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3º Encontro da Região Norte da Sociedade Brasileira de Sociologia: Amazônia e Sociologia: fronteiras do século XXI
Nome e número do GT:
GT 10 – Mercados Interculturais na Amazônia: práticas, linguagens e identidades em contexto de diversidade
Título do Trabalho:
Trabalho e Sociobiodiversidade em portos, feiras e mercados na orla fluvial de Belém, Pará
Autoras:
Iraneide Souza Silva
Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará (PPGCA/UFPA/EMBRAPA/MPEG). Assistente em Ciência, Tecnologia e Inovação,
do Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI. E-mail: [email protected]
Edna Maria Ramos de Castro
Doutora em Sociologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris, França. Professora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEAUFPA) e Pesquisadora
do CNPq. E-mail: [email protected]
Manaus, 26, 27 e 28 de setembro de 2012
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Trabalho e Sociobiodiversidade em portos, feiras e mercados na orla fluvial de Belém
Iraneide Souza Silva1
Edna Maria Ramos de Castro2
1 Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará (PPGCA/UFPA/EMBRAPA/MPEG).
Assistente em CT&I, do Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Sociologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris, França. Professora do
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEAUFPA) e Pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected]
Resumo – São abordados aspectos do trabalho informal de agentes nos fluxos comerciais de espécies da flora e fauna regionais, de valor alimentar, medicinal, ornamental, artesanal e outros usos, definidos como recursos da sociobiodiversidade, especialmente produtos florestais não madeireiros (PFNM), resultantes do extrativismo, agricultura, pesca e coleta, inseridos no mercado local para comercialização. O universo estudado é composto por trabalhadores informais em portos, feiras e mercados localizados na orla fluvial da cidade de Belém: Complexo do Ver-o-Peso, Porto do Açaí/Complexo do Jurunas, Porto da Palha e Feira de Icoaraci, pressupondo-se que são essenciais para a reprodução socioeconômica de grupos envolvidos na circulação de produtos regionais oriundos do interior do estado do Pará.
Palavras-chave: Sociobiodiversidade; Trabalho informal; Orla fluvial; Belém-Pará.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, serão apresentados aspectos da organização do trabalho, como estratégias de
reprodução social de agentes envolvidos nos fluxos comerciais associados à
sociobiodiversidade regional, convertida em bens de consumo e de troca, através da inserção
de produtos no mercado local, tendo como lócus de observação espaços de feiras, mercados e
portos localizados na a orla fluvial da cidade de Belém, capital do Estado do Pará
As questões a serem abordadas têm como pressupostos a relação sociedade x natureza e, neste
caso, exigem “rupturas disciplinares e olhar crítico sobre as condições de produção do
conhecimento” (CASTRO; PINTON, 1997, p. 9). Assim, sob a orientação das ciências sociais
associadas às ciências ambientais e outras áreas, busca-se uma aproximação da
sociobiodiversidade com a categoria sociológica do trabalho, mais direcionada ao trabalho
informal, tendo como ponto de partida as especificidades de uma metrópole amazônica, cuja
configuração urbana e formação econômica tiveram entre os determinantes históricos o
interesse econômico pelos recursos naturais.
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Os temas envolvem os recursos da Sociobiodiversidade – termo que “expressa a inter-relação
entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais” (BRASIL, 2009),
com base em Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM)3
3 Entre os PFNM encontram-se as frutas regionais, verduras, legumes, ervas, sementes, cipós, resinas, folhagens
e outros produtos de valor comercial (REBÊLO et al., 1997; SANTOS et al., 2003).
, de uso alimentar, medicinal,
ornamental, artesanal, recursos pesqueiros, dentre outros (REBÊLO et al., 1997; SANTOS et
al., 2003), que aqui são vistos como provedores de benefícios para populações rurais e para
trabalhadores urbanos.
Buscando-se conhecer a realidade dos atores envolvidos na comercialização de PFNMs, foram delimitados os portos, feiras e mercados localizados orla fluvial de Belém para a observação em e, quais sejam: Porto da Palha, Porto do Açaí e Complexo de Abastecimento do Jurunas (orla sul); Complexo do Ver-o-Peso (orla central) e Feira da Orla de Icoaraci (orla oeste), onde ocorre o escoamento de parte da produção da região das ilhas e outras localidades o interior do estado do Pará, favorecido pela posição da cidade em relação ao rio Guamá e à baía do Guajará, na comunicação via fluvial entre a capital e o interior do estado do Pará. Neste sentido, a orla da cidade converte-se em espaço de interações entre o urbano e o rural.
Com o interesse em descortinar este universo e apresentar as formas de organização o trabalho informal nas feiras e mercados em Belém, encontramos contribuições sobre várias regiões do Brasil, em espaços feiras e mercados com características distintas, como apresentam Sato (2007), Rocha et al. (2010), Sá, Costa e Tavares (2006), Leitão (2010) Lima, Coelho-Ferreira e Oliveira (2011, p. 422-434), que chamam a atenção para a importância das espécies comercializadas, destacando suas propriedades e usos.
