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TRABALHO E VIDA URBANA EM MANAUS: MOTORISTAS E CONDUTORES DE
BONDES, 1899-19301
Dhyene Vieira dos Santos2
RESUMO: Neste artigo abordamos o trabalho e vida urbana em Manaus a partir da investigação e
análise da classe dos motoristas e condutores de bondes, no período de 1899-1930. Inquirimos sobre
suas condições de vida e trabalho num momento em que a cidade passava por grandes mudanças
Econômicas, Políticas, Sociais e Urbanas. Estudar às vivências urbanas e organização desta classe de
trabalhadores no recorte proposto, permitirá abarcar, no contexto manauara, todo o processo de
modernização e expansão urbana e seus impactos sociais em conjunturas bastante diferenciadas, já que
a primeira década do século XX pode ser claramente compreendida como a do apogeu da economia
extrativa da borracha, enquanto a segunda é configurada por uma acelerada decadência e crise. Assim,
poderemos perceber em que medida os processos de dominação e resistência desenvolvidos no cenário
urbano de Manaus propiciaram respostas diferenciadas dos trabalhadores frente as mudanças
conjunturais.
PALAVRAS-CHAVE: Motorista, Condutor, Bonde Elétrico.
Introdução
A pesquisa em tela tem como proposta o acompanhamento e análise das vivências
urbanas de motoristas e condutores de bondes em Manaus, entre o período de 1899-1930. O
recorte proposto é largo o suficiente para abarcar, no contexto manauense, o processo de
modernização e expansão urbana e seus impactos sociais em conjunturas bastante
diferenciadas, já que a primeira década do século XX pode ser claramente compreendida
como a do apogeu da economia extrativa da borracha, enquanto a segunda é configurada por
uma acelerada decadência e crise. Desta feita, esse recorte nos possibilita perceber em que
medida os processos de dominação e resistência desenvolvidos no cenário urbano de Manaus
propiciaram respostas diferenciadas dos trabalhadores frente às mudanças conjunturais.
Cabe salientar que, no Brasil é muito pouca a literatura que discute a categoria dos
motoristas e condutores de bondes e em Manaus ela é praticamente inexistente. No entanto,
1 Este artigo tem por base algumas questões do Projeto de Pesquisa submetido ao Programa de Pós-Graduação
em História na UFAM, sido introduzidas as análises com levantamento de fontes e bibliografia, no âmbito da
Graduação através do Programa de Iniciação Científica – PIBIC, nos anos de 2014/2015, intitulado: Trabalho e
Vida Urbana em Manaus: motoristas e condutores de bondes, 1900-1920; e em 2016/2017, intitulado: Motoristas
e Condutores de Bondes: cultura, associativismo e greves – 1902-1925. 2 Graduada em História. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História na Universidade Federal do
Amazonas.
estabelecemos um diálogo com os autores Eduardo Parente (2008), João Marcelo Pereira dos
Santos (2009), Jorge Henrique Maia (2010), Daniela Passos (2011), Manoel Secundino Neto
(2012), Paulo Cruz Terra (2012) e Soraia Magalhães (2014).
Os trabalhadores dos bondes elétricos e a cidade de Manaus
Com a nova configuração que a cidade de Manaus foi assumindo no início do século
XX, o universo do trabalho urbano se expandiu, em parte pela incorporação de imigrantes
nacionais e de estrangeiros. É nesse momento que diversas categorias profissionais se
consolidaram e, graças à importância estratégica assumida por algumas delas, deram início a
um lento e conturbado processo associativo.
A vertiginosa expansão econômica mostrou-se, todavia, incapaz de
acomodar minimamente as sucessivas levas de trabalhadores e aventureiros
dentro de níveis aceitáveis de salário, emprego, moradia, saúde e habitação,
alicerçando uma ambiência de insatisfações múltiplas que produziram efeitos
políticos inovadores no cenário amazônico. Manifestações de protestos,
passeatas, organizações sindicais e greves operárias imprimiram suas marcas
na história regional, muito embora a memória preservada deste período
aponte seletivamente para a recuperação de eventos menos traumáticos.
(PINHEIRO, 2003).
Motoristas e condutores de bondes formaram um importante segmento da classe
trabalhadora do universo citadino manauense, uma vez que as atividades que desenvolviam
possuíam uma enorme centralidade numa cidade que se urbanizava num ritmo rápido e que
espraiava-se em bairros cada vez mais periféricos, tornando as distâncias cada vez maiores
entre as habitações populares e os locais de trabalho num problema grave e gerador de grande
insatisfação popular. Para a resolução de tal problema, Manaus muito cedo desenvolveu um
invejável – e bastante moderno para a época – sistema de transporte público, estruturado em
linhas regulares de bondes, que riscavam o traçado urbano de ponta a ponta, indo da
Cachoeirinha ao Plano Inclinado; da Instalação às chácaras e colônias agrícolas do bairro de
Flores.
Emblemas da modernidade, os bondes entraram na vida cotidiana dos manauenses
com tal intensidade que serviram não apenas para o transporte regular de passageiros, como
também utilizado para o lazer, em especial aos domingos, feriados e dias santificados. Tendo
vivenciado o final desta época de grandes inovações, João Nogueira da Mata comenta as
dimensões e a importância desse sistema:
Manaus não conheceu, como outras cidades brasileiras, inclusive o Rio de
Janeiro, os bondes puxados a burro. Lentos, acanhados e, consoante o
anedotário popular, sujeitos aos caprichos dos animais atrelados. Manaus
conheceu logo os bondes elétricos, velozes, elegantes, percorrendo a cidade
toda – notadamente o centro – em paralelas de aço, ou trilhos, por sobre ruas
calçadas a paralelepípedos, que aqui chegavam de Lisboa em paquetes da
Booth Line. Requintes de vaidade que nos proporcionou a Borracha quando
por alto, como segundo produto nacional de exportação. (MATA, 1991: 65).
O transporte urbano acompanhava a expansão da cidade e estava estruturado em linhas
regulares de bondes, que riscavam Manaus de ponta a ponta, indo da Cachoeirinha ao Plano
Inclinado; da Instalação às chácaras e colônias agrícolas do bairro de Flores. Podemos afirmar
que os primeiros bondes a vapor passaram a circular de forma improvisada nos anos de 1896
e bondes elétricos foram introduzidos na cidade em 1899 (MAGALHÃES, 2014: 35).
Para o memorialista Thiago de Mello (2004: 100), O bonde elétrico não era apenas
meio de transporte pois suas engrenagens davam movimento a sociologia da cidade; os
bondes foram considerados por muitos como um termômetro da vida social manauara e os
jornais não hesitavam em evidenciar esse fato. Entretanto, é possível também identificar por
meio dos periódicos, que nem todas as pessoas podiam usufruir desse serviço de transporte,
tendo em vista que o bilhete custava 200 réis, valor elevado para a época. Os motoristas e
condutores de bondes, não eram tão evidentes como o seu trabalho, visto anteriormente, mas
tem uma longa história a ser escrita, de suas vidas no cotidiano e das suas lutas e
reivindicações no trabalho. Podemos perceber que esses trabalhadores, apareciam na maioria
das vezes nos periódicos de grande circulação, como pauta da sociedade, sendo acusados por
velocidade ou simplesmente por discussões com passageiros.
Os jornais de Manaus da época publicaram notícias sobre os protestos, reivindicações
e greves desses trabalhadores. Estudar o cotidiano dessas pessoas, no trabalho, no lazer, em
suas associações, seus projetos e vínculos políticos, permite traçar melhor um perfil desses
trabalhadores, resgatando seus modos de vida, anseios, suas lutas, parcerias, contendas, etc.
Permite também resgatar o diálogo que esses trabalhadores em seus movimentos associativos
estabeleceram com outros estados do Brasil e ainda com outros países, pois o contingente de
migrante tanto nacional quanto estrangeiro durante o período da borracha foi significativo
para Manaus.
No que tange a questão do cotidiano dos motoristas e condutores de bondes, ao fazer
um levantamento da vivência desses trabalhadores em Manaus, conseguimos encontrar alguns
pontos relacionados a moradia e ao lazer. Uma grande parcela dos trabalhadores urbanos,
habitavam no centro devido ao fato de ser o local em que se concentrava a maioria dos
trabalhos (fábricas, vapores, comércio), logo, viviam como inquilinos em Cortiços. “Um
quarto de cortiço custava não menos de 50$00, para uma renda diária de 6$00, ou seja, eram
necessários 9 dias de trabalho para pagarem um mês de aluguel” (COSTA, 2014, p.138) Com
isso pode-se concluir que haviam muitas reclamações por parte dos trabalhadores, devido aos
altos custos dos aluguéis e as condições não muito confortáveis desses ambientes (COSTA,
2014 p.142) Os motoristas e condutores de bondes precisavam acordar as 5:00 horas para
garantir o funcionamento do trabalho3. A historiadora Francisca Sena Deusa da Costa esclarece
que:
Foi na condição de inquilino que o trabalhador habitou no perímetro urbano
manauara do fausto. Trabalhadores qualificados e autônomos que, mesmo
com dificuldades auferiam um salário mensal ou quinzenal como os
comerciários, gráficos, condutores de bondes, carroceiros, lavadeiras,
carregadores e estivadores, donos de pequenos estabelecimentos, etc., tinha
condição de aí permanecer. Mesmo vivendo em condições precárias, habitar
no centro era mais viável que morar, como inquilino, em condições ainda
piores nas periferias distantes dos locais de trabalho e sem infraestrutura.
(COSTA, 2014)
Analisando as publicações nos periódicos referentes a esses trabalhadores, é possível
sabermos os locais de origem, antes da migração para a cidade de Manaus. Deusa Costa,
reforça que a grande maioria dos trabalhadores urbanos eram europeus, oriundos de Portugal,
Espanha e Itália e conforme fomos tendo acesso aos jornais de grande circulação, foi ficando
evidente que a maioria dos motoristas e condutores de bondes eram portugueses e italianos
entre os anos iniciais e depois é possível notar a presença de brasileiros na condução do
serviço.
Partindo para outro ponto mencionado acima, o Lazer, os trabalhadores urbanos de
modo geral, tinha uma rotina um pouco semelhante, com os igarapés preservados, no início do
século XX, era um espaço bastante frequentado por esse segmento e com isso defendiam o
cuidado com esses lugares para garantir-lhes a sobrevivência, Como afirma Deusa Costa
"Mesmo que as classes populares não tivessem poder de ingerência na modificação urbana,
em se tratando de questões essenciais de sobrevivência, como o uso dos igarapés, elas vinham
a público, trazendo a luz sua concepção sobre gestão da cidade e o que deveria ser
preservado." (COSTA, 2014, p.160)
3 Os bondes partiam da Cachoeirinha.
As quermesses, também eram bastante frequentadas pelas classes mais baixas,
“representando uma oportunidade para divulgar as ideias organizacionais dos trabalhadores.”
(COSTA, 2014, p.201). Assim como os botequins, analisado pelo historiador Sidney
Chalhoub, em Trabalho, Lar e Botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da
Belle Époque, que apesar de ser uma pesquisa da realidade de outro estado, muito se
assemelha com as práticas dos trabalhadores da cidade de Manaus, esses espaços eram de
lazer popular, que abrigava a classe baixa da sociedade, tinham muitas tensões “conflitos e
uma reversão de valores que o aparato policial objetivou controlar. (COSTA, 2014, p. 201)
Os motoristas e condutores de bondes fizeram várias mobilizações e manifestações em
prol de seus direitos, fosse por melhores condições de vida e trabalho, das seis greves
registradas nos periódicos de Manaus, podemos citar as movimentações que iniciaram no dia
15 de janeiro de 1911, onde é deflagrada greve desses trabalhadores, motivados pela
imposição do chefe dos motoristas e condutores, Felippe Fernandes. Os trabalhadores
seguiram paralisados por dias, enquanto tentavam articular com a Companhia Manáos
Tramways uma solução para o problema. Os jornais de grande circulação não hesitavam em
divulgar notas e Boletins da Companhia de bondes e nem os posicionamentos da Sociedade
Beneficente e Protetora dos Motoristas e Condutores.
A intransigência da diretoria da Manáos Tramways and Light Company, que
se recusou formalmente a atender a uma reclamação justíssima dos
motoristas e condutores, contra o despotismo de um chefe que os persegue e
os oprimem, arrastou-os a declaração de uma greve que, embora
absolutamente pacífica, muito prejudicará a vida da cidade.
A sociedade Beneficente e Protetora dos Motoristas e Condutores, atendendo
a justeza dos motivos que animaram os motoristas e condutores na
declaração da parede em que ora se encontram, declaram-se absolutamente
solidária com eles, certa de que inteira recai a responsabilidade dos prejuízos
causados por esse movimento sobre a poderosa empresa que se obstina em
manter no seu posto um empregado prepotente.
Felippe Fernandes é o nome desse empregado que exerce a chefia dos
motoristas. Outro interesse e outro desejo não tem os motoristas e condutores
que não seja o de trabalhar, acatando, respeitando sempre as ordens
emanadas dos seus superiores. Mas desejam também, e esse desejo é
justíssimo, que a sua ação, que o seu trabalho não seja perturbado por chefes
que os maltratam e expesinham.
A única condição, portanto, que eles impõem para voltarem ao trabalho é
facilmente viável: Querem que a Manáos Tramways and Light Company, os
livre da pressão e das perseguições do chefe dos motoristas, Felippe
Fernandes. Isto feito voltarão todos ao trabalho. (Manáos, 15 de janeiro de
1911)
Como já dito, os periódicos de Manaus, principalmente os de grande circulação, nos
anos de 1899 a 1930, estão repletos da presença de protestos, greves e reivindicações de
trabalhadores, tornando o cenário urbano de Manaus menos harmônico do que o desejado
pelas elites locais. Estudar o cotidiano dessas pessoas, no trabalho, no lazer, em suas
associações, seus projetos e vínculos políticos permite resgatar seus modos de vida, anseios,
suas lutas, parcerias e contendas. Permite ainda, nos enfronhar nos meandros dos movimentos
associativos que estabelecer comparações com similares de outros estados do Brasil e também
de outros países, pois o contingente de migrantes para Manaus, tanto nacional quanto
estrangeiro, foi significativo durante o período da borracha. 4.
Nas três primeiras décadas do século XX, os motoristas e condutores de bondes,
fizeram seis greves em Manaus, a saber, nos anos de 1902, 1910, 1911, 1919, 1925 e 1927.
Assim, é importante desenvolver uma reflexão maior sobre os movimentos, associações e
organizações criadas pela categoria, compreendendo mais a fundo como era o cotidiano
desses trabalhadores dentro e fora dos seus espaços de trabalho, como se organizavam, quais
suas pautas, quem eram suas lideranças, qual a relação estabelecida com o patronato e
autoridades locais. A primeira organização coletiva desta classe de trabalhadores foi a
Associação Beneficente e Protetora dos Motoristas e Condutores de Bondes, que em 1902 tem
sua primeira paralisação na cidade, logo depois em 1919 tem seu nome alterado para
Sociedade dos Motoristas e Condutores, não sabemos ao certo quando isso aconteceu, mas até
a greve de 1911 ainda estavam na Associação Beneficente, em seguida, tem-se o registro dos
mesmos associando-se também na União Operária Amazonense, organização de diversos
trabalhadores na cidade, faziam parte dela não somente os motoristas e condutores.5 Outro
ponto que chama atenção é a solidariedade e unidade que essas sociedades tinham entre si,
como exemplo, temos o ofício divulgada pelo Jornal do Commércio, onde os motoristas e
condutores, recebem apoio da Sociedade Beneficente dos Estivadores e Carroceiros do
Amazonas.
4 Maria Luiza Ugarte Pinheiro percebeu uma expressiva presença de greves e manifestações operárias nos
jornais, ao percorrer os arquivos da imprensa cotidiana da virada do século XIX para o XX, durante o processo
de pesquisa para a sua dissertação de mestrado e tem enfatizado a questão das migrações como componente
importante na organização desses trabalhadores. PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. A Cidade Sobre os Ombros:
trabalho e Conflito no Porto de Manaus, 1899-1925. 2ª ed. Manaus: EDUA, 2003; 5 PINHEIRO, Luis Balkar Sá Peixoto; PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Mundos do Trabalho na Cidade da
Borracha: Trabalhadores, lideranças, associações e greves operárias em Manaus (1880-1930). Paco Editorial. 1°
Ed. 2017;
Exmo.Sr.Presidente da Sociedade Beneficente dos Motoristas e Condutores
do Amazonas. Em sessão de hoje desta Diretoria levo ao vosso
conhecimento nosso voto de solidariedade na causa justa que defendeis e que
deveis vencer devido a vossa atitude e união e que estas tendo, além disso a
vossa frente homens de valor como é o distinto advogado dr. Souza Brazil,
que deve vencer em toda a linha a reclamação justa que fazeis, saudo-vos. –
Raul Pereira Dias, 1° secretário. (Manáos, 15 de janeiro de 1911)
Assim, a partir da pesquisa dessas greves e manifestações nos jornais da época,
mostrando rostos diferenciados, de cocheiros, catraieiros, estivadores, carroceiros, motoristas,
peixeiros ou condutores de bondes, vai nos permitir aprofundar o conhecimento sobre a
História Urbana de Manaus da perspectiva do trabalho6, ampliando a coleta de informações
sobre estes movimentos sociais e verticalizando-se os estudos sobre o tema.
Considerações Finais
Portanto, estudar às vivências urbanas e organização dos motoristas e condutores de
bondes no período de 1899 a 1930. permitirá abarcar, no contexto manauara, todo o processo
de modernização e expansão urbana e seus impactos sociais em conjunturas bastante
diferenciadas, já que a primeira década do século XX pode ser claramente compreendida
como a do apogeu da economia extrativa da borracha, enquanto a segunda é configurada por
uma acelerada decadência e crise. Assim, poderemos perceber em que medida os processos de
dominação e resistência desenvolvidos no cenário urbano de Manaus propiciaram respostas
diferenciadas dos trabalhadores frente às mudanças conjunturais.7
Assim, inspirada nos postulados de Thompson8 queremos conhecer esse universo do
trabalho urbano, em especial, porque, tais trabalhadores, se constituíram nos construtores
anônimos do progresso material de Manaus durante o “período da borracha” e não tiveram
6 Está temática vem sendo trabalhada desde 2014 com a produção da primeira monografia de PIBIC, intitulado
Trabalho e Vida Urbana em Manaus: Motoristas e Condutores de Bondes, 1900-1920. 7 Considerando a importância do tema também para o presente, urge que as pesquisas iniciadas em (PINHEIRO:
1999) e (SANTOS: 2014) estão sendo ampliadas no Mestrado em História. 8 Essa inspiração thompsoniana se dá não apenas na incorporação de seus temas prioritários de pesquisa,
mas igualmente nos postulados metodológicos por ele sugeridos, como o expresso em seu famoso prefácio à Formação da Classe Operária Inglesa: “Estou tentando resgatar o pobre tecelão de malhas, o meeiro ludita, o tecelão do ‘obsoleto’ tear manual, o artesão ‘utópico’ e mesmo o iludido seguidor de Joanna Southcott, dos imensos ares superiores de condescendência da posteridade. Sua hostilidade frente ao novo industrialismo podia ser retrógrada. Seus ideais comunitários podiam ser fantasiosos. Suas conspirações insurrecionais podiam ser temerárias. Mas eles viveram nesses tempos de aguda perturbação social, e nós não. Suas aspirações eram válidas nos termos de sua própria experiência. Se foram vítimas acidentais da história, continuam a ser condenados em vida, vítimas acidentais”. (THOMPSON, 1987:13).
ainda a devida atenção da historiografia regional, pois sua presença na cidade esteve longe de
ter sido insignificante e/ou passiva. Agindo e reagindo no interior das relações sociais de
produção a que se viram submetidos, os trabalhadores manauenses souberam trilhar, em
diversas ocasiões, o caminho da participação política ativa, atraindo para si a atenção,
simpatia e respeito por parte da sociedade local e a preocupação e animosidade dos grupos
dominantes. (PINHEIRO, 2003).
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