secretaria de estado da agricultura e do … · santos seixas - agrônomo ... sociólogo (sema),...

68
CURITIBA 2011 SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

Upload: dangthuy

Post on 10-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CURITIBA 2011

SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ - Carlos Alberto Richa - Governador

SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO - Norberto Anacleto Ortigara - Secretário

CONSELHO ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL E DA AGRICULTURA FAMILIAR (CEDRAF)

CÂMARA SETORIAL DE AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA

EQUIPE TÉCNICA

Afonso Takao Murata - Agrônomo (UFPR Litoral), Carlos Alberto Salvador - Agrônomo (SEAB/ DERAL), Carlos Eduardo Sicoli Seoane - Biólogo (EMBRAPA Floresta), Danilo Grapiuna Pereira - Agrônomo (TECPAR), Dirk Cláudio Ahrens - Agrônomo (IAPAR), Ednei B. do Nascimento - Agrônomo (SEAB), Iniberto Hamerschmidt - Agrônomo (EMATER), Ivo Barreto Melão - Agrônomo (IPARDES), Jair Pelegrin - Administrador - (Instituto Maytenus), Jefferson V. Meister - Agrônomo (SEAB/DEAGRO), Júlio Carlos B. Veiga da Silva - Agrônomo (CPRA), Luciano de Almeida - Agrônomo (UFPR), Marcelo Passos - Técnico em Agroecologia (AOPA), Márcia Marzagão Ribeiro - Agrônomo (UFPR Litoral), Moacir Roberto Darolt - Agrônomo (IAPAR), Paulo Henrique Lizarelli - Agrônomo (EMATER)

COLABORADORES

Adilson de Freitas Santos - Administrador/Agricultor (REDE ECOVIDA), Alexandre Augusto R. de Faria - Agrônomo (MDA/DFDA-PR), Alfredo Benatto - Veterinário (SESA), Carla Beck - Agrônomo (FAEP/ SENAR), Claudine Dinali Santos Seixas - Agrônomo (EMBRAPA Soja), Enio Neth de Goss - Sociólogo (SEMA), Fábio Henrique Nunes - Estudante (UFPR/GEAE), Filipe Braga Farhat - Agrônomo (CPRA), Flávio Cardoso D’Angelo - Agrônomo (FETAEP), Homero Amaral Cidade Júnior - Agrônomo (UFPR), João José Passini - Agrônomo (ITAIPU BINACIONAL), Jorge Guerra - Economista (SEIM), Luciano Escher - Bacharel (SEAB), Luis Mimbela Leyva - Agrônomo (SETA), Marco Aurélio Gural Nunes (Instituto Agroecológico), Marco Aurélio Pereira Bueno - Biólogo (SEED/DET), Marcos Antônio Baumgartner - Ciências Contábeis (ITAIPU BINACIONAL), Marcos Vinícius M. Redeschi - Zootecnista (CODAPAR), Maria Eulete Messias - Bióloga (SEED/DET), Mario Sfalcin Barbarioli - Agricultor (Rede de Agroecologia Eco-vida), Mauricio Tadeu Lunardon - Agrônomo (SEAB), Nelson Adamowiscz - Geógrafo (IAP), Otávio Batista da Silva - Administrador (SEIM), Renato da Silveira Krieck - Técnico em Agropecuária (EMATER), Robson Vilalba Reis - Sociólogo (Instituto Agroecológico), Rodrigo Weiss da Silva (Instituto Agroecológico), Rosângela de Almeida - Agrônoma (RIO DE UNA), Sandra C. Lins Santos - Agrônoma (SEAB/DEAGRO)

EQUIPE DE EDITORAÇÃO (IPARDES)

Maria Laura Zocolotti - Coordenação

Estelita Sandra de Matias - Revisão de texto

Léia Rachel Castellar e Ana Batista Martins - Editoração eletrônica

Stella Maris Gazziero - Capa, projeto gráfico e diagramação

Hadrien Constanty - Fotos da capa

P223d Paraná. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.

Documento-Base para o Programa Paraná Agroecológico /

Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. –

Curitiba : DIOE, 2011.

67 p.

1. Agroecologia. 2. Agricultura orgânica. 3. Paraná. I. Título.

CDU 631.147 (816.2)

3DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

PREFÁCIO

A Agroecologia e a Agricultura Orgânica, ao contemplarem a atividade agropecuária

com base em princípios e conceitos ecológicos com visão sistêmica e interdisciplinar, levando

em conta também aspectos socioeconômicos e de desenvolvimento rural, têm importante

contribuição a dar aos agricultores e consumidores paranaenses. Produtos obtidos segundo

seus princípios e métodos, que compõem o crescente mercado orgânico, alcançam preços

justos, representando boa opção de renda, especialmente para a agricultura familiar.

O cuidado com a natureza, implícito em seus processos tecnológicos, confere aos sistemas

de produção a conservação ambiental, servindo como inspiração para as necessárias

mudanças no modelo de degradação do processo produtivo convencional. A qualidade

nutricional e a não contaminação por agroquímicos fazem do alimento orgânico importante

componente na equação da segurança alimentar e nutricional, o que tem uma relevância

que vai muito além da garantia da quantidade produzida. Estes atributos conferem à

agroecologia e à agricultura orgânica a possibilidade de promoção da qualidade de vida

dos paranaenses, em especial aqueles que vivem no meio rural.

Desse modo, a geração de renda, a sustentabilidade ambiental, a segurança

alimentar e nutricional e a qualidade de vida são os quatro eixos estruturantes que dão

sustentação ao Programa Paraná Agroecológico e ao Plano de Ações da Secretaria de

Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) nesta gestão que se inicia. Portanto,

a agroecologia e a agricultura orgânica estão em perfeita consonância com a proposta

do Governo do Paraná e receberão a atenção que merecem. O presente documento,

construído de forma participativa pelos vários atores dos setores público e privado ligados

à agroecologia e à agricultura orgânica do Estado, em processo coordenado pela Câmara

Setorial de Agroecologia e Agricultura Orgânica, vinculada ao Conselho Estadual de

Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (CEDRAF), servirá como orientador das

ações do Governo Estadual nas respectivas áreas.

Norberto Anacleto OrtigaraSecretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento e Presidente do CEDRAF

5DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

LISTA DE SIGLAS

ABA Associação Brasileira de Agroecologia

ACARPA Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná

ACOPA Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná

ARCAFAR Associação Regional das Casas Familiares Rurais

ECOVIDA Rede Ecovida de Agroecologia

AOPA Associação da Agricultura Orgânica do Paraná

APOL Associação dos Produtores Orgânicos de Londrina

ASSESOAR Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

CAB Programa Cultivando Água Boa

CAE Colégio Agrícola Estadual

CAPA Centro Paranaense de Apoio ao Pequeno Agricultor

CEAO Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Paraná

CEDRAF Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar

CEEP Centro Estadual de Educação Profissional

CEPOrg Comissão Estadual da Produção Orgânica

CFR Casa Familiar Rural

CNPOrg Comissão Nacional de Produção Orgânica

COOPERA Cooperativa de Consumidores de Produtos Integrais

CPOrg Comissão de Produção Orgânica

CPRA Centro Paranaense de Referência em Agroecologia

DEAGRO Departamento de Desenvolvimento Agropecuário

DERAL Departamento de Economia Rural

EBAA Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa

EMATER Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAEP Federação da Agricultura do Estado do Paraná

FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná

GEAE Grupo de Estudos de Agricultura Ecológica

IAPAR Instituto Agronômico do Paraná

IBD Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural

IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements

IPD Instituto de Promoção e Desenvolvimento

IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

IVV Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MEC Ministério da Educação

MST Movimento dos Sem-Terra

6

OGs Organizações Governamentais

ONGs Organizações Não-Governamentais

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PAG Programa de Pesquisa em Agroecologia

PMISA Programa Estadual de Manejo Integrado de Solo e Água

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNATER Política Nacional de Extensão Rural

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRORURAL Programa de Assistência ao Trabalhador Rural

RMC Região Metropolitana de Curitiba

SEAB Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento

SEED Secretaria de Estado da Educação

SEIM Secretaria de Estado da Indústria e Comércio do Mercosul

SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SETI Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

SMAB Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Curitiba

SOCLA Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia

UFPR Universidade Federal do Paraná

TECPAR Instituto de Tecnologia do Paraná

7DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

SUMÁRIO

PREFÁCIO 3

LISTA DE SIGLAS 5

APRESENTAÇÃO 9

1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA AGROECOLOGIA 11

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA 13

2.1 CONTEXTOS MUNDIAL E BRASILEIRO 13

2.2 CONTEXTO PARANAENSE 15

3 BASES CONCEITUAIS E PRINCÍPIOS 26

4 OBJETIVOS 28

4.1 OBJETIVO GERAL 28

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 28

5 EIXOS ESTRUTURANTES, DIRETRIZES E LINHAS DE AÇÃO 30

5.1 FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO, ASSISTêNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL 30

5.2 PESQUISA AGROECOLÓGICA 32

5.3 COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO 33

5.4 LEGISLAÇÃO 37

5.5 ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES E CONSUMIDORES 38

6 GESTÃO E FINANCIAMENTO 40

6.1 GESTÃO 40

6.2 FINANCIAMENTO 41

GLOSSÁRIO 42

REFERêNCIAS 47

ANEXOS 51

9DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

APRESENTAÇÃO

O Estado do Paraná vem conquistando, nos últimos anos, posição privilegiada no cenário da produção orgânica de alimentos. Nos últimos 10 anos o segmento cresceu mais de 2 mil por cento em termos de número de produtores e produção; na safra 2009/2010 o Estado contava com a participação de 4.751 produtores, que cultivavam 12.821,51 hectares.

Esta produção atende tanto ao mercado externo, notadamente com o soja, café, açúcar mascavo, cachaça, bebidas aromáticas, como ao mercado interno, com o fornecimento de frutas, olerícolas, plantas medicinais e carnes.

