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1 Transferência de Conhecimento nas Pequenas Empresas de Aglomerações Territoriais: O Caso da Aglomeração Industrial Moveleira de São Bento do Sul Autoria: Gisele Silveira Coelho Lopes, Valmir Emil Hoffmann, Janann Joslin Medeiros Resumo Focaliza-se neste artigo, com fundamentação na Visão Baseada em Recursos (VBR), a transferência de conhecimento entre as pequenas empresas inseridas em aglomeração territorial. Para estudar a questão, de maneira exploratória e descritiva, foi escolhida a aglomeração moveleira de São Bento do Sul, Santa Catarina. De acordo com a VBR, considera-se o conhecimento um recurso estratégico para o alcance da competitividade. Parte- se das premissas de que: (i) numa aglomeração territorial os recursos competitivos podem não ser de posse e, sim, de acesso; (ii) conhecimento é um recurso estratégico, e (iii) as empresas inseridas em uma aglomeração teriam acesso ao conhecimento desenvolvido em outras empresas da aglomeração, tornando a aglomeração como um todo mais competitiva. A indústria moveleira da cidade de São Bento do Sul foi escolhida por ser considerada uma aglomeração altamente competitiva já que sua produção abraça a maior parte das exportações brasileiras de móveis. Foi realizado um levantamento censitário, com um contato preliminar por telefone com visitas às 276 empresas registradas na Secretaria de Indústria e Comércio da cidade. Desse número, 198 empresas aceitaram participar da pesquisa e nelas foi aplicado um questionário (71,7% da população). Este montante foi dividido em dois grupos de análise. O primeiro grupo, denominado empresas produtoras, foi constituído por firmas que realizam todo o processo de produção, além de prestar serviços de terceirização a outras empresas. O segundo grupo, denominado empresas fornecedoras, constituiu-se de empresas que somente produzem para outras firmas (terceirizam). Para determinar o acesso aos recursos na aglomeração, como etapa exploratória, os dados levantados foram submetidos à análise fatorial. Foram identificados quatro fatores e, a partir do teste de significância, identificaram- se os recursos mais acessados na aglomeração, relacionados à transferência de conhecimento. Em seguida realizou-se o teste de quatro hipóteses que surgiram da análise fatorial, que resultou em aceitar a hipótese de que as instituições de apoio e a mobilidade da mão-de-obra são recursos competitivos presentes na aglomeração. Observou-se, ainda, que a cooperação entre empresas não foi muito evidenciada na aglomeração e que as empresas produtoras percebem mais a presença dos recursos competitivos em instituições e mobilidade de mão-de- obra do que as empresas fornecedoras. O trabalho contribui ao desenvolvimento de teoria sobre a transferência de conhecimento em aglomerações ao mostrar que: (i) existe acesso diferenciado ao conhecimento entre empresas produtoras e fornecedoras; (ii) a transferência de conhecimento entre as empresas ocorre de forma indireta; e (iii) que esse conhecimento não é um recurso distribuído de forma simétrica entre empresas produtoras e fornecedoras. Como limitação ao estudo, observa-se que a abordagem quantitativa não permitiu identificar as razões dos padrões encontrados ou da não cooperação entre as empresas da aglomeração, o que sugere-se realizar estudos qualitativos complementares. Recomenda-se, ainda, estender o trabalho para outras aglomerações moveleiras no Brasil e em outros países. Palavras-chave: aglomeração territorial, indústria moveleira, pequenas empresas, recursos competitivos, acesso a informação, transferência de conhecimento.

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Transferência de Conhecimento nas Pequenas Empresas de Aglomerações Territoriais: O Caso da Aglomeração Industrial Moveleira de São Bento do Sul

Autoria: Gisele Silveira Coelho Lopes, Valmir Emil Hoffmann, Janann Joslin Medeiros

Resumo Focaliza-se neste artigo, com fundamentação na Visão Baseada em Recursos (VBR), a transferência de conhecimento entre as pequenas empresas inseridas em aglomeração territorial. Para estudar a questão, de maneira exploratória e descritiva, foi escolhida a aglomeração moveleira de São Bento do Sul, Santa Catarina. De acordo com a VBR, considera-se o conhecimento um recurso estratégico para o alcance da competitividade. Parte-se das premissas de que: (i) numa aglomeração territorial os recursos competitivos podem não ser de posse e, sim, de acesso; (ii) conhecimento é um recurso estratégico, e (iii) as empresas inseridas em uma aglomeração teriam acesso ao conhecimento desenvolvido em outras empresas da aglomeração, tornando a aglomeração como um todo mais competitiva. A indústria moveleira da cidade de São Bento do Sul foi escolhida por ser considerada uma aglomeração altamente competitiva já que sua produção abraça a maior parte das exportações brasileiras de móveis. Foi realizado um levantamento censitário, com um contato preliminar por telefone com visitas às 276 empresas registradas na Secretaria de Indústria e Comércio da cidade. Desse número, 198 empresas aceitaram participar da pesquisa e nelas foi aplicado um questionário (71,7% da população). Este montante foi dividido em dois grupos de análise. O primeiro grupo, denominado empresas produtoras, foi constituído por firmas que realizam todo o processo de produção, além de prestar serviços de terceirização a outras empresas. O segundo grupo, denominado empresas fornecedoras, constituiu-se de empresas que somente produzem para outras firmas (terceirizam). Para determinar o acesso aos recursos na aglomeração, como etapa exploratória, os dados levantados foram submetidos à análise fatorial. Foram identificados quatro fatores e, a partir do teste de significância, identificaram-se os recursos mais acessados na aglomeração, relacionados à transferência de conhecimento. Em seguida realizou-se o teste de quatro hipóteses que surgiram da análise fatorial, que resultou em aceitar a hipótese de que as instituições de apoio e a mobilidade da mão-de-obra são recursos competitivos presentes na aglomeração. Observou-se, ainda, que a cooperação entre empresas não foi muito evidenciada na aglomeração e que as empresas produtoras percebem mais a presença dos recursos competitivos em instituições e mobilidade de mão-de-obra do que as empresas fornecedoras. O trabalho contribui ao desenvolvimento de teoria sobre a transferência de conhecimento em aglomerações ao mostrar que: (i) existe acesso diferenciado ao conhecimento entre empresas produtoras e fornecedoras; (ii) a transferência de conhecimento entre as empresas ocorre de forma indireta; e (iii) que esse conhecimento não é um recurso distribuído de forma simétrica entre empresas produtoras e fornecedoras. Como limitação ao estudo, observa-se que a abordagem quantitativa não permitiu identificar as razões dos padrões encontrados ou da não cooperação entre as empresas da aglomeração, o que sugere-se realizar estudos qualitativos complementares. Recomenda-se, ainda, estender o trabalho para outras aglomerações moveleiras no Brasil e em outros países. Palavras-chave: aglomeração territorial, indústria moveleira, pequenas empresas, recursos competitivos, acesso a informação, transferência de conhecimento.

