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TRABALHO E CONSUMO NO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA
DO BAIRRO ROBERTO CORREIA DE ARAÚJO EM UNIÃO DOS PALMARES –
AL
Silmara Lopes de Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
GT7: TRABALHO, FLEXIBILIZAÇÃO E PRECARIZAÇÃO
RESUMO
Este trabalho objetiva analisar a dinâmica e organização do circuito inferior da economia
urbana no bairro Roberto Correia de Araújo em União dos Palmares – AL, atrelado à análise
do trabalho e consumo no mesmo. Utilizaram-se como recursos metodológicos as pesquisas
bibliográfica e documental, o levantamento de dados, além da aplicação de formulários junto
aos agentes do circuito inferior, funcionários e clientes. Tendo como teoria norteadora a dos
dois circuitos da economia urbana desenvolvida pelo professor Milton Santos, a partir de uma
abordagem dialética. O bairro Roberto Correia de Araújo se apresenta como um subcentro
comercial dinâmico, materializado, sobretudo, em pequenos estabelecimentos de comércio e
serviços, responsáveis por gerar emprego e renda para grande parte da população pobre,
alijada das atividades do circuito superior, e por atender também as demandas da população
dos bairros vizinhos.
PALAVRAS-CHAVE: Circuito Inferior. Comércio. Economia urbana.
INTRODUÇÃO
O trabalho ora exposto tem como proposição principal analisar a dinâmica e a
organização do circuito inferior da economia urbana no bairro Roberto Correia de Araújo em
União dos Palmares – AL, fazendo uso da teoria dos dois circuitos proposta por Milton Santos
em meados da década de 1970, desenvolvendo-se uma análise acerca da atuação dos agentes e
das atividades desenvolvidas no bairro e tem sua importância do papel do circuito inferior na
vida da população pobre e como esse circuito está interligado à economia local.
A análise parte da inquietação em compreender a dinâmica comercial do bairro, na
atuação dos pequenos agentes do circuito inferior, dos elementos voltados ao trabalho, à
oferta de ocupações, além do consumo e os impactos disto para a economia local. Buscou-se
apreender os principais aspectos que caracterizam o bairro e a forma como este se reflete na
configuração territorial da cidade de União dos Palmares – AL.
As reflexões convidam o leitor a perceber a importância da teoria, e em especial o
circuito inferior, para analisar as cidades de países subdesenvolvidos. As análises aqui
presentes expressam a organização dos agentes e o cotidiano dos que dependem do comércio
local para suprir suas necessidades de trabalho e consumo. O trabalho esta dividido em três
partes; a primeira apresenta breves considerações acerca da teoria dos dois circuitos da
economia urbana na atualidade, a segunda expõe à configuração territorial de União dos
Palmares-AL e por último, aspectos voltados aos resultados da pesquisa no bairro.
1. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA
URBANA NO PERÍDO ATUAL
Os primeiros escritos acerca da teoria dos dois circuitos datam de meados dos anos de
1970 e é na obra “Les Villes Du Tiers Monde” de 1971 que Milton Santos se dedica de fato a
teoria, evidenciando a existência “de dois circuitos da economia urbana nos países
subdesenvolvidos resultantes da penetração das inovações nesses países [...]”
(MONTENEGRO, 2012, p. 154).
Os circuitos superior e inferior são os dois subsistemas dentro do sistema maior da
economia urbana. A cidade vive uma transformação estrutural que trouxe modificações nas
formas de trabalho e ação, logo, já não pode ser estudada de forma integral (SANTOS, 2009),
portanto, faz-se necessária esta subdivisão para melhor compreender os aspectos que
caracterizam a economia das cidades e o processo de urbanização das mesmas.
Um circuito moderno chamado de superior, formado por atividades com alto grau de
tecnologia e capital; e, um circuito menos modernizado, o inferior, constituído a partir de
atividades que interessam e envolvem principalmente a população pobre dos países
subdesenvolvidos. Os dois circuitos são, portanto, contrários, mas vale ressaltar que são
igualmente complementares. É importante ainda salientar a dependência do circuito inferior
para com o superior.