Paralelamente à geração de emprego e renda, principalmente junto à agricultura familiar, as práticas e métodos adotados na produção orgânica de alimentos contribuem para a preservação do meio ambiente e da saúde de agricultores e consumidores, promovem inclusão social e valorizam culturas, tecnologias e saberes tradicionais.

Assim, o desenvolvimento de pesquisas apropriadas, a participação da extensão rural, a formação de técnicos de nível médio e superior com especialização na área de agroecologia, a capacitação contínua de agricultores, a permanente disponibilização de crédito, o incentivo ao cooperativismo e o trabalho das organizações não-governamentais são alguns exemplos de ações fundamentais para o contínuo e seguro crescimento da agricultura orgânica no Estado.

Apesar desse cenário positivo, existem vários entraves que precisam ser urgentemente discutidos e solucionados, tais como a geração de tecnologias apropriadas à produção orgânica e questões ligadas à certificação e comercialização da produção.

Ademais, há carência de um Programa Estadual voltado ao desenvolvimento do setor e de uma rede que congregue em ações de políticas públicas os vários atores envolvidos.

A proposta inicial para a criação de um Programa de Agricultura Orgânica e Agroecologia para o Estado do Paraná nasce no contexto das discussões em reuniões do Conselho Estadual do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (CEDRAF), tornando-se mais efetiva em 2007, quando este mesmo Conselho aprova a criação da Câmara Setorial da Agricultura Orgânica e Agroecologia e, em 2008, por solicitação do Secretário da Agricultura e do Abastecimento, constitui-se o grupo de trabalho para a elaboração deste documento, aqui denominado de Programa Paraná Agroecológico.

O programa está estruturado em seis capítulos e tem como objetivo geral propor, articular e apoiar ações fundamentadas nos princípios da agroecologia, visando ao desenvolvimento de políticas públicas, socioambientais, econômicas e tecnológicas para

a agricultura paranaense.

10

Na primeira parte apresenta-se breve informação sobre os “Antecedentes Históricos

da Agroecologia” para justificar a ciência em que se apoia esse programa.

A “Contextualização das Agriculturas de Base Ecológica” nos cenários mundial,

brasileiro e paranaense atuais constitui o segundo capítulo, que visa à compreensão do

desenvolvimento do Paraná com o setor da produção de alimentos orgânicos, por meio

das ações de políticas públicas e do envolvimento dos movimentos populares presentes

no Estado.

O terceiro capítulo faz referência às “Bases Conceituais e Princípios” do

programa, os quais se encontram consubstanciados nos princípios da agroecologia e

em consonância com um processo de transição agroecológica, como segue: equilíbrio

ecológico dos agroecossistemas, baixa dependência de insumos comerciais, aspectos

socioambientais locais, manutenção do solo vivo, preservação da diversidade biológica

e cultural, incorporação do conhecimento e da cultura da população local, produção

de mercadorias para o consumo interno prioritariamente e para a comercialização com

vistas à segurança alimentar e nutricional, relações equilibradas de gênero e respeito às

diferenças, entre outros. O enfoque sistêmico e o conceito de desenvolvimento territorial

complementam os pressupostos gerais do programa.

O quarto capítulo refere-se aos “Objetivos Geral e Específicos do Programa”.

Na sequência têm-se os “Eixos Estruturantes, Diretrizes e Linhas de Ação”,

para os quais as ações do programa devem ser atendidas prioritariamente, quais sejam:

1) Formação, Capacitação, Assistência Técnica e Extensão Rural; 2) Pesquisa Agroecológica;

3) Comercialização e Mercado (Mercado de Venda Direta, Mercado de Varejo, Mercado de

Transformação, Mercado Institucional e Mercado Externo); 4) Legislação, e 5) Organização

dos Produtores e Consumidores.

Finalmente, o sexto capítulo trata da “Gestão e Financiamento”, no sentido de

buscar mecanismos e recursos financeiros que possam sustentar os projetos a serem

viabilizados, de modo democrático, participativo e socializante, considerando-se a

transversalidade das ações do programa.

A expectativa, em face desse programa, é de que ocorra uma interlocução

constante da Câmara Setorial de Agroecologia e da Agricultura Orgânica com o CEDRAF,

no sentido de se poder alinhar os projetos propostos com as necessidades e aspirações

dos principais atores envolvidos com a agroecologia e agricultura orgânica do Estado.

Indica-se, para conduzir a gerência e instância de governança do programa, como

unidade física, a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB).

Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar - CEDRAF

Câmara Setorial de Agroecologia e da Agricultura Orgânica

11DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA AGROECOLOGIA

Do ponto de vista histórico, podemos afirmar que os princípios que norteiam a

Agroecologia se confundem com a própria origem da agricultura. O estudo das chamadas

agriculturas tradicionais, indígenas ou camponesas, quando analisadas, revela sistemas

agrícolas complexos adaptados às condições locais, com agroecossistemas estrutural e

funcionalmente muito similares às características dos ecossistemas naturais. Ou seja, revela

estratégias adaptativas dos cultivos às variáveis ambientais com base em conhecimentos

tradicionais gerados durante muitos ciclos produtivos, transmitidos entre gerações

(EMBRAPA, 2006).

Conforme avança o conhecimento sobre as culturas campesinas tradicionais, vai

desaparecendo a ideia preconcebida pela sociedade industrial-urbana de que suas práticas

agrícolas eram primitivas e insuficientes. Em troca, afirma-se a ideia do caráter adequado

e sofisticado dos mesmos em relação ao manejo do ecossistema e da importância destes

para melhorar os sistemas produtivos atuais (ALTIERI, 1992).

Já a agroecologia, como campo de conhecimento científico, é algo mais recente.

De acordo com Gliessman (2001), a agroecologia é a aplicação dos conceitos e princípios

da Ecologia no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.

Durante o século 20, a agronomia e a ecologia mantiveram um relacionamento

distante em que a ecologia ocupava-se do estudo de sistemas naturais e a agronomia

tratava da aplicação de métodos de investigação científica à prática da agricultura.

A primeira integração da agronomia e da ecologia pode ser atribuída a Klages (1928), que

no artigo Crop Ecology and Ecological Crop Geography in the Agronomic Curriculum

chamou a atenção para que se levasse em consideração fatores fisiológicos e agronômicos

que influenciavam a distribuição e adaptação dos cultivos, visando compreender as

complexas relações entre as plantas de cultivo e seu meio.

Após a Segunda Guerra Mundial, a ecologia move-se na direção da ciência pura

e a agronomia cada vez mais se orienta por resultados, dificultando pontos em comum

entre as disciplinas (GLIESSMAN, 2001). Na década de 1950, a consolidação do conceito

de ecossistema renovou o interesse pela ecologia de cultivos. Assim, segundo Gliessman

(2001), esse conceito gerou subsídios e uma estrutura básica geral para examinar a

agricultura desde uma perspectiva ecológica.

12

O estabelecimento de interesses comuns entre as disciplinas da agronomia e da

ecologia ocorreu a partir dos anos 70 (GLIESSMAN, 2001). De acordo com esse autor,

no início dos anos 1980 a agroecologia tinha emergido como uma metodologia e uma

estrutura básica conceitual distinta para o estudo de agroecossistemas. Esse período teve

fortes influências dos estudos sobre sistemas de cultivos e conhecimentos tradicionais em

países em desenvolvimento, que passavam a ser reconhecidos como exemplos importantes

de manejo de agroecossistemas, ecologicamente fundamentados (GLIESSMAN, 1978;

HERNANDEZ XOLOCOTZI, 1977).

Na publicação intitulada Agricultura Sustentável e Sistemas de Produção Integrados

(EDENS, FRIDGEN e BATTENFIELD, 1985) foram incluídas três seções destinadas à

economia dos sistemas, impactos ambientais, ética e valores na agricultura; Altieri (1985)

discutiu o manejo de pragas no contexto da estrutura da agricultura; Gliessman (1985)

adicionou as interações constantes dos componentes socioeconômicos, tecnológicos e

ecológicos e os impactos na seleção de sistemas de produção; Conway (1985) articulou a

importância de basear a análise de agroecossistemas em estudos interdisciplinares. Francis

et al. (2003) apontam alguns exemplos dessa nova geração de pesquisadores. Ainda,

podemos mencionar as contribuições da Sociologia (Sevilla Guzmán, Woodgate, Redclift),

da Economia Ecológica (Martinez-Alier, Xavier Simon), da Antropologia (Palenzuela,

Escobar), da História (González de Molina) e de outras disciplinas.

Desde então, a agroecologia – como uma abordagem científica que analisa a

agricultura não só sob aspectos da maximização da produção, mas levando em conta as

influências de aspectos socioculturais, políticos, econômicos e ecológicos no âmbito do

sistema alimentar e do desenvolvimento rural – tem crescido como um novo paradigma

capaz de buscar as bases científicas da sustentabilidade da agricultura por meio da

integração interdisciplinar.

A agroecologia tem demonstrado que os métodos das Ciências Naturais podem

subsidiar a tomada de decisão para o desenho de estilos de Agricultura de Base Ecológica,

enquanto os métodos das Ciências Sociais podem ser usados para integrar a dimensão

humana e melhorar nossa compreensão da totalidade do sistema (FRANCIS et al., 2003).

A agroecologia constitui-se assim, cada vez mais, em importante ferramenta para

a promoção das complexas transformações sociais e ecológicas necessárias para assegurar

a sustentabilidade da agricultura e das estratégias de desenvolvimento rural.

13DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS AGRICULTURAS DE BASE ECOLÓGICA

2.1 CONTEXTOS MUNDIAL E BRASILEIRO

O sistema orgânico de produção1 já é praticado e registrado em mais de 150 países,

sendo observada uma rápida expansão, sobretudo na Europa, Estados Unidos, Japão,

Austrália e América do Sul.2 Esta expansão está associada, em grande parte, ao aumento

de custos da agricultura convencional ou industrial e aos problemas ambientais e de

contaminação de alimentos decorrentes desta forma de agricultura. Paralelamente, a

agricultura de base ecológica pode proporcionar benefícios à biodiversidade, ao meio

ambiente, e promover o bem-estar dos animais. Ademais, é crescente a exigência dos

consumidores por produtos “limpos”, livres de substâncias químicas e/ou geneticamente

modificadas.