O trabalho informal associado à comercialização de produtos regionais é o principal foco de análise desta pesquisa, buscando identificar a mediação do trabalho vinculado à cadeia comercial dos PFNM e superar a visão dicotômica campo-cidade, levando-se em conta as complexidades e dinâmicas nas interações entre esses ambientes (NUNES, 2008). Essa questão fomenta o debate acerca dos conhecimentos tradicionais (CASTRO, 1999), do uso sustentável de recursos da sociobiodiversidade, o seu potencial econômico, as formas de organização do trabalho informal, vinculadas à comercialização desses produtos.
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1. METODOLOGIA
1.1 Área de Estudo
O município de Belém localiza-se entre as coordenadas 01º27’20”S e 48º”30’15”W. A porção
continental ou Região Metropolitana (RMB) engloba os municípios: Belém, Ananindeua,
Marituba, Benevides e Santa Bárbara. A porção insular é composta por 39 ilhas fluviais,
banhadas pelo rio Guamá e baía do Guajará, no estuário do rio Pará4. A espacialização
municipal é delimitada em oito (08) Distritos Administrativos (DAs) (Lei nº 7682, de 5 de
janeiro de 1994) que englobam 71 bairros (Lei
Fonte: Laboratório de Sensoriamento Remoto (UAS/MPEG), 2011.
nº 7.806, de 30 de julho de 1996).
Na delimitação deste estudo, o lócus de investigação são espaços da orla fluvial de Belém, que
começa nos limites com o município de Ananindeua (RMB) na parte sul, e termina nos limites de
com o mesmo município, ao norte, onde se localizam os espaços investigados (Figura 1).
Figura 1. Localização da cidade de Belém, com indicação dos locais pesquisados.
4 O rio Pará não tem nascente própria e deve ser entendido como um conjunto hidrográfico onde desembocam os rios
Araguaia, Tocantins, Capim, Acará, Moju, Guamá, Anapu, Jacundá, Pacajás e Araticu, originando baías e enseadas: baía das Bocas, de Curralinho, de Goiabal, do Guajará e a de Marajó, até desaguar no oceano (SILVA, 2010, p. 23).
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1.2 Procedimentos metodológicos
Optou-se pela perspectiva quanti-qualitativa e os procedimentos: survey, aplicação de
questionários, entrevistas, documentação fotográfica e análise estatística. Com base nos dados
da Secretaria Municipal de Economia (SECON), o universo da pesquisa foi definido a partir de
840, trabalhadores (permissionários) que comercializam produtos regionais em portos, feiras e
mercados da orla de Belém. O cálculo da amostra definitiva para populações finitas
(BARBETTA, 2008) determinou 138 entrevistas, sendo: 86 no Ver-o-Peso, 22 no Porto do
Açaí/Complexo de Abastecimento do Jurunas, 24 no Porto da Palha e 6 na Feira da Orla de
Icoaraci. As variáveis “trabalho”, “ambiente” e “biodiversidade”, possibilitam aspectos
socioeconômicos, condições de trabalho e disponibilidade de produtos no universo pesquisado.
2. ASPECTOS DO TRABALHO INFORMAL E NO OLHAR SOBRE BELÉM
A expressão “trabalho informal” tem suas origens nos estudos da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) no Programa Mundial de Emprego, de 1972. O ponto de partida de exame
e classificação do trabalho informal da OIT é a unidade econômica “caracterizada pela
produção em pequena escala, pelo reduzido emprego de técnicas e pela quase inexistente
separação entre o capital e o trabalho” (SILVA; BARBOSA, 2011).
O trabalho informal é, em geral, analisado a partir da precarização do trabalho formal. A
informalidade do trabalho tem caráter múltiplo ou heterogêneo e fica à margem da intervenção do
poder público. Engloba, “entre outras características– pequenos estabelecimentos, sem
delimitação da relação capital-trabalho, trabalhos por conta própria, a maioria à margem de
qualquer regulamentação social” (CEPAL, 1998 apud CACCIAMALI, 1999).
Para Milton Santos (2008), na organização da economia, da sociedade e do espaço em países
subdesenvolvidos a cidade pode ser estudada a partir de dois circuitos econômicos distintos pelos
padrões de tecnologia e pelas formas de organização: o circuito superior caracterizado pela
modernização tecnológica, monopólios, internacionalização e outros; o circuito inferior é
constitui-se de atividades de pequena dimensão, de interesse de populações pobres, e mantém
vínculos locais e regionais (SANTOS, 2008, p. 22).
Numa visão sociológica, Oliveira (1972) analisa criticamente o modelo desenvolvimentista
brasileiro pós-Revolução de 1930, que “marca o fim da hegemonia agrário-exportadora e a
passagem para uma estrutura produtiva de base urbano-industrial”, como uma extensão da
lógica capitalista dos países desenvolvidos, cujas estratégias de reprodução incluem a
intervenção do Estado na reprodução do capital (OLIVEIRA, 1972, p. 12).
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Novas formas de participação do trabalho informal ocorrem a partir da precarização do trabalho formal, indicando que a informalidade e acumulação formam um conjunto coerente, na geração de demandas ao setor de serviços. Em outras análises, identificam-se positividades no trabalho informal, como apontam Silva e Barbosa (2011). Milton Santos (2008) também aponta aspectos positivos – ou convenientes – na dinâmica do circuito inferior da economia “por seu papel de abrigo da população pobre, migrante ou originária da cidade, que só raramente pode consumir e trabalhar no circuito moderno (superior)” (SANTOS, 2008, p. 201).
