trabalho de campo no parque nacional da serra da...
TRANSCRIPT
Trabalho de Campo no Parque Nacional da Serra da Canastra: Uma análise sobre
os aspectos físicos e antrópicos no município de São Roque de Minas- MG
Bruno Stefano de O.F.Pinto¹
Édino de Almeida Grama²
¹Graduando em Geografia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
²Graduando em Geografia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo analisar trabalho de campo no Parque
Nacional Serra da Canastra sobre o viés dos conceitos teóricos obtidos em sala de aula.
Assim, partindo das explicações de CAMPOS & PLÁCIDO (2011, p. 03), onde nos é
dito que "o Estudo do Meio [...] deve ser realizado por diversas disciplinas
possibilitando superar o isolamento do conteúdo curricular, mas sem perder a
especificidade de cada disciplina", ou ainda o que nos é apontado por CANDIOTTO (p.
38), referente ao consenso entre a maioria dos autores, de que a "interdisciplinaridade,
mais do que um conceito teórico, é uma prática", o presente trabalho tem por finalidade,
além de expor as experiências obtidas in loco, analisar as diferentes variáveis do espaço
estudado em campo, no município de São Roque de Minas- MG.
OBJETIVOS
A Pesquisa é investigar os conjuntos de informações adquiridas em trabalhos
teóricos em diferentes disciplinas do Curso de Geografia: Pedologia, Geomorfologia,
Geoprocessamento, Cartografia Temática, entre outros.
Tem-se como propósito de observar e analisar a formação do Parque Nacional
da Serra da Canastra, coletar as informações, com intuito de auxiliar os alunos a
assimilar a importância do trabalho de campo e identificar distintas relações das aulas
teóricas epráticas.
METODOLOGIA
Primeiramente, realizou pesquisa pré-campo, com levantamentos bibliográficos,
buscando coletar informações sobre os fatores físicos da região, isto é, geologia,
geomorfologia, hidrografia, clima, solo, vegetação e fauna, recorrendo a livros, artigos,
mapas cartográficos, dados (internet, IBAMA, EMBRAPA, IBGE, etc.).
Durante a execução do trabalho foi realizado a saída de campo com intuito de
observar “in Loco” as informações coletadas anteriormente durante o processo de
levantamento bibliográfico.
Com todos os dados coletados, tanto bibliográficos quanto empíricos, a
metodologia de analise adotada á observação da área de estudo nos aspectos físicos e o
trabalho com a analise de solo, tendo o objetivo de mostrar a relação do estudo teórico
em sala com a prática almeja na consolidação do ensino do estudante.
PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA
O trabalho de campo é importante ferramenta de estudo na vida do acadêmico,
busca uma series de situações de aprendizagem, permitindo-lhe uma construção do
conhecimento e ampliando a capacidade de análise, documentação e problematização.
O Trabalho de campo permite a aproximação da teoria e da pratica, segundo
Alentejano e Rocha-Leão:
Fazer trabalho de campo representa, portanto, um momento do
processo de produção do conhecimento que não pode prescindir
da teoria, sob pena de tornar-se vazio de conteúdo, incapaz de
contribuir para revelar a essência dosfenômenos geográficos.
Neste sentido, trabalho de campo não pode ser mero exercício
de observação da paisagem, mas partir desta para compreender a
dinâmica do espaço geográfico, num processo mediado pelos
conceitos geográficos. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO.
2006, p. 57)
A Região da Serra da Canastra localiza-se a sudoeste do Estado de Minas
Gerais, se encontra na região o Parque Nacional da Serra da Canastra, criado no ano de
1972, com uma área prevista de 200 mil hectares, devido ao episódio de seca da região
anos anteriores no rio São Francisco, segundo o IBAMA.
Dividido em dois grupos, Proteção Integral e o de Uso Sustentável, as Unidades
de Conservação são divididas em doze grupos, sendo que o parque se encontra no
primeiro grupo, tendo a função, como consta na legislação, segundo o site
governamental do Instituto Chico Mende é “preservar ecossistemas de grande
relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas
científicas, realização de atividades educacionais e de interpretação ambiental,
recreação e turismo ecológico, por meio do contato com a natureza.”, sendo que a
visitação desses parques será definida através do Plano de Manejo.
Localizado entre os municípios de São Roque de Minas, Sacramento,
Delfinópolis, São João Batista do Glória, Capitólio e Vargem Bonita, em 1996, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, realizou uma pesquisa apontando o
limiteobtido por malha municipal digital, conforme mostrado na tabela 1.
Tabela 1 - Municípios abrangidos pela UC, com seu respectivo percentual.
Município %
São Roque de Minas 41,13
Sacramento 2,46
Delfinópolis 40,30
São João Batista da Glória 46,51
Capitólio 18,78
Vargem Bonita 31,63
Fonte: Plano de Manejo, Resumo Executivo Parque Nacional da Serra da Canastra,
2005.
TRABALHO DE CAMPO
O Primeiro dia do estudo de trabalho de campo se se divide em três paradas: a
primeira parte foi à observação na entrada do parque portaria 01, busca – se entender
fatores climáticos (Figura 01), o clima regional é caracterizado pela sazonalidade com
temperaturas medias nos meses frio a 18°C e nos meses quente média de 22°C,
apresentando uma pluviosidade anual entre 1.000 e 1500mm. (IBAMA). Também o
contexto histórico do Parque Nacional da Serra da Canastra.
A segunda parte foi o estudo do Rio São Francisco, tenta-se entender a formação
do rio através do conjunto de fatores climáticos, onde a sua formação ocorre pela massa
de ar que se chocam no paredão da Serra, se condensam e caem em formado m brejo,
dando iniciais do rio São Francisco.
Figura 01 – Condição Climática da Região e a Nascente do Rio São Francisco.
Autor: Grama.E.A. 2013.
A terceira parte a área analisada foi a Cabeceiras do São Francisco, a formação
geológica da área, segundo PEREIRA coloca na definição de Barbosa (1955) para a
“Formação Canastra”, na Serra da Canastra, sendo constituída por quartzitos e filitos
diversos (PEREIRA),subordinadamente, por rochas carbonáticas e carbonáceas,
metamorfizados em fácies xisto verde. (SILVA Apud Dardenne, 212).
O segundo dia de trabalho de campo foi no entorno do parque da serra, a serra
faz parte do Cráton São Francisco. A altitude do relevo pode estar entre 900 e 1496
metros apresentando de formas ondulada formandos vales (Figura 02), a vegetação é o
cerrado se apresentando nas áreas de topo da vertente com cerrado do tipo campo sujo e
mais abaixo, próximo ao rio com matas de galeria que são vegetações mais densas
devido a proximidade com a água.
Figura 02- Relevo Ondulado, Mares e Morros.
Autor: Grama, E.A.2013.
O Processo que se predomina na vertente é a dissecação do relevo, não é um
modelado homogêneo, coexiste o processo de encaixe de drenagem, principalmente nos
falhamentos. Na região podem-se notar blocos rochosos nos topos e esporões,
determinando as formas de relevo. É relevante destacar os seu desnível é grande, com
oras formas côncavas, ora retilíneas e, também, algumas áreas de acumulação. O Relevo
da região é escarpado, estruturado tanto pela determinação dos falhamentos, quando por
processos erosivos.
O vale da vertente tem perfil transversal assimétrico, encaixado e de forma
aberta. Apresenta largura media (50 a 150 m), seu canal é o tipo meândrico, com
aspecto adaptado ao lineamento estrutural. Nesta Vertente, foi realizado levantamento
das diferentes taxonomias pedológico, em altitudes distintas (Figura 03), dividida em
três trincheiras.
Figura 03 – Vertentes e os pontos das trincheiras.
Autor: PINTO, B.S.O.F.2013.
A primeira Trincheira da verdade, apresenta um solo areno-argiloso e seus
diferentes horizontes, observa-se o horizonte O, o solo é mais escuro devido à grande
quantidade de matéria orgânica depositada em seu meio. No horizonte A1 também é
arenoso argiloso e acumulo iluvial de matéria orgânica proveniente do horizonte O. O
Horizonte A2 também é areno-argiloso, porém, apresenta maior concentração de argila.
Já os Horizontes B são de solo argilo-arenoso, sendo que o B1 apresenta alto grau de
plasticidade e o B2, além de possuir a maior concentração de argila, apresenta alto grau
de plasticidade e elasticidade (Figura 04).
Figuras 04 - Trincheira 1 - Topo da Vertente.
Autor: GRAMA, E.A.2013.
A segunda trincheira analisa um solo argiloso, por conta da formação de Línguas
de argila provenientes do topo da vertente, e coloração amarela devido à grande
quantidade de alumínio presente no Cerrado, seus horizontes podem ser observados na
Figura 05.
As características desta trincheira é o horizonte O apresenta coloração
escurecida, com raízes e decomposição orgânica, o horizonte A tem consistência argilo-
arenosa, coloração vermelho-bruno, é plástico e elástico. O gorizonte B é argilo–
arenoso e sua cor se mostra vermelho-amarelada. Não é muito elástico, mas faz o anel, é
plástico. Por fim, o horizonte C se mostra granulado e pedregoso, plástico e não muito
elástico. De coloração amarelo-alaranjado, possuí alguns nódulos prismáticos, sem
estrutura muito definida.
Figura 05 - Trincheira 2 - Meio da Vertente.
Autor: GRAMA, E.A.2013.
A última trincheira fundo do fundo do vale, têm-se o solo caracterizado como
Cambissolo em constante evolução. É composta de calcário com matéria orgânica
agregada, ocorre a retirada de material devido à proximidade com o rio. Sua concreção
se mostra plástica e o intemperismo é o biológico, devido à quantidade de raízes de
arvores presentes ao perfurar o perfil, conforme podemos observar na Figura 06.
Figura 06 - Trincheira 3 - Final da Vertente/ Fundo do Vale.
Autor: GRAMA, E.A.2013.
A área visitada foi suficiente para associar os conhecimentos teóricos das áreas
de geomorfologia, geologia, climatologia, pedologia.
A EXPLORAÇÃO DOS RESULTADOS
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO
Dentro da disciplina de Epistemologia da Geografia nos foi proposto elaborar
um questionário a fim de analisar a percepção das pessoas com o lugar, partindo do
campo da Geografia da percepção. Esse questionário contou com perguntas que
remeteram ao entendimento da topofilia dos moradores sobre seu meio de vivencia. O
questionário aplicado, acompanhado da resposta dos moradores, poderá ser consultado
nos anexos.
Ao todo, vinte pessoas foram entrevistadas e, além das análises da vivência de
cada indivíduo com o meio, outras informações foram levantadas, como sexo, idade,
escolaridade e naturalidade.
Para ser analisada a relação topofílicas dos moradores de São Roque de Minas
com seu meio, foram feitas perguntas referentes ao turismo e sobre possíveis mudanças
que gostariam que fossem realizadas no município, além de ter sido, diretamente,
questionados o que gostam e o que não gostam no Parque Nacional da Serra da
Canastra.
Dos moradores entrevistados, ao serem perguntados se eles acham que o turismo
é benéfico ou maléfico para a cidade, percebe-se que a grande maioria acredita que o
turismo é bom por trazer benefícios econômicos, já que o município de São Roque de
Minas emprega mais pessoas no turismo e comércio, como, por exemplo, um dos
sujeitos que apontou trabalhar em uma pousada.
Para dois sujeitos, a cidade ainda precisa de investimentos e
infraestruturaapropriada para realmente ser uma cidade turística.
Cinco sujeitos entrevistados nunca visitaram o parque, mas acreditam que ele é
bom para o município. Destes, três não são naturais do município. O restante dos
entrevistados conhece o parque, gostando mais das cachoeiras, da nascente do rio São
Francisco e da natureza em geral. Percebe-se que as pessoas naturais do município tem
uma ligação maior com o parque e reconhecem que ele traz benefícios para a cidade,
além de compreenderem suas formas naturais.
A Tabela 2 - Aspectos apontados pelos entrevistados como geradores de
topofilia, nos mostra o que foi respondido pelos moradores como sendo aquilo que eles
mais gostam no Parque Nacional da Serra da Canastra.
Tabela 2 - Aspectos apontados pelos entrevistados como geradores de topofilia.
Aspecto apontado Quantidade de Entrevistados
Aspectos naturais 10
Turismo 1
Todos os aspectos 4
Não conhece 5
Elaborado por Édino de Almeida Grama.
Podemos notar que os aspectos naturais do Parque foram apontados como
principal agente topofílico pela metade dos entrevistados.
Já quando perguntados sobre se há algo que os incomodam na Serra da Canastra,
dois sujeitos relataram que as queimadas causam perdas significativas no parque,
comprometendo o ecossistema. Enquanto outros dois estabelecem que o que os
incomodam são a falta de estrutura para o turismo e as estradas precárias. O restante
afirma que nada os incomodam em relação a Serra da Canastra.
Efetuando uma analise geral desses dados percebe-se que as pessoas sabem das
necessidades do seu município, mas esperam as iniciativas do governo para torná-las
efetivas. As pessoas naturais do município possuem uma relação maior com o lugar,
enquanto as outras que não são naturais do município nem se interessam pela questão
ambiental, estão apenas satisfeitas por estarem em uma cidade considerada tranquila.
Mas percebe-se ainda que muitas pessoas não possuam a consciência da importância de
se ter uma reserva ambiental como a Serra da Canastra no seu município, sendo que
alguns não conhecem o lugar e, ao indagar um morador sobre a possibilidade de visitar
o local, ele demonstrou indiferença.
O guia que nos auxiliou no trajeto de visita do parque expôs que os moradores
do município tem entrada gratuita no parque, dando a entender que as pessoas só não
visitam mais o lugar porque não querem. Mas analisando o contexto do município e as
condições financeiras verificadas ao andar pelos bairros, percebe-se que a cultura dessas
pessoas não está atrelada ao lazer ligado ao parque, tendo o mesmo apenas como uma
das principais fontes de geração de renda. Tendo em vista a análise perceptiva dos
moradores, notamos uma característica comum a maior parte dos habitantes depequenas
cidades, em que a área de convivência e recreação da população se dá na praça principal
do município, local que, além de conter um adensamento de bares e restaurantes
principalmente para o atendimento do turismo, possui também grande importância
simbólica por conter a Igreja, presente na cidade desde a sua formação.
As condições de visita ao Parque Estadual da Serra da Canastra, também são um
bloqueio à visitação de qualquer pessoa, pois é necessário ter um carro apropriado ou
pagar o transporte, seja ele de ônibus ou jipe, tendo custos bem elevados devido à oferta
de turistas, podendo impossibilitar as pessoas locais de frequentarem o lugar, devido
suas condições financeiras serem observadas como baixa.
CONCLUSÃO
Com a tentativa de abordarmos a maior parte do conteúdo visto até agora
durante o curso, o presente trabalho teve como destaque a ida a campo, que auxiliou de
maneira fundamental no entendimento e esclarecimento do conteúdo ministrado em
aula, sobretudo nos temas que abordaram as disciplinas de Geomorfologia e Pedologia,
Geologia e Climatologia, e principalmente na questão de análise metodológica da
percepção da população em relação a Serra da Canastra. Através dos diversos dados que
foram obtidos, seja através do questionário aplicado em campo, ou através de
instituições de pesquisa, a elaboração desse trabalho proporcionou um entendimento
mais amplo da dinâmica da população com o município e sua interação com os aspectos
físicos da Serra.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
ALENTEJANO, P. R. R & ROCHA-LEÃO, O. M. Trabalho de campo: uma
ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? São Paulo:
Boletim Paulista nº 84– AGB, 2006.
CANDIOTO, Luciano Zanetti Pessoa. Interdisciplinaridade em estudos do meio e
trabalhos de campo: uma prática possível.
CAMPOS, Rui Ribeiro de. PLACIDO, Vera Lúcia dos Santos. O trabalho de campo
como uma proposta de ensino de geografia.
FURNAS. Disponível em: <http://furnas.com.br>. Acesso em 07. Set.2013.
IBAMA. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br>. Acesso em 10. Set.2013
IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 10. Set.2013
MARANDOLA JR, Eduardo; LIMA, André de. Trabalho de campo e paisagem:
multidimensão e possibilidades metodológicas. Ciência geográfica. Associação dos
Geógrafos Brasileiros/Seção Local: Bauru (SP), a. IX, v. IX (2), mai./ago. 2003, p. 174-
180.