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TRABALHO E SOCIEDADE O TRABALHO NAS DIFERENTES SOCIEDADES O “trabalho” nas sociedades tribais : A idéia de trabalho não se desvincula das outras atividades. As atividades vinculadas à produção estão associadas aos ritos e mitos, ao sistema de parentesco, às festas às artes, enfim a toda a vida social, econômica, política e religiosa. ADVERTÊNCIAS: as sociedades tribais se diferenciam tanto no tempo como no espaço e entre si. A análise do processo histórico de cada grupo mostra suas transformações gradativas. Além disso, seus membros contemporâneos guardam pouca semelhança com os grupos passados. IDÉIA FALSA: a de que seus equipamentos e instrumentos eram muito simples e rudimentares, o que levou os analistas a classificá-los como de economia de subsistência e de técnica rudimentar, vivendo em estado de pobreza. Puro preconceito! CORREÇÃO: eram “sociedades do lazer” ou “sociedades de abundância” (Marshall Sahlins): satisfaziam plenamente suas necessidades materiais e dispunham de um tempo mínimo de horas vinculadas a atividades de produção (cerca de 3 ou 4 horas/dia)

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TRABALHO E SOCIEDADE

O TRABALHO NAS DIFERENTES SOCIEDADES

O “trabalho” nas sociedades tribais:• A idéia de trabalho não se desvincula das outras atividades.

• As atividades vinculadas à produção estão associadas aos ritos e mitos, ao sistema de parentesco, às festas às artes, enfim a toda a vida social, econômica, política e religiosa.

• ADVERTÊNCIAS: as sociedades tribais se diferenciam tanto no tempo como no espaço e entre si. A análise do processo histórico de cada grupo mostra suas transformações gradativas. Além disso, seus membros contemporâneos guardam pouca semelhança com os grupos passados.

• IDÉIA FALSA: a de que seus equipamentos e instrumentos eram muito simples e rudimentares, o que levou os analistas a classificá-los como de economia de subsistência e de técnica rudimentar, vivendo em estado de pobreza. Puro preconceito!

• CORREÇÃO: eram “sociedades do lazer” ou “sociedades de abundância” (Marshall Sahlins): satisfaziam plenamente suas necessidades materiais e dispunham de um tempo mínimo de horas vinculadas a atividades de produção (cerca de 3 ou 4 horas/dia)

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O contato com o homem branco, como ocorreu com todas as

tribos, foi nocivo para os ianomâmis e tem despertado muitas

preocupações quanto ao futuro de indígenas como o guerreiro da

foto. No início da década de 80, os brancos descobriram as riquezas

minerais que existem nas terras dos ianomâmis, como ouro e

cassiterita (óxido de estanho). Garimpeiros invadiram as terras

indígenas e levaram a malária e outras doenças, além de causarem

profundas modificações na cultura primitiva dos ianomâmis. Houve,

no entanto, entre os militares, quem defendesse a permanência dos

garimpeiros na região, por julgar estratégica a sua presença para

ocupação do território.

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• EXPLICAÇÃO: o fato de trabalharem menos do que nós está no modo como se relacionam com a natureza. A terra é um valor cultural: é ela que dá aos homens os seus frutos; a floresta presenteia os caçadores com os animais de que necessitam. Não são os homens que produzem ou caçam, pois eles apenas recebem aquilo que necessitam da “mãe natureza”.

• CONCLUSÃO: O “mundo do trabalho” tem relação com todos os outros elementos de suas sociedades e com todo o meio ambiente em que vivem. Não há a idéia de que se deve produzir para poupar ou acumular alguma riqueza. A riqueza está na vida e na forma como passam os dias. As atividades vinculadas à produção limitam-se a conseguir os meios necessários à sobrevivência, desenvolvidas em conjunto com outras atividades, formando um todo indissolúvel.

• Pierre Clastres: “...Quando nessas sociedades ...a atividade produtiva se transforma em trabalho desligado das outras esferas da vida, e, portanto, alienado, contabilizado e imposto por aqueles que querem aproveitar-se do fruto desse trabalho, é sinal de que essas sociedades tornaram-se divididas entre dominantes e dominados e, portanto, descaracterizaram-se completamente.”

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O trabalho na sociedade greco-romana:

• Seus membros não pensavam essa questão da mesma forma que pensamos hoje; tampouco se organizava o trabalho da mesma maneira.