O circuito superior é constituído pelo comércio e indústria de exportação, indústria
moderna, serviços modernos, atacadistas e bancos; é consequência direta da modernização no
território. O circuito inferior é formado por serviços não modernos ofertados a varejo,
comércio de pequena dimensão não moderno e formas de fabricação não capital intensivo
voltados à população pobre; é resultado indireto da modernização (SANTOS, 2008).
É fundamental para compreender a dinâmica dos dois circuitos e suas relações entre si
observar três variáveis, quais sejam: o grau de tecnologia implantado nas atividades, as
formas de organização e o capital empregado. E através desta observação, torna-se mais fácil
a tentativa de identificar a que circuito pertence determinada atividade.
As transformações nas estruturas econômicas, políticas e sociais se intensificam e
vivemos cada vez mais o tempo da informática, da pressa, da simultaneidade, das instituições
e empresas globais, daquilo que Santos chamou de “globalização como perversidade” (2011,
p. 13). Com o forte desemprego e pobreza frente à disparidade de renda cada vez maior, este
período traz variáveis que são determinantes para sua compreensão e, consequentemente, para
o entendimento dos circuitos da economia urbana hoje.
A partir disto é possível dizer que na divisão do trabalho atual a informação é o motor,
aliada à ciência, técnica, consumo, finanças e publicidade como variáveis-chave da
globalização (MONTENEGRO, 2011). Saliente-se que a divisão do trabalho em cada lugar se
dá de maneira diferente podendo coexistir com as anteriores. Compreendendo estas variáveis
como reflexo contundente deste momento de intensa transformação das relações econômicas,
políticas e sociais torna-se factível o entendimento da renovação dos circuitos e as mudanças
intensas na economia popular.
O aumento do consumo e o fácil acesso a mecanismos de crédito por parte da
população pobre está ligado diretamente a ambos os circuitos. Os agentes do circuito inferior
procuram sempre se reinventar para atender as demandas deste mercado que cada vez mais se
diversifica. Por outro lado, o circuito superior hoje, através da financeirização, está cada vez
mais empenhado em criar formas de incorporação da população pobre no seu campo de
atuação. As redes de atacado, por exemplo, incentivam a aquisição dos seus cartões em
associação aos grandes sistemas bancários para atingir de forma mais concreta este mercado
consumidor. Acrescente-se ainda o uso de uma propaganda requintada que traz em seu bojo
um forte apelo ao consumo imediato por parte desta parcela da população, assim, o circuito
superior passou a tomar parte de um mercado que antes era voltado apenas ao circuito inferior
(MONTENEGRO, 2011).
Os novos fluxos migratórios também são importantes para compreender os dois
circuitos da economia urbana no período atual, pois se têm, a despeito do circuito superior,
uma mão de obra estrangeira e qualificada, ainda que temporária, que vai efetuar ações
permitindo cada vez mais a expansão da técnica. Em contrapartida, vê-se um conjunto de mão
de obra nacional e estrangeira sem qualificação que se refugia no circuito inferior das
metrópoles; e isto é hoje ainda mais complexo “[...] pela chegada de imigrantes qualificados
que, malgrado seu status de refugiados políticos, amiúde passam a engrossar o circuito
inferior”. (SILVEIRA, 2015, p. 159).
A relação entre os dois circuitos da economia urbana se dá de forma cada vez mais
complexa no período atual perante todas as transformações que o período técnico-científico-
informacional trouxe a cidades de países subdesenvolvidos, diante das variáveis que
reestruturam a economia e trazem novos elementos a divisão territorial do trabalho, assim,
segundo Silveira,
Nesse retrato de novas quantidades e qualidades, vemos ações no circuito inferior
que se consolidam perante as novas ações dos agentes do circuito superior. A
divisão social do trabalho torna-se mais espessa, ao passo que cresce a imitação da
produção e do consumo dos produtos e serviços oferecidos pelo circuito superior.
(2015, p. 166).
Para se reinventar constantemente o circuito inferior passa a utilizar-se das novas
tecnologias que são marca do período atual. O acesso maior aos mecanismos de informática, o
uso do telefone celular, computador, “maquininha” de cartão de crédito, sistemas de
segurança etc., é um elemento de renovação desse circuito no período da globalização, assim
para Montenegro,
[...] o circuito inferior continua a fazer uso de tecnologias obsoletas ou tradicionais;
mas, por outro lado, no período atual, amplia-se a possibilidade do uso de técnicas
relativamente modernas, embora os objetos que chegam a este circuito já se
encontrem relativamente “superados” pela produção acelerada de novos objetos e
pela obsolescência planejada do circuito superior. (2013, p. 39).