De acordo com a Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura

Orgânica (IFOAM), atualmente, no mundo, pouco mais de 35 milhões de hectares são

manejados organicamente, num total de 1,4 milhão de propriedades, o que representa

cerca de 1% do total das terras agrícolas do mundo. A maior parte destas áreas está

localizada na Austrália (12,1 milhões de hectares, basicamente pastagens nativas), seguida

da Europa (8,2 milhões de hectares) e América Latina (8,1 milhões de hectares). Os países

com a maior área em produção orgânica são, em ordem decrescente, Austrália, Argentina,

China, Estados Unidos e Brasil.

O continente que possui a maior área de agricultura orgânica é a Oceania (35%),

seguido da Europa (23%), América Latina (23%), Ásia (9%), América do Norte (7%) e África (3%).

Alguns países da Europa, como Áustria (15,9%), Suíça (11,1%) e Suécia (10,8%),

apresentam a maior área percentual de orgânicos em relação ao total da agropecuária.

Os países com o maior número de produtores são a Índia (340 mil), Uganda (180 mil) e

México (130 mil), voltados principalmente para a agricultura familiar.

1 O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange diferentes denominações das agriculturas de base ecológica, como: agricultura ecológica, biodinâmica, natural, regenerativa, biológica, agroecológica, permacultura e outras que atendam aos princípios estabelecidos pela Lei 10.831/2003.2 Ver, sobre isso, WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) (2010) The World of Organic Agriculture - Statistics and Emerging Trends 2010. IFOAM, Bonn, and FiBL, Frick.

14

As estatísticas mundiais mostram que, dos cerca de 150 países onde a produção é

registrada, 69 nações já possuem uma regulamentação para o setor orgânico e 21 países estão

trabalhando na construção da legislação. Cerca de 460 certificadoras atestam a qualidade dos

produtos orgânicos no mundo. No Brasil, segundo dados do Censo Agropecuário de 2006,

do IBGE, são aproximadamente 20 certificadoras entre nacionais e estrangeiras.

A maior parte do volume da produção orgânica mundial é proveniente de pequenas

e médias propriedades familiares. Os estabelecimentos orgânicos, também segundo dados

do Censo Agropecuário 2006, concentram-se em países da África (34%), Ásia (29%),

América Latina (19%), seguidos da Europa (16%), América do Norte (1%) e Oceania (1%).

O crescimento mundial das áreas em agricultura orgânica ocorreu de forma mais

expressiva a partir da virada do milênio. Entre 2000 e 2008 houve um crescimento na

área de aproximadamente 20 milhões de hectares, passando de 15 para 35 milhões de

hectares, ainda segundo dados do IBGE. Paralelamente, observou-se, nesse período, um

crescimento do mercado de alimentos orgânicos. Segundo Willer e Kilcher (2010), os

Estados Unidos (15,6 milhões de euros), Canadá (1,3 milhão de euros) e a União Europeia

(US$ 15,6 milhões de euros) representam os dois principais mercados, consumindo mais

de 90% do que é produzido em alimentos orgânicos no mundo.

No Brasil, segundo os dados do Censo Agropecuário 2006 do IBGE, o número

de produtores orgânicos representava 1,8% (ou 90.425) do total de estabelecimentos

agropecuários. Esses produtores se dedicavam, sobretudo, à pecuária e à criação de

outros animais (41,7%), às lavouras temporárias (33,5%), à lavoura permanente (10,4%),

à horticultura/floricultura (9,9%) e à produção florestal (3,8%).

Dados internacionais mostram que o Brasil está entre os cinco países com

maior área em produção orgânica, cerca de 1,7 mil hectares (Willer e Kilcher, 2010). As

propriedades, em sua maior parte, são pequenas e de origem familiar, concentrando-se

no Sul e Sudeste do País. Dados do MDIC/SECEX (2010) mostram que, das exportações de

produtos orgânicos pelo Brasil, cerca de 70% seguem para países da Comunidade Europeia,

com destaque para a Holanda, que consome 28% do total de produtos orgânicos brasileiros.

Segundo a mesma fonte, apesar de a maior parte da produção orgânica (80%)

proveniente de países em desenvolvimento ser destinada à exportação, há um grande

potencial para a expansão do mercado interno, como é o caso do Brasil, Argentina, Chile,

Costa Rica e Uruguai.

A venda em supermercados tem crescido de forma substancial. Atualmente,

podem ser facilmente encontrados produtos orgânicos em supermercados no Uruguai,

Costa Rica, Honduras, Peru, Brasil e Argentina. Os produtos orgânicos processados ainda

são encontrados em menor escala, sendo um mercado promissor para a América Latina.

A Argentina é o país com a maior produção de alimentos orgânicos industrializados (sucos

concentrados, óleos, vinhos, chás, frutas secas, condimentos etc.).

15DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

2.2 CONTEXTO PARANAENSE

A agricultura de base ecológica no Paraná desenvolveu-se concomitantemente

aos debates em curso em âmbito nacional. Um dos marcos ocorreu em 1981, em Curitiba,

com a realização do Primeiro Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa (EBAA),

impulsionado pelas manifestações críticas à modernização da agricultura, fundamentada na

“revolução verde”, apontadas no 11.o Congresso de Agronomia em 1979, também realizado

na cidade. Ao longo da década de 1980, um conjunto de iniciativas foi desencadeado

visando promover o desenvolvimento da agricultura alternativa no Estado.

Na segunda metade da década de 1980, tais iniciativas se apresentaram mediante

programas de cunho desenvolvimentista (PRORURAL) e conservacionista – como o

Programa Estadual de Manejo Integrado de Solo e Água (PMISA) –, desenvolvidos pela

SEAB, que visavam estimular métodos produtivos com atenção aos recursos naturais,

como o solo e a água.

À época, destacam-se algumas iniciativas tanto do governo do Estado como da

sociedade civil. Do lado das iniciativas governamentais, cabe destacar a ação da SEAB, do

Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e da ACARPA-EMATER. Em 1981, o trabalho da

extensão rural em Agudos do Sul, pequeno município a 60 quilômetros ao sul de Curitiba,

considerou a agricultura orgânica e biodinâmica como uma estratégia de desenvolvimento

local, envolvendo a organização de alguns produtores.

Na oportunidade, a ACARPA-EMATER, empresa de extensão rural pública oficial,

apoiou o trabalho de técnicos locais com uma associação de agricultores voltados à

conversão da produção de olerícolas do sistema convencional ao sistema de produção

biodinâmico. Foram desenvolvidos trabalhos com sementes crioulas, melhoria do padrão

genético dos animais de tração e integração de agricultores orgânicos com grupos

organizados de consumidores, mediante a entrega de cestas orgânicas a trabalhadores

de uma empresa (Paraná Equipamentos) que apoiava a proposta.

Toda a comercialização da produção se dava por meio da venda direta de cestas ou

sacolas, entregues principalmente para grupos de consumidores de algumas instituições

públicas, como a própria SEAB, a EMATER e o IPARDES. Nesse período, os trabalhos foram

apoiados pelos programas existentes, como o PMISA, com recursos de um programa de

agricultura alternativa.

Entre as ações da sociedade civil, foi relevante a fundação do Grupo de Estudos

da Agricultura Ecológica (GEAE), em 1981, por alguns alunos e professores da Faculdade de

Agronomia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), voltado a promover o debate sobre a

temática. Como decorrência dessa experiência, alguns membros do grupo se envolveram

diretamente na produção de alimentos orgânicos, especialmente hortaliças, os quais eram

16

comercializados por meio da venda direta de sacolas, da entrega em domicílio e da venda

em restaurantes naturais e vegetarianos; ainda, organizou-se, na época, a Cooperativa

de Consumidores de Produtos Integrais (COOPERA), fundada em 1985, em Curitiba,

com membros do movimento antroposófico, no intuito de aproximar consumidores

e produtores. Também em 1985 ocorreu em Curitiba o 1.o Congresso Brasileiro de

Agricultura Biodinâmica, que oportunizou a união de diversos setores governamentais, não-

governamentais e de produtores, consolidando os princípios filosóficos desta agricultura.

O ano de 1989 representou um marco no processo, particularmente na região de

Curitiba, quando, a partir de atores da sociedade civil, iniciou-se o que hoje se conhece

como Feira Verde de Produtos Orgânicos. A primeira barraca de venda direta de produtos

orgânicos foi instalada ao lado da Feira de Artesanato de Curitiba, realizada aos domingos

pela manhã, no Largo da Ordem, região central da capital paranaense.

Entre 1989 e 1995, vários agricultores juntaram-se à iniciativa, sendo que a feira

representava o principal tipo de mercado para a comercialização dos produtos, os quais

eram garantidos pela relação de confiança entre agricultor e consumidor. Cabe destacar que

várias propriedades de agricultores eram certificadas, na época, pelo Instituto Biodinâmico

de Desenvolvimento Rural (IBD).

Em 1991, parte daqueles que participaram da criação do GEAE fundou o Instituto

Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV), com sede em Curitiba, tendo dois objetivos

principais: prestar assessoria técnica a projetos em agricultura orgânica no Paraná e

estimular o Estado a desenvolver políticas públicas para tal segmento. Naquele ano,

iniciou-se um processo de articulação e organização em torno da agricultura orgânica

na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Assim, alguns membros do IVV de Curitiba,

os agricultores da Feira Verde e lideranças, somando mais de 60 pessoas, reuniram-se na

prefeitura do município de Quatro Barras, na RMC, apoiados pelo técnico do escritório

local da EMATER do município, para discutir propostas e ações. Como resultado destas

discussões foi criada a Associação da Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA), com o

objetivo de apoiar prioritariamente a comercialização dos produtos orgânicos, por meio

de linhas de crédito específicas do banco oficial (Banestado), e de dar forte apoio de

subsídios aos programas estruturados.