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1 Introdução

Quando Alfred Marshall (1925) apontou a existência de aglomerações geográficas de empresas e defendeu sua importância para ampliar a eficiência produtiva das firmas ele iniciou a discussão sobre as vantagens de uma empresa estar instalada em uma região cercada de competidores. Esta eficiência, conforme frisam Krugman e Obstfeld (2001), advém das economias externas que podem ser obtidas através de fornecedores especializados, acesso a um mercado comum de trabalhadores, e acesso à informação. Para reforçar esses argumentos, Koo (2005) afirma que as empresas quando aglomeradas geograficamente tentam melhorar a produtividade, cujos resultados são os retornos crescentes decorrentes da alta escala de produção. Infere-se que a aglomeração possibilita a existência de laços formais e informais entre as empresas, seja por intermédio de acordos de cooperação com fornecedores na aquisição de matéria-prima ou, conforme Arikan (2009), através de licenças, consórcios, pesquisa e desenvolvimento.

A discussão sobre as aglomerações vem acompanhada de diversos termos como polo, cluster e mesmo redes. O termo polo reúne a mesma noção trazida por Marshall (1925), isto é, que há um conjunto de empresas aglomeradas territorialmente, com complementaridade em termos de processo produtivo. Neste texto o termo é utilizado como sinônimo de aglomeração territorial. O termo cluster - que igualmente se origina em Marshall (1925) e que pode ser traduzido em português como aglomeração - apresenta menor convergência de definições. Um cluster ou aglomeração pode apresentar distintas configurações, como se nota no texto de Porter (1989). Já as redes são desenhos organizacionais, onde além de existirem relações com motivação econômica, percebe-se vínculos de relacionamento que geram outros tipos de recursos, como a cooperação e a confiança (Thorelli, 1986; Jarillo, 1988). Note-se que as redes podem assumir distintas características, como apontaram Hoffmann, Molina-Morales e Martínez-Fernandez (2007), mas as redes de que trata esse estudo são aquelas aglomeradas territorialmente, informais, horizontais, e não orbitais, usando a tipologia desses últimos autores.

A competitividade de uma empresa ou de um conjunto delas pode ser investigada e medida de várias maneiras. Para este estudo, optou-se pela Visão Baseada em Recursos – VBR (Resource Based View – RBV). A VBR explica a obtenção da vantagem competitiva através dos recursos da empresa, que quando bem gerenciados, tendem a repercutir em desempenho econômico financeiro superior (Barney, 1986). Barney (1991) classifica esses recursos em três categorias: 1) recursos de capital físico – tecnologia, instalações e equipamentos, localização geográfica e a matérias-primas -; 2) recursos de capital humano – relacionamentos, inteligência, formação e experiências dos gestores e funcionários da firma – e, 3) recursos financeiros e organizacionais – estrutura organizacional, formas de planejamento formal e informal, tipos de controles e gerenciamento de sistemas, bem como as relações entre as pessoas dentro da firma e entre firmas e o meio ambiente. Segundo Barney (1991), a dotação ou acesso de recursos estratégicos é o que leva uma empresa a obter vantagem competitiva sustentável.

Para Conner e Prahalad (1994), o conhecimento seria recurso essencial para obter vantagens competitivas o que se assume para este estudo. Define-se conhecimento como a combinação de experiências, valores, informações e insight que pode estar na mente das pessoas (Davenport; Prusak, 1998), ou pode ter sido codificado de alguma forma (Nonaka; Takeuchi, 2008).

Apesar de a VBR ser uma abordagem tipicamente da firma, ela vem sendo usada para a avaliação de contextos de aglomeração territorial. Em trabalhos como os de Dei Ottati, (1994); Digiovanna (1996); e Lazerson e Lorenzoni (1999) fala-se que as aglomerações, ou distritos industriais, como denominado pelos autores, apresentam características que geram vantagens para as empresas aglomeradas territorialmente. Além da cooperação, a confiança,

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aponta-se em trabalhos como os de Asheim e Isaksen (2002); e Zeng (2006), nas aglomerações territoriais pode haver a transferência de conhecimento entre empresas. No entanto, neste ultimo trabalho percebe-se que tanto a cooperação como a confiança se relacionam com a transferência de conhecimento. Relação semelhante foi apontada também por (Referência Omitida Para Esta Avaliação, 2007) que modelaram as relações entre os relacionamentos, mobilidade da mão de obra e as instituições de suporte à atividade da indústria e concluíram que esses três construtos eram dimensões da transferência de conhecimento. Partindo desse último achado, determina-se que a transferência de conhecimento é um recurso de acesso que existe na aglomeração territorial no mesmo sentido apontado pela RBV.

Partindo-se desta percepção, o presente estudo analisa, com fundamentação na Visão Baseada em Recursos (VBR), a transferência de conhecimento entre as pequenas empresas inseridas em uma aglomeração territorial da indústria de móveis, em São Bento do Sul . A indústria moveleira brasileira possui parques fabris em todas as unidades da federação brasileira, com maior concentração de atividades nos estados do sul do país e nos estados de São Paulo e Minas Gerias. O estado de Santa Catarina é o terceiro que mais emprega esse tipo de mão de obra, e as empresas, em geral, são de pequeno porte, pouco verticalizadas. Na cidade de São Bento do Sul, a indústria moveleira representa mais de 40% da economia, e sua produção abraça a maior parte das exportações brasileiras de móveis (Abdi; Unicamp, 2008), o que permite inferir que a indústria da aglomeração é competitiva internacionalmente. Por esse motivo, ela foi considerada um contexto relevante para estudar o fenômeno de interesse: a transferência de conhecimento entre as pequenas empresas de aglomerações territoriais. O trabalho está dividido em cinco partes, a incluir esta introdução. A segunda parte trata da fundamentação teórica e a terceira apresenta os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa. Na quarta parte se apresentam e discutem os resultados, enquanto na quinta parte se tecem as conclusões, assim como sugestões para futuras pesquisas. 2 Marco Teórico

A pesquisa reportada neste trabalho se fundamenta nos conceitos de recursos competitivos, criação de conhecimento, e da transferência de conhecimento, detalhados a seguir.

Recursos competitivos. Como já mencionado, o trabalho se enquadra no marco da Visão Baseada em Recursos. Peteraf (1993) considera que um dos precursores da Visão Baseada em Recursos foi David Ricardo (1817) ao discutir a raridade do recurso de terra produtiva como fonte de renda para os investidores. A noção de que uma firma nada mais é do que um conjunto de recursos fornecido por Edith Penrose em 1959 pode ser considerado outro marco. Mas a contribuição de Wernerfelt (1984) é imprescindível à compreensão dos recursos como fonte da vantagem competitiva da firma individual, contrastando com a da corrente econômica de organização industrial, que atribuía a vantagem competitiva à estrutura da indústria.

A VBR, como já foi destacado, baseia-se na noção que os recursos da firma podem ser definidos como tangíveis e intangíveis. Os tangíveis são aqueles recursos materiais que uma firma possui, como: máquinas e equipamentos, instalações, matérias-primas, produtos semielaborados, estoque de produto acabado não vendido etc. Já os recursos intangíveis são aqueles imateriais como: força de trabalho qualificada, marca, contatos comerciais, conhecimento tecnológico, procedimentos eficientes etc. (Wernerfelt, 1984; Penrose, 2006).