Devido o acesso dos agentes as novas tecnologias do período atual é preciso uma
redefinição do circuito inferior hoje, mas é importante frisar que Milton Santos já havia dito
que esse circuito “[...] está em processo de transformação e adaptação permanente [...]” (2008,
p. 39), assim segundo Montenegro o circuito inferior compreende as “[...] atividades pouco
capitalizadas que apresentam um menor grau de tecnologia, mas não sua ausência completa”.
(2011, p. 28).
Santos (2008, p. 43) diz que a tecnologia do circuito superior é “capital intensivo”, e
com isto a oferta de empregos é menor se comparada ao circuito inferior, pois a mecanização
e o auto grau de tecnologia implantado nas atividades reduz o número de mão de obra e exige
que esta seja ainda mais qualificada e hoje isto se intensifica cada vez mais, pois “[...] a
tecnificação contemporânea e as novas formas organizacionais levam a uma menor demanda
de trabalho nas grandes corporações”. (SILVEIRA, 2015, p. 158).
Os dois circuitos da economia urbana se manifestam de forma diferente em cada lugar
a partir da divisão territorial do trabalho existente combinado a divisões anteriores que ainda
permanecem. Cada lugar vai receber as atividades de forma diferenciada, principalmente as
do circuito inferior que mantém vínculo em termos de organização a depender das demandas
existentes em cada sociedade. Os circuitos mantêm relações inegáveis um com o outro, de
complementaridade, mas o inferior continua ainda subordinado ao superior e no atual período
ainda mais frente à necessidade de crédito, de produtos, do sistema bancário e financeiro e do
acesso às novas tecnologias que são produzidas no superior.
2. CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DA CIDADE DE UNIÃO DOS PALMARES
O município de União dos Palmares está localizado no Estado de Alagoas, em sua
porção norte, numa área territorial de 420,744 Km² (IBGE, 2010). Fundado em 1831 como
vila, sendo considerada cidade somente a partir de 1890. União dos Palmares se localiza na
mesorregião do leste alagoano e é o principal município da microrregião Serrana dos
Quilombos.
União dos Palmares contava com uma população de 62.358 em 2010 (IBGE, 2010) e
estimativa de 66.255 habitantes em 2016 (IBGE, 2017) distribuídos principalmente na sede do
município e nos distritos de Rocha Cavalcante e de Timbó. A população de União dos
Palmares é atualmente predominantemente urbana. Cerca de 76,4% da população reside na
cidade, enquanto que 23,6% no campo (IBGE, 2010).
A população economicamente ativa-PEA de União dos Palmares é 32.675 habitantes
em 2010, o que corresponde ao percentual de 52,4% do total da população (PERFIL
MUNICIPAL, 2015) se encontra empregada principalmente no setor de serviços e comércio,
em seguida indústria e agropecuária empregam a população palmarina.
O Produto Interno Bruto-PIB é um elemento que revela parte da dinâmica econômica
de União dos Palmares. De acordo com o Perfil Municipal (2015) com base em dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE e da Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento do Estado de Alagoas-SEPLANDE, a participação por setor de atividade no
valor adicionado total do PIB municipal em 2012, compreendia 66,23% de participação do
setor de serviços e comércio, 29,91% da indústria e 12,86% da agropecuária. É importante
lembrar ainda que, União dos Palmares tem relevante participação no PIB estadual,
correspondendo a 1,89% no PIB de Alagoas (SEPLANDE, 2011), situando-se em 6º lugar no
ranking dos maiores municípios do estado.
Referente ao mercado de trabalho palmarino, as ocupações em empregos formais têm
se concentrado no setor de comércio e serviços com queda visível na indústria (Tabela 01).
Hoje é possível perceber que estes dois setores são os que mais têm se desenvolvido e
oferecido postos de trabalho para a população palmarina, que carece cada vez mais de formas
de sobrevivência.
Tabela 01- Número de Pessoas com Ocupações Formais
Atividades Econômicas 2011 2012 2013
Agropecuária
Comércio
Construção Civil
Indústria
Serviços
Total
462
1.343
1.353
3.696
2.604
9.458
438
1.323
450
2.402
1.968
6.581
455
1.418
120
1.721
2.885
6.599
Fonte: Silva e Lima (2015, p. 51).
A economia de União dos Palmares, como já visto, está sustentada principalmente no
setor de serviços, que em 2009 apresentou um valor de R$ 229,09 milhões, o 5º colocado
entre os municípios Alagoanos (SEPLANDE, 2011), destacando-se os subsetores de
comércio, administração pública e manutenção. No setor industrial, União dos Palmares
ocupava o 7º lugar no ranking dos municípios, com um valor agregado de R$ 91,52 milhões
em 2009 (SEPLANDE, 2011).
Em União dos Palmares, o Índice de Gini é de 0,53 (Atlas do Desenvolvimento
Humano, 2013), número utilizado para medir o grau de concentração de renda de uma dada
população, demostrando a diferença entre os rendimentos dos mais pobres em relação aos dos
mais ricos. Este índice é calculado se considerando um número entre 0 e 1, de forma que
quanto mais perto de 0 mais há igualdade e quanto mais perto de 1 mais há desigualdade. É
possível perceber na tabela a seguir que de 1991 até 2010 houve algumas mudanças na
concentração de renda em União dos Palmares, ressalte-se que os 20% mais ricos contam com
mais da metade da renda, cerca de 56,88%, e os 80% mais pobres detém 43,12% da renda no
ano de 2010. A concentração de renda apesar de ter diminuído, ainda é altíssima no município
e se reflete nas condições de vida dos mais pobres.
Analisando o IDH de União dos Palmares e dos municípios da microrregião ao qual
ele faz parte, a saber, Microrregião Serrana dos Quilombos composta pelos municípios de
Branquinha, Colônia de Leopoldina, Ibateguara, Murici, São José da Laje e Santana do
Mundaú, é possível perceber que existe uma variação média entre 0,513 e 0,593, e que União
dos Palmares possui o mais elevado índice de desenvolvimento da região.
O número de micro e pequenas empresas ativas em União dos Palmares chegam
atualmente a 3.049, o que é bastante considerável quando comparado à escala do Estado de
Alagoas que chega a 142.014 e no Brasil a 014.842.383 (Empresômetro MPE, 2015),
evidenciando a importância que este tipo de empresa tem para a economia local, visto que
emprega um número considerável de trabalhadores.
União dos Palmares têm destaque na região a recebe consumidores dos municípios
vizinhos, pois a dinâmica do comércio local é um atrativo, devido à variedade de
estabelecimentos, além dos serviços ofertados em termos bancários, de assistência à saúde e
etc. Ademais do centro, o bairro Roberto Correia de Araújo apresenta-se com um comércio
importante para sua população e também para a cidade.
3. DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA
URBANA NO BAIRRO ROBERTO CORREIA DE ARAÚJO
O bairro se localiza “[...] na parte norte da cidade com uma população de
aproximadamente 8.516 habitantes, contabilizando um total de 2.692 residências [...]”
(FERREIRA; MARQUES, 2010, p. 40), é o maior da cidade em população e extensão
territorial, além de ser considerado periférico e desprovido de infraestruturas essências à sua
população tais como, pavimentação geral, rede de esgoto e iluminação pública total, etc. A
Avenida João Lyra Filho, principal do bairro, é a mais importante entrada para a cidade de
União dos Palmares, além disto, o mesmo fica as margens da BR 104 que liga Pernambuco e
Alagoas.
As atividades do circuito inferior no bairro se distribuem principalmente entre as ruas
José Hortêncio de Souza e Lindolfo Gomes Cabral. Estas são as ruas que comportam a feira
livre do bairro que acontece aos domingos, além da Avenida João Lyra Filho. Merece
destaque também as ruas Universitário Alonso Costa Filho e Fábio Correia Viana que
possuem também alguns estabelecimentos comerciais.
Através da aplicação de formulários junto aos donos de estabelecimentos do bairro,
funcionários e clientes foi possível compreender algumas características que comprovam
aspectos da teoria exposta. Características que se manifestam nas formas, nas estruturas
comerciais e no convívio diário de quem reside e trabalha no bairro. Foram identificados
cerca de 200 estabelecimentos distribuídos nas ruas do bairro (exceto Rua Amélia Mendonça),
e é possível encontrar uma grande variedade de tipos de serviços, estabelecimentos e de oferta
de produtos. Deste total foram estudados sessenta e sete por meio dos formulários.
Há no bairro considerável quantidade de serviços para automóveis e motocicletas,
totalizando trinta e quatro. Isto provavelmente se deve ao fato de o bairro margear a BR-104 e
ser uma das entradas da cidade. A Rua Maria Carmelita da Silva, por exemplo, localizada as
margens da BR possui apenas atividades voltadas ao conserto de carros e afins. Os agentes do
circuito inferior conseguem se organizar e desenvolver atividades em locais estratégicos
usando o território a seu favor, levando em consideração as demandas locais; eles usam o
meio construído e com baixa valorização para afirmarem suas atividades e ofertar os serviços
àquela população (MONTENEGRO, 2006). As atividades voltadas para o ramo alimentício
também são predominantes no bairro. Supermercados, mercadinhos e lanchonetes tem um
número considerável, este é um tipo de comércio e serviço que é bastante procurado pela
população em geral, logo, em quase todas as ruas eles estão presentes.
A maioria dos donos de estabelecimentos ouvidos não possuem outras atividades
remuneradas (cinquenta). Quando perguntados por que resolveram trabalhar com aquela
atividade, as respostas mais recorrentes foram: para ter o próprio negócio, porque estavam
desempregados, para aumentar a renda e para continuar num negócio da família. Isto
evidencia o quanto os agentes apostam nas atividades que desenvolvem e o quão importante o
circuito inferior é para eles, funcionando como saída para situações cotidianas da população
pobre.
No que diz respeito à quantidade de dias de expediente, trinta e cinco estabelecimentos
abrem todos os dias da semana, pois aos domingos acontece a feira. Os estabelecimentos que
se localizam nas ruas que comportam a feira e outras próximas são os que abrem regularmente
aos domingos. A feira (foto 01) tem um papel importante para economia do bairro gerando
outras fontes de renda e contribuindo para o aumento das vendas nas casas de comércio
próximas.
Foto 01: Feira livre do bairro Roberto Correia de Araújo
Foto: Joanna Lourenço, 2016.
Quanto aos consumidores foram aplicados apenas quinze formulários, pois não se
optou por rigor estatístico. Doze vão fazer suas compras aos domingos e três em outros dias.
Isto provavelmente se deve ao fato de, como aqui já foi citado, a feira ocorrer neste dia, logo,
muitos aproveitam para comprar nela e nos pequenos comércios locais. Eles dizem que vão
aos estabelecimentos do circuito inferior em busca principalmente de alimentos, material de
limpeza e serviços em geral. A maioria afirmou fazer as compras mensais nos supermercados
locais, característica que permite falar da força do circuito inferior no bairro e da colaboração
das atividades na manutenção das famílias locais e mesmo as de outras localidades.
Quanto à renda familiar dos consumidores do circuito inferior, dos 15 (quinze)
ouvidos, a maioria possui apenas um salário mínimo (08 entrevistados), evidenciando que as
condições financeiras dos consumidores não são elevadas, o que leva a população a procurar
as atividades do circuito inferior que oferecem vários produtos e serviços a preços acessíveis.
A maior parte dos clientes ao avaliar o comércio do bairro expôs que este pode ser
considerado bom, como se pode observar no gráfico (01). Informalmente muitos comentaram
que conseguem encontrar a maior parte das coisas que necessitam e que as melhorias
dependem, na maioria das vezes, do poder público. A população demonstra reconhecer os
benefícios do circuito inferior que lhes fornece muitos produtos.
Gráfico 01: Avaliação dos clientes acerca do comércio do bairro
Elaborado pela autora. Fonte: Trabalho de campo, 2015.
Os estabelecimentos abrem em média entre as 06 e 08 horas e fecham entre as 17 e 19
horas. O que compreende uma jornada de trabalho média de 12 horas diárias tanto para os
proprietários quanto para os funcionários do circuito inferior. Esta é, portanto, uma das
características principais do circuito inferior, o trabalho intensivo (SANTOS, 2008).
Dos 67 (sessenta e sete) proprietários de estabelecimentos entrevistados, 23 (vinte e
três) não possuem funcionários e trabalham sozinhos no negócio, logo, a maioria 44 (quarenta
e quatro) têm funcionários. Desses donos de estabelecimentos que têm funcionários, quase a
totalidade dos estabelecimentos, cerca de 81,81% (trinta e seis) possui ao menos 01
trabalhador que é da família, isso prova o que sustenta a teoria dos circuitos quanto à presença
mão de obra familiar na dinâmica das atividades do circuito inferior. É importante frisar que
apesar de o número de ocupações por comércio ou atividade ser baixo, a grande quantidade
destes estabelecimentos causa um efeito de recompensa no mercado de trabalho
(MONTENEGRO, 2006).
Outro elemento a se pontuar é que metade dos trabalhadores não tem carteira assinada
e nunca trabalhou com carteira assinada antes. Acreditamos que tal realidade não ocorra
apenas no bairro, mas também em toda a cidade de União dos Palmares. Há uma falta de
seguridade e proteção para aqueles que fornecem sua força de trabalho para manter as
atividades funcionando, visto que estes não dispõem de algumas garantias como férias
remuneradas, seguro desemprego e outros auxílios. Isto acaba por se refletir de maneira
significativa nas condições sociais e econômicas dessa população.
Apenas doze estabelecimentos têm funcionários com carteira assinada, à maioria dos
que não assinam alega não ter condições porque o negócio é pequeno e a renda é pouca, não
54%
13%
33%
Bom Ruim Médio
compensando agir desta forma. A oferta de empregos é grande no circuito inferior, mas as
garantias trabalhistas não são tão presente nas atividades. É importante salientar que as
condições que se instalaram a partir de meados de 1980 no Brasil não foram bem satisfatórias,
devido o aumento do emprego informal e a elevação da diminuição da proteção do
trabalhador (MONTENEGRO, 2006).
Nem todas as pessoas que trabalham no bairro residem no mesmo, isto evidencia o
fluxo existente e o vai e vem de trabalhadores. Dos doze funcionários entrevistados sete (07)
moram em outros bairros. Quanto à escolaridade dos funcionários do circuito inferior, do total
de entrevistados, seis (06) têm ensino médio completo, três (03) têm o incompleto e três (03)
o superior incompleto. A renda média familiar fica entre um e dois salários e meio.
Quando perguntados quanto pagam aos funcionários, as respostas dos agentes do
circuito inferior variam entre R$ 400,00 e R$ 800,00 reais, mas alguns responderam que os
trabalhadores ganham por produção. Apesar das respostas fornecidas, em alguns casos, foi
possível perceber que houve certa omissão do valor real pago. O salário é uma variável
inconstante no circuito inferior, as remunerações dos trabalhadores variam bastante, além do
tempo de permanência no estabelecimento.
No que diz respeito aos fornecedores, ou seja, onde os donos de comércios compram
os produtos que irão comercializar, 90% deles recebem os produtos de distribuidoras, estas
por sua vez, tem sua origem principalmente nas cidades de Maceió e Arapiraca/AL e no
Estado de Pernambuco. E apenas 10% compram diretamente ao produtor.
No que se refere ao local onde os donos de estabelecimentos compram seus produtos,
foi possível perceber através dos formulários que 11 (onze) compram apenas em Pernambuco,
18 (dezoito) apenas no município de União dos Palmares, oito (08) em Maceió - AL e 11
(onze) em Maceió e Pernambuco. Os demais compram em outros Estados como Bahia, Minas
Gerais e São Paulo, sendo que alguns também buscam seus produtos em Arapiraca – AL,
município alagoano que concentra várias distribuidoras.
Também foi possível perceber que os produtos chegam aos estabelecimentos por meio
de quatro formas diferentes (gráfico 02), mas as formas predominantes são: o dono vai buscar
os produtos e a distribuidora faz a entrega. Isto se deve ao fato de muitos comerciantes irem
fazer a compra dos produtos pessoalmente em grandes redes que vendem em atacado, na
busca de melhores preços e promoções; e das distribuidoras terem seu próprio sistema de
entregas.
Gráfico 02: Formas como os produtos chegam aos estabelecimentos.
Elaborado pela autora. Fonte: trabalho de campo (2016).
