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Tomates Classificação Botânica O tomate, Lycopersicon lycopersicum, faz parte da Família das Solanaceae e da Tribo das Solaneae. O gênero Lycopersicon compreende 9 espécies conhecidas. Foto: Tomata variedade Ananas As oito outras espécies são as seguintes: 1- Lycopersicon peruvianum. É a espécie selvagem que apresenta a maior variabilidade genética. Ela resiste a diversos tipos de destruidores e é potencialmente a fonte mais rica de vitamina C. Ela também é resistente à seca. Na agricultura moderna, ela ofereceu resistência a um grande número de “doenças” (Cladosporium fulvum, Fusarium oxysporum, Meloidogyne sp., Mosaica do fumo...). 2- Lycopersicon pimpinellifolium. É uma outra espécie selvagem do Peru também chamada de “tomate-groselha”. Na agricultura moderna, ela ofereceu resistência a um grande número de “doenças” (Cladosporium fulvum, Fusarium oxysporum, Phytophthora infestans, Verticillium dahliae, Pseudomonas tomato...) e permitiu a melhora da qualidade do fruto: menor acidez, teor mais alto de vitamina e mineral. Ela é adaptada a temperaturas muito altas no que diz respeito à fecundação e ao crescimento. 3- Lycopersicon cheesmanii. É uma espécie endêmica das Ilhas Galápagos. Ela é resistente à água do mar e não tem abscisão no pedúnculo floral. 4- Lycopersicon hirsutum. É uma espécie selvagem e robusta que vive em grandes altitudes, no Equador e no Peru. Ela é resistente a numerosos insetos, ácaros, vírus... Ela é adaptada a temperaturas muito baixas no que diz respeito à germinação e à fecundação. Ela possui ainda um alto teor de beta-caroteno. 5- Lycopersicon parviflorum. É uma espécie que se encontra nos altos vales dos Andes Peruanos. Ela se caracteriza por uma cor intensa e um teor elevado de extrato seco. 6- Lycopersicon chilense. É uma espécie originária das regiões secas do norte do Chile e do sul do Peru. Ela é muito resistente à seca. 7- Lycopersicon chmielewskii. É uma espécie que se caracteriza pela sua cor intensa e pelo seu alto teor em açúcar. 8- Lycopersicon pennelii. É uma espécie selvagem originária do oeste do Peru e que resiste consideravelmente à seca. Ela se caracteriza por um alto teor de açúcar e de vitaminas A e C. 1

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Tomates

Classificação Botânica

O tomate, Lycopersicon lycopersicum, faz parte da Família das Solanaceae e da Tribo das Solaneae. O gênero Lycopersicon compreende 9 espécies conhecidas.

Foto: Tomata variedade Ananas

As oito outras espécies são as seguintes:1- Lycopersicon peruvianum. É a espécie selvagem que apresenta a maior variabilidade genética. Ela resiste a diversos tipos de destruidores e é potencialmente a fonte mais rica de vitamina C. Ela também é resistente à seca. Na agricultura moderna, ela ofereceu resistência a um grande número de “doenças” (Cladosporium fulvum, Fusarium oxysporum, Meloidogyne sp., Mosaica do fumo...).

2- Lycopersicon pimpinellifolium. É uma outra espécie selvagem do Peru também chamada de “tomate-groselha”. Na agricultura moderna, ela ofereceu resistência a um grande número de “doenças” (Cladosporium fulvum, Fusarium oxysporum, Phytophthora infestans, Verticillium dahliae, Pseudomonas tomato...) e permitiu a melhora da qualidade do fruto: menor acidez, teor mais alto de vitamina e mineral. Ela é adaptada a temperaturas muito altas no que diz respeito à fecundação e ao crescimento.

3- Lycopersicon cheesmanii. É uma espécie endêmica das Ilhas Galápagos. Ela é resistente à água do mar e não tem abscisão no pedúnculo floral.

4- Lycopersicon hirsutum. É uma espécie selvagem e robusta que vive em grandes altitudes, no Equador e no Peru. Ela é resistente a numerosos insetos, ácaros, vírus... Ela é adaptada a temperaturas muito baixas no que diz respeito à germinação e à fecundação. Ela possui ainda um alto teor de beta-caroteno.

5- Lycopersicon parviflorum. É uma espécie que se encontra nos altos vales dos Andes Peruanos. Ela se caracteriza por uma cor intensa e um teor elevado de extrato seco.

6- Lycopersicon chilense. É uma espécie originária das regiões secas do norte do Chile e do sul do Peru. Ela é muito resistente à seca.

7- Lycopersicon chmielewskii. É uma espécie que se caracteriza pela sua cor intensa e pelo seu alto teor em açúcar.

8- Lycopersicon pennelii. É uma espécie selvagem originária do oeste do Peru e que resiste consideravelmente à seca. Ela se caracteriza por um alto teor de açúcar e de vitaminas A e C.

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Determinação botânica

Aqui está uma pesquisa publicada por Seed Savers Exchange em “1989 Summer Edition” e realizada nos EUA por Mike Courtney.

“Os agricultores e colecionadores de tomates apreciam a enorme diversidade de cores que caracteriza milhares de variedades de tomates da espécie Lycopersicon lycopersicum. O que muita gente ignora, é que por trás dessa aparência de confusão de tipos de frutos, existe um sistema genético simples, cujos elementos interagem para produzir diversas cores. A interação dos pigmentos produzidos por diferentes genes de cores dos frutos é idêntica ao que uma criança realiza misturando as tintas para obter um arco-íris de cores.

Foto: Tomate variedade Green Zebra

Entretanto, o que constitui a paleta dos tomates, não são as aquarelas, mas um grupo de pigmentos conhecidos sob o nome de caroteno. Os dois carotenos mais abundantes são o licopeno, que é vermelho, e o beta-caroteno que é laranja. Encontram-se também nos tomates, pigmentos menores tais como o phytoeno e o phytoflueno, que aparecem incolores ao olho humano, assim como o delta-caroteno e o zeta-caroteno, que aparecem laranjas. Além dos carotenos, encontra-se nos frutos imaturos e nos frutos maduros de algumas variedades, a clorofila, um pigmento verde comum nas folhas e caules. Todos esses pigmentos se encontram na polpa do tomate.

A pele, ou epiderme do tomate, também pode ser pigmentada. A pele amarela é devido à presença de um pigmento amarelo não identificado, enquanto a pele incolor não tem pigmentos visíveis. A cor da pele interage com a cor da polpa e produz a “cor do fruto”.

O vermelho é a cor mais comum dos tomates. Nos tomates vermelhos, a cor da polpa é determinada por uma mistura de mais ou menos 50% de licopenos, 7% de beta-carotenos e 43% de carotenos incolores. A cor da pele é amarela e ela interage com a cor da polpa para produzir o vermelho que nos é bastante familiar. Segundo a nomenclatura genética, os genes que controlam ao mesmo tempo a polpa vermelha e a pele amarela são considerados como de “tipos selvagens” porque são os genes mais comuns que se pode encontrar na natureza. Segundo os códigos genéticos, o gene da polpa vermelha é caracterizado pelo símbolo r+ enquanto o gene da pele amarela é caracterizado pelo símbolo y+. O símbolo “+” indica sempre um tipo selvagem.

Os tomates rosas têm uma polpa vermelha de “tipo selvagem” envolvida por uma pele incolor. O gene que produz uma pele incolor é indicado por um y. Dentre as variedades de tomates rosas encontra-se Arkansas Traveler, German Pink e algumas variedades Coração de Boi.

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Os tomates púrpuros são produzidos pelo gene ogc e têm níveis ligeiramente acrescidos de licopeno e níveis ligeiramente reduzidos de carotenos laranjas. Mesmo que as variações quanto às taxas de pigmentos sejam pequenas, os efeitos sobre a cor percebida são importantes. A polpa dos tomates púrpuros é de cor vermelho-púrpura ou carmesim, assim como o nome sugere. Essa polpa é recoberta por uma pele amarela. As variedades caracterizadas pela cor púrpura são High Crimson, Crimsonvee e Vermillion.

Se você recobrir a polpa púrpura com uma pele incolor, você tem então o que chamamos comumente de tomate violeta. Os melhores exemplos são fornecidos pelas variedades Purple Calabash e Pruden’s Purple. Mesmo se algumas espécies selvagens de tomates possuem uma pigmentação violeta na pele que aparece geralmente sob a forma de riscos, pessoalmente, eu não conheço nenhuma variedade de tomate cultivado que se caracteriza por uma pele ou polpa violeta preciso.

Os tomates amarelos são produzidos pelo gene r: eles não têm licopenos e somente uma pequena quantidade de beta-carotenos. Essas pequenas quantidades podem variar de tal forma que a cor da polpa oscile entre um amarelo pálido e um amarelo escuro. A polpa é recoberta de uma pele amarela. As variedades de tomates amarelos incluem Morden Yellow, Yellow Delicious, Yellow Pear e Yellow Plum.

Um efeito comum relacionado ao gene r é a produção de frutos que são essencialmente amarelos, mas têm um feixe de vermelho ou de rosa na polpa. É provavelmente a explicação para as variedades bicolores como Georgia Streak, Ananás, Marvel Striped, mas ninguém pôde confirmar essa hipótese.

Se você recobrir a polpa amarela com uma pele incolor, você vai obter frutos de cor branca, marfim ou limão em função da intensidade da pigmentação da polpa. Tais variedades são White Beauty, Snowball, Burgess Lemon, Lemon e Imperial Colossal Yellow.

Os frutos de cor “mandarina” são produzidos pelo gene t: eles não têm licopenos, mas possuem uma grande quantidade de zeta-carotenos. A polpa é geralmente recoberta por uma pele amarela. Os frutos de cor “manderina” incluem as seguintes variedades: Golden Jubilee, Orange Early, Golden Delight e Sunray.

A polpa de cor “mandarina” pode também ser associada a uma pele incolor para produzir uma cor laranja velada. Dentre tais variedades tem-se: Glecker Gold Glow e Golden Glow.

Os frutos laranjas são produzidos por dois genes, B e Mob. Quando os dois genes estão presentes, os frutos não contêm licopenos, mas em compensação de 10 a 12 vezes mais de beta-carotenos que os frutos vermelhos. Um dos melhores exemplos é a variedade Caro Rich. Quando o gene B está presente e que o gene Mob está ausente, os frutos contêm mais ou menos um terço de licopeno e de 5 a 6 vezes mais de beta-carotenos do que os frutos comuns de cor vermelha. Eles têm então uma aparência laranja-avermelhada. A variedade Caro Red é um exemplo. Essas duas variedades Caro Rich e Caro Red possuem uma pele amarela.

Os dois tipos B e Mob poderiam ter uma pele incolor que encobriria a cor da polpa.

Existe um outro gene que produz uma polpa de cor laranja: é o gene Del. Os frutos que possuem esse gene têm muito delta-caroteno e uma pequena quantidade de licopeno.

Os frutos de cor “abricó” são produzidos pelo gene at e possuem um nível normal de beta-

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caroteno, mas um nível reduzido de licopeno. A cor da polpa é geralmente descrita como sendo amarela impregnada de rosa.

Os frutos muito pigmentados são produzidos pelo gene hp e têm ao mesmo tempo níveis acrescidos de licopeno e de carotenos laranjas. Os frutos imaturos têm também um nível aumentado de clorofila. A influência geral desse gene na polpa é que ele intensifica a cor. A única variedade que eu conheço é Red Bush.

Um gene muito próximo é o gene dg ou verde escuro. Os frutos imaturos têm também um nível acrescido de clorofila e a polpa tem duas vezes mais de licopeno e quase três vezes mais de carotenos do que os tomates vermelhos comuns. Uma forma Dg conhecida é a variedade Manapal.

O último gene que influi sobre a cor da polpa é gf para a polpa verde. Os frutos à polpa verde não perdem toda a sua clorofila quando amadurecem. Quando isso se associa a um desenvolvimento normal do pigmento, a cor da polpa é então de um vermelho castanho sujo. Se o gene gf se associa ao gene r para inibir o desenvolvimento do licopeno, a polpa madura é de cor verde. A variedade Evergreen é um exemplo.

Um outro gene que influi sobre a cor da pele é o gene para risco verde ou gs. Os frutos imaturos têm então listras verticais irregulares de cor verde escuro que se tornam cor “ouro” na maturidade. Quando isso se associa com um desenvolvimento normal do licopeno, temos então um fruto listrado de cor vermelho e ouro, como a variedade Tigerella. Quando isso se associa com os genes gf e r, obtém-se um fruto listrado de cor verde e ouro, como a variedade Green Zebra.

Existem dois genes que influenciam sobre a cor do fruto imaturo, mas só têm um efeito secundário sobre a cor do fruto maduro. O gene u não tem a gola verde escura que se vê num certo número de antigos cultivos e o gene ug tem uma gola verde escura, mas ela é muito dissimulada. As variedades caracterizadas por essa gola verde têm sempre uma zona perto do pedúnculo que amadurece lentamente ou que não amadurece, o que deixa no fruto uma zona verde ou amarela. Esse fenômeno fica pior em caso de temperaturas altas ou quando os frutos são expostos ao sol. As variedades que possuem o gene u ou o gene ug amadurecem de forma mais uniforme.

Foto: Tomate variedade Orange Queen

Existe também uma classe de genes que inibem um ou outro aspecto do processo de amadurecimento e por aí influenciam no desenvolvimento da cor. Esses genes são rin para o inibidor do amadurecimento, Gr para a maturidade verde, Nr para jamais maduro, nora para não maturidade (por exemplo, para a variedade Longkeeper) e alc para alcobaca. Suas influências no processo de amadurecimento são complexas e só podem fazer parte de um outro artigo.

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Nós só evocamos os genes que controlam a cor dos frutos de tomate. Como se pode ver, as interações entre os genes têm um importante papel na cor que é percebida. Há ainda muitos estudos a serem realizados sobre as interações entre esses genes. Pode ser que novas associações possam resultar em variedades a cores não conhecidas até agora. É um domínio de pesquisa ao qual os colecionadores amadores podem contribuir”.

História

Os povos Incas cultivavam o tomate, cujas formas selvagens são originárias dos vales montanhosos dos Andes, bem antes que os conquistadores acabassem totalmente com sua civilização e o sistema agrícola que ela tinha desenvolvido.

A agricultura do império Inca foi, segundo certos pesquisadores, uma das agriculturas mais prodigiosas do mundo: ela produzia mais de 70 espécies alimentícias importantes, numa extensão de 4000 km e nos vales cuja altitude variava do nível do mar a 4000 metros de altura. Os celeiros do estado abundavam de alimentos e constituíam, em média, reservas para sete anos. A agricultura Inca nos deixou preciosas dádivas.

O tomate, a batata, as pimentas, os feijões e as abóboras já adquiriram suas cartas de nobreza nutricional, mas faltam numerosos tesouros a serem descobertos: os amarantos a grãos, a quinoa, o físalis, a pêra melão e os maracujás são só alguns.

O tomate depois de longos périplos semeados de estratagemas lingüísticos e preconceitos (seu nome latim Lycopersicon significa a pesca do lobo) se tornou um dos símbolos mais ilustre das hortas familiares cultivados com amor e paixão. Os primeiros tomates do verão, transbordando de cores, de sabor e de calor são atendidos com impaciência por todos os agricultores, grandes e pequenos.

Na origem, foram, sobretudo os povos de Meso-América que trabalharam para a melhora desse fruto e seu nome atual é testemunho: ele é derivado de “Tomatl”, termo da linguagem Nahuatl do povo Asteca. Hoje em dia, a diversidade das variedades de tomates é simplesmente extraordinária!

Os tomates adaptaram todas as cores do arco-íris: eles podem ser, na maturidade, brancos, amarelos, laranjas, rosas, vermelhos, violetas, estriados e mesmo verdes. A abundância de suas formas é também muito generosa: em forma de cereja, em forma de pêra, ovais, alongados como pimentas, lobados, bem redondos, achatados, em forma de coração de boi, em forma de pimentão, etc...

Seu peso pode também variar consideravelmente: de 10 gramas até quase dois quilos. Os nomes das variedades são muito evocativos de sabor, de estética, de história, de geografia: Douce de Picardie (Doce da Picardia), Dix doigts de Naples (Dez dedos de Nápoles), Cartoloccio, Coeur de boeuf (Coração de boi), Rose de Berne (Rosa de Berna), Golden Delight (Delícia Dourada).

Terre de Semences e em seguida a Association Kokopelli trabalham, há mais de 10 anos, para a valorização da biodiversidade alimentícia e os tomates constituem um de nossos domínios de pesquisa favoritos.

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Nós só trabalhamos com variedades tradicionais, ou às vezes modernas, que se reproduzem conforme o tipo: o agricultor pode assim perpetuá-los ao fio dos anos se ele o deseja. Nós só podemos desejar que a agro-indústria nos poupe para sempre do pesadelo dos tomates quadrados, dos tomates transgênicos ao techtron-40, dos tomates que podemos jogar do décimo andar sem danos e que vão até quicar!

Foto: Diversidade de Tomates.

Nutrição

Entretanto é o aspecto nutricional que nos apaixona mais, quanto às potencialidades a desenvolver, e nós procuramos aplicar o preceito de Hipócrates, precursor da medicina moderna, segundo o qual o alimento é o primeiro remédio. Durante nossas viagens, nossas leituras, nossas compilações frenéticas de catálogos, de index seminum e de repertórios, nós descobrimos variedades de tomates cujos nomes nos evocam maravilhosamente os tesouros de boa saúde que eles podem encobrir.

O tomate “Double Rich” contém duas vezes mais vitamina C do que a maior parte dos outros tomates; ele contém, de fato, tanto quanto uma laranja. Os tomates “Caro” e “Caro Rich”, de cor laranja, têm um alto teor de vitamina A.

Enquanto os tomates em geral não são muito abundantes em beta-carotenos, a variedade “Caro-Rich” contém 10 ou 12 vezes mais. Os beta-carotenos são importantes no plano nutricional porque o corpo pode transformá-los em vitamina A.

Deve-se notar que testes realizados nos EUA em tomates de cores diferentes, põem em evidência o seguinte fato: quando as pessoas testadas não têm os olhos vendados, são os tomates vermelhos que lhes parecem mais saborosos, mas quando elas têm os olhos vendados, são os tomates laranjas que elas privilegiam.

Diferentes pesquisas européias e americanas salientaram que a ingestão regular de tomates oferecia um terreno muito mais favorável ao desenvolvimento de câncer dos pulmões, da próstata e do estômago.

Esses estudos devem ser validados e reproduzidos. Os tomates vermelhos têm um forte teor de licopeno, que é um outro carotenóide.

De um outro ponto de vista nutricional, os tomates se revelam um alimento importante na medida em que contêm, em função das variedades, de 15 a 17 dos 20 aminoácidos essenciais à elaboração das proteínas.

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Pesquisadores americanos trabalham a uma quinzena de anos sobre o teor de aminoácidos livres dos tomates. A variedade de tomate “Burbank” é assim chamada em homenagem ao seu obtentor Luther Burbank, um dos maiores gênios de melhora de plantas, que vivia na Califórnia no início do século e que criou centenas de variedades, dentre elas a nectarina.

Testes cromatográficos de laboratórios, feitos em 55 variedades de tomates, permitiram descobrir que esse tomate “Burbank” contém um dos mais altos teores de aminoácidos livres. O “Burbank” contém ainda, muita lisina e treonina, dois aminoácidos essenciais que não podem ser elaborados pelo organismo. A lisina, pouco presente nos cereais clássicos, favorece a formação de anticorpos.

O tomate cereja “Peacevine”, além de possuir um alto teor de vitamina C, contém muito desse aminoácido chamado GABA, o ácido gama-aminobutírico. Esse aminoácido possui qualidades sedativas.

Outras variedades de tomates têm um alto teor em arginina, outro aminoácido que favorece a imunidade, a fertilidade, a cicatrização e a secreção de hormônios de crescimento. Em compensação esse aminoácido é desaconselhável em caso de herpes.

Todos esses conceitos podem parecer um pouco complexos, mas eles podem nos ajudar a tomar consciência que a saúde e a nutrição estão intimamente ligadas.

Uma pequena história, os descendentes Incas utilizam ainda o tomate por suas virtudes medicinais: a polpa amassada com manteiga se usa contra as hemorróidas; fatias finas se aplicam sobre os olhos em caso de inflamação; o suco se utiliza como desinfetante em compressas em casos de picadas de insetos venenosos, marimbondos, vespas, aranhas.

Foto: Tomate variedade Coração de boi Yasha

Os mesmos testes que nós evocamos antes puseram em evidência que a taxa de aminoácidos varia totalmente em função das variedades. O tomate que chamamos “Groselha”, de fato uma espécie diferente, Lycopersicon pimpinellifolium, contém de 5 a 10 vezes mais metionina, um aminoácido essencial por sua função antioxidante e que é presente também nos cereais clássicos (Entretanto ele é muito abundante, assim como a lisina, nos feijões, na quinoa e nos amarantos a grãos).

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Conselhos de Manejo

Seleção de variedades para a horta À medida de nossos encontros, em numerosas exposições de plantas, alguns agricultores

iniciantes se arriscaram a nos pedir conselho sobre “a” variedade ideal para suas hortas! Entretanto é muito mais fácil aconselhar sobre uma variedade de alho-poró do que sobre uma variedade de tomate. A verdade é que só são encontradas algumas variedades de alho-poró enquanto existe um número considerável de variedades de tomates. Eis aqui alguns critérios que permitem decifrar um pouco o terreno.

• Primeiro é importante determinar a utilização da colheita: para saladas; para conservas; para molhos; para conservação invernal; para o prazer que as crianças têm de comer na horta.• O segundo ponto é determinar a duração da estação de crescimento, sabendo-se, é claro, que as condições de cultivo variam em função dos anos. Um agricultor que vive numa região nórdica ou montanhosa deverá sem dúvida selecionar, em prioridade, as variedades precoces, ou seja, as que o crescimento se situa entre 55 e 70 dias. O crescimento das variedades de meia estação se situa geralmente entre 70 de 85 dias e a estação de crescimento das variedades tardias é além de 85 dias. Nós mencionamos uma duração de crescimento, quando a conhecemos, para cada variedade de tomate. Essas estimações se estendem a partir do dia de transplantação e não do ponto de semeadura. • O terceiro ponto essencial trata do que alguns qualificam de “domínio da subjetividade”: ou seja, as formas, as cores, os sabores. Os tomates se ornam de quase todas as cores do arco-íris, com a exceção, sem dúvida, do azul claro. Existem também de todas as formas, com exceção da forma quadrada, que os biotecnologistas, a saldo da petroquímica, não conseguiram ainda criar, mas que, entretanto, freqüentam as consciências “fan-tomáticas” da agroindústria. A paleta de perfumes e de sabores apresenta também numerosas surpresas. • O quarto ponto trata desse mundo misterioso da doença ao qual o tomate, em algumas hortas, parece mais suscetível. Nós mencionamos às vezes, para as variedades modernas (entretanto reprodutíveis conforme o tipo) que nós apresentamos, as resistências ao Verticillium, ao fusário, etc. Nós estamos intimamente persuadidos que a saúde do solo é o elemento primordial. Um solo saudável e equilibrado favorecerá um crescimento harmonioso.

