trabalho conclusão sedes - final pdf

40
INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE Olimpíada: Um espaço de Ensino- Aprendizagem para o Desenvolvimento Humano – O relato de uma experiência. Autora: Joana Passos Miraglia Orientadores: Prof Ms Fábio Silvestre da Silva Prof Ms Luciana Ferreira Angelo Trabalho realizado como exigência para obtenção do título de Especialista em Psicologia do Esporte. 2008

Upload: rems

Post on 06-Jun-2015

5.471 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE

Olimpíada: Um espaço de Ensino- Aprendizagem para o Desenvolvimento Humano – O relato de uma experiência.

Autora: Joana Passos Miraglia

Orientadores: Prof Ms Fábio Silvestre da Silva Prof Ms Luciana Ferreira Angelo

Trabalho realizado como exigência para obtenção do título de

Especialista em Psicologia do Esporte.

2008

Page 2: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

2

Sumário

1) Introdução ........................................................................................................................ 4

1.1 Trajetória Pessoal

1.2 O Trabalho

1.3 Contexto Institucional

2) O Esporte como Instrumento Educacional/Transformador.............................................. 9

2.1 A Educação para a Psicologia Sócio-Histórica

2.2 O Esporte com Instrumento Educacional/ Transformador

3) A Experiência de uma Olimpíada como Espaço Educativo ............................................24

3.1 Faixa Etária 8 a 10 anos

3.2 Faixas Etárias 11 a 12 anos e 13 a 15 anos

3.3 Faixa Etária 16 a 24 anos

3.4 Participação de Outras Linguagens

3.5 Cronograma Geral

4) Considerações Finais ................................................................................. 35

Bibliografia ....................................................................................................... 37 Anexos – Fotos................................................................................................. 40

Page 3: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

3

Agradecimentos... A todas as crianças, adolescentes e jovens, com quem já trabalhei, por tudo o que me ensinaram, pelas reflexões que me proporcionaram, e pelos momentos de alegria que passo todos dia. Aos meus pais e meu irmão, por sempre acompanharem meus caminhos e apoiarem minhas decisões. A toda equipe do Espaço Criança Esperança pelo compartilhar na criação de um projeto. Pelos momentos gostosos, difíceis, confusos, cansativos, engraçados, emocionantes, que já passamos juntos. Muito Obrigado! Em especial a Equipe de Esportes, que criou o projeto da I Olimpíada do Espaço Criança Esperança São Paulo, e juntamente com todos os outros educadores, fizeram uma olimpíada que trouxe um modo diferente de trabalhar a competição. Ao Fabio Silvestre, meu supervisor, guru, mestre... Muito Obrigado, por tudo o que me ensinou e pelas “pulgas que colocou na minha orelha”. A Luciana Ângelo, pela grande professora que é, pela paciência, compreensão, disponibilidade e pelo incentivo de sempre. As minhas amigas queridas, por estarem sempre por perto... compartilhando a vida!

Page 4: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

4

1. Introdução

1.1 Minha trajetória pessoal

Cursei durante um ano o curso de graduação em pedagogia, onde tive a oportunidade de

participar de uma oficina de formação de educadores na FEBEM do Tatuapé, junto a um projeto

do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP (NTC). Nesta oficina, meu interesse pelas

questões referentes à criança e ao adolescente só fez crescer. A partir desta experiência, comecei

a refletir sobre qual seria a melhor maneira de lidar com crianças e jovens; qual a melhor forma

de educá-los para a vida, para poderem fazer escolhas, para que pudessem agir como sujeitos de

direitos, cidadãos em uma condição peculiar de desenvolvimento, como é citado no artigo 6º do

Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).

Tive a oportunidade de participar do Projeto Esporte Talento (PET)1, onde trabalhei

durante um ano com adolescentes de 13 a 16 anos. Foi no PET que tive a oportunidade de

conhecer a teoria de Educação pelo Esporte; Aprendi, além dos conceitos teóricos, a prática da

metodologia de educação pelo esporte. Comecei a estudar, entender e acreditar em uma visão

ampla de educação; na possibilidade de diálogo entre as áreas de Educação, Esporte e Psicologia;

1 O Projeto Esporte Talento (PET) é um projeto de Educação pelo Esporte; uma parceria do Instituto Ayrton Senna, com a Universidade de São Paulo (USP). A sede do PET em São Paulo localiza-se no Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP). O projeto atende crianças e jovens de 8 à 16 anos, que freqüentam as atividades quatro vezes por semana, das 8 às 11hs. Os educandos são divididos por faixas etárias.

“Se o país fosse uma estrela,

de onde viria sua luz?

De você, de mim, dele, dela, de

tantos! Cada um de nós é uma

pequena fogueira de vontade e

esperança.”

Jéssica França dos Santos, 12 anos,

SP (In IAS, 2004 : 40)

Page 5: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

5

e na importância dos contextos multi, inter e transdisciplinares. Realmente, o Esporte se mostrou

uma via privilegiada de educação, de cultivo à cidadania, de desenvolvimento pessoal e social.

Para trabalhar com pessoas é muito importante conhecermos o meio ambiente, as

potencialidades e demandas da comunidade onde estão inseridas. É preciso levar em conta a

cultura, as regras que regem as relações as quais estas pessoas estão imersas. Por isso, como é

citado no “Ideário do Programa de Educação pelo Esporte do Instituto Ayrton Senna” 2 (2000:10)

uma relação essencial a ser estabelecida, é o que eles chamam de “trinômio Família-Escola-

Comunidade como um importante fundamento para uma ação social bem sucedida”. Desta forma

as ações e estratégias do cotidiano dos projetos devem estar em acordo com as características

socioeconômicas e culturais da região, o que torna essencial a aproximação e a apropriação do

projeto pela comunidade e vice-versa.

A experiência profissional que mais me proporcionou esta vivência de aproximação com

as comunidades, agregando conhecimento teórico e prático, foi no CEDECA- Interlagos como

psicóloga do Projeto Futebol Libertário3. Por dois anos, estudei a fundo o projeto (elaborei

trabalho de Conclusão de Curso da PUC), e depois tive o prazer de executá-lo, aprendendo muito

com a seriedade e a ética da organização social que o mantém.

Hoje, ocupo a função de Coordenadora Pedagógica de um projeto de ação sócio-

educativa com gerenciamento pedagógico do Instituto Sou da Paz. Tal projeto é realizado em um

Centro Esportivo e Educacional municipal da cidade de São Paulo (CEE Oswaldo Brandão). Tive

a oportunidade de desenvolver a metodologia de atendimento direto das crianças, adolescentes e

jovens, e implementar o projeto. Esta experiência tem sido muito enriquecedora, apresentando

grandes desafios, e exigindo criatividade e competências de gestão, parcerias, organizações

sociais, relações políticas, políticas públicas, dentre muitas outras.

Desta forma, o tema do presente trabalho é fruto de uma semente que vem sendo regada

ao longo da minha graduação, e que ainda tem muito a se desenvolver. É uma construção que tem

como pilares temas que me motivam e me impulsionam: a educação, crianças, adolescentes e o

esporte como meio capaz de contribuir decisivamente na “formação integral do educando, na sua

preparação para a cidadania e na sua qualificação para o trabalho” (artigo 2º. da Lei de Diretrizes

e Bases, 1996).

2 Conjunto de idéias que norteiam as ações educativas dos projetos de educação pelo esporte deste Instituto. 3 Projeto de pesquisa para dissertação de Mestrado do Prof. Ms Fabio Silvestre da Silva. Tal projeto, pioneiro no Brasil, propõe o cumprimento da medida sócioeducativa de Liberdade Assistida por meio do esporte.

Page 6: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

6

A educação é um processo continuo de transformação e crescimento. É o que nos dirige

ao caminho dos ideais de paz, liberdade e justiça social. É um processo rico, de desenvolvimento,

tanto individual, quanto coletivo. “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um

mundo complexo e constante agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através

dele” (Unesco, 2003:89)

Para tal precisamos estabelecer

“Horizontes, em uma direção na qual podemos e devemos investir nossos

esforços, razão e sentimento, buscando criar outros futuros possíveis, uma vida

melhor para as novas e próximas gerações. O esforço de transformar a lei

(palavra escrita) em ato (exercício cotidiano) não é tarefa pequena, nem restrita

aos trabalhadores da área. É um trabalho para toda a sociedade porque exige

vontade política de governantes e da sociedade, competência técnica e uma

mentalidade sustentada na ética da solidariedade, capaz de superar o binômio

juventude/violência, descriminalizando a pobreza. O produto disso será uma

sociedade mais acolhedora para todas as crianças e adolescentes.” (Teixeira,

2003: 38)

1.2 O Trabalho

Neste trabalho procuro demonstrar como podemos utilizar a olimpíada como instrumento

pedagógico no processo de ensino-aprendizagem, apresentando a teoria de educação pelo esporte

e em seguida descrevendo um projeto de Olimpíada como Espaço de Aprendizagem que ocorreu

no projeto que coordeno.

