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FACULDADES DA INDÚSTRIA ALINE CHRISPM DA SILVA ARIELA DANIELSKI BRUNO BERSANI MAIARA CRISTINA DOS SANTOS RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO/ ENFERMEIRO E HOSPITAL

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Trabalho Resp Civil Médico e Hosp Finalizado

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Page 1: Trabalho Resp Civil Médico e Hosp Finalizado

FACULDADES DA INDÚSTRIA

ALINE CHRISPM DA SILVA

ARIELA DANIELSKI

BRUNO BERSANI

MAIARA CRISTINA DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO/ ENFERMEIRO E HOSPITAL

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR

MAI/2015

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FACULDADES DA INDÚSTRIA

ALINE DA SILVA

ARIELA DANIELSKI

BRUNO BERSANI

MAIARA CRISTINA DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO/ ENFERMEIRO E HOSPITAL

Trabalho apresentado a disciplina de Direito Civil, da Faculdades da Indústria, 7º Período do Curso de Direito, como avaliação do 2° bimestre do 1º semestre/2015. Profª Simone Franzoni

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR

MAI/2015

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SUMÁRIO

HISTÓRICO....................................................................................................................2

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS E HOSPITAIS.....................................................2

EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL...................................................................7

TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE..............................................................................8

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.....................................................................................8

RESPONSABILIDADE DO ENFERMEIRO............................................................................9

CONCLUSÃO...............................................................................................................13

REFERÊNCIAS..............................................................................................................14

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HISTÓRICO

Ao nos debruçarmos para entendimento da matéria, podemos observar quanto se faz importante o entendimento claro da matéria, e a capacidade de distinção entre a responsabilidade de um médico ou de um enfermeiro, em face de uma instituição de atendimento á saúde relacionado com o paciente e/ou cliente da mesma.

Historicamente, vemos que o papel do médico vem sendo mudado, visto as mudanças tecnologias e sociais. O médico, durante os séculos antigos, era visto como um acompanhante de um ritual, estritamente dependente da vontade divina, por isso não era responsabilizado por não conseguir curar, ou salvar alguém da morte.

No final do século passado, o médico assumiu um papel de onisciência, médico da família, amigo e conselheiro, figura social que não admitia dúvidas sobre a qualidade de seus serviços e, menos ainda, a litigância sobre eles.Nos dias atuais, esta relação está completamente mudada, acompanhando principalmente a característica da sociedade capitalista, a própria denominação dos sujeitos da relação foi alterada, passando para usuário e prestador de serviços.

Os deveres do médico, nascidos dessa relação de natureza contratual que se estabelece entre ele e o paciente, situam-se em três momentos: antes do início do tratamento, durante e depois do tratamento. Na mesma medida, em que existem direitos para o paciente, existem deveres que este deve cumprir, para proporcionar ao médico condições favoráveis a realizar sua função.

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS E HOSPITAIS

A Lei 8.078/90 (CDC), no seu art. 14, § 4º, manteve a regra de que "a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação da culpa.“ No que se refere à atividade médica, a responsabilidade pessoal dos profissionais nunca é objetiva. Isso ocorre porque o art. 17 do Código de Defesa do Consumidor determina que a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Portanto, a culpa do médico é sempre um tema importante nos processos, dado que a sua inexistência exclui o dever de indenizar.

Assim a responsabilidade do médico é subjetiva, calcada na culpa stricto sensu (imperícia, negligência ou imprudência), condicionante, ainda que, levíssima, obriga este profissional a indenizar a vítima (in lege aquilia et levissima culpa venit), pois em se tratando da vida humana, não há lugar para culpas “pequenas”.Entende-se por negligência: a falta de cuidado, incúria, falta de apuro, de atenção, desleixo, desmazelo, falta de interesse, de motivação, indiferença, preguiça. Rubrica: termo jurídico, inobservância e descuido na execução de ato.A negligência médica caracteriza-se, segundo Genival Veloso de França:

“Pela inação, indolência, inércia, passividade. É um ato omissivo. O abandono ao doente, a omissão de tratamento, a negligência de um médico pela omissão de outro (um médico, confiando na pontualidade do colega, deixa plantão, mas o substituto não chega e o doente, pela falta de profissional, vem a sofrer graves danos. É a negligência vicariante);”

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A imprudência há culpa comissiva. Age com imprudência o profissional que tem atitudes não justificadas, precipitadas e sem usar da devida cautela, entendimento compartilhado pela mais nobre jurisprudência nacional.Lembra Carnelutti que,

“A imprudência é o contrário da prudência, e prudência é sinônimo de previdência; iuris prudens, medicinae prudens, são aqueles que, conhecendo os resultados da experiência e também das regras se extraem desta, agem antevendo o evento que deriva daquela ação, e tomando depois as medidas acautelatórias necessárias a evitar o insucesso.”

Para Basileu Garcia, exemplificando seu conceito descreve que,

“É imprudente notável cirurgião que, por vaidade, resolve empregar técnica cirúrgica perigosa, sem comprovada eficiência, abandonando o seguro processo habitual. Não é imperito nem negligente, pois redobra seus cuidados – mas o paciente morre, devido à sua imprudência.” 

Por sua vez, a imperícia médica ocorre quando o médico revela, em sua atitude, falta ou deficiência de conhecimentos técnicos da profissão. É a falta de observação das normas, deficiência de conhecimentos técnicos da profissão, o despreparo prático. A imperícia deverá ser avaliada à luz dos progressos científicos que sejam de domínio público e que, em todo caso, um profissional medianamente diligente deveria conhecer, por exemplo, a utilização de técnica não indicada para o caso.

A Constituição Federal garante o direito de reparação por dano provocado por ação de terceiro em seu artigo 5°, inciso X que afirma que “(...) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”

O dano causado pelo médico em decorrência de sua atividade pode ser moral ou estético, material. A relação médico/paciente acontece através de um contrato.

O contrato entre o médico e seu paciente pode ocorrer por escrito ou de forma verbal. O contrato pode ser tácito, pois basta o atendimento do paciente pelo médico para que se institua como acontece nos casos de atendimento de emergência e consultas particulares. Pode ser expresso quando se dá por meio de documentos específicos, como nos caso dos planos de saúde. É sempre sinalagmático e oneroso, pois há de um lado a obrigação do médico de fazer e de outro a do paciente de dar, de remunerar o profissional pelo serviço prestado.

Existem contratos com cláusulas que estipulam entre as partes que não haverá responsabilidade civil no caso de descumprimento do contrato, ou seja, caso ocorra dano ou prejuízo a uma das partes contratantes, seja o médico ou o paciente, inexiste a obrigação de reparação do dano. Mas para que tenha validade, será imprescindível a bilateralidade do consentimento, de modo que será ineficaz declaração unilateral de vontade sem anuência da outra parte.

No entanto, deve-se analisar a cláusula de não indenização, deve-se verificar a relação entre direitos personalíssimos ou indisponíveis como a vida, pois nestes casos seria nula, já que a vida humana é um bem indisponível.

A ação judicial dos atingidos pelo dano do profissional de medicina que desencadeou o abalo moral ou mesmo material em suas vidas, nunca garantirá o

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restabelecimento de suas vidas e de suas famílias, merecendo com isso ser devidamente reparado, e para tanto é que é assegurado este direito no Código Civil, em seus artigos 186, 187, 927, Parágrafo Único e segs., todos consagrando aos ofendidos a total reparabilidade dos prejuízos sofridos.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

A relação de causalidade entre o ato médico e o dano sofrido pelo paciente/cliente, serão elucidados da três elementos, ditos essenciais na doutrina subjetivista, quais sejam: a ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, um dano e o nexo de causalidade entre uma e outro. Deve haver uma relação entre a ação ou omissão culposa do agente e o dano à vítima. É preciso que esteja certo que, sem este fato, o dano não teria acontecido. “Assim, não basta que uma pessoa tenha contravindo a certas regras; é preciso que sem esta contravenção, o dano não ocorreria.”

Por se tratar de uma relação contratual o CDC também  tem previsão expressa acerca da responsabilidade do profissional liberal, no parágrafo 4º do artigo 14, com a seguinte redação: "A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa". Ou seja, a responsabilidade é subjetiva, depende da prova da culpa do profissional.

A maioria das atividades exercidas por profissionais liberais no Brasil são consideradas como obrigações de meio, ou seja, não há uma garantia do resultado a ser alcançado. Contudo, caso o consumidor não fique satisfeito com o trabalho realizado, caberá a este comprovar a culpa do profissional.

Assim, o médico, por exemplo, não tem como prometer o sucesso de um tratamento para uma doença de seu paciente, assim como o advogado que atua no processo não tem o dever de garantir o resultado da demanda ao seu cliente.

Já a responsabilidade dos hospitais é objetiva, com relação a todos os serviços que ele presta ao paciente. Já no caso dos hospitais, aplica-se o CDC, que atribui aos fornecedores responsabilidade objetiva apenas com relação a serviços defeituosos, que são aqueles em que não se dá ao consumidor a segurança que dele se espera.

Porém, se o serviço for prestado sem que haja defeito algum, o hospital não pode ser levado a indenizar o paciente, apesar da existência de dano e de nexo de causalidade. Essa é uma importante discussão nos reiterados casos de infecção hospitalar, pois é sabido que não se pode evitar todas as infecções. Se a

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responsabilidade fosse completamente objetiva, o hospital arcaria com os riscos de qualquer infecção. Porém, segundo as regras atuais, somente as infecções derivadas de um serviço defeituoso é que podem gerar indenização. Assim, a instituição hospitalar somente pode ser condenada em virtude da prestação de serviços defeituosos.

A definição dos limites da responsabilidade do hospital depende do esclarecimento de sua relação com o paciente. Se o paciente busca diretamente um hospital e este põem a sua disposição os seus médicos, trata-se de um contrato de consumo entre o paciente e o hospital, diferente de quando o paciente procura o médico diretamente e o hospital somente é utilizado pra realização do acordo ente paciente/médico.

“No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove ter sofrido.”

O risco da morte e da enfermidade não pode ser imputados diretamente ao hospital, cuja função é justamente o de minimizá-los. Porém, uma vez demonstrado o defeito, não é preciso discutir de quem foi a culpa pela sua ocorrência, pois os riscos do serviço defeituoso correm todos por conta do hospital, mesmo que a instituição adote todos os cuidados possíveis.

Porém, caso o eventual prejuízo ocorra por causa do mau uso de um determinado equipamento, ou pelo fato de o paciente não ter seguido as prescrições médicas, não existirá obrigação de indenizar.

Essa responsabilidade objetiva, porém, não ocorre em todos os casos, pois se limita aos prejuízos decorrentes dos serviços prestados pelo hospital ao paciente, que fica na situação de consumidor. Mas há também o caso em que a relação de consumo do paciente ocorre apenas com o médico, que termina realizando procedimentos dentro de um hospital, mas não em nome do hospital.

A origem da responsabilidade civil médico-hospitalar ocorre quando constatado o dano ao paciente, de qualquer tipo ou espécie: lesão a um direito (à vida, à integridade física, à saúde), lesão a um interesse legítimo, danos patrimoniais e/ou danos morais.

A ofensa médica, a pessoa, pode trazer prejuízos de variada natureza: a) provocando morte, doenças, incapacidades orgânicas ou funcionais; b) gerando consequências de ordem psíquica, sexual ou social; c) frustrando o projeto de vida da vítima. Tais danos podem afetar, conforme sua natureza, tanto o paciente como os seus familiares.

Vários fatores influem na quantificação da compensação pelo dano sofrido pelas vítimas, as circunstâncias pessoais, subjetivas, tanto dos ofendidos quanto dos ofensores podem variar, e efetivamente variam. Deve-se, portanto, levar em conta, como bem refere Enoque Ribeiro dos Santos, os seguintes pontos:

a) as condições econômicas, sociais e culturais de quem cometeu o dano e principalmente de quem a sofreu;b) a intensidade do sofrimento do ofendido; c) a gravidade da repercussão da ofensa;d) a posição do ofendido; e) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do responsável;f) um possível arrependimento evidenciado por fatos concretos; g) a retratação espontânea e cabal; h) a equidade; as máximas da experiência e do bom senso;

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i) a situação econômica do país e dos litigantes; j) o discernimento de quem sofreu e de quem provocou o dano.

Concordamos com a opinião de Walmir Oliveira da Costa, que escreve que a reparação por danos morais e materiais reveste-se de dupla função: reparatória e punitiva, o qual a expressa:

a) A FUNÇÃO REPARATÓRIA: Tem como finalidade oferecer compensação ao lesado e, assim, atenuar o seu sofrimento, recaindo em montante razoável do patrimônio do ofensor, de tal modo que ele não persista na conduta ilícita;

b) A FUNÇÃO PUNITIVA: Consiste em aplicar uma sanção ao lesante, visando coibir ou inibir atentados ou investidas contra direitos personalíssimos de outrem, razão de funcionar como penalidade de natureza pedagógica. Serve de advertência para que o ofensor não reincida na prática de atos lesivos à personalidade alheia e de exemplo à sociedade que, em suas relações, deve pautar-se por conduta ética e de respeito mútuo no campo das relações jurídicas e sociais.

Com base em todos esses fatores, resta ao julgador a árdua tarefa de pesá-los, na busca da solução que seja mais justa e adequada ao caso concreto. O jurista José de Aguiar Dias mostra a correta maneira de aferir-se a proporcionalidade do dano, quando afirma em sua obra que:

"(...) o dano se estabelece mediante o confronto entre o patrimônio realmente existente após o dano e o que possivelmente existiria, se o dano não se tivesse produzido. O dano é expresso pela diferença negativa encontrada nessa operação".

Entendimento que está entranhado no Art. 944 do CC, que expressa que a indenização mede-se pela extensão do dano. Comungando com este entendimento, outro grande estudioso da ciência Jurídica, especialmente do ramo Constitucional, o Prof. Alexandre de Moraes, expõe que na fixação do quantum indenizatório a ser pago à vítima, este valor deve abranger o que a vítima efetivamente perdeu, o que despendeu, e o que deixou de ganhar em consequência direta e imediata do ato lesivo, ou seja, deverá ser indenizada nos danos emergentes e nos lucros cessantes, bem como honorários advocatícios, correção monetária e juros de mora se houver atraso no pagamento.

Portanto, o valor a título de dano material, a ser pago pelos profissionais de saúde, deve corresponder as despesas necessárias a minimização do dano suportado pela vítima.

Já a título de dano moral gerado pela conduta danosa do médico e que é passível de gerar um abalo irreversível nas vidas da vítima e/ou de seus descendentes, a mais nobre doutrina, justificando a defesa que merece a honra de cada pessoa que a teve atingida por ação ou omissão de quem quer que seja, expressa entendimento nos estudos mais modernos e condizentes com a sociedade atual, como bem expõe a doutrinadora Aparecida I. Amarante, pensamento que transcrevemos:

“Honor est maximum bonorum exteriorum. Honor est maximum honorum. A sabedoria latina, ao elevar a Honra a bem supremo do homem ou ao equipará-la à própria vida, bem demonstra que ela

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deve constituir uma preocupação pilar do jurista e do próprio legislador. Esta, porém, não é uma realidade insofismável.”

“A Honra e a vida se equiparam” (honoris causa et vita aequiparantur). Nesta eqüipolência verificamos quão importante e precisa deve ser a proteção jurídica da honra e quanta porfia já rendeu a julgadores e estudiosos.“

EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Existem determinadas situações que agem sobre o nexo causal do evento danoso, de forma a atenuar ou extinguir a relação de causalidade, ato contínuo, o dever de indenizar. Percebemos, assim, que a responsabilidade subjetiva do Médico ou a objetiva das Clínicas e Hospitais não é absoluta e sim relativa, pois pode ser relativizada ou elidida.

Então, temos como excludentes da responsabilidade civil: Culpa exclusiva ou concorrente da vítima, fato de terceiro e o caso fortuito ou força maior.

Salienta Silvio Rodrigues que “o evento danoso pode derivar de culpa exclusiva ou concorrente da vítima; no primeiro caso desaparece a relação de causa e efeito entre o ato do agente causador do dano e o prejuízo experimentado pela vítima; no segundo, sua responsabilidade se atenua, pois o evento danoso defluiu tanto de sua culpa, quanto da culpa da vítima”.

Continua seu magistério dizendo: “Com efeito, se a culpa é exclusiva, inexiste, por definição, culpa do agente causador do dano, e obviamente não há relação de causa e efeito entre o ato culposo deste e o prejuízo, pois, repetindo, de acordo com a própria hipótese e por definição, a culpa foi da vítima e não do agente que deu causa ao prejuízo”.

Se pudermos atribuir culpa tanto ao paciente quanto ao Médico, concluímos que o evento danoso decorreu da junção de culpas concorrentes, e por este motivo, a responsabilidade deve ser mitigada, relativizada, de modo que o resultado prático da indenização seja rateado entre os responsáveis, na medida em que for justa, não necessariamente na metade. Entendemos que a divisão do prejuízo, invariavelmente, em partes iguais só deve ocorrer se não pudermos identificar o grau de culpabilidade dos envolvidos no infortúnio.

O fato de terceiro é a omissão ou ato perpetrado por pessoa estranha à relação, no caso, entre Médico e paciente. O fato de terceiro pode ser o causador exclusivo ou concorrente do dano sofrido pela vítima.

Mesmo não existindo previsão expressa por parte do Código de Defesa do Consumidor em relação ao caso fortuito e a força maior como causas excludente de responsabilidade, não podemos olvidar que a ocorrência destes rompe o nexo de causalidade entre o evento e o dano.

Acontece que, em sede de responsabilidade objetiva, tanto o fortuito quanto o fato de terceiro só poderão ser vistos como excludentes de responsabilidade se forem estranhos, externos à relação hospitalar. Caso contrário, permanece a responsabilidade objetiva do Hospital ou Clínica.

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TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE

A teoria La perte d’ une chance surgiu em 1965 na jurisprudência francesa. A Corte de Cassação Francesa acolheu a teoria, em sede recursal, num processo em que se perquiria a responsabilidade de um Médico que supostamente teria proferido diagnóstico errôneo, impossibilitando qualquer chance de cura da doença que infligia o enfermo. Houveram inúmeras outras decisões proferidas por essa Egrégia Corte nesse sentido, consolidando a teoria em tela. Alguns informam que a teoria da perda de uma chance é mais prestigiada no meio acadêmico do que no Judiciário francês.

Fernanda Schaefer escreveu o seguinte a respeito da perte d’ une chance: "É uma teoria desenvolvida na França que caracteriza a perda de uma chance como um tipo especial de dano. Surge quando pela intervenção médica o paciente perde a possibilidade de se curar ou de se ver livre de determinada enfermidade. Admite-se, porém, a culpa do médico sempre que sua ação ou omissão comprometa as chances de vida ou de integridade do paciente. (...) Esta teoria afirma não ser necessário demonstrar o nexo de causalidade entre a culpa e o dano, pois a culpa já estaria configurada no simples fato de não ter dado a chance ao paciente".

No Brasil, o primeiro Tribunal a efetivamente abordar a teoria da perda de uma chance foi o do Rio Grande do Sul. O Desembargador Araken de Assis relata que após uma cirurgia, o médico deu alta prematuramente ao paciente, que algum tempo depois, queixando-se de febre alta, foi orientado pelo médico a utilizar-se de antipirético. Com a saúde já seriamente comprometida, o paciente foi internado na Unidade de Terapia Intensiva vindo a falecer. "Liberando o paciente e retardando seu reingresso na instituição hospitalar, o apelante fê-lo perder chance razoável de sobreviver" (RJTJRS 158/214). Destarte, esse entendimento ainda é pouco difundido em nosso país e de difícil utilização pelos Magistrados em suas sentenças.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Dessume-se do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor que o Juiz pode ao seu talante inverter o ônus probatório em favor do consumidor, desde que considere verossímeis as alegações cariadas aos autos ou reconheça-o como hipossuficiente. Por essa razão, tanto na responsabilidade subjetiva do Médico como na responsabilidade objetiva das Clínicas e Hospitais públicos e privados, deferida a inversão do ônus da prova, caberá ao réu demonstrar a inocorrência do fato culposo (nos casos de responsabilidade subjetiva), ou nas outras hipóteses, a inexistência do defeito do produto ou do serviço, do dano ou do nexo de causalidade entre um e outro.

Tal construção legiferante mitigou a regra transcrita no artigo 333 do Código de Processo Civil pátrio que determina que o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; e ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Na prática, cabe ao Magistrado, com base em sua experiência judicante, ex officio ou a requerimento da parte, inverter o ônus da prova. Para tanto, basta a ocorrência de uma das causas, verossimilhança ou hipossuficiência, não sendo necessária a ocorrência simultânea.

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A verossimilhança é a plausibilidade das alegações trazidas pelo autor, de modo que, sejam provavelmente verdadeiras diante das circunstâncias concretas e demais fatos alocados nos autos.

No que tange a hipossuficiência do consumidor, não podemos somente levar em consideração a situação econômica. Também deve ser aquilatado o desequilíbrio processual resultante da carência de informação técnicas por parte do consumidor, fruto de fatores econômicos, sociais e/ou culturais, hábeis a interferir na produção das provas pertinentes.

RESPONSABILIDADE DO ENFERMEIRO

O Profissional de Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde.

A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986 que dispõe sobre o exercício da enfermagem, traz além dos limites de atuação do enfermeiro os do técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteiras. Tal diploma legal foi alterado em alguns aspectos pelo decreto nº 94.406/87, mas manteve essencialmente seu texto inicial.

O enfermeiro é um profissional liberal que desenvolve com independência técnica seu trabalho, respeitadas as exigências legais atinentes a profissão. (Lei 7.498/86, decreto nº 94.406/87). A estes profissionais deve-se aplicar os ditames do art. 14, § 4º do Código de Defesa do Consumidor, conforme:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Temos os casos de imprudência em que o enfermeiro age, pratica ato comissivo, caracterizado pela ausência de cuidado. A negligência acontece quando o profissional coloca-se em estado omissivo; a sua inércia permite o acontecimento danoso. Por último temos a imperícia que nada mais é que a falta de habilitação técnica do profissional. Será imperito o auxiliar de enfermagem que pratica atos apontados como privativos do enfermeiro, assim também será o enfermeiro que pratica atos conferidos aos médicos.

Delimitar os contornos de ação e inércia do profissional torna-se salutar, já que, essas condutas estão intrinsecamente ligadas à responsabilidade dos

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mesmos. Nesse sentido é de fundamental importância a lição do insigne doutrinador e desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Sergio Cavalieri Filho:

Tanto no dolo como na culpa há conduta voluntária do agente, só que no primeiro caso a conduta já nasce ilícita, porquanto a vontade se dirige à concretização de um resultado antijurídico – o dolo abrange a conduta e o efeito lesivo dele resultante -, enquanto que no segundo a conduta nasce lícita, tornando-se ilícita na medida em que se desvia dos padrões socialmente adequados [...] Em suma, no dolo o agente quer a ação e o resultado, ao passo que na culpa ele só quer a ação, vindo a atingir o resultado por desvio acidental de conduta decorrente de falta de cuidado.

O enfermeiro responde subjetivamente por seus atos, estando submetido ao que preceitua o § 4º do art. 14 do CDC, contanto que atue na condição de profissional liberal. Deve-se levar em consideração que a obrigação do enfermeiro, assim como a do médico é de meio e não de resultado. Assim, a análise da culpa não está diretamente ligada ao resultado do procedimento, mas aos métodos e regras utilizados na prestação do serviço. A título de curiosidade, os procedimentos odontológicos e estéticos estão submetidos à responsabilidade objetiva por tratar-se de obrigações de resultado e não de meio.

Ética na enfermagem O grande questionamento de todas as profissões ligadas à saúde se deve ao fato dos pacientes serem pessoas humanas, o que gera grandes conflitos, haja vista ser o objeto do cuidar um semelhante. Essa é umapreocupação que Selli apud Lopes (1999 p. 27) apresenta, ao afirmar ser impossível pensar na técnica isolada do sujeito, pois o objeto de ação profissional é o sujeito e este “não se limita a captar o benefício da técnica ou da tecnologia, mas no processo de cura, sintetizam-se processos técnicos e relacionais, visto ser o relacional, essencial à efetividade da técnica”. Corroborando com esse pensamento, Deodato (2008 p. 22) expressa a importância dos cuidados da enfermagem.

Os cuidados de Enfermagem dirigem-se à pessoa, no respeito pela sua singularidade e pela dignidade, concretizando-se através de uma relação. A proteção da vida humana, cabendo ao enfermeiro, agir no sentido de promover, defender e ajudar a resolver os problemas da saúde que a ponham em risco ou a afectem.

A sensibilidade ética envolve a identificação dos aspectos éticos de uma dada situação que afetam o bem-estar do individuo, com base na interpretação de seus desejos ou necessidades e uma resposta ou ação apropriada. A sensibilidade ética do enfermeiro sofre a influência da cultura, religião, educação e experiências pessoais. E o estudo do Código de Ética ajudará o enfermeiro a desenvolver a sensibilidade ética e a capacidade para raciocínio moral e a integrar essas qualidades como habilidades para resolução de problemas. (OGUISSO; SCHMIDT, 1999 p.34).

Neste sentido é o entendimento de Winck; Brüggemann (2010):

Os deveres éticos do enfermeiro extrapolam o que estiver codificado, pois a qualidade da assistência não depende

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apenas da visão normativa, mas da consciência profissional formada com base no respeito e comprometimento com os direitos humanos.

Neste sentido também tem sido o entendimento de nossos Tribunais: (...)

8. Embora a responsabilidade do enfermeiro esteja ligada, em primeiro lugar, ao respectivo exercício da enfermagem, o mesmo não pode descurar-se do comportamento ético ao assumir um cargo que só lhe foi possível alcançar em face de sua condição profissional. (REsp 581821 / PR. RECURSO ESPECIAL 2003/0159893-5, Relator(a) Ministro JOSÉ DELGADO. PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento 06/05/2004, Data da Publicação/Fonte: DJ 21/06/2004, p. 171).

Relevante ressaltar ainda acerca do tema, a criação de Comissões de Ética de Enfermagem (CEE) como órgãos representativos dos Conselhos Regionais de Enfermagem, o que se dá através da Resolução COFEN 172/94. Podendo-se ainda citar os objetivos instituídos pelo COREN-PR para às Comissões pertencentes ao citado órgão, como relevante exemplo:

A Comissão de Ética de Enfermagem tem como principais objetivos:

Fortalecer o componente ético na prática da enfermagem; ·

Divulgar o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e demais normas disciplinares e éticas do exercício profissional; ·

Promover e participar de reuniões, seminários ou atividades similares, que visem a interpretação do Código de Ética e a conscientização de questões éticas e disciplinares, encaminhando as conclusões e recomendações ao Coren-Pr; ·

Realizar a necessária orientação à equipe de enfermagem sobre comportamento ético-profissional e as implicações advindas de atitudes antiéticas; ·

Orientar clientes, familiares e demais interessados sobre dilemas éticos; ·

Apreciar e emitir parecer sobre dilemas éticos de enfermagem, sempre que necessário;

Fiscalizar o exercício ético da profissão; ·

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Fiscalizar as condições oferecidas pela instituição e sua compatibilidade com o desempenho ético-profissional; ·

Fiscalizar a qualidade do cuidado dispensado a clientela pelos profissionais da enfermagem; ·

Averiguar as denúncias ou fato antiético de que tenha conhecimento; · Notificar ao Coren-Pr as irregularidades, reivindicações, sugestões e infrações éticas detectadas;

Zelar pelo bom andamento do exercício ético dos profissionais de enfermagem; ·

Solicitar assessoramento da Câmara Técnica de Ética do Coren-Pr sempre que necessário; ·

Encaminhar o relatório das atividades desenvolvidas, anualmente ao Coren-Pr.

Dessa forma a discussão ética é de extrema importância para qualquer profissão, visto que norteia os profissionais sobre suas condutas no exercício da profissão. A enfermagem como profissão ligada à saúde, e no processo de cuidar, possui responsabilidade maior, e deve ser tratada com cuidado pelo seu Código de Ética.

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CONCLUSÃO

A responsabilidade civil do médico e do enfermeiro, com base no Código de Defesa do Consumidor, é lastreada na culpa, dizendo-se “subjetiva”. Ademais, entre o profissional e o paciente, estabelece-se uma obrigação de meio, sendo necessário o emprego de métodos adequados, atenção e zelo necessários, sem a garantia de cura. O médico somente poderá ser responsabilizado quando agir de modo imprudente, negligente ou imperito, haja vista que a ciência médica não é exata.

O expressivo aumento das demandas judiciais acerca do tema demonstra a necessidade de maior informação, tanto por parte de médicos e de pacientes, sendo que esta relação de consumo, dada à suma importância (e relevância social) deve ser permeada de confiança, diálogo e esclarecimento exaustivo e preciso.

O paciente tem todo o direito de conhecer os riscos (e eventuais consequências) a que se encontra sujeito, ao passo que o médico tem o direito de se resguardar, inclusive com a elaboração de Termo de Consentimento Informado. Já os hospitais, possuem responsabilidade somente de serviços que sejam defeituosos, e possuem responsabilidade objetiva frente ao cliente que sofrer algum dano em relação ao defeito, sendo assim, a responsabilidade e orientação devida aos seus funcionários deve ser maior, para evitar a demanda judiciária de ações desta matéria.

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