Para que um recurso possa ser considerado competitivo, Barney (1991) aponta para a necessidade de existência de quatro características: valor - que permitem a empresa criar uma estratégia que vise o aumento da eficiência e eficácia; raridade - classificados como financeiros, humanos, organizacionais, mercadológicos que proporcionem o desenvolvimento

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de estratégias ainda não exploradas por outras empresas; imitação imperfeita - que não seja possível de ser imitado, por estar relacionado às condições históricas peculiares à empresa, o leque de recursos que a empresa possui e à complexidade social que está diretamente ligada às inter-relações dentro da empresa; ser insubstituível - por ser valioso, raro e inimitável, não pode ser substituído por outro semelhante. Assim, esses recursos somente irão redundar em vantagem competitiva, dependendo das características da empresa, isto é, sua história, visão de futuro entre outros aspectos (Barney, 1991).

Criação do conhecimento. Neste estudo, o recurso estratégico de interesse é o conhecimento. Nonaka e Takeuchi (2008) apresentam um modelo de desenvolvimento de conhecimento em que o conhecimento tácito é criado e transformado em explícito, o qual serve para criação de novos conhecimentos tácitos, interativamente, por meio de processos de socialização, combinação, externalização e internalização. Por meio desses processos interativos, o conhecimento pode passar do âmbito individual para o grupal e organizacional, sucessivamente. Ou seja, o que começa como conhecimento tácito do indivíduo pode se transformar em conhecimento tácito ou explícito de uma coletividade.

Denominado como espiral da criação do conhecimento organizacional (Nonaka; Takeuchi, 2008), este modelo postula cinco condições que precisam existir no âmbito organizacional para promover o espiral do conhecimento: (1) intenção estratégica de adquirir, criar, acumular e explorar o conhecimento; (2) autonomia das partes interdependentes, conforme as circunstâncias, desempenham independentemente suas atividades, na perspectiva da organização como sistema; (3) flutuação, introduzida quando os membros do sistema percebem mudanças no ambiente externo que introduzem a necessidade ou a oportunidade de repensar atitudes e ações, o que leva a um colapso de rotinas ou estruturas cognitivas. Esta flutuação pode resultar em caos criativo (quando os membros da organização têm condições de refletir sobre suas ações), o que contribui à aprendizagem. Sem a reflexão, a flutuação pode levar ao caos destrutivo. (4) redundância que se refere à existência de informações que transcendem as exigências operacionais imediatas dos membros da organização, ou seja, as pessoas sabem mais do que precisam usar; e (5) requisito variedade, que se refere ao repertório de conhecimentos que a organização precisa para fazer frente à complexidade e variedade encontradas no ambiente. A existência de diferenças de informações leva a diferenças de interpretação, e aumenta as oportunidades de novos conhecimentos.

Como a unidade de análise no presente estudo é a aglomeração de empresas, a espiral do conhecimento apresentada por Nonaka e Takeuchi (2008) foi aplicada em um contexto diferente daquele proposto pelos autores. Significa adaptar um modelo desenvolvido de contexto intraorganizacional a um contexto interorganizacional, adaptação facilitada para a perspectiva sistêmica presente no modelo original e que também se percebe nas aglomerações territoriais, principalmente com relação à complementaridade que existe nesse tipo de arranjo produtivo. Para que efetivamente ocorra a espiral de conhecimento no âmbito interorganizacional, faz-se necessária a existência de um espaço em que haja sinergia e estímulos, para que o conhecimento tácito e o conhecimento explícito sejam compartilhados além das fronteiras da organização (Nonaka; Toyama, 2008). Infere-se que para ocorrer a criação de conhecimento em aglomerações territoriais, seria necessário a existência da interação entre pessoas, grupos e organizações.. Na aglomeração territorial as condições facilitadoras do espiral de conhecimento que parecem ser os mais destacáveis são a autonomia, a redundância, e o requisito variedade. A autonomia é própria das organizações, ou seja, cada qual pode tomar suas próprias decisões e decidir a intensidade de suas ações no contexto da aglomeração. A redundância pode ser observada ao se tomar a aglomeração como unidade de análise. O estoque de conhecimento acumulado internamente sobre processos, produtos e mercados é seguramente maior do que aquele que as empresas necessitam individualmente para suas operações. Pelos dois motivos anteriores, sustenta-se o requisito

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variedade. As empresas mantêm suas idiossincrasias o que garante variedade de conhecimentos no conjunto da aglomeração.

2.1 Fatores que facilitam a transferência de conhecimento entre organizações

A literatura aponta algumas dimensões da transferência de conhecimento numa aglomeração territorial. Como detalhado a seguir, essas dimensões incluem a existência de uma relação de cooperação entre as empresas, de uma relação de cooperação com as instituições locais e da mobilidade de mão-de-obra (Benton, 1993; Schmitz, 1993; Brusco, 1993; Meyer-Stamer, 1998; Asheim; Isaksen, 2002; Zeng, 2006).

a) Relação de cooperação entre as empresas aglomeradas. No tocante à contribuição da cooperação para a transferência de conhecimento, Benton (1993) apresenta um estudo entre as empresas das aglomerações industriais da Espanha. Para o autor, esse tipo de cooperação é sinônimo de complementaridade entre a etapa produtiva de uma empresa e outra, e favorece o intercâmbio de informação de caráter técnico-produtivo e de mercados. Além deste benefício, a cooperação favorece a união das empresas para participar de feiras nacionais e internacionais, assim como na combinação de recursos para investir em pesquisas e desenvolvimento.

Asheim e Isaksen (2002) investigaram as inovações em três aglomerações territoriais na Noruega - Hortren, Jaeren e Sunnmore. Nesta última região, conhecida como a maior região de construção naval daquele país, os autores perceberam que a troca de conhecimento vai além da relação de cooperação entre as empresas existentes, isto é, tem-se a participação de clientes (empresas de navegação) e usuários (pescadores e marinheiros) como fonte de inovação. As discussões entre os capitães, engenheiros e outros membros das tripulações navais são retornos valiosos como sugestões de melhorias para as empresas daquele setor, segundo os mesmos autores. Os contatos das empresas com esses canais de informação ocorrem mediante visitas periódicas de profissionais de desenvolvimento de produtos ou até mesmo trabalhadores que estão envolvidos nas linhas de produção para discutir, de maneira informal, o desempenho dos produtos oferecidos pela empresa.

