trabalho e sofrimento

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TRABALHO E TRABALHO E SOFRIMENTO SOFRIMENTO Maíra Marchi Gomes - CRP 12/05448 Maíra Marchi Gomes - CRP 12/05448 Psicóloga Policial – PC-SC Psicóloga Policial – PC-SC Mestre em Antropologia Social - UFSC Mestre em Antropologia Social - UFSC Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise – PUC-PR Psicanálise – PUC-PR Especialista em Dependências Químicas – PUC-PR Especialista em Dependências Químicas – PUC-PR Especialista em Direito Penal e Criminologia - UFPR Especialista em Direito Penal e Criminologia - UFPR Especialista em Psicologia Jurídica – PUC-PR Especialista em Psicologia Jurídica – PUC-PR Especialista em Panorama Interdisciplinar do Direito da Especialista em Panorama Interdisciplinar do Direito da Criança e Adolescente – PUC-PR Criança e Adolescente – PUC-PR

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Page 1: Trabalho e Sofrimento

TRABALHO E TRABALHO E SOFRIMENTOSOFRIMENTO

Maíra Marchi Gomes - CRP 12/05448Maíra Marchi Gomes - CRP 12/05448Psicóloga Policial – PC-SC Psicóloga Policial – PC-SC

Mestre em Antropologia Social - UFSCMestre em Antropologia Social - UFSCEspecialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise – PUC-Especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise – PUC-

PRPREspecialista em Dependências Químicas – PUC-PREspecialista em Dependências Químicas – PUC-PREspecialista em Direito Penal e Criminologia - UFPREspecialista em Direito Penal e Criminologia - UFPR

Especialista em Psicologia Jurídica – PUC-PREspecialista em Psicologia Jurídica – PUC-PREspecialista em Panorama Interdisciplinar do Direito da Criança e Especialista em Panorama Interdisciplinar do Direito da Criança e

Adolescente – PUC-PRAdolescente – PUC-PR

Page 2: Trabalho e Sofrimento

CARGA PSÍQUICA DO CARGA PSÍQUICA DO TRABALHOTRABALHO

Subemprego de aptidões psíquicas, Subemprego de aptidões psíquicas, fantasmáticas ou psicomotoras, ocasionando uma fantasmáticas ou psicomotoras, ocasionando uma retenção de energia pulsional (DEJOURS; retenção de energia pulsional (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Excesso leva à fadiga e sofrimento (DEJOURS; Excesso leva à fadiga e sofrimento (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Sobrecarga produz delírio, depressão ou doença Sobrecarga produz delírio, depressão ou doença somática (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)somática (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 3: Trabalho e Sofrimento

FADIGAFADIGA

““(...) testemunha não específica da sobrecarga” (...) testemunha não específica da sobrecarga” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994, p.29)(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994, p.29)

Fadiga física sempre possui uma tradução Fadiga física sempre possui uma tradução psíquica, porque para compensar uma fadiga psíquica, porque para compensar uma fadiga física, o aparelho psíquico é mobilizado. Por física, o aparelho psíquico é mobilizado. Por exemplo, através da vontade (DEJOURS; exemplo, através da vontade (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Faz com que aparelho mental perca versatilidade Faz com que aparelho mental perca versatilidade (DEJOURS, 1992)(DEJOURS, 1992)

Peça necessária, mas insuficiente, da alienação Peça necessária, mas insuficiente, da alienação pela organização do trabalho. A sujeição do corpo pela organização do trabalho. A sujeição do corpo talvez só venha após a alienação (DEJOURS, 1992)talvez só venha após a alienação (DEJOURS, 1992)