Em termos regionais, análises sobre o trabalho informal no ambiente urbano revelam similaridades no meio rural, como apontam Sá, Costa e Tavares (2006), com base nas práticas produtivas de extrativistas e agricultores, em Santarém (PA). Sena (1999) oferece um panorama sobre a informalidade do trabalho no Brasil e aponta aspectos da informalidade em Belém, a partir de estudo sobre vendedores ambulantes de produtos alimentícios, com indicações de que este mercado possui características específicas, tanto de precarização quanto de possibilidades de ocupação e ingresso de novos atores nesse mercado, assim como Leitão (2010) e colaboradores apresentam as várias faces do Complexo do Ver-o-Peso, como local de “tensão, luta pela vida, pobreza, travessia... onde a cultura e a diversidade aparecem sem disfarces”, oferecendo importantes contribuições, análises, olhares múltiplos, sobre o trabalho em local de grande importância comercial e cultural para a cidade de Belém.
3. O TRABALHO ASSOCIADO À SOCIOBIODIVERSIDADE
Neste estudo, busca-se identificar a mediação do trabalho vinculado à cadeia comercial dos
PFNMs. Na opção de proceder a investigação a partir do ambiente urbano, foram
considerados, entre outros aspectos, a organização do trabalho, a ocupação socioespacial, as
formas de apropriação e uso dos espaços, os fluxos comerciais, levando-se em conta as nas
interações entre esses ambientes.
Neste contexto, destacam-se as estratégias dos produtores e extrativistas, que “formam um
sistema de redes, muitas existindo na informalidade, e fomentam um complexo movimento de
trocas econômicas, com produtos artesanais, agrícolas, extrativistas, industriais e comerciais”
(CASTRO, 2006). Estas tomam forma pela comercialização e inserção dos produtos no mercado
local, mediados pelo trabalho ambiente urbano – como espaço de reprodução lógica do capital.
Desta forma, o trabalho é percebido como vetor de transformação de produtos em bens de
consumo e de troca, como também fator de permanência, que historicamente permite a
reprodução social de populações no ambiente rural, bem como de trabalhadores do mercado
informal no ambiente urbano.
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3.1 A produção do interior paraense
Entre os recursos da sociobiodiversidade (PFNMs), destacam-se o pescado, mariscos e hortifrutigranjeiros. As frutas regionais têm grande potencial econômico e valor social e cultural. Entre as mais populares com potencial de exportação estão a castanha-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl.)
A partir dos dados coletados, indica-se a vocação produtiva da Região das Ilhas (Figura 2), que se soma a de municípios paraenses, que encontram em Belém o principal polo de escoamento, com representação na economia local. Nesta amostragem, tem-se o volume anual de hortifrutigranjeiros disponíveis comercialização em 2010 (SECON, 2011). Os produtos recebidos nos portos pesquisados da orla de Belém são procedentes de municípios paraenses e redistribuídos às feiras e mercados da cidade (Tabela 1).
, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum, o bacuri (Platonia insignis Mart.), entre outras (CAVALCANTE, 2010). Um dos principais produtos são os frutos da palmeira açaí (Euterpe Oleracea Mart.), cuja comercialização tem reflexos positivos na economia, como um dos principais produtos exportados, sendo o Pará o maior produtor.
Figura 2. Identificação dos principais produtos provenientes da Região das Ilhas.
Fonte: Laboratório de Sensoriamento Remoto do Museu Paraense Emílio Goeldi, 2011 .
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Tabela 1. Volume (kg) de hortifrutigranjeiros ofertados nos Portos de Belém em 2010.
Produtos Hortifrutigranjeiros
Portos Municipais
Feira do Açaí*
Porto do Açaí
Porto da Palha
Porto de Icoaraci
Total Geral
Abacaxi 883.762 101.032 984.794 Abobora 89.216 33.300 122.516 Açaí 20.322.825 18.616.000 1.363.500 7.987.100 48.289.425 Acerola 69.487 69.487 Bacaba 1.820 52.180 54.000 Bacuri 12.272 47 650 12.969 Banana 785.320 55.160 351.600 33.480 1.225.560 Biribá 4.171 1.925 6.096 Cacau 1.275 200 1.475 Caju 210 37 247 Castanha-do-pará 76.884 76.884 Coco seco 137.828 54.294 192.122 Coco verde 1.066.555 318.127 1.384.682 Cupuaçu 54.611 26.612 58.718 139.941 Farinha 716.310 8.340 677.700 54.000 1.456.350 Goiaba 5.832 5.832 Graviola 380 2.000 2.380 Ingá 2.088 2.088 Jaca 8.613 4.725 13.338 Jambo 1.114 1.114 Laranja 250.796 11.670 262.466 Limão galego 97.238 3.059 100.297 Limão 48.809 2.357 51.166 Macaxeira 34.350 34.350 Mamão 158.460 5.060 163.520 Manga 219.680 4.100 36.459 260.239 Maracujá 76.819 76.819 Melancia 612.728 49.552 662.280 Milho verde 13.713 13.713 Muruci 1.821 6.993 8.814 Piquiá 10.687 10.687 Pupunha 72.964 55.856 8.268 137.088 Taperabá 12.501 40.326 52.827 Tucumã 7.920 7.920 Tangerina 27.152 627 27.779 Uxi 3.505 3.372 1.000 7.877 Total Geral 25.886.353 18.824.867 2.392.800 8.815.122 55.919.142
Fonte: SECON, 2011. Volume: (Kg). (*) Porto de abastecimento da Feira do Ver-o-Peso.