Os resultados fizeram-se sentir em 1991, quando a Feira Verde foi oficialmente

criada e obteve o financiamento da SEAB/EMATER para a instalação de oito barracas, que

reuniam quinze famílias de agricultores. Em março de 1995, após várias negociações, a

Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Curitiba (SMAB) destinou à Feira

Verde um dia e local específicos. A feira passou então a funcionar dentro do Passeio Público,

aos sábados pela manhã. Para lá se transferiram 10 barracas, reunindo a produção de

cerca de 30 famílias de agricultores de diferentes municípios da RMC.

17DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Ainda como resultado das ações daquele grupo, o IVV e o Governo do Paraná,

através da SEAB e suas vinculadas EMATER e IAPAR, estabeleceram um convênio para o

desenvolvimento de ações voltadas à produção orgânica, no âmbito do Programa Paraná

Rural, em continuidade ao PMISA. Além da relação com o nível estadual, outros convênios

se deram entre o IVV e algumas prefeituras, tanto na RMC (com o sistema de olericultura)

como na região do Norte Velho (açúcar mascavo, maracujá e acerola), no centro (plantas

medicinais) e na região Sudoeste (soja).

A intensificação do movimento verde na agricultura brasileira tem outro destaque

com a realização, em 1998, do II Seminário Nacional da Agricultura Orgânica em Curitiba,

quando foi criado o Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Paraná (CEAO), por

iniciativa da sociedade civil e das instituições governamentais envolvidas com a temática.

A composição do Conselho era paritária, sendo este formado por cinco representantes

de instituições governamentais, entre elas a SEAB, SEMA, EMATER e IAPAR, e outras

cinco entidades não-governamentais: AOPA, CAPA, ASSESOAR, APOL e a empresa Terra

Preservada. O CEAO3, visando institucionalizar sua atuação, colaborou na proposição

do Projeto de Lei n.o 013/2000.

Em 1999, quando o Ministério da Agricultura instituiu a Instrução Normativa

n.o 007/99, criou-se a Comissão Nacional de Produção Orgânica (CNPOrg) e havia a previsão

de criação dos colegiados estaduais (CPOrg) pelas Delegacias Estaduais do Ministério

da Agricultura. No Paraná, o mesmo não teve a necessidade de ser criado, pois à época

estava em funcionamento o CEAO, que cumpria as funções previstas pela IN 007/99.

O CPOrg-PR só foi criado oficialmente após a promulgação da Lei 10.831, em 2003,

que regulamenta a agricultura orgânica no País, e a pauta do CEAO foi assumida por

essa instância. O CPOrg-PR é desde então coordenado pela Superintendência Federal da

Agricultura no Paraná, órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e conta

com a participação de instituições governamentais estaduais e entidades não-governamentais

representantes dos agricultores orgânicos do Estado. O efetivo funcionamento desta

comissão ocorre a partir de 2009.

No ano de 2000 foi fundada, pela sociedade civil organizada, a Associação dos

Consumidores de Produtos Orgânicos do Paraná (ACOPA), com o objetivo de divulgar os

alimentos orgânicos e as práticas de alimentação saudável e de comércio justo e solidário

para os consumidores. Trata-se de uma organização independente que realiza estratégias

de aproximação entre consumidores e produtores ecológicos, buscando a melhoria da

qualidade de vida dos consumidores, a permanência dos agricultores no campo com

dignidade e a manutenção da paisagem e do meio ambiente.

3 O CEAO, Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Estado do Paraná, é um órgão normativo, deliberativo e regulador da política agrícola estadual para a agricultura orgânica, integrante da estrutura organizacional básica da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB).

18

No âmbito dos movimentos sociais mais ligados ao campesinato e suas lutas

para a reforma agrária, surge, em 2001, uma coalização política denominada Jornada de

Agroecologia, que resultou de amplo processo dialógico entre os Movimentos Sociais do

Campo e Organizações Não-Governamentais atuantes no Estado do Paraná, que desde os

anos de 1980 promovem a Luta Pela Terra e Pela Reforma Agrária e a Agroecologia como

uma de suas ‘bandeiras’. Seu Manifesto Político apresenta os objetivos estratégicos e o lema

original: Jornada de Agroecologia – Terra Livre de Transgênicos e Sem Agrotóxicos. Atua

em rede de cooperação potencializando os processos político-organizativos, econômicos,

culturais locais e regionais num movimento camponês agroecológico com maior densidade

e expressividade política e social.

Desde 2002 realiza-se a Jornada de Agroecologia, com média de 4 mil

participantes, a qual tem impulsionado a transição agroecológica associada à luta política

que culminou na aprovação de legislações e políticas governamentais coibitivas aos

transgênicos e aos agrotóxicos. No município paranaense de Santa Teresa do Oeste, a

multinacional Syngenta repassou uma área de seu centro de transgenia para soja e milho

por doação ao Governo do Paraná. A mesma está sob gestão direta do IAPAR em diálogo

com a Via Campesina e Jornada de Agroecologia, implantada em 2010 como Centro de

Pesquisa em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira.4

Em 2003, a Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná inicia um programa

de formação de técnicos em agroecologia em parceria com os Movimentos Sociais do

Campo, como a AOPA, ASSESOAR, MST e Via Campesina.

Outra ação desenvolvida em 2003 foi o Programa Cultivando Água Boa, da

Itaipu Binacional, na Bacia Hidrográfica do Paraná 3, coordenado por um Comitê Gestor

formado por organizações do Estado, municipalidades, ONGs da região e organização

dos agricultores. As ações do programa foram organizadas em redes temáticas envolvendo

quase 60 parceiros, assistência técnica, pesquisa e desenvolvimento, comercialização e

marketing, agrotransformação, organização rural e educação ambiental para o consumo

consciente. Uma das linhas do programa contemplou o projeto de Agricultura Orgânica, por

se encaixar perfeitamente na proposta socioambiental da Itaipu de conservação ambiental,

fortalecimento da agricultura familiar, produção sustentável e alimentação saudável.

Em 2004 foi criado o Núcleo de Agroecologia da Escola Técnica, que coordena

a formação de técnicos e tecnólogos em agroecologia em parceria com as escolas dos

movimentos, em Francisco Beltrão, São Miguel do Iguaçu, Maringá, Cantagalo, Rio

Bonito do Iguaçu e Lapa, numa iniciativa de formação descentralizada, fora da RMC.

4 Comentários feitos por José Maria Tardin, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e diretor da Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA), durante o VI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). E-mail: [email protected]

19DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Concomitantemente, o IAPAR criou o Programa de Pesquisa em Agroecologia (PAG),

com a finalidade de congregar e coordenar ações de pesquisa, visando promover sistemas

sustentáveis de produção agroecológica, incluindo a orgânica. Com tal missão, atua junto

aos projetos de pesquisa, promovendo e estimulando a proteção da biodiversidade dos

agroecossistemas, respeitando os ciclos biológicos e favorecendo a atividade biológica do

solo. Além disso, busca a redução no uso dos insumos e produtos externos, priorizando

métodos que recuperem, mantenham e promovam o equilíbrio dos sistemas, considerando

as diferentes dimensões da sustentabilidade.

Neste sentido, a Secretaria de Estado da Educação (SEED), através do Departamento

de Educação e Trabalho, oferta desde 2004 o Curso Técnico em Agroecologia no Colégio

Agrícola Getúlio Vargas, localizado em Palmeira, região dos Campos Gerais.

A certificação de produtos orgânicos no Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR)

teve início em 2004, com o objetivo de atender prioritariamente ao pequeno agricultor

e garantir ao consumidor a oferta de produtos cultivados organicamente, preservando

o meio ambiente, o trabalhador e a qualidade do alimento de acordo com as normas e

práticas da agricultura orgânica.

Na Embrapa Soja, situada na cidade de Londrina, várias linhas de pesquisa,

compatíveis com os princípios da agricultura orgânica, têm sido desenvolvidas, tais

como controle biológico, fixação biológica de nitrogênio, cultivares de soja para

alimentação humana, manejo alternativo de doenças, fontes alternativas de nutrientes,

manejo alternativo de plantas espontâneas. É importante destacar a criação do Núcleo

de Agroecologia e Agricultura Familiar em 2005, reunindo todos os pesquisadores da

Embrapa Soja que já trabalhavam ou que tinham interesse em trabalhar com temas voltados

à agroecologia. Em 2008, o nome foi alterado para Núcleo de Agroecologia.

Em 2005, foi criado o primeiro curso regular em Técnico em Agroecologia do

Brasil, ofertado pela UFPR Setor Litoral, com o propósito de desenvolvimento agrário

sustentável da região litorânea do Paraná, com Projeto Político-Pedagógico inovador,

visando à formação de um profissional diferenciado.

Outro marco importante, em 2005, foi a criação do Centro Paranaense de

Referência em Agroecologia (CPRA), pela Lei Estadual n.o 14.980, de 28/12/2005, com

a missão de divulgar, apoiar e promover ações de ensino, pesquisa e extensão voltadas

ao desenvolvimento de modelos agrícolas sustentáveis, baseados nos preceitos da

agroecologia.

A partir de 2005, observa-se um aumento significativo de diferentes ações para o

desenvolvimento de mercados orgânicos. A venda direta por meio das feiras agroecológicas

teve um crescimento expressivo – foram computadas 24 feiras exclusivas de orgânicos

no Paraná, sendo 10 em Curitiba.

20

Em 2006, a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), em parceria com os Ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Ciência e

Tecnologia, apresentou o “Programa Nacional de Apoio à Agricultura de Base Ecológica

nas Unidades Familiares de Produção”, de modo a incentivar a produção e o consumo

de produtos originários da agricultura de base ecológica.