Page 4: Trabalho e Sofrimento

ORGANIZAÇÃO DO ORGANIZAÇÃO DO TRABALHOTRABALHO

Condições de trabalhoCondições de trabalho: pressões físicas, : pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas do posto de mecânicas, químicas e biológicas do posto de trabalho. Têm por alvo principal o corpo, e se trabalho. Têm por alvo principal o corpo, e se revelam em desgaste, envelhecimento e doenças revelam em desgaste, envelhecimento e doenças somáticas (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)somáticas (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Organização do trabalhoOrganização do trabalho: : 1)1) Divisão do trabalhoDivisão do trabalho: divisão de tarefas e o modo : divisão de tarefas e o modo

operatório prescrito. Incitam o sentido e o operatório prescrito. Incitam o sentido e o interesse do trabalho para o sujeitointeresse do trabalho para o sujeito

2)2) Divisão de homensDivisão de homens: repartição das : repartição das responsabilidades, hierarquia, comando, controle, responsabilidades, hierarquia, comando, controle, etc. Solicita as relações e mobiliza investimentos etc. Solicita as relações e mobiliza investimentos afetivos (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)afetivos (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 5: Trabalho e Sofrimento

DESEJO E TRABALHODESEJO E TRABALHO

Organização do trabalho como “vontade de um Organização do trabalho como “vontade de um outro” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)outro” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Ideal seria que cada modo operatório fosse um Ideal seria que cada modo operatório fosse um compromisso personalizado entre desejo e compromisso personalizado entre desejo e realidade (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)realidade (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Motivação X desejo (DEJOURS; ABDOUCHELI; Motivação X desejo (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)JAYET, 1994)

A subjetivação cresce à medida que se sobe na A subjetivação cresce à medida que se sobe na hierarquia (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)hierarquia (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 6: Trabalho e Sofrimento

SOFRIMENTO NO TRABALHOSOFRIMENTO NO TRABALHO

““(...) (...) vivência subjetivavivência subjetiva intermediária entre intermediária entre a doença mental descompensada e o a doença mental descompensada e o conforto (ou bem-estar) psíquico” conforto (ou bem-estar) psíquico” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994) (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994) (grifo dos autores)(grifo dos autores)

Estado de luta do sujeito contra os aspectos Estado de luta do sujeito contra os aspectos ligados à organização do trabalho que o ligados à organização do trabalho que o direcionam à doença mental (DEJOURS; direcionam à doença mental (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 7: Trabalho e Sofrimento

Manifestações do sofrimento (DEJOURS, 1992):Manifestações do sofrimento (DEJOURS, 1992):1)1) IndignidadeIndignidade: resultado do contato com uma tarefa : resultado do contato com uma tarefa

insignificante. É a vergonha de não ser mais que insignificante. É a vergonha de não ser mais que um apêndice, de não ter imaginação, inteligência. um apêndice, de não ter imaginação, inteligência. Enfim, de estar despersonalizado e a falta de Enfim, de estar despersonalizado e a falta de significação do trabalhosignificação do trabalho

2)2) InutilidadeInutilidade: falta de qualificação e finalidade do : falta de qualificação e finalidade do trabalho. Não reconhece significação humana da trabalho. Não reconhece significação humana da tarefatarefa

3)3) DesqualificaçãoDesqualificação: imagem de si que repercute no : imagem de si que repercute no trabalhotrabalho

Vivência depressiva condensa e amplia os Vivência depressiva condensa e amplia os sentimentos de indignidade, inutilidade e sentimentos de indignidade, inutilidade e desqualificação. A depressão, por sua vez, é desqualificação. A depressão, por sua vez, é dominada pelo cansaço (DEJOURS, 1992)dominada pelo cansaço (DEJOURS, 1992)

Page 8: Trabalho e Sofrimento

““Normalidade sofrente”: Normalidade sofrente”:

1)1) a normalidade não implica ausência de a normalidade não implica ausência de sofrimentosofrimento

2)2) Normalidade não como efeito passivo de Normalidade não como efeito passivo de um condicionamento social, conformismo um condicionamento social, conformismo decorrente da “interiorização” da decorrente da “interiorização” da dominação socialdominação social