Portanto, os produtos regionais têm múltiplas possibilidades de análise, pois transcendem o
valor bioecológico e ganham outras dimensões econômica, cultural e simbólica, que refletem o
modo de vida de populações, usos e costumes regionais e, ainda, contribuem para a reprodução
de populações tradicionais, estendendo os benefícios a trabalhadores vinculados à sua
comercialização. Nessa direção, conhecer a realidade do trabalho em portos, feiras e mercados
da orla fluvial torna-se primordial para a análise sobre as formas de apropriação dos espaços, a
produção e reprodução das formas de trabalho dos atores envolvidos e os benefícios gerados
pela sociobiodiversidade.
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3.2 Portos, feiras e mercados: a sociobiodiversidade em movimento
Em Belém, os recursos da sociobiodiversidade regional que são inseridos no mercado através dos
portos comerciais e da Ceasa. São cerca de 50 (cinquenta) feiras, mercados e portos distribuídos
nos bairros da cidade5
Segundo Leitão (2010), no Ver-o-Peso também se pode “identificar sociabilidades e princípios
organizativos reconhecidos por aqueles que ali trabalham e circulam”. Nessas relações, tem papel
importante na interface urbano-rural, pois, ao mesmo tempo, localiza-se às margens da baía do
Guajará e mantém vínculos sociais e culturais com o ambiente ribeirinho, como também
“encontra-se no coração de uma cidade de mais de um milhão de habitantes” e recebe diariamente
milhares de pessoas”, coexistindo nitidamente traços da cultura e do modo de trabalho ribeirinho
que interage com o modo de vida tipicamente urbano (LEITÃO, 2010, p. 25).
, fazendo frente à força comercial dos supermercados e hipercenters, que
representam a parte empresarial de grande porte no abastecimento da cidade. Além disso, são
locais de sociabilidades na dinâmica social dos respectivos bairros.
Na orla fluvial, os portos e feiras delimitados para o trabalho de campo destacam-se pela
circulação de produtos da biodiversidade e pela participação de produtores rurais e de
feirantes, atravessadores e outras categorias ligadas ao trabalho informal:
Orla central: Mercado e Feira do Ver-o-Peso; Orla sul: Porto da Palha; Porto do Açaí e Complexo de Abastecimento do Jurunas; Orla oeste: Feira da Orla de Icoaraci.
a) Complexo do Ver-o-Peso
O Ver-o-Peso tem origem no século XVII, quando os colonizadores tinham o controle
alfandegário de tudo que se comercializava na Amazônia. Em março de 1688, ao lado do
Forte do Presépio (atual Feira do Açaí) foi criado um posto de fiscalização e tributos – a casa
do Haver-o-Peso, onde se controlava as transações comerciais.
A partir de então, o Ver-o-Peso faz parte a história de Belém, nos tempos áureos e nos
reveses econômicos, mantendo-se como referência para as demais feiras e mercados de
Belém e de cidades do interior. Na sua trajetória, tem resistido à pressão do grande capital,
frente às redes de supermercados e atacadistas, como um importante centro de
abastecimento, pela diversidade e especificidades dos produtos oferecidos, especialmente os
regionais (CAMPELO, 2010, p. 43).
5 Não incluídos os dados das ilhas de Mosqueiro e Caratateua (Outeiro), que fazem parte do município de Belém.
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• A feira do Ver-o-Peso
No sentido feira-mercado, localizam-se os setores organizados por tipos de produtos: Plantas
(ornamentais e medicinais): 6 lojas; Mandioca/Macaxeira (in natura e processada): 12 boxes;
Artesanato: 16 boxes; Polpas: 8 boxes; Farinha, peixe/camarão seco, mercearia, castanhas,
molhos: 145 boxes; Hortifrutigranjeiros: 622 boxes e Ervas: 80 boxes (Figura 3 a-c).
Figura 3a-c. Alguns setores da feira do Ver-o-Peso: a) Frutas regionais; b) setor de farinha; c) setor de ervas.
a b c
• O Mercado de Ferro:
Área interna: 60 boxes ou talhos padronizados para venda de peixe fresco, numa diversidade de espécies: dourada, filhote, piramutada, pescada branca e amarela, tamuatá, surubim, tucunaré, tambaqui, bagres, pescada gó e muitas outras. O trabalho é organizado, em geral, com dois peixeiros por talho, na venda durante as manhãs, até aproximadamente às 13h. Na parte central da área interna há 7 boxes padronizados, equipados com balcão, pia em inox, com armário embutido, destinados à venda de camarão fresco (regional e camarão-rosa), além de mexilhão tirado e ovas (Figura 4a-b).
Área externa: são 32 lojas para venda de artigos esportivos e de pesca, descartáveis, armazém, farmácia, bares, artigos religiosos, barbearia, tabacaria, material elétrico, confecções, tecidos, bares e lanchonetes e outros (CAMPELO, 2010, p. 51). Na parte de trás do mercado há boxes com 10 tanques para venda de caranguejo. Na calçada à beira-rio, o espaço para venda (atacado) de peixe salgado (Figura 4c).