As formas em que costumam efetuar o pagamento das suas compras são variadas, tais
como boleto, duplicata e cartão de crédito, vale ressaltar que alguns utilizam duas formas
diferentes de pagamento como é possível observar na tabela (02), mas, a maioria paga em
dinheiro, seguido de boleto.
Tabela 02: Formas de pagamento dos produtos pelos agentes do circuito inferior
Descrição Quantidade
Dinheiro 32
Dinheiro, cartão de crédito 05
Dinheiro e boleto 04
Dinheiro, cartão de crédito, boleto 01
Boleto 24
Cartão de crédito 01
Duplicata 01 Elaborado pela autora. Fonte: Trabalho de campo (2015).
Vários estabelecimentos aceitam cartão de crédito. Este é um elemento de renovação
do circuito inferior, pois antes o uso de cartão era uma característica peculiar do circuito
superior, mas no período atual os pequenos agentes começam a ofertar esse tipo de crédito aos
seus clientes. É a financeirização do território como se pode ver na foto (02) de uma loja de
pneus da Avenida João Lyra Filho.
40%
34%
18%
3%
5%
O dono vai buscar oproduto
As distribuidoras fazem aentrega
As transportadoras fazem aentrega
Fretistas fazem a entrega
Não responderam
Foto 02: Loja de Pneus que aceita cartão de crédito (Avenida João Lyra Filho)
Fonte: Silmara Souza (2015)
Outro elemento que chama a atenção é o fato de a venda no fiado predominar bastante
no comércio do bairro, pois 42 (quarenta e dois) dos 67 (sessenta e sete) estabelecimentos
aceitam esta forma de pagamento. O critério para escolha dos clientes é sempre o mesmo,
vendem apenas a amigos, conhecidos e vizinhos. Esta aproximação com o cliente é outra
característica forte do circuito inferior, as relações pessoais entre clientes e empresários.
O bairro Roberto Correia de Araújo, sua população e aqueles que vivem das atividades
do circuito inferior necessitam de mais atenção e valorização. Com uma grande parcela da
população palmarina vivendo nele e dele dependendo, é fundamental que se construam
políticas e desenvolvam ações a fim de melhorar a vida de todos, ofertando mais postos de
trabalho, melhorando as vias de acesso, além da criação de um sistema de transporte eficaz
para que a população possa melhor se locomover pela cidade. Os estabelecimentos de
comércio e serviços são fundamentais para manutenção do bairro e da sua população. O
circuito inferior é importante para as cidades de Terceiro Mundo, pois fornece trabalho e
renda para um número cada vez maior de pessoas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a pesquisa foi possível identificar mais de 200 atividades do circuito inferior
que se distribuem por todo bairro e com maior intensidade em algumas ruas específicas. As
atividades são bem variadas, mas as que predominam são os supermercados, as oficinas de
carro e moto e os salões de beleza. A maioria dos comerciantes vive apenas daquela atividade,
daí a importância das mesmas para manutenção da família, que tem um papel central, pois
trabalha junto com o dono do estabelecimento em muitos casos.
A maioria dos donos de estabelecimentos tem funcionários, mas a maior parte não se
encontra com a carteira assinada. Nem todos que trabalham no bairro residem no mesmo,
cerca de metade dos entrevistados mora em outros baixos, o mesmo acontece com os clientes,
logo, conclui-se que há um fluxo elevado de pessoas, mercadorias e serviços que atendem
além dos limites do Roberto Correia de Araújo.
A clientela busca os mais variados produtos e serviços e a maior parte dos que foram
ouvidos tem o hábito de ir ao comércio no domingo, dia da feira livre. Esses produtos são
comprados quase que exclusivamente em distribuidoras e pagos em sua maioria apenas com
dinheiro, além dos que pagam com boleto.
Estudar as cidades brasileiras a luz da teria dos dois circuitos permite compreender
aspectos que são históricos e que estão enraizados na cultura e no território, mas acima disto é
possível conhecer o espaço, as relações que se dão no mesmo e as diversas possibilidades que
sobrevivência, de trabalho e também de manipulação por parte dos que controlam a economia
e a política.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Roberto Correia de Araújo em União dos Palmares, Alagoas. Trabalho de Conclusão de
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MONTENEGRO. M. R. Dinâmicas atuais do circuito inferior da economia urbana na cidade
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