3)3) Normalidade como resultado da luta Normalidade como resultado da luta contra a desestabilização psíquica contra a desestabilização psíquica provocada pelas pressões do trabalho provocada pelas pressões do trabalho (DEJOURS, 2000)(DEJOURS, 2000)

Page 9: Trabalho e Sofrimento

MEDICALIZAÇÃO DO MEDICALIZAÇÃO DO SOFRIMENTOSOFRIMENTO

Saída individual ocorre quando o limitar coletivo Saída individual ocorre quando o limitar coletivo de tolerância não é ultrapassado pela coletividade de tolerância não é ultrapassado pela coletividade (DEJOURS, 1992)(DEJOURS, 1992)

Soluções para manter equilíbrio mental:Soluções para manter equilíbrio mental:1)1) Demissão a pedido ou rotatividadeDemissão a pedido ou rotatividade2)2) Absenteísmo (DEJOURS, 1992)Absenteísmo (DEJOURS, 1992)

Justificativa para absenteísmo: como sofrimento e Justificativa para absenteísmo: como sofrimento e fadiga não podem se manifestar, recorre-se à fadiga não podem se manifestar, recorre-se à medicalização do sofrimento (DEJOURS, 1992)medicalização do sofrimento (DEJOURS, 1992)

Medicalização não apenas desloca o conflito Medicalização não apenas desloca o conflito homem-trabalho para um terreno neutro (como já homem-trabalho para um terreno neutro (como já faz a psiquiatrização), mas também destitui o faz a psiquiatrização), mas também destitui o componente mental do sofrimento (DEJOURS, componente mental do sofrimento (DEJOURS, 1992)1992)

Page 10: Trabalho e Sofrimento

EXPLORAÇÃO DO SOFRIMENTOEXPLORAÇÃO DO SOFRIMENTO

Procedimento defensivos, incluindo os individuais, Procedimento defensivos, incluindo os individuais, podem ser utilizados em proveito da produtividade podem ser utilizados em proveito da produtividade (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Auto-aceleração (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, Auto-aceleração (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)1994)

““Macetes” e “habilidades de prudência”, para Macetes” e “habilidades de prudência”, para subverter os modos operatórios prescritos, de subverter os modos operatórios prescritos, de forma a atender as necessidades do trabalho forma a atender as necessidades do trabalho (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

“ “ (...) é preciso não apenas dar mostras de (...) é preciso não apenas dar mostras de inteligência para suprimir a defasagem entre a inteligência para suprimir a defasagem entre a organização do trabalho prescrita e a organização organização do trabalho prescrita e a organização do trabalho real, mas também admitir que, muitas do trabalho real, mas também admitir que, muitas vezes, essa inteligência só pode ser utilizada vezes, essa inteligência só pode ser utilizada semiclandestinamente” (DEJOURS, 2000, p.56)semiclandestinamente” (DEJOURS, 2000, p.56)

Page 11: Trabalho e Sofrimento

TIPOS DE SOFRIMENTOTIPOS DE SOFRIMENTO Sofrimento criadorSofrimento criador: : 1)1) Quando o sofrimento pode ser transformado em Quando o sofrimento pode ser transformado em

criatividadecriatividade2)2) Aumenta a resistência do sujeito à Aumenta a resistência do sujeito à

desestabilização psíquica ou somáticadesestabilização psíquica ou somática3)3) Trabalho como mediador da saúde (DEJOURS; Trabalho como mediador da saúde (DEJOURS;

ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Sofrimento patogênicoSofrimento patogênico: : 1)1) Após utilizados todos os recursos defensivos, um Após utilizados todos os recursos defensivos, um

sofrimento residual passa a destruir o aparelho sofrimento residual passa a destruir o aparelho mental e equilíbrio psíquicomental e equilíbrio psíquico

2)2) Surge quando todas as margens de liberdade na Surge quando todas as margens de liberdade na transformação, gestão e aperfeiçoamento da transformação, gestão e aperfeiçoamento da organização do trabalho já foram utilizadasorganização do trabalho já foram utilizadas