Figura 4a-c. Áreas interna e externa do Mercado de Ferro: a) Talho de peixe; b); Boxes de mariscos; c) Setor de peixe salgado.
a b c
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b) Porto da Palha
As singularidades do Porto da Palha se traduzem no seu desenho multifacetado, na convergência de atores com interesses diversos: é local de comercialização (trabalho), de moradia e de prestação de serviços. Entre as características mais marcantes da sua ocupação socioespacial, é um entreposto de produtos regionais, onde se percebem as inter-relações com o mundo ribeirinho, nas trocas comerciais e simbólicas (Figura 5a-c).
O Trapiche: os principais produtos recebidos das ilhas e cidades do interior são: açaí, farinha, cacau (seco ou molhado), carvão, frutas, mandioca e outros. O movimento no trapiche é diário, desde a madrugada, quando iniciam as atividades dos atravessadores, produtores e carregadores. O Porto também funciona precariamente como terminal de passageiros, com viagens para as localidades ribeirinhas.
A Feira: começa na Av. Bernardo Sayão, segue em direção ao trapiche e estende-se para a Trav. Padre Eutíquio. É composta por 140 equipamentos: 107 barracas, 31 tabuleiros e 2 tanques, para venda de: farinha, açaí, frutas regionais, industrializados, embutidos, refeições, mercearia, farinha, artesanato, peixe fresco e salgado, camarão fresco e seco, caranguejo, e outros.
A comunidade: as famílias residem na parte superior dos comércios ou nas vielas e becos precários, mal-conservados, sem esgotos – o acesso de veículos só é possível na rua principal. Entre as conquistas da comunidade, hoje conta com a Sociedade Beneficente do Porto da Palha, criada há 28 anos, que oferece serviços médicos, odontológicos, laboratoriais e auxílio funeral aos associados e aos ribeirinhos; contam, também, com um PM Box com policiamento 24 horas, por ser uma área considerada de risco.
Figura 5a-c. Aspectos do Porto da Palha: a) chegada de mercadorias no trapiche; b) moradias; c) feira.
a b c
c) Porto do Açaí
Trata-se de um porto público, inaugurado em novembro de 1987. Possui 93 equipamentos: 34
boxes, nove barracas e 50 arreados. Os trabalhadores são 93 permissionários, que mantêm a
Associação dos Trabalhadores do Porto do Açaí (ATPA), sediada em um dos boxes do porto
(Fgura 6a-c). No Porto do Açaí, a movimentação ocorre 24 horas por dia, ocorrendo quatro feiras.
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Na primeira feira (madrugada até às 8 h), chega o açaí de Muaná, São Sebastião da Boa Vista e
parte do açaí das ilhas de Belém; na segunda (9 às 11 h), chega o açaí das ilhas e de outras
localidades; na terceira (12 às 15 h), chegam mais barcos de Muaná, de Barcarena e de outros
municípios; na última (16 horas), além do açaí, chegam carvão, farinha e grande variedade de
frutas regionais, além da intensa movimentação de passageiros (PROJETO..., 2008, p. 4).
Além do açaí, os outros produtos que chegam ao porto também abastecem pontos de venda no
Complexo de Abastecimento do Jurunas. Pela proximidade e a rede de comercialização
estabelecida entre os dois espaços, percebeu-se uma associação natural entre porto e o mercado.
Fgura 6a-c. Aspectos do Porto do Açaí. a) Movimento de embarcações; b) Comercalização do açaí; c) Comercialização de cacau.
a b c
d) Complexo de Abastecimento do Jurunas
Foi inaugurado em 1988. Localiza-se na Av. Bernardo Sayão com a Rua Fernando Guilhon,
no bairro do Jurunas (Figura 7a-c). É estruturado com 462 equipamentos, sendo 183 barracas,
207 boxes, 49 tabuleiros, 10 talhos, 12 tanques e um arreado, para venda de: hortigranjeiros,
industrializados, refeições, mercearia, farinha, ervas, carne bovina, frango, vísceras, peixe
fresco e seco, camarão fresco e seco, caranguejo e outros. Quanto aos trabalhadores, são 309
permissionários cadastrados, que mantêm uma Associação de Feirantes. Muitos feirantes
abastecem seu comércio com produtos que chegam no Porto do Açaí: farinha, carvão e frutas.
Quanto ao pescado, abastecem na “pedra” do Ver-o-Peso.
Figura XXa-c. Aspectos do Complexo do Jurunas: a) Entrada lateral; b) Setor de ervas; c) Hortifrutigranjeiros; d) Talhos de peixes.
a c d
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e) Feira da Orla de Icoaraci
Localiza-se na parte alta, próxima à escada de acesso ao porto, instalada ao lado do Posto de
Fiscalização da Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA). Apesar da proximidade, esta área não
foi incluída no Projeto de Padronização da Orla de Icoaraci. Trata-se ocupação irregular há mais
de 10 anos (SECON/DFMP). São 24 equipamentos: 9 barracas fixas de madeira, com cobertura
de telha cerâmica e de fibra-cimento, para venda de: hortifrutigranjeiros, refeições e gelo; 13
tabuleiros, e barracas desmontáveis com cobertura de plástico para venda de peixe fresco,
camarão fresco e, ainda, dois tanques de alvenaria para venda de caranguejo (Figura 8a-c).
Figura 8a-c. Feira da Orla de Icoaraci. a) Área do trapiche; b) Barraca de hortifrutigranjeiros; c) Peixeiros.
a b c
4. RESULTADOS
Buscou-se identificar o universo de informantes, como requisito para as demais abordagens.
A maioria nasceu em Belém (54,3%), mas muitos vêm de outras localidades (44,2%), em geral,
do interior do Pará. Do total, 91,3% residem em Belém e 8,7% em outras localidades, incluído
os produtores que diária ou esporadicamente, vêm comercializar seus produtos nos portos da
capital. A maioria tem fortes vínculos familiares com o trabalho e desde a infância (71,7%) e
permanecem até hoje, continuando a atividade em família.
As famílias são constituídas por casamento ou concubinato, em média, com três filhos.
Algumas (28,9%) mantêm agregados, parentes ou não. Esta atividade é a principal fonte de
renda e agrega mão de obra familiar.
4.1 Categorias de trabalho
Segundo a legislação que rege as feiras, mercados, hortomercados e portos públicos de Belém
(Decretos nº 26.579, nº 26.580 e nº 7.682/94; nº 39.326/2001), o termo que identifica os
trabalhadores é Permissionário, ou seja, pagam pelo uso dos espaços disponibilizados pela
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SECON. A nosso ver, este termo é insuficiente para identificar categorias específicas, em
função da atividade, produtos que comercializam e/ou os serviços que oferecem.
Foi considerada a autoidentificação, e classificadas as categorias principais (Figura 9a) cuja
prática de trabalho está associada à vocação, ao conhecimento, à experiência, e à
satisfação/insatisfação com a atividade, num determinado local. Alguns trabalhadores
enquadraram-se em até duas categorias (feirante/autônomo; vendedor/artesão). A categorias
auxiliares (ou coadjuvantes) (Figura 9b), vinculam-se a atividades complementares e serviços
prestados aos trabalhadores das categorias principais.
Figura 9a-b. Categorias identificadas: a) Principais; b) Auxiliares.
a b
A categoria predominante é Feirante (47,3%). As respostas variaram em alguns setores no Ver-o-
Peso: uma parte se considera erveiro/a (5,3%) e feirante; no setor de peixe, a categoria foi peixeiro
(11,3%). Alguns se identificaram como vendedor (8,0%), incluindo os atravessadores
(marreteiros); entre os autônomos (14,0%) incluem-se os produtores rurais/extrativistas. Há outras
categorias (10,0%), como os ambulantes não cadastrados pela SECON. Entre os serviços
auxiliares ou coadjuvantes, os carregadores (31,9%), lavadores (6,8%), arrumadores (1,9%) e
outros ajudantes (3,8%) também são indispensáveis à maioria dos feirantes, tanto para o
abastecimento, quanto para a manutenção do local de trabalho.
4.2 Trabalho e renda, por gênero
As variações da renda não estão vinculadas à divisão do trabalho por gênero, mas sim à
predominância de trabalhadores do sexo masculino (83,3%) em relação ao feminino
(16,7%) (Figura 10). Com raras exceções, nas atividades que exigem resistência física,
predomina o trabalho masculino (peixes, mariscos, farinha, açaí etc.); nas atividades que
exigem habilidades e sutilezas, predomina o feminino (polpas, ervas, artesanato).
0% 10% 20% 30% 40% 50%
FeiranteAutônomo
PeixeiroVendedor
ErveiraArtesão
PescadorOutro
47,3%14,0%
11,3%8,0%
5,3%3,3%
0,7%10,0%
0% 10% 20% 30% 40%
Atravessador/MarreteiroCarregador
ProdutorLavador
ArrumadorOutro
34,6%
31,9%
20,9%
6,8%
1,9%
3,8%
15
Figura 10. Faixas de renda dos trabalhadores, por gênero.
A maioria, de ambos os sexos, encontra-se na faixa de 1 a 3 salários mínimos (83,4%).
Uma parcela pequena na faixa de 3 a 5 SM (13,04%) e poucos na faixa de 5 a 10 SM
(3,17%), percebida no comércio do peixe seco no atacado, porém, raros têm renda igual
ou menor que um salário mínimo (1,45%). A mesma faixa de renda foi identificada por
Rocha et. al. (2010, p. 2595), onde a renda média de 80% é de 1,9 salários mínimos, não
citada a variação entre homens e mulheres, mostrando similaridades na faixa de renda nas
regiões Norte e Sul, entre trabalhadores nesta atividade.
4.3 Organização do Trabalho por tipo de equipamentos
Nas áreas públicas de comercialização, os espaços são denominados equipamentos: barraca,
boxe, estrado, loja, tabuleiro, talho, tanque e arreado (SECON, 2009), ocupado conforme a
organização do trabalho (Tabela 2). A maioria ocupa boxes (44,9%) ou barracas (33,3%),
geralmente os cadastrados na SECON. Uma parte (6,5%) monta tabuleiros por conta própria e
há os que usam outros tipos de suporte (15,2%): carros de mão, carrinhos de supermercado,
caixas de isopor e outros - este geralmente não são cadastrados na SECON
Tabela 2. Organização de trabalho por tipo de equipamento ocupado.
