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A Geopolítica da Energia: Petróleo como fonte de segurança energética e o caso da VenezuelaTRANSCRIPT
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Geopolítica – Turma 2014.1
Professor: Raphael Padula – IE
Componentes: Aléxia Martins e Tulani Dias.
Geopolítica da Energia: Petróleo como fonte segurança energética e o caso da Venezuela
Índice
1. Introdução
2. Petróleo como fonte de segurança energética
3. A Geopolítica do Petróleo
4. O caso da Venezuela
4.1. Características territoriais
4.2. Ascensão à potência petrolífera
4.3. Criação da OPEP
4.4. O interesse estadunidense
5. Conclusão
6. Bibliografia
1. Introdução
“A arte da guerra é de importância vital para o Estado. É uma questão de vida ou
morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína.”
(Sun Tzu [c. 517 a.C.]. A Arte da Guerra. Rio de Janeiro: Record, 1983, p. 17)
O ouro negro é o sangue da civilização moderna. Alimenta a grande maioria dos
equipamentos de transportes mecanizados mundiais – automóveis, caminhões, aviões,
navios, equipamentos agrícolas, militares, etc. Alimenta o desejo pelo desenvolvimento
industrial e econômico de todas as nações. Alimenta a ganância das grandes potências
pelo lucro. Alimenta as desiguais e profundas fronteiras entre os países. Assim como o
sangue, o petróleo tem por função a manutenção da vida (relações econômicas) dentro
do organismo (o mundo), no que tange ao transporte de tecnologia, consumo,
discrepâncias, concorrência, conflitos e disputas, para todos os mais diversos tecidos
(países) do organismo.
A importância do petróleo para a comunidade capitalista é de tal envergadura
que o atual contexto energético é denominado de “A Era do Petróleo”. Logo, tendo em
vista o histórico complexo deste recurso energético, atravessado por conflitos de toda
ordem, este trabalho consiste no estudo geopolítico do petróleo com ênfase no caso
venezuelano, pois, os hidrocarbonetos, finitos à primeira vista, são elementos passíveis
de disputas que podem migrar de simples embates diplomáticos em busca de mercados
até guerras.
Visto que a economia da Venezuela gira, basicamente, em torno do petróleo,
este foi o país escolhido para ser estudado dentro da dinâmica da geopolítica da energia.
Portanto, é abordado neste trabalho: a relação entre a Venezuela e este recurso
energético, juntamente com seus desdobramentos políticos e econômicos dentro do
cenário mundial.
Aléxia Martins e Tulani Dias.
2. Petróleo como fonte de segurança energética
Com o início da Revolução Industrial, se iniciou a era dos combustíveis de
origem fóssil. O carvão mineral foi o primeiro desses combustíveis utilizado em grande
escala, ao substituir a lenha e ser usado na combustão direta para a produção de vapor
nas máquinas de Watt. Contudo, o carvão – como a fonte primária de energia mundial –,
foi superado pelo petróleo, cujo marco zero da industrialização foi no ano de 1859. O
petróleo é outro combustível fóssil, de provável origem de restos de vida aquática
animal acumulados no fundo de oceanos primitivos e cobertos por sedimentos.
O petróleo ganhou destaque ao longo do tempo, com a sua alta capacidade de
utilização estratégica para o desenvolvimento tecnológico/militar e retorno econômico.
Podem-se citar como principais propulsores históricos do petróleo: a explosão do
mercado automotivo (com o surgimento do modelo Ford-T em 1908), que possibilitou a
venda de gasolina ultrapassar a de querosene; e o surgimento da indústria petroquímica
em 1930 (que deu origem a vários outros subprodutos para a produção de equipamentos
– inclusive militares –, maquinários, objetos de plástico, entre outros), tendo a gasolina
como o principal produto. Dessa forma, este recurso energético não-renovável tornou-se
um fator indispensável para os Estados que objetivavam o progresso industrial,
tecnológico, econômico e militar, haja vista que através da exploração do petróleo, é
possível produzir: solventes, óleos combustíveis, gás natural, GLP, diesel, querosene,
combustíveis de aviação, lubrificantes, asfalto, plástico, entre outros.
Não obstante, o cenário de extração do petróleo é dividido entre os países que
possuem o recurso energético em quantidade dentro de seu território e os países
consumidores (que dependem da exportação, por não possuírem quantidade suficiente
para abastecer suas economias internas), conforme mostra a tabela:
Tabela 1: Quadro com os 10 maiores
produtores, consumidores e reservas
petrolíferas do mundo. (Fonte: Mundo
Educação)
Assim, a importância do petróleo reside no fato de a humanidade ser, em sua
maior parte, dependente do uso de seus derivados, principalmente como fonte de
energia. Logo, aquela nação que possuir um maior controle sobre a produção e
exportação de petróleo fatalmente ficará em uma posição confortável nos cenários
político e econômico globais, possuindo segurança energética, visto que alcançará o
desenvolvimento industrial interno atrelado ao desenvolvimento econômico advindo das
exportações.
3. A Geopolítica do Petróleo
Os recursos energéticos impulsionam a expansão do capital e integram o capital
constante circulante, tornando-se indispensáveis ao capitalismo. O petróleo tem sido o
mais importante desses recursos, relevância que – ao lado da expansão no consumo, das
inovações tecnológicas, da localização das principais reservas e estruturas de
escoamento em áreas politicamente instáveis, assim como da forte concorrência –, exige
ver esse recurso como ingrediente central da economia e da geopolítica do capitalismo
contemporâneo. Dessa forma, para entender o atual contexto geopolítico dos recursos
energéticos, com ênfase nas políticas externas das potências mundiais, recorreremos aos
ensinamentos que a História nos deixou.
No final do século XIX e começo do século XX, a economia mundial viveu
grandes mudanças. A tecnologia da Revolução Industrial aumentou ainda mais a
produção, o que gerou uma grande necessidade de mercado consumidor para esses
produtos e uma nova corrida por matérias primas. Assim, iniciava-se a era do
Imperialismo, na qual se destaca a obra geopolítica do almirante Alfred Thayer Mahan
(West Point, 27/09/1840 — Washington, 01/12/1914), membro da Marinha
estadunidense, que produziu um grande impacto na política externa norte-americana.
Em seu trabalho, “The Influence of Sea Power upon History” (1890), Mahan
desenvolveu a Teoria da Supremacia do Poder Marítimo, que partia do princípio de que
o controle do mar era a chave para o domínio do mundo, e cujos fatores imprescindíveis
para o poder marítimo de um Estado eram: a posição geográfica favorável (existência de
fronteiras terrestres seguras); a conformação física (existência de costas extensas e
portos profundos, numerosos e bem situados geograficamente); a extensão territorial
(com ênfase na extensão das costas do país); a grandeza numérica da população
(essencialmente dedicada a ocupações relacionadas com o mar, constituindo apoio na
retaguarda do poder marítimo); o caráter nacional (vocação/propensão da
população/sociedades políticas de se envolver em atividades nacionais e internacionais);
e a política dos governantes (que deveriam captar o caráter nacional de seu povo e
realizar uma política de fortalecimento do poder marítimo). Dessa maneira, Alfred
Mahan defendia a divisão e o desenvolvimento das Marinhas Mercante e Naval, sendo
as duas complementares e essenciais para: o desenvolvimento nacional, poder de
controle territorial, conquista de rotas comerciais estratégicas, e estabelecimento de
colônias, que possibilitavam a expansão do mercado consumidor e o fornecimento de
matéria-prima.
Ao criar sua obra, o autor tinha como objetivo consolidar a supremacia dos
Estados Unidos no continente americano e extremo-oriente, para suceder a Inglaterra
como potência marítima mundial. Contudo, seus ensinamentos serviram de base para
políticas expansionistas e exploradoras de recursos energéticos em outros países.
O estudo da História nos mostra que as relações entre os países se baseiam na
dinâmica da dominação, onde os Estados poderosos ditam as regras do jogo. Essa
relação permanece quando o assunto é a geopolítica dos recursos energéticos,
especialmente no caso do petróleo - cuja busca incessante é a causadora de conflitos
brutais entre as nações. Logo, a questão da energia se encaixa, assim como outros
assuntos, no campo realista das Relações Internacionais.
“Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível
a ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos. E, no caminho para o seu fim (...),
esforçam-se por destruir ou subjugar o outro” (HOBBES, 1988, p. 74-75), Thomas
Hobbes, no Livro XIII do Leviatã, dá uma pista valiosa de como são as relações
interestatais e os atuais conflitos em torno da posse, controle e acesso aos recursos
naturais energéticos. Porém, essas relações são melhores explicadas na obra de Hans
Morgenthau, o pai fundador da corrente realista, que inclui as matérias-primas,
juntamente com os fatores geográficos e a autonomia na obtenção de alimentos, entre os
componentes estáveis ou relativamente estáveis do poder das nações (os componentes
variáveis, segundo ele, seriam a capacidade industrial, a preparação militar e o tamanho
da população). Ele se refere, especificamente, aos recursos naturais necessários para a
produção industrial e, sobretudo, àqueles que põem em funcionamento o aparato militar.
Na visão de Morgenthau, a importância desses recursos cresce na medida em que a
adoção de armas sofisticadas torna menos relevante o combate corpo-a-corpo e as
qualidades individuais dos soldados. Por isso, o que define o resultado da guerra, cada
vez mais, é a eficácia do material bélico – cuja fabricação e funcionamento dependem
de determinadas matérias-primas, especialmente petróleo. Segundo Morgenthau, “com a
crescente mecanização dos combates (...), o poder nacional torna-se cada vez mais
dependente do controle das matérias-primas, tanto na paz quanto na guerra” (1993).
Contudo, por mais que pareça que a corrente realista consiga explicar todas as
relações entre os países dentro do jogo de poder e política externa mundiais, ao focar no
campo de ação das grandes potências, o realismo esquece-se de explicar a conduta
internacional dos Estados menos poderosos, os chamados países “em desenvolvimento”
ou “periféricos”. Dentro do cenário da geopolítica do petróleo, a relação estabelecida é,
geralmente, entre países com ampla reserva do recurso (em sua maioria, países em
desenvolvimento) e países consumidores (grandes potências desenvolvidas que
necessitam de alta quantidade de petróleo). Dessa maneira, alguns desses Estados
periféricos, tratados pelos autores realistas como meros peões no tabuleiro estratégico,
passivos, sem capacidade de ação autônoma, constituem, na realidade, atores chaves na
disputa global por matérias-primas.
Por isso, Quem elaborou de modo mais sistemático o papel dos recursos
energéticos como fator de guerra entre grandes potências econômicas e militares foi o
norte-americano Michael Klare, autor de numerosos artigos e de dois livros importantes
sobre o assunto: Resource Wars (2001) e Blood and Oil (2004). Klare desenvolveu uma
linha de explicação para as causas dos conflitos na nossa época, em que a questão chave
é a disputa por recursos naturais, cada vez mais escassos. Trata-se, na sua visão, de uma
tendência universal: na medida em que a demanda, intensificada pelo crescimento
populacional e pelo desenvolvimento econômico, ultrapassa cada vez mais a capacidade
da natureza de fornecer os materiais essenciais para a vida moderna, maior o risco de
um grande trauma.
Em apoio à sua hipótese, Michael Klare observa que a competição e o conflito
em torno do acesso às principais fontes de materiais valiosos e/ou essenciais – água,
terra, ouro, pedras preciosas, especiarias, madeira, combustíveis fósseis e minerais de
uso industrial – acompanha a trajetória da humanidade desde os tempos pré-históricos.
Assim, o autor assinala que a influência dos recursos no cenário internacional dependerá
dos padrões de evolução do consumo humano, o que deverá elevar seus preços a
patamares inatingíveis por grande parte da humanidade e, em alguns casos, provocar
discórdia entre os Estados interessados em garantir o seu acesso a custos aceitáveis
Segundo Klare, o valor crescente de matérias-primas como o petróleo, aliado ao
papel que desempenham no funcionamento da economia e dos aparatos militares, faz
com que sejam consideradas como bens de interesse vital por muitos Estados,
especialmente pelas grandes potências. O risco de ruptura do suprimento é encarado por
esses Estados como uma ameaça à segurança nacional, cuja prevenção pode justificar
intervenções militares e até mesmo a guerra em grande escala.
4. O caso da Venezuela
Dentro do contexto geopolítico do petróleo, destacamos o caso da
Venezuela, possuidora da maior reserva deste recurso não-renovável do planeta.
Antes da descoberta do primeiro poço, em 1922, a Venezuela era um país agrícola,
despovoado, pobre e com escassa relevância no contexto mundial. A descoberta do
“ouro negro” alterou este quadro e a introduziu no jogo geopolítico mundial. Assim,
o petróleo, passa a condicionar a evolução econômica, política, social e cultural do
país. Nas fases de bonança, de elevação do preço do barril, ele amortece a luta de
classe; já nos períodos de crise, atiça as contradições sociais.
4.1. Características territoriais
A República Bolivariana da Venezuela se encontra ao longo da costa
caribenha da América do Sul, fazendo fronteira com o Brasil, Colômbia e Guiana. O
país ocupa uma área de cerca de 916 mil quilômetros quadrados, e tem uma
população de mais de 29 milhões. Cerca de quatro milhões de pessoas vivem na
capital, Caracas, e o Espanhol é a língua oficial do país.
A intrínseca relação da sociedade venezuelana com a produção e exploração de
seus recursos naturais como principal meio subsistência, mostra a forma como os
conceitos abordados por Rudolf Kjellen - baseados na premissa do organicismo de
Friedrich Ratzel -, enfatizam o determinismo geográfico, onde se unilateraliza a
sujeição do homem ao meio se confirmam. A Venezuela é um exemplo de país que se
destacou veemente em seu processo histórico usufruindo de seus fatores geográficos.
No estudo de Kjellen sobre o espaço na ótica do Estado, o autor dividiu em três
diferentes ramos os conceitos que são primordiais a qualquer estadista que vise um bom
planejamento de seu Estado – nos quais podemos identificar brevemente características
venezuelanas. No primeiro deles, a Topopolítica – que é a política pensada a partir da
posição geográfica, levando em consideração fatores como: influências climáticas,
relevo do solo, distribuição de bacias hidrográficas, proximidade ou afastamento do
mar, bem com a dependência em que fica cada Estado de outros Estados, vizinhos ou
afastados –, verifica-se que a Venezuela possui clima tropical, relevo diversificado (com
planaltos, planícies e montanhas), e sua bacia hidrográfica é constituída pelo rio
Orinoco e seus afluentes. Posteriormente, a Morfopolítica – política pensada segundo o
espaço, enfatizando a área possuída pelo Estado, bem como a que dentro dele é ocupada
e explorada pelo homem; a forma que apresenta o espaço e a linha periférica que
desenha fronteiras terrestres e marítimas –, observa-se uma política ativa e de
recorrentes debates na Venezuela, uma vez que o Estado é divido por regiões
administrativas e ainda possui um território em reivindicação com a Guiana. E por
último, a Fisiopolítica – que é a política de exploração do domínio, ou seja, dos recursos
naturais do território –, onde se verifica a atividade mais explorada pelo Estado
venezuelano, possuidor de fontes minerais riquíssimas, que lhe proporciona tomadas
decisórias no âmbito global.
4.2. Ascensão à potência petrolífera
A economia da Venezuela passou, depois da Primeira Guerra Mundial, de uma
economia essencialmente agrícola para uma economia centrada na extração e
exportação de petróleo — tornando-se posteriormente o quinto maior exportador de
petróleo do mundo e membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de
Petróleo). O petróleo e o gás natural constituem a maior fonte de receitas do país,
responsáveis por cerca de um terço do produto interno bruto (PIB), por cerca de 80%
das receitas de exportação e por mais de metade do financiamento da administração
pública.
O país é possuidor das maiores reservas de petróleo convencional (“light” e
“heavy crude”) do hemisfério ocidental, e das maiores reservas não-convencionais
(“extra-heavy crude”) do mundo. Assim, esta situação cria uma forte dependência da
economia venezuelana no que diz respeito às flutuações dos cursos petroleiros, haja
vista que a baixa do preço do petróleo a partir do meio dos anos 1980 mergulhou o país
em retirada em 1998. Contudo, esta pôde insurgir-se em 1999, graças a uma
ornamentada dos preços do petróleo, e, ainda, o aumento dos cursos do petróleo no
meio dos anos 2000 permitiu a Venezuela obter o mais forte crescimento da América
Latina. Em 2002, obteve 21 bilhões de dólares em exportação de petróleo, de um total
de 26.418 bilhões exportados.
Entretanto, apesar das riquezas geradas pelo petróleo, 37,9% da população
venezuelana ainda vive abaixo da linha de pobreza (final de 2005, est.) — limiar da
pobreza em Portugal. Seu coeficiente de Gini (O Coeficiente de Gini é uma medida,
sobretudo utilizada para medir a desigualdade de renda ou rendimento, e pode ser
também usado para mensurar a desigualdade de riqueza) foi estimado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 48,2 (2003), um dos trinta piores resultados no planeta.
Em dados mais recentes, publicados em 2011 pelo CEPAL, a Venezuela aparece sendo
o país menos desigual da América Latina, com coeficiente de Gini estimado em 0,394.
Estes dados confirmam a premissa de que, países que possuem produção
petrolífera muito acima de seu consumo, e que baseiam sua economia nisso (exportando
o petróleo), costumam ter sua riqueza extremamente mal distribuída (geralmente
concentrada nas mãos de uma pequena elite), não desenvolvendo, dessa forma, outros
potenciais econômicos pela facilidade demasiada que a extração de petróleo
proporciona — e a Venezuela não é exceção.
4.3. Criação da OPEP
O cartel das “Sete Irmãs” (as sete maiores companhias de petróleo
transnacionais formada por países consumidores: Royal Dutch Shell, Anglo-Persian Oil
Company (APOC), Standard Oil of New Jersey (Esso, mais tarde, Exxon), Standard Oil
of New York (Socony), Texaco, Standard Oil of California (Socal), e Gulf Oi) possuía
historicamente, o controle sobre a produção, refino e distribuição de petróleo no mundo
inteiro, tomando vantagem sobre a crescente demanda por petróleo e formando altos
lucros com a sua exploração.
Este cenário de dominação só mudou em 1960, quando os países produtores
decidiram unir suas forças, rompendo com o cartel das “Sete Irmãs”. Surgia assim, em
17 de setembro de 1960, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP),
composta por países que retêm algumas das maiores reservas de petróleo do mundo:
Arábia Saudita, Venezuela, Angola, Nigéria, Líbia, Equador, Irã, Iraque, Kuwait,
Emirados Árabes Unidos e Catar. Seu objetivo principal era unificar a política
petrolífera dos países membros, centralizando a administração da atividade, o que inclui
um controle de preços e do volume de produção, estabelecendo pressões no mercado.
Além disso, é interessante notar que os países que mais produzem e também que
possuem maiores reservas estiveram recentemente envolvidos, de uma forma ou de
outra, em questões diplomáticas ou militares. A Venezuela, por exemplo, vem seguindo
uma postura de questionamentos e tensões constante com os EUA. Dessa maneira, a
luta contra
as
grandes companhias petrolíferas começou a ser travada, com vitórias lentas, mas
definitivas, para os países produtores do óleo negro.
4.4. O interesse dos EUA
Levando em consideração a grande reserva petrolífera da Venezuela, sua
capacidade de exportação e proximidade com o território norte-americano, a mesma
sempre esteve sob foco recorrente das políticas estadunidenses, principalmente, estando
entre os quatro maiores exportadores de petróleo para os EUA — atrás do Canadá, do
México e da Arábia Saudita —, representando 13% das importações feitas pelos norte-
americanos da commodity.
A Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) que é uma empresa de propriedade da
República Bolivariana da Venezuela, criada pelo governo venezuelano em 1975, de
acordo com a Lei Orgânica — que reserva ao Estado a indústria e comércio de
hidrocarbonetos (Lei de Nacionalização) —, teve sua privatização proibida pela
Constituição Bolivariana de 1999, com exceção de subsidiárias, associações estratégicas
e negócios relacionados. A empresa é a maior empregadora da Venezuela e corresponde
a um terço do seu PNB. Desde a eleição de Hugo Chávez na Venezuela, um presidente
esquerdista e que se autodenominava antiimperialista, as relações entre os dois países
deteriorou-se. Algumas ações do presidente desagradaram em muito o governo dos
EUA, como: a re-nacionalização da PDVSA, a promulgação de uma nova constituição e
a adoção de novas políticas quanto ao petróleo (inclusive a exportação mais barata para
Cuba).
Tais ações do presidente venezuelano acabaram por servir de embasamento à
hipótese de Michael Klare, de maneira que o Estado norte-americano, por enxergar a
Venezuela como um importante meio de abastecimento de petróleo, e não estando
satisfeito com as decisões políticas desse país, supostamente tomou atitudes
governamentais de apoio a oposição do presidente Chávez, dando condições e incentivo
a conflitos gerados em território venezuelano que deram origem a um golpe de Estado
em 2002. Tal golpe durou apenas 48 horas, no qual Chávez foi preso, e Pedro Carmona
Estanca foi colocado no poder, contando com o apoio dos meios de comunicação, TVs,
rádios e jornais.
Há alguns indícios da participação dos EUA nesse golpe, através da CIA e da
realização de operações encobertas (desde junho de 2001, pelo menos, o coronel Ronald
MacCammon, adido militar dos EUA na Venezuela, e seu assistente, tenente-coronel
James Rogers, já estavam a examinar com os militares venezuelanos a possibilidade de
derrubar Chávez). E os EUA também demonstraram apoio, dizendo que a renúncia era
uma vitória da Democracia. Apesar de Chávez conseguir voltar ao governo, em outubro
do mesmo ano, surge novas convocações de greve. No dia 2 de Dezembro de 2002, os
oponentes do presidente Chávez organizaram uma greve de proporção nacional,
intensificada pela entrada dos diretores da PDVSA à greve geral, que adquiriu, assim,
grande relevância interna. A greve atingiu uma grande parte da indústria nacional
petrolífera (reduzindo a produção e a exportação), cujo principal argumento era a
convocação de um referendo antecipado para a sucessão de Chávez — referendo esse
que, continuamente, buscou ser instituído até a morte de Cháves, em março de 2013.
Os EUA são continuamente acusados pelo governo venezuelano de ativa
participação na oposição e na tentativa de tirar Chávez do poder por meio do referendo.
A posição dos EUA é, contudo, precavida e suas políticas para a Venezuela incluem
duas preocupações: uma delas é a proximidade com a Colômbia e a necessidade de
estabilidade na região, principalmente relacionada com o narcotráfico; outra questão é a
importância da Venezuela como fornecedora de Petróleo, pois para os EUA seria
importante que o governo venezuelano fosse seu aliado — entretanto o que se vê é o
oposto.
Porém, qualquer política hostil frente à Venezuela, que impeça o pleno
funcionamento democrático e mantenha a ordem civil, pode ter consequências negativas
para estes interesses relatados. Dentre estas questões, é importante notar o plano de
segurança e a presença militar dos EUA na região, com o Plano Colômbia, que pode ter
influência direta na relação com a Venezuela. Este é o plano de cooperação militar dos
EUA para com a Colômbia, que inclui ajuda financeira e o envio de tropas. Como a
Colômbia faz fronteira com a Venezuela, a presença militar estadunidense no país
ameaça a segurança venezuelana, principalmente, devido às relações conturbadas entre
os dois governos. O que se vê é a tentativa norte-americana de minar o poder ideológico
correspondente ao de Chávez, por meio de várias tentativas de apoio aos oposicionistas
e através da presença direta no território. Para os EUA, ter um governo aliado, nesta
região de interesses estratégicos, principalmente energéticos, seria de suma importância.
Resta saber até quando o governo suportará as pressões, e até quando os políticos
estadunidenses manterão suas políticas de não intervenção direta.
5. Conclusão
Tendo em vista todo o aparato econômico, político, industrial e militar presente
na geopolítica da energia, pode-se concluir que a Venezuela é um país atípico na
América Latina, haja vista que tem no petróleo sua principal fonte de renda, o que fez
com que sua política externa tenha sido voltada quase sempre para fora do
subcontinente. Quando Chávez assume o governo, apesar da pouca mudança ocorrida
nas suas relações com seu maior crítico e parceiro econômico, o discurso do governo
venezuelano aponta na direção de um questionamento do modelo unilateral e
hegemônico dos EUA, e da busca de um modelo mais multilateral.
Podemos observar que essa posição, que se mostra cada vez característica do
governo venezuelano, só se torna possível devido à conjuntura internacional favorável
advinda, sobretudo, da alta dos preços do petróleo. A história política nos mostra que a
região sul da América Latina, principalmente Brasil e Argentina, vivem conjuntura
também favorável ao chavismo, principalmente depois da eleição de Lula e Nestor
Kirchner – e de suas sucessoras, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, que mantiveram
essa relação –, que se apresentaram como aliados ao governo de Chávez e se colocaram
de forma crítica em relação à política hegemônica norte-americana.
Portanto, se num primeiro momento as preocupações externas do governo
chavista foram sim dirigidas à rearticulação da Opep, mas a partir de 2001 podemos
notar a nítida mudança de prioridade em direção à integração sul-americana, sobretudo
em sua forma. Por um lado, Chávez propôs a Alba como alternativa à Alca. Ao
contrário de uma integração comercial, a Alba seria um tipo de integração política, de
apoio mútuo entre os países “bolivarianos” da América Latina. Essa proposta
sensibilizou, de imediato, apenas Cuba e, um pouco depois, a Bolívia, com a chegada de
Evo Morales ao governo, mas sensibilizou muito pouco outros países da região. A
criação da Alba serviria como importante instrumento de política externa para a
Venezuela, pois ampliaria sua área de influência no Caribe e América Central, dando
mais autonomia aos países da região, ou tentando protegê-los das investidas dos EUA.
Diante desse cenário de integração comercial sul-americana, a entrada da
Venezuela no Mercosul foi, obviamente, uma escolha política quase necessária, uma
vez que o Mercosul é importante para o país aumentar o número de parceiros comerciais
da Venezuela, além de fortalecê-la na região. No Plano de Desenvolvimento da Nação
de 2001 a 2007, o objetivo da política externa de Chávez era investir no fortalecimento
da Comunidade Andina (bloco econômico sul-americano formado por Bolívia,
Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Chile – com a saída do Chile em 1977) para que
os países membros do bloco se aproximassem, em conjunto, ao Mercosul. Entretanto,
após a promulgação dos Tratados Bilaterais de Livre Comércio com Estados Unidos
pela Colômbia, Peru e Equador, essa alternativa tornou-se inviável, ocasionando a saída
da Venezuela desse bloco e a subseqüente entrada no Mercosul.
Portanto, como se pode analisar e constatar, as políticas integracionistas e
antiimperialistas se colocam de forma vital para a perspectiva chavista – que se
perpetuam até mesmo após a morte de Chávez (2013) com o atual presidente Nicolás
Maduro –, de manter seu projeto “bolivariano” vivo internamente, já que conta com o
apoio dos vizinhos que possuem preocupação social e ligações populares semelhantes e
vêem com bons olhos um governo que esteja disposto a investir em projetos de
desenvolvimento econômico e social para o subcontinente. Mas, observamos que a
busca por integração também permite à Venezuela almejar uma projeção na política
externa, ao aumentar sua influência na região, além de ter/obter novos parceiros
comerciais que possam auxiliar o país a transformar sua cultura monoexportadora com
base no petróleo para uma produção mais diversificada, reduzindo, também e com isso,
a dependência a seu principal adversário no campo retórico e ideológico – além de
fornecer segurança energética –, colocando, assim, em prática, o que se conhece de cor
e salteado no discurso chavista.
6. Bibliografia
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http://geografiaopinativa.blogspot.com.br/2013/07/geografia-da-venezuela-
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http://geopolitica-energia.blogspot.com.br/
http://geopoliticadopetroleo.wordpress.com/