Ainda nesse período, para a divulgação do mercado externo de orgânicos foi

criado o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD), vinculado à Federação das

Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), representado pelo Projeto OrganicsBrasil.

Desde 29 de dezembro de 2007, pelo Decreto n.o 6.323, a agricultura orgânica

no Brasil passou a ter critérios para o funcionamento de todo o seu sistema de produção,

regulamentando a Lei Federal n.o 10.831/03. Esta exige o selo de certificação para todos

os produtos que contenham a denominação de orgânico, incluindo as fases de produção,

armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização.

Por parte da extensão rural, a EMATER criou, em 2007, um Grupo de Estudo e

Trabalho em Agroecologia, composto por 17 técnicos, com a finalidade de difundir os

conceitos de agroecologia e identificar necessidades de capacitações e oportunidades e

áreas de atuação, visando fazer da agroecologia a nova matriz tecnológica da EMATER,

de acordo com a Política Nacional de Extensão Rural (PNATER/MDA).

A evolução dessas ações culminou com a criação oficial da área temática

da agroecologia, a qual, hoje, coordena e orienta as ações de 50 extensionistas mais

especializados e distribuídos em todo o Estado do Paraná, que atuam mais intensivamente

neste campo do conhecimento e nas suas interfaces, assessorando direta e indiretamente

os agentes de assistência técnica e extensão rural, e aproximadamente 3 mil agricultores

familiares e 71 organizações.

Também em 2007, diante da necessidade de congregar os diversos órgãos

governamentais e da sociedade civil, foi apresentada proposta junto ao CEDRAF para

a criação da Câmara Setorial de Agricultura Orgânica e Agroecologia, cujo objetivo é

difundir e coordenar as políticas públicas do setor.

Outro fato marcante nesse ano foi a acreditação internacional da IFOAM, recebida

pelo TECPAR, possibilitando um diferencial e maior credibilidade ao seu serviço de

certificação.

Ainda em 2007, o recém-inaugurado Centro Estadual de Educação Profissional

Newton Freire Maia, instalado em Pinhais (RMC), iniciou a oferta do curso técnico em

Agropecuária com enfoque na produção orgânica e/ou agroecológica. Este curso tem

atendimento prioritário aos filhos de pequenos agricultores familiares moradores dos

municípios localizados no Vale do Ribeira, Campina Grande do Sul, Colombo, Pinhais

e Quatro Barras.

21DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Em 2008, por meio do convênio firmado entre a SEED e a ARCAFAR-Sul, inicia-se

a oferta do curso Técnico em Agroecologia nas Casas Familiares Rurais (CFRs) de São

Mateus do Sul e Pinhão, hoje estendidas para a CFR de São Jorge do Oeste, e no Colégio

Agrícola Getúlio Vargas, no município de Palmeiras.

O Departamento de Educação e Trabalho instituiu na matriz curricular do curso

Técnico em Agropecuária das 18 escolas agrícolas, mantidas pela Secretaria de Estado da

Educação, uma disciplina específica de 160 horas, voltada para as práticas agroecológicas,

denominada Fundamentos de Agroecologia, com o objetivo de estimular e apoiar a

utilização de práticas agrícolas mais sustentáveis, como também a realização de parcerias

para o desenvolvimento de estágios dos estudantes com orientações voltadas para essas

práticas. Assim, o perfil esperado dos educandos durante o ensino médio integrado nos

Colégios Agrícolas é: “O Técnico em Agropecuária será capaz de perceber de maneira

sistêmica as implicações sociais, econômicas, ambientais, políticas e técnicas de sua

atuação profissional, agindo para detectar os problemas e aplicar as soluções técnicas,

de forma suficientemente criativa, sustentável, rápida e coerente com a realidade rural.

Atua em sistemas de produção agropecuária e extrativista fundamentado em princípios

de desenvolvimento sustentável”.

Essas ações educativas da rede estadual de ensino profissional já possibilitaram

a formatura, até o momento, de 80 Técnicos em Agroecologia no CAE Getúlio Vargas, e

de 26 no CEEP Newton Freire Maia.

Em 2008, a UFPR Setor Litoral encerra as atividades do curso Técnico em

Agroecologia, o qual é substituído pelo curso superior de Tecnologia em Agroecologia,

que já consta no catálogo de cursos do MEC.

Em 2009, a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por

meio do TECPAR e de oito instituições de ensino superior do Estado, localizadas nas mais

diversas regiões, lançou o “Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos”,

voltado aos pequenos produtores rurais do Estado do Paraná. Este programa visa ao

desenvolvimento de ações que possibilitem a formação de uma rede de apoio à produção

de orgânicos. Uma dessas ações consiste na adequação e na certificação de pequenas

propriedades rurais e pequenas agroindústrias, de acordo com os requisitos estabelecidos

pelo Ministério da Agricultura referentes à produção orgânica.

Cabe destacar que em fevereiro de 2009 foi inaugurado o primeiro Mercado

Municipal de Produtos Orgânicos do Brasil, na cidade de Curitiba, onde são

comercializados diariamente produtos dos mais variados tipos, como: frutas, verduras,

cereais, bebidas, carnes, cosméticos, vestuários, entre outros, composto por 22 lojas, um

restaurante orgânico e duas lanchonetes.

22

Esse histórico paranaense deu sustentação para a realização, em Curitiba, do

VI Congresso Brasileiro de Agroecologia (VI CBA) e II Congresso Latino-Americano

de Agroecologia (II CLA), em novembro de 2009. Os eventos foram promovidos pela

Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e Sociedade Científica Latinoamericana de

Agroecologia (SOCLA), sendo organizados e realizados com firme liderança do Governo do

Estado do Paraná com o apoio de diversas entidades da sociedade civil. Foram aprovados,

apresentados e publicados mais de 1.100 trabalhos de cunho técnico-científico e de

experiências em agroecologia, quando cerca de 3.800 pessoas trocaram informações e

conhecimentos, durante quatro dias.

Ressalte-se o ineditismo desse evento, por ter reunido os dois congressos, CBA

e CLA, e, principalmente, por ter reunido em um mesmo espaço os atores participantes

do movimento agroecológico brasileiro e os cientistas praticantes e militantes desta nova

ciência em uma ‘atmosfera horizontal dos saberes’, com vistas a construir e consolidar

uma ampla rede de articulação na América Latina em torno de questões fundamentais

do desenvolvimento rural, notadamente aquelas ligadas à agricultura familiar e ao

campesinato. Com base nessa premissa, e adotando-se uma perspectiva histórica, o tema

central escolhido foi: “Agricultura familiar e camponesa: experiências passadas e presentes

construindo um futuro sustentável”.

No início de 2010 foi realizada a IX Jornada de Agroecologia em Francisco Beltrão,

Sudoeste do Paraná, onde mais de 3.000 pessoas participaram reafirmando o compromisso

com a agroecologia, com o tema: “Cuidando da Terra, Cultivando Biodiversidade e

Colhendo Soberania Alimentar”, reafirmando nossa luta por uma terra livre de transgênicos

e sem agrotóxicos e construindo o projeto popular e soberano para a agricultura. O custeio

dessas Jornadas tem sido efetivado pelo apoio principal do Governo do Paraná, além de

Ministérios Federais, Governos Municipais, Instituições e Empresas Públicas, agências de

cooperação internacional e os Movimentos Sociais.

2.2.1 Panorama Atual

No Paraná, a agricultura orgânica é desenvolvida predominantemente em pequenas

propriedades de caráter familiar e corresponde a 82% do número total de estabelecimentos

rurais e a 28% da área, segundo o Censo Agropecuário 2006 do IBGE. O gráfico 1, a seguir,

mostra a evolução do número de produtores orgânicos no Paraná – na safra 2007/2008 este

número chegou a 4.751. O caso dos produtores no Paraná é caracterizado pelo grande número

de assentamentos rurais, reservas indígenas e comunidades de quilombolas, que buscam

aplicar os princípios da agroecologia.

23DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Outra característica da atividade no Paraná é a organização da sociedade civil.

Existem inúmeras ONGs que atuam nessa área reunidas em um Fórum Estadual. Além disso,

recentemente o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar

(CEDRAF) instituiu a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica e Agroecologia, que, de

forma paritária, congrega entidades governamentais e da sociedade civil organizada e

tem por finalidade propor ações voltadas ao desenvolvimento da agroecologia e da rede

de produção orgânica, constituindo-se em um espaço de caráter multissetorial, de debate

acerca das questões mais relevantes para o setor no Estado do Paraná.

Devido à sua extensão territorial e topografia, o Paraná possui regiões com condições

edafoclimáticas diferentes, o que permite uma produção bastante diversificada, que atende

aos anseios do segmento consumidor (figura 1). Todavia, ainda há a necessidade de um

trabalho de logística visando a maior integração entre as regiões.

De acordo com o último levantamento de campo realizado por profissionais da

SEAB/DERAL e EMATER, na última safra (2007/2008) o Paraná produziu cerca de 124 mil

toneladas de produtos orgânicos (gráfico 2). Houve um aumento de aproximadamente

16% em relação ao período anterior. A produção de hortaliças orgânicas apresenta o

maior número de agricultores envolvidos e concentra-se em torno das grandes cidades,

com destaque para Curitiba, Ponta Grossa, Toledo e União da Vitória. Observam-se polos

de produção de cana-de-açúcar nas regiões de Cascavel, Francisco Beltrão, Jacarezinho e

Toledo. A região Norte sobressai na produção de café orgânico, e, o litoral, na produção

de frutas. O cultivo de soja orgânica é destaque nas regiões de Francisco Beltrão, Pato

Branco e Toledo. A tecnologia de produção orgânica preconiza a rotação de culturas; no

caso específico do milho, a produção está sendo alavancada também pelo crescimento

N. de produtoreso

24

da produção animal, necessária à produção de esterco para compostagem. As maiores

regiões produtoras de milho orgânico são Irati, União da Vitória e Francisco Beltrão.