Organização de Trabalho Local de Trabalho Total %
Barraca Boxe Tabuleiro Outro Coletiva/Associação/Cooperativa 1 4 1 1 7 5,07 Familiar 23 19 1 15 58 42,03 Individual 21 39 7 5 72 52,18 Empresarial - 1 - - 1 0,72 Total 45 63 9 21 138 100
0
20
40
60
80
100
120
Feminino Masculino
ATÉ 1 SM 1
- 3 SM 3
- 5 SM 5
- 10 SM
16
A organização predominante foi a individual (52,18%), em que o feirante não necessita de
auxiliares. Na maioria, é do tipo familiar (42,03%), envolvendo filhos ou parentes que, em
muitos casos, herdam o ponto ou dão prosseguimento ao trabalho dos pais ou avós. Esta forma
também ocorre em outros estados e cidades brasileiras, citado por Lima, Coelho-Ferreira
e Oliveira (2011), Rocha et. al. (2010) e Sato (2007). Em menor escala, organizam-se de forma
coletiva ou associativa (5,07%), e do tipo empresarial (0,72%) ocorre no setor de polpas do
Ver-o-Peso, onde atendem turistas e aceitam cartão de crédito – prática não usual em feiras
livres, onde circula dinheiro em espécie.
4.4 Dedicação ao trabalho: tempo na atividade e experiência
Como visto, a renda da grande maioria fica entre 1 a 3 salários mínimos e poucos ultrapassam
esta faixa. Para a relação entre a renda e a experiência na atividade, a recorreu-se à
generalização em duas grandes faixas de renda (Figura 11).
Figura 11. Tempo de atividade e faixa de renda.
A maioria está a mais de 30 anos na atividade (30,4%), porém, concentra-se na faixa de renda de 1 a 3 SM. Outra parte está de 16 a 20 anos (17,4%) e de 21 a 30 anos (19,6%), na mesma faixa de renda. Em contraponto, poucos têm renda acima de 3 SM, e mais de 30 anos (2,2%); e a maioria com renda acima de 3 SM trabalha de 21 a 30 anos (5,8%). Os dados revelam que o tempo de trabalho não influencia na renda dos trabalhadores. A experiência lhes rende capital profissional, porém a especialização não se reflete no aumento da renda, ao longo do tempo.
4.5 Relações de trabalho no universo pesquisado
Neste aspecto, não houve variação, sendo todos trabalhadores informais. Entre as
características desta categoria, está a falta dos benefícios e garantias, como renda fixa, férias,
aposentadoria e outras contribuições como o FGTS, PIS e outros e auxílios.
ACIMA DE 3 SM
8,0%
4,3%
6,5%
17,4%
19,6%
28,3%
0,7%
0,7%
0,7%
1,4%
4,3%
5,8%
2,2%
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
ATÉ 3 SM
DE 16 A 20 ANOS
DE 11 A 15 ANOS
DE 6 A 10 ANOS
DE 1 A 5 ANOS
DE 21 A 30 ANOS
MAIS DE 30 ANOS
NÃO INFORMADO
17
O interesse no número de empregos formais anteriores objetivou de detalhar a relação de trabalho,
a trajetória dos trabalhadores, identificando permanência ou mudança entre o trabalho informal ou
formal, e outras abordagens no âmbito do trabalho (Figura 12).
Figura 12. Número de empregos formais anteriores.
Uma parte dos trabalhadores já foi vinculada ao trabalho formal (21,0%), atuando como
comerciários, vigilantes, e operários da construção civil, entre outros. Esses migraram para o
trabalho informal, e apontaram vantagens no trabalho de feirante: trabalho sem patrão, por conta
própria, flexibilidade da jornada de trabalho, maior renda, entre outros, aspecto também
analisado por Sena (1998). Por outro lado, 26,1% iniciaram a atividade, como herança
profissional. As respostas corroboraram com as observações de campo, revelando que mais da
metade dos informantes (61,6%) nunca teve emprego formal e sempre trabalhou como feirante.
Esses espaços para fins de comércio estão sob a responsabilidade da SECON/Departamento
de Feiras, Mercados e Portos (DFMP), no planejamento, atividades administrativas e técnico-
operacionais, programação, controle e avaliação do abastecimento e segurança alimentar. É
também responsável pelo cumprimento do Código de Postura do Município (Lei nº 7.055/77).
Entre as ações do DFMP estão o acesso de permissionários ao trabalho nos espaços e o
controle da situação desses (cadastrados ou não) (Figura 13).
Figura 13. Situação quanto cadastramento na SECON.
14,5%
84,1%
1,4%
NÃO SIM Não informado
0 20 40 60 80 100
01234
5 ou maisNão informado
8529
11223
6
18
A maioria é cadastrada na SECON (84,1%), para manter o ponto de venda legalizado. Os
não cadastrados representam 14,5%, e 1,4% não informaram. Nesse aspecto, devem ser
considerados os diferentes espaços: no Porto da Palha e no Porto do Açaí parte dos feirantes
não é cadastrada, incluindo os produtores que vêm à cidade e retornam no mesmo dia. No
Complexo do Jurunas 100% dos trabalhadores são cadastrados e em Icoaraci 100% não são
cadastrados. Os trabalhadores também avaliaram a atuação da SECON (Figura 14).