3)3) Quando há repetição, frustração, aborrecimento, Quando há repetição, frustração, aborrecimento, medo e sentimento de impotência (DEJOURS; medo e sentimento de impotência (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 12: Trabalho e Sofrimento

ESTRATÉGIA DEFENSIVA ESTRATÉGIA DEFENSIVA

AlvoAlvo: modificação, transformação e : modificação, transformação e eufemização da percepção dos eufemização da percepção dos trabalhadores sobre a realidade que os faz trabalhadores sobre a realidade que os faz sofrer (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)sofrer (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

FuncionamentoFuncionamento: retorno da relação : retorno da relação subjetiva com as pressões patogênicas. Na subjetiva com as pressões patogênicas. Na esfera mental, os trabalhadores colocam-se esfera mental, os trabalhadores colocam-se na posição de agentes ativos de um desafio, na posição de agentes ativos de um desafio, provocação ou minimização (DEJOURS; provocação ou minimização (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 13: Trabalho e Sofrimento

Diferença em relação ao mecanismo de defesa Diferença em relação ao mecanismo de defesa individual: individual:

1)1) o mecanismo está interiorizado, e a estratégia o mecanismo está interiorizado, e a estratégia sustenta-se em um consensosustenta-se em um consenso

2)2) São coordenadas e unificadas por regras São coordenadas e unificadas por regras defensivas; daí o termo “estratégia” (DEJOURS; defensivas; daí o termo “estratégia” (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Quando as ameaças contra a estratégia são Quando as ameaças contra a estratégia são combatidas, ela se torna um objetivo. Daí:combatidas, ela se torna um objetivo. Daí:

1)1) A vivência subjetiva é de que o sofrimento resulta A vivência subjetiva é de que o sofrimento resulta do enfraquecimento da estratégia defensiva, e não do enfraquecimento da estratégia defensiva, e não do trabalhodo trabalho

2)2) A estratégia de defesa deixa de ser vista como A estratégia de defesa deixa de ser vista como uma defesa contra o sofrimento, e passa a ser uma uma defesa contra o sofrimento, e passa a ser uma promessa de felicidadepromessa de felicidade

3)3) A defesa da defesa é erigida em ideologia, A defesa da defesa é erigida em ideologia, passando a defesa a se tornar programa de ação passando a defesa a se tornar programa de ação coletiva (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)coletiva (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 14: Trabalho e Sofrimento

Ideologias defensivas constroem um imaginário Ideologias defensivas constroem um imaginário social que se opõe à elaboração do sofrimento, à social que se opõe à elaboração do sofrimento, à avaliação da realidade e ação de transformação avaliação da realidade e ação de transformação (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)

Page 15: Trabalho e Sofrimento

TRABALHO E MEDOTRABALHO E MEDO Uma estratégia defensiva particular recai Uma estratégia defensiva particular recai

significativamente sobre o medo, sintetizada na significativamente sobre o medo, sintetizada na idéia do “não querer é suficiente para não ser idéia do “não querer é suficiente para não ser vítima” (DEJOURS, 1992)vítima” (DEJOURS, 1992)

Medo surge da “oposição entre a natureza coletiva e Medo surge da “oposição entre a natureza coletiva e material do risco residual e a natureza individual e material do risco residual e a natureza individual e psicológica da prevenção a cada instante de psicológica da prevenção a cada instante de trabalho” (DEJOURS, 1992, p.64)trabalho” (DEJOURS, 1992, p.64)

Acrescentar o medo suposto (DEJOURS, 1992)Acrescentar o medo suposto (DEJOURS, 1992)

Além de multiplicar o medo, a ignorância quanto aos Além de multiplicar o medo, a ignorância quanto aos limites do risco e dos métodos de prevenção limites do risco e dos métodos de prevenção aumenta também o custo mental do trabalho aumenta também o custo mental do trabalho (DEJOURS, 1992)(DEJOURS, 1992)