Por sua parte, Zeng (2006) sustenta a importância das relações de cooperação numa aglomeração territorial, ao analisar o crescimento das aglomerações africanas a partir da transferência de conhecimento e tecnologia entre as empresas. Segundo o autor, a cooperação em função da subcontratação é necessária, pois favorece as pequenas empresas a acessarem certos benefícios que sozinhas não seria possível. É o caso das empresas do setor de flores do Quênia, cuja subcontratação permite ampliar a produção, com vistas a possibilitar o acesso às exportações.

b) Relação de cooperação com as instituições locais. A literatura sugere que o papel das instituições locais é fundamental para o processo de transferência de conhecimento em uma aglomeração. Schmitz (1993) distingue dois tipos de instituições, as públicas e as intermediárias. As públicas são as universidades e escolas de ensino tecnológico, enquanto as intermediárias são aquelas que contribuem na elaboração de normas para a produção e comercialização dos produtos e serviços, fornecem assessorias em questões trabalhistas (sindicatos), representam determinados setores (caso das câmaras de comércio e indústrias), fomentam a indústria no apoio de projetos de inovação tecnológica, bem como, fornecem incentivos à exportação (bancos). Também incluem organizações que prestam serviços especializados para a indústria. (Schmitz, 1993)

Quanto às instituições locais públicas, o apoio governamental local é fundamental ao instituir políticas públicas que visem incentivar a inovação tecnológica nas empresas. Um dos mecanismos para incentivar esse tipo de inovação é a participação das universidades na qualificação de profissionais que atendam às necessidades das empresas locais (Schmitz, 1993). Segundo Zeng (2002), as universidades assumem um papel crucial na transferência de

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conhecimento e tecnologia. O autor citou três casos que tiveram benefícios substanciais com a assessoria técnica e treinamentos especializados oferecidos pelas universidades locais: o setor de flores do Quênia, o setor de pesca de Uganda e o setor do vinho Sul-Africano.

Meyer-Stamer (1998) ao analisar três polos industriais no estado de Santa Catarina (Brasil) aponta não somente o papel das universidades, mas também de outras instituições educacionais, especificamente as voltadas ao ensino tecnológico. O autor salientou a iniciativa das empresas do segmento cerâmico ao criarem uma escola técnica para capacitar os funcionários e até outros alunos interessados que ainda não faziam parte da indústria. Além dessa iniciativa, os empresários pressionaram a universidade local para oferecer cursos técnicos direcionados à indústria cerâmica, a fim de buscar o fortalecimento do setor na região em mão-de-obra qualificada.

Iniciativa semelhante foi detectada por Asheim e Isaksen (2002) que destacam o papel dos centros de tecnologia na região de Jaeren na Noruega, cujo objetivo principal é promover treinamentos para capacitar os funcionários das empresas e os alunos de escolas técnicas para assumirem funções mais avançadas no futuro. Esta iniciativa, segundo aqueles autores, antecipa a preparação da base de competências das pessoas da região, como forma de assegurar que o mercado de trabalho será bem preparado e que proporcione desenvolvimento tecnológico para o setor.

Com respeito às instituições intermediárias, Meyer-Stamer (1998) destaca o papel ativo das associações empresariais na indústria de revestimentos cerâmicos, no Brasil. Tem-se a presença do sindicato patronal que desempenha o papel de estimular o intercâmbio de informações entre as empresas; a participação da Associação Nacional da Indústria Cerâmica Brasileira (Anfacer), que promove o intercâmbio de inovação tecnológica entre as empresas, além de organizar congressos anualmente; e por último, a presença do Centro Cerâmico Brasileiro em São Paulo que promove a formação, pesquisa e a disseminação de informação na indústria a respeito do consumidor.

Asheim e Isaksen (2002) igualmente ressaltam a participação das instituições locais nas três aglomerações territoriais na Noruega. As empresas se beneficiam com o acesso a associações de engenharia, que assumem quatro funções essenciais: formação profissional, promoção de cooperação local entre líderes na condução de acordos informais para a não competição nos salários, com o intuito de reduzir a inflação salarial e finalmente, a atração de investimentos diversos.

c) Mobilidade de Mão-de-Obra. Basant (2002) ressalta que as concentrações geográficas tendem a aglutinar um número significativo de mão-de-obra capacitada para o setor específico. Nisso tem-se a relevância das instituições locais para favorecer a transferência de conhecimento entre as empresas aglomeradas. Para o autor, o movimento freqüente de mão-de-obra entre as empresas por intermédio das universidades tem assumido um papel fundamental na disseminação do conhecimento. Por sua parte, Asheim e Isaksen (2002) afirmam que a aproximação geográfica facilita a troca rápida de informações entre empresas e estruturas sócio-culturais e institucionais, ao proporcionar a aprendizagem coletiva e a inovação permanentes, vantagens que não seriam disponíveis a empresas localizadas fora do conhecimento intensivo dessas aglomerações.

Outra forma de transferência de conhecimento está relacionada ao trabalho contingente de profissionais autônomos, conforme afirmam Matusik e Hill (1998). Para aqueles autores, os consultores empresariais ou até mesmo engenheiros técnicos possuem experiências diversas através das práticas vivenciadas em uma variedade de empresas. De posse desse conhecimento, esses profissionais formam uma mão-de-obra qualificada para disseminar conhecimentos atualizados sobre as demandas do mercado, levando às empresas informações valiosas sobre produtos e processos inovadores.

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Malberg e Power (2005) sugerem que a mobilização de mão-de-obra ocorre de duas maneiras: 1) mobilidade entre empresas localizadas num mesmo local; e 2) transferência de profissionais de um setor da empresa para outro, para fins de ampliar e divulgar o conhecimento. Para aqueles autores, as razões que justificam a mobilização de mão-de-obra do mercado local são: aversão ao risco, laços sociais existentes entre trabalhadores e empregadores locais, receio de mudança para um outro local distante da residência, redução de custos etc.

3 Metodologia

A pesquisa realizada é caracterizada como exploratória e descritiva. Os dados foram coletados junto aos proprietários de empresas do segmento moveleiro localizadas no município de São Bento do Sul, nos anos de 2006 e 2007. Com base nos dados fornecidos pela Secretaria de Indústria e Comércio de São Bento do Sul, foram contatadas todas as 276 empresas e 198 delas aceitaram participar (71,7%), o que caracteriza um censo da população. Entre as empresas participantes, há aquelas exclusivamente produtoras que realizam todo o processo de produção, desde a concepção do produto até a entrega do cliente final; há empresas que somente produzem parte de um processo de produção, denominadas de fornecedoras; e há também aquelas empresas que tanto manufaturam todo o processo produtivo, como também realizam parte do processo produtivo para outras empresas denominadas de produtoras/fornecedoras. O número de empresas produtoras/fornecedoras se mostrou pequeno em relação ao número total de empresas. Para a análise dos dados, os três tipos de empresa foram consolidados em dois grupos de empresas: um constituído pelas empresas produtoras (n=90) e as empresas produtoras/fornecedoras e outro constituído pelas empresas que apenas fornecem (n=108).

O instrumento de coleta de dados utilizado foi desenvolvido por (Referência Omitida Para Esta Avaliação) para uso no setor de cerâmica de revestimento, com uma estrutura de escala do tipo contínua de sete pontos, em que um representa a menor intensidade e sete a maior intensidade. O detalhamento pode ser visto na Figura 1.

Para análise dos dados foi utilizado o software SPSS® como suporte operacional. Como etapa inicial de tratamento, foi observada a existência de dados perdidos (missing values). Para resolver esses casos, realizou-se análise de cluster para identificar os grupos de casos que apresentaram semelhanças de respostas para, posteriormente, calcular a mediana que representa 50% das medições do grupo de casos pertencentes ao mesmo agrupamento. Este valor foi atribuído a esses casos.