A Educação pelo Esporte é temática pouco difundida; apesar de assistirmos propagandas e

entrevistas, não temos produção acadêmica suficiente sobre o tema. Em 2004, foi lançado o livro

“Educação para o desenvolvimento humano pelo Esporte” , no qual o Instituto Ayrton Senna

(IAS) expõe seu programa de educação pelo esporte. O instituto criou e sistematizou a tecnologia

da Educação pelo Esporte para o Desenvolvimento Humano como metodologia para o

desenvolvimento dos potenciais das crianças e dos adolescentes.

Page 7: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

7

Já se observa interesse de algumas organizações não-governamentais (ONGS), como o

CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e a Ação

Educativa, em desenvolver bibliografia referente à área. Também se observa que a Psicologia do

Esporte entende que a área aplicada aos projetos sociais contribui com a produção de idéias e

experiências viabilizando conhecimento. Desta forma encontramos alguns poucos textos nos

livros de Psicologia do Esporte.

1.3 Contexto Institucional

O Instituto Sou da Paz (ISDP), uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público), foi criado em janeiro de 1999, e é comprometida com a redução da violência

em nosso país. O ISDP realiza projetos em parceria com o poder público e com empresas do setor

privado para execução de seus projetos e tem como missão “contribuir para a efetivação no

Brasil de políticas públicas de segurança e prevenção da violência, que sejam eficazes e

pautadas pelos valores da democracia, da justiça social e dos direitos humanos”..

O projeto ao qual nos referimos neste trabalho, Projeto Espaço Criança Esperança,

atua na zona Norte de São Paulo, no sub distrito Freguesia/ Brasilândia e atende crianças e jovens

de 8 a 24 anos com atividades sócio-educativas. A realização deste projeto é uma parceria entre:

Instituto Sou da Paz, Prefeitura Municipal de São Paulo, UNESCO e Rede Globo.

Os fluxogramas 1 e 2 demonstram como se dá esta parceria:

Page 8: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

8

Fluxograma 1

Contexto Institucional

TV GLOBO realiza CAMPANHA

CRIANÇA ESPERANÇA

com programa na TV

POPULAÇÃOdoa

por telefone DIRETAMENTE

à UNESCO

UNESCO recebe DOAÇÃO e apóia diferentes projetos

50 Projetosem todoBrasil

4 ESPAÇOSCRIANÇA ESPERANÇA

RJ,SP,BH, Olinda

Pastoral daCriança

Fluxograma 2

PREFEITURA CIDADE DE SÃO PAULO

Subprefeitura Freguesia/Brasilândia

Secretária de Participaçãoe Parceria

SecretariaMunicipal de Esportes

INSTITUTO SOU DA PAZ

UNESCO

REDE GLOBO

Contexto Institucional

PARCEIROS DO PROJETO EM SÃO PAULO

Page 9: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

9

2. O Esporte como Instrumento Educacional/Transformador

2.1 A Educação para a psicologia sócio-histórica

Ainda hoje observamos em nosso país um sistema educacional elitista e excludente, em

que uma parte pequena da população tem acesso à educação dita de qualidade. O que se

preconiza em termos de ideal educacional, não é o que realmente ocorre. As instituições

educacionais reproduzem a ideologia dominante, voltando suas políticas educacionais apenas

para uma pequena parcela da população, desrespeitando as especificidades de cada grupo social,

de cada comunidade e ignorando as diferenças culturais e regionais.

Esta situação foi constituída historicamente. Com o avanço do capitalismo, a burguesia se

torna dona dos meios de produção e institui uma nova visão de mundo. É a partir deste momento

que a classe dominante, a burguesia, inicia sua hegemonia. É ela quem dita a visão de homem

que perpetua e determina os rumos de nossa educação até os dias de hoje. A visão liberal de

homem. (Bock, 1997).

As teorias pedagógicas não são criadas baseadas na realidade social, desta forma acarreta

em exclusão, por ignorar as diferenças sociais e econômicas e desvalorizar as diferentes

experiências. Desta forma, os educandos das camadas mais baixas da população ficam à margem

do processo educacional, ou muitas vezes são os principais alvos de tentativas de enquadramento.

Tal situação baseia-se na cultura dominante, nos moldes da família burguesa, qualquer

experiência diferente é vista como negativa e como tal, acredita-se que interfere negativamente

“Aprendemos do mesmo jeito que o coração bate: em todos os tempos e lugares – e para sempre. Com pessoas e bichos, com estrelas e flores. Com nossos acertos e erros. Aprender é direito de todos, e não há aprendizagem sem amor. Aprendi que o aprender é infinito.”

Marcos Antonio P. Da Silva Filho, 11 anos, PE. (in IAS, 2004:55)

Page 10: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

10

no processo de aprendizagem, mais uma vez isentando o ensino de qualquer influência e

“patologizando” a pobreza. As práticas educacionais não tentam entender a realidade e nem a

demanda social com a qual se deparam, não atendendo, assim, as necessidades reais das

diferentes camadas da população (Bock, 2001).

As crianças e os adolescentes vão para a escola ou para projetos sociais levando tudo que

possuem, tudo o que os constitui; levam suas vivências familiares, seus pais, suas dificuldades

sociais, em fim, levam suas vidas, tudo o que já viveram; suas memórias, sua cultura, sua raça,

seus traumas, suas conquistas (Bock e Aguiar, 2002). Ao pensarmos especificamente nas

camadas mais desfavorecidas da população, estes aspectos, muitas vezes, estão ligados á

vivências negativas, de dificuldades em casa, na família e na comunidade. Desta forma,

precisamos perceber e respeitar que instituição educacional (projetos sociais, ongs, escolas) é

lugar para aquele educando e considerar que educando tem vida vivida (Bock e Aguiar, 2002).

Por isso, quando um educando revela dificuldades no aprendizado, o educador precisa saber

perceber qual a melhor forma de lhe facilitar a aprendizagem. Não há dificuldades de

aprendizagem, mas sim dificuldades na relação ensino-aprendizagem.

No pensamento de Vygotsky a relação entre processo de desenvolvimento e o processo de

aprendizagem tem um papel muito significativo. “Dada à importância que Vygotsky atribuiu à

dimensão sócio-histórica do funcionamento psicológico e à interação social na construção do

ser humano, o processo de aprendizagem é igualmente central em sua concepção sobre o

homem” (Oliveira, 1997:55). Segundo o autor, para Vygotsky a aprendizagem está relacionada

ao desenvolvimento desde o início da vida humana, e representa um aspecto necessário e

universal deste processo e das funções psicológicas. A aprendizagem possibilita o despertar de

processos internos de desenvolvimento que afloram do contato do indivíduo com determinado

ambiente cultural. Segundo Oliveira (1997), o homem já nasce com certas características que são

próprias da espécie, como: o olfato, a audição, a visão, e a capacidade de receber e processar

todas as informações, porém as funções psicológicas superiores, que evolvem a consciência,

planejamento, intenção, dependem do processo de aprendizagem para se desenvolverem.

O processo de aprendizagem pressupõe, necessariamente, uma relação entre indivíduos,

porém “do mesmo modo que o desenvolvimento não é um processo espontâneo de maturação, a

aprendizagem não é fruto apenas de uma interação entre o indivíduo e o meio. A relação que se

Page 11: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

11

dá na aprendizagem é essencial para a própria definição desse processo, que nunca ocorre no

indivíduo isolado.” (Oliveira, 1997:56).

Segundo Vygotsky, a aprendizagem está inserida em uma situação de ensino-

aprendizagem, que inclui quem ensina, quem aprende e qual a relação estabelecida entre ambos.

A partir deste ponto de vista, tanto educadores como instituição e educando, devem estar

incluídos na busca de soluções dos problemas de aprendizagem. Porém, esta relação não se refere

necessariamente a um educador fisicamente presente, mas “a presença de um outro social pode

se manifestar por meio dos objetos, da organização do ambiente, dos significados que

impregnam os elementos do mundo cultural que rodeia o indivíduo.” (Oliveira, 1997:57).

