trabalho interdiciplinar dirigido ll - transtorno do espectro autista

33
Centro Universitário UNA Beatriz Salvador De Oliveira Daniela Nascimento Gabriel Melchior Geiscislaine Laís Martins Jean Pablo Esteves Jeane Oliveira Santos Natália Caroline Nathália Ferrari Rhayenne Dellamaris TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Belo Horizonte, 2013.

Upload: bia-oliveira

Post on 06-Jun-2015

2.591 views

Category:

Education


2 download

DESCRIPTION

Trabalho feito pelo alunos do 2º Periodo do Curso de Psicologia no Centro Universitario Una.

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

Centro Universitário UNA

Beatriz Salvador De Oliveira

Daniela Nascimento

Gabriel Melchior

Geiscislaine Laís Martins

Jean Pablo Esteves

Jeane Oliveira Santos

Natália Caroline

Nathália Ferrari

Rhayenne Dellamaris

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Belo Horizonte,

2013.

Page 2: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

Beatriz Salvador De Oliveira

Daniela Nascimento

Gabriel Melchior

Geiscislaine Laís Martins

Jean Pablo Esteves

Jeane Oliveira Santos

Natália Caroline

Nathália Ferrari

Rhayenne Dellamaris

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Psicologia do Centro Universitário UNA como requisito parcial para aprovação na

disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido II.

Prof.: Hunayara Tavares

Belo Horizonte, 2013.

Page 3: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................

2 METODOLOGIA.................................................................................................................

3 LISTA DE SIGLAS...........................................................................................................

4 HISTÓRICO DO AUTISMO, SUA ETIOLOGIA E RELAÇÕES

INTERPESSOAIS.................................................................................................................

4.1 Origem Etimológica e definição.................................................................................

4.2 Histórico do Autismo..................................................................................................

4.3 Aspectos genéticos que proporcionam o desencadeamento do autismo..................

4.4 Como identificar um indivíduo autista......................................................................

4.5 Síndrome de Asperger................................................................................................

4.6 As interfaces de mães e da família de autistas...........................................................

4.7 Inserção dos autistas na educação.............................................................................

4.8 Políticas públicas voltadas para indivíduos autistas................................................

5 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM AUTISTAS...........................................................

5.1 Autismo visto nos variados pontos de vista psicológicos............................................

5.2 Abordagem Comportamental.......................................................................................

5.2.1 Teoria da Mente (ToM - Theory of Mind)..........................................................

5.2.2 TEACCH: Enfoque no Comportamental e na Psicolinguística.........................

5.2.3 Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis:

ABA)................................................................................................................................

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO.................................................................................

4

6

7

8

8

9

10

12

14

18

19

21

21

21

22

23

25

25

27

29

Page 4: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

4

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho busca-se discutir o Autismo e seus enfoques de identificação e tratamento. A

palavra autismo vem do grego “autos” que significa a “de si mesmo” ou “próprio” e

começou a ser usada pelo autor Plouller em 1906. É sabido que o autismo é um distúrbio de

desenvolvimento, com etiologias múltiplas, de origem neurobiológica, o que implica uma

abordagem sobre os diferentes aspectos comportamentais ligado ao Autismo e seus

processos de identificação. Busca-se discutir o Autismo e seus enfoques de identificação e

tratamento partindo de sua conceituação desde os primeiros estudos feitos no início do

século XX com os desafios de compreender suas manifestações, às descobertas que

enfatizam os tratamentos nos dias atuais.

O autismo se apresenta como uma anormalidade específica à condição cerebral, de origem

complexa, assumindo-se como um transtorno no seu desenvolvimento comportamental. As

suas manifestações comportamentais varia de acordo com fase em que o individuo se

encontra e suas capacidades, embora as suas características gerais, presentes em todos os

estádios de desenvolvimento, são perturbações no âmbito social em sua imaginação e

convivência.

É necessário abordar os diferentes aspectos comportamentais ligado ao Autismo e seus

processos de identificação. Dessa forma, será explicitado o Autismo em sua fase mais

importante, diagnosticada na infância, investigando os quadros característicos. Enfatiza-se a

importância do tratamento precoce, a fim de amenizar os sintomas do Transtorno do

Espectro do Autismo no que se diz respeito à linguagem e ao desenvolvimento no decorrer

da vida da criança. Serão expostas as diferenças e semelhanças entre o Autismo Clássico e a

Síndrome de Asperger, que por sua vez não pode ser identificada nos primeiros anos de

vida. A Síndrome de Asperger só pode de fato ser identificada depois dos 6 anos de idade,

pois esses indivíduos não possuem déficits cognitivos aparentes.

Demonstra-se a visão que psicólogos e psiquiatras defendem a respeito dessa disfunção, qual

é a correlação existente entre o autismo, genética, meio ambiente e sociedade. A dificuldade

encontrada pelos pesquisadores ao investigarem sobre esse tema que hoje é de suma

relevância para a busca de uma sociedade igualitária, juntamente com sua forma de atuação

Page 5: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

5

e tratamento adequados, levando-se em conta as diferentes correntes de estudos

psicológicos, sendo elas a comportamental, psicanalítica, gestalt e humanista.

Será enfatizada a importância do diagnóstico precoce e as estratégias de controle utilizadas

para minimizar os impactos sofridos pelo indivíduo que por sua vez tornam-se seres

agressivos e rebeldes em contato com um mundo até então desconhecido por eles. Se faz

importante entender os processos de socialização do autista, na importância da família

dentro do contexto terapêutico e como a cultura influencia os procedimentos do tratamento.

Os desafios que surgem face a questão do Transtorno do Espectro do Autismo,

principalmente num contexto em que a presença de uma criança no meio familiar, mobiliza

atenção e esforço em prol de sua socialização. Dentro de uma interdisciplinaridade de

tratamento, levando em consideração a idade, o sexo, o grau de déficit cognitivo e os outros

fatores inerentes que norteiam a vida do paciente e a importância da integração entre os

profissionais que cuidam do mesmo caso.

Com isso, será apresentado a atuação do profissional de Psicologia no tratamento do

Autismo, sua forma de atuação, levando-se em conta as diferentes correntes de estudo

psicológicas, tendo um enfoque nessa revisão bibliográfica nas buscas de pesquisa e

tratamento cognitivo/comportamental para indivíduos com tais sintomas. O papel do

psicólogo se explicita em meio ao diagnóstico, de forma a identificar os atos que divergem

de uma normalidade, estando este a atuar segundo sua linha empregada, visando uma

integração não somente familiar, mas social aos autistas.

Page 6: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

6

2 METODOLOGIA

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de natureza bibliográfica de caráter qualitativo.

Para tal, foram feitos levantamentos de publicações ou bases de dados em termos descritos

pelo SCIELO e BVS-psi (1996-2013), utilizando os seguintes descritores para busca dos

artigos: “Autismo”, “Atuação do Psicólogo com crianças Autistas”, “Mães de Autistas”,

“Transtorno do Espectro Autista” e “Socialização do Autista”. Todavia, para a construção da

interdisciplinaridade o tema foi discutido entre o grupo de alunos na qual foi elaborada a

sistematização do assunto a ser abordado juntamente com o auxílio dos professores do

segundo módulo de Psicologia.

Page 7: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

7

3 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABA (Applied Behavioral Analisys): Análise Comportamental Aplicada

DSM IV: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5

DTT (Discrete Trial Teaching): Ensino de Tentativas Discretas

LOCI: Local fixo de um cromossomo onde está localizado um gene.

ONU: Organização das Nações Unidas

QI: Quociente de inteligência

SN: Sistema Nervoso

TEACCH: Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com déficits relacionados à

Comunicação.

ToM: Teoria da Mente

ToME: Teoria da Mente Explícita

ToMI: Teoria da Mente Implícita

Page 8: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

8

4 HISTÓRICO DO AUTISMO, SUA ETIOLOGIA E

RELAÇÕES INTERPESSOAIS

4.1 Origem etimológica e definição

A palavra "autismo", originada do grego autos - eu próprio -, é utilizada para definir um tipo

de transtorno global do desenvolvimento, sendo este último um "grupo de transtornos

caracterizados por alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e modalidades de

comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e

repetitivo. Estas anomalias qualitativas constituem uma característica global do

funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões" (CID 10). O conceito de "espectro do

autismo" abrange indivíduos que apresentam essas anormalidades, seja leve ou grave, e

inclui o Transtorno Autista como um transtorno prototípico, além do Transtorno de

Asperger, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e dos Transtornos

Globais do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. (TONELLI, 2011) A Organização

Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças caracteriza o autismo

com os seguintes aspectos:

a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três

anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada

um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento

focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de

numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo fobias, perturbações

de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressividade). (OMS – CID-10)

Para Santos & Souza (2005), o autismo é considerado uma síndrome relacionada ao

comportamento e que possui características de distúrbio de desenvolvimento, que afetam as

capacidades físicas, sociais e linguísticas e relacionamento anormal com objetos, eventos e

pessoas. Pesquisas apontam que fatores biológicos são determinantes em quase todos os

casos de autismo, mesmo que ainda não se tenha definido um marcador biológico específico.

