apostila 1 geopolítica

16
Fonte “O Estado de São Paulo” CENTENAS DE MILHARES PROTESTAM NO ORIENTE MÉDIO E NORTE DA AFRICA. MANIFESTANTES NO IRAQUE IÊMEN BAHREIN EGITO TUNÍSIA JORDÂNIA, EXIGEM PRESTAÇÃO DE CONTAS DE LÍDERES E SE SOLIDARIZAM COM LÍBIA.

Upload: katcavenum

Post on 05-Jul-2015

1.936 views

Category:

Education


5 download

DESCRIPTION

A crise no oriente médio: seus efeitos e suas conseqüências. As manifestações nos países árabes e os efeitos que provocam no mundo. A situação da Palestina e Israel frente aos eventos.

TRANSCRIPT

Fonte “O Estado de São Paulo”

CENTENAS DE MILHARES PROTESTAM NO

ORIENTE MÉDIO E NORTE DA AFRICA.

MANIFESTANTES NO IRAQUE – IÊMEN –

BAHREIN – EGITO – TUNÍSIA – JORDÂNIA,

EXIGEM PRESTAÇÃO DE CONTAS DE

LÍDERES E SE SOLIDARIZAM COM LÍBIA.

02 – allencar rodriguez

Centenas de milhares de

manifestantes saíram às ruas no Oriente

Médio e norte da África para exigir a

prestação de contas de seus líderes e

expressar solidariedade ao levante na

Líbia que o líder Muamar Kadafi está

tentando suprimir pela força.

No Iraque, manifestações reivindicando melhores serviços públicos

saíram do controle em muitos lugares. Os manifestantes

queimaram prédios, e a forças de segurança atiraram contra a

multidão em Bagdá, Mossul, Ramadi e na Província de Salahuddin,

no norte da capital, deixando pelo menos cinco mortos.

Manifestantes e policiais entram em

choque em Bagdá, no Iraque.

Passeatas em grande escala no Iêmen

pareceram preceder marchas mais pacíficas e

até mesmo festivas. Mais de 100 mil saíram às

ruas depois que o presidente prometeu não

reprimir as demonstrações.

No Egito, dezenas de milhares se concentraram na praça Tahrir do

Cairo, que virou símbolo da revolta que forçou a renúncia de Hosni

Mubarak em 11 de fevereiro. Os manifestantes exigem a formação

de um novo governo e o julgamento do ex-presidente egípcio, que

se retirou para a cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, na Península do

Sinai.

crise árabe - 03

O Egito vive um período de transição política

após a renúncia, mas a maioria dos ministros e

o chefe do gabinete, Ahmed Shaifg, procedem

do regime anterior.

“Não precisamos desse governo, queremos um novo que possamos

escolher”, disse o jovem manifestante Omar el-Guendi.

A concentração coincidiu com as orações do meio-dia de sexta-

feira, a celebração religiosa semanal mais importante para o mundo

muçulmano. Os manifestantes levavam bandeiras e cartazes, e

muitos deles estavam com as caras pintadas com as cores da

bandeira egípcia.

No Bahrein, manifestações pró-democracia

bloqueou quilômetros das estradas e rodovias

centrais em Manama, capital. Em uma

mudança em relação à terça-feira, quando os

manifestantes antigoverno atraíram mais de

100 mil para a Praça Pérola.

Nesta sexta foram os líderes religiosos que convocaram a

população a tomar as ruas. Isso pode mudar a dinâmica no

Bahrein, onde os xiitas são a maioria, mas os governantes

pertencem à maioria sunita.

Na Jordânia, milhares saíram novamente às ruas de Amã e outras

cidades para exigir reformas políticas, entre elas a dissolução da

Câmara baixa do Parlamento. A principal manifestação ocorreu na

capital e saiu da Grande Mesquita de Hussein, onde se reuniram

líderes opositores, sindicalistas e ativistas independentes.

Os participantes da manifestação cantaram

palavras de ordem para exigir reformas

políticas, o fechamento da embaixada

israelense em Amã e a restauração da

Constituição de 1952, que previa a formação

de governos representativos.

04 – allencar rodriguez

Os manifestantes também traziam cartazes em apoio às revoltas

contra o regime de Muamar Kadafi na Líbia. Os protestos na

Jordânia começaram há seis semanas no calor das revoltas do Egito

e da Tunísia, e as exigências da população se centram

principalmente em reformas como a modificação da Lei Eleitoral,

muito criticada pela oposição. Diante da pressão das ruas, o rei

Abdullah 2º formou um novo governo, pedindo que promova

reformas políticas reais e rápidas, e que dialogue com todas as

forças políticas.