O principal produto em área plantada é a soja, mas, em volume de produção, a mandioca

assume esta posição. A produção de cana-de-açúcar também é expressiva e é transformada

em açúcar mascavo e cachaça.

FIGURA 1 - DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DA PRODUÇÃO ORGÂNICA NO PARANÁ

25DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

O setor de alimentos orgânicos tende a se fortalecer. A agricultura orgânica, que

surgiu como alternativa, hoje é considerada por muitos como uma necessidade. No Paraná,

86% das propriedades rurais têm área inferior a 50 hectares, por isso é importante incentivar

atividades que permitam obter maior rentabilidade por área. Neste aspecto, sistemas

de produção que promovam a diversificação na propriedade familiar, como a olericultura, a

fruticultura, a floricultura e a criação de pequenos animais, são opções de renda que podem

ser potencializadas nos sistemas de base ecológica. Além disso, o sistema agroecológico

se adapta bem a propriedades que buscam se integrar em circuitos de turismo rural, sendo

uma opção ao cultivo tradicional de grãos, que exige grande escala de produção.

A legislação ambiental também contribui para a agricultura orgânica. Em áreas de

mananciais ou de proteção ambiental, a prática da agricultura convencional, que utiliza

agrotóxico, é dificultada ou mesmo proibida. A agricultura ecológica busca planejar o

espaço rural e produzir alimentos de forma integrada com o ambiente, aproveitando todo

o seu potencial. Desse modo, trabalha o planejamento da paisagem buscando manter

florestas onde estas são necessárias e movimentar o solo somente onde este permite

movimentação. Ainda, adota técnicas de produção orgânicas, sem o uso de agrotóxicos.

Esses dois fatores fazem com que a agroecologia seja uma excelente alternativa para áreas

de mananciais de abastecimento.

As práticas agrícolas baseadas nos princípios da agroecologia têm grande potencial

de crescimento, já que os consumidores vêm dando maior atenção à saúde, mediante o

consumo de alimentos saudáveis. Além disso, as mudanças climáticas estão despertando

o senso ecológico, o que garante apoio aos sistemas de produção agroecológicos, por terem

menor impacto ambiental.

Como é possível observar, há um crescimento da demanda de produtos orgânicos

por parte dos consumidores, que têm impulsionado o crescimento da produção e dos canais

e agentes de comercialização desses produtos, mostrando a importância de se organizar

um programa de governo no sentido de propor, articular e apoiar ações fundamentadas nos

princípios da agroecologia, visando ao desenvolvimento de políticas públicas, socioambientais,

econômicas e tecnológicas para a agricultura paranaense.

26

3 BASES CONCEITUAIS E PRINCÍPIOS

O Programa Paraná Agroecológico entende como agroecologia um campo de

conhecimento de caráter multidisciplinar, que apresenta uma série de princípios, conceitos

e metodologias que permitem estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas,

com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura

com maiores níveis de sustentabilidade (ALTIERI, 2010). A agroecologia proporciona, então,

as bases científicas para apoiar o processo de transição para uma agricultura sustentável

nas suas diversas manifestações e/ou denominações.

Os movimentos e redes sociais consideram a agroecologia um diálogo de saberes

entre o conhecimento tradicional e científico, contextualizando as questões tecnológicas,

socioculturais, ecológicas, econômicas e políticas como uma proposta de desenvolvimento

sustentável para a sociedade.

As linhas de ação devem seguir princípios agroecológicos, como: o equilíbrio

ecológico dos agroecossistemas, por meio do uso de recursos renováveis, localmente

acessíveis; a baixa dependência de insumos comerciais; o aproveitamento dos impactos

benéficos do meio ambiente local sobre a atividade agrícola ou extrativa florestal e

pesqueira; os aspectos socioambientais locais; a manutenção do solo vivo; os métodos

culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos; a

manutenção em longo prazo da capacidade produtiva dos sistemas agrícolas e extrativo

florestal e pesqueiro; a preservação da diversidade biológica e cultural; a incorporação

do conhecimento e da cultura da população local; a produção de mercadorias para

o consumo interno prioritariamente e para a comercialização com vistas à segurança

alimentar e nutricional; as relações equilibradas de gênero e o respeito às diferenças.

Outro aspecto importante que o programa deve considerar é a transição ou

conversão para agroecossistemas sustentáveis e o apoio e fortalecimento de iniciativas

que visem à transformação de sistemas produtivos agrícolas convencionais, baseados no

uso intensivo de agroquímicos (adubos, agrotóxicos e outros insumos industriais), em estilos

de produção familiar que incorporem princípios agroecológicos.

Por se tratar de um processo que depende da intervenção humana, a transição

agroecológica implica não somente a busca de uma maior racionalização técnica e

27DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

econômica, mas também uma mudança nas atitudes e valores dos atores sociais nas suas

próprias relações e em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.

Assim, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, para respeitar os

princípios agroecológicos em consonância com um processo de transição agroecológica

a prática produtiva deve atender aos requisitos sociais, considerar aspectos culturais,

preservar recursos ambientais, apoiar a participação política e o empoderamento dos seus

atores, valorizar práticas tradicionais sustentáveis, além de permitir a obtenção de resultados

econômicos favoráveis ao conjunto da sociedade, com uma perspectiva temporal de longo

prazo, ou seja, uma agricultura sustentável.

O enfoque sistêmico e o conceito de desenvolvimento territorial complementam

os pressupostos gerais do programa. Na proposição de ações e parcerias, este deverá

considerar as especificidades e os contextos locais, apoiando iniciativas que qualifiquem

as dinâmicas locais de produção, buscando a sinergia com os ecossistemas e o uso

sustentável dos recursos naturais, considerando as relações sociais e a biodiversidade,

com respeito às dinâmicas territoriais.

28

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Propor, articular e apoiar ações fundamentadas nos princípios da agroecologia,

visando ao desenvolvimento de políticas públicas socioambientais, econômicas e

tecnológicas para a agricultura paranaense.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

�� propor, articular e apoiar políticas públicas que possam internalizar os princípios da agroecologia em diferentes ações e projetos nas Secretarias de Estado;

�� disponibilizar aos agentes de desenvolvimento local e aos agricultores familiares o instrumental tecnológico e formativo, bem como a produção de material didático, organizacional e creditício, necessários à transição e consolidação para sistemas agroecológicos e consumo responsável;

�� estimular e intercambiar experiências bem-sucedidas em sistemas agroecológicos, por parte de agricultores e suas associações, organizações governamentais e não-governamentais, entidades privadas, escolas técnicas e universidades;

�� sistematizar as diversas experiências de geração e socialização de conhecimentos em agroecologia, disponibilizando esse conhecimento ao público e incentivando a formação de redes locais e regionais;

�� apoiar a organização de novas instituições e atores, visando ampliar e qualificar a oferta de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), pesquisa e desenvolvimento em agroecologia;

�� apoiar as iniciativas de produção e beneficiamento de produtos advindos dos sistemas agroecológicos nas unidades familiares;

�� ampliar a oferta de alimentos de base ecológica nos distintos canais de comercialização e apoiar a criação e consolidação de mercados locais, de modo que a maior parte da população tenha acesso ao consumo de alimentos saudáveis a preços justos;

29DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

�� ampliar a participação de produtos de base ecológica no mercado institucional (alimentação escolar, hospitais, asilos, creches, entre outros);

�� incentivar a geração de linhas de crédito e cooperativismo;

�� fortalecer ações de educação para o consumo responsável e apoiar a organização e funcionamento de associações de consumidores;

�� incentivar a abertura de chamada de projetos de pesquisa, ensino e extensão, priorizando o enfoque sistêmico, orientados ao fortalecimento de atividades baseadas nos princípios da agroecologia.

30

5 EIXOS ESTRUTURANTES, DIRETRIZES E LINHAS DE AÇÃO

As diretrizes foram organizadas no sentido de apresentar um conjunto de sugestões

para levar a cabo o Programa Paraná Agroecológico. Nesse sentido, são apresentadas

indicações de ações para formação, capacitação, assistência técnica e extensão

rural, pesquisa, comercialização e mercado, legislação, organização de agricultores e

consumidores. As indicações devem promover os processos de produção, transformação,

certificação, transporte, comercialização e apoio financeiro aos produtores de base

ecológica a partir dos princípios da agroecologia.

5.1 FORMAÇÃO, CAPACITAÇÃO, ASSISTêNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL

Diretriz

Potencializar os saberes e as atividades da agricultura familiar visando à melhoria

das condições de vida e à geração de renda, pelo aumento da qualidade e da oferta dos

produtos e serviços.