Na análise exploratória dos dados, realizou-se a correlação entre as variáveis, bem como verificou-se a confiabilidade dos dados a partir do modelo Alfa de Cronbach. Para a presente pesquisa o Alfa de Cronbach foi de 0,9571, o que demonstra que o coeficiente de confiabilidade se apresentou satisfatório conforme Hair et al. (2005). Na análise fatorial, fez-se uso do método dos componentes principais para identificar o número de fatores possíveis para compor a análise. Neste caso, pôde-se verificar na representação gráfica dos autovalores (eigenvalue) que 7 (sete) fatores se destacaram com valores acima de 1,0. Em seguida procedeu-se a rotação Varimax. Com os fatores identificados, foi analisada cada variável para averiguar se agrupava de acordo com os resultados apontados na literatura estudada. Na parte descritiva foi identificada a média por grupo das empresas participantes da pesquisa das variáveis constituintes de cada fator, bem como, a média geral de todas as empresas. Em seguida foi calculado o teste t com o intuito de averiguar se havia diferenças significativas entre as médias entre os dois grupos de empresas (produtoras e fornecedoras).

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Figura 1: Atributos e contextos do questionário relacionados aos objetivos específicos deste estudo. Fonte: adaptado de (Referência Omitida Para Esta Avaliação).

Então, fez-se a análise dessas médias para averiguar a variável que apresentou maior e menor média nos respectivos grupos, como forma de compreender a percepção das empresas em cada variável. Posteriormente, realizou-se o teste das hipóteses a partir da escala somada, conforme Figura 2.

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Figura 2:Descrição do tratamento do dos dados na escala somada. Fonte: Elaboração própria, a partir de (Referência Omitida Para Esta Avaliação).

Baseado nos resultados da análise fatorial, foram elaboradas e testadas quatro hipóteses que serão apresentadas na parte exploratória. No teste de hipóteses, sempre que a escala somada ∑ for superior ao produto do número de variáveis (n), multiplicado por quatro (centro da escala), assume-se que a hipótese pode ser corroborada; se a escala somada ∑ for igual ao produto do número de variáveis (n), multiplicado por quatro (centro da escala), assume-se que a hipótese está parcialmente corroborada; e se a escala somada ∑ for menor ao produto do número de variáveis (n) multiplicado por quatro (centro da escala), assume-se que a hipótese não está corroborada. Apresentam-se, a seguir, os resultados aferidos nas diferentes etapas do estudo.

4 Resultados

Entre os respondentes, 90% são micro e pequenas empresas. Esse perfil é congruente com o de distrito industrial apontado por Brusco (1993), pois em seu trabalho o autor destacou que um distrito industrial é composto normalmente por uma preponderância de micro empresas de menos 20 funcionários, poucas pequenas empresas de 20 a 50 funcionários e raras médias e grandes empresas. Para facilitar a análise, no presente estudo todas as empresas respondentes com menos de 100 funcionários foram tratadas como pequenas empresas.

A estrutura da indústria moveleira de São Bento do Sul (SC) se constitui de etapas produtivas suscetíveis à terceirização, como evidenciado pelo número expressivo de pequenas empresas fornecedoras participantes da pesquisa, 108 num total de 198 empresas, cada qual especialista em uma ou poucas etapas produtivas. As etapas de estofaria, secagem, beneficiamento e lixação são mais específicas das empresas fornecedoras, que atuam como terceirizadas. Contrastando com este perfil, as empresas produtoras concentram sua maior força entre as etapas de corte e embalagem. Desse modo, os resultados corroboram que há uma aglomeração de empresas da indústria moveleira no município de São Bento do Sul e que estas se organizam de forma complementar, em que cada pequena empresa realiza uma etapa das atividades que faz parte do processo total de produção da aglomeração. Este modo de organizar a produção se assemelha a modelos já observados nas regiões de Módena e Reggio - Itália (Brusco, 1993), e na região de Baden-Württemberg - Alemanha (Schmitz, 1993), onde as pequenas empresas também dividem as etapas de produção, cada qual especializada em um reduzido número de processos, em um contexto de aglomeração territorial.

4.1 Fatores que Promovem a Transferência de Conhecimento

Apresentam-se, a seguir, os resultados da pesquisa referente às variáveis que se agruparam na análise fatorial, que respondem para a parte exploratória desse estudo. Os 7 (sete) fatores que apresentaram autovalores maiores que 1 (um) correspondem a 78,27% da variância acumulada, conforme se pode constatar na Tabela 1.

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Tabela 1: Autovalores e o percentual da variância explicada. Fonte: dados da pesquisa.

Após levantar o número de fatores a serem utilizados na análise fatorial, iniciou-se a análise dos mesmos. Segundo Hair et al (2005), uma pesquisa que possui uma amostra com 100 respondentes torna-se significante estatisticamente as cargas fatoriais de 0,55 ou mais. No estudo há 198 respondentes que participaram da pesquisa. Sendo assim, ao estar em acordo com Hair et al (2005) optou-se pela carga fatorial de 0,60. Foram quatro fatores identificados assim denominados: Fator 1 Instituições e Mobilidade de Mão-de-Obra (INMOB), Fator 2 - Cooperação (COOPE), Fator 3 - Acordo e informalidade (ACINF) e Fator 4 Relações (RELAC), conforme a Tabela 2.

Esses resultados são parcialmente congruentes com os achados em pesquisas anteriores realizadas em outros países. Da mesma forma como na Alemanha (Schmitz, 1993) e na Noruega (Asheim; Isaksen, 2002), o papel das instituições de apoio e a mobilidade da mão-de-obra foi encontrado nesta aglomeração territorial. Ressalta-se, contudo, que a literatura consultada em geral apresenta esses dois construtos – Instituições e Mobilidade da Mão-de-Obra - de maneira isolada, de modo distinto àquele verificado nesta pesquisa. Por se tratar de um estudo exploratório, o agrupamento de fatores talvez se deveu pelas variáveis que foram escolhidas, que podem ter guardado certa aproximação entre si. As relações de cooperação, assinaladas nos fatores 2, 3 e 4, já foram apontadas como relevantes em estudos realizados na Itália (Brusco, 1993), na Noruega (Asheim; Isaksen, 2002) e em países africanos (Zeng, 2006).

A partir desse estudo exploratório foram propostas as quatro hipóteses que foram testadas na parte descritiva do estudo. A construção dessas hipóteses leva em conta a disponibilidade de transferência de conhecimento como um recurso da aglomeração a partir de suas dimensões. As dimensões da transferência de conhecimento têm por característica não pertencerem a nenhuma empresa em particular. O fato de a empresa estar presente na aglomeração é indicativo de acesso a esses recursos, de maneira indistinta, pois como apontado por Marshall (1925), o conhecimento acerca da atividade industrial paira no ar na aglomeração territorial. Frente a esses pressupostos, foram testadas as seguintes hipóteses:

Hipótese 1 (H1): As instituições de apoio e a mobilidade de mão-de-obra na aglomeração territorial apresentarão valores superiores ao ponto central da escala somada.