Na Tunísia, onde começaram em dezembro os protestos que

serviram como um rastilho de pólvora no mundo árabe, milhares se

concentraram na frente do Palácio de Governo, no centro de Túnis,

para pedir a renúncia do Executivo de transição tunisiano e do

primeiro ministro Mohamed Ghannouchi.

A praça da velha Medina de Túnis se

transformou poucos dias depois da fuga do

presidente deposto no centro dos protestos

populares contra o governo, especialmente dos

habitantes das regiões mais abandonadas do

interior do país como Sidi Buzid e Kaserin.

PROTESTOS NO MUNDO ÁRABE ABALAM ISRAEL

APESAR DA CRISE ENTRE ISRAEL E PALESTINOS NÃO

ESTAR NO FOCO DAS REVOLTAS NO MUNDO ÁRABE, APOIO

À CAUSA PALESTINA PODE CRESCER

crise árabe - 05

As antigas certezas sobre o Oriente Médio foram reviradas e Israel

encontra muitos dos seus parceiros mais confiáveis abalados ou

derrubados pela agitação popular. O Egito foi por muito tempo um

dos mais importantes aliados de Israel, e seus laços com a Tunísia

também eram discretamente fortes. Com as manifestações por

mudanças abalando também Jordânia, Bahrein e Marrocos, Israel se

encontra em dificuldades.

Os israelenses temem que os movimentos pela democracia árabe

acabarão por ser dominados por extremistas, como aconteceu no Irã

após a revolução de 1979 que derrubou o antigo xá. Eles se

preocupam com a transição caótica entre a revolta e a estabilidade

democrática, se ela vier. Eles vêem a Irmandade Muçulmana do

Egito, mesmo que permaneça como uma minoria, como um grupo

que fará pressão para uma maior solidariedade com os palestinos e

o Hamas, o ramo palestino da Irmandade. E temem que seus

parceiros regionais no controle do Irã estejam sob ameaça ou em

queda.

Analistas árabes avaliam que as novas realidades e democracias

na região devem ser abraçadas por Israel. A nova geração árabe

compartilha muitos dos mesmos valores de Israel e do Ocidente.

Eles argumentam que não há apoio entre os líderes do Egito para a

revogação do Tratado de Paz de 1979, embora ele não seja popular

com o público. O exército não irá prejudicar a política externa.

Mas os novos governos são mais suscetíveis a aumentar seu apoio

à causa palestina, como o Egito já reabrindo a passagem para a

Faixa de Gaza governada pelo Hamas. Essa nova atitude pode

pressionar Israel a fazer mais para encontrar uma solução para o

problema, alguns analistas argumentam. A maioria dos outros

acredita que Israel, ao contrário, deve resistir, alegando que eles

não podem fazer concessões porque está cercada por vizinhos mais

hostis.

06 – allencar rodriguez

"A indignação generalizada sentida pelos egípcios, que se veem

como os carcereiros de Gaza em nome de Israel e Washington, dará

lugar a uma política realista na qual os egípcios usam os seus laços

com Israel para pressionar o país a adotar uma postura mais

respeitadora da lei em relação aos palestinos, sírios e libaneses",

escreveu Rami G. Khouri, analista da Universidade Americana de

Beirute, no Yale Global Online. "O Egito irá manter a paz com Israel,

mas também deve elevar a temperatura em questões de interesse

nacional profundo para os árabes".

A questão entre Israel e palestinos não foi importante para as

revoltas democráticas, disse Marwan Muasher, ex-ministro dos

Negócios Estrangeiros da Jordânia e seu primeiro embaixador em

Israel. Mas ele disse que isso pode mudar no futuro. "Não resolver a

questão Israel e palestinos hoje vai complicar as relações entre os

governos emergentes árabes e seu povo de um lado e o Ocidente do

outro", disse Muasher, agora vice-presidente da Fundação Carnegie.

"Nesse ambiente de liberdade, será muito difícil para os novos

governos árabes ignorar a ocupação".

Olivier Roy, professor do Instituto Universitário Europeu, na Itália,

também espera que um novo governo egípcio terá "uma política mais

aberta em relação aos palestinos, ajudando mais os habitantes de

Gaza através de doações e transportes". Mas ele argumentou que

isso "não será muito", apesar de muitos israelenses preferirem uma

Gaza dependente do Egito a uma voltada ao Irã.