Desenvolvimento e aprendizagem são processos intimamente ligados, que dentro de um

contexto cultural, servem de “matéria-prima” do desenvolvimento e do funcionamento

psicológico. A instituição educacional precisa estar atenta à realidade do aluno, e as práticas

pedagógicas devem sempre ser pensadas a partir deste referencial. É necessário valorizar o

conhecimento do aluno e suas experiências cotidianas. Para ilustrar, Bock e Aguiar (2002:9)

citam Paulo Freire:

“Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Por isso mesmo pensar

certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só

respeitar os saberes com que os educandos, sobre tudo os das classes

populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática

comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo,

discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação

com o ensino dos conteúdos... Por que não discutir com os alunos a realidade

concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a

realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das

pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não

estabelecer uma necessária ‘intimidade’ entre os saberes curriculares

fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como

indivíduos?”

Page 12: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

12

Para Vygotsky, o desenvolvimento psicológico deve ser enxergado de maneira

prospectiva, isto é, além do que está postulado no aqui e agora. “A idéia de transformação, tão

essencial ao próprio conceito de educação, ganha particular destaque em uma concepção que

enfatiza o interesse em compreender, no curso do desenvolvimento, a emergência daquilo que é

novo na trajetória do indivíduo, os ‘brotos’ ou ‘flores’ do desenvolvimento, ao invés de seus

frutos”. (Vygotsky apud Oliveira, 1997:61).

A partir da concepção da psicologia sócio-histórica, “temos de um lado o processo

histórico nos oferecendo os dados sobre o mundo e visões sobre ele e, de outro lado, permitindo

a construção de uma visão pessoal sobre este mesmo mundo." 4

Desta forma, considerar o educando como ser em formação, constituído de vivência

anterior é condição para o início da experiência educativa. A participação ativa na construção do

conhecimento, pode fazer com que a apropriação da sua trajetória de desenvolvimento viabilize

sentimentos de pertença e valorização, além de lidar com capacidades e limites.

Veremos a seguir como o esporte pode ser um meio, um instrumento para educar; como o

esporte pode auxiliar na aprendizagem e, portanto, no desenvolvimento de crianças e

adolescentes.

2.2 O esporte como instrumento educacional/transformador

O esporte é um fenômeno social que tem mobilizado muitas pessoas nestes tempos

modernos, independente da classe social. Além disso, revela-se como tema de recentes pesquisas

científicas nas mais diversas áreas.

O esporte representa uma forma de expressão humana, seja ela emocional ou cognitiva. O

esporte voltado ao rendimento, à performance, tem sido cada vez mais assistido, acompanhado e

principalmente, se tornado motivo de orgulho cívico; o esporte como forma de lazer tem

conseguido cada vez um número maior de adeptos; o esporte como promoção de saúde já é fato

nos programas de saúde pública; e o esporte educação? Está é uma abordagem que vem

crescendo e se desenvolvendo, tomando espaço em centros de estudos e pesquisas, e se tornando,

aos poucos, uma prática pedagógica. Trata-se de um novo conceito, um novo ponto de vista sobre

4 http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=002. Texto de João Carlos Martins: Vygotsky e o papel das interações sociais na sala de aula: reconhecer e desvendar o mundo. Consultado em 10/03/2008.

Page 13: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

13

o tema, que possibilita às atividades esportivas terem como eixo a cidadania. “O esporte faz

parte da sociedade, tanto quanto a sociedade faz parte do esporte.” (Silva, 2003:5).

Como relatado anteriormente, com quase 07 anos de experiência na área educacional, o

esporte se apresenta como um meio para se trabalhar inúmeros conteúdos e conceitos de extrema

importância para o desenvolvimento de pessoas, de cidadãos conscientes e trabalhadores. O

esporte atua com as dimensões cognitivas, afetivas, psicomotoras e sociais do ser humano; a

corporeidade, a relação das pessoas com elas mesmas, a relação entre as pessoas, a relação das

pessoas com o processo educacional; o desenvolvimento da inclusão e o entendimento da

exclusão.

A formação de profissionais responsáveis, conscientes da importância do respeito mútuo,

da dignidade e da solidariedade, observadores de manifestações corporais, e com uma postura

ativa de “reivindicar, organizar e interferir no espaço de forma autônoma” (Darido e Rangel-

Betti, 2001:19) é fundamental para a qualidade da autonomia no processo educacional.

“Quando não existe uma proposta político-pedagógico mais coerente e

consistente, para o ensino e reflexão dos conteúdos relacionados ao

esporte(...)” ou mesmo o simples “repasse de técnicas esportivas nas oficinas

de esportes e a prática esportiva desvinculada de qualquer crítica de valores

conservadores, apenas com fins utilitaristas de manutenção de saúde física e de

ocupação alienada do tempo livre, não tem qualquer relação com a educação

transformadora pretendida”( Silva, 2003:6).

A fim de trabalhar estas questões observou-se a

“necessidade de se buscar alguns fundamentos metodológicos de uma

pedagogia tanto lúcida quanto avançada, preocupada com o processo e

aprendizagem que nos leve a desenvolver a nossa animalidade racional de

forma mais humanizante”, (Medina, 1983:50).

O autor assinala que a Educação Física como área teórica, precisa entrar em crise, precisa

questionar criticamente seus valores, precisa procurar sua identidade, falar sobre a necessidade de

Page 14: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

14

um sentido mais humano da cultura do corpo, da cultura física, visando recuperar o sentido

humano do corpo e entendê-lo em todas as suas dimensões.

“Não é sensato achar que com apenas discursos e idéias sejamos capazes de

destruir o errado, o antiquado, o absurdo, e substituí- los pelo certo, pelo

moderno, e pelo coerente. As mudanças mais radicais não ocorrem

espontaneamente, sem revoluções. Mas é preciso, antes de mais nada, se

dispor a assumir um compromisso consigo mesmo, com os outros e com a

vida. O resto começará a acontecer a partir daí.” (Medina, 1983:40)

Entendo o esporte como uma linguagem do movimento que através do corpo pode

desenvolver um processo educativo que contribua para o desenvolvimento humano; entendo o

esporte como espaço que propicie a construção de subjetividade e assim do indivíduo; como

prática e vivência propiciadora de aprendizagem e assim de desenvolvimento pessoal e social,

tendo em vista as competências pessoais, sociais, produtivas e cognitivas, elementos essenciais

para se viver, relacionar, aprender, trabalhar e participar da vida em sociedade.

O Instituto Ayrton Senna (IAS) vem desde 1995 desenvolvendo um trabalho de Educação

pelo Esporte em parceria com algumas universidades espalhadas por todo país. Em São Paulo,

funciona o Projeto Esporte Talento com sede na USP. A partir desta experiência, o instituto, criou

e sistematizou a tecnologia de Educação pelo Esporte para o Desenvolvimento Humano, como

um caminho para o desenvolvimento do potencial da população infanto-juvenil.

O conceito de “Desenvolvimento humano”, criado por Amartya Sen e pelo Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento, e os Quatro Pilares da Educação, tratados no Relatório

da Comissão Internacional sobre Educação (Jacques Delors) da Unesco, consistem nos ideais que

norteiam e direcionam as ações de educação pelo esporte (IAS, 2004). “A idéia fundamental do

desenvolvimento humano está na realização plena dos direitos humanos, na promoção da

liberdade e na oferta eqüitativa de oportunidade para a pessoa desenvolver seus potenciais”

(IAS, 2004:8). Esta proposta de educação deve ser capaz de realizar as potencialidades que cada

educando traz consigo, e no decorrer do processo, transformando-as em “competências,

capacidades e habilidades para conhecer, criar, trabalhar e participar, e também para ser e viver

toda a humanidade de que somos capazes” (IAS, 2004:8). A proposta é a

Page 15: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

15

“educação pelo esporte para o desenvolvimento humano como um caminho de

desenvolvimento do potencial de crianças e jovens brasileiros. A proposta

reúne princípios e metodologias especialmente elaboradas para transformar

potenciais em competências cognitivas, produtivas, relacionais e pessoais. Em

outras palavras, a aplicação da tecnologia da educação pelo esporte para o

desenvolvimento humano contribui para a viabilização de todas as dimensões

da vida, tornando crianças e jovens capazes de compreender a sua realidade,

realizar os seus sonhos, participar da sociedade como cidadãos e contribuir

com idéias e ações para a transformação da própria vida e de suas

comunidades.”(IAS, 2004:10).

A educação é adotada como ferramenta para transformar potenciais em competências para

a vida, e representa, assim, elemento “fundamental para preparar as pessoas para viver

plenamente as suas possibilidades, além de fortalecer as sociedades para superar a pobreza e a

exclusão social, traçando um caminho firme em direção ao desenvolvimento humano pleno.”

(IAS, 2004:44). Mas afinal de contas como desenvolver potenciais/potencialidades em crianças

e adolescentes?

Segundo a UNESCO(2003:90), “uma nova concepção ampliada de educação devia fazer

com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o

tesouro escondido em cada um de nós.” Para tal, necessita-se transformar a visão instrumental

da educação, que é considerada como via obrigatória para a obtenção de certos resultados, e

passar a enxergá-la em toda a sua plenitude: como uma forma de realização da pessoa que na

sua totalidade, aprende a ser.

Em 1996, a UNESCO lançou um relatório relacionado as tendências e perspectivas da

educação denominado “EDUCAÇÃO- UM TESOURO A DESCOBRIR”. Este relatório

sustenta a idéia de que toda a construção pedagógica é resultante de um processo civilizatório,

que vem de milhares de anos, assentada sobre quatro grandes pilares. Ele propõe que a

educação deva organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo da

história de cada indivíduo , serão os pilares do conhecimento.

Page 16: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

16

� O Aprender a ser

� O Aprender a viver juntos

� O Aprender a conhecer

� O Aprender a fazer

Os pilares da educação representam parâmetros para o trabalho da educação para o

desenvolvimento humano. Um referencial teórico fundamental para orientar a elaboração de

caminhos e propostas.

“Esses pilares são uma formulação genial de um grupo de personalidades

mundiais de educação, coordenado por Jacques Delours a pedido da

Unesco, que surge como mapa e bússola para orientar os educadores,

dando-lhes maior segurança em um mundo complexo, constantemente

atingido por ondas de conhecimentos e transformações cada vez mais

vertiginosas, que alteram modos de ver, aprender, ensinar e viver” (IAS,

2004:47).

Partindo dos quatro pilares da educação, o IAS relacionou cada pilar a uma competência

que cada aprendizagem deveria gerar nos educandos, a fim de facilitar o trabalho dos

educadores. Desta forma:

� Aprender a ser Competências pessoais

� Aprender a conviver Competências relacionais

� Aprender a conhecer Competências cognitivas

� Aprender a fazer Competências produtivas

Para facilitar o entendimento e a aplicação prática destes aprenderes e competências,

eles foram relacionados a atitudes e habilidades, que os educadores devem desenvolver ao

propor as atividades. No aprender a ser (competências pessoais) o objetivo é: “Ser você

mesmo e construir um projeto de vida”; no aprender a conviver (competências sociais) é:

“Conviver com as diferenças, cultivando novas formas de participação social”; no aprender a

conhecer (competências cognitivas) é: “Apropriar-se dos próprios instrumentos de

Page 17: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

17

conhecimento e usá-los para o bem comum”; No aprender a fazer é: “Atuar produtivamente,

facilitando o ingresso e a permanência no novo mundo do trabalho” (IAS, 2004:48).

A aprendizagem é considerada, aqui, “como um processo por meio do qual o educando

apreende, compreende, significa e domina um determinado conteúdo cognitivo, afetivo ou de

conduta, no relacionamento consigo mesmo, com os outros, com o ambiente onde vive e com

tudo aquilo que confere significado e sentido a sua existência.” (IAS, 2004, :49).

As competências estão relacionadas à capacidade do educando em utilizar o que

aprendeu para conduzir sua vida nos aspectos, pessoal, interpessoal, social, cultural. As

atitudes se referem ao modo como o educando age e se coloca frente as variadas situações.

As atitudes são diretamente influenciadas ao modo como a pessoa compreende e significa o

contexto que está inserida. E por fim, as habilidades “como o domínio pelo educando do

processo de realização dos atos necessários para o desenvolvimento de uma atividade, a

consecução de uma tarefa ou o desempenho de um determinado papel nos campos pessoal,

interpessoal, social, produtivo ou cognitivo.” (IAS, 2004:49).

“Quando nos aprofundamos no estudo e na compreensão dos quatro

pilares da educação, a educação pelo esporte emerge em nossa consciência

em toda a sua inteireza, em toda a sua multidimensionalidade, como uma

via privilegiada para a formação integral do ser humano, ou seja, como

prática que propicia o desenvolvimento pessoal, cognitivo, social e

produtivo das nossas gerações, pois entende que todas as crianças e todos

os adolescentes devem ser educados a partir de seus potenciais para que

transformem a si mesmos e as suas circunstâncias” (IAS, 2004:51).

Os pilares representam o fio condutor que orienta o trabalho de educação pelo esporte. Estes

são aplicados ao cotidiano das atividades, orientando tanto as relações educador – educando,

quanto educando – educando, e educador – educador. A proposta é aprender ensinando e ensinar

aprendendo, desta forma todos “se colocam na condição de eternos aprendizes”(IAS, 2004: 51). O

esporte é a atividade central, e os pilares da educação representam ferramentas que transformam

suas potencialidades e riquezas em competências e capacidades de agir sobre suas vidas e sobre o

mundo que os cerca. Desta forma, ao participar das atividades de educação pelo esporte, as

Page 18: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

18

crianças e jovens tomam conhecimento de atividades que lhes permite desenvolver saberes e

habilidades intelectuais (Competência cognitiva), aplicar conhecimento sobre o mundo

(Competência produtiva), relacionar-se consigo mesmo e com os outros (competência social), e

construir seu próprio caminho na vida (competência pessoal).

Para ilustrar o trabalho prático, vamos ver como cada um dos quatro pilares são desenvolvidos

na educação pelo esporte. É importante salientar que estas aprendizagens são intimamente ligadas

entre si, por este motivo, ao trabalharmos conteúdos, estaremos, muitas vezes, trabalhando mais

de uma aprendizagem.

O aprender a conhecer por meio da educação pelo esporte. O aprender a conhecer não se

baseia na simples aquisição de uma grande quantidade de conhecimento, mas sim a

capacidade da pessoa expandir e aprofundar os conhecimentos já adquiridos ao decorrer de

sua vida. É importante aqui, que o educador saiba não só o que ensinar, mas também o como

ensinar, para assim estimular no educando um desejo de aprender. Todos aprendem tudo o

que lhes é interessante. Por isso, podemos abordar conhecimentos dos mais diversos, como

meio-ambiente, artes, saúde, esporte, enfim, qualquer conteúdo que motive os educandos. No

esporte, os jogos trazem importantes conteúdos para compartilhar e proporcionar uma troca de

idéias, além de permitir a aplicação de conhecimentos já adquiridos em outras áreas. Desta

forma, o educando tem a oportunidade de construir conhecimentos a partir da própria

experiência, aprendendo com os erros, acertos e dificuldades além de poder associar as

vivências do jogo aos fatos da vida cotidiana.

O aprender a fazer por meio da educação pelo esporte. O aprender a fazer está diretamente

ligado ao aprender a conhecer, pois nada mais é do a aplicação dos conhecimentos adquiridos.

“Trata, portanto, da formação para o trabalho, do desenvolvimento de competências para ser

produtivo na vida” (IAS, 2004:76). O esporte, visando as competências produtivas, pode

fornecer o estímulo de habilidades e atitudes para que os jovens possam participar do mundo

do trabalho, construir um projeto de vida e exercer uma cidadania plena.

“Estamos falando da habilidade de trabalhar em grupo e de respeitar

decisões; da capacidade de iniciativa e de resolução de conflitos; da

Page 19: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

19

atitude solidária, cooperativa e democrática; da busca de soluções para

problemas comuns; da autonomia em organizar as próprias atividades a

de flexibilidade para mudá-las e aprimorá-las” (IAS, 2004: 82).

Este é um bom exemplo da interligação entre as diferentes aprendizagens. Podemos pensar

que a citação acima se refere unicamente ao aprender a conviver. Porém,

“a maior contribuição que o esporte oferece, como caminho para o

desenvolvimento de competências produtivas, é a formação de

habilidades e atitudes permanentes, que não apenas são essenciais para

que crianças e jovens possam participar do mundo do trabalho e

construir um projeto de vida, como também são básicas para exercer

uma cidadania plena.” (IAS, 2004: 82)

Estas são características próprias, inerentes ao esporte, que a educação pelo esporte amplia e

potencializa.

O aprender a conviver por meio da educação pelo esporte. A convivência entre as pessoas é

um pré-requisito para as atividades esportivas. As relações são baseadas em regras e

combinados5 explícitos ou implícitos. Quando pensamos na educação pelo esporte para o

desenvolvimento humano, as regras podem ser trabalhadas, modificadas e adaptadas,

construídas coletivamente com o intuito de adaptá-las ás demandas dos grupos específicos.

Para uma construção conjunta, pressupomos um diálogo e uma capacidade de trabalhar em

grupo. Com o trabalho de grupo, estamos trabalhando o desenvolvimento de competências da

convivência interpessoal e social: Saber ouvir, saber a sua vez de falar, argumentar e contra-

argumentar; além de experimentar a vivência de alguns valores éticos, como o respeito, a

responsabilidade e a cooperação.

É importante ressaltar que as atividades esportivas, muitas vezes, podem criar um clima de

disputa e competição, fazendo aflorar agressividade e descontentamento. É importante

5 Combinados são as regras que o grupo formula para a realização das atividades. Por exemplo o horário de início das atividades, o uniforme, as faltas, etc.

Page 20: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

20

trabalhar com estas questões, conversar sobre o que acontece e sobre os sentimentos que

surgem. Estes podem servir de importantes e significativos elementos de reflexão,

impulsionando o autoconhecimento, o trabalho com o autocontrole e até mesmo, levando á

superação de padrões de atitudes negativas, por intermédio dos educadores. Mais uma vez

temos um exemplo de como trabalhamos mais de uma aprendizagem, do quão ligadas elas

estão. O autoconhecimento e o autocontrole estão intimamente ligados ao aprender a ser,

porém sem estas duas habilidades não é possível a convivência em grupo.“Ao propor essa

reflexão, a educação pelo esporte está, em primeiro lugar, criando oportunidades para que

crianças e adolescentes aprendam a ser, desenvolvendo um conhecimento sobre si mesmos e

importantes competências pessoais” (IAS, 2004: 105).

O aprender a ser por meio da educação pelo esporte. Aprender a ser integra as outras três

aprendizagens. Significa tornar-se tudo aquilo que você é capaz, fazendo florescer as

potencialidades humanas nas dimensões cognitiva, produtiva social e pessoal. Aprender a ser

é caminhar ao encontro de si mesmo e transformar as próprias potencialidades em realidade.

Esta aprendizagem é inerente às outras três, e por isso permeia as ações educativas voltadas

para a formação integral do ser humano. A prática esportiva apresenta um significativo

diferencial das demais atividades que realizamos. O esporte é uma ação integrada entre corpo,

mente e emoção. A resposta por meio do movimento corporal exige prontidão, rapidez de

raciocínio e de decisão, desta forma, ficamos mais vulneráveis a possíveis erros. O jogo é,

portanto, uma forma de trabalhar o erro como uma conseqüência natural e sempre presente no

processo de aprendizagem, possibilitando a vivência do poder lidar com os erros, e assim, até

mesmo, podendo perder o medo de errar no jogo e no dia-a-dia. O aprender a ser encontra no

esporte um aliado natural no caminho para o desenvolvimento humano de competências

pessoais que são imprescindíveis para que as crianças e jovens possam construir a sua

identidade e o seu projeto de vida.

A prática do esporte permite, avaliarmos nosso desempenho, aperfeiçoá-lo e desenvolver

novas competências. Acima de tudo, a prática esportiva, permite o autoconhecimento, ponto

de partida para conhecer os outros e o mundo. Isto é, o esporte seria um método pedagógico,

uma via privilegiada de acesso à educação.

Page 21: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

21

“O esporte articula as ações educativas e possibilita a expansão do

pensamento e da criatividade, a formação do espírito crítico, a

valorização da vida em sociedade e o desenvolvimento pessoal. Em

outras palavras, utilizar o esporte como método pedagógico é ensinar

mais que esportes, num ambiente de participação, de cooperação e de

solidariedade. Para tanto, é necessário ultrapassar o limite das

atividades esportivas em si olhando o esporte como um fenômeno

sociocultural, que, além de ser praticado, pode e deve ser investigado,

criticado e reinventado” (IAS, 2004: 163).

No dia-a-dia, a educação pelo esporte deve estar baseada em atividades que facilitam e

promovem interações construtivas e ricas entre os educandos e entre eles e os educadores. São

momentos de trocas, conversas, através das quais eles, participam do planejamento,

estabelecem regras e atitudes, e aprendem a avaliar tanto as atividades como a sua

participação. São procedimentos pedagógicos baseados nas idéias de que é na relação e no

contato com outras pessoas e com o mundo que as crianças desenvolvem o pensamento e a

linguagem, ao mesmo tempo que formulam pensamentos sobre si mesmas, sobre os outros e

sobre a realidade social. Por isso a participação do educando no trabalho pedagógico faz com

que ele aprenda a se organizar, a assumir responsabilidades e a desenvolver uma

independência cada vez maior para poder planejar sua vida.

A fim de garantir este espaço de conversas, trocas e combinados, as atividades diárias

iniciam e terminam com uma roda. A roda inicial, realizada no começo do dia de atividades, é

um espaço para os combinados, para recados, para coisas que os educandos queiram contar, e

principalmente para definir as atividades que serão realizadas naquele dia. A roda final é o

momento de pensar, conversar e avaliar as atividades do dia. Um espaço para trocas,

resolução de problemas, dicas, elogios e reclamações. É muito importante que o educando

saiba avaliar tanto as atividades propostas e realizadas, quanto a sua postura frente as

atividades.

“Trabalhar por meio desta proposta de educação desveladora-transformadora

de questões como, por exemplo, a formação de valores, cidadania, relações

Page 22: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

22

interpessoais, pode oferecer a seus praticantes e mediadores, algumas

alternativas para lidarem com os desafios que são e serão apresentados durante

a prática esportiva, como também com os que possam surgir ao longo de suas

vidas. A educação desveladora-transformadora é aquela capaz de proporcionar

que educador e educando, ao realizarem no ato pedagógico, experiências de

produção, construção e socialização de conhecimentos, também construam e

vivenciem projetos alternativos de convívio em sociedade, criticando e

transformando valores conservadores, casando com o ideal de vida melhor

individual e coletivamente de cada pessoa”( Marques e Kuroda apud, Silva,

2003)

Um grande avanço no sistema educacional brasileiro foi a elaboração dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs), que tem como função primordial “subsidiar a elaboração ou a

versão curricular dos estados e municípios, dialogando com propostas e experiências já

existentes, incentivando a discussão pedagógica interna às escolas e a elaboração de projetos

educativos, assim como servir de material de reflexão para a prática de professores”( Darido e

Rangel-Betti, 2001: 22). Elas apresentam uma proposta de Educação Física com alguns avanços

importantes e abrindo caminhos para novas possibilidades na área. Em primeiro lugar elegeu-se a

cidadania como eixo norteador do trabalho. Isto é, todas as atividades propostas devem ter como

objetivo geral trabalhar a cidadania.

Os conteúdos e o papel atribuído á Educação Física também representam avanços trazidos

pelos PCNs (Darido e Rangel-Betti, 2001) A Educação Física não é encarada mais como uma

simples prática esportiva, um simples aprendizado técnico e tático dos movimentos das

modalidades, mas sim visa contribuir para a formação total do educando. Desta forma os PCNs

garantem ao aluno o direito de saber o por quê de estar realizando este ou aquele movimento, esta

ou aquela atividade e os conceitos ligados à elas. Além de procurar que o educando entenda a

importância destas atividades e a extensão destas experiências para a sua vida cotidiana. Volta-se,

desta forma, para uma dimensão atitudinal, onde se trabalha as atitudes frente à atividades

corporais, onde o movimento representa um meio para se alcançar um fim, um meio para o

educando aprender a lidar com suas potencialidades e com suas frustrações.

Page 23: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

23

Segundo Darido e Rangel-Betti (2001) os PCNs entendem a escola como um dos espaços

possíveis para a formação de cidadãos críticos, reflexivos, sensíveis e participativos. Com o

objetivo de garantir tal formação, foram identificados temas considerados geradores de realidade

social para serem problematizados e refletidos pelos educandos. Estes temas foram denominados

“Temas Transversais”, pois devem cruzar as diferentes áreas, devem ser trabalhados em todas as

disciplinas escolares, possibilitando ao aluno o entendimento da realidade social, para assim

poder interpretá-la e até mesmo criticá-la, o que propicia em uma reflexão ética. Alguns

exemplos destes temas transversais são: Ética; Meio Ambiente; Trabalho; Sexualidade;

Diversidade cultural; Saúde; Drogas, além de quaisquer outros temas que possam surgir como

demanda de um grupo.

Medina (1983:45) afirma que a educação é um “processo de promoção do ser humano

que, no caso, significa tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua

situação para intervir nela, transformando-a no sentido de uma ampliação da comunicação e

colaboração entre os homens”. Isto é, um processo em que os seres humanos desenvolvem todas

as suas potencialidades, indo ao encontro de uma auto-realização. Desta forma, à finalidade do

processo educacional é tornar as pessoas cada vez mais humanas.

Realizar atividades esportivas que visem o desenvolvimento pessoal e social destes

jovens, fomenta a prática esportiva como veículo de educação procurando estimular a

transformação; o desenvolvimento/crescimento e o auto-conhecimento dos educandos, além de

oferecer a eles um espaço para debates e discussões de alternativas dos modos de convivência em

grupo.

Page 24: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

24

3. A Experiência de uma Olimpíada como Espaço Educativo

A Olimpíada do Espaço Criança Esperança ocorreu no mês de julho de 2007 e foi pensada

pela equipe de esportes do Espaço Criança Esperança (ECE) São Paulo, juntamente com a

coordenação pedagógica.

Respeitando a proposta pedagógica de trabalho do espaço, foram planejadas ações

específicas para cada faixa etária, levando em conta as fases do desenvolvimento psicomotor,

social e cognitivo dos participantes.

Foram convidadas algumas escolas e organizações da região para participar do evento. As

escolas não puderam participar, pois estavam em recesso. Desta forma, contamos com a

participação de dois núcleos sócio-educativos6 da região. Enviamos, com antecedência o projeto

da Olimpíada, para que pudessem se organizar.

É importante salientar que as atividades foram realizadas em equipes mistas.

3.1 Faixa etária 08-10 anos

Para esta faixa etária tínhamos como objetivo utilizar jogos e brincadeiras como forma de

integração, socialização e aprendizagem dos educandos.

O público participante foi de 70 Educandos do ECE São Paulo (35 ECE/ 35 SEME) e 30

crianças do NSE Tijolinho.

As atividades realizadas foram: salto em distância (3/4); arremesso de peso (3/4); corrida

de revezamento (3/4 bateria); futsal (misto 4 golzinhos); câmbio ( misto); jogo dos 10 passes

(basquete).

Para a execução das atividades as estratégias utilizadas foram:

• As instituições convidadas fizeram as inscrições dos educandos (no máximo 30) e

entregaram no ECE.

6 Núcleos- sócio educativo é uma inciativa da Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), que formula parceria com Ongs, para o atendimento de crianças e jovens de 8 a 18 anos .

Page 25: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

25

• O educando pode escolher qual atividade gostaria de participar; as equipes foram

separadas no início de cada atividade, misturando as crianças das diferentes organizações.

• O educando recebeu um PASSAPORTE (FIG.1), onde estavam descritas todas as

atividades em que ele poderia participar. No final de cada atividade o educador

responsável dava um visto no cartão.

• O educando teve que passar por todas as atividades sem repeti-las.

• Todas as organizações/escolas convidadas e os educandos do ECE deveriam cumprir

horário de chegada.

Descrição das atividades:

• Salto em distância – os educandos formaram as equipes dentro da modalidade. Cada

educando correu a distância determinada e saltou uma vez (pode ser alterado de acordo

com o número de educandos). Foi feita a medição e anotada. Todos da equipe saltaram.

Ao final foram somados todos os saltos correspondentes à equipe.

• Arremesso de peso: com as equipes formadas, os educandos ficaram dispostos em um

determinado local com uma linha demarcatória delimitando o espaço do arremesso. Eles

tiveram que lançar (um de cada vez) uma medicine ball, atrás da linha demarcatória.

Todos tiveram direito a um arremesso (o que pode ser alterado de acordo com o número

de educandos). Foi feita a medição de cada arremesso que, posteriormente, foram

somados.

• Corrida de revezamento: os educandos formaram as equipes dentro da modalidade. Havia

uma pista demarcada, com pontos de troca determinados. As equipes, realizaram um

revezamento entre todos seus participantes, tendo que correr um determinado percurso da

pista. Pondo variar de duas a três baterias dependendo do número de educandos. O

objetivo era realizar a corrida no menor tempo possível.

• Quatro golzinhos – futsal misto: dentro de um espaço delimitado (quadra de futebol)

estavam dispostos quatro gols (demarcados com cones). Foi uma disputa entre duas

Page 26: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

26

equipes onde cada equipe defendeu dois gols e pode atacar chutando em dois gols

dispostos formando um quadrado nas laterais da quadra. Ganhou quem fez o maior

numero de gols.

• Cambio – vôlei: os educandos se dividiram em duas equipes, fazendo um jogo de vôlei

com algumas regras adaptadas. Lançavam a bola por cima da rede, podendo segurá-la ao

invés de rebatê-la. A bola não pode cair no chão. Cada equipe tinha que realizar dois

toques entre eles sendo que no terceiro lançavam a bola para o outro lado da rede.

Ganhava a equipe que conquistava 15 pontos primeiro. Foram disputados dois sets.

• Jogo dos dez passes: Podia ser realizado com bola de basquete ou com bola de handebol.

O objetivo do jogo é a equipe fazer dez passes entre eles. Quando completado o décimo

passe a equipe marcava um ponto. O jogo ocorreu dentro de uma quadra normal, sendo

que se a bola ultrapassasse a linha de fundo ou a lateral, a bola seria do adversário. A

equipe que não estivesse com a posse da bola, poderia tentar interceptar o passe da equipe

que estivesse com bola, tentando assim recuperá-la.

FIG. 1 - Instrumento de Acompanhamento das atividades

PASSAPORTE

NOME ORGANIZAÇÃO:

SALTO DISTANCIA CORRIDA REVEZAMENTO CAMBIO – VOLEI

FUTSAL ARREMESSO DE PESO JOGO DOS 10 PASSES

Fonte: Equipe Pedagógica do ECE/ SP, julho, 2007.

Cada atividade teve a duração de aproximadamente 10 min. Os educandos tiveram um

tempo de 5 min para trocar de uma atividade para outra.

A premiação foi dada a todos que participaram das atividades propostas. Cada

organização convidada recebeu um troféu de participação.

Page 27: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

27

3.2 Faixa etária 11-12; 13-15.

Tínhamos com objetivo para esta faixa etária utilizar o jogo e a competição esportiva como

forma de integração, aprendizagem e auto- avaliação dos educandos.

3.2.1 Faixa etária 11-12 anos

Apesar de termos um mesmo objetivo para estas duas faixas etárias, a equipe pensou em

estratégias diferentes que respeitassem as diferentes fases do desenvolvimento psicomotor que se

encontram os participantes.

Participaram 48 educandos do ECE São Paulo (24 ECE/ 24 SEME), 24 educandos do NSE

Morro Grande e 24 do NSE Tijolinho .

As atividades propostas foram: rei do garrafão; vôlei-lençol; futsal – caixote; salto em

distância; corrida de revezamento.

Tivemos algumas regras importantes para a execução da atividades. As organizações fizeram

as inscrições por equipes na Olimpíada, sendo que deveriam trazer 2 equipes obrigatoriamente

por organização com no mínimo 6 e no máximo 12 educandos em cada equipe. A equipe recebeu

um cartão (FIG. 2), onde estavam descritas todas as atividades. Antes de iniciar, eles escolheram

a ordem das mesmas. No final de cada atividade o educador responsável pela modalidade deu um

visto e marcou a pontuação feita pela equipe no cartão.

As equipes, obrigatoriamente, jogaram todas as modalidades; o capitão de cada equipe teve

que escolher qual a ordem das modalidades que sua equipe gostaria de jogar. Caso houvesse mais

de duas equipes querendo disputar a mesma modalidade no mesmo horário o educador

responsável teve que mediar a escolha. As equipes se enfrentaram em jogos cooperativos, onde as

regras foram adaptadas e explicadas no início de cada jogo.

Regras das atividades:

• Rei-do-Garrafão (Basquete): As regras gerais seguiram as do Basquete; 4 tempos de 8

minutos cada. As equipes foram compostas por 5 educandos em quadra, podendo haver

reservas e efetuar quantas trocas o grupo julgasse necessárias. Cada equipe deve nomear

Page 28: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

28

um Rei (que pode ser trocado ao longo do jogo) para ficar dentro do garrafão adversário, e

somente ele pode arremessar na cesta. Os demais, sem poder entrar no garrafão, deviam

fazer com que a bola chegasse até o Rei de sua equipe. O objetivo era fazer o maior

número de cestas.

Material: 2 Bolas de Basquete e dois Jogos de Coletes (8).

• Vôlei-Lençol (Vôlei): As regras gerais seguiram as do Vôlei; 3 Sets. As equipes foram

compostas por 6 educandos na quadra, podendo haver reservas e efetuar quantas trocas

fossem necessárias. Cada equipe ficou em posse de dois lençóis, que tiveram a finalidade

de receber e lançar a bola para o campo adversário. O objetivo foi fazer a bola pingar na

quadra adversária.

Material: 2 Bolas de Voleibol, 4 Lençóis, 1 Rede de Voleibol.

• Futsal – caixote: As regras gerais seguiram as do Futsal; 2 tempos de 15 minutos. As

equipes foram compostas por 5 educandos na quadra, podendo haver reservas e efetuar

quantas trocas fossem necessárias. A baliza foi reduzida e não houve goleiro, o objetivo

foi fazer a maior quantidade de gols.

Material: 2 Bolas de Futsal, 2 balizas (gols).

• Salto em distância; Corrida de revezamento:

Salto em Distância: 4 educandos de cada equipe saltaram três vezes cada e foram anotadas as

distâncias saltadas e somadas para sua equipe.

Corrida de Revezamento: (3 baterias, o melhor tempo foi considerado): 4 educandos de cada

equipe percorreram 100 m e passaram o bastão para o próximo de sua equipe até que se

completou todo percurso.

Material: 2 bastões, 1 trena.

Page 29: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

29

FIG. 2 – instrumento de Acompanhamento das modalidades

TABELA JOGOS E HORÁRIOS

Horários Rei-do-Garrafão (Quadra 2)

Vôlei-Lençol (Ginásio)

Futsal Caixote (Quadra 1)

Salto distância; Corrida revezamento (Campo).

9h00 Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___

10h00 Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___

11h00 Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___

12h00 Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___ Eq.___ X Eq.___

Fonte: Equipe Pedagógica do ECE/ SP, julho, 2007.

A premiação foi para os primeiros colocados de cada modalidade. Cada organização

convidada recebeu um troféu de participação de acordo com a colocação da sua equipe.

3.2.2 Faixa etária 13-15 anos.

Participaram das atividades 60 Educandos do ECE São Paulo ( 30 ECE/ 30 SEME) e 20

educandos do NSE Tijolinho.

Nesta faixa etária foram propostas as modalidades de: Futsal; Voleibol e Basquete.

Algumas regras foram importantes: cada organização trouxe 1 equipe de cada

modalidade, sendo que, para o futsal foram aceitos no mínimo 5 e no máximo 15 atletas, para o

Vôlei no mínimo 6 no máximo 18 atletas e no basquete no mínimo 5 e no máximo 15

adolescentes. Foi montada uma tabela onde o sistema de disputa foi todos contra todos.

Foram avaliados três aspectos considerados importantes nesta fase do desenvolvimento:

• Trabalho em equipe;

• Respeito aos colegas;

• Respeito ao adversário

Page 30: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

30

Cada equipe recebeu um cartão (FIG. 3) onde foram avaliados os itens anteriormente citados.

Desta forma, a pontuação foi conquistada pela boa performance no jogo e também pelas boas

atitudes em quadra. Mediadores avaliavam as equipes nestes quesitos para posteriormente, junto

com as equipes, discutir a pontuação que lhes foi atribuída. Após o término da partida, a equipe

teve um tempo determinado (5 min) para fazer uma auto-avaliação do seu desempenho, tendo

como base os três quesitos. No segundo momento, as equipes novamente se encontravam, para

juntas discutirem a pontuação que lhes foi atribuída pelos mediadores e a sua própria auto-

avaliação. Juntos tinham que entrar em consenso sobre a pontuação final. No sistema de

pontuação geral, constou os pontos da partida mais a pontuação complementar dos quesitos.

Venceu a equipe que conquistou um maior número de pontos no decorrer do campeonato.

Pontuação do Jogo

Derrota Empate Vitória

0 1 3

Pontuação dos quesitos

Nunca acontece Às vezes acontece Sempre acontece

0 0,5 1

Fonte: Equipe Pedagógica do ECE/ SP, julho, 2007.

Cada partida teve duração de 40 minutos, dois tempos de 20 minutos, com 1 minuto de

intervalo, podendo ser alterado dependendo do número de equipes inscritas. O tempo reservado

para a roda de mediação das notas dos quesitos foi de 35 minutos.

TABELA DE JOGOS – GERAL

1º JG – 09:00 H A X B

2º JG – 10:30 H C X B

3º JG – 12:00 H A X C

Fonte: Equipe Pedagógica do ECE/ SP, julho, 2007.

Page 31: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

31

FIG. 3 – instrumento de mediação

INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO

Trabalho em equipe Respeito ao colega Respeito ao adversário total

1º JOGO

2º JOGO

Fonte: Equipe Pedagógica do ECE/ SP, julho, 2007.

Todas as modalidades seguiram as regras oficiais estabelecidas pelas Federações, salvo os

em algumas exceções:

FUTSAL

I. As equipes teriam que obrigatoriamente realizar três substituições durante o tempo

corrido de jogo.

VOLEIBOL

I. O número de substituição foi livre.

II. A substituição deveria ocorrer entre os mesmos jogadores, ou seja, quando um jogador foi

substituído, o mesmo só poderia retornar ao jogo no lugar do jogador que o substituiu.

BASQUETE

I. As equipes tiveram que obrigatoriamente realizar três substituições durante o tempo

corrido de jogo.

Todos foram premiados de acordo com a colocação de cada equipe. A organização recebeu um

troféu de acordo com a colocação da equipe.

3.3 Faixa etária 16 - 20 anos.

A proposta para os jovens foi completamente diferente das anteriores, pois com eles nosso

objetivo era efetivar uma participação diferenciada dos jovens na Olimpíada do ECE,

Page 32: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

32

promovendo a integração, a cooperação, o senso de responsabilidade e a autonomia dos

educandos.

Nesta faixa etária participaram somente os educandos do ECE.

Os educandos participaram da Olimpíada desempenhando funções como as de árbitros,

mesários, cronometristas e assistentes de educador nas atividades das faixas etárias de 8 a 15

anos. Posteriormente, promoveram oficinas de saberes que foram criadas por eles, utilizando os

conhecimentos prévios que eles adquiriram durante as aulas.

Os educandos participaram da organização do evento junto com os educadores. Os

educadores passaram todas as orientações relativas à arbitragem e ao cronograma do evento

previamente. Os educandos foram divididos em equipes de organização, que realizou o trabalho

de montagem da estrutura do evento, responsáveis pelos materiais, arbitragem e composição da

mesa. No último dia do evento, os educandos estiveram à frente das atividades, propondo

oficinas dos saberes aos outros participantes das olimpíadas. As oficinas não ocorreram todas ao

mesmo tempo, promovendo a participação coletiva de uns nas oficinas dos outros. Esta

preparação/ planejamento começou a ser realizada um mês antes do evento.

Foram 5 oficinas. As oficinas ocorreram uma de cada vez em um determinado horário

sorteado. Cada oficina teve a duração de aproximadamente 45 minutos. Houve 15 minutos para

compartilhar e avaliar a oficina.

3.4 PARTICIPAÇÃO DE OUTRAS LINGUAGENS

Com o objetivo de integrar as diferentes linguagens do ECE São Paulo, cada uma teve um

importante papel na construção deste evento.

Os grupos de artes e graffiti ficaram responsáveis pela fabricação dos troféus e pela

decoração da abertura e da Olimpíada em geral.

TABELA DE OFICINAS

9:00 HS 10:00 HS 11:00 HS 12:00 HS 13:00

1ª. OFIC. 2ª. OFIC. 3ª. OFIC. 4ª. OFIC. 5ª. OFIC.

Page 33: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

33

As medalhas foram confeccionadas na atividade de orientação educacional.

O grupo de dança fez a apresentação de uma coreografia com o tema: futebol na abertura e

a turma de capoeira fizeram uma apresentação no encerramento do evento.

No decorrer do evento tiveram vários momentos em que os educandos passaram por

mediações. Estas foram realizadas pelos educadores das áreas de Comunicação e Expressão,

Orientação Educacional, Meio Ambiente e Educação Comunitária, que puderam contar também

com a ajuda dos coordenadores. Os educadores das linguagens de Dança e Capoeira também

ajudaram nos momentos de mediação com os educandos.

O jovens do Núcleo Multimídia foi responsável pela cobertura do evento, com fotos

filmagens e entrevistas em geral. E, no encerramento, os educandos apresentaram um vídeo com

as imagens gravadas durante os 4 dias.

3.5 CRONOGRAMA GERAL

SEGUNDA

07:00

Chegada dos educadores e responsáveis pela montagem e organização do

evento.

08:00 – 09:00 Montagem da abertura e do evento (decoração, cartazes de informação)

chegada dos educandos e organizações.

09:00 – 09:15 Abertura, saudação aos participantes e hino nacional.

09:15 – 09:30 Apresentação do grupo de Dança (Soraya)

09:30 – 10:00 Organização das equipes

10:00 Início das atividades

13:00 Previsão do termino das atividades

13:30 Premiação dos participantes e das organizações

TERÇA

08:00 – 08:30 Chegada das organizações e educandos

Page 34: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

34

08:30 – 09:00 Escolha das modalidades

09:00 Início da bateria de jogos

10:00 2ª bateria de jogos

11:00 3ª bateria de jogos

12:00 4ª bateria de jogos

13:00 Premiação

QUARTA

08:30 – 09:00 Chegada dos educandos e organizações

09:00 Inicio das atividades, 1ª bateria de jogos

10:30 2ª bateria de jogos

12:00 3ª baterias de jogos

13:00 Premiação

QUINTA

08:30 – 09:00 Chegada dos educandos e convidados

09:00 Inicio das oficinas

10:00 2ª oficina

11:00 3ª oficina

12:00 4ª oficina

13:00 5ª oficina

15:00 Entrega do prêmio de participação

15:30 Apresentação Dança e Capoeira

15:45 Agradecimentos e encerramento

Page 35: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

35

4. Considerações Finais

O Esporte como instrumento Educacional é necessariamente uma prática interdisciplinar

que tem como princípio a inclusão, e como principal objetivo a educação. Para isso utiliza o

potencial educativo do esporte, o esporte como uma ferramenta de desenvolvimento humano

integral. As situações vividas no contexto da prática esportiva devem ser levadas para o dia-a-dia,

para a vida.

As relações interpessoais de um grupo esportivo trazem a oportunidade de vivenciar na

prática esportiva situações do cotidiano que extrapolam este contexto, podendo assim oferecer

uma ampliação de repertório para o olhar sobre as diversas questões da vida, para a resolução de

conflitos e para a tomada de decisões/ escolhas. Neste processo, a figura do educador se faz

necessária, não só por portar uma certa consciência de tudo que o educando vivenciou no

processo, mas fundamentalmente por desenvolver, junto com ele, a postura crítica de pensar

sobre o que se está vivendo e a forma como isto se projeta para a sua vida.

No processo ensino-aprendizagem a mediação das ações e relações interpessoais do grupo

envolvido, é a principal ferramenta para a efetivação da transformação e do desenvolvimento por

ser uma das tarefas que baseiam a formação da crítica da ação. Cada integrante que faz parte

desta ação esportiva tem um papel diferenciado nesse processo. O educador deve planejar

atividades que facilitem e promovam interações construtivas entre todos os envolvidos e sempre

estar atento e acompanhando os movimentos e demandas do grupo, como: as diferentes turmas,

situações e relações; criar ou não conflitos, e auxiliar na resolução deles; estimular potenciais em

seus educandos; dar a noção/ consciência de possibilidades e limites; ter a percepção que

contribui para a formação da identidade dos educandos; aceitar as diferenças e peculiaridades de

cada um dos educandos.

A partir da experiência da realização desta Olimpíada, observei que, em relação às

atitudes e ações dos educandos, algumas das atividades propostas foram, inicialmente, acolhidas

com certa estranheza, porém, com pertinência no desenvolvimento e na finalização das mesmas.

O “novo” parece assustar, mas a adaptabilidade revigora e inova a cada vivência.

Comportamentos mais reflexivos e maturacionais ocorreram depois desta experiência

demonstrando comprometimento na realização de todas as atividades, inclusive nas atividades do

dia-a-dia do projeto, as quais foram atribuídos novos sentidos. Durante a Olimpíada percebemos

Page 36: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

36

que os espaços de mediação foram muito importantes para a efetivação do processo de ensino-

aprendizagem.

Outro dado importante na avaliação da proposta é a repercussão deste modelo de

competição nas instituições participantes e também nas que infelizmente não puderam participar,

mas tiveram acesso ao projeto da olimpíada. As organizações que participaram nunca haviam

experenciado uma Olimpíada com estes moldes antes e se interessaram muito pela metodologia.

As escolas que receberam o projeto, mas não puderam participar, se mostraram interessadas em

realizar algo parecido em parceria com o projeto; já está sendo planejado para o ano de 2008 uma

ação de Educação pelo Esporte, com os educadores do projeto, dentro de uma Escola Municipal

com um grupo específico adolescentes. A equipe pedagógica avalia que atingiu o objetivo do

projeto da Olimpíada ao observar transformações comportamentais significativas nos

participantes e ao disseminar a metodologia e iniciar uma nova fase na forma de se pensar a

prática das atividades esportivas.

Desta forma concluo que a Olimpíada se mostrou um espaço educativo em potencial, um

instrumento privilegiado para efetivar a educação para o desenvolvimento humano e para

experiênciar a relação ensino-aprendizagem.

Page 37: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

37

Referências Bibliográficas

• BOCK, Ana M.B; AGUIAR, Wanda M. J. Psicologia da Educação: em busca de uma

leitura crítica e de uma atuação compromissada. In Ana M. B. Bock (Org), “Perspectiva

sócio-histórica na formação em psicologia”. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2002. Pág

132/160.

• BOCK, Ana M.B. A Psicologia Sócio-Histórica: Uma perspectiva crítica em psicologia”

in Ana M.B. Bock, M. Graça M. Gonçalves, Odair Furtado (orgs), “Psicologia Sócio-

Histórica: Uma perspectiva crítica em psicologia”. São Paulo: Cortez, 2001. Pág 15/35.

• BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, MEC, 1990.

• BRASIL, Constituição Federal Brasileira. Brasília, 1988.

• BRASIL, “Lei número 9.394, de 20.12.96, Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação

Nacional”, in Diário Oficial da união, Ano cxxxiv, número 248, 23.12.96.

• DARIDO, Suraia C.; RANGEL-BETTI, Irene C. : A Educação Física, a Formação do

Cidadão e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista Paulista de Educação Física de

São Paulo. São Paulo,v 15, p 17-31, Jan/Jun. 2001.

• Instituto Ayrton Senna. Ideário do Programa de Educação pelo Esporte. São Paulo,

maio/2000.

• Instituto Ayrton Senna. Educação pelo Esporte: Educação para o Desenvolvimento

Humano pelo Esporte. Autora: Walderez Nosé Hassenpflug. São Paulo, ed Saraiva: 2004

(Coleção Biblioteca Instituto Ayrton Senna).

• MEDINA , João Paulo Subirá. A Educação Física Cuida do Corpo... e “Mente”.

Campinas: Ed Papiros,1983.

• OLIVEIRA, Marta Kohl. Pensar a Educação: Contribuições de Vygotsky. Em Castorina

e Cols. Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo, Ática, 4a ed,

1997.

• SILVA, Marcelo “Jabu” B. da. ONG e Esportes: A cidadania entrando em campo. São

Paulo: CENPEC, Unicef, 2003- 4a ed. – (Educação e participação do CENPEC).

Page 38: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

38

• SILVA, S. DA, Fabio. Relato de experiência da intervenção em grupo para adolescentes

inserido na medida socioeducativa de Liberdade Assistida da capela do socorro. São

Paulo, 2003. 52p. Monografia (Conclusão do curso de Psicologia do Esporte) – Instituto

Sedes Sapientiae.

• TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. As histórias de Ana e Ivan: Boas experiências em

liberdade assistida. Coleção dá pra resolver. Fundação Abrinq, 2003.

• UNESCO. Educação: Um tesouro a descobrir. “ Relatório para a UNESCO da

Comissão Internacional sobre educação para o século XXI”. Autor: Jacques Delors. São

Paulo: Cortez, 8a ed.; Brasília, DF : Mec : UNESCO, 2003.

Page 39: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

39

Referências Bibliográficas de Apoio

• AGUIAR , Wanda M.J. Pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica: Contribuições para o

debate metodológico. In Ana M.B. Bock, M. Graça M. Gonçalves, Odair Furtado (orgs),

”Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia”. São Paulo: Cortez,

2001. Pág 128/139.

• BROUGERE, G. "Jogo e educação" Porto Alegre: Artmed, 1999.

• BROWN, G; Jogos Cooperativos como auxilio na Resolução de Conflitos. Revista

Jogos Cooperativos. Ano I, 2001.

• COUTO, A. C. P; Educação pelo Esporte um caminho para o Desenvolvimento

humano. Projeto Guanabara. EEFFTO / UFMG.

• COLE, M e SCRIBNER, S. “Introdução”. In: VIGOTSKI, L.S. A formação social da

mente. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

• GONÇALVES, Maria C. / PINTO, Roberto C.A. / TEUBER, Silvia P. Aprendendo a

Educação Física: Esportes e Jogos / Paraná / PR, Bolsa do Livro, 2002

• FERREIRA, R. L; Futsal e a Iniciação. 6 ed. São Paulo: Sprint, 2002, 103p

• FREIRE, J. B. "Educação de corpo inteiro". São Paulo Scipione, 1992. MARIN, Isabel

Kahn. Alternativas de Atendimento à criança e ao jovem abandonados: subsídios para a

prática 1. São Paulo: Instituto Sedes Sapientiae, Jan, 1990.

• REGO, Teresa Cristina. Vigotski: Uma perspectiva histórico-cultural da educação.

Petrópolis/RJ: Ed vozes, 1995.

Page 40: Trabalho Conclusão Sedes - Final PDF

40

ANEXOS