• GREGOS: faziam clara distinção entre o trabalho braçal (agrícola), trabalho manual (artesão) e da atividade do cidadão que discute e procura, através do debate, resolver os problemas da sociedade (política). Utilizavam-se de vários termos para designar o que hoje entendemos por trabalho:

• HANNA ARENDT: Labor (esforço físico, voltado para a sobrevivência do físico, atividade passiva e submissa ao ritmo da natureza); Poiesis (ato de fabricar, criar, fazer); Praxis (tem a palavra como seu instrumento, que utiliza o discurso para solucionar os problemas, é o espaço da política. Sua virtude está em utilizar as coisas, sem ter de transformá-las através do trabalho)

• ENTENDIMENTO: vincula-se à compreensão da questão da escravidão no interior dessas sociedades. O escravo era sempre alguém inferior por natureza (todos os trabalhadores viviam, de uma forma ou de outra, oprimidos pelos senhores proprietários). A liberdade do cidadão só era possível se existissem outros que trabalhassem para ele por ele.

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• PLATÃO: “... Uma cidade bem-feita seria aquela na qual os cidadãos

fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e deixassem os

ofícios para a gentalha: a vida “virtuosa”, de um homem de qualidade,

deve ser “ociosa” [...].” (só é homem por inteiro quem vive no ócio)

• ARISTÓTELES: “A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas

só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem

servos, artesãos e operários não especializados; estes últimos não serão

cidadãos, se a constituição conceder os cargos públicos à virtude e ao

mérito, pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de

operário ou de trabalhador braçal”. (a pobreza é um defeito, uma espécie

de vício)

• CONCLUSÃO: O trabalho escravo dava o suporte material para que os

cidadãos não precisassem viver do suor de seu rosto e pudessem dedicar

o seu tempo de ócio à arte de discutir os assuntos da cidade e o bem-

estar dos cidadãos.

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O trabalho na sociedade feudal:

• Com o fim do Império Romano surgiu um novo Modo de Produção denominado Feudal, com as seguintes características:

• a terra como principal meio de produção (determinava o lugar do indivíduo na sociedade); os trabalhadores têm apenas direito ao usufruto e à ocupação, tendo os senhores feudais o direito de arrecadar tributos (corvéia, talha, banalidades); existência de uma rede de vínculos pessoais de direitos e deveres e de honra entre os senhores, e entre estes e os servos;

• Regime de servidão: sua longa duração se explica pela solidariedade entre os senhores, e entre estes e os servos, bem como o papel da Igreja que sancionava esses compromissos e definia o lugar dos indivíduos na sociedade.

• Concepção da Igreja sobre o trabalho: era uma maldição.

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• O trabalho não tinha um valor em si mesmo e deveria

existir apenas na quantidade necessária para a

sobrevivência.

• Essa situação se manteve até a crise do século XIV,

quando ocorre a “segunda servidão” (intensificação da

exploração do trabalho) para compensar a perda de mão-

de-obra. Aparecem as revoltas camponesas (jacqueries).

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O trabalho na sociedade capitalista

• Como o trabalho se transforma em mercadoria: O trabalho se transforma em força de trabalho quando se torna uma mercadoria que pode ser comprada e vendida.

• Contexto: transição do feudalismo para o capitalismo, relacionado com todas as transformações que levaram à constituição do modo de produção capitalista: o renascimento comercial e urbano; os cercamentos; a revolução comercial (tráfico negreiro, exploração das colônias); e acumulação primitiva do capital;

• Importância do contexto: entender como um grupo de pessoas conseguiu acumular riquezas para aplicar emempreendimentos para fabricação de mercadorias emoutra escala de produção e com outra finalidade: exclusivamente para vender no mercado.

• NOTA: é nesse contexto que o trabalhador perde tudo o que tem para ficar apenas com a sua força de trabalho.

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• Organização do trabalho: os primeiros industriais / comerciantes financiavam e organizavam a produção, coordenando o processo de trabalho dos artesãos de duas formas:

• cooperação simples: mantêm-se a hierarquia da produção artesanal e o artesão desenvolve todo o processo produtivo. Contudo, os artesãos estão à serviço do burguês;

• cooperação avançada ou manufatura: ocorre a dissolução dos processos de trabalho baseados nos ofícios, fragmentando-se as tarefas. Surge o trabalhador coletivo, ou seja, o trabalhador não possui mais o entendimento da totalidade do processo de trabalho e perde o seu controle. O resultado é a produção de uma mercadoria que não foi fabricada por um trabalhador em particular, mas pelas atividades de muitos trabalhadores organizados: trabalho coletivo.

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A divisão do trabalho é um princípio básico da industrialização. Na divisão do

trabalho, cada trabalhador é designado a uma tarefa diferente, ou fase, no

processo de fabricação, resultando daí um aumento da produção total. Como

mostra a ilustração superior, se uma pessoa realizar as cinco fases na fabricação

de um produto, poderá produzir uma unidade ao dia. Cinco trabalhadores, cada

um especializado em uma das cinco fases, poderão produzir 10 unidades no

mesmo tempo.