Enquanto os israelenses se preocupam com a Irmandade

Muçulmana, Roy afirma que a revolta surpreendeu e marginalizou o

grupo. "A Irmandade ficará muito feliz em representar algum tipo de

oposição", disse. “Eles não querem estar na linha de frente. Portanto,

não prevejo uma grande mudança geoestratégica", disse Roy. "Já os

sauditas e israelenses estão convencidos de que haverá uma”.

crise árabe - 07

Outros analistas veem uma grande oportunidade para Israel. ''É

uma situação totalmente nova, que está sendo descoberta agora",

disse Gilles Kepel, um estudioso do islã no Instituto de Estudos

Políticos de Paris. "Eu acredito que há uma abertura grande e a bola

está no campo israelense”.

Os militantes islâmicos da região estão divididos entre os radicais e

os 'participacionistas‟, cujo modelo é o partido governista da

Turquia", disse Kepel. "Eles vão ter de lidar com a democracia e ver

seus compromissos ideológicos se corroerem”.

Mas os israelenses estão ansiosos, especialmente sobre a Jordânia,

onde o rei parece incerto tanto sobre a Irmandade Muçulmana quanto

sobre as vozes seculares de esquerda do Egito. O embaixador de

Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, elogiou a democracia egípcia

em um artigo de opinião no New York Times, mas observou com

preocupação que “o líder reformista, Ayman Nour, declarou que „a era

de (Acordos de) Camp David acabou‟”.

Os israelenses também notaram a presença de Youssef El-

Qaradawi, um teólogo islâmico egípcio que havia sido exilado por

Mubarak, na praça Tahrir na última semana e a disposição do

Exército egípcio em deixar alguns navios de guerra iranianos

passarem pelo Canal de Suez.

Não são apenas os israelenses que estão preocupados, observou

Heller em Tel Aviv, apontando para o protesto das mulheres na

Tunísia no último fim de semana, preocupadas que suas liberdades

existentes possam estar em risco em uma nova democracia mantida

por muçulmanos mais radicais.

O debate principal é saber se Israel deveria ''permanecer imóvel,

vendo o quão confiáveis são nossos parceiros", ou se Israel deveria

"tirar a si mesmo da equação ao fazer algum progresso na questão

palestina", disse Heller, que descreveu a segunda solução como a

mais difícil. "E claro, em Washington o debate é o mesmo”.

08 – allencar rodriguez

Dore Gold, ex-embaixador israelense na ONU e ex-assessor do

primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a

democracia árabe poderia tornar Israel um país mais seguro.

''Durante anos, os líderes árabes que pensavam ter problemas de

legitimidade porque não foram eleitos pelo povo usaram diversos

argumentos diante de sua população, como a unidade árabe, a

solidariedade islâmica e, o mais importante, a luta contra Israel",

disse ele. "Então, se você tiver regimes legitimados por eleições

democráticas e um governo responsável, eles vão depender menos

do conflito para a sua própria situação interna”.

Mesmo assim, ''a transição para a democracia está cheia de todos

os tipos de armadilhas”, disse Gold, argumentando que a

desestabilização regional ajudou o Irã, uma ameaça que Israel

considera mais importante.

O próprio Irã, é claro, tem sofrido com suas próprias divergências

internas, mas os analistas israelenses não veem o governo como

atualmente vulnerável. Os israelenses se preocupam em estarem

cercados por militantes islâmicos apoiados pelo Irã - o Hezbollah ao

norte, o Hamas ao sul e a Irmandade Muçulmana no Egito - e os

oficiais israelenses acreditam que terão novos problemas de

segurança caso haja um colapso na partilha de informações com o

Egito e o aumento do contrabando de pessoas, armas, dinheiro e

bens em todo o Sinai.

Muitos analistas veem um papel crescente para a Turquia, uma

democracia muçulmana com um Exército forte e laços com os

Estados Unidos, Israel e o Ocidente. ''A Turquia será beneficiada com

a democratização árabe, conforme sociedades mais abertas e

dinâmicas aprendam com o país e sua famosa mistura entre

islamismo e secularismo”, Khouri escreveu.

O modelo turco seria um bom resultado para Israel, muitos

israelenses concordam. Mas, como eles também notaram, as relações

com a Turquia têm sido profundamente prejudicadas por sua

proximidade a vizinhos muçulmanos como o Irã, o Hezbollah e o

Hamas.

crise árabe - 09

INTERNET FAVORECE MOBILIZAÇÃO EM

REGIME FECHADOS.