Hipótese 2 (H2): As instituições de apoio e a mobilidade de mão-de-obra não apresentarão diferenças significativas quando avaliadas em empresas fornecedoras e produtoras.

Hipótese 3 (H3): A cooperação entre as empresas aglomeradas territorialmente apresentará valores somados superiores ao ponto central da escala somada;

Hipótese 4 (H4): A cooperação não apresentará diferenças significativas quando avaliadas em empresas fornecedoras e produtoras.

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Tabela 2: Diferenças das médias entre as empresas produtoras e as empresas fornecedoras por fator. Fonte: dados da pesquisa.

4.1.1 Instituições e Mobilidade de Mão-de-Obra

O primeiro fator identificado na análise fatorial realizada foi Instituições e Mobilidade (INMOB). A Tabela 2 apresenta as variáveis que compõem este fator e o nível de significância. Para testar as hipóteses 1 e 2, relacionadas a este Fator, foi utilizada a escala somada para identificar se estão utilizadas na aglomeração estudada as dimensões instituições e mobilidade da mão-de-obra da transferência de conhecimento. É possível verificar na Tabela 2 que a média geral das variáveis referentes a instituições e mobilidade de mão-de-obra (INMOB) se apresentou superior ao valor padrão. Dessa forma, a H1 está corroborada, isto é, os resultados indicam que essa dimensão da transferência de conhecimento estão presentes na aglomeração territorial moveleira estudada. A aceitação dessa hipótese vai ao encontro dos escritos de Asheim e Isaksen (2002) e de Malberg e Power (2005), pois aqueles autores, da mesma forma que encontrado aqui, já haviam ressaltado a importância tanto das instituições como da mobilidade da mão de obra para a transferência de conhecimento em aglomerações territoriais.

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A significância estatística assumida para este trabalho é de 0,05 que pode ser considerada convencional (Hair et al, 2005). Com respeito a esse fator, a sua presença já foi identificada em estudos de aglomerações realizados em outros países, por exemplo, na Alemanha (Schmitz, 1993) e na Noruega (Asheim; Isaksen, 2002), como discutido anteriormente, no marco teórico. Ao observar os dados na Tabela 2, pode-se dizer que as empresas produtoras percebem acessar mais os recursos da aglomeração do que as empresas fornecedoras, pois as médias das empresas fornecedoras se apresentaram significativamente inferiores às médias das empresas produtoras. Talvez isso se explique pelo fato de as empresas fornecedoras serem mais jovens e não possuírem uma curva de experiência suficiente para acessar esses recursos, conforme destacam Menguzzato-Boulard et al. (2003). Nota-se assim, que a simples presença desse fator pode não ser suficiente para garantir o acesso de determinada empresa a recursos competitivos em um contexto de aglomeração territorial. Chama a atenção o resultado da variável IESLC que indica a importância da Universidade local. Tanto de modo geral, como de modo específico, em cada grupo de empresas (fornecedoras e produtoras) a Universidade local foi avaliada dentro da média. Isso contraria o estudo de Zeng (2006) para quem as universidades locais exercem um papel crucial na transferência de conhecimento entre empresas. É possível que essa instituição diste dos interesses das indústrias locais.

No que se refere à H2, que trata das diferenças entre empresas produtoras e fornecedora no que tange ao Fator 1, pode-se observar que das onze variáveis relacionadas às instituições, sete delas apresentaram diferenças de média significativas. Nas quatro variáveis que não apresentaram diferenças significativas (ou seja, p<0,05) a respeito das instituições, ambos os tipos de empresas possuem a mesma percepção da importância da Associação de Lojistas (CDL) e das Associações Comerciais, das universidades locais, do SEBRAE e a consistência e importância das informações das instituições locais. Nas sete variáveis que apresentaram diferenças significativas, as empresas produtoras percebem mais os recursos na aglomeração do que as empresas fornecedoras. Estes recursos são referentes ao acesso aos canais informais de comunicação sobre o setor (reuniões, palestras), à importância das atividades das instituições de suporte à P+D (à utilização de serviços dos centros de tecnologia moveleira (local), à importância do SENAI; à importância do sindicato patronal das empresas moveleiras, à importância do Centro de Gestão Comercial, à importância dos cursos e reuniões na região como fonte de aquisição de conhecimento.

Ambos tipos de empresas apresentaram, assim, a mesma percepção quanto às instituições, com destaque para o SENAI, que recebeu a maior média. Esse resultado provavelmente pode ser atribuído ao fato de que essa instituição de suporte à atividade moveleira é a mais antiga no município e oferece capacitações direcionadas ao setor. Isso sugere a possibilidade de que o tempo de vida influencie a reputação de uma organização, em uma aglomeração territorial, congruente com a observação de Collis (1991), de que alguns ativos intangíveis que se desenvolvem dentro da complexidade social podem ser plenamente alcançados apenas ao longo do tempo. Então, percebe-se dois resultados: tal como apontado em vários estudos sobre aglomerações como Schmitz (1993) e posteriormente por Asheim e Isaksen (2002), há instituições de apoio à atividade industrial, mas diferente daqueles mesmos estudos, as instituições foram percebidas com pouca importância. Isso parece interessante, pois algumas dessas instituições são formadas pelos próprios empresários, e se elas não estão causando o impacto desejável parece ser por problemas de direção.

Das três variáveis relacionadas à mobilidade de mão-de-obra, duas apresentaram diferenças significativas. A variável que não apresentou essa diferença foi a que trata da experiência prévia do funcionário. Ambos os tipos de empresa consideram que no momento da contratação de um novo funcionário a experiência prévia em outras empresas do setor é essencial. Esse resultado parece conectar-se diretamente à espiral do conhecimento de Nonaka

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e Takeuchi (2008). Essa mão-de-obra ao se deslocar de uma empresa para outra faz com que aumente o requisito variedade, tanto da empresa que está sendo deixada, pois ela terá de empregar outra pessoa que virá com um estoque de conhecimento distinto, como da empresa que contratará esta mão-de-obra, pelo mesmo motivo. Também dessa forma, evidencia-se que o conhecimento na aglomeração passa a ser redundante, na medida em que ele se amplia e o conhecimento acumulado pode ser inclusive superior às atividades operacionais das empresas.

Porém, as duas variáveis que apresentaram diferenças significativas nas médias indicam que o conjunto de empresas produtoras e fornecedoras tem percepção distinta sobre a contratação de um novo gerente. As empresas produtoras pontuaram que a mobilidade interna é mais importante. O que talvez possa explicar esse aspecto é que as empresas fornecedoras são em sua maioria negócios pequenos, sua gestão está nas mãos de familiares, e em muitos casos prestam serviços para apenas uma empresa produtora. Dessa forma, a mobilidade da mão de obra gerencial é menor que no caso das empresas produtoras. Visto que quase dois terços (64,28%) das variáveis apresentaram diferenças significativas entre as médias para as fornecedoras e as produtoras, considera-se que a hipótese 2 não foi corroborada.

4.1.2 Cooperação entre as empresas

Os fatores 2 COOPE (cooperação), 3 ACINF (acordo e Informalidade) e 4 RELAC (relações) medem as relações de cooperação existentes entre as empresas aglomeradas

A presença do Fator 2 (cooperação) já foi apontada em estudos realizados na Itália (Brusco, 1993), na Noruega (Asheim; Isaksen, 2002) e em países africanos (Zeng, 2006). Para Pyke e Sengenberger (1993), a cooperação entre empresas é importante para o desenvolvimento de uma aglomeração industrial. Os autores argumentam que ela favorece a eficiência produtiva do setor em grande escala, o processo de comunicação referente às novas tecnologias e tendências do setor. É perceptível na Tabela 2 que as médias para ambos os tipos de empresas se apresentaram inferiores ao ponto central da escala (quatro). Não houve diferenças significativas entre as médias dos dois grupos de empresas. Isto significa que as empresas que participaram da pesquisa, percebem que há pouca cooperação entre elas.

As variáveis que apresentaram as maiores médias simultaneamente entre as empresas produtoras e fornecedoras foram: FOREG (localização dos fornecedores na mesma região da empresa), HCMRF (a contratação de um trabalhador de outra empresa de sua região, permite executar a mesma função sem muitas capacitações complementares) e TECOR (sempre usa as tecnologias utilizadas pelos concorrentes). Desse modo, pode-se dizer que ambos os tipos de empresas percebem que os fornecedores se localizam na mesma região geográfica que a empresa contratante, que tanto fornecedoras como produtoras usam as mesmas tecnologias utilizadas pelos concorrentes e que ao contratar um funcionário não serão necessárias adaptações se este for de outra empresa da mesma região. Cabe destacar que as empresas pesquisadas pouco utilizam a prática da troca de conhecimento, tecnologia e informações sobre os produtos desenvolvidos pelos concorrentes locais, provavelmente por que seus produtos se assemelham e o mercado é praticamente o mesmo para a quase a totalidade delas.

As variáveis que apresentaram as menores médias entre os dois grupos de empresas, respectivamente, conforme Tabela 2, foram: CTCRL (uso de conhecimento e tecnologia desenvolvida pelos concorrentes locais), CORTS (usa as tecnologias utilizadas pelos concorrentes) e INTEP (intercâmbio de informações sobre produtos e tecnologias entre as empresas da região). Esse resultado indica que as pequenas empresas moveleiras pesquisadas pouco acessam informação e transferem conhecimento a partir de cooperação. Esse resultado parece não ser restrito a esta aglomeração territorial brasileira. Silva (2005), ao estudar a transferência de conhecimento entre as empresas calçadistas do Vale do Rio dos Sinos (RS), teve resultado semelhante. As empresas daquela aglomeração demonstraram receios por parte

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dos dirigentes em estabelecer trocas de informações com os concorrentes, pelo temor de que isso gerasse perda de competitividade para elas.

Cabe destacar que as médias das variáveis do terceiro Fator, acesso à informação (ACINF) – Tabela 2 - reforçam a interpretação de baixa cooperação entre as empresas. Essas variáveis estão relacionadas ao aceite de acordos de cooperação (não de produção) com as instituições, associações, fornecedores e competidores (ACCOP) e à facilidade de transferência informal de inovações e conhecimentos entre as empresas moveleiras (TRINF). Observa-se, novamente, que as médias de ambos os tipos de empresas se apresentam inferiores ao ponto central da escala (quatro). Isso reitera a interpretação de que as empresas percebem que a cooperação entre elas em realizar acordos com instituições, associações, fornecedores e competidores, bem como, a capacidade de transferir informalmente as inovações e conhecimentos é insatisfatória.

Seguindo a discussão, tem-se o Fator 4 - relações (RELAC), o qual apresenta as variáveis relacionadas à facilidade de estabelecer relações sociais com os concorrentes (RECOR) e se a empresa e os concorrentes locais atuam da mesma forma em relação aos fornecedores (SEFOR). As médias nas duas variáveis pertencentes ao Fator 4 da mesma forma que no Fator 3 apresentam médias inferiores ao ponto central da escala (quatro), e assim se assemelham com os resultados sobre cooperação e sobre acesso à informação. O resultado apresentado na Tabela 2 permite a inferência de que, na percepção das empresas respondentes, há dificuldade de estabelecer relações sociais com os concorrentes.

Difere-se esta situação daquela identificada no estudo de Negrini, Wittmann e Battistella (2007) no setor moveleiro de Pelotas (RS). As empresas estudadas por aqueles autores apresentaram uma cooperação satisfatória, em que o interesse maior para cooperar é pelos resultados das parcerias de compras de materiais e componentes, para obter resultados nos preços e nas condições de pagamento. Além disso, aquelas empresas cooperam na troca de conhecimentos técnicos e gerenciais, o que lhes possibilita melhorias nos processos produtivos e na modernização do parque fabril, segundo aqueles autores. Ressalta-se, porém, que naquele estudo, as empresas são assistidas por um programa do governo estadual cujo objetivo é justamente facilitar o estabelecimento desse tipo de relacionamento entre empresas do mesmo setor, condição ausente na aglomeração de São Bento do Sul.

Tabela 3: Fatores 1/Instituições e mobilidade de mão-de-obra, 3/Acordos e informalidade e 4/Relações. Diferenças entre as médias. Fonte: dados da pesquisa.

A partir dos resultados dos fatores 2 (cooperação), 3 (acordo e informalidade) e 4 (relações), foram testadas as hipóteses 3 e 4. Como pode ser observado na Tabela 3, as médias de todos esses fatores se mostraram inferiores ao ponto central da escala (quatro). Portanto, a H3 não é corroborada. Esses resultados permitem a inferência de que as empresas moveleiras de São Bento do Sul percebem que há baixa cooperação entre elas, seja em relação à concorrência, fornecedores, instituições e associações.

No que se refere à hipótese 4, foi corroborado que a avaliação da cooperação não apresenta diferenças significativas entre empresas fornecedoras e produtoras. Tanto as empresas produtoras quanto as fornecedoras apresentaram a mesma percepção aos fatores cooperação, acordo e informalidade e as relações entre as empresas. Para ambos os grupos, as relações de cooperação entre as empresas aglomeradas se apresentaram inferiores ao valor

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padrão, o que significa a percepção coletiva de que elas cooperam pouco, mesmo ao estar instaladas numa aglomeração territorial. Este resultado difere do encontrado por vários estudos com esse lócus, onde a presença de cooperação entre as empresas foi detectada. Os trabalhos de Basant (2002) e Morosini (2004), por exemplo, relacionam a cooperação com a convivência social, com possibilidade de ganhos econômicos, tais como a construção de capital social, bem como o desenvolvimento de uma identidade comum aos empresários. Pode ser que a baixa cooperação desta aglomeração se deve à inexistência de uma identidade comum, que impede que se possa gerar esse capital social, sendo esta questão merecedora de pesquisa adicional.

5 Conclusões

Este estudo analisou, com fundamentação na Visão Baseada em Recursos (VBR), a transferência de conhecimento entre as pequenas empresas inseridas em uma aglomeração territorial da indústria de móveis, em São Bento do Sul (SC). Os resultados apontam que há indícios de acesso à transferência de conhecimento na aglomeração por intermédio das instituições públicas e intermediárias, bem como, pela mobilidade de mão-de-obra, consoante com a literatura utilizada (Schmitz, 1993; Asheim, Isaksen, 2002; Zeng, 2006).

No entanto, as empresas produtoras percebem mais a presença desses fatores do que as empresas fornecedoras. Estes resultados apontam para acesso diferenciado a essas dimensões entre empresas produtoras e fornecedoras, o que sugere que a simples presença de um recurso na aglomeração não garante o acesso a ele para todas as empresas aglomeradas. Embora a literatura consultada aponte para existência de transferência de conhecimento como um recurso competitivo de acesso para as empresas aglomeradas territorialmente (Asheim, Isakesen, 2002; Malberg e Powell, 2005), não se esclarece de que forma se dá esse acesso e se ele é simétrico. Um estudo que apontou simetria de acesso entre empresas fornecedoras e produtoras foi o de Molina-Morales (1999). Com o presente estudo passa a se entender que não é possível generalizar esse acesso para todas as empresas. Assim, conclui-se que na aglomeração estudada, a transferência de conhecimento, embora presente, não ocorre de maneira simétrica. Em outras palavras, os resultados sugerem que as empresas produtoras têm mais acesso à transferência de conhecimento do que as fornecedoras e assim podem se tornar mais competitivas. Como existem estudos que apontam o contrário (por exemplo, Molina-Morales, 1999), conclui-se que existe um efeito aglomeração, que pode ser distinto em cada localidade, cabendo investigar quais seriam as fontes das diferenças aferidas.

Também foi verificado que as empresas da aglomeração apresentaram pouca cooperação entre si com respeito a aspectos como a troca de inovações tecnológica ou a compra de matéria-prima em larga escala. Fica patente o fato de que a existência de aglomeração territorial também não se traduz necessariamente em cooperação. De fato, os resultados colocam em relevo o aspecto concorrencial das relações, pois ficou evidenciado que os mercados e os produtos são praticamente os mesmos para todas e que elas competem por recursos de produção, como matérias-primas, mão de obra entre outras. A percepção sobre a baixa cooperação ocorreu de forma simétrica entre os dois grupos de empresas pesquisadas, e como a cooperação é entre essas próprias empresas, as empresas estão falando de si e dessa forma acordam em não cooperar. Ainda que as características de similaridade de mercado e produtos também foram observadas por Molina-Morales (1999), onde foi constata cooperação entre as empresas, conclui-se que por vezes isso pode ter mais relevância em termos de acirramento da competição que inviabiliza a cooperação, como neste estudo. Por outro lado, a inexistência de um programa público de incentivo às ações cooperadas também pode contribuir para esses resultados.

Os resultados da pesquisa permitem concluir que as empresas estão cientes que fazem parte de uma aglomeração e que grande parte delas se especializaram em parte do processo,

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ao subcontratar partes do processo com outras também presentes na aglomeração. Mesmo assim, não conseguem perceber a importância da cooperação para o fortalecimento do todo. Em outras palavras, embora localizadas em uma aglomeração, não conseguem perceber ou desfrutar de todas as vantagens que esta localização poderia trazer. Conclui-se que as empresas de São Bento do Sul podem estar perdendo oportunidades de se tronarem mais competitivas no médio e longo prazo pela ausência de cooperação entre elas.

Surpreendem os resultados da pesquisa em se tratar de aglomeração escolhida a estudar por apresentar trajetória de contínuo crescimento e inserção no mercado externo maior do que outras aglomerações semelhantes. Sugere-se que há efeitos de aglomeração não captados em estudos anteriores ou no presente trabalho. Cabe, portanto, apontar as limitações ao presente estudo. A que parece mais relevante é que os métodos estatísticos não permitem determinar as razões pelas quais as empresas produtoras e fornecedoras transferem conhecimento de maneira diferenciada ou as razões objetivas para não cooperarem entre si. Na base dos resultados da pesquisa, levantam-se como relevantes uma série de outras questões: o acesso à transferência de conhecimento se relaciona com a curva de experiência entre as aglomeradas? Com o número de atividades da cadeia produtiva em que a empresa atua? Com o número de outras empresas com as quais mantêm relações comerciais? Aspectos da cultura local se relacionam com a dificuldade das empresas cooperar entre si? Qual a contribuição da existência de políticas públicas para promover as atividades de cooperação? O tipo de atuação produtora e fornecedora está relacionado com a dificuldade das empresas cooperar? Os gestores possuem relação informal com outros dirigentes da aglomeração ou de fora dela? Para responder essas e outras perguntas relacionadas, caberia realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa para investigar o mesmo polo moveleiro de São Bento do Sul.

Sugere-se ainda a conveniência de realizar estudos futuros utilizando os mesmos procedimentos metodológicos aqui utilizados em outras aglomerações moveleiras do Brasil e do exterior, assim como pesquisas qualitativas do tipo sugerido para São Bento do Sul a fim de comparar o desempenho competitivo, identificar se há diferenças nos fatores que condicionam o acesso a informação e transferência de conhecimento e procurar as razões destas diferenças com vistas a refinar o conceito do efeito aglomeração. Referências Bibliográficas AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (ABDI); UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP). (2008) Relatório de Acompanhamento Setorial Indústria Moveleira. (Relatório de Pesquisa, 2008), São Paulo, 1 (1). Recuperado em: 6 março 2009, de http___www.abdi.com.br ARIKAN, A.T. (2009). Interfirm knowledge exchanges and the knowledge creation capability of clusters. Academy of Management Review. 34 (4), 658-676. ASHEIM, B.T.; ISAKSEN, A. (2002) Regional innovation Systems: The Integration of Local ‘Sticky’ and Global “Ubiquitous” Knowledge. Journal of Technology Transfer. 27 (1). BARNEY, J.B. (1986) .Organizational Culture: Can it be a source of sustained competitive advantage? Academy of Management Review. 11(3), 656-665. BARNEY, J.B. (1991). Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management. 17 (1), 99-120. BASANT, R. (2002). Knowledge flows and industrial clusters: an analytical review of literature. Indian Institute of Management. 01-90. BENTON, L. (1993). La emergencia de los distritos industriales en España: (…). In: Pyke, F.; Sergenberger, W (Orgs): Los Distritos Industriales y Las Pequeñas Empresas. III. Distritos industrials y regeneracion economica local (pp. 81-127). Madrid: Ministerio de trabajo y seguridad social. BRUSCO, S. (1993). Pequeñas Empresas y Prestación de Servicios Reales. In: Pike, F.; Sergenberger, W. (Orgs): Los DI y las PYMEs: DI y Regeneración Económica Local. Colección Economía y Sociología del Trabajo (pp.25-37). Madrid: MSSS. COLLIS, D.J. (1991). A Resource-Based Analysis of Global Competition: the Case of the Bearings Industry. Strategic Management Journal, v.12, p.49-68. CONNER, K.R.; PRAHALAD, C.K. (1996): A resource-based theory of the firm: knowledge versus opportunism. Organization Science, 7 (5).

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