Figura 14. Avaliação dos trabalhadores quanto à atuação da SECON.
Na avaliação dos trabalhadores a atuação da SECON é ruim/péssima (34,8%), tanto a manutenção
quanto a fiscalização, equilibrado aos que avaliaram como satisfatória (30,4%) e como boa
(24,6%) e alguns não avaliaram (8,7%). Entre estes, estão os produtores/extrativistas e
atravessadores, que não opinaram por desconhecem as e ações da SECON nesses locais.
4.6 Condições de trabalho: infraestrutura e limitações
Nesses espaços de abastecimento da cidade, a infraesturtura e o acesso aos serviços urbanos
impactam nas condições de trabalho e no desempenho das atividades. Desta análise, são indicadas
demandas sociais, a partir dos problemas enfrentados no cotidiano dos trabalhadores, e que se
refletem na qualidade do ambiente e nas atividades de trabalho (Tabela 3).
Tabela 3. Condições de trabalho: infraestutura e serviços urbanos.
Infraestrutura e Serviços
Avaliação Ótimo Boa Ruim Não há Não opinou
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Padronização 2 1,4 63 45,7 33 23,9 39 28,3 1 0,7 Segurança pública 4 2,9 51 37,0 64 46,4 19 13,8 - - Limpeza pública 1 0,7 62 44,9 73 52,9 2 1,4 - - Saneamento 2 1,4 71 51,4 57 41,3 6 4,3 2 1,4 Calçamento/asfalto 3 2,2 98 71,0 35 25,4 1 0,7 1 0,7 Banheiros 2 1,4 31 22,5 64 46,4 39 28,3 2 1,4 Água 2 1,4 65 47,1 27 19,6 42 30,4 2 1,4
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0%
0,7%
24,6%
30,4%34,8%
0,7%8,7%
ÓTIMA BOA SATISFATÓRIARUIM/PÉSSIMA NÃO HÁ NÃO OPINOU
19
Os aspectos abordados variam de acordo com os locais pesquisados. Há padronização no Ver-o-Peso, Porto do Açaí e Complexo do Jurunas, considerada boa por 45,7%, e ruim por 23,9. No Porto da Palha e em Icoaraci não há padronização. A segurança pública foi considerada ruim pela maioria (46,4%) e boa por 37,0%, em especial no Porto da Palha, onde há um PM Box com rondas por 24 horas. A limpeza pública foi considera ruim por 52,9% e boa por 44,9%. Alguns citaram da falta de conscientização dos que jogam o lixo nos locais de trabalho (Porto da Palha, Porto do Açaí e Icoaraci). O saneamento está bom pela maioria (51,4%) e ruim para 41,3%, especialmente no Porto da Palha, onde há alagamentos frequentes. O calçamento e asfalto estão bons para 71,0% (Ver-o-Peso e Porto do Açaí) e ruins para 25,4%; 2,2. Não há banheiros públicos no Porto da Palha, Porto do Açaí e Icoaraci sendo a avaliação ruim (46,4%) e onde há banheiros (Ver-o-Peso e Complexo do Jurunas), estão em péssimo estado. O acesso à água foi considerado bom para 47,1% e ruim para os 19,6% que não têm acesso à água no local de trabalho (setores do Ver-o-Peso, do Porto da Palha e feira da orla de Icoaraci).
CONCLUSÃO
Os portos, feiras e mercados da fluvial de Belém São espaços de escoamento da produção rural e, neste aspecto, configuram-se como territórios provedores e reprodutores de relações sociais e de trabalho, na conversão de PFNMs em bens de troca.
No universo pesquisado, prevalece o trabalho informal, agregando um grande número de trabalhadores, cujas atividades se caracterizam pela organização individual ou familiar. A maioria encontra-se na faixa de renda de 1 a 3 salários mínimos e, em menor escala, na faixa superior a 3 salários, independente do tempo de trabalho na venda de produtos regionais, que por si possuem valor simbólico e cultural, além do comercial.
Quanto aos produtos da biodiversidade, além da função ecológica, têm valor econômico, principalmente alimentos e matérias-primas, cujo volume para venda em 2010 foi de cerca de 55.919.142kg de hortifrutigranjeiros, destacando-se frutas regionais; 5.599.621kg de pescado e 1.013,434kg de mariscos (SECON, 2011). A valoração desses produtos apresenta-se como propulsora das atividades nas feiras, portos e mercados pesquisados garantindo a reprodução de grupos sociais tanto no ambiente quanto a trabalhadores informais no ambiente urbano.
Portanto, a infraestrutura urbana e as ações do poder público impactam no trabalho e na qualidade dos serviços oferecidos aos consumidores ou “frequesia” nas feiras, portos e mercados pesquisados. Como exemplo, as obras na Av. Bernardo Sayão afetam o trabalho no Porto da Palha, Porto do Açaí e Complexo do Jurunas, gerando demandas sociais e luta das categorias de trabalhadores, com vistas à permanência e à melhoria das condições de trabalho. Esses fatores merecem aprofundamento e novos estudos na área.
20
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