Manifestante mostra cartaz que diz “Facebook contra todos

os injustos” durante protesto no Cairo contra o presidente do Egito, Hosni Mubarak.

Rede ajuda articulação de cidadãos comuns, mas também é utilizada

por governos autoritários para monitorar dissidência.

Na tentativa de explicar o que levou milhares de manifestantes a

lotar as ruas de países do mundo árabe nas últimas semanas,

analistas internacionais citaram, além da insatisfação popular com

as dificuldades econômicas e a falta de liberdade política, vídeos no

YouTube, posts no Twitter e relatos no Facebook. Em países como

Tunísia e Egito, a internet ajudou a compor movimentos

heterogêneos, apartidários e sem lideranças claras.

Atribuir as históricas revoltas no mundo árabe somente à circulação

de informação na internet é ignorar as dificuldades econômicas e

políticas de países que há décadas estão sob regimes autoritários.

Na Tunísia, o primeiro a levar a insatisfação às ruas, a população

jovem foi motivada a protestar principalmente por causa do

aumento nos preços dos alimentos, a alta taxa de desemprego e a

falta de oportunidades em uma sociedade extremamente fechada.

Mas, utilizando a internet, eles conseguiram mais do que divulgar

datas e locais de protesto: organizaram um movimento forte e

multiplicaram a repercussão de suas ações.

10 – allencar rodriguez

Um dos estopins dos protestos na Tunísia foi a divulgação de um vídeo no qual um vendedor imola-se na cidade de Sidi Bouzid, em protesto contra o confisco de suas mercadorias por policiais. Filmado por tunisianos que estavam no local munidos de seus telefones celulares, o vídeo foi publicado no YouTube, compartilhado em redes sociais e transmitido pela emissora Al-Jazeera, alcançando grande número de espectadores árabes e, depois, ganhando o noticiário internacional. Sem a liderança de um partido ou organização específica, milhares se revoltaram contra o governo.

Para Faraz Sanei, pesquisador da organização

Human Rights Watch, a internet impulsiona esse tipo de movimento sobretudo em países sob regimes

políticos fechados, onde grupos opositores que

poderiam liderar os protestos não têm permissão para atuar ou são vistos como pouco confiáveis. “Em locais

onde é difícil emergir um líder natural, a internet

facilita a mobilização dos cidadãos comuns”, afirmou, em entrevista ao iG.

O professor David Anderson, que leciona Política Africana na

Universidade de Oxford, no Reino Unido, concorda. “No Egito e na

Tunísia, a oposição é fragmentada e muito fraca. Por isso, os

movimentos sociais oferecem uma base mais coerente para

dissidência e protesto”, explicou.

Segundo ele, nos últimos dois anos a internet e os telefones

celulares tiveram importância na organização de movimentos sociais

em diferentes partes da África e no mundo árabe. Ele recomenda,

porém, “cautela” ao analisar “onde esse tipo de mobilização pode

nos levar”. “Esses movimentos carecem de coerência política, e não

está claro se as alianças criadas durante os protestos vão se traduzir

em algo concreto”, afirmou.

No Egito, o passo posterior à revolta parece ser a preocupação de

grande parte dos manifestantes. “Onde isso vai dar?”, questionou o

ativista egípcio Gasser Abdel-Razeq, em entrevista ao jornal

americano “The New York Times”. “Como criar uma liderança que

possa representar essas pessoas sem dividi-las?”

crise árabe - 11

Até agora, grupos opositores como a Irmandade Muçulmana e

líderes como o Prêmio Nobel da Paz de 2005 Mohamed ElBaradei

ocuparam papel coadjuvante nos protestos. “Aqui todo mundo está

andando sozinho e falando por si próprio, porque não há nenhum

grupo que nos represente”, disse o manifestante Mohammed Nagi.

Censura online

O principal indicador de que a internet facilitou a mobilização

popular no Egito foi a decisão do governo de interromper os serviços

de telefone por mais de 24 horas e derrubar os provedores de

internet por vários dias. Diante do bloqueio, os egípcios utilizaram

máquinas de fax e aparelhos de rádio para circular informações

sobre protestos, além de dicas sobre como usar modems discados

para acessar a internet. O Google também desenvolveu uma

ferramenta especial com a qual a população publicava conteúdo no

Twitter por meio de mensagens de voz.