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Mudança na concepção do trabalho

• As mudanças na forma de produzir e nas relações sociais de produção

fizeram com que o trabalho fosse visto como o criador de toda a

riqueza.

• Novo significado: com a Reforma Protestante, o trabalho aparece como

o fundamento de toda a vida, constituindo uma virtude e um caminho

para a salvação. A profissão passa a ser vista como vocação e a

preguiça como coisa má. O êxito na vida material é a expressão das

bênçãos divinas. A riqueza gerada não deve levar à ostentação, mas à

poupança (ética protestante é o espírito do capitalismo).

Nota: os iluministas contribuíram na mudança dessa visão na

medida em que colocaram a ação do homem como essencial para

a transformação da natureza.

Trabalho e capital: uma relação conflituosa

• Maquinofatura: substituiu a cooperação simples e a manufatura, com a

produção de mercadorias por meio de máquinas reunidas num mesmo

local: a fábrica.

• A mecanização subordina os trabalhadores à máquina (dita-lhes o ritmo

do trabalho), e independe das habilidades manuais dos processos

anteriores. O trabalhador não carece de conhecimentos específicos, pois

é apenas um operador de máquinas eficientes.

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• Exploração do trabalhador: aparentemente, a relação entre capitalista e trabalhador é uma relação entre iguais (proprietários).

• Realidade: ao comprar a força de trabalho do trabalhador, o capitalista pressupõe extrair dessa compra a mais-valia (horas trabalhadas e não pagas que transforma-se no lucro/acumulação de capital).

NOTA: mais-valia absoluta: é o trabalho não pago obtido pelo aumento da jornada de trabalho; mais-valia relativa: o trabalho não pago obtido pelo investimento em tecnologia;

• Conflito entre capitalista e trabalhador: aparece no momento em que os trabalhadores percebem que estão trabalhando mais e estão cada dia mais miseráveis.

• Análises da questão do trabalho na sociedade capitalista: Karl Marx: procurou afirmar que a luta de classes entre capitalistas e trabalhadores é inerente à sociedade burguesa; Émile Durkheim: procurou demonstrar que a segmentação do trabalho na produção industrial moderna resultou numa forma superior de solidariedade, e não o conflito.

Tipos de solidariedade: mecânica: o que une as pessoas é uma gama de sentimentos comuns, próprio das sociedades com divisão do trabalho pouco desenvolvida (feudalismo) Ex. amizade; orgânica: o que une as pessoas é a diferença e não a identidade, ou seja, a interdependência das funções sociais (a necessidade que uma pessoa tem da outra) em virtude da divisão do trabalho.

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O velho Henry Ford, legendário fabricante americano de automóveis, exibe com orgulho o primeiro veículo que fabricou, em 1896.

Na indústria automobilística, a montagem técnica automatizada faz parte do cotidiano.

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Fordismo

• Nessa fase da maquinofatura, o trabalhador ainda tem contato com a máquina, observando-a, regulando-a, alimentando-a e preparando as tarefas.

• Características da produção: a produção passou a se organizar em linhas de montagem, com a divisão do trabalho, visando a produção em série de um produto.

Origem do conceito: da forma como Henry Ford (1914) estruturou a produção na sua fábrica, seguido por outras empresas.

Resultado: inaugurou a era do consumismo (produção em massa para um consumo em massa).

• Taylorismo: teoria de Frederick Taylor (1865-1915) que sustentava a prática do fordismo, que propunha aplicar princípios científicos na organização do trabalho, buscando a racionalização da produção.

Conseqüências gerais: aumento da produtividade com o controledas atividades dos trabalhadores através de um sistema de punições e recompensas; desenvolvimento do planejamento das tarefas (administradores); substitui-se as relações solidárias pela impessoalidade das normas;

• Resistência: os sindicatos resistiram as novas formas de produção, o que explica o aumento nos níveis de salários (além da concorrência das empresas). Porém, posteriormente, os salários equipararam-se aos demais de sua época.

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Pós-fordismo

• Pós-fordismo ou acumulação flexível: a partir da década de 1970, tem-se essa nova fase no processo produtivo capitalista, caracterizada pela flexibilização:

das formas de produção (licenciamento de marcas que articulam pequenas empresas em tono do marketing e do apoio de um grande grupo);

dos processos de trabalho (automação);

dos mercados de trabalho (doméstico e familiar, autônomo, temporário, por hora);

dos produtos (descartáveis);

dos padrões de consumo (as propagandas estimulam a trocar os produtos sempre);

• Resultados Gerais: alta rotatividade de mão de obra; retrocesso dos sindicatos; diminuição dos direitos trabalhistas; instabilidade no emprego; desemprego;

• SOLUÇÃO?: diminuição da jornada de trabalho.