Linhas de Ação

�� promover o fortalecimento das ações da rede de ATER em agroecologia, as do Instituto EMATER, dentre outras, garantindo recursos para custeio, contratação de pessoal e investimentos em infraestrutura, e a criação de equipes de extensionistas especializados com atuação específica em agroecologia;

�� incentivar e apoiar a capacitação de agentes de desenvolvimento e agricultores familiares em eventos de produção, beneficiamento, normas e comercialização de produtos orgânicos, com o objetivo de favorecer a transição e a consolidação para a agroecologia;

�� incentivar a produção para o autoconsumo familiar, em áreas urbanas e rurais;

�� incentivar a agricultura urbana, periurbana e metropolitana;

�� estimular os centros educacionais e os cursos de formação universitária comprometidos com a agricultura familiar a inserirem nos seus projetos curriculares o desenvolvimento de cursos de nível técnico e de especialização;

31DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

�� estabelecer parcerias entre programas intersecretariais (SEAB, SEED, SETI, SET, SEIM, SEMA, SESA, entre outras) e entidades da Sociedade Civil organizada para o fortalecimento dos princípios da agroecologia em processos de formação, capacitação e ATER;

�� desenvolver mecanismos para integração agricultor-consumidor, através de processos de conscientização do público urbano, favorecendo a comercialização e a sustentabilidade econômica da atividade;

�� promover a inclusão da agroecologia nos conteúdos curriculares nas instituições de ensino;

�� reconhecer que as unidades de produção agroecológicas prestam serviços ambientais passíveis de recebimento de benefícios e incentivos fiscais;

�� produzir e disponibilizar materiais pedagógicos a partir dos princípios e experiências agroecológicos;

�� promover, integrar e assegurar a realização de cursos de formação e de capacitação visando à formação de multiplicadores (agricultores familiares, lideranças, professores, agentes de desenvolvimento local), por meio de programas de governo ligados aos temas Produção orgânica, Educação ambiental, Turismo rural, Legislação e Certificação, Desenvolvimento comunitário e Captação de recursos;

�� criar ambientes de formação continuada e gestão colaborativa à distância, mediante instrumentos de tecnologia de informação;

�� identificar e fortalecer instituições parceiras que promovam a agroecologia, em projetos voltados à produção, pesquisa, validação, transformação e comercialização de produtos;

�� implantar em nível regional “Câmaras Setoriais de Agricultura Orgânica e Agroecologia”, formadas por equipes multidisciplinares de técnicos, professores, lideranças rurais, pesquisadores e especialistas, para a estruturação de propostas de apoio, fomento e implantação de sistemas agroecológicos;

�� promover eventos sobre agroecologia nas diferentes regiões do Estado, com educadores e multiplicadores;

�� desenvolver uma rede de divulgação eletrônica com informações atualizadas, de forma continuada, para a promoção dos princípios da agroecologia junto a consumidores e agricultores;

�� apoiar e viabilizar os processos de avaliação da conformidade dos sistemas de produção orgânica-agroecológica por intermédio da capacitação articulada com agricultores familiares, ONGs e OGs sobre mecanismos e garantia da qualidade orgânica, em atendimento às normativas do MAPA;

�� fomentar, através de bolsas de estudos e estágios, o envolvimento de estudantes de ensino médio, com ênfase na ATER, em convênio com entidades públicas e privadas.

32

5.2 PESQUISA AGROECOLÓGICA

A busca da construção do conhecimento em bases sustentáveis se realiza por meio

do diálogo entre o conhecimento científico e os diferentes saberes. Entre as estratégias

de pesquisa que podem ser adotadas estão: o enfoque sistêmico, as redes de pesquisa,

a pesquisa participativa e a sistematização de ações e experiências dos agricultores

em agroecologia.

Nesse sentido, o programa deve articular ações de apoio à pesquisa e ao

desenvolvimento de tecnologias apropriadas para o processo de transição agroecológica. Isto

é fundamental para viabilizar a consolidação de um modelo sustentável de produção

agrícola, constituindo-se numa das principais demandas para a pesquisa em agroecologia.

A compreensão dos aspectos agronômicos, biológicos, ecológicos, econômicos e socioculturais

envolvidos no redesenho dos sistemas de produção é imprescindível para o sucesso da

transição das práticas convencionais para as de base ecológica.

O trabalho de pesquisa, desenvolvimento e inovação em agroecologia deve,

preferencialmente, ser concebido e executado de maneira compartilhada e dialogada

com os agricultores e suas respectivas organizações e agentes de assistência técnica,

respeitando e incorporando as dinâmicas, experiências e saberes existentes nas diferentes

comunidades ao processo de construção do conhecimento sistematizado. Esse processo

poderá ser realizado por intermédio de métodos participativos e interativos, dentro do

conceito de comunicação e construção do conhecimento, reconhecendo, ao mesmo

tempo, a importância do saber e do conhecimento local.

Diretriz

Estudar, analisar e propor com os agricultores familiares agroecossistemas com

base em um conjunto de processos ecológicos que contribuam na construção de sistemas

sustentáveis.

Linhas de Ação

�� proporcionar condições às entidades de pesquisa (como o IAPAR, EMBRAPA, CPRA, Universidades, entre outras) de realização de pesquisas básicas em agroecologia, com suporte de custeio, pessoal e investimento;

�� fomentar linhas de financiamento de projetos orientadas ao fortalecimento de atividades baseadas nos princípios da agroecologia, articulando iniciativas de pesquisa e extensão universitária com ações de ATER, visando à validação e apropriação de tecnologias para a agricultura familiar;

33DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

�� apoiar projetos de pesquisa em redes nos diferentes territórios, para validação e apropriação de tecnologias, buscando a parceria entre instituições de pesquisa e universidades;

�� apoiar projetos de pesquisa sobre os impactos da agricultura na saúde ambiental e humana;

�� apoiar projetos de pesquisa de segurança e soberania alimentar e nutricional;

�� estabelecer uma linha de publicações destinadas a socializar os conhecimentos e tecnologias adequados à agroecologia;

�� sistematizar experiência e tecnologia em prol do desenvolvimento da agroecologia.

5.3 COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO

No cenário atual existe uma demanda crescente por produtos saudáveis,

ecologicamente corretos e com certificação, decorrente da busca por qualidade de vida

e sustentabilidade ambiental, econômica e social.

Em função dessas características de mercado, associadas à aprovação da Lei

10.831/03, que regulamenta a agricultura orgânica no Brasil, abrem-se novas oportunidades

de mercado.

No Estado do Paraná o mercado de orgânicos pode ser classificado em: mercado

de venda direta, de varejo, de transformação, institucional e mercado externo.

5.3.1 Mercado de Venda Direta

O mercado da venda direta estrutura-se basicamente a partir de dois agentes: de

um lado, o agricultor familiar – produtor e comerciante – e, de outro, o próprio consumidor.

As transações mercantis se dão por meio das relações face a face, sendo a feira o principal

canal de comercialização neste mercado.

Diretriz

Promover o apoio institucional ao mercado de venda direta de produtos orgânicos

e de base ecológica.

Linhas de Ação

�� apoiar estudos sobre o mercado de venda direta, segundo as particularidades dos sistemas de produção de cada região;

�� estimular e apoiar financeiramente (custeio e investimento) a produção, criação e melhoria de estruturas de comercialização para a venda direta em todas as

34

regiões do Paraná, em particular em feiras de produtos orgânicos e de base ecológica, mas também estruturas locais como mercados públicos e outras;

�� desenvolver e implementar programas de formação e capacitação em gestão para comercialização, logística e distribuição de produtos;

�� estruturar uma rede de informações eletrônicas, acessível e destinada ao intercâmbio de produtos orgânicos e de base ecológica das diferentes regiões do Paraná, para a comercialização no mercado de venda direta;

�� apoiar e estimular a diversificação da produção para o abastecimento do mercado de venda direta, segundo as características regionais, com destaque para sistemas de produção animal, fruticultura e produtos beneficiados;

�� ampliar o espaço das feiras de produtos orgânicos e de base ecológica com a participação ativa dos governos municipais em articulação interinstitucional com outros atores;

�� apoiar a abertura de Mercados Municipais de Produtos Orgânicos, possibilitando a compra durante toda a semana em regiões metropolitanas do Paraná;

�� apoiar a abertura de boxes fixos e de lojas de associações e cooperativas de agricultores em mercados públicos, notadamente em municípios de menor porte, mantidos pelas prefeituras e associações;

�� apoiar unidades produtivas em roteiros de turismo rural visando estimular o consumo direto e ampliar a divulgação de produtos orgânicos e de base ecológica;

�� desenvolver uma marca social paranaense que identifique os produtos orgânicos e de base ecológica e os pontos de venda direta junto aos consumidores;

�� estimular, por meio de campanhas, a diminuição do uso de embalagens plásticas e incentivar o uso de recicláveis;

�� apoiar a ampliação das feiras em instituições públicas, empresas, indústrias e outros espaços semelhantes como forma de beneficiar os produtores/comerciantes e divulgar, junto aos consumidores, a importância dos produtos orgânicos, agroecológicos e de base ecológica;

�� apoiar e incentivar o autoconsumo e as trocas de produtos e serviços entre vizinhos nas propriedades familiares, como forma de mercado justo.

5.3.2 Mercado de Varejo

O mercado de varejo é muito recente em todo o Paraná, tendo se iniciado de

maneira mais estável a partir de 2000. Os dois principais canais de comercialização que

atuam nas vendas dos produtos são as redes de supermercados e as lojas especializadas,

situadas na sua maioria em Curitiba, com o predomínio das redes de supermercados. No

interior do Estado, o mercado de varejo é bem menos relevante.

35DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Diretriz

Promover os alimentos e produtos orgânicos e de base ecológica no mercado

de varejo.

Linhas de Ação

�� estabelecer parcerias com o setor privado para a promoção e divulgação dos produtos orgânicos e de base ecológica, a exemplo da Semana da Alimentação Orgânica;

�� estabelecer um canal de comunicação com agentes do mercado de varejo para discussão permanente de restrições e potencialidades dos produtos orgânicos e de base ecológica neste mercado, com a divulgação dos dados da produção;

�� apoiar iniciativas de associações/cooperativas de agricultores familiares e/ou consumidores para o estabelecimento de lojas especializadas com produtos orgânicos e de base ecológica em cada região paranaense;

�� apoiar os agentes do mercado de varejo em eventos que promovam a importância dos produtos orgânicos e de base ecológica.

5.3.3 Mercado de Transformação

Entende-se por mercado de transformação o conjunto de agricultores e

organizações envolvidos na produção, processamento e comercialização de produtos

orgânicos. O objetivo é agregar valor e gerar renda e oportunidades de trabalho em toda

a cadeia produtiva.

O que merece ser destacado é a crescente diversidade e quantidade de produtos

orgânicos que têm passado por processos de transformação. A presença das associações e

cooperativas de agricultores familiares é pequena neste mercado, e, quando transformam

os produtos, estes geralmente são destinados ao mercado de venda direta.

Diretriz

Apoiar a agricultura familiar no mercado de transformação de produtos orgânicos

e de base ecológica.