Outros governos já derrubaram a internet de todo o país para

frear protestos, como Mianmar em 2007 e Nepal em 2005. Mas a

maioria dos países, como China e Irã, usam formas mais sofisticadas

de censura online, bloqueando endereços específicos e filtrando o

conteúdo de sites de busca.

Ações como essas levam analistas como Evgeny Morozov, nascido

na Bielo-Rússia, a rejeitar a ideia de que a internet seja uma

ferramenta a favor da democracia. No livro “The Net Delusion: The

Dark Side of Internet Freedom” (“A Ilusão da Rede: O Lado Negro da

Liberdade na Internet”), ele argumenta que sites como Facebook e

Twitter ajudam governos autoritários a monitorar dissidentes,

conhecer seus hábitos e coletar informações sobre seus parentes e

familiares.

O pesquisador da Human Rights Watch também vê o lado

potencialmente perigoso das redes sociais. “Quando você posta algo

no Twitter ou no Facebook, deixa um rastro eletrônico”, explicou

Sanei. “Seus amigos podem ler o que você escreve, mas o governo

também pode.”

12 – allencar Rodriguez

Sanei, que estuda a situação dos direitos humanos no Irã,

afirma que o governo do país aprimorou consideravelmente suas técnicas de monitoramento de cidadãos pela internet

desde 2009, quando foi “pego de surpresa” pela imensa

quantidade de informações compartilhadas nas redes sociais

sobre os protestos contra a reeleição do presidente

mahrmoud Ahmadinejad.

Hoje, a Guarda Revolucionária, principal força econômica e política

que protege o regime, afirma ter um “Exército virtual” capaz de

tornar conexões mais lentas, bloquear e até derrubar sites

considerados indecentes por ter conteúdo pornográfico ou

propaganda de bebidas alcoólicas, por exemplo.

Segundo Sanei, a mesma tecnologia é usada para punir

dissidentes. “A Guarda Revolucionária monitora indivíduos nas redes

sociais, que muitas vezes são perseguidos, presos e processados por

crime contra a segurança nacional”, afirmou.

O pesquisador lamenta que a forte repressão nas ruas tenha

sufocado os protestos sociais no Irã e o aumento da censura tenha

limitado a ação dos dissidentes na web. “O fato de a internet ser

algo relativamente novo não significa que disseminar e acessar

informação online não seja um direito fundamental”, afirmou.

crise árabe - 13

RESPONDA: QUAIS SÃO OS EFEITOS DAS MANIFESTAÇÕES?

RESPONDA: O QUE OS REVOLTOS BUSCAM NA REALIDADE DE SUAS AÇÕES?

14 – allencar rodriguez

ARTIGO DE OPINIÃO

Faraós, califas, mulás, sovietes e mandarins

26 de fevereiro de 2011 | 0h 00

A revolta que assombra os países islâmicos coloca uma questão:

as respectivas sociedades, em que pese a diversidade delas, na

Tunísia, no Egito, na Argélia, no Iêmen, no Irã, na Líbia, no

Marrocos, no Bahrein, etc., buscam uma coisa: melhores condições

de vida, liberdade e participação. Tudo isso comunicado, em rede,

pelas pessoas, driblando controles policiais e censuras. Um primeiro

capítulo dessa onda libertária ocorreu no final do século passado,

quando desabaram as ditaduras da União Soviética e do Leste

Europeu e quando os cubanos fugiram em massa para Miami, no

episódio conhecido como os "Marielitos", na época do governo

Reagan. Terremoto semelhante ocorreu na China, com a ocupação

da Praza da Paz Celestial pelos estudantes, primeiro, e, depois, pelos

tanques.

Uma conclusão salta à vista: o que os revoltosos de ontem e de

hoje procuram é o que sempre foi apregoado pelas democracias

liberais: liberdade de ir e vir, liberdade para empreender negócios,

liberdade de pensamento e expressão, liberdade para as mulheres e

para as minorias, controle da sociedade civil sobre o aparelho do

Estado, conquista do conforto como expressão do desenvolvimento

econômico, tolerância, pluralismo, enfim, tudo aquilo que as elites

corruptas dos países sacudidos pela onda de insatisfação negam aos

seus cidadãos.