Nós vamos evocar o problema que parece mais comumente ressaltado pelos agricultores, ou seja, a aparição de manchas pretas nos primeiros frutos, que chamamos de “necrose apical”. Essas manchas aparecem na extremidade do fruto oposta ao pedúnculo e elas se recobrem rapidamente de mofo (Cladosporium, Alternaria...) que não se deve tomar por causa do desequilíbrio. A necrose apical se manifesta porque o cálcio não está em quantidade suficiente no fruto. Segundo Charles-Marie Messiaen, em sua obra muito detalhada “Le Potager Tropical”, essa falta de cálcio é devido a quatro fatores:

− A alimentação mineral das plantas: solos pobres em cálcio ou o bloqueio de sua absorção pelo azote amoniacal. A carência em boro também perturba o metabolismo cálcico.

− O estresse hídrico que age ao mesmo tempo freando a migração do cálcio mais do que a de outros elementos e sub alimentando os frutos com água.

− A profundidade da raiz: as plantas crescendo sobre um solo mal drenado, e cujas raízes param a 20 cm da superfície durante um período úmido, são muito sensíveis à doença se o plano de água abaixa.

− Um fator de variedades: pode-se assinalar a particular sensibilidade dos tomates a frutos alongados (ex:Roma) e seus híbridos com outras variedades”.

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É verdade que a necrose apical se manifesta muito mais facilmente em frutos de variedades tais como “Roma”, “Des Andes”, em tomates a rechear “Liberty Bell”, “Green Pepper”, “Striped Cavern” e mesmo em variedades de tipo “coração de boi” tais como “Sweet Heart”, “Coeur de Boeuf Orange”, etc. De forma geral, as variedades à frutos sumarentos são consideravelmente menos sensíveis à esse problema do que as variedades à polpa mais seca.

Carolyn Male, titular de um doutorado em biologia e expert em antigas variedades de tomates experimentou em sua horta do Estado de Nova York mais de 1000 variedades diferentes de tomates. Ela destaca que existem variedades à polpa seca que são muito pouco sensíveis à necrose apical: Martino’s Roma, Heidi, Wuhib, Tadesse... Segundo ela, os estresses do início da estação que provocam o desenvolvimento da necrose apical são os seguintes: excesso de fertilização (que induz a um crescimento muito rápido), fornecimento de água desequilibrado e grandes ventos (que induzem a um ressecamento). Carolyn Male não acha que seja judicioso paliar esse problema com um fornecimento de cálcio, a menos de uma grande deficiência no solo. Ela aconselha antes de tudo, evitar o excesso de fertilização, seja ela orgânica, e evitar o estresse hídrico (graças a uma cobertura vegetal, uma rega bem ritmada...)

É raro que a necrose apical se manifeste além dos dois primeiros buquês de frutos, talvez porque a planta se fortifique crescendo e possa gerir o estresse sozinha.

A diversidade na horta também constitui, de qualquer maneira, um elemento muito importante. É preferível plantar muitas variedades de tomates do que uma só, a fim de minimizar os riscos de fragilidade induzidos por uma ou outra condição climática do ano.

Nosso primeiro conselho é de multiplicar as experiências e de comparar, entre amigos, os resultados obtidos com essa ou aquela variedade. Há alguns anos nós pudemos testar no Vercors norte, a 1000 metros de altitude, variedades modernas do tipo “Sub-Artic”. Essas variedades apresentam a vantagem de produzir frutos em condições marginais de cultivo. Existem até variedades, tais como Santiam e Oregon Spring que vão produzir frutos, no início da estação, desprovidos de sementes. Entretanto, a saúde do tomateiro dessas variedades modernas deixa muito a desejar.

Nos parece interessante, em algumas regiões de clima relativamente fresco, experimentar com as variedades chamadas Russie ou de Sibérie, que para alguns foram melhoradas para frutificar à baixa temperatura e crescer em condições de estação curta.

Assim, numerosos agricultores experimentaram variedades tais como Sasha Altai, Gregori Altai...

Foto. Cultura de tomates: fio de ferro reforçado e com uma malha de 15 cm no mínimo para que a mão possa entrar para colher os frutos.

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É essencial tomar consciência que o tamanho do fruto não está ligado ao seu grau de precocidade. Uma pimenta Hongrois, de 25 cm de comprimento, pode ser dois meses mais precoce, do que uma pimenta-pássaro vinda de Madagascar, assim como a Noire de Crimée (que produz frutos de 250 à 500 gramas) é uma variedade de meia estação enquanto a Pomme d’Amour das Ilhas Canárias produz pequeninos frutos no final da estação.

Pode-se também acrescentar aos agricultores muito iniciantes que as variedades a pequenos frutos e as variedades a folhas de batata são muito mais adaptáveis e vigorosas do que as outras variedades de tomates, em particular nos ambientes perturbados por influências climatológicas pouco favoráveis ou por solos completamente desequilibrados ou doentes (particularmente os que foram destruídos por dezena de anos de química intempestiva).

Processo de germinação Na maioria das regiões é necessário semear as sementes de tomates no interior ou em

viveiro. É aconselhável não semear mais de 4 ou 5 semanas antes do período, pois o tomate se caracteriza por um crescimento muito rápido.

A germinação das sementes de tomates requer dias quentes (entre 21°C e 24°C), mas com noites mais frescas (entre 15°C e 18°C). As sementes devem ser recobertas com 5 - 7 mm de terra vegetal, pois a germinação se efetua melhor na obscuridade.

Aqui, ainda, alguns pontos que desejamos ressaltar quanto ao processo de germinação. − Nossas sementes são estritamente cultivadas segundo métodos que respeitam o meio

ambiente e elas não são de forma nenhuma recobertas de fungicidas. Elas são então mais frágeis do que as sementes da agricultura química quando não são semeadas numa época favorável.

− Nós experimentamos pessoalmente mais de 500 variedades de tomates e podemos afirmar que em função das variedades, o processo de germinação é mais ou menos longo. Em condições normais, ele leva de 3 a 7 dias. Entretanto algumas variedades podem levar 2 ou 3 semanas . Assim a variedade "Mirabella" pode levar duas semanas para germinar. Também, como pudemos verificar, há alguns anos no Jardim Botânico de la Mhotte, numa estufa de 40 metros e durante uma primavera muito quente, uma grande parte das 300 variedades de tomates germinavam em três dias. Contudo, foi preciso esperar 3 semanas para que os brotos da variedade "Noire de Crimée" consentissem em emergir. Nós estimulamos então os agricultores a não jogar seus copos de semeaduras no adubo quando uma variedade não germinou ao final de 15 dias!

− Na época em que escrevemos essas linhas, isto é, agosto de 2000, nós procedemos a testes de germinações em sementes qualificadas como velhas e que não ousávamos mais colocá-las em circulação. Nossa surpresa foi grande ao constatar que as variedades produzidas em 1994 e 1995 germinavam a quase 100%. Certos agricultores já tinham nos avisado que nossas sementes de tomates de 1995 germinavam bem mais facilmente do que as sementes de tomates produzidas nos anos seguintes. Existem grandes anos para as safras de vinhos. Existem também para as sementes? As influências cósmicas são determinantes tanto sobre as sementes como sobre as qualidades de trabalho humano?

Jean Achard, grande colecionador de tomates e de pimentas, face ao Eterno, sempre nos repetiu que as sementes bem feitas de tomates se conservam durante 10 anos, sem nenhum problema.

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Crescimento das mudas As mudas jovens podem ser transplantados na horta quando os riscos de geada passaram, o

que significa em numerosas regiões francesas, no momento do período que chamamos "Santos de Gelo", por volta de meados de maio. É aconselhável prover o pé de tomate de um adubo bem maduro.

Um tomate que "toma o caule" no interior não beneficia de um crescimento muito harmonioso quando ele é transplantado. É imperativo, nesse caso, deitar o tronco na terra na transplantação. Essa prática pode até ser generalizada: os caules são enterrados até as primeiras verdadeiras folhas. Novas raízes saem de toda parte do tronco enterrado por causa da presença de um hormônio, a auxina, que é inibida pela luz, mas que na obscuridade da terra, pode estimular o crescimento das raízes. Essa prática favorece consideravelmente o crescimento geral da planta.

O espaço entre as plantas varia em função do tipo de tomates. Um metro pode ser suficiente entre duas plantas de tipo compacto determinado, mas às vezes é necessário deixar 1,50 m entre duas plantas de uma variedade a crescimento indeterminado e muito vigoroso.

Quando o espaço na horta permite, é muito aconselhável plantar, entre os tomates, plantas companheiras como cravos gigantes nematicidas, Tagetes minuta (Cravinhos-de-defunto) ou manjericão.

Os tomateiros de tomates não têm necessidade, na estação normal, de muita água. A maior parte do sistema das raízes se situa a uma profundidade de 30-45 cm. Entretanto certas raízes podem tirar água, se necessário, até a 4 metros de profundidade. Os mestres agricultores, amantes do tomate, consideram que os dois maiores inimigos do tomate são o excesso de água e o excesso de substâncias azotadas.

Uma rega aérea freqüente é desaconselhável, pois fragiliza as plantas, em particular na fase de florescência e frutificação.

Tipo de crescimento de tomateirosNós desejamos agora apresentar algumas noções relativas ao tipo de crescimento de

tomates: crescimento determinado, semi-determinado ou indeterminado. O tomate, num ambiente muito acolhedor, pode ser uma planta vivaz. Assim, pode-se guardar plantas durante anos: eles vão crescer até 5 ou 7 metros.

Eles são característicos do tipo de crescimento original do tomate, ou seja, o crescimento indeterminado: a extremidade de cada ramo produz uma série de três folhas seguida de um buquê de flores que é ele mesmo seguido de uma outra série de três folhas e assim por diante. Nesse tipo de crescimento, não é um buquê de flores que "termina" o ramo. Esses tomates também são chamados de "em haste".

Em 1914, apareceu espontaneamente um novo tipo de tomate com um processo de crescimento diferente dos tomates indeterminados: a extremidade do ramo produzindo gradativamente cada vez mais flores e menos folhas.

Essa característica foi utilizada há muito tempo na criação de variedades e esse novo tipo de crescimento é chamado determinado. Esses tomates são também chamados “em moita”. Essas variedades são providas do gene recessivo sp. Nesse tipo de crescimento, todas as flores se abrem

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num lapso de tempo determinado e os frutos amadurecem todos ao mesmo tempo, às vezes num espaço de dez dias. Os s não têm muito mais amplitude, pois seu crescimento é determinado.

Os tomates à “crescimento determinado compacto” não devem ser podados. Eles precisam de todas as suas folhas. Os tomates a “crescimento determinado vigoroso”, cuja frutificação é um pouco mais escalonada, podem ser ligeiramente podados, mas isso não é indispensável.

Não é essencial tutorar as variedades a crescimento determinado. Uma tutoragem curta ou uma cobertura bem espessa pode se mostrar necessária a fim de evitar que os frutos na base se destruam quando as condições climáticas são um pouco úmidas.

Os tomates a “crescimento indeterminado” são podados pelos agricultores de formas muito diversas: a uma haste, a duas hastes ou mais, em função dos agricultores. Em função do tipo de corte adotado, todos os ramos em excesso que crescem na axila das folhas (que chamamos de gulosos) são sistematicamente retirados. Os tutores devem ser adaptados ao tipo de corte ou/e ao vigor de crescimento da variedade.

Alguns agricultores preferem a utilização de tipos de gaiolas que permitam só praticar um corte leve ou nenhum corte.

Outros, dos quais fazemos parte, são completamente alérgicos a qualquer tipo de poda.

O tamanho dos tomates: uma mitologia que tem a pele dura! Os conceitos de tamanho que nós acabamos de evocar são saídos de uma certa ortodoxia

retomada infinitamente nas obras sobre hortas, manuais técnicos e catálogos de sementes. Todos esses textos são magnificamente redigidos por pessoas que talvez nunca tiveram o prazer de cultivar o tomate numa outra realidade que virtual. Nós temos sempre no espírito a imagem desse agricultor idoso e que tinha acabado de terminar um ano de CES num arboreto do departamento antes de tomar o serviço no Jardim Botânico da Mhotte. Nós lhe confiamos um dia, uma horta de tomates e quando voltamos, tudo estava limpo: ele tinha retirado todas as folhas dos tomateiros e só restavam os frutos, para que eles ficassem maduros mais rapidamente, é claro!

Nós tínhamos muitos tomates nas nossas hortas, até 15 000 plantas durante nosso primeiro ano de atividades. Nós devíamos consagrar muito tempo à re-inserção social e nós só tínhamos tempo para a desinserção foliar dos tomateiros! Isso nos permitiu constatar que o tamanho dos tomates era uma mitologia cuja pele era tão dura quanto à dos tomates modernos híbridos F1 ou transgênicos a genes de porco.

O tamanho dos tomates nos deixa tristes, muito tristes. Temos algum exemplo de uma outra planta hortense que é massacrada com tanta vontade nas nossas hortas? E ainda, se cuidássemos da planta com leite de argila. Mas não, o agricultor fica lá, estupefato de admiração, diante da eficácia de sua tesoura ao assalto dos “gulosos”.

Já nos aconteceu de evocar o “não-tamanho”, durante a exposição de plantas ou salões orgânicos, quando nos faziam a eterna questão relativa à luta contra míldio. Nós vimos agricultores ficarem loucos de raiva quando sugeríamos que o tamanho do tomate não era verdadeiramente a melhor forma de prevenção contra o míldio. Alguns nos teriam tratado até de intelectuais!

E, entretanto, foi constatado nas regiões ao norte do Loire, que as plantas não podadas resistiam a uma onda de míldio (graças a uma tratamento apropriado) enquanto que as plantas

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cortadas das mesmas variedades, e na mesma horta, não resistiam nada (apesar do mesmo tratamento apropriado).

Nós vimos tomateiros no sul da França, nos quais a retirada clássica e sistemática dos brotos e outras loucuras foliares tinha sido realizada e cujos frutos eram completamente queimados pelo sol.

Nosso maior fruto foi obtido numa planta não cortada e não tutorada: era um “coração de boi japonês” de 1,400 kg.

Um de nossos produtores de sementes obteve no sudoeste da França, a 500 metros de altitude, 15 kg de frutos por planta, com a variedade Burbank, que vagabundeava, não podada e não tutorada, sobre pedrinhas de seu campo. Quem afirma que os híbridos F1 sejam mais produtivos? É verdade que as pedrinhas eram orgânicas.

Nós já evocamos a grande experiência de Carolyn Male, que é expert em variedades antigas nos EUA e autora da obra “100 Heirloom Tomatoes for the American Garden”, com mais de 1300 variedades de tomates. Ela se opõe duramente a qualquer processo de poda. Para ela, quanto mais a folhagem é abundante, mais a planta de tomate é capaz de fotosintetizar e mais ela cresce em harmonia. Tanto que quando se é ligado à obtenção de grandes frutos, afirma ela, a melhor forma de obtê-los é só deixar dois frutos por haste, sem tocar na folhagem.

Evidentemente uma tal gestão do tomate requer que se deixe espaço para ele. Em função das variedades pode-se aconselhar de 1 a 1,5 metro entre cada planta. A saúde dos tomateiros só se porta melhor, pois o espaço é marcado de respiração.

Muitas vezes nos é dado o pretexto de que uma gestão muito espaçosa e não podada da planta do tomate pode requerer muito mais energia do solo a fim de que todos os frutos possam se desenvolver na maturidade. Uma planta de tomate que se dispõe sobre 1,50 m vai requerer mais energia do que três plantas de tomates que se poda e às quais só se concede 50 cm? Em aritmética racionalista, nós diríamos que isso deve valer. Em aritmética cósmica, nós ousamos pensar que a planta espalhadas sobre 1,50 m requer muito menos energia do ambiente do que as três plantas apertadas no mesmo espaço. De fato, essa planta não é estressada e se desenvolve ao seu ritmo.

Nós fomos “surfar” no site Web da Universidade de Davis na Califórnia, a mais prestigiosa universidade dos EUA quanto às pesquisas efetuadas há dezenas de anos sobre os tomates. Nós consultamos a rubrica “horta familiar”. Surpresa das surpresas: a ciência oficial muda (parcialmente) de credo. Eis o que vai assegurar nossos amigos agricultores à escuta de conselhos esclarecidos de agronomia ortodoxa, admitindo que ela existisse ainda depois de alguns dissabores recentes da agricultura moderna.

Eis os conselhos que nós pudemos recolher (deve-se dizer que após conselhos “clássicos” de tamanho impetuoso e semanal de “gulosos”). As partes em negrito são da nossa parte.

“A cultura de tomates em gaiolas é um método cada vez mais popular entre os agricultores, por causa de sua simplicidade. Pouco tempo depois que as plantas sejam estabelecidas, coloque-as em gaiolas cilíndricas de 45 cm a 75 cm de diâmetro e de 90 cm a 1,50 m de altura. Esse método de cultura é particularmente adaptado às variedades de crescimento indeterminado. A cultura em gaiola permite ao tomate de crescer segundo sua maneira natural conservando as folhas e os frutos acima do solo. Essa técnica oferece então, sob esse aspecto, as mesmas vantagens que a tutoragem. A

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utilização de gaiolas requer um certo investimento financeiro inicial e uma certa área de estocagem, mas numerosos agricultores estimam que isso vale a pena a fim de se liberar do tamanho e da tutoragem. As gaiolas, quando elas são de boa qualidade, vão durar muitos anos. Tome cuidado de só escolher gaiolas em fio de ferro reforçado e com uma malha de 15 cm no mínimo para que a mão possa entrar para colher os frutos. Admitindo-se que apesar de tudo se queira cortar a planta, um só corte será necessário a três ou quatro hastes.

Os tomates cultivados em gaiolas desenvolvem uma cobertura foliar abundante reduzindo assim a insolação sobre os frutos. Os tomates em gaiolas são menos suscetíveis ao desenvolvimento de doenças, que se manifestam normalmente por causa de manipulações, pois eles não têm feridas abertas e devem ser manipulados menos freqüentemente do que os tomates tutorados e podados. Entretanto é aconselhável lhes dar mais espaço (pelo menos um metro) a fim de permitir uma boa circulação entre as plantas. De fato, a folhagem abundante conserva a umidade e as phytophtoras de final de estação têm tendência a se desenvolverem mais rapidamente em situações úmidas. Quando eles são bem alimentados e cuidados, os tomateiros em gaiolas produzem colheitas excepcionais, em troca do espaço suplementar que lhes atribuímos.

Essa questão do tamanho dos tomates por “doutores es tomates” não precisa de comentários.

A gaiola pode ser substituída por uma estrutura em madeira que pode ser em escada, em pirâmide ou em leque.

Que todos os São Tomás do tomate ousem se criar uma outra realidade, uma realidade de confiança e de fé na capacidade da planta de tomate co-evoluir harmoniosamente com seu agricultor! E se pedíssemos simplesmente ao nosso tomateiro para se desenvolver sadiamente, harmoniosamente e de fazer o melhor...

Processos de floração e de frutificaçãoO processo de maturação dos frutos é um processo trabalhoso e uma aula de paciência para

o agricultor. A partir da abertura da flor, deve-se esperar um mínimo de 40 dias (e para algumas variedades 60 dias ou até 80 dias!) para poder degustar um fruto bem maduro. Por volta da metade desse lapso de tempo é consagrada ao crescimento do fruto: cada célula cresce progressivamente e o resultado dessa expansão celular é o fruto bem formado, mas totalmente verde, duro, não comestível e cujas sementes são imaturas. Os processos são tão lentos e complexos que permitem de transformar esse fruto verde em um fruto maduro e sumarento. O primeiro sinal de amadurecimento é uma espécie de embranquecimento do fruto: a clorofila verde começa a se decompor. O gás etileno é uma dos fatores responsáveis desse processo de “desconstrução” da clorofila. É por isso que na agroquímica, às vezes se faz uso desse gás a fim de acelerar o processo de maturação.

As diferentes cores pelas quais passa o tomate durante seu processo de maturação são devidas à presença de carotenóides. É durante essa fase que os frutos começam a amolecer. De fato, um tomate verde duro contém uma grande quantidade de pectinas nas suas paredes celulares. Essas pectinas são comparáveis às que se encontram nas maçãs e que permitem de solidificar as geléias ou doces.

Quando o tomate começa a amadurecer, algumas enzimas destroem essas pectinas: as paredes celulares se tornam muito mais flexíveis. É também durante essa fase que as sementes continuam a se desenvolver. A última fase é uma das mais importantes, pois os açúcares e a vitamina C, que conferem ao tomate esse perfume e esse sabor específicos, começam a se desenvolver.

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Esse processo dura enquanto o fruto permanece na planta. Quando os frutos são colhidos verdes e amadurecem artificialmente, eles são desprovidos de uma grande parte desse perfume e desse sabor, pois os açúcares e a vitamina C não podem se elaborar da mesma forma. É por isso que os tomates colhidos recentemente da horta são de longe superiores, no plano da nutrição e do sabor, aos tomates distribuídos geralmente no comércio. Quanto ao tamanho dos frutos, ele varia em função de numerosos parâmetros. Por que se encontram tomates com tamanhos às vezes diferentes numa mesma planta?

O tomate é o ovário da flor que aumenta consideravelmente. A polpa densa e perfumada do tomate constitui a parede do ovário que contém cavidades cheias de líquido e de sementes, que chamamos de lóculos. O número de lóculos está ligado ao tamanho do fruto. Um tomate-cereja só tem dois lóculos enquanto um tomate de tipo “Beefsteak” contém um grande número.

O tamanho do fruto depende de muitos fatores. Assim, acontece dos frutos em baixo na planta serem maiores porque foram os primeiros a se formar e havia menos “competição”.

Foto. As abelhas solitárias vão polinizar regularmente as flores de tomates ("sweat bee" na América do Norte)

A fertilização da flor é também importante, sob esse aspecto, pois quanto mais as sementes são numerosas, mais o fruto, que deve acolher seu desenvolvimento é maior. A fertilização da flor depende ela mesma de fatores diversos e complexos. Condições climáticas desfavoráveis durante uma semana de verão vão se traduzir um mês e meio mais tarde por uma série de frutos pequeninos ou disformes, pois a fertilização das flores não terá sido corretamente realizada. A temperatura é também um elemento importante no processo de fertilização: as flores “afundam” abaixo de 13°C e além de 23°C (durante a noite) e de 39°C (durante o dia). Foi observado também que as variedades chamadas “a folhas de batata” e que possuem grandes flores têm muita dificuldade a frutificar quando a estação se caracteriza por altas temperaturas mantidas.

Foto. Diversidade de tomates

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Polinização

Para os agricultores querendo colher as suas próprias sementes de tomates, resta a determinar os riscos de polinização cruzada, ou riscos de hibridação natural, entre as diferentes variedades de tomates que crescem lado a lado nas hortas.

O estigma do tomate se torna receptivo um dia antes que a flor se abra. O pólen começa a se difundir um pouco mais tarde, mas, igualmente antes que a flor se abra. O estigma fica receptivo e o pólen continua a se difundir enquanto a flor estiver aberta, ou seja, de um dia a uma semana em função das condições prevalecentes.

O nível de polinizações cruzadas nos tomates é determinado por um certo número de parâmetros.

1. Características próprias à variedade tal como o comprimento do estilo.

As flores de tomates são perfeitas e auto-fecundas. O modo de reprodução dos tomates é assim uma autogamia preferencial.

Foto. um pistilo que emerge do cone de estames e que é então exposto aos polinizadores.

Nas variedades modernas, o pistilo nunca emerge ao exterior do cone de estames fusionados juntos. As anteras são situadas na superfície interna do cone de estames e o pólen se difunde no interior. Como as flores são voltadas para a terra, o pólen cai no estigma, gerando uma auto-fecundação.

Em compensação, numerosas variedades antigas, assim como as variedades que herdaram os genes de Lycopersicon pimpinellifolium ou de outras espécies selvagens de Lycopersicon, têm um pistilo que emerge do cone de estames e que é então exposto aos polinizadores. Essas variedades têm então muito mais chances de serem cruzadas.

2. Condições ambientais que modificam o comprimento do estilo

O Professor Messiaen, na sua excelente obra "Le Potager Tropical" afirma que se pode observar nos tomates, nas condições tropicais, uma tendência ao alongamento do estilo. Parece que o alongamento do estilo seja provocado pela intensidade solar, o alongamento dos dias e a divisão carbono-azote.

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3. Presença de insetos polinizadores

A maior parte do tempo, as flores de tomates não atraem os polinizadores e isso principalmente porque outras fontes de pólen são facilmente acessíveis. Entretanto, agricultores nos chamaram atenção para o fato que na França mesmo, certas variedades de tomates eram visitadas por insetos, abelhas ou grandes zangões pretos.

Em algumas regiões, particularmente nos trópicos, certos insetos são atraídos pelas flores de tomates que eles vão polinizar regularmente. Esses insetos podem ser hymenopteros tais como Exomalopsis billotii nas Antilhas.

Na América do Norte, são as abelhas solitárias e os zangões os vetores da polinização cruzada, mais particularmente na zona Atlântica e na Califórnia.

Além disso, parece que em alguns ambientes, os pulgões e os aleurodes constituem os polinizadores mais eficazes. Isso é o que nos afirmou recentemente durante uma entrevista, Pierre Bourgois, da Ilha de Oléron, que coleciona e regenera centenas de variedades de tomates há quinze anos.

Foto. Quando se deseja cultivar um certo número de variedades para a produção de sementes, a solução mais simples nesse caso é de isolar cada variedade sob um túnel de mosquiteiro ou outro filó fino.

4. Movimentos do vento

Os movimentos do ar ao redor da flor podem intensificar o nível de auto-fecundação. Parece, entretanto que eles tenham apenas pouca influência no nível de polinização cruzada.

Conclusão da polinização

Nas zonas pouco sensíveis, isto é, a maior parte das zonas temperadas, pode-se dizer existirem entre 2 e 5% de hibridações naturais.

Em compensação, nas zonas sensíveis, tais como as regiões tropicais, essa porcentagem é consideravelmente mais alta. Em função dos diversos parâmetros evocados anteriormente, ela varia entre 12% e 47%.

É indispensável observar a configuração floral de cada variedade assim como a atividade dos insetos no ambiente. Quando a variedade se caracteriza por um estigma retraído e quando não há insetos para trabalharem as flores, não é necessário estabelecer distâncias de isolamento.

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Em compensação, é sábio isolar as variedades cujo estigma é proeminente e isso principalmente porque existem insetos no ambiente que podem realizar polinizações cruzadas. A distância mínima de isolamento aconselhada é então de 30 metros e pode ir até 200 metros. Pode-se, nesse caso, diminuir as distâncias de isolamento plantando, entre as variedades de espécies, vegetais transbordantes de néctar e de pólen. Quando se deseja cultivar um certo número de variedades para a produção de sementes, a solução mais simples nesse caso é de isolar cada variedade sob um túnel de mosquiteiro ou outro filó fino. Sem proteção pelo filó, a distância de isolamento é então de 500 metros à um quilômetro em função dos insetos polinizadores.

Os agricultores ou agricultoras muito meticulosos podem também praticar uma polinização controlada fazendo uma atadura nas flores antes que elas se abram, a fim de forçar a auto-fecundação.

Produção de sementes

Cada semente de tomate é colocada num pequeno envelope gelatinoso contendo substâncias químicas que obrigam a semente a ficar em dormência. Sem esse envelope gelatinoso, as sementes germinariam facilmente no meio quente e líquido que constitui o interior do fruto. (Aliás, é interessante examinar a que ponto um tomate maduro e com bastante sumo pode guardar o calor durante os dias mais quentes do verão).

Foto. Fermentação das sementes de tomates no próprio suco delas

Na natureza, os frutos caem da planta, apodrecem e o processo de fermentação destrói esse envelope gelatinoso.

O agricultor que deseje fazer sua própria semente de tomate deve reproduzir artificialmente esse processo de fermentação. A metodologia é muito simples. Os frutos são cortados em duas partes e se extrai as sementes e o suco que são então colocados em um frasco.

Pode-se adicionar um pouco de água, pois isso parece favorece, em algumas condições, o processo de fermentação.

Foto. Inicio da fermentação das sementes (primeiro dia)

Esse líquido é em seguida deixado durante muitos dias até que se forme na superfície um tapete branco de mofo. Essa fermentação tem por agente principal Oospora lactis e ele permite eliminar as doenças bacterianas.

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O tempo de fermentação varia em função da temperatura ambiente. Entretanto deve-se ter a maior vigilância durante os dias muito quentes do verão, pois o processo de fermentação pode se efetuar em menos de 48 horas. Nesse caso, se a espera é longa há o risco de perder as sementes que sem a proteção gelatinosa começam a germinar alegremente num meio totalmente favorável, isto é, líquido e muito quente.

Foto. Fermentação das sementes no depois de 48 horas

Quando o processo de fermentação está completo, termina-se a limpeza das sementes passando-as numa peneira fina e agitando-as energeticamente sob a água corrente. Os restos e as sementes não maduras descompostas partem com a água, através das malhas da peneira, e só ficam as boas sementes. Deve-se então colocá-las num pequeno tamis (confeccionado, por exemplo, com um mosquiteiro de plástico mole) afim de secá-las: um lugar seco e ventilado é o suficiente.

Foto. Sementes limpas prontas para a secagem

É totalmente desaconselhável fazê-las secar em cima de papel (é impossível descolá-las), no forno (mesmo em baixa temperatura) ou no sol direto. O elemento chave de uma secagem correta (para todos os tipos de sementes) não é o calor, mas a ventilação.

Durante um período quente e úmido, é muito aconselhável utilizar um ventilador. Durante o processo de secagem, é também aconselhável separar, delicadamente com os dedos, as sementes que estão aglomeradas em pequenos montinhos.

As sementes secas devem ser então entrepostas, de preferência em frascos de vidro ou em pequenos sachês de papel, protegidos da umidade.

As sementes de tomates têm uma duração germinativa média de 4 anos. Elas podem, entretanto, conservar uma faculdade germinativa até 10 anos e mais.

Foto. Secagem das sementes de tomate

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Criação de variedades

Existem três maneiras naturais de criar suas novas variedades de tomates. Eis aqui alguns conselhos que lhe permitirão "brincar" na sua horta. Nós apresentamos esses conceitos de forma simples. Pode-se ser muito mais complicado e "científico", em particular no que diz respeito ao número de plantas que se deve plantar a cada geração, se queremos que o processo de criação de variedades ou de desibridação fique totalmente sob controle. Os amadores esclarecidos encontrarão uma abundância de informações na magnífica obra de Carol Deppe "Breed your Own Vegetable Varieties" publicada nos EUA por Little Brown. Carol Deppe é uma genética, Doutora em Biologia (Universidade de Harvard) ao mesmo tempo em que é uma ardente militante pela biodiversidade e o direito dos agricultores de brincar em suas próprias hortas.

A leitura de inglês e um doutorado em biologia não são, entretanto, nem um pouco indispensáveis para começar a brincar de criar variedades de famílias em sua horta. Precisa-se de um pouco de delicadeza, muito bom senso e confiar na sorte (que alguns chamam anjos, fadas, estrelas, duendes, influências cósmicas…)

1. Polinização cruzada de duas variedades selecionadas

Quanto mais as duas variedades selecionadas forem diferentes (quanto à forma, à cor, à folhagem…) mais a descendência será interessante. Uma variedade é escolhida para ser o receptáculo (fêmea) do pólen da outra variedade (macho). Pode-se realizar uma polinização cruzada, entre essas duas variedades selecionadas, de duas maneiras.

O primeiro método que nós apresentaremos é considerado como o método "clássico". A polinização é realizada quando a flor da fêmea está ainda na sua fase de botão floral.

Quando o botão floral chega a seu tamanho ótimo, as sépalas começam a se abrir e a cor das pétalas passa do amarelo claro ao amarelo ouro. Entretanto, as pétalas não estão abertas. Se elas já estão abertas, é muito tarde para intervir, pois as anteras já começaram a liberar seu pólen.

A castração do botão floral da fêmea é realizada como se segue. Na última fase do botão floral, a corola das pétalas amarelas é enrolada do lado de estames (amarelos também) e essas duas partes são ligadas juntas pela base. É então um duplo cone que rodeia o pistilo e que se deve tirar deixando o pistilo nu, rodeado na sua base por uma coroa de sépalas verdes.

Foto. Diversidade de Tomates

Tira-se o cone enfiando um braço de uma pinça, muito fina, entre o cone de estames e o pistilo e o outro braço entre o cálice (as sépalas verdes) e a corola (as pétalas amarelas). Pode-se mostrar necessário tirar primeiro uma pétala e um estame antes de retirar o duplo-cone. A operação é minuciosa, pois se deve tomar cuidado para não prejudicar o pistilo.

O pólen do macho é então colocado delicadamente no estame da fêmea. Pode-se utilizar diretamente os estames ou transferir o pólen com a ajuda de uma agulha ou outro pequeno objeto. As flores que acabaram de abrir constituem a fonte mais fácil e mais segura de pólen. O pólen de

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tomate (como também o pólen de muitos membros da família das Solanaceas) permanece viável durante muitas semanas quando é conservado em temperatura ambiente em casa.

As flores castradas não precisam ser cobertas a fim de evitar uma contaminação genética na medida em que não há mais pólen ou partes florais com cores vivas que atraiam os insetos.

As polinizações serão facilitadas num tempo fresco sem vento. Em tempo quente e seco ou com muito vento, pode ser necessário proteger a flor polinizada, com um pequeno saco, para que ela não seque.

É aconselhável tirar os pequenos frutos formados e as outras flores próximas à flor polinizada a fim de limitar a competição.

Normalmente deve-se tomar o cuidado de não se esquecer de colocar uma etiqueta, mencionando o nome dos dois pais, em volta do pedúnculo da flor polinizada.

Quando a operação é terminada com sucesso, o tomate se desenvolve e a extração das sementes pode se realizar quando o fruto está maduro. Essas sementes podem ser qualificadas de F1.

O segundo método que apresentamos poderia ser qualificado de "romântico" em relação ao primeiro. De fato, ele implica em que as anteras da fêmea não sejam tiradas. O pólen do macho é então transferido ao estame da fêmea deixando a essa última a possibilidade de se auto-fecundar com seu próprio pólen.

As plantas F1 (de primeira geração) saídas do primeiro método de cruzamento serão então idênticas pelo fato que uma só fonte de pólen foi implicada na polinização. Então não há seleção a ser feita na horta nesse segundo ano do processo de criação de variedades.

As plantas F1 (de primeira geração) saídas do segundo método de cruzamento não serão então idênticas pelo fato que duas fontes de pólen foram implicadas na polinização. Esse método gera muito mais diversidade, mas em compensação menos possibilidade de controle. Há então uma seleção a se fazer na horta, nesse segundo ano do processo de criação de variedades, em função dos parâmetros que você tiver estabelecido.

As sementes colhidas podem ser qualificadas de F2. Elas serão semeadas durante o terceiro ano do processo de criação de variedades. É aconselhável produzir o maior número de plantas possíveis. As plantas F2 que resultarão vão manifestar uma grande diversidade de características, pois os genes dos pais se exprimem de outra maneira. É durante esse terceiro ano que se deve começar a escolher somente uma planta ou algumas plantas que manifestam as qualidades desejadas e que estão destinadas a serem purificadas geneticamente. As sementes extraídas são então qualificadas de F3.

Essas sementes F3 vão gerar plantas F3 durante o quarto ano do processo de criação de variedades. Somente as plantas F3 que são idênticas às plantas F2 selecionadas no ano anterior serão escolhidas para a extração de sementes.

Esse processo é em seguida repetido ano após ano até que toda semente semeada gere uma planta conforme o tipo selecionado entre as F2. O processo pode levar de três a dez anos, em função das características genéticas selecionadas. O resultado obtido é qualificado de variedade "fixada"* ou variedade se reproduzindo conforme ao tipo.

Foto. Tomate Purple Calabash

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2. Desibridação de um híbrido natural

Às vezes acontece que as sementes de uma variedade bem determinada dêem plantas totalmente diferentes. Assim uma semente extraída de uma variedade de tomates a frutos enormes e rosas (de tipo "chair de bœuf") e a folhas de batata vai gerar no ano seguinte uma variedade de tomate vermelho redondo e à folha normal. Houve um cruzamento natural realizado por insetos e a semente protegida era de fato uma semente F1**. O tomate vermelho redondo é nesse caso a planta F1. As sementes extraídas desse fruto são sementes F2.

Semeadas no ano seguinte, elas vão gerar plantas F2, a partir das quais o processo de seleção poderá se realizar da mesma forma que foi explicado acima.

* O conceito de "fixismo" nos parece com tão pouco fundamento quanto os delírios da agricultura moderna.

** Isso poderia ser simplesmente uma mutação, uma recessão… A Vida é exuberância!

3. Desibridação de um híbrido comercial

Toda variedade híbrida comercial pode ser desibridada da mesma maneira. O híbrido comercial F1 é cultivado e as sementes F2 são extraídas. Elas vão ser semeadas no ano seguinte e produzirão uma grande diversidade de plantas F2, a partir das quais o processo de seleção poderá se realizar da mesma forma que foi explicado acima.

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