Linhas de Ação

�� criar mecanismos de apoio e incentivo financeiro à transformação da produção de orgânicos e de base ecológica pelos agricultores familiares;

�� implementar ações de capacitação e adequação em processos de transformação de produtos orgânicos e de base ecológica, considerando não somente

36

os processos produtivos, mas também sanitários, de gestão, entre outros,

destinados aos agricultores orgânicos;

�� apoiar e diversificar a rede de intercâmbio de produtos orgânicos e de base

ecológica entre as regiões do Paraná (conforme proposta do mercado de venda

direta), estimulando a aquisição de produtos, insumos etc. para os processos

de transformação.

5.3.4 Mercado Institucional

No mercado institucional, o Estado é um agente fundamental no processo

de comercialização de produtos agroalimentares, atuando por meio de programas

institucionais que operacionalizam políticas públicas voltadas à “política de segurança

alimentar e nutricional”.

Diretriz

Incrementar as ações de programas institucionais.

Linhas de Ação

�� ampliar a alimentação escolar orgânica no Paraná;

�� desenvolver mecanismos de simplificação nos processos de compra

institucionais;

�� priorizar, nos processos de compras institucionais, os produtos orgânicos e

de base ecológica;

�� ampliar programas institucionais para o atendimento de outros consumidores

coletivos, como hospitais, creches, prefeituras, penitenciárias, entre outros.

5.3.5 Mercado Externo

No mercado mundial, existe uma demanda crescente por produtos orgânicos

passíveis de serem produzidos no Paraná. Alguns produtores e empresas brasileiras que

já conseguiram atender às exigências de certificação e padrões de qualidade impostos

pelos países importadores estão exportando regularmente produtos orgânicos beneficiados

e alguns processados para o atendimento desta demanda insatisfeita.

Diretriz

Promover estudos visando à capacidade de exportação de produtos orgãnicos e

de base ecológica.

37DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Linhas de Ação

�� criar uma unidade de informação e divulgação sobre o acesso ao mercado externo de produtos orgânicos, acessível a todos os agentes, em particular à agricultura familiar e suas organizações;

�� estimular as transações mercantis do Mercado Justo e Solidário, desburocratizando os processos de exportação;

�� desenvolver e divulgar uma marca social para os produtos orgânicos e de base ecológica no mercado externo;

�� atualizar e compatibilizar a oferta e a demanda de produtos orgânicos e de base ecológica para atendimento do mercado produtor-consumidor;

�� criar mecanismos de certificação para os padrões internacionais.

5.4 LEGISLAÇÃO

Há a necessidade de fortalecer os fóruns (CEPOrg, Câmara Setorial de Agroecologia

e Agricultura Orgânica do CEDRAF) visando à discussão da legislação para elaborar e

adequar a estrutura legal para a proteção, implementação e manutenção de sistemas

agroecológicos, e divulgar a atual legislação para a produção orgânica (Lei 10.831/03,

Dec. 6.323/07 e Instruções normativas) e as demais legislações pertinentes.

Diretriz

Apoiar a formatação de uma legislação estadual para os produtos orgânicos e de

base ecológica.

Linhas de Ação

�� apoiar a construção de legislação em todos os níveis de governança, municipal, estadual e federal, em relação aos sistemas de produção, transformação e comercialização, além de financiamento da atividade;

�� desenvolver processos para a criação de legislação que contemple os sistemas agroecológicos em áreas de mananciais de abastecimento público, nas unidades de conservação e entornos, APP e reserva legal;

�� propor adequações na legislação do ICMS Ecológico, para que parte dos recursos que se destinam às administrações municipais seja aplicada em programas municipais de incentivo à agroecologia;

�� apoiar e propor uma legislação estadual que crie uma marca para os produtos orgânicos e de base ecológica.

38

5.5 ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES E CONSUMIDORES

Criar oportunidades às comunidades urbanas e rurais e suas representações

coletivas para os trabalhos de base ecológica e que potencializam os valores locais.

5.5.1 Organização dos Produtores

Os trabalhos serão direcionados aos agricultores familiares a fim de que atuem

segundo os princípios agroecológicos, tendo como objetivo o acesso à cidadania.

Diretriz

Apoiar as organizações dos agricultores familiares de base ecológica.

Linhas de Ação

�� fomentar os processos que visem à organização dos agricultores de base ecológica relacionados com a produção, transformação, acondicionamento, transporte e comercialização dos produtos;

�� apoiar a organização dos agricultores familiares em suas reivindicações por melhorias estruturais para o meio rural;

�� promover a inserção dos debates sobre os princípios da agroecologia como um instrumento de organização nos territórios.

5.5.2 Organização dos Consumidores

Um dos principais desafios de um programa de Estado em agroecologia é tornar

o consumidor protagonista e articulador de mudanças. Neste sentido, o conhecimento, a

educação para o consumo e a conscientização sobre a importância da agricultura orgânica

e de base ecológica tornam-se fundamentais.

Diretriz

Promover e apoiar a criação de grupos de consumidores na dimensão educativa

da cadeia produtiva e alimentar dos produtos orgânicos e de base ecológica.

Linhas de Ação

�� motivar o consumidor a participar de processos organizativos direcionados ao desenvolvimento da agricultura orgânica e de base ecológica, apoiando os grupos já constituídos e estimulando a formação de novos;

39DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

�� fortalecer as ações de educação para o consumo responsável, visando ao aumento da comercialização de produtos e serviços e ao esclarecimento sobre a qualidade dos produtos orgânicos e de base ecológica;

�� implementar programas de educação para o consumo como tema nas escolas do ensino fundamental, conforme previsto nos parâmetros curriculares nacionais do Ministério da Educação;

�� apoiar a organização e o funcionamento de associações de consumidores no intuito de facilitar a integração entre comunidades rurais e urbanas como uma ferramenta de educação ambiental e agroecológica;

�� promover a educação para o consumo responsável em locais de venda de produtos alimentares, visando à conscientização dos consumidores sobre os impactos socioambientais dos seus hábitos de consumo;

�� prover recursos específicos para a educação e informação dos consumidores, inclusive com apoio às atividades de educação informal desenvolvidas pelas entidades civis de consumidores e campanhas públicas sobre os direitos dos consumidores;

�� realizar estudos sobre estratégias de consumo responsável e de comunicação para aproximar produtores e consumidores;

�� sistematizar e divulgar experiências concretas de comercialização e consumo justo e solidário;

�� criar processos de formação e intercâmbio para que os procedimentos de autogestão e as estratégias comerciais dos empreendimentos sejam aprimorados;

�� estimular as organizações de consumidores para que assumam o desafio de construir relações mais conscientes, justas e solidárias nos mercados.

40

6 GESTÃO E FINANCIAMENTO

6.1 GESTÃO

O Programa Estadual de Agroecologia tem como princípio a gestão democrática,

participativa e socializante, e considera a transversalidade da atividade. A viabilidade

do programa é importante para a sua transformação em uma política pública no Estado

do Paraná.

No processo de gestão ocorrerá uma interlocução constante com a Câmara

Setorial de Orgânicos e Agroecologia, do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural

e da Agricultura Familiar (CEDRAF), considerando-a como instância de governança.

Seguem outros princípios de gestão:

�� reconhecimento de que as diversas experiências desenvolvidas ao longo destes anos, pelos agricultores e técnicos, são fundamentais na formatação do programa estadual;

�� reconhecimento das organizações deste segmento como atores sociais de representação de categorias das diversas formas dos sistemas de produção orgânica e de base ecológica;

�� reconhecimento das diversas formas de certificação como análise de conformidades existentes no Estado do Paraná;

�� reconhecimento da Comissão de Produção Orgânica (CPOrg), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), como um instrumento legal que regulamenta a atividade de produção em todo o Estado.

A unidade de gestão do programa estará localizada internamente na SEAB e terá

os seguintes instrumentos de gestão:

a) Plano de Ação Anual;

b) Orçamento Anual do Programa;

c) Formulário de Apresentação de Projetos;

d) Normas de Financiamento do Programa;

e) Definição de Indicadores de Avaliação do Programa.

41DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

6.2 FINANCIAMENTO

Para financiar novas ações técnicas e de suporte à atividade, o Programa Paraná

Agroecológico pode:

�� incentivar a continuidade de programas de financiamento às atividades produtivas dos agricultores, a exemplo das linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF);

�� promover a construção de novos fundos de financiamento para as atividades orgânicas e de base ecológica em todos os níveis de governança – municipal, estadual e federal;

�� gestionar junto às agências promotoras dos fundos de financiamento para que disponibilizem recursos aos projetos e estudos que atendam à cadeia produtiva orgânica e agroecológica, a exemplo do Fundo Setorial dos Recursos Hídricos, do ICMS Ecológico, dos Créditos de Carbono, de Florestamento e Reflorestamento, entre outros;

�� promover mecanismos legais para que os agricultores de base ecológica sejam recompensados no cumprimento da legislação do uso dos recursos naturais de sua propriedade;

�� atuar no estabelecimento de ações para a criação de fundos, com envolvimento do mercado consumidor e dos agricultores familiares de base ecológica;

�� promover a inserção dos temas de financiamento das atividades em eventos técnicos de formação e capacitação.

42

GLOSSÁRIO

Agricultura de Base Ecológica - é aquela que emprega os princípios da

agroecologia. Nela não são substituídos apenas os insumos químicos convencionais por

aqueles “alternativos”, “ecológicos” ou “orgânicos”, mas procura-se trabalhar a agricultura

de forma sustentável. Não são seguidas normas, apenas princípios da agroecologia, e a

produção não é fiscalizada. Assim, na comercialização há uma relação de confiança,

entre o consumidor e o produtor, de que o produto é saudável, cultivado de forma

ambientalmente correta, econômica e socialmente justa.

Agricultura Biodinâmica - desenvolvida por Rudolf Steiner, tem como base

central o homem e a união deste com o espírito humano e cósmico. Todos os elementos

ambientais agrícolas são integrados, tais como culturas do campo e da horta, pastos,

fruticultura, culturas permanentes, florestas, capões arbustivos, mananciais hídricos e

várzea, entre outros. A fertilidade permanente nasce a partir da ordenