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Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural [Trabalho 1962 ] APRESENTAÇÃO ORAL LUIZ CARLOS MIOR;DILVAN LUIZ FERRARI;TABAJARA MARCONDES;MARCIA MONDARDO. EPAGRI, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL; REDES E AGROINDÚSTRIAS: AS INOVAÇÕES ORGANIZACIONAIS DOS AGRICULTORES FAMILIARES E OS NOVOS MERCADOS EM SANTA CATARINA 1 Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade Resumo O objetivo deste artigo é analisar as recentes inovações organizacionais, associadas à busca de novas formas de inserção no mercado, protagonizadas pela ação dos agricultores familiares em Santa Catarina. A partir de um levantamento realizado em 2010 faz-se um diagnóstico da magnitude das inúmeras iniciativas de agregação de valor na forma de agroindústrias familiares rurais, turismo rural, artesanato, atividades de prestação de serviços, bem como das organizações coletivas relacionadas à viabilização destes negócios, especificamente na forma de associações, condomínios e cooperativas. Para a análise deste processo utiliza-se um referencial ancorado na sociologia econômica, na construção social de mercados e na perspectiva orientada ao ator. Este conjunto de inovações são vistas aqui como evidências de um processo emergente de construção de um novo padrão de desenvolvimento rural associado a novos agentes, produtos, mercados e organizações econômicas. Verifica-se que este “contra-movimento” às forças homogeneizantes da comoditização vem alterando a dinâmica social e econômica de muitas regiões de Santa Catarina a partir da criação de novos empreendimentos e novas redes de cooperação. Palavras-chave: Agroindústria familiar, Redes de cooperação, Desenvolvimento rural, Inovações organizacionais. AGRO INDUSTRIES AND NETWORKS: FAMILY FARMER´S ORGANIZATIONAL INNOVATIONS AND NEW MARKETS IN SANTA CATARINA STATE, BRAZIL Abstract This paper´s objective is analyzing recent organizational innovations related to the action promoted by family farmers in the Santa Catarina State, South Brazil, with the aim to access new market opportunities. Based on a diagnostic carried-out in 2010, an analysis was realized focusing on two aspects: (a) the impact of several family agro industries initiatives with the objective to add value in rural products and services as well as in activities such as rural tourism and art crafts, and (b) reflect about the organizations related to the implementation and management of these business, specially associations, condominiums and cooperatives. The theoretical framework is based on economics sociology, on the market´s social construction proposal as well as on the actor-oriented perspective. This group of innovations 1 Esta pesquisa conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC).

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[Trabalho 1962 ]

APRESENTAÇÃO ORAL

LUIZ CARLOS MIOR;DILVAN LUIZ FERRARI;TABAJARA MARCONDES;MARCIA MONDARDO.

EPAGRI, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL;

REDES E AGROINDÚSTRIAS: AS INOVAÇÕES ORGANIZACIONAIS DOS

AGRICULTORES FAMILIARES E OS NOVOS MERCADOS EM SANTA CATARINA1

Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade Resumo

O objetivo deste artigo é analisar as recentes inovações organizacionais, associadas à busca de novas formas de inserção no mercado, protagonizadas pela ação dos agricultores familiares em Santa Catarina. A partir de um levantamento realizado em 2010 faz-se um diagnóstico da magnitude das inúmeras iniciativas de agregação de valor na forma de agroindústrias familiares rurais, turismo rural, artesanato, atividades de prestação de serviços, bem como das organizações coletivas relacionadas à viabilização destes negócios, especificamente na forma de associações, condomínios e cooperativas. Para a análise deste processo utiliza-se um referencial ancorado na sociologia econômica, na construção social de mercados e na perspectiva orientada ao ator. Este conjunto de inovações são vistas aqui como evidências de um processo emergente de construção de um novo padrão de desenvolvimento rural associado a novos agentes, produtos, mercados e organizações econômicas. Verifica-se que este “contra-movimento” às forças homogeneizantes da comoditização vem alterando a dinâmica social e econômica de muitas regiões de Santa Catarina a partir da criação de novos empreendimentos e novas redes de cooperação. Palavras-chave: Agroindústria familiar, Redes de cooperação, Desenvolvimento rural, Inovações organizacionais. AGRO INDUSTRIES AND NETWORKS: FAMILY FARMER´S ORGANIZATIONAL INNOVATIONS AND NEW MARKETS IN SANTA CATARINA STATE, BRAZIL Abstract This paper´s objective is analyzing recent organizational innovations related to the action promoted by family farmers in the Santa Catarina State, South Brazil, with the aim to access new market opportunities. Based on a diagnostic carried-out in 2010, an analysis was realized focusing on two aspects: (a) the impact of several family agro industries initiatives with the objective to add value in rural products and services as well as in activities such as rural tourism and art crafts, and (b) reflect about the organizations related to the implementation and management of these business, specially associations, condominiums and cooperatives. The theoretical framework is based on economics sociology, on the market´s social construction proposal as well as on the actor-oriented perspective. This group of innovations

1 Esta pesquisa conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC).

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is interpreted as evidence of an emerging process in order to construct a new rural development dynamic associated to new agents, products, markets and economic organizations. As an alternative to the commoditization and standardization movement of the global market, this process has modified social and economics dynamics of several regions in Santa Catarina, in particular due the emergence of new agro industries and cooperation networks. Key words: family agro industry; cooperation networks; rural development; organizational innovations

1. INTRODUÇÃO

Os agricultores familiares catarinenses vêm reagindo e se adaptando a dois processos relevantes que vem transformando as condições de produção e trabalho ao longo dos últimos anos. O primeiro diz respeito ao aperto econômico squeeze2 que atravessa as diversas atividades desenvolvidas em Santa Catarina. O segundo se refere ao movimento de valorização e crescente demanda por produtos alimentares de qualidade diferenciada que se verifica no contexto dos países desenvolvidos e, também, no Brasil. Em relação ao primeiro processo, é fato que o projeto de modernização da agricultura, iniciado nos anos 1960, deixou marcas no âmbito social, econômico e ambiental. Uma das suas facetas em Santa Catarina é de que contribuiu para os agricultores familiares estabelecerem estreita relação com grandes complexos agroindustriais e cooperativas, na qual se tornaram meros fornecedores de matérias-primas.

Esse modelo provocou concentração econômica e fundiária, seleção e exclusão dos pequenos agricultores das grandes cadeias agroindustriais de carnes, degradação ambiental, e, sobretudo, forte êxodo rural em todas as regiões catarinenses, retratados em diversos trabalhos (TESTA et al., 1996; MIOR, 2005; MELLO, 2009; ALTMANN et al., 2008,WILKINSONN et al., 2011). Paralelamente a isso, os agricultores familiares, através de iniciativas individuais e coletivas, reagiram através de uma miríade de ações, que surgem como possibilidade de diversificação ao padrão de desenvolvimento rural em Santa Catarina.

Este movimento se inscreve na luta dos agricultores por buscar maior autonomia e capturar valor nas principais cadeias de alimentos, implicando na criação dos seus próprios empreendimentos e em novas formas de inserção nos diversos mercados, e de organização em associações e cooperativas. A formação de uma gama de pequenas agroindústrias rurais implica também em recuperar e revalorizar processos artesanais de um “saber-fazer” que resgatam um patrimônio histórico e cultural da sociedade catarinense.

Os agricultores e suas organizações são protagonistas desses processos e contam com a parceria de diversos agentes: Prefeituras e Associações de Municípios, ONG’s, Serviço de Extensão Rural (Epagri), Sindicatos e Federações de Trabalhadores Rurais e da Agricultura Familiar, Secretaria da agricultura do Estado de Santa Catarina, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Universidades, entre outras instituições. O objetivo deste artigo é analisar as recentes inovações organizacionais associadas à busca de novas formas de inserção no mercado protagonizadas pela ação dos agricultores familiares em Santa Catarina. A partir de um levantamento realizado em 2010 pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão de SC (Epagri) faz-se um retrato da magnitude das inúmeras iniciativas de agregação de valor existentes em Santa Catarina. Estas comportam as agroindústrias rurais familiares, o turismo rural, artesanato e as atividades de prestação de

2 Refere-se às dificuldades crescentes dos agricultores familiares manterem sua rentabilidade (Ploeg et al, 2000)

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serviços bem como as organizações relacionadas à viabilização destes negócios, especificamente na forma de associações, condomínios e cooperativas. Além desta introdução, este artigo contempla uma reflexão acerca das mudanças nos mercados de alimentos, a partir da segmentação das cadeias agroalimentares, e as repercussões na formatação de redes e na produção de inovações no meio rural. Em seguida analisa as formas tradicionais e as novas formas de inserção nos mercados pelos agricultores familiares catarinenses. Na sequência são apresentados os dados referentes às iniciativas de agregação de valor e as redes de cooperação levantadas no Estado. Ao final discute-se acerca dos processos que enraizaram estas iniciativas que evidenciam uma nova dinâmica econômica e social que vem se conformando nas diferentes regiões de Santa Catarina.

2. MUDANÇAS NOS PADRÕES DE CONSUMO COM IMPACTO NA FORMAÇÃO DE NOVAS CADEIAS AGROALIMENTARES

Na abordagem teórica da localização e diversidade dos sistemas agroalimentares a localidade entra como elemento explicativo fundamental da diferenciação do desenvolvimento, já que os fenômenos globais sofrem reações, reinterpretações e ressignificações dos atores locais. Assim, propõe que as análises sobre mudanças sociais deixem de valorizar apenas as forças externas e sejam centradas nos atores sociais (LONG, 1996; PLOEG, 1992). Nessa perspectiva teórica, ao tratar das redes sociais alguns autores (MARSDEN et al., 1990, 1993; LOWE et al., 1995; MURDOCH, 2000) fazem uma contraposição entre as perspectivas da globalização e as da relocalização e diversidade dos sistemas alimentares, argumentando que nos processos de mudança rural seja incluída a reestruturação rural a partir de dinâmicas sociais e econômicas agrícolas e não agrícolas dos territórios locais e regionais. Destacam a importância dos atores locais controlarem a articulação dos circuitos locais e não locais de produção e consumo (LOWE et al., 1995).

Igualmente, peculiaridades das cadeias agroalimentares as tornam singulares em relação a outros setores. A natureza biológica da matéria-prima, a dependência do clima, a perecibilidade dos alimentos, a importância e os riscos para a saúde, a regulamentação da produção e da comercialização pelo Estado, a diversidade dos sistemas de produção na agricultura e a dimensão simbólica do consumo dos alimentos são especificidades que interferem no padrão tecnológico e no domínio da qualidade dos produtos agroindustriais. Assim, a demanda de produtos do sistema agroalimentar não é caracterizada apenas pelo critério de quantidade/preço e dá importante lugar à economia da qualidade (WILKINSON, 2008). É fato que as cadeias agroalimentares são crescentemente orquestradas por alguns poucos atores econômicos de larga escala, mas o sistema alimentar não deixa de ter um curso decorrente de características específicas da produção de alimentos, notavelmente sua estreita associação com a base de recursos naturais e variação cultural nas práticas de consumo. Estes dois aspectos chaves necessariamente atrelam cadeias alimentares a dadas formações espaciais. Desta forma, para entender o desenvolvimento do setor agroalimentar é necessário considerar como as forças que promovem a globalização interagem com naturezas e culturas que são espacialmente ‘fixadas’.

Alimento é necessariamente um mix de natural e social. Portanto, a biologia exerce um papel crucial em mediar processos sociais de industrialização e lugares constrangem a extração de lucro do setor alimentar (MURDOCH et al., 2000). Isto é, a natureza age para localizar ou regionalizar o processo de produção de alimentos. A sazonalidade é o exemplo

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clássico3. Assim, se, por um lado, aspectos globais tornam o sistema alimentar parte intrínseca da produção de commodity globalizada, por outro lado, um conjunto de estudos agroalimentares reconhece que os processos de produção são ainda mediados e às vezes refletem especificidades locais/regionais, criando padrões complexos, espacialmente e temporalmente diferenciados (GOODMAN; WATTS, 1997; MARSDEN; ARCE, 1995). Como no sistema agroalimentar a industrialização continua condicionada pelas bases de produção natural e pelas relações sociais, e como as condições locais enraizadas têm importantes efeitos sobre agricultura, frequentemente servindo como barreira para transformação industrial, Morgan et al. (2006), em síntese, argumentam que as cadeias alimentares contemporâneas não são tão ‘desenraizadas’ da natureza e dos contextos locais. O resultado é um mercado de alimentos crescentemente fragmentado e diferenciado.

De acordo com Morgan et al. (2006) o sistema alimentar contemporâneo trabalha em acordo a lógica econômica, mas também cultural, ecológica e político-institucional, as quais dão surgimento a diferentes ‘mundos de alimento’ que compreendem diferentes misturas de convenções e diferentes formas organizacionais. Desta forma, os autores sugerem que se considere a interação entre formas econômicas (rede ou cadeia), contexto cultural (as demandas dos consumidores), regime político/regulatório e os impactos sobre ecologias locais e regionais, pois assim se pode ver a extensão em que as cadeias de alimentos estão enraizadas em, ou, alternativamente, desenraizadas de espaços e lugares em particular. Assim, o “turn” para qualidade vem associado à emergência de cadeias alimentares ‘alternativas’ operando às margens da produção de alimentos industrial dominante e provocando impacto direto sobre a reestruturação econômica e sociocultural de áreas rurais (HOLLOWAY; KNEAFSEY, 2004; GOODMAN, 2004). Com uma procura cada vez mais específica, o mercado segmentado abre um novo espaço para as pequenas agroindústrias, que passam a explorar nichos de mercado.

No Brasil, mudanças desse tipo no sistema agroalimentar evidenciam-se, sobretudo, na década de 1990, quando se assiste a abertura de novas oportunidades de inserção em mercados onde qualidade associa-se com a atividade artesanal/familiar, com forte vínculo com os saberes tradicionais dos produtores, favorecendo a agroindústria familiar. Se uma “sociedade de risco” (BECK, 1992) afetou o consumo de alguns produtos do sistema agroalimentar, também oportunizou que os produtores buscassem novas formas de acesso aos mercados e novos processos produtivos e organizacionais. Em Santa Catarina, conforme identificou Ferrari (2011), de forma mais contundente em algumas regiões, testemunha-se, de um lado, processos de globalização da cadeia agroalimentar, industrialização da produção de alimentos e concentração econômica na indústria de processamento e setores varejistas e, de outro, a emergência de uma ampla variedade de novas cadeias alimentares (em alguns casos, mais uma reemergência de cadeias artesanais tradicionais) que são caracterizadas pelas noções de qualidade, tradição, re-localização e imersão em redes sociais.

O paradigma da modernização da agricultura, que dominou a teoria, as práticas e as políticas, como principal ferramenta para elevar a renda, passa a conviver com um novo paradigma, entendido por Ploeg et al. (2000) como um processo multinível, multiatores, multifacetado e enraizado em tradições históricas. Marsden (2003), por sua vez, considera três dinâmicas chaves para entender os processos de desenvolvimento rural: a dinâmica

3 Evidentemente que continuados esforços (técnicas de preservação de alimentos e barateamento do transporte a longas distâncias, por exemplo) têm sido realizados para reduzir a importância e o poder restritivo da natureza, nos termos de uma ‘revolução industrial nunca acabada’.

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agroindustrial, a pós-produtivista e a dinâmica de desenvolvimento rural sustentável4. Para esses autores, o desenvolvimento rural diz respeito à construção de novas redes, a reformatação e recombinação do social e do material, o uso renovado do capital social, cultural e ecológico e na revalorização e reconfiguração dos recursos rurais. Por consequência, estabelece-se uma interconexão entre as diferentes estratégias e práticas dos produtores rurais, as quais passam pela elaboração de novas trajetórias tecnológicas e produção de conhecimentos específicos, onde inovações através de novos produtos, novas formas de organização da produção e dos mercados tornam possíveis uma reposição da competitividade das unidades de produção no meio rural (PLOEG et al., 2000; WISKERKE; PLOEG, 2004).

A inovação, aqui reconfigurada enquanto ‘produção de novidades’5, pode se apresentar de diversas formas: na produção agroecológica de produtos agrícolas, processados pelos próprios agricultores de uma associação ou cooperativa; em processos de “retroinovação”, como na produção artesanal de queijos, salames, doces, geleias, açúcar mascavo e uma infinidade de outros produtos ligados a uma tradição e um ‘saber-fazer’ local. Ademais, ela se evidencia principalmente na organização sociotécnica para a realização mercantil, com destaque para a produção solidária entre agricultores; para a governança da cadeia com um sistema de vendas (centralizado ou descentralizado) e cooperação competitiva; agressividade mercantil via sistemas “delivery on line”; marketing via rótulos e embalagens; enraizamento cultural e territorial (janta ‘colonial’; gemüse fest); conexões em redes de mercantilização.

Diversos autores (PLOEG et al., 2000; MARSDEN et al., 2000; MURDOCH, 2000; RENTING et al., 2003) apontam o potencial destas novas (alternativas) cadeias agroalimentares para desencadear amplos processos de desenvolvimento rural nos diferentes contextos e territórios. As formas de organização e processos inovadores (grupos, cooperativas, filiais, marcas, selos, redes), embora enraizados em mundos, processos de produção e trabalho locais e de conhecimento contextual e socialização de aprendizagens, se encontram entrelaçadas com o regime sociotécnico dominante. Isto significa ser necessário criar ‘espaços de manobra’ para se adaptar às condições na busca de transformá-lo. A densidade destas novidades e dos nichos de inovação é que possibilitarão ‘transições’ que de fato possam se efetivar em mudanças nos regimes e paradigmas dominantes.

3. FORMAS TRADICIONAIS DE INSERÇÃO NO MERCADO DA AGRICULTURA FAMILIAR EM SANTA CATARINA

A agricultura familiar tem se constituído na base social da economia agrícola de Santa Catarina. Informações do Censo Agropecuário mostram que do total de estabelecimentos do Estado no ano de 2006 (193.663), mais de 168 mil foram classificados como estabelecimentos

4 As características chaves dessa dinâmica: produção agroecológica, alimentos naturais, mercado local e regional de produtos artesanais, alimentos com qualidades diferenciadas, venda direta a consumidores, circuitos curtos de comercialização. 5 Novelty, em geral emergem na periferia dos regimes reinantes. Enquanto inovações substituem os fatores de

produção limitantes por artefatos artificiais da indústria, novelties é um modo de organizar os recursos endógenos para contornar os constrangimentos, usando estratégias de diversificação e geração de sinergias internas/externas. Portanto, é uma modificação/quebra de rotinas existentes. Um novo modo de fazer e pensar que carrega o potencial para fazer melhor, para ser superior à rotina existente. Na agricultura é um processo altamente localizado, dependente do tempo, do ecossistema e da cultura local nos quais o processo de trabalho está enraizado (PLOEG et al., 2007).

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da agricultura familiar, atingindo 87% do total, o que faz de Santa Catarina uma das unidades da federação com os maiores percentuais de agricultores familiares do Brasil. Essa maioria absoluta detém apenas 44% da área total e é responsável por 64% do valor bruto total da produção dos estabelecimentos agropecuários do Estado. Em relação à estrutura fundiária predominam estabelecimentos com pequena área, onde 65% possuem menos que 20 hectares e 69,3 mil (36%) têm menos de 10 hectares de área total. Em 2006, eram 570 mil pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários catarinenses.

Uma característica presente na agricultura familiar de Santa Catarina é a diversificação de sua base produtiva, combinando produtos vegetais com a criação de animais. Assim, formas altamente sofisticadas de produção no sistema de integração agroindustrial convivem com práticas tradicionais de autoconsumo e troca entre vizinhos, articulação com mercados locais, redes mercantis informais e integração em circuitos mais formais de comercialização. Contudo, a par de grandes e modernos complexos agroindustriais, há um expressivo número de pequenas e médias propriedades rurais, produtoras de alimentos básicos e de matérias-primas, que apresentam baixos níveis de renda e dificuldades em se manter produzindo. Assim, lado a lado convivem ambas as formas, empresarial e camponesa de se fazer agricultura. Para Altmann et al. (2008), o baixo nível de renda e a insatisfatória qualidade de vida para boa parte das famílias rurais vêm provocando, nos últimos anos, um êxodo rural médio da ordem de 1% ao ano (2% entre os jovens), com tendência a acelerar-se num processo de masculinização e envelhecimento da população rural.

A crise estrutural da agricultura nos anos recentes tem levado a transformações significativas no modo de viver, de produzir e de trabalhar dos agricultores familiares. Os limites impostos pela estrutura fundiária, de um lado, e pelo bloqueio aos grandes circuitos agroindustriais, de outro, num processo de seleção e exclusão, tem levado a muitas famílias de agricultores a buscar novas formas de inserção nos mercados de trabalho e de produto. Seja permanecendo na agricultura ou se empregando em setores do comércio, da indústria e de serviços, independentemente se isto implica e permanência ou migração para a sede dos municípios ou para outras regiões do Estado e mesmo do Brasil (SILVESTRO et al., 2001; FERRARI et al., 2004). Dentre as principais causas dos problemas econômico-financeiros da agricultura familiar em Santa Catarina, Altmann et al. (2008) apontam a predominância de atividades agrícolas que geram pouca renda por unidade de área; a reduzida participação dos pequenos produtores no preço final dos produtos; escassos conhecimentos gerenciais e de mercado por parte dos produtores; e reduzido grau de organização.

Santa Catarina testemunhou uma acelerada integração econômica nos últimos trinta anos, quando o processo de “modernização” da agricultura fortaleceu as bases da economia mercantil. Ploeg (1992) considera a mercantilização como um processo histórico e heterogêneo de inserção crescente aos mercados, assim, a heterogeneidade da agricultura deve ser entendida como o produto de estratégias conscientes ativamente manejadas e adaptadas pelos atores, que são construídas socialmente. O processo de mercantilização da vida social e econômica tem levado a uma crescente interação e integração das famílias aos mercados. O resultado é uma considerável redução de sua autonomia, já que passam a depender da compra de insumos e ferramentas para produzir e da venda da produção para arrecadar dinheiro que lhes permita reiniciar e reproduzir o ciclo, conformando o que Ploeg (2008) chama de reprodução dependente do mercado. Trata-se de um “estilo de agricultura” em que os agricultores se integram ao regime sociotécnico sustentado pelos mercados globais de commodities agrícolas (carnes, leite, fumo, grãos). Nesse contexto, as estratégias de reprodução social das famílias rurais tornaram-se cada vez mais subordinadas e dependentes do exterior, quer seja dos mercados de produtos ou mesmo dos valores e da cultura.

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Uma região paradigmática das transformações rurais sob a égide da globalização da agricultura e do sistema agroalimentar tem sido o Oeste catarinense. De uma agricultura considerada modelo de desenvolvimento regional ao construir em algumas décadas uma história de riqueza via integração das unidades de produção familiares aos grandes conglomerados de carnes do Sul do Brasil, passa, a partir dos anos 1990, a ser considerada uma região em crise com exclusão de milhares de agricultores da integração na produção de suínos e aves e elevados índices de êxodo rural (TESTA et al., 1996; MIOR, 2011). Para Mior (2011), a estratégia de internacionalização das empresas agroindustriais, via especialização e escala na busca de mercados globais, e uma nova inserção nos mercados através da elaboração de um mix de produtos finais, pode ser vista como um processo de desterritorialização, que culminou, em 2009, com a constituição da BR Foods, um dos maiores conglomerados alimentares mundiais. Enfim, reduz-se, significativamente, na região o número de agricultores familiares integrados ao complexo carne. Parte destes agricultores busca novas alternativas de trabalho e renda, migrando para a cultura de fumo e a expansão da bovinocultura de leite na região, que, em pouco mais de uma década, se transforma na maior bacia leiteira do Estado.

Como resultado, nos anos recentes o modelo produtivista na agricultura tem produzido efeitos econômicos, sociais e ambientais negativos fazendo-se repensar modelos tecnológicos dominantes e trazendo ao centro do debate novas formas de produção agrícola, diferentes funções para a agricultura e mudanças nas relações entre homem e natureza. Por sua vez, a diversidade das formas sociais presentes na agricultura remete a uma multiplicidade de modos de produção, de emprego de tecnologias, de organização e divisão social do trabalho, bem como de reconfigurações e revalorização de uma agricultura antes dita tradicional e agora considerada estratégica nos processos de desenvolvimento rural. Neste contexto, emergem novos atores sociais e se ampliam os espaços e as relações entre o mundo rural e urbano. Antigas certezas são postas à prova, costumes e tradições se entrelaçam com a “modernidade”, novos saberes e novas identidades profissionais se misturam ao cotidiano e práticas do mundo rural, onde família, terra e trabalho conformam um modo de produzir, de consumir e de viver.

4. A EMERGÊNCIA DAS NOVAS FORMAS DE INSERÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NOS MERCADOS

Na Europa e em várias partes do mundo, de acordo com Ploeg (2008), está havendo um processo de “recampenização” no qual os agricultores buscam autonomia e maior controle dos processos de produção e trabalho para fugir ao squeeze econômico a que estão submetidos. Similarmente, esse “estilo de agricultura” pode ser observado na agricultura catarinense, na medida em que os agricultores estão buscando geração de valor agregado e trabalho via padrões de interações mercantis mais autônomas, onde uma base de recursos autocontrolada e a coprodução6 são elementos-chave para fundar o que o autor chama de ‘condição camponesa’. Assim, os agricultores constroem novas e múltiplas formas de inserção nos circuitos de troca e a partir daí vem proliferando nos anos recentes inúmeras “iniciativas de desenvolvimento rural”, termo cunhado por PLOEG et al. (2000), como produção orgânica, pequenas agroindústrias rurais, feiras livres, casas coloniais, associações e

6 Coprodução é o incessante encontro e interação mútua entre homem e natureza viva e, de forma geral, entre o social e o material. Na coprodução e através dela, o social e o material são mutuamente transformados. Eles são moldados e remodelados de forma a tornarem-se recursos úteis, adequados e promissores, que compõem um padrão coerente: o modo de produção camponês (Ploeg, 2008).

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cooperativas de produção, comercialização e consumo, cooperativas de crédito solidário, marcas coletivas, selos de qualidade, comércio solidário e redes de certificação coletiva. Essas iniciativas representam ao mesmo tempo uma resistência dos agricultores familiares ao ambiente hostil e um conjunto de estratégias, ações e reações que se consubstanciam em diversificação dos meios de vida, levando à conformação de novos padrões de desenvolvimento rural.

Alguns estudos têm buscado compreender esta dinâmica no território catarinense. Mior (2005) estudou a dinâmica coevolutiva das redes verticais mobilizadas pelos grandes conglomerados agroindustriais (especialmente do setor de carnes) no Oeste catarinense e das emergentes redes horizontais de desenvolvimento rural (agroindústrias familiares e suas redes). A partir de iniciativas de distintos atores sociais como os ligados aos assentamentos de reforma agrária (marca Terra Viva), ao movimento dos pequenos agricultores do Oeste, liderados pela APACO (marca Sabor Colonial) e das Associações de Municípios, sobretudo da AMOSC e do Instituto Saga de Desenvolvimento Regional o autor retrata o enraizamento destas agroindústrias artesanais em redes sociais e as interfaces destas redes em construção com aquelas redes estabilizadas dos grandes conglomerados convencionais. No trabalho de Dorigon (2008) podemos verificar como os produtos coloniais no Oeste catarinense vêm construindo mercados para produtos de qualidade diferenciada via organização de agricultores, em grupo e individualmente, os quais passaram a construir suas “agroindústrias familiares rurais” para produzir e vender estes produtos no mercado formal através do estabelecimento de redes sociotécnicas em torno do colonial. Mello (2009) argumenta que a partir da crise surgem movimentos de reação, as “sementes que brotam da crise”, em que ‘novidades’ organizacionais são retratadas através de experiências de produção agroecológica em circuitos curtos de comercialização; pequenas cooperativas de comercialização de leite; e a experiência de agregação de valor em agroindústrias familiares rurais, constituídas de forma individual ou em pequenas cooperativas articuladas em rede.

Pode-se arguir que as limitações impostas pelo mercado das principais commodities nos últimos anos, seja em relação à exclusão das principais cadeias agroindustriais, seja em relação à queda na renda das atividades tradicionais dos pequenos produtores (milho, feijão), produziram mobilizações por parte dos agricultores familiares e suas organizações no sentido de desenvolver estratégias alternativas, de inserção autônoma aos mercados (Wilkinson, 1999), não apenas contra as ameaças de exclusão, mas, sobretudo, para gerar um “valor agregado” suficiente para enfrentar as novas condições de cidadania, tendo em comum os aspectos coletivos de proximidade e de território e sua orientação para uma valorização definida por qualidades advindas do consumidor. Além da expansão para novas atividades (frutas, hortaliças) e do incentivo aos circuitos locais (feiras livres, vendas diretas), consolidou-se um movimento em torno da produção orgânica/agroecológica e da formação de pequenas agroindústrias familiares rurais. Conforme acima mencionado, a constituição de redes de agroindústrias no território do Oeste estaria experimentando um processo de conformação de redes horizontais, nos termos de Murdoch (2000), num esforço para construir e consolidar mercados alternativos (em relação aos dos contratos junto a agroindústria convencional) a partir da agricultura familiar.

Por conseguinte, para além de sua participação nos mercados coordenados pelas agroindústrias e/ou pelas redes de supermercados, estão surgindo redes alternativas de comercialização a partir de valores associados à agricultura familiar: orgânicos, artesanais, tradicionais, fair trade e sustentabilidade, o que pode se tornar uma vantagem estratégica para os agricultores familiares. Assim, nota-se a persistência e mesmo expansão dos mercados de proximidade, que se firmam pela reputação, mesmo em condições de comércio informal. Isso possibilita, por sua vez, o estímulo de políticas locais como a aquisição de alimentos para a

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merenda escolar e a criação de espaços para feiras livres e outra formas de venda direta, como as “casas coloniais” e mercados públicos regionais. De acordo com Wilkinson (2008), as expectativas em torno desta visão se fundamentam na importância que já alcançaram os mercados de alimentos artesanais na Europa, sobretudo na França e na Itália, por um lado, bem como o crescimento de movimentos de fair trade e circuitos baseados em princípios diversos de sustentabilidade. Assim, às necessidades dos produtores em se legitimarem nesses circuitos agroalimentares de qualidade se juntam os interesses dos consumidores por um alimento mais saudável. A qualidade passa a ser um fator-chave no (re) estabelecimento da confiança entre consumidores e produtores de alimentos. Daí emerge uma valorização dos alimentos produzidos localmente, da produção orgânica7 e agroecológica, artesanal e das cadeias alimentares curtas, espaço de reconexão entre produtores e consumidores.

Este movimento dinâmico que vem se observando nos distintos territórios catarinenses de inserção nos mais diversos mercados se inscreve na luta dos agricultores familiares catarinenses por buscar maior autonomia e capturar valor nas distintas cadeias de alimentos. Esse processo vem acontecendo nas mais variadas formas, como a organização em associações e cooperativas singulares, específicas de algum produto agrícola, sendo o leite um caso emblemático, movimento relevante especialmente no Oeste catarinense apoiado por ONGs e organizações dos agricultores, como a Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul do Brasil). Por sua vez a produção orgânica e agroecológica representa uma tentativa de agregar valor incorporando preocupações de saúde e natureza, sendo a rede Ecovida um importante movimento que vem se expandindo em todas as regiões do Estado. Um movimento paralelo que vem despertando atenção diz respeito à formação de uma gama de pequenas agroindústrias rurais organizadas pelos próprios agricultores familiares que, ao recuperar e revalorizar processos artesanais de processamento a partir de um “saber-fazer”, resgatam um patrimônio histórico e cultural da sociedade catarinense. A seguir analisa-se com mais detalhes a magnitude destes empreendimentos.

5. OS EMPREENDIMENTOS DE AGREGAÇÃO DE VALOR NA AGRICULTURA FAMILIAR DE SANTA CATARINA

5.1 O processamento de alimentos na agricultura familiar de Santa Catarina

A transformação de produtos de forma artesanal sempre fez parte da tradição e da cultura dos colonos migrantes (de etnia alemã, italiana, polonesa, etc) que se instalaram em Santa Catarina a partir do século XIX. Seu objetivo principal era o próprio consumo pela família, compondo parte importante da dieta alimentar. Havia famílias que também vendiam estes produtos artesanais na condição de excedentes, que não comprometiam a segurança alimentar das famílias de agricultores. Os principais produtos elaborados na cozinha das próprias moradias (ou em instalações rústicas) eram queijo, manteiga, embutidos de carne suína (salames, linguiças), banha de porco, açúcar mascavo; geleias (“chimias”) de frutas, vinho, pães e bolachas caseiras. Assim, a atividade de processamento de alimentos deve ser

7 Pesquisa realizada pela Epagri em 2010 revelou que Santa Catarina tem 603 produtores (sendo que 253 tem certificação) que comercializam seus produtos como orgânicos ou agroecológicos, sendo que a maior parte das vendas se dá em feiras municipais, nas propriedades rurais e no mercado institucional (ZOLDAN; MIOR, 2012).

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vista como parte constituinte da própria lógica da agricultura familiar, a qual vem embasando a constituição da chamada agroindústria familiar rural8

no estado de Santa Catarina e Brasil. Para ilustrarmos estas afirmativas, os dados do Censo Agropecuário de 1995/96 mostram que em Santa Catarina haviam 80 mil produtores envolvidos na produção de carne verde de bovinos e 108 mil de carne suína, a maioria para próprio consumo; outros 20 mil estabelecimentos processavam embutidos; quase 60 mil produziam queijo e requeijão; 17 mil produziam fubá de milho e mais de 12 mil produtores processavam a cana-de-açúcar para a produção de açúcar mascavo e melado9. A grande maioria destes produtos se destinava ao consumo da família, no entanto, alguns apresentavam uma venda expressiva, como o queijo, manteiga, farinha de mandioca, melado, vinho e embutidos. Mais de 30 mil estabelecimentos familiares declararam que vendiam produtos processados. Portanto, uma prática recorrente da venda de excedentes produzidos para o consumo doméstico que demonstrava haver uma forte demanda dos consumidores para estes produtos. Por serem produtos elaborados na cozinha da unidade familiar, não possuem registros na vigilância sanitária e nos serviços oficiais de inspeção, portanto, seu comércio informal se constrói com base na confiança que se estabelece entre consumidor e produtor a partir de sua reputação pessoal10.

Contudo, quando chamamos novas formas de inserção no mercado estamos reconhecendo a especificidade do processo de agroindustrialização familiar. Neste sentido, a agroindústria familiar rural não se resume ao processamento de alimentos e matérias primas. Embora o processamento faça parte de toda agroindústria familiar rural, esta é mais abrangente e possui características que a distinguem. Assume-se aqui o conceito de agroindústria familiar11 a partir da abordagem de Mior (2005) que a define como uma forma de organização em que a família rural produz, processa e/ou transforma parte de sua produção agrícola e/ou pecuária, visando sobretudo a produção de valor de troca que se realiza na comercialização. Já a atividade de processamento de alimentos e matérias primas visa prioritariamente a produção de valor de uso que se realiza no autoconsumo. Enquanto o processamento e a transformação de alimentos ocorrem, geralmente, na cozinha das agricultoras, a agroindústria familiar rural se constitui num novo espaço e num novo empreendimento social e econômico12. São estas experiências de transformação de produtos, envolvendo dezenas de milhares de agricultores familiares, que se constituem na raiz das chamadas “agroindústrias rurais” do Estado, a partir dos anos 1990.

8 Os termos agroindústria familiar e/ou rural, agroindústria ou indústria artesanal e/ou colonial, agroindústria e/ou indústria rural de pequeno porte, embora possam ser alvo de diferentes interpretações, são utilizados como sinônimos no decorrer deste trabalho. 9 No Censo Agropecuário de 2006, pode-se observar uma diminuição significativa do número de estabelecimentos agropecuários que processam alimentos. Por exemplo, o número de estabelecimentos que produzem queijo e requeijão passa de quase 60 mil em 1996 para menos de seis mil em 2006. Esta diminuição abrupta pode ser resultado de um processo de transformação estrutural dos estabelecimentos agropecuários (produção de leite para venda in natura, diminuição da mão-de-obra...), maior pressão da regulação (vigilância e inspeção sanitária), mas, também, pode ser resultado de mudanças nos critérios de levantamento do Censo, o que poderia apresentar inconsistências quando se compara os Censos de 1996 e o de 2006. Contudo, acredita-se que atualmente o número de famílias envolvidas com o processamento destes produtos tenha de fato reduzido de forma substancial neste período. 10 Para uma análise da importância do mercado informal de alimentos processados para a agricultura familiar de SC ver Wilkinson & Mior (1999). 11 A controvérsia acerca do conceito de agroindústria familiar pode ser vista em Guimarães e Silveira, (2007). 12

Outros aspectos também caracterizam a agroindústria familiar rural tais como: a localização no meio rural, a utilização de máquinas e equipamentos e escalas menores, procedência própria da matéria-prima em sua maior parte, ou de vizinhos, processos artesanais próprios, assim como da mão-de-obra da família. Pode ainda vir a ser um empreendimento associativo, reunindo uma ou várias famílias, aparentadas ou não.

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Outro aspecto importante, levantado tanto por Ferrari (2011) quanto por Dorigon (2008), se refere a que praticamente todas as agroindústrias familiares rurais iniciaram suas atividades de maneira informal e que somente após ter o seu mercado já construído, com uma demanda suficiente para viabilizar o empreendimento técnica e economicamente, é que fazem os investimentos necessários para se formalizar, nesse caso, orientados pelas convenções do mundo industrial. A informalidade como prática mercantil, portanto, permanece uma importante estratégia de inserção nos mercados de proximidade. Aliás, em geral, esta é a forma inicial de inserção e construção dos mercados pelos agricultores. Assim, em muitos casos, o processamento passa da cozinha para a “fábrica”. De uma forma geral, são processos paralelos, pois muitos agricultores não detêm capital para investir em unidades de processamento dentro das normas legais, mas continuam a processar e vender seus produtos no mercado informal, que se afirma e se expande nas relações de confiança historicamente enraizadas (FERRARI, 2011).

5.2 As agroindústrias familiares rurais

A partir dos anos 1990 a aposta da agroindustrialização como estratégia de promoção da agricultura familiar e de desenvolvimento do espaço rural ganha legitimidade favorecendo assim o surgimento e difusão destas novas formas de organização da produção e inserção no mercado (MIOR, 2005; DORIGON, 2008). Apesar da importância socioeconômica e política dessas iniciativas para a agricultura familiar e para o desenvolvimento rural não ser nova, e de muitas delas terem contado com ações de apoio por parte de organizações públicas, privadas e de ONGs, não se dispunha de informações atualizadas sobre essas atividades13. Visando suprir esta lacuna, o Estado de Santa Catarina, através da Epagri, realizou o levantamento das iniciativas de agregação de valor e das redes de cooperação associadas no ano de 2010. A aplicação dos questionários ocorreu no segundo semestre de 2010 e teve como objetivo levantar três diferentes tipos de empreendimentos: a) empreendimentos que processam produtos agropecuários (agroindústrias); b) empreendimentos voltados a outras atividades de agregação de valor (turismo rural, artesanato, prestação de serviços e vestuário) e; c) redes de cooperação (cooperativas, associações e condomínios).

Embora a ideia fosse levantar informações sobre a totalidade de empreendimentos dos agricultores familiares não é possível garantir que isso tenha ocorrido e, portanto, a pesquisa não pode ser considerada um censo. Definiu-se que fossem levantadas as iniciativas que preenchessem os seguintes critérios: a) que sistematicamente destinem a sua produção ao mercado; b) que gerem (ou possam vir a gerar) renda relativamente significativa para o(s) empreendedor(es); c) que disponham de uma estrutura com espaço físico específico; d) que sejam legalizadas ou passíveis de legalização; e) que não se caracterizem apenas pela venda do excedente de consumo.

O significativo número de 1.894 agroindústrias cadastradas por meio deste levantamento é o primeiro indicativo da importância deste tipo de atividade para milhares de famílias rurais catarinenses, de maneira particular em algumas regiões do Estado (Tabela 1).

Tabela 1. Agroindústrias por tipo de produto, segundo as mesorregiões geográficas do IBGE- 2009.

Produto Mesorregião/No de Agroindústrias (1) Total(1)

13

O último levantamento mais detalhado foi realizado em finais dos anos de 1990 (OLIVEIRA et al., 1999). Foi realizado em parceria da Epagri com a Embrapa, UFSC e Cepagro, e tinha como foco levantar os empreendimentos de pequeno porte localizados no meio rural sob a denominação de Indústria Rural de Pequeno Porte. Na época foram levantadas 1.116 IRPP em todo o Estado.

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Grande Florianópolis Norte Oeste Serrana Sul

Vale do Itajaí

Frutas e derivados 30 68 173 14 56 53 394 Cana-de-açúcar e derivados 14 21 193 15 93 41 377 Massa/Panificação 15 51 134 12 60 46 318 Leite e derivados 7 24 138 15 22 52 258 Mandioca e derivados 16 30 48 2 61 31 188 Hortaliças e derivados 15 34 64 5 23 35 176 Mel e derivados 6 22 41 8 17 24 118 Suínos e derivados 2 24 58 3 16 10 113 Ovos 6 11 61 2 18 6 104 Grãos e derivados 4 4 30 1 16 4 59 Aves e derivados 3 8 26 2 3 8 50 Bovinos e derivados 1 10 17 2 3 6 39 Outros (2) 15 13 82 4 19 23 156 Total (2) 134 320 1.065 85 407 339 2.350

(1) A mesma agroindústria pode trabalhar com mais de um tipo de produto. Portanto, os números dessa tabela são superiores ao número total de agroindústrias. (2) Pescado e derivados, madeira, palmáceas, ovinos e derivados, vassoura, erva-mate, plantas medicinais, etc. Fonte: Tabulação do levantamento da Epagri (2010).

Essa expressiva quantidade é acompanhada também de importante diversidade de matérias primas processadas. Há, inclusive, famílias com alternativas complementares, já que não são poucos os casos de agroindústrias que trabalham com mais de um tipo de matéria-prima. A concentração dos empreendimentos na região Oeste com (1.065) chama a atenção já que também é esta região que concentra os grandes conglomerados agroindustriais de suínos, aves e mais recentemente, leite.

Outro ponto que merece destaque é o significativo número de pessoas envolvidas, que chega a 7.101, o que evidencia a importância socioeconômica da agroindustrialização na geração de oportunidades de ocupação da mão de obra e geração de renda no meio rural. Já, em termos econômicos, o valor bruto da produção agroindustrial nos 1894 estabelecimentos agroindustriais foi de R$ 136 milhões no ano de 2009. As cadeias do leite, frutas e derivados e suínos e derivados e massas e panificação destacam-se alcançando cerca de 50% do total do Estado.

5.3 As atividades e os empreendimentos não agrícolas

A pesquisa levantou 488 empreendimentos de atividades relacionadas ao turismo rural, artesanato, prestação de serviços e outros. Destes empreendimentos, 272 são de atividades ligadas ao turismo rural, sendo que 71,3% deles oferecem serviços de alimentação, 51,8% de pesque-pague, 43% de lazer em geral (cavalgadas, trilhas, etc.) e 29,7% de hospedagem. O artesanato é, em termos quantitativos, a segunda atividade de destaque com 178 empreendimentos no Estado. É interessante ressaltar que o artesanato mais tradicional de determinadas regiões, como o trabalhado a partir da lã de ovelha e do vime, convive com iniciativas relacionadas à costura e ao bordado, que vem se tornando atividades de crescente importância na geração de emprego e renda para as famílias rurais.

Conforme destacado por Marcondes et al. (2012), a exemplo do que ocorre com as agroindústrias, existem diferenças sensíveis na distribuição regional dos empreendimentos, sendo possível notar que as regiões de maior concentração de iniciativas ligadas ao turismo têm também maior presença de empreendimentos ligados a atividades artesanais, com

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destaque para trabalhos com vime, lã, costura e madeira. Embora não se possa afirmar que para todas as situações o turismo seja a única forma de despertar o interesse e viabilizar a comercialização do artesanato, é certo que para algumas regiões catarinenses torna-se muito importante para o comércio de produtos artesanais, como também das agroindústrias rurais.

Estes resultados vêm corroborar com outros trabalhos (MATTEI, 1999; FERRARI, 2003) que mostraram a crescente importância socioeconômica de outras rendas para as famílias do meio rural. Isto é, o rural nunca foi e não é somente agrícola. Conforme apontou Schneider (1999) a possibilidade de diversificação das fontes de renda das famílias de agricultores é dada tanto por características internas das famílias (ciclo de vida, membros do núcleo familiar, gênero, escolaridade, posição na ocupação) como por características das economias locais e sua capacidade de gerar mercados para produtos e o trabalho fornecido pelas famílias agrícolas. Assim, a diversidade de atividades se torna fundamental para a reprodução social destas famílias e também em relação aos processos de desenvolvimento rural.

5.4 As redes de cooperação: condomínios, associações e cooperativas.

No levantamento das agroindústrias observou-se que 244 são grupais envolvendo 2768 pessoas, o que denota um importante processo de cooperação no trabalho e no investimento agroindustrial. Além de parte das agroindústrias serem coletivas, parcela significativa dos empreendedores agroindustriais participa de redes de cooperação como associados, muito embora seus empreendimentos sejam individuais e/ou grupos familiares. Na tabela 2 pode-se verificar a existência de 595 agroindústrias nesta condição e que participam de cooperativas e associações, o que evidencia a importância da cooperação para o desenvolvimento da agregação de valor através da agroindustrialização de pequena escala.

Tabela 2. Forma de organização e participação das agroindústrias em cooperativa ou associação Participação em cooperativa ou associação

Individual/ familiar (no)

(%) Grupal

(no) (%)

Total (no)

(%)

Não 1.041 63,1 106 43,4 1.147 60,6 Sim 595 36,1 133 54,5 728 38,4 Sem resposta 14 0,8 5 2,0 19 1,0 Total 1.650 100 244 100 1.894 100 Fonte: Tabulação do levantamento da Epagri (2010).

Para os objetivos da pesquisa, as redes de cooperação foram definidas como organizações de agricultores ou de grupos de empreendimentos, que tem por objetivo melhorar as condições de inserção socioeconômica e a competitividade dos agricultores familiares no mercado. Portanto, organizações que facilitam a compra de insumos e matéria-prima, a transformação agroindustrial, a comercialização, o compartilhamento de estruturas, logística ou conhecimento, entre outras funções, constituídas na forma de condomínios, associações ou cooperativas por produto, descentralizadas e suas filiais e unidades de cooperativas e centrais14.

14 Associações: são organizações coletivas de agricultores familiares constituídas com o objetivo de facilitar a produção, processamento e comercialização de produtos agrícolas dos associados. Condomínio: são organizações coletivas constituídas com o objetivo de produzir e/ou processar produtos de origem agropecuária. Filial de cooperativa descentralizada: unidade de processamento constituída por um sócio ou grupo de sócios de uma cooperativa com CNPJ próprio (diferente do CNPJ da cooperativa na qual é filiada). Para fins de legalização as filiais são repassadas à cooperativa através de contrato de comodato.

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O levantamento mostra um importante processo de fortalecimento das organizações econômicas da agricultura familiar, evidenciado pela existência de 496 organizações distribuídas pelas diversas regiões do estado, com “mais” de 21 mil associados (tabela 3).

Tabela 3. Número de sócios e redes por Mesorregião Geográfica do IBGE- 2009

Mesorregião Número de redes Número de sócios* Grande Florianópolis 12 236 Norte 69 2.617 Oeste 278 11.891 Serrana 27 2.112 Sul 66 2.094 Vale do Itajaí 44 2.172

Total 496 21.122 (*) Número com repetição já que a mesma pessoa pode participar de mais de uma rede. Fonte: Tabulação do levantamento da Epagri (2010).

Como pode ser visto na tabela 4, a maior parte dessas organizações assume a forma de associação (263), seguida pelas cooperativas descentralizadas (70) e cooperativas por produto (70), com números menos expressivos de outras formas de cooperativas e de condomínios15. As associações, em sua concepção, não possuem finalidade econômica, assim normalmente estão relacionadas a atividades coletivas para compras de insumos e organização da produção agrícola. As cooperativas, por sua vez, permitem o acesso formal aos mercados e ganhos na escala comercial, além de permitir a redução de custos na prestação de serviços aos associados. Um aspecto a ressaltar é o expressivo número de organizações no Oeste catarinense que chega a 56% das redes de cooperação e 65% do total das cooperativas descentralizadas do estado.

Tabela 4. Distribuição das redes por tipo de organização econômica e por Mesorregião Geográfica do IBGE- 2009

Mesorregião Organização Grande

Florianópolis Norte Oeste Serrana Sul Vale do

Itajaí Total Associação 11 46 135 15 31 25 263 Unidade de cooperativa descentralizada 1 0 38 0 6 3 48 Condomínio 0 5 10 0 10 3 28 Cooperativa descentralizada 0 8 46 1 11 4 70 Cooperativa por produto 0 10 32 11 8 9 70 Cooperativa central 0 0 1 0 0 0 1 Filial de cooperativa 0 0 16 0 0 0 16 Total 12 69 278 27 66 44 496 Fonte: Tabulação do levantamento da Epagri (2010).

Unidade de cooperativa descentralizada: é um empreendimento formal, filiado a uma cooperativa e usando o CNPJ da mesma. Para fins de legalização as unidades agroindustriais dos agricultores são repassadas à cooperativa através de contrato de comodato. Cooperativa por produto/cadeia: é uma sociedade civil, com forma e natureza jurídica próprias, constituída com o objetivo de viabilizar a produção/processamento e/ou comercialização coletiva dos produtos. 15 O levantamento não contemplou as tradicionais cooperativas agropecuárias (geralmente de grande porte) e as de crédito, assim como as agroindústrias que não estivessem sob controle dos agricultores familiares. O universo das redes de cooperação foi limitado às organizações econômicas dos agricultores familiares e desconsiderou as organizações sociais e de representação como é o caso dos sindicatos e associações sem fins econômicos.

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Outro dado que chama a atenção é que 154 das 263 associações tinham menos de seis anos no levantamento de 2009. Isso indica o fortalecimento de “novas” formas de organização econômica controladas pelos agricultores familiares nos últimos anos. Destaca-se a forma de organização cooperativa descentralizada com 50 organizações (71%) com menos de seis anos de existência. As formas de organização em filiais e unidades de cooperativas, também recentes, se constituem em desdobramento das cooperativas descentralizadas. Este tipo de cooperativa surge no bojo de um movimento de contestação do cooperativismo tradicional baseado nas grandes cooperativas. As cooperativas descentralizadas se caracterizam por serem organizadas e geridas pelos próprios agricultores familiares com pouca infraestrutura, sem diretoria remunerada, onde, inclusive, as unidades agroindustriais estão nas propriedades dos associados e nas suas respectivas comunidades.

Esse processo de fortalecimento organizacional para melhorar os resultados econômicos das atividades de agregação de valor pode ser verificado quando se analisa os objetivos das redes. Nestes destacam-se a formação da organização para a venda de produtos processados e de produtos agrícolas, e compra de insumos. Observa-se, ainda, que uma mesma rede desempenha mais de uma função/objetivo, o que evidencia certa diversificação dos serviços prestados aos associados (Tabela 5).

Tabela 5. Objetivos das redes da agricultura familiar por mesorregião geográfica do IBGE - 2009

Mesorregião Objetivo

Grande Florianópolis Norte Oeste Serrana Sul

Vale do Itajaí Total

Venda produtos agrícolas 3 30 135 11 26 16 221 Compra de insumos 2 31 102 8 25 11 179 Venda produtos processados 4 21 73 8 21 12 139 Compra de matéria prima

16 49 10 19 8 102

Produção agrícola conjunta 4 19 42 7 19 5 96

Armazenar e processar matéria prima 1 7 28 5 12 7 60 Outro 1 33 52 7 17 3 113 Total 15 157 481 56 139 62 910

Fonte: Tabulação do levantamento da Epagri (2010).

6. A CONFORMAÇÃO DAS REDES DE COOPERAÇÃO E O ACESSO AOS MERCADOS

As informações apresentadas acima dão um indicativo da expressão social que representam as iniciativas de agregação de valor postas em prática pelos agricultores familiares catarinenses. Contudo, importa analisar e tentar compreender os condicionantes relevantes para a constituição dessas agroindústrias e das redes associadas.

O primeiro elemento a ser considerado é a estrutura de reciprocidade historicamente construída pelos atores sociais que formaram as comunidades locais, processo social esse que contribui decisivamente para a formação dessas redes sociais de produção e mercantilização. As dificuldades dos ambientes natural e social do início da colonização estimulavam as práticas de colaboração vicinal, a coesão social e o fortalecimento das relações de reciprocidade, formando o que Mendras (1978) chamou de “sociedades de interconhecimento”. Na época, a relativa autonomia da família dependia da interdependência

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em relação aos demais colonos, o que unia a sociedade local por intermédio de relações de parentesco, confiança e reciprocidade, gerando uma "sociabilidade camponesa”. Historicamente, essa sociabilidade ajudou a conformar as comunidades rurais dos primeiros colonizadores, caracterizadas por mutirões, trabalho coletivo nas lavouras, troca de dias de serviço, ajuda mútua na construção de equipamentos coletivos para a comunidade, entre outros aspectos (SILVESTRO; 1995).

De acordo com Poli (2006) os traços culturais mais marcantes destes agricultores são a forte tradição associativa e a preocupação com a reprodução social da sua condição de vida e de trabalho, sendo capazes de realizar verdadeiras odisseias16, para não abandonar sua condição social, o que não significa a existência de um desejo acentuado de acumulação ou enriquecimento. Outro elemento a ser destacado é a solidez dos grupos familiares, em virtude de sua influência no desenvolvimento de projetos de longa duração e que exigem investimentos combinados de diferentes famílias. Neste aspecto, Ferrari (2011) observou o fato de, em sua quase totalidade, os grupos de cooperação agrícola e/ou associações coletivas serem fundados por parentes próximos, com laços fortes mantendo a unidade do grupo. É importante não perder de vista que o processo de interação e debate entre esses agricultores familiares, que lhes suscitou a construção de uma identidade de interesses, foi favorecida pelas características da sua organização social. Por fim, o traço da acentuada religiosidade que caracteriza o patrimônio cultural dessa população, o qual teve importância estratégica no desenrolar das experiências político-culturais que desembocaram na organização dos empreendimentos aqui analisados. Ferrari (2011) chama atenção para a influência disso no movimento político-cultural que passou a se desenvolver, especialmente no Oeste catarinense, repercutindo de maneira singular no modo como essas famílias reagiram diante da crise da agricultura familiar e nas suas experiências de vida e de trabalho.

Esses são alguns dos elementos que ajudam a compreender a expansão dos movimentos sociais que ajudaram a conformar uma economia solidária no estado. O movimento de cooperação alternativo ganha força a partir dos anos 1980, quando surgem as primeiras iniciativas para adequar os sistemas produtivos às novas exigências técnicas e de especialização produtiva, que impunham mudanças nos sistemas de produção praticados pelos agricultores e determinaram, sobretudo, a busca de novas alternativas de organização social. De parte do serviço de extensão rural (Acaresc, hoje Epagri), as primeiras experiências associativas foram os condomínios suinícolas, os condomínios de armazenagem e os grupos de máquinas agrícolas. Em paralelo se conforma o trabalho da igreja; das ONGs (Apaco, Cepagro), organizadoras dos grupos de cooperação para produção e compra coletiva de insumos; do movimento sindical alternativo (origem da Fetraf-Sul); do MST; do movimento das mulheres camponesas, que reivindicam pela terra, por políticas agrícolas dirigidas aos pequenos agricultores, direito das mulheres e aposentadoria rural dentre outros.

Desde então observa-se a formação de associações, de condomínios, grupos de máquinas, projetos coletivos em torno de agroindústrias grupais e, finalmente, das cooperativas da agricultura familiar em todo o estado de Santa Catarina, contribuindo em inovações nas próprias políticas públicas, que passam a focar nos agricultores familiares, nas categorias sociais mais desfavorecidas e em processos e práticas que visem o desenvolvimento rural e territorial.

No caso específico das agroindústrias familiares rurais, a integração de dois projetos de diferentes instituições foi fundamental: o Pronaf Agroindústria, Projeto Piloto do Ministério da Agricultura (MAPA) de verticalização da produção, e o chamado Desenvolver, “Programa de Desenvolvimento da Agricultura Familiar Catarinense pela Verticalização da

16 Nesse sentido ver o livro “Sociodicéia às avessas” de Arlene Renk (2000).

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Produção”, elaborado para apoiar as agroindústrias através da assessoria e assistência técnica especializadas e com recursos do Cnpq/Funcitec17. A implementação destes projetos, em 1998, nas regiões Sul e Oeste de Santa Catarina, foi o ponto de partida para afirmação da organização dos agricultores interessados em ampliar escala, atender aos requisitos da legislação sanitária e fiscal, reduzir custos de marketing, selos, marcas e rótulos. Mais que recursos, o projeto oportunizou a parceria interinstitucional e a organização dos agricultores em redes, bem como, possibilitou um processo de aprendizagem coletiva que serviu de base para o fortalecimento deste movimento em Santa Catarina.

Vale destacar também o papel do governo catarinense na promoção destas iniciativas. Na Epagri, em 1997, instituiu-se o projeto de “Agregação de Valor” e uma equipe estadual para executar ações em todo o Estado. De 2002 a 2009, o projeto “Microbacias 2”, com forte atuação na organização comunitária dos agricultores, torna-se precursor de muitas inovações de ordem organizacional, inclusive com objetivos econômicos. Mais recentemente (2010) inicia o programa SC Rural, com o objetivo de melhorar a competitividade destes empreendimentos de agregação de valor e das organizações dos agricultores. Também nos anos recentes, o Governo Federal institui políticas de apoio ao desenvolvimento de mercados para a agricultura familiar, com destaque para o Programa de Aquisição de Alimentos (2003) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (2009), que deram novo impulso às agroindústrias familiares e a constituição de associações e cooperativas de produtores. Embora difícil de mensurar, muitas administrações municipais foram decisivas na viabilização de empreendimentos de agregação de valor e no apoio a novas formas de organização dos agricultores familiares de santa Catarina.

Outro condicionante da expansão dessas agroindústrias e formas de organização foram as mudanças na regulação da produção e comercialização de alimentos processados. No início dos anos 1990 ocorre a municipalização da vigilância sanitária e a criação dos serviços estaduais e municipais de inspeção sanitária de produtos de origem animal. Em Santa Catarina, em 1994 é constituído o SIE, em 1997 cria-se as Normas Sanitárias para Elaboração e Comercialização de Produtos Artesanais e em 1998 institui-se o Programa de Fomento e de Desenvolvimento da Pequena Agroindústria Familiar e Pesqueira (Propagro) e se cria o Selo de Qualidade “Sabor Colonial”, para os empreendimentos que atendam às questões legais, tributárias, ambientais e sanitárias. Estas foram mudanças importantes, pois, ao mesmo tempo em que procuravam valorizar produtos de origem artesanal e de pequena escala, exigiam fortes investimentos para atender as normas estabelecidas.

Por fim, evidencia-se que muitos dos empreendimentos de agregação de valor são iniciativas de agricultores excluídos de outras cadeias alimentares tradicionais; no Oeste catarinense, notadamente da produção de suínos e de grãos para comercialização. A busca por maior autonomia nos processos produtivos e mercantis e a retenção de parcela maior da cadeia de valor também são causas e efeitos desses empreendimentos para os agricultores familiares. Além desses empreendimentos, o acirramento da seleção de agricultores via modernização tecnológica e ampliação de escalas, o baixo retorno financeiro advindo de cultivos tradicionais como milho e feijão, propiciou um movimento em direção a alternativas de produção e renda, entre as quais, rapidamente, o fumo e o leite se tornaram atividades de destaque para milhares de famílias no estado. Novas alternativas são vislumbradas e efetivadas com a fruticultura, a horticultura, a piscicultura, o artesanato, os pesque-pague, hospedagens e prestação de serviços, ampliando-se as possibilidades do espaço rural tornar-se

17 Este programa era uma parceria do CEPAGRO, APACO, juntamente com outras ONGs do Estado, a EPAGRI e a Universidade Federal de Santa Catarina, e com duração prevista de 3 anos.

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cada vez mais heterogêneo, onde a agricultura é uma dentre outras atividades que permitem a reprodução econômica e social das famílias que ali vivem.

Em síntese, os fundamentos históricos das redes de cooperação se assentam não somente em aspectos econômicos, mas também nas dimensões sociais, políticas e do ambiente institucional, para os quais os atores sociais ocuparam papel de destaque na transformação em andamento. A sua capacidade de agência permitiu a busca de novas formas de acesso aos mercados, de novos processos produtivos e organizacionais e de influenciar na definição de institucionalidades alternativas. Como observado por Long (2001), mesmo sob as mais “extremas formas de coerção” os atores, individuais ou coletivos, têm capacidade para processar a experiência social e desenvolver meios de lidar com a vida. Portanto, a inovação deve ser vista como multidimensional, ao mesmo tempo em que comporta processos de aprendizado social, de construção em redes e expressa uma forte relação entre saber dos agricultores e a produção de novelties, no sentido proposto por Ploeg et al. (2007), no meio rural. Ou seja, um novo modo de fazer e pensar que carrega o potencial para ser superior à rotina existente. Estas redes de cooperação se tornam, portanto, emblemáticas da capacidade de inovação dos agricultores e suas organizações, diferentemente presente nas regiões de Santa Catarina.

7. CONCLUSÕES

O processo de agregação de valor através da agroindústria familiar, artesanato, turismo rural, prestação de serviços e pela constituição de redes de cooperação evidencia um novo padrão de desenvolvimento do espaço rural catarinense que está emergindo. A existência de milhares de empreendimentos de agregação de valor e a correspondente constituição de centenas de redes de cooperação mostram a capacidade de iniciativa dos agricultores familiares na geração de trabalho e renda, tendo importante repercussão na manutenção e fortalecimento do tecido social das comunidades rurais. Observa-se assim a capacidade de agência dos agricultores familiares e outros atores locais para reconfigurar, recombinar, produzir ‘novidades’, fazer conexões, buscar maior autonomia, agregar valor econômico, articular aprendizagens, construir redes, enfim, praticar ações de desenvolvimento rural.

Este processo teve sua compreensão facilitada a partir do referencial teórico da sociologia econômica, da perspectiva orientada ao ator e da construção social de mercados. Adotou-se um enfoque mais holístico do embeddedness, ou seja, mais que simplesmente usar esta noção para enfatizar o componente social da ação econômica, em estudos agroalimentares, torna-se necessário englobar também as dimensões econômicas, ambientais, culturais e políticas das redes alimentares. Por conseguinte, compreender como estas são construídas, formadas e reproduzidas ao longo do tempo e do espaço e a contribuição dessas práticas para o desenvolvimento rural, se tornou possível a partir da análise do contexto político, institucional e regulatório e também da capacidade de agência dos atores locais. Uma avaliação preliminar deste conjunto de “inovações” organizacionais por parte da agricultura familiar parece nos indicar a existência de uma dinâmica positiva sobre o ambiente institucional para a consolidação destes novos empreendimentos e redes de cooperação. Contudo, também, pode-se observar a existência de desafios para a maior sustentabilidade destes mesmos empreendimentos, como é o caso das dificuldades em atender os parâmetros regulatórios nas dimensões sanitária, fiscal e ambiental. Já com relação às cooperativas observa-se uma dificuldade adicional em relação à gestão institucional haja vista que a maior parte delas ainda encontra-se nos primeiros anos de vida. Após a análise deste processo é possível ainda identificar a necessidade de aprofundar pesquisas junto a estas organizações buscando melhor compreender sua dinâmica

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organizacional e de inserção de mercado. Destaca-se algumas das questões que poderiam ser melhor investigadas: Como é o funcionamento e a dinâmica organizacional destas redes de cooperação? Quais são as estratégias de inserção nos mercados que estão sendo mobilizadas? Como a política pública pode contribuir para a consolidação destes empreendimentos e redes de cooperação?

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