Page 16: Trabalho e Sofrimento

O medo precisa ser relativamente neutralizado O medo precisa ser relativamente neutralizado (não aparecer a qualquer momento); se não, (não aparecer a qualquer momento); se não, executar as tarefas tornar-se-ia inviável executar as tarefas tornar-se-ia inviável (DEJOURS, 1992)(DEJOURS, 1992)

Negação do medo chega, em alguns casos, ao Negação do medo chega, em alguns casos, ao ponto de o medo só aparece camuflado; por ponto de o medo só aparece camuflado; por exemplo, através de sintomas medicalizados exemplo, através de sintomas medicalizados (DEJOURS, 1992)(DEJOURS, 1992)

Uma das maneiras com que mostra o desprezo Uma das maneiras com que mostra o desprezo pelo perigo são as performances pessoais em que pelo perigo são as performances pessoais em que se aumenta o risco do trabalho. Aqui, o se aumenta o risco do trabalho. Aqui, o trabalhador cria o risco, e não mais está sujeito trabalhador cria o risco, e não mais está sujeito ao perigo (DEJOURS, 1992)ao perigo (DEJOURS, 1992)

Resistência perante campanhas de segurança, Resistência perante campanhas de segurança, “trotes”, uso de álcool, estimulação a relações de “trotes”, uso de álcool, estimulação a relações de suspeita entre trabalhadores (DEJOURS, 1992)suspeita entre trabalhadores (DEJOURS, 1992)

Page 17: Trabalho e Sofrimento

Medo utilizado como motor da inteligência Medo utilizado como motor da inteligência (DEJOURS, 2000)(DEJOURS, 2000)

Ultrapassando certo nível e duração, o medo Ultrapassando certo nível e duração, o medo paralisa, porque abala o moral do coletivo, paralisa, porque abala o moral do coletivo, inclusive em situações extremas como a da inclusive em situações extremas como a da guerra (DEJOURS, 2000)guerra (DEJOURS, 2000)

Page 18: Trabalho e Sofrimento

REFLEXOS DA ANSIEDADEREFLEXOS DA ANSIEDADE

Degradação do funcionamento mental e do Degradação do funcionamento mental e do equilíbrio psicoafetivo: equilíbrio psicoafetivo:

1)1) necessidade de descarregar a agressividade necessidade de descarregar a agressividade contamina relações exteriores ao trabalhocontamina relações exteriores ao trabalho

2)2) Consumo de psicotrópicos pode ser uma Consumo de psicotrópicos pode ser uma forma de controlar agressividade e tensão forma de controlar agressividade e tensão internainterna

Degradação do organismo: ansiedade Degradação do organismo: ansiedade resultante das ameaças à integridade física resultante das ameaças à integridade física é de natureza mental (DEJOURS, 1992)é de natureza mental (DEJOURS, 1992)

Page 19: Trabalho e Sofrimento

SOFRIMENTO ÉTICOSOFRIMENTO ÉTICO

Estratégias defensivas, em alguns casos, tornam Estratégias defensivas, em alguns casos, tornam tolerável não apenas o sofrimento psíquico, mas o tolerável não apenas o sofrimento psíquico, mas o sofrimento ético (DEJOURS, 2000)sofrimento ético (DEJOURS, 2000)

Sofrimento ético: não o sofrimento decorrente do Sofrimento ético: não o sofrimento decorrente do mal padecido pelo sujeito, mas aquele mal padecido pelo sujeito, mas aquele experimentado ao cometer, em nome do trabalho, experimentado ao cometer, em nome do trabalho, atos que condena moralmente (DEJOURS, 2000)atos que condena moralmente (DEJOURS, 2000)

““(...) a intolerância afetiva para com a própria (...) a intolerância afetiva para com a própria emoção reacional acaba levando o sujeito a emoção reacional acaba levando o sujeito a abstrair-se do sofrimento alheio por uma atitude de abstrair-se do sofrimento alheio por uma atitude de indiferença – logo, de intolerância para com o que indiferença – logo, de intolerância para com o que provoca seu sofrimento” (DEJOURS, 2000, p.46)provoca seu sofrimento” (DEJOURS, 2000, p.46)

Page 20: Trabalho e Sofrimento

““a passagem pelo coletivo, na participação na a passagem pelo coletivo, na participação na estratégia coletiva de defesa contra o medo ou a estratégia coletiva de defesa contra o medo ou a ameaça, confirma inevitavelmente as duas ameaça, confirma inevitavelmente as duas posições de vítima e de carrasco, de submissão e posições de vítima e de carrasco, de submissão e de ameaça.de ameaça.

O resultado desse processo é que quem se O resultado desse processo é que quem se esforça para vencer o medo causado pela ameaça esforça para vencer o medo causado pela ameaça contra a própria integridade física e moral no contra a própria integridade física e moral no exercício de uma “atividade coordenada útil”, ou exercício de uma “atividade coordenada útil”, ou seja, de um trabalho, é levado, seja, de um trabalho, é levado, nolens volensnolens volens, a , a se tornar por sua vez cúmplice da violência e a se tornar por sua vez cúmplice da violência e a justificá-la em nome da eficácia do domínio e do justificá-la em nome da eficácia do domínio e do aprendizado para vencer o medo” (DEJOURS, aprendizado para vencer o medo” (DEJOURS, 2000, p.105) (grifo do autor)2000, p.105) (grifo do autor)

Dominação protege de um contágio pelos fracos Dominação protege de um contágio pelos fracos (DEJOURS, 2000)(DEJOURS, 2000)

Page 21: Trabalho e Sofrimento

““A violência, a injustiça, o sofrimento infligidos a A violência, a injustiça, o sofrimento infligidos a outrem só podem se colocar ao lado do bem se outrem só podem se colocar ao lado do bem se forem infligidos no contexto de forem infligidos no contexto de uma imposição de uma imposição de trabalho ou de uma “missão” que lhes sublime a trabalho ou de uma “missão” que lhes sublime a significaçãosignificação” (DEJOURS, 2000, p.100) (grifo do ” (DEJOURS, 2000, p.100) (grifo do autor)autor)

““Coragem” utilizada em proveito de uma Coragem” utilizada em proveito de uma atividade permite uma justificativa ética da atividade permite uma justificativa ética da violência (DEJOURS, 2000)violência (DEJOURS, 2000)

Page 22: Trabalho e Sofrimento

TRABALHO E VIRILIDADETRABALHO E VIRILIDADE

Virilidade, prometendo prestígio e sedução, sustenta Virilidade, prometendo prestígio e sedução, sustenta a luta contra as manifestações do medo, sentimento a luta contra as manifestações do medo, sentimento que não desaparece com a justificativa utilitarista da que não desaparece com a justificativa utilitarista da “coragem”, que pode, ao máximo, abalar “coragem”, que pode, ao máximo, abalar sentimentos de culpa e vergonha (DEJOURS, 2000)sentimentos de culpa e vergonha (DEJOURS, 2000)

Virilidade: capacidade de se infligir sofrimento ou Virilidade: capacidade de se infligir sofrimento ou dor (violência) contra outrem, particularmente os dor (violência) contra outrem, particularmente os que são dominados, em nome do exercício, que são dominados, em nome do exercício, demonstração ou restabelecimento do domínio e demonstração ou restabelecimento do domínio e poder sobre o outro, inclusive pela força (DEJOURS, poder sobre o outro, inclusive pela força (DEJOURS, 2000)2000)

““a virilidade, mesmo em uma dimensão a virilidade, mesmo em uma dimensão psicoimaginária, está associada ao medo e à luta psicoimaginária, está associada ao medo e à luta contra o medo” (DEJOURS, 2000, p.85)contra o medo” (DEJOURS, 2000, p.85)

Page 23: Trabalho e Sofrimento

““(...) a virilidade não se mostra apenas nas (...) a virilidade não se mostra apenas nas condutas ou nos comportamentos. Evidencia-se condutas ou nos comportamentos. Evidencia-se também, ainda mais fundamentalmente, na também, ainda mais fundamentalmente, na ordem do discurso. O discurso viril é um ordem do discurso. O discurso viril é um discurso de domínio, apoiado no conhecimento, discurso de domínio, apoiado no conhecimento, na demonstração, no raciocínio lógico, na demonstração, no raciocínio lógico, supostamente totalizante. O conhecimento supostamente totalizante. O conhecimento científico e técnico possibilitaria afastar toda científico e técnico possibilitaria afastar toda ameaça de fraqueza e evitar a experiência do ameaça de fraqueza e evitar a experiência do fracasso” (DEJOURS, 2000, p.101)fracasso” (DEJOURS, 2000, p.101)

Coragem X virilidade:Coragem X virilidade:1)1) Coragem é conquista individualCoragem é conquista individual2)2) Coragem não é definitivamente adquiridaCoragem não é definitivamente adquirida3)3) Coragem dispensa reconhecimento alheio, pode Coragem dispensa reconhecimento alheio, pode

ser julgada pela própria consciênciaser julgada pela própria consciência4)4) Coragem precisa do complemento da viirlidade Coragem precisa do complemento da viirlidade

quando é mobilizada para responder a uma quando é mobilizada para responder a uma injunção (DEJOURS, 2000)injunção (DEJOURS, 2000)

Page 24: Trabalho e Sofrimento

““Levando em conta o papel capital da virilidade na Levando em conta o papel capital da virilidade na distorção social que faz o mal passar por bem, cumpre distorção social que faz o mal passar por bem, cumpre admitir que, quando existe uma admitir que, quando existe uma pressãopressão ou uma injunção ou uma injunção para superar o medo, os processos psíquicos individuais e para superar o medo, os processos psíquicos individuais e coletivos apelam mais para a virilidade defensiva do que coletivos apelam mais para a virilidade defensiva do que para a coragem moral.para a coragem moral.

Quando o medo não resulta da violência alheia nem da Quando o medo não resulta da violência alheia nem da necessidade de enfrentar um adversário ou inimigo, e sim necessidade de enfrentar um adversário ou inimigo, e sim da ameaça exercida por condições físicas, catástrofes da ameaça exercida por condições físicas, catástrofes naturais, catástrofes industriais ou simplesmente pelos naturais, catástrofes industriais ou simplesmente pelos riscos de acidente ou morte no trabalho, os processos riscos de acidente ou morte no trabalho, os processos psíquicos são os mesmos” (DEJOURS, 2000, p.102) (grifo do psíquicos são os mesmos” (DEJOURS, 2000, p.102) (grifo do autor)autor)

““A virilidade é o mal ligado a uma virtude – a coragem – em A virilidade é o mal ligado a uma virtude – a coragem – em nome das necessidades inerentes à atividade de trabalho. A nome das necessidades inerentes à atividade de trabalho. A virilidade é a forma banalizada pela qual se exprime a virilidade é a forma banalizada pela qual se exprime a justificação dos meios pelos fins” (DEJOURS, 2000, p.133)justificação dos meios pelos fins” (DEJOURS, 2000, p.133)

Fragilidade não como não suportar sofrimento, mas como Fragilidade não como não suportar sofrimento, mas como não infligí-lo a outrem (DEJOURS, 2000)não infligí-lo a outrem (DEJOURS, 2000)

Page 25: Trabalho e Sofrimento

APRENDIZADO DA CORAGEMAPRENDIZADO DA CORAGEM

Alcançar a coragem, resistir à dor e vencer o medo Alcançar a coragem, resistir à dor e vencer o medo por meio do sofrimento do corpo:por meio do sofrimento do corpo:

1)1) Aprendizado da submissão voluntária e da Aprendizado da submissão voluntária e da cumplicidade com quem exerce a violênciacumplicidade com quem exerce a violência

2)2) Justificar a violência (ela estaria a serviço da virtude)Justificar a violência (ela estaria a serviço da virtude)

3)3) Aperfeiçoar o aprendizado da coragem, de forma a Aperfeiçoar o aprendizado da coragem, de forma a ser capaz de cometer violência contra outrem quer ser capaz de cometer violência contra outrem quer por motivos pedagógicos, quer para legitimar sua por motivos pedagógicos, quer para legitimar sua condição de suportar o sofrimento (suporta não condição de suportar o sofrimento (suporta não apenas o dele, mas também o de outrem (DEJOURS, apenas o dele, mas também o de outrem (DEJOURS, 2000)2000)

Page 26: Trabalho e Sofrimento

TRABALHO E MORALTRABALHO E MORAL

Colaboração ativa é feita, em maioria, por sujeitos Colaboração ativa é feita, em maioria, por sujeitos sem distúrbios do senso moral (DEJOURS, 2000)sem distúrbios do senso moral (DEJOURS, 2000)

Paranóicos e perversos são mais frequentemente Paranóicos e perversos são mais frequentemente líderes do sistema (DEJOURS, 2000)líderes do sistema (DEJOURS, 2000)

““A banalidade do mal não resulta da A banalidade do mal não resulta da psicopatologiapsicopatologia, mas da normalidade” (DEJOURS, , mas da normalidade” (DEJOURS, 2000, p.83) (grifo do autor)2000, p.83) (grifo do autor)

Racionalidade ética não é abolida, mas invertida Racionalidade ética não é abolida, mas invertida (DEJOURS, 2000)(DEJOURS, 2000)

Page 27: Trabalho e Sofrimento

TRABALHO E SAÚDETRABALHO E SAÚDE

Quando a relação com a organização do Quando a relação com a organização do trabalho é favorável, uma ou duas destas trabalho é favorável, uma ou duas destas condições são atendidas:condições são atendidas:

1)1) O exercício da tarefa leva à descarga O exercício da tarefa leva à descarga psíquica e, então, ao “prazer de funcionar”psíquica e, então, ao “prazer de funcionar”

2)2) O conteúdo, ritmo e modo operatório do O conteúdo, ritmo e modo operatório do trabalho é fonte de satisfação sublimatória. trabalho é fonte de satisfação sublimatória. O trabalhador pode modificar a organização O trabalhador pode modificar a organização do trabalho de modo a satisfazer do trabalho de modo a satisfazer necessidades/desejos (DEJOURS, 1992) necessidades/desejos (DEJOURS, 1992)

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PROPOSTAPROPOSTA

Mobilização da inteligência pela Mobilização da inteligência pela gratificação e reconhecimento (DEJOURS, gratificação e reconhecimento (DEJOURS, 2000)2000)

Re-orientação profissional: para considerar Re-orientação profissional: para considerar as aptidões psicomotoras, psicossensoriais as aptidões psicomotoras, psicossensoriais e psíquicas, necessidades da economia e psíquicas, necessidades da economia psicossomática (DEJOURS; ABDOUCHELI; psicossomática (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994)JAYET, 1994)

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REFERÊNCIASREFERÊNCIAS DEJOURS, Christophe. DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalhoA loucura do trabalho: :

estudo de psicopatologia do trabalho. 5 ed. estudo de psicopatologia do trabalho. 5 ed. São Paulo: Cortez, 1992. 168 p.São Paulo: Cortez, 1992. 168 p.

_____. _____. A banalização da injustiça socialA banalização da injustiça social. 3 . 3 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. 160 p.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. 160 p.

DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI, Elisabeth; DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI, Elisabeth; JAYET, Christian. JAYET, Christian. Psicodinâmica do trabalhoPsicodinâmica do trabalho: : contribuições da Escola Dejouriana à análise da contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. 145 p.Paulo: Atlas, 1994. 145 p.