield et

al., 2008).

Estudos longitudinais têm demonstrado que a pressão

arterial sistólica e a diastólica estão inversamente relacionadas

com desempenho cognitivo em idosos (Cervilla et al., 2000; Elias

Page 24: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

24

et al., 2004; Waldstein et al., 2005, Freitag et al., 2006). O estudo

de Elias et al. (2004), por exemplo, examinou as relações entre

pressão arterial e declínio cognitivo em 529 indivíduos

participantes do Maine-Syracuse Longitudinal Study of

Hipertension. Os participantes foram divididos em duas faixas

etárias (18 a 46 anos e 47 a 83 anos), e tiveram seu desempenho

cognitivo testado com a Escala de Inteligência Wechsler. Foram

testados ao longo de 20 anos, sendo que a quantidade de

avaliações variou de uma a quatro vezes, com um intervalo médio

de 5,2 anos entre as mesmas. Os resultados mostraram que

maiores níveis de pressão arterial sistólica e diastólica estiveram

significativamente relacionados com o declínio em algumas

funções cognitivas (visualização e habilidades fluidas), tanto no

grupo mais jovem quanto no grupo mais velho. Ainda, os adultos

jovens eram tão suscetíveis ao declínio cognitivo relacionado à

hipertensão, quanto adultos mais velhos e idosos.

No Brasil, estudo recente realizado por Di Nucci et al.

(2010) não encontrou diferenças estatisticamente significativas no

desempenho cognitivo avaliado por meio da bateria CERAD entre

idosos hipertensos que fazem uso regular da medicação anti-

hipertensiva e idosos normotensos. Como sugerido pelos autores,

a relação entre a hipertensão e o desempenho cognitivo parece ser

mediada por variáveis como tempo de doença, adesão à

medicação antihipertensiva, hábitos alimentares e atividade física.

Fatores como sintomas depressivos (Peters et al., 2010), índice de

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25

massa corporal e nível educacional também podem mediar

desfechos cognitivos entre hipertensos (Peters et al., 2009).

Diversos trabalhos têm identificado a associação entre

diabetes e declínio cognitivo (McGuire et al., 2006).

Recentemente, Verdelho et al. (2010), no estudo LADIS,

identificaram que alterações na substância branca, assim como o

diabetes, presentes em idosos independentes na avaliação inicial

do estudo, foram fatores preditivos de declínio cognitivo em três

anos. As alterações cognitivas poderiam ocorrer por

comprometimento vascular, formação de placas neurofibrilares e,

talvez, por alterações no metabolismo da glicose (Klein e

Waxman, 2003).

Destaca-se que um episódio de hipoglicemia pode levar a

déficit cognitivo temporário, porém, o efeito a longo prazo de

episódios recorrentes de hipoglicemia na função cognitiva é

controverso, salientam Strachan e Frier (2003). Alguns estudos

(Brands et al. 2006; Perros et al., 1997) mostraram que a

hipoglicemia desencadeia uma cascata de eventos, como

produção de aminoácidos, influxo de cálcio, ativação de

proteases, que culmina em lesão de estrutura cerebral. Porém, no

Diabetes Control and Complications Trial (DCCT), episódios

repetidos de hipoglicemia não estiveram associados com

deterioração nos domínios cognitivos investigados, em 266

pacientes avaliados (Austin et. al 1999).

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26

Considerando as alterações em córtex cerebral, a atrofia do

SNC foi encontrada em estudo que incluiu pacientes com diabetes

tipo I (Lobnig et al., 2006). Os autores aventaram que

hipoglicemia ou hiperglicemia, doença micro e macrovascular e

alterações hormonais e de citocinas poderiam explicar tal atrofia.

Da mesma maneira, outras alterações estruturais cerebrais foram

descritas, porém não há consenso definido se estão ou não

relacionadas às variações glicêmicas. Essas alterações estruturais

foram encontradas no hipocampo de indivíduos com diabetes,

como a remodelação de neurônios, simplificação de dendritos

apicais e redução do número das vesículas pré-sinápticas (Craft et

al., 1998). Adicionalmente, o potencial de longa duração pode

estar reduzido em pacientes com diabetes, em virtude de alteração

no receptor NMDA do hipocampo, responsável pela homeostase

do cálcio neuronal, como destacam Martins et al. (2006) e

Bereket et al. (1999). A redução da atividade da enzima óxido

nítrico sintase (NOS, do inglês nitric oxide synthase), que

também favorece a redução do potencial de longa duração,

também já foi descrita em hipocampo de pacientes com DM

(Klein e Waxman, 2003).

Na mesma vertente, a literatura documenta que a

dislipidemia, outra desordem metabólica, pode interferir no

desempenho cognitivo, assim como os fatores envolvidos na

gênese da placa de ateroma. Esses fatores vêm sendo investigados

na fisiopatologia da Doença de Alzheimer. Pligielli et al. (2001)

Page 27: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

27

evidenciaram que o aumento de colesterol na membrana neuronal

induziu tanto à aterosclerose quanto à produção de β-amilóide,

por meio da ativação da acetil-coenzima A-colesterol acil-

transferase (ACAT). Essa enzima foi capaz de produzir grânulos

intracelulares de colesterol (fase do processo aterosclerótico),

além de estimular a proteína precursora do amilóide (PPA),

favorecendo a formação de β-amilóide. Outro estudo identificou

que as plaquetas, importantes na cascata da formação da placa

aterosclerótica, seriam responsáveis por mais de 90% da PPA e da

β-amilóide circulante (Casserly et al., 2004).

Em relação à obesidade, um estudo acompanhou mais de

1.000 mulheres por 18 anos e observou que aquelas que

evoluíram com síndrome demencial tendiam a ser mais obesas

(Gustafson et al., 2003). Os autores constataram que o aumento

de um ponto no índice de massa corporal (IMC) elevava o risco

de DA em 36%. Ho et al. (2010) encontraram menor volume

cerebral, entre pacientes idosos com doença de Alzheimer e

Comprometimento Cognitivo Leve, com índice de massa corporal

elevado.

Entre os fatores protetores da cognição, pesquisas recentes

têm apontado que a adoção de um estilo de vida saudável,

baseado na prática de atividades físicas e mentais, com

alimentação equilibrada, e com envolvimento social, pode

favorecer a neuro proteção e levar ao envelhecimento saudável do

ponto de vista cognitivo (Matsudo, 2006; OMS, 2002). Estudos

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28

verificaram a associação positiva entre a prática da atividade

física e a capacidade cognitiva, particularmente para as funções

executivas e memória operacional (Colcombe e Kramer, 2003;

Kramer e Erickson, 2007). Os resultados do estudo prospectivo de

Larson et al. (2006), por exemplo, envolvendo 1740 idosos sem

declínio cognitivo, demonstraram que a prática regular de

exercício físico, pelo menos três vezes por semana, esteve

associada à redução do risco de desenvolver demências, sendo um

potente fator protetor contra o declínio cognitivo. Mais

recentemente, Scarmeas et al. (2010), em estudo prospectivo em

Nova Iorque, demonstraram que realizar atividade física reduz o

risco para a doença de Alzheimer, assim como promove maior

sobrevida aos idosos que já apresentam a doença.

É necessário cautela ao investigar a relação entre o

engajamento em atividades físicas e mentais e o funcionamento

cognitivo, pois, as alterações cognitivas que acompanham o

decorrer da idade são altamente específicas, podendo ter começo

e progressão distintos para cada indivíduo. Essas mudanças

podem estar associadas a fatores como a genética, gênero, raça,

nível educacional, condições socioeconômicas, estado de saúde,

nível intelectual global, hábitos de vida, entre outros fatores

(Yaffe et al. 2001, Parker et al., 2008). O perfil cognitivo entre

idosos é heterogêneo e as habilidades cognitivas podem

determinar o engajamento em atividades, assim como o

envolvimento com atividades pode influenciar o desempenho

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29

cognitivo. A relação causal entre a realização de atividades e

cognição pode ser recíproca. Adicionalmente, destaca-se que

diferentes tipos de atividades físicas e mentais podem contribuir

para a manutenção da cognição.

Estudos recentes documentaram que a adesão à dieta do

mediterrâneo (rica em frutas, legumes, peixes, e baixo consumo

de carnes vermelhas e gorduras saturadas) pode estar associada a

menor risco para a doença de Alzheimer (Gu et al., 2010a; Gu et

al., 2010b). Entretanto, estudos anteriores não encontraram o

mesmo resultado (Féart et al., 2009). Scarmeas et al. (2009)

sugeriram que combinar a dieta do mediterrâneo com as

atividades físicas pode ser favorável a redução do risco para a

doença de Alzheimer.

Pesquisadores também estão investigando se realizar

atividades intelectuais e participar de treinos cognitivos podem

gerar benefícios cognitivos. Estudos recentes indicaram que a

estimulação cognitiva, decorrente da participação em grupos

estruturados, como oficinas de treino cognitivo, ou a que decorre

de atividades realizadas continuamente por idosos, como ler

livros, fazer palavras cruzadas, jogar jogos pode ter efeitos

benéficos para a cognição e promover o envelhecimento cognitivo

saudável, diminuindo o ritmo do declínio cognitivo normativo.

Pesquisas também apontam que o envolvimento social pode trazer

efeitos semelhantes. Para uma revisão ampla e detalhada de

estudos sobre enriquecimento cognitivo (estudos de treino

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30

cognitivo, e estudos sobre participação em atividades físicas,

intelectuais e sociais) ver Herzog et al. (2009).

Por fim, por meio das técnicas de neuroimagem, estudos têm

comprovado a neurogênese, e identificado fatores que facilitam e

estimulam o nascimento de novos neurônios, como, por exemplo,

a atividade física e a estimulação mental (Schlett, 2006).

Valenzuela et al. (2003) realizaram estudo pioneiro, quando

observaram mudanças bioquímicas em 20 idosos após treino de

memória. Metade dos participantes recebeu intervenção cognitiva,

de cinco sessões e outra metade participou do grupo controle. Os

resultados desse estudo apontaram que o treino de memória

induziu mudanças bioquímicas e funcionais, aumentando o nível

de concentração de creatina e sinais de colina no hipocampo.

Talib et al. (2008) também documentaram alterações

significativas na fosfolipase A2, após treino de memória de quatro

sessões.

Conclusões

O envelhecimento geralmente associa-se a alterações

cognitivas. No âmbito da memória, observam-se alterações em

sub sistemas que se caracterizam pela formação de novos traços

de memória, como a memória episódica, e pela retenção e

processamento de dados on-line, como a memória operacional.

Pesquisas recentes sugerem que estas alterações estão associadas

a mudanças em processos biológicos que ocorrem a nível celular

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31

e molecular, na potenciação de longo prazo (LTP). O desempenho

em tarefas de memória na velhice é modulado por muitos fatores,

como variáveis de saúde, ambientais e de estilo de vida. Pesquisas

nos últimos anos têm demonstrado que o envelhecimento

cognitivo bem sucedido pode ser favorecido pela prática das

atividades físicas, pela dieta saudável, e pela prática de atividades

intelectuais e sociais. Nos próximos anos, as pesquisas

desvendarão os mecanismos biológicos por meio dos quais estes

benefícios ocorrem.

Page 32: TRATADO YASSUDA 3a Edição Memória e envelhecimento

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