Palmas para o liberalismo que consegue, em pleno século 21,

seduzir com os seus ideais as grandes massas dos países que

ficaram por fora das reformas ensejadas no Ocidente pelos

seguidores de Locke, Tocqueville e Adam Smith. Os ideais liberais

superaram a prova da História, não ocorrendo assim com os ideais

totalitários de Marx e quejandos.

crise árabe - 15

No final da primeira década do século 21 encontramos,

consolidada pela opinião pública mundial, a modalidade de Estado

contratualista estudado pelos liberais doutrinários e por Max Weber.

Segundo o pensador alemão e os seus precursores franceses

(Benjamin Constant, Guizot, Tocqueville, etc.), ali onde houve uma

experiência feudal completa, as respectivas sociedades se

diversificaram em ordens diferentes de interesses, que ensejaram o

surgimento das classes sociais, sendo o jogo político uma luta entre

elas. Esse processo ensejou o moderno parlamentarismo, civilizada

arena onde se realiza o confronto entre interesses diversos,

abandonando o campo da guerra civil. A alternativa a esse modelo

liberal ficou por conta do pensamento de Rousseau, ao longo dos

três últimos séculos, que consolidou o ideal da democracia

totalitária, alicerçada na unanimidade construída mediante a

eliminação da dissidência.

Ora, a luta que observamos presentemente é uma reação de

sociedades dominadas por ditaduras, que se constituíram em

herdeiras do velho despotismo oriental. O que egípcios, tunisianos,

iemenitas, iranianos, chineses dissidentes, etc. buscam é a

substituição do modelo do patrimonialismo hidráulico por arquétipos

inspirados na prática da representação política e de respeito aos

direitos individuais. Ora, isso é possível, inclusive no seio de

sociedades diferentes das ocidentais. A Turquia encarna hoje, por

exemplo, um regime que se aproxima das modernas democracias.

As ditaduras somente são aceitáveis para aqueles que dominam,

jamais para os dominados. Como dizia Talleyrand, a raposa

aristocrática, a Napoleão: "Sire, as baionetas servem para muitas

coisas, menos para se sentar encima delas." Ou seja: você,

governante, quer estabilidade? Construa a livre participação dos

seus cidadãos! Essa, aliás, foi a genial lição que o nosso precursor

liberal Silvestre Pinheiro Ferreira passou ao seu chefe, Dom João VI,

no final da primeira década do século 19, nas suas famosas Cartas

sobre a Revolução Brasileira.

16 – allencar rodriguez

Faraós, califas, sovietes, mulás e mandarins jamais conseguiram -

nem conseguirão - satisfazer às suas respectivas sociedades, porque

está viciado, ab origine, o modelo de patrimonialismo oriental em que

se inspiram e que se define como a organização do Estado como se

fosse propriedade familiar de uma casta, de um czar ou de uma

oligarquia.

Chamou-me a atenção uma reportagem que li num jornal canadense

no ano passado: o maior grupo étnico de milionários que busca

residência no Canadá é constituído pelas famílias de altos dirigentes

chineses. O repórter indagava acerca das razões dessa preferência. O

motivo alegado por eles era bem curioso: a China, sim, é uma grande

potência econômica e política. Mas ninguém tem certeza de que as

conquistas de bem-estar atingidas pela elite - calculada em 400

milhões de pessoas - serão garantidas para as próximas gerações.

Assim sendo, os mandarins cuidam para que as suas famílias passem a

gozar das benesses do desenvolvimento, não na terrinha (pátria do

despotismo hidráulico), mas ali onde estão garantidas, por uma longa

tradição liberal, as conquistas dos indivíduos. Ou seja: a China pode

ser uma grande potência, mas não é o paraíso, mesmo para as famílias

dos seus dirigentes, que preferem um país desenvolvido do Ocidente

para ali gozarem as benesses do progresso e do conforto, com a

certeza de que esses direitos serão garantidos num clima de liberdade.

A América Latina, na trilha do populismo da última década, abjura

justamente o liberalismo e fica presa à manutenção de odiosos

privilégios oligárquicos (vide os pactos realistas do partido governante

no Brasil com ícones da oligarquia nordestina, que ainda conseguem

manter sob censura o mais importante diário do País, justamente por

ter sido denunciada nas suas páginas a prática de arcaico

patrimonialismo). Nesse ponto, o Brasil consegue ser ainda mais

retardatário que o Egito, onde caiu o faraó de plantão, enquanto nós

mantemos, felás pagadores de impostos, os privilégios de odiosa

nomenclatura em que se converteu a nossa classe política.

COORDENADOR DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA

UFJF E-MAIL: [email protected]