De acordo com Frith (1994), existe uma enorme diversidade neste transtorno, encontrando-

se sujeitos com bloqueios comportamentais intensos, á medida que outros são afetuosos e

fáceis de lidar. Alguns mostram dificuldades no aprendizado bastante específicas que

prejudicam seu desempenho principalmente no âmbito escolar, enquanto que outros

conquistam elevado grau universitário e assim sucesso acadêmico, enquanto que outros

Page 9: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

9

encontram o seu “lugar” na soc iedade e sentem-se razoavelmente integrados, mas outros

ficam isolados, e a cada dia sentem-se mais excluídos e desintegrados na sociedade.

4.2 Histórico do Autismo

Em 1911, Eugen Bleuer (1857-1939), atribui o termo autismo inicialmente a determinados

sintomas que se contradizem com a definição que Leo Kanner viria a contrapor logo depois,

de acordo com Rivera (2007 apud Rutter, 1984, pp. 1-26). Expressou com esse nome, a

inclusão abrupta à fantasia em que alguns pacientes se encontravam, o que Bleuer afirmava

que esses transtornos esquizofrênicos e a conduta intencional de evitar relações sociais se

davam por conta própria do doente.

Em 1943, o autismo foi descrito pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner através do artigo

intitulado "Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo", publicado na extinta revista The

Nervous Child, onde apresenta uma observação de um grupo de crianças na qual onze delas

manifestavam comportamentos parecidos. Logo, o autismo foi visto como uma doença

específica, relacionada ao segmento da esquizofrenia. (PEREIRA, 1999).

Segundo Baron & Cohen apud Sousa et al (1990, p.408) apesar de o assunto ter surgido em

1943, houve depois disto, uma ausência de estudos durante os vinte anos seguintes. O fato

ocorreu pois na época, Kanner descreveu o autismo como uma alteração puramente

emocional, o que foi bem aceito pelos psicanalistas. Somente no inicio da década de 60

houve uma mudança na forma de percepção quanto ao autismo, e então os psicólogos

começaram a considerá- lo como uma desordem cognitiva. Para Timo; Maia; Ribeiro (1992,

apud Klinger; Rogers p.157-186; 2000, p.79-107), o autismo era compreendido como um

distúrbio básico de processos cognitivos e linguísticos, fugindo de uma análise que implique

na contribuição social e afetiva para a síndrome.

Em 1997 observou-se um aumento na proporção de indivíduos com a síndrome de autismo

onde a cada 500 indivíduos um possui a síndrome, entretanto para Marques (1993) o

autismo até a data presente, era considerado uma doença rara, pois atingia uma a cada 1.200

pessoas. O autismo é mais comum em pessoas do sexo masculino com uma incidência de

quatro vezes mais em relação ao gênero feminino e parece não associar-se a quaisquer

Page 10: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

10

fatores sejam econômico racial e social. Porém acredita-se que está relacionado à genética.

(SANTOS; SOUSA apud DUNLAP et.al. 1999).

É sabido que o autismo é um distúrbio de desenvolvimento, com etiologias múltiplas

(ASSUMPÇÃO, 1995), de origem neurobiológica (GILBERG & COLEMAN, 1992 apud

BOSA & CALLIAS, 2000), não necessariamente relacionando à problemas na interação

mãe-bebê, e sim com fatores ambientais, com vacinas e diversas outras hipóteses já

levantadas a respeito da doença.

O autismo é uma doença congênita, não temos o poder de criar filhos autistas, eles

nascem com esta deficiência, que pode se manifestar desde seu nascimento (sendo

o autismo clássico) ou até o dois anos de idade (MOREIRA, 2001).

De acordo com o DSM IV-TR (2002) este transtorno de desenvolvimento afeta 1:1000

crianças, tendo incidência maior no sexo masculino (3:1/4:1).

4.3 Aspectos genéticos que proporcionam o desencadeamento

do autismo

Sabe-se que as manifestações autísticas são tidas como fontes de estudos e indagações do

conhecimento científico, servindo se aparato para estudos nas áreas biológicas/gênicas que

vêm desencadeando uma série de estudos que proporcionam uma resposta mais válida e

coerente a respeito dessa doença.

Segundo vários estudos efetuados pela investigadora do Instituto de Ciências da Gulbenkian,

uma das observações mais consistentes no Autismo é o aumento anômalo dos níveis de

serotonina com graves conseqüências a nível do neurodesenvolvimento e do funcionamento

do Sistema Nervoso Central (VILELA; DIOGO; SEQUEIRA, 2009).

Apesar de se saber que o autismo afeta o funcionamento cerebral, continua por se conhecer a

sua causa específica. De fato, a maioria dos autores defende uma etiologia multifatorial,

sendo que cada uma dessas múltiplas causas pode manifestar-se em diferentes formas ou

subtipos de autismo. A partir de tal afirmação, os autores Vilela; Diogo; Sequeira ( 2009)

afirmam:

Page 11: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

11

O comportamento autista tem sido relatado nas patologias clínicas do lobo

temporal. As disfunções das regiões temporais podem explicar grande parte dos

sintomas clín icos (déficit perceptivo, emocional e cognitivo) observados no

autismo. Além disso, as regiões associativas temporais estão estreitamente

conectadas aos sistemas sensoriais associativos frontais, parietais e límbico.

O lobo temporal é necessário para o processamento de inúmeros estímulos internos e

externos que atuam no sistema nervoso (SN) por meio dos órgãos dos sentidos,

principalmente os órgãos sensoriais visuais e auditivos. O lobo temporal é também

fundamental para o processamento dos estímulos, dando origem às experiências vivenciadas

em nosso mundo. Sabe-se que o comportamento autista está associado à diversas disfunções

cerebrais,que atuam em diferentes regiões do mesmo, tais como a ativação anormal auditiva,

que segundo os autores Vilela; Diogo; Sequeira (2009), está associada ao córtex temporal

esquerdo, essa região temporal também está associada a organização cerebral da linguagem.

“Esta ativação anormal do hemisfério esquerdo pode estar envolvida, nos prejuízos de

linguagem e na resposta comportamental inadequada aos sons dos autistas (VILELA;

DIOGO; SEQUEIRA, 2009).”

Estudos realizados pelos autores citados acima, constatam que os indivíduos que possuem o

Transtorno do Espectro Autista, realizam maiores atividades na região temporo-occipitais,

salientando que os mesmos possuem diferentes ativações cerebrais e podem ser essas

diferentes atividades que caracterizam a forma distinta de seu comportamento.

As buscas para a causa do autismo são contínuas, em pesquisa realizada foi descoberto que

em uma família que já há uma criança com a síndrome de autismo, esta probabilidade é

aumenta de 3% para 8% (Gadia apud Shao, Fisher et al et al, 2002). Em uma análise feita

nos genomas descobriu-se ligações entre a doença e alguns cromossomos, sendo eles 2,7, 1 e

17 os mais efetivos. A ligação se torna ainda maior a respeito dos cromossomos 2 e 7

tratando-se de autistas que possuem déficits severos de linguagem. A explicação relatada

para esta experiência é a seguinte:

“O gene responsável por esse transtorno severo de linguagem foi identificado

como um fator de transcrição putativo. Outro gene localizado no cromossomo 7

com uma possível associação com o autismo é que o gene que codifica a reelina.

Essa proteína extracelular serve de guia para a migração neuronal durante o

desenvolvimento cerebral, principalmente do córtex cerebral, do cerebelo do

hipocampo e do tronco cerebral.( Gadia et al apud PERSICO et al, LAI et al

2004.)”

Page 12: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

12

Todavia, sabe-se que os estudos relacionados à genética ainda são poucos para a grande

curiosidade e extensão do assunto. O autismo é um transtorno genético muito complexo e de

acordo com as pesquisas já realizadas há entre 5 e 100 loci ( local fixo de um cromossomo

onde está localizado um gene) podem estar relacionados ao TEA. Ainda assim, sabendo que

vários cromossomos estão ligados com a síndrome, não há nenhuma resposta definitiva

(Gadia et al apud Vukicevic et al).

4.4 Como identificar um indivíduo autista

O autismo se caracteriza como um dos transtornos mais desafiadores para a clínica

Psiquiátrica e Psicológica. Seu diagnóstico é por observação, e o manejo clínico é

complicado porque geralmente o autista não estabelece vínculo ou responde de maneira mais

ou menos esperada as tentativas de interação do terapeuta (ESEQUIAS, 2010).

Quando nos referimos a indivíduos autistas devemos considerar as suas

características singulares, no entanto “A personalidade autista é altamente distinta

apesar das amplas diferenças individuais.” De fato, os autistas distinguem-se de

quaisquer outros, não apenas pelo nível do distúrbio de contato e das capacidades

intelectuais, mas também pela sua personalidade e interesses peculiares,

geralmente originais e variados (SANTOS; SOUZA apud ASPERGER, 1994, p.

67).

O diagnóstico deve ser dado por profissionais especializados e de diversas áreas da saúde

para que não haja discrepâncias na nomeação de tal transtorno, pois, quanto mais cedo este

for identificado, maiores são as chances de o tratamento obter resultados benéficos ao

indivíduo.

De acordo Amato et.al. (2011) apud Lord C., a questão do diagnóstico envolve, desde a

distinção entre a suspeita de surdez por algumas famílias, associada à ausência de linguagem

de algumas crianças autistas, até as discussões a respeito dos limites que podem ser

determinados entre os grandes distúrbios do desenvolvimento, como os do espectro do

autismo, os distúrbios específicos de linguagem e os transtornos de hiperatividade e déficit

de atenção.

Dentre os vários sintomas apresentados por indivíduos autistas, encontra-se o

desenvolvimento anormal ou desajustado antes do terceiro ano de vida, nas seguintes áreas:

interação social, retardo na linguagem, falta de reciprocidade social ou emotiva, sendo

Page 13: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

13

praticamente incapaz de expressar seus sentimentos, possui falha na imaginação e preocupa-

se em realizar atividades rotineiras e não funcionais etc.

Para Aarons e Gittens (1992) o conjunto de características que definem os indivíduos

autistas resume-se por: incapacidade desenvolver relações com outros indivíduos, atraso na

aquisição da linguagem, uso não-comunicativo da linguagem verbal (mesmo depois do seu

desenvolvimento), ecolalia, jogo repetitivo e estereotipado, boa memória de repetição e

aparência física normal.

Segundo os autores Vilela; Diogo; Sequeira (2009), as aptidões cognitivas dos indivíduos

autistas, possuem um nível menor e/ou desigual em relação ao nível de inteligência:

Em crianças com a perturbação artística, o nível da linguagem receptiva

(compreensão da linguagem) são inferiores ao da linguagem expressiva

(vocabulário). Os sujeitos com esta perturbação podem apresentar uma ampla

gama de sintomas comportamentais tais como a hiperatividade, redução no campo

de atenção, impulsividade, agressividade, comportamentos auto -agressivos e

birras, especialmente, nas crianças mais jovens.

Torna-se possível salientar que esses indivíduos respondem de forma agressiva a sons e

luzes, apresentando também resistência ao sono além de criarem uma dieta restrita,

prendendo-se somente a alguns tipos de alimentação. Na adolescência ou inicio da vida

adulta podem deprimir-se quando conscientes do seu grave déficit cognitivo. De forma

sucinta as características mais comuns do Autista são:

Tem dificuldade em estabelecer contacto com os olhos; Parece surdo, apesar de

não o ser; Pode começar a desenvolver a linguagem, mas repentinamente ela é

completamente interrompida; Age como se não tomasse conhecimento do que

acontece com os outros; Por vezes ataca e fere outras pessoas mesmo que não

existam mot ivos para isso; Costuma estar inacessível perante as tentativas de

comunicação das outras pessoas; Não explora o ambiente e as novidades e

costuma restringir-se e fixar-se em poucas coisas; Apresenta certos gestos

repetitivos e imot ivados como balançar as mãos ou balançar-se; Cheira, morde ou

lambe os brinquedos e ou roupas; Mostra-se insensível aos ferimentos podendo

inclusive ferir-se intencionalmente (VILELA; DIOGO; SEQUEIRA, 2009).

A partir da realização de pesquisas científicas, constatou-se que o autismo não é um

distúrbio do contato afetivo, e sim um distúrbio do desenvolvimento. A partir de tal fato,

constitui-se o autismo como uma síndrome comportamental, por ser definida com base nos

padrões exigidos pela sociedade. O autismo não é uma doença, nem tão pouco é contagioso,

não havendo indícios de que se adquira através do contato com o meio, é uma disfunção

cerebral que afeta o funcionalismo do cérebro (SOUZA; SANTOS).

Page 14: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

14

4.5 Síndrome de Asperger

Esta Síndrome foi identificada em 1944, mas só foi oficia lmente reconhecido como critério

de diagnóstico no DSM-IV em 1994. Como resultado, muitas crianças foram mal

diagnosticadas com síndromes como Autismo, Perturbação Obsessivo – Compulsivo, etc. É

uma desordem pouco comum, contudo importante na prevenção do processo psicológico de

crianças, que tardiamente é diagnosticado devido à falta de conhecimento por parte dos

profissionais, nomeadamente dos professores e educadores (VILELA; DIOGO;

SEQUEIRA, 2009). Por sua vez, essa síndrome não poderia ser identificada nos primeiros

anos de vida como ocorre com o Autismo, pois neste período as crianças desenvolvem uma

linguagem altamente correta do ponto de vista gramatical.

Apesar de existirem algumas semelhanças com o Autismo, as pessoas com

Síndrome de Asperger geralmente têm elevadas habilidades cognitivas (pelo

menos Q.I. normal, às vezes indo até as faixas mais altas) e por funções de

linguagem normais, se comparadas a outras desordenas ao longo do espectro

(TEIXEIRA, 2000).

As principais características que distinguem a Síndrome de Asperger do Autismo são as

habilidades “normais” da inteligência e da linguagem. A preservação destas habilidades

pode, por vezes, “enganar” o diagnóstico e este ser tardio (VILELA; DIOGO; SEQUEIRA,

2009). Mesmo que estes indivíduos não apresentem déficits cognitivos, torna-se necessário

que os mesmos recebam uma educação especializada e de qualidade para que possam

controlar seu comportamento e direcione suas habilidades a determinadas áreas que possuam

maior integralidade.

Pessoas com essa Síndrome têm necessidade de fazer amigos e realizar diálogos monólogos

principalmente com adultos, mas muitas vezes acabam afastando as pessoas ao seu redor por

sua grande excentricidade e vulgaridade na abordagem das mesmas. Os autores Vilela;

Diogo; Sequeira (2009) explicitam que indivíduos com a Síndrome de Asperger são capazes

de descrever corretamente de uma forma cognitiva e formalista, as emoções, sentimentos e

intenções das demais pessoas, mas sem nunca saberem para que servem essas informações.

Não conseguindo assim uma interação com o outro.

De acordo com o autor Vilela (2009), as características mais evidentes da Síndrome de

Asperger são:

Atraso na fala, desenvolvimento fluente da linguagem verbal antes dos 5 anos.

Dificu ldade na linguagem mais rebuscada, ecolalia (repetição do que ouvem eco)

Page 15: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

15

de palavras ou frases; Interesses restritos escolhem um assunto de interesse. Casos

mais comuns é o interesse exagerado por coleções e cálculos; Presença de

habilidades não muito comuns, tais como cálculos mentais, memorização de

grandes seqüências (mapas de cidades), ouvido musical absoluto, entre outros;

Incapacidade de interpretar metáforas, mentiras, ironias, frases com duplo sentido;

Dificu ldades no uso do olhar, expressões faciais, gestos e movimentos corporais,

como a comunicação não verbal; Pensamento concreto; Dificuldade para entender

ou expressar emoções e dentre outros.

Por fim, ao observar as características citadas acima, torna-se necessário salientar que o

diagnóstico só pode ser dado como tal, depois dos 6 anos de idade, diferentemente do

Autismo que se midiatiza aos 3 anos de idade. Além do mais, essas crianças podem possuir

perfis de super dotados, pois, possuem habilidades cognitivas acentuadas e elevadas. O

autista está isolado no seu próprio mundo. O sujeito com Asperger está no nosso mundo,

porém vivendo o seu estilo próprio de forma isolada. (VILELA; DIOGO; SEQUEIRA,

2009)

4.6 As interfaces de mães e da família de autistas

De acordo com Smeha & Cezar (2011), ao engravidar, a rotina da mãe sofre mudanças,

principalmente se esta for uma primeira gestação. Enquanto a gravidez perdura, os pais

criam expectativas e fantasias com o filho esperado. Quando estes se deparam com uma

criança que possui alguma limitação significativa, abre-se uma distância entre o filho

perfeito, onde os genitores depositam seus sonhos e ideais como forma de concretizá- los, e o

filho da realidade; o que tornam essas expectativas extremamente frágeis, já que a criança

fantasiada não existe. Smeha & Cezar (2011 apud Buscaglia, 2006) afirmam que ao

enfrentarem com essas limitações, a sensação da família é de encarar o desconhecido,

causando sofrimento, confusão, frustrações e medo, tornando o ato da paternidade e

maternidade uma experiência complexa, mesmo com todo o auxílio profissional que esses

pais venham a ter.

Segundo Borges (2010, apud Buscaglia, 2006), deparar-se com as limitações do filho, em

qualquer família, é sempre um encontro com o desconhecido. Encarar essa nova e

inesperada realidade causa preocupação, angustia sofrimento e medo. Tornando assim a

maternidade e a paternidade complexa, mesmo tendo apoio total de familiares e

profissionais qualificados, as cargas de maiores responsabilidade sobre caem sobre os pais.

Page 16: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

16

Diante disso, caracteriza-se esse diagnostico como um transtorno de inicio precoce, com

causas diversas e que compromete o processo do desenvolvimento infantil (BORGES, 2010

apud FACION; MARINHO; RABELO, 2002). Estudos elaborados pela Associação

Psiquiátrica Americana (APA, 2002), explica:

O autis mo está entre os “transtornos globais do desenvolvimento” e seu

comprometimento está pressente em três áreas do desenvolvimento: habilidades de

interação social recíproca, habilidades de comunicação e comportamento,

interesses e atividades com padrões restritos e repetitivos (APA, 2002).

Desta maneira, para se adequar aos limites e necessidades precisas da criança com autismo,

a família necessita de constantes alterações em seus costumes diários (BORGES, 2010 apud

FÁVERO; SANTOS, 2005; SCHIMIDT; DELL’AGLIO; BOSA, 2007). Considerado então

que há necessidade de acompanhamento no comportamento de crianças autistas, somando o

grau de gravidade que se apresenta no mesmo, podem constituir estresse em grande escala

aos familiares (BORGES, 2010 apud SHIMIDT; BOSA, 2007). Estudos estão sendo

comprovados atestando a presença de estresse nas famílias de indivíduos portadores do

autismo, destaca-se também, o impacto que as crianças com este diagnóstico criam sobre

seus familiares, em consequência ao tempo e esforço que são essenciais para dar conta da

sobrecarga de cuidados exigidos pelos mesmos.

Ao perceber que o filho, em decorrência do autismo, apresenta uma variedade de limitações

as mães procuram por soluções na tentativa de abrandar o efeito do autismo. Afirmam

Borges (2010, Mannoni 1999; Jerusalinsky 2007):

Os pais demandam incansavelmente diagnósticos, avaliações e indicações por que

anseiam que seja “curado” o filho que apresenta algum compromet imento, pois a

criança que não corresponde ao ideal frag iliza o narcisismo desses pais, já que o

futuro sonhado por eles para o filho se apresenta no plano do improvável.

Os pais percebem que as pessoas ficam incomodadas com a presença de um autista e

segundo Borges (2010 apud Mannoni 1999), “qualquer ofensa ao filho é sentida pela mãe

como se fosse dirigido a ela própria” com isso, elas sacrificam-se inteiramente aos cuidados

do filho. Mediante a isso Borges (2010, apud Núñes 2007), afirma que “a mãe dedica todo

seu tempo e sua energia para cuidar do filho, sacrificando-se como mulher e esposa”.

Destaca-se ainda que este caminho e cuidados não possam ser trilhados sozinhos pois, as

mães necessitam contar com a ajuda de demais pessoas ou instituições para adquirir

conhecimentos específicos para que não fique sobrecarregada com os cuidados do filho.

As redes sociais, como a família ampliada, a comunidade, a escola e a equipe de

profissionais, são fontes de auxilio e informações diante das advertências sentidas

Page 17: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

17

pelos pais em decorrência da situação limitante do filho (CASTRO; PICCININI,

2002).

E para a contribuição do tratamento Borges (2010, apud Owen 2007), afirma que é

necessário um trabalho em equipe interdisciplinar, aliando a psicoterapia á farmacologia.

Borges (2010, apud Bossa 2006), por sua vez afirma que o tratamento se torna eficaz quando

a equipe técnica possui habilidades para trabalhar junto a família do autista.

Devido a esse fator, a principal fonte de apoio vem da família. Os maridos auxiliam

principalmente com o sustento financeiro. De acordo com Borges (2010, apud Núñes 2007),

a mulher fica em casa para cuidar do filho, e cabe ao marido trabalhar fora e encarregar do

sustento financeiro. Outra fonte de apoio não menos importante vem na presença de irmãos

e dos avós. Para Borges (2010, apud Castro e Piccinini 2002), os avós são grandes

provedores de apoio e auxilio diante da situação atípica da criança. Segundo Borges (2010,

apud Núñes 2007), a relação entre irmãos é um importante recurso de socialização, pois

possibilita trocas e interações sociais.

Na opinião de Relvas (1996), a família é o primeiro ambiente onde a criança se integra e

onde vai constituir a sua personalidade. É o primeiro contato social que ampara e se

responsabiliza por instituir necessidades afetivas, biológicas, protentivas e sociais.

A família exerce neste ciclo um papel de consolidação, através da socialização, que busca

elaborar nos indivíduos a aceitação, de forma a que se habituem à nova estrutura complexa

da qual fazem parte. De acordo com Pereira-Silva e Dessen (2003, p.503)

As interações estabelecidas no microssistema família são as que trazem

implicações mais significat ivas para o desenvolvimento da criança, embora outros

sistemas sociais (ex.: escola, local de trabalho dos genitores, clube) tamb ém

contribuam para o seu desenvolvimento.

De acordo com Colnago (1991) é no convívio dos familiares que as crianças passam pelas

primeiras experiências e interiorização de valores e padrões sociais, e se a família não se

encontrar numa situação estável, as interações entre os pais, filhos e sociedade, podem ser

prejudicados. Sendo a família para Sigolo (2004, p.189) “um espaço de socialização

infantil", ela se constitui como "mediadora na relação entre a criança e a sociedade". As

relações familiares desenvolvem os padrões de comportamentais, hábitos, atitudes e

linguagens, usos de valores e costumes são transmitidos e as bases da subjetividade, da

personalidade e da identidade são desenvolvidas.

Page 18: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

18

Defende Relvas (1996) que as famílias são cercadas por limites, que se assemelham como

membranas que por sua vez permitem a passagem seleta de informações, tanto entre a

família e o meio como entre os diversos sistemas familiares.

Diante de tais perspectivas é possível identificar a importância da família no

desenvolvimento de uma criança autista, sendo o ponto de partida para este desenvolvimento

e aceitação do diagnóstico, onde podemos considerar enfaticamente o período mais

complexo na relação familiar, pois é necessário uma desmistificação de conceitos pré

estabelecidos e a adaptação a uma nova realidade.

Segundo Marques (2000), a maior parte dos pais denotam preocupações comuns fronte ao

desenvolvimento dos filhos. Porém os pais das crianças com o Transtorno do Espectro

Autista manifestam preocupações específicas e quando postos diante o diagnóstico do

autismo demonstram um sentimento de perda, devido ao fato de não corresponderem às

expectativas criadas. No entanto, existe sempre uma recusa de que há algo errado,

ponderando que até o momento os filhos sempre foram “saudáveis”.

De acordo com Siegel (1997, apud Marques 2000), de um modo geral, os pais destas

crianças apresentam maior adaptação e envolvimento com os filhos quando tomam ciência

mais cedo do diagnóstico.

Segundo Gayhardt (1996, apud Pereira & Serra, 2005) a adaptação da família ao Transtorno

do Espectro Autista se desenvolve por um esquema de sentimentos onde se inicia após o

diagnóstico. Pois existe um período de choque e negação que se identifica pela sensação de

perda. A imagem da criança idealizada se desmorona e é necessário o reconhecimento das

limitações da criança, surge um elevado grau de realismo, onde acabam por criar poucas

expectativas diante a capacidade dos filhos provocando uma super proteção.

Os pais atribuem a culpa a si mesmo ou à outras causas diante dessa situação em que os

filhos se encontram. A vergonha acomete à família a evitar a freqüentar locais públicos por

não conseguirem controlar alguns comportamentos dos filhos e acabam causando um

isolamento para evitar uma rejeição dos mesmos. Já a reflexão e esperança ocorrem à

medida que os pais começam à compreender as características do autismo e percebem a

necessidade e a forma como podem ajudar o seu filho a desenvolver-se. Há uma busca ativa

em termos terapêuticos para investir no desenvolvimento do indivíduo. A aceitação é

Page 19: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

19

referida como o momento onde a família compreende e investe no auxilio ao filho buscando

o tratamento, a sua integração social e cultural.

Em síntese consiste em um processo de adequação, referindo à noção das transições de uma

família comum para enfrentamento das dificuldades acarretadas pela síndrome. Constata-se

que as famílias requisitam de um período de tempo para vivenciarem todo um conjunto de

sentimentos que possibilitam enfrentar de forma positiva as limitações do autista.

A família além da adaptação manifesta-se também essencial para o autismo, quando nos

referimos ao tratamento psicológico de acordo com Honing (1982, apud Marques, 2000), os

familiares são as pessoas mais conscientes das dificuldades e capacidades das crianças

autistas para além de que são os primeiros a fornecer uma base emocionalmente concreta,

reforçando assim a necessidade do seu envolvimento no processo de intervenção além de

apresentarem grande importância no momento da integração da criança na vida escolar.

Partindo desses pressupostos é possível delinear a família como um viés de extrema

essencialidade para o autista sendo ela o ponto de partida e apoio para o seu

desenvolvimento em diversas perspectivas.

4.7 Inserção dos indivíduos autistas na educação

A socialização é uma grande referência para pais de autistas. Perante a busca de tratamentos

para o filho já diagnosticado autista cabe a eles integrar a criança á sociedade, com a entrada

do filho a escola. Integrar a criança á comunidade, explica Borges (2010, apud Jerusalinsky

2007), é um momento gerador de crise, pois já nas primeiras saídas em locais onde estão

outras crianças, é perceptível para os pais o surgimento da rejeição social e este preconceito

ao autismo é perceptível pelas mães quando estão à procura das escolas para o filho.

A partir de pesquisas feitas em decorrência ao Transtorno do Espectro Autista, Carla Vasques

(2003, p.61) cita que:

A simples matrícula destes alunos não é suficiente para garantir efeitos

potencializadores de desenvolvimento e aprendizagens. Pelo contrário, a inserção

em certos espaços pode promover, inclusive, o rechaço da própria escolarização

como um todo.

A inclusão de autistas nas escolas certamente produzirá ansiedade, preocupação, medo,

Page 20: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

20

hesitação em toda comunidade escolar, principalmente se esta instituição for de ordem

pública, sem os devidos acompanhamentos que este sujeito necessita para seu

desenvolvimento e interação social. A partir da consciência das limitações desses indivíduos

é justificável propor uma mudança curricular, efetuar um recurso de aula próprio ao aluno

autista conforme experiências apresentadas já por várias tentativas significativas onde o

colégio, associado aos outros profissionais que consisti uma rede de aprendizagem,

conseguir resultados construtivos nesse método de escolarização.

Não há um método preciso de trabalho com crianças autistas nas escolas, cada qual deve ser

respeitado conforme sua diferença, o apoio familiar, a mudança curricular, tudo isso é

importante para a construção destes processos inclusivos.

4.8 Políticas públicas voltadas para indivíduos autistas

Efetuaremos um resgate histórico e bibliográfico no subgrupo de Políticas Públicas voltadas

para indivíduos que possuam o Transtorno do Espectro Autista no âmbito da garantia de

direitos e das práticas clínicas voltadas para essa população; da mesma maneira, agregando

diferentes saberes, pretendemos ser propositivos em relação ao rumo dessas políticas

públicas, de modo que elas possam operar com o campo da subjetividade dos mesmos e das

pessoas que os cercam.

Seguindo essa linha, o Ministério da Educação, juntamente com outros órgãos educacionais,

instituíram a Lei nº 12.764/2012 voltada à Política Nacional de Proteção dos Direitos da

Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, atendendo aos princípios da Política Nacional

de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/2008) e ao propósito da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. De acordo com essa mesma lei,

pessoas que possuem o Transtorno do Espectro Autista são consideradas deficientes e detêm

de leis favoráveis ao seu desenvolvimento social. Dentre as diretrizes de execução dessa lei

destacam-se medidas que tratem da efetivação do direito à educação:

I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no

atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista;

II - a participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas

para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua

implantação, acompanhamento e avaliação;

[...]

Page 21: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

21

V - o estímulo à inserção da pessoa com transtorno do espectro autista no mercado

de trabalho, observadas as peculiaridades da deficiência e as

disposições da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do

Adolescente);

VII – o incentivo à formação e à capacitação dos profissionais especializados no

atendimento á pessoa com transtorno do espectro autista, bem como pais e

responsáveis.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem por

objetivo:

A transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação

superior; Atendimento Educacional Especializado; Continuidade da escolarização

nos níveis mais elevados de ensino; Formação de professores para o atendimento

educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão

escolar e dentre outros.

É importante ressaltar que a formação dos profissionais da educação possibilitará a

construção de conhecimento para práticas educacionais que propiciem o desenvolvimento

sócio cognitivo dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista.

Sendo assim, diante das políticas educacionais apresentadas, torna-se possível inferir, que a

política está inerte em todos os cidadãos tanto na elaboração de direitos, como na efetuação

do deveres sociais, a partir de então, para que possamos exercer de fato a nossa cidadania de

forma democrática temos que fazer valer essas leis promulgadas de forma eficaz. Ao

analisarmos a lei instituída pelo Ministério da Educação, podemos visualizar o outro lado da

moeda na qual verificamos a dificuldade de inserção de indivíduos com tais transtornos no

meio social, visto que possuímos precariedade no nosso sistema educacional.

Alguns especialistas estabelecem que os autistas têm direito de estudar em escolas regulares,

tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante, e, se preciso, pode solicitar

um acompanhante especializado, essa descrição, esta instituída no art. 2o Último Parágrafo

da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro

Autista.

Existem diversos artigos intitulados em prol ao desenvolvimento educacional desses

indivíduos autistas. O lançamento dessa Política marca o Dia Mundial de Conscientização

do Autismo anualmente em 2 de Abril. A data foi instituída pela Organização das Nações

Unidas (ONU) em 18 de Dezembro de 2007 para esclarecer, informar e chamar a atenção da

sociedade para as pessoas que têm esse transtorno.

Page 22: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

22

5 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM AUTISTAS

5.1 Autismo visto nos variados pontos de vista psicológicos

A preocupação dos pais com o comportamento de seus filhos aparece em seus primeiros

anos de vida, sendo esse um período importante para se detectar quaisquer anormalidades

que envolvam o desenvolvimento. Esse pode ser prejudicado caso haja algum prejuízo

cognitivo e a probabilidade de desenvolverem um atraso de linguagem e comportamentos de

auto-agressão é maior. Problemas na comunicação e socialização permanecem no indivíduo

por toda a vida, no entanto, com o passar da idade esse quadro pode ser amenizado se o

paciente receber os cuidados adequados. Não há evidências de que um tipo de intervenção

surte efeito positivo em todos os pacientes e nem que seja capaz de curar o autismo.

Contudo, há tratamentos diferentes para as várias especifidades da doença, que dependem de

idade, do grau de déficit cognitivo, do comprometimento da linguagem e de sintomas gerais,

além do aspecto familiar, do suporte social e etc (BOSA, 2006).

Conforme aborda Souza et al. (2004), o psicólogo deve estar inserido no diagnóstico da

pessoa autista, pela importância analítica que deve possuir do comportamento entendido

como normal para a averiguação dos sintomas apresentados que destoam nesses pacientes,

sendo assim vital em um estudo mutidisciplinar de cada caso. Bosa (2006) afirma que o

tratamento deve ser estruturado de acordo com a idade do indivíduo. Em crianças, preocupa-

se com a formação da linguagem e da interação social, enquanto que nos adolescentes o foco

são as habilidades sociais e o desenvolvimento da sexualidade. Enfatiza-se a importância

dos muitos profissionais que lidam com essa patologia e com as diversas abordagens do

mesmo, mas leva-se em consideração que a interação entre os mesmos como equipe e em

contato com a família se faz necessária.

Na busca de uma recuperação funcional do autista, encontra-se diferentes formas de

abordagem, sejam pelas correntes de análise psicanalítica, individual e cognitiva. Souza

apud Windholz (1995) aponta que a terapia comportamental seria a mais completa no

tratamento, embora o autor ainda busque a referência de uma abordagem adaptável, com a

aplicação da psicoterapia, psicanálise e orientação, como aborda Gauderer, pela

característica limitada que o mesmo vê em cada um dos enfoques de tratamento, estando

Page 23: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

23

cada uma complementando a outra conforme o curso do processo terapêutico (SOUZA,

2004 apud GAUDERER, 1997).

Sabendo-se das variadas vertentes psicológicas, a abordagem psicanalítica parte de um

pressuposto inicial de estudo visando um diagnóstico precoce. Visani (2012, apud Laznik,

2000) defende uma identificação através da relação entre mãe e filho, sendo essa, a de maior

interação com o lactante desde o seu nascimento, capaz de perceber as reações que a criança

transmite à sua genitora. A mãe pode não desempenhar seu papel adequadamente, seja ela

em sua incapacidade materna de envolver-se emocionalmente, frustrando a expectativa do

filho quando este lhe pede um retorno. (DORIA; MARINHA & FILHO, 2006). O psicólogo

assim teria o papel de investigar, na ausência da capacidade por parte dos pais em assumir o

papel do outro primordial, sendo esse um termo adotado por pesquisadores lacanianos e

tende a se preocupar com o comportamento dos genitores no decorrer do processo, confirma

Dora, Marinho & Filho (2006). Nota-se dificuldade por parte dos pais em reconhecer a

dificuldade no relacionamento com a criança, podendo assim compromenter a técnica

terapêutica. É a partir dessas características na estrutura do relacionamento familiar que se

pode traçar os elementos fundamentais para levantar a hipótese de autismo. Dessa forma, o

psicanalista trabalha com as funções materna e paterna para que se surta resultados positivos

na terapia com a criança autista. Na inabilidade por parte dos pais em fornecer uma troca em

uma investigação psicanalítica, cabe ao profissional exercer essa função, observando as

manifestações que a criança produz (VISANI, 2012), e assim contribuindo para uma

melhoria das relações socio-afetivas (DORA; MARINHO & FILHO, 2006).

5.2 Abordagem Comportamental

Na aplicação do estudo para o tratamento do autismo, segundo Soares (2012), terapeutas

comportamentalistas utilizam-se das teorias behaviorista e funcionalista de Watson e Carr,

direcionado às famílias com paciente autista. Dessa maneira, investiga-se as resultantes

enfrentadas no dia a dia direcionados pelo condicionamento clássico e operante, modelagem

e mudança cognitiva. Essa busca visa a alterar, por via direta da família, os comportamentos

disformes apresentados pelo paciente.

Essa abordagem define um modelo, que consiste em: aquisição, fluência, manutenção,

generalização e adaptação, sendo moldáveis segundo o grau de aprendizagem apresentado

Page 24: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

24

pelo autista. O estímulo, meio de controle para se reforçar determinado comando, é utilizado

para designar métodos de instrução, analisando ao se obter o comportamento almejado, o seu

reforço (SOARES, 2012). Para Soares et. al. (2012, Apud, Dunst Trivet; 2005), um auxílio

efetivo é conquistado quando se capacita a família a enfrentar os problemas e aplicar as

corretivas necessárias, possibilitando um controle da criança assim como do grupo familiar.

A utilização de terapia comportamental possibilita às crianças portadoras da síndrome uma

interação com objetos e jogos, que auxiliam em seu raciocínio e resolução de problemas.

Tais práticas devem ser constantemente monitoradas de maneira única para cada paciente

visando uma compreensão se determinada atividade está apresentando resultados às suas

necessidades e às dos pais (Soares et. al. (2012, apud Pimentel, 2005). Por essas práticas, a

reeducação através da terapia não é implicada somente ao paciente, mas também aos

pais/família, uma vez que esses necessitam estar atentos às mudanças apresentadas pelo

tratamento e observação da progressão alcançada. O auxílio do psicólogo é fundamental para

a instrução da família, tornando-os ativos no processo de decisão e percepção para o auxílio

de seus filhos autistas (SOARES, 2012).

5.2.1 Teoria da Mente (ToM - Theory of Mind)

A capacidade automática e espontânea de atribuir estados metais a si próprio ou ao próximo

é chamada de Teoria da Mente (ToM). A impossibilidade desse ato se denomina como

"cegueira mental" e impede o indivíduo de interagir socialmente. Estudos indicam que

portadores de autismo ou de transtornos mentais, como a esquizofrenia, o transtorno

esquizotípico de personalidade e o transtorno bipolar, possuem limitação no que se diz

respeito a habilidade mental de compreensão de seus comportamentos. Podem apresentar

baixo processamento das emoções, reconhecimento de faces, controle do olhar, capacidade

de imitar, comunicação gestual, compreensão de ironias e metáforas e reconhecimento dos

próprios pensamentos e do próximo, assim dizendo que pessoas que portam esses

transtornos são inabilitadas à Teoria da Mente. Essa expressão foi criada pelo primatologista

Premack e pelo psicólogo Woodruff ao questionarem se assim como os humanos, os

chimpanzés também possuiriam a mesma capacidade (TONELLI, 2009). Os autores

tentaram demonstrar essa ideia a partir de um experimento com primatas a fim de saber se

Page 25: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

25

esses animais eram capazes de interpretar certos comportamentos humanos (JOU & SPERB,

1999). Sobre a nomenclatura desse processo, Premack e Woodruff explicam:

Ao dizer que um indivíduo tem uma teoria da mente, queremos significar que o

indivíduo atribui estados mentais a si próprio e aos outros (seja da mesma espécie

ou de outra). Um sistema de inferência desse tipo é, apropriadamente, visto como

uma teoria, p rimeiro, porque esses estados não são observáveis diretamente e,

segundo, porque o sistema pode ser usado para fazer pred ições, especificamente,

sobre o comportamento de outros organismos. (JOU & SPERB, 1999)

Denomina-se ToMi (Teoria da Mente Implícita) a habilidade automática de processar

informações provindas de um ambiente social e de inferir estados mentais. Já a capacidade

de otimizar o convívio com outras pessoas, dá-se o nome de ToMe (Teoria da Mente

Explícita). Acredita-se que ToMi e ToMe recrutem circuitos neurais distintos, e ToMe é

mais lenta no ponto de vista da eficácia, o que não permite um processamento online da

informação social. Baron-Cohen, Leslie e Frith (1986) estudaram crianças com Sindrome de

Down e Autistas, comparando suas capacidades interpretativas com crianças normais,

apresentando-as à vinhetas ilustradas que indicavam situações exigindo habilidades ToM e

vinhetas que não exigiam. A pesquisa mostrou que crianças autistas demonstravam pobreza

de compreensão das vinhetas que exigiam mentalização, o que mostrava que seu

desempenho era inferior ao de crianças normais e portadoras de Sindrome de Down.

Atualmente sabe-se que nem todos os autistas apresentam esse desempenho inferior quando

expostos ao mesmo teste, mas compreende-se que a maioria demonstra atraso nas

habilidades ToM em relação à crianças sem nenhum transtorno. A resposta para isso pode

ser explicado pelo prejuizo no que se diz respeito ao ToMi, fazendo com que os autistas

contem apenas com capacidades ToMe, as quais exigiriam mais tempo para um

desenvolvimento completo, uma vez que exigem aprendizado (TONELLI, 2009).

De acordo com Caixeta e Nitrini (2001), a psicologia cognitiva, a do desenvolvimento e a

evolucionista se interessaram pela Teoria da Mente e abordaram esse conceito cada qual à

sua maneira, aproveitando para entender certos aspectos até então não entendidos dentro

dessas abordagens psicológicas. A Teoria da Mente passou a designar um ramo da

Psicologia Cognitiva Social que se dedica a estudar a capacidade humana em compreender,

atribuir e interfirir em estados mentais aos outros e a si próprio. A Psicologia Cognitiva

Social se envolve com os estudos da congnição no que se diz respeito à geração de

representações mentais relacionados ao convívio social, partindo do princípio de que o

indivíduo seja capaz de elaborar um modelo mental do que ocorre com outra pessoa em

determinado momento (TONELLI, 2009).

Page 26: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

26

5.2.2 TEACCH: Enfoque no Comportamental e na

Psicolinguística

O programa TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com déficits

relacionados à Comunicação), tem por base uma abordagem Behaviorista e Psicolinguística.

Busca através da investigação de condutas e tratamento utilizando estímulos visuais

compensar os déficits ocasionados pela síndrome, interagindo pensamento e linguagem,

dotando-o de uma característica funcional e prática (KWEE et al., 2009). Baseia-se nas

características de aprendizado do paciente e promove sua independência, sendo responsável

pelo suporte flexível e específico no indivíduo que apresenta Transtorno do Espectro do

Autismo e sua respectiva família. (University of North Carolina, 2013). Conforme afirma

Moreira (2005, Apud, Leon e Lewis (1997), o que sustenta o programa TEACCH são os

seguintes aspectos: espaços físicos bem definidos com sua função de uso; utilização de

comunicação visual, seja com murais ou cartões informativos.

Foi observado por Moreira (2005) que na utilização do método TEACCH, em análise de três

crianças, há um aumento no desenvolvimento apresentado no decorrer do ano, sendo

preservado o conhecimento adquirido. O método auxilia à criança lidar com tolerância às

situações que geram confusões, alterando assim certas tendências comportamentais. Tratar

cada individualmente, pois apesar de apresentarem um mesmo diagnóstico, o tratamento

deve ser direcionado à subjetividade de cada criança.

5.2.3 Análise do Comportamento Aplicada (Applied

Behavior Analysis: ABA)

O método ABA (Applied Behavioral Analisys), seguindo princípios da Análise do

Comportamento, é aplicado em âmbito educacional, proporcionando uma atenção especial a

esses pacientes. Sua aplicação consiste logo com a criança pequena, que não elimina seu uso

em jovens e adultos. Sua terapêutica é individual e requer envolvimento tanto dos pais como

em ambiente escolar. Têm como característica não ser punitiva, gerando sempre ações que

positivem o esforço e objetivos alcançados pelos pacientes, contemplando assim atividades

Page 27: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

27

sociais, educacionais, de linguagem, cuidados pessoais, motoras e suas brincadeiras (LEAR,

2004).

A técnica de premiação e estímulo quanto aos resultados alcançados, é sustentado pelo

método Ensino de Tentativas Discretas (Discrete Trial Teaching: DTT). O método DTT

consiste em apresentar as atividades de aprendizado aplicadas pelo professor, em pequenas

abordagens seguidas de várias tentativas, mesmo que o profissional auxilie no processo,

fazendo assim um reforço positivo, bonificando a criança com o sucesso alcançado com o

que foi proposto (LEAR, 2004).

Ivar Loobas é um psicólogo que utilizou os princípios das técnicas de ABA e DTT em

conjunto, publicando em 1987 os resultados encontrados. Quantitativamente, em um grupo

de 19 crianças, 47% que foram contempladas com o tratamento alcançaram níveis normais

de capacidade funcional tanto educacionalmente como intelectualmente, apresentando QI

dentro da normalidade e desempenho escolar na primeira série em nível padrão em escolas

públicas. Outros 40% apresentaram leve retardo e necessitaram de frequentar classes

especiais para aprendizado de linguagem. Os participantes remanescentes do tratamento

apresentaram retardo severo. De maneira comparativa, em um grupo de 40 crianças não

sujeitas à terapeutica, somente 2% atingiram níveis normais de capacidade intelectual e

educacional. Outras 45% apresentaram retardo leve e 53% apresentaram retardo severo

(LEAR, 2004).

Page 28: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

28

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se a grande importância no conhecimento do Transtorno do Espectro do Autismo,

visto que trata-se de uma condição muito falada atualmente. Os profissionais da saúde se

empenham a fim de trazer a esses indivíduos formas de tratamento que se adequem às suas

especificidades emocionais e físicas, a fim de aliarem-os à vida em sociedade.

Discutiu-se ao decorrer desse trabalho, sobre o que levou a caracterizar o Autismo ao que ele

é hoje, sua formação histórica, biológica e genética e o papel do profissional da Psicologia

atribuindo certas técnicas terapêuticas no processo. A presença do psicólogo se faz

necessária para atentar-se aos aspectos psíquicos do indivíduo, já que sentem dificuldade em

expressarem e entenderem sobre seus próprios sentimentos e atribuí- los também aos outros.

Não só por isso, mas para bem se ajustarem e se incluírem no âmbito familiar e social,

trazendo a família para trabalhar ativamente na manutenção do tratamento.

A proposta psicanalítica se encontra bem fundamentada, no que se diz respeito à teoria

abordada quanto ao surgimento desse transtorno com o indivíduo e pode ser facilmente

encontrada enquanto se realiza quaisquer pesquisas relacionadas ao Autismo. Das

abordagens psicológicas, essa é a que mais se destaca em âmbito teórico. Verificou-se uma

variedade maior de artigos científicos tratando da abordagem psicanalítica, tendo em suas

observações, a citada conexão entre causa e problema

Embora a pesquisa bibliográfica possa aparentar ser mais rápida e elaborada numa linha de

raciocínio psicanalítico, devido ao grande número de artigos científicos que concerne à

respeito, e que aqui tenha sido apresentada alguns pontos gerais no que concerne à

psicologia num âmbito maior, o trabalho se embasa levemente em uma abordagem

comportamental, a partir do momento em que se encontram mencionados programas,

métodos, atividades e dinâmicas que fazem parte da teoria Behaviorista.

Entretanto, a pesquisa nesse sentido foi contemplada com uma base teórica restrita para tal, e

para que a busca dos métodos utilizados fossem eficazes, foi-se necessário recorrer ao

conteúdo disposto por instituições que estudam e tratam o autismo e basear-se nos

fundamentos e técnicas apresentadas por elas, enquadrando o psicólogo numa posição de

expositor desses meios e fazendo uso de atividades que requerem certas habilidades e

cuidados para que todo o processo seja eficaz.

Page 29: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

29

Pode ser percebido os inúmeros programas e métodos que existem para lidarem com o

Transtorno do Espectro do Autismo. As técnicas ABA e TEACCH, cada qual com suas

características, mas podendo trabalhar em conjunto; são amplamente utilizadas e respaldadas

não somente pelos profissionais que as desenvolveram, mas também pelas instituições que

fazem delas instrumentos de capacitação e socialização autista.

Inferiu-se a grande importância da utilização desses métodos e como a abordagem

comportamental se insere em um tratamento como esse. A ideia central deve distanciar-se do

discurso de que o indivíduo autista deve permanecer patológico. Os autistas são pessoas com

necessidades especiais tanto no domínio escolar, como social e familiar, com isso, é

necessária devida atenção específica e exaustiva para que possam permanecer em sociedade

de forma mais feliz e aceitado possível.

Conclui-se assim, que a Psicologia sendo uma área do conhecimento que abrange diversos

cenários do desenvolvimento humano, é de extrema importância que ela se faça presente em

casos de autismo, utilizando-se dos métodos necessários e comprovadamente eficazes que

proporcionem um tratamento efetivo. Não só isso, mas também a importância de políticas

públicas que insiram a criança ou o sujeito autista de forma a não excluí- lo dos meios da

educação e da cultura, com a finalidade de trazê-lo à uma realidade completamente possível

a ele.

Page 30: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

30

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO

I Seminário Autismo e Políticas Públicas. Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais. Belo Horizonte,

15 Outubro 2013. Disponível em: <http://www.crpmg.org.br/GeraConteudo.asp?materiaID=2891>. Acesso

em: 13 Outubro 2013.

AARONS, M. & Gittens, T. (1992). The handbook of autism: a guide for parents and professionals. London:

Routledge.

AMATO, Cibelle; AVEJONAS, Daniela; SANTOS, Thais et.al. Fatores intervenientes na terapia

fonoaudiológica de crianças autistas. Rev. soc. bras. fonoaudiol., São Pau lo, vol.16, nº.1 Jan./Mar 2011.

Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151680342011000100019&script=sci_arttext>. Acesso em: 28 Agosto 2013.

ASSUMPÇÃO, Francisco Baptista Júnior, SCHWARTZMAN, José Salomão. Autis mo Infantil. São Pau lo:

Memnon, 1995.

BOSA, Cleonice Alves. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Rev. Bras. Psiquiatr. , São Pau lo, v. 28,

supl. 1, May 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-

44462006000500007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Agosto 2013.

CAIXETA, Leonardo; NITRINI, Ricardo. Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela

psicologia médica. Psicol. Reflex. Crit. , Porto Alegre, v. 15, n. 1, 2002. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722002000100012&lng=pt&nrm=iso>.

Acesso em 28 Agosto 2013.

COLNAGO, N. A. S. (1991). Pares "mães bebês síndrome de Down": Estudo da Estimulação e dos aspectos

qualitativos da interação. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Educação Especial, Centro

de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Disponível em:

<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codA rquivo=1422>. Acesso em:

07 setembro 2013.

DORIA, Neda Gabriela D. Morillo; MARINHO, Thiago Santana, FILHO, Uelinton da Silva Pereira. O

autismo no enfoque psicanalítico. Faculdade Jorge Amado. 2006. Disponível em

<http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0311.pdf>. Acesso em 26 Agosto 2013.

Page 31: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

31

GADIA, Carlos A.; TUCHMAN, Roberto; ROTTA, Newra T.. Autismo e doenças invasivas de

desenvolvimento. J. Pediat r. (Rio J.), Porto Alegre , v. 80, n. 2, supl. Apr. 2004 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300011&lng=en&nrm=iso>.

Acesso em 24 Outubro 2013.

JOU, Graciela Inchausti de; SPERB, Tania Mara. Teoria da Mente: d iferentes abordagens. Psicol. Reflex.

Crit., Porto A legre, v. 12, n. 2, 1999. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000200004&lng=pt&nrm=iso>.

Acesso em 28 Agosto 2013.

KUPFER, M. C. M, (2000). Notes on the Diagnostic Differences Between Psychosis and Autism in Childhood.

Psicologia USP, 11 (1), 85-105. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010365642000000100006&script=sci_arttext>. Acesso em: 26

setembro 2013.

KWEE, Caro line Sianlian; SAMPAIO, Tania Maria Marinho; ATHERINO, Ciríaco Cristóvão Tavares.

Autismo: uma avaliação transdisciplinar baseada no programa TEACCH. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 11, supl.

2, 2009 . Disponível em <http://www.scielo.br/s cielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-

18462009000600012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 Agosto. 2013.

LEAR, Kathy. Manual treinamento ABA (help us learn) um programa de treinamento em ABA (analise do

comportamento aplicada) em ritmo auto-estabelecido, 2004. Disponível em:

<http://www.autismo.psicologiaeciencia.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Autismo-ajude-nos-a-

aprender.pdf>. Acesso em 10 Outubro 2013.

LEON, Viv iane & LEW IS, Soni. Grupos com autista. In: ZIMERMAN, David & OSORIO, Luis Carlos

(orgs.). Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997.

MARQUES, C. (2000). Perturbações do espectro do autismo. Ensaio de uma intervenção construtivista

desenvolvimentista com Mães . Lisboa: Quarteto Editora. Disponível em:

<http://repositorio.ipcb.pt/bitstream/10400.11/700/1/Tese_Isabel_Ferreira.pdf>. Acesso em: 19 setembro 2013.

MARQUES, Jairo. Folha de São Paulo. Pais de crianças autistas divergem sobre educação especial. São Paulo,

18 Agosto 2013. Disponível em: < http://www1.fo lha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1328082 -pais-de-criancas-

autistas-divergem-sobre-educacao-especial.shtm>. Acesso em: 15 Outubro 2013.

MATTOS, Leonardo. Leis, Projetos. Câmara Municipal. Belo Horizonte, 13 Março 2012. Disponível em:

<http://www.crpmg.org.br/GeraConteudo.asp?materiaID=2891>. Acesso em: 12 Outubro 2013.

MOREIRA, Patrícia. Autismo: A Difícil Arte De Educar. Psicologia.com.pt. O portal dos Psicólogos.

Universidade Luterana do Brasil. Rio Grande do Sul, 2001. Disponível em:

Page 32: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

32

<http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0250.pdf>. Acesso em: 01 Setembro 2013.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde – CID-10.

PEREIRA-SILVA, N. L. & Dessen, M. A. (2003). Crianças com Síndrome de Down e suas interações

familiares. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(3), 503-514. Disponivel em: <

http://www.scielo.br/pdf/prc/v16n3/v16n3a09.pdf>. Acesso em: 01 de outubro 2013.

RELVAS, A. P. 1996. O Ciclo v ital da família. Perspectiva sistémica . ed. 4. Porto: Ed itora Afrontamento. Fo i

publicada em 2006 a 4.ª edição deste liv ro.

RIVERA, Francisco Balbuena. Breve revisión histórica del autis mo. Rev. Asoc. Esp. Neuropsiq., Madrid, v.

27, n. 2, 2007 . Disponível em <http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0211-

57352007000200006&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 22 Agosto 2013.utista

SMEHA, Luciane Najar; CEZAR, Pâmela Kurtz. A v ivência da matern idade de mães de crianças com autis mo.

Psicol. estud., Maringá , v. 16, n. 1, Mar. 2011 . Available from

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722011000100006&lng=en&nrm=iso>.

access on 23 Agosto. 2013.

SOUZA, José Carlos et al . Atuação do psicólogo frente aos transtornos globais do desenvolvimento infantil.

Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 24, n. 2, Junho 2004 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000200004&lng=en&nrm=iso>.

Acesso em: 26 Agosto 2013.

SIGOLO, S. R. R. L. (2004). Favorecendo o desenvolvimento infantil: ênfase nas trocas interativas no contexto

familiar. In E. G. Mendes, M. A. Almeida & L. C. A. Williams (Orgs.).Temas em Educação Especial: avanços

recentes(p.189-195). São Carlos: Edufscar. Disponivel em:

<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_arquivos/9/TDE-2009-06-17T122257Z-

2071/Publico/1991.pdf>. Acesso em: 07 de outubro 2013.

SILVA, Márcio Santana da. Construção de significados da maternidade por mães de autistas. Universidade

Federal da Bahia. Salvador, 2010. Disponível em: <http://www.pospsi.ufba.br/Marcio_Santana.pdf>. Acesso

em: 02 Setembro 2013.

SMEHA, Luciane Najar; CEZAR, Pâmela Kurtz. A vivência da maternidade de mães de crianças com autis mo.

Psicol. estud., Maringá , v. 16, n. 1, Mar. 2011 . Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722011000100006&lng=en&nrm=iso>.

Acesso em: 02 Setembro 2013.

Page 33: Trabalho Interdiciplinar Dirigido ll - Transtorno do Espectro Autista

33

SOARES, Diogo; RIBEIRO, Mariana; CALEIRO, Miquelina; LIMA, Miriam; LUZ, Soraia. Intervenção

precoce: intervenção junto da criança e da família. Universidade de Évora. 2012. Disponível em

<http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0290.pdf>. Acesso em 8 de Outubro 2013.

SOUZA, José Carlos et al . Atuação do psicólogo frente aos transtornos globais do desenvolvimento infantil.

Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 24, n. 2, June 2004 . Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 Agosto 2013.

SOUZA, Pedro; SANTOS, Isabel. Caracterização da Síndrome Autista. Psicologia.com.pt. Portal dos

Psicologos. Universidade de Coimbra, Portugal. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0259.pdf>. Acesso em: 30 Agosto 2013.

TONELLI, Hélio. Autis mo, teoria da mente e o papel da cegueira mental na compreensão de transtornos

psiquiátricos. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 24, n. 1, 2011 . Availab le from

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722011000100015&lng=en&nrm=iso>.

access on 27 Aug. 2013.

VILELA, Carlos; DIOGO, Sandra; SEQUEIRA, Sara. Autis mo e Síndrome de Asperger. Psicologia.com.pt.

Portal dos Psicólogos. Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, Port imão, Portugal, Agosto 2009. Disponível em: <http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0140.pdf>. Acesso em: 31 Agosto 2013.

VISANI, Pao la; RABELLO, Silvana. Considerações sobre o diagnóstico precoce na clínica do autismo e das

psicoses infantis. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo , v. 15, n. 2, June 2012 . Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142012000200006&lng=en&nrm=iso>.

Acesso em 26 Agosto 2013.

University of North Carolina at Chapel Hill School of Medicine. TEACCH Autism Program. 2013. Disponível

em <http://teacch.com>. Acesso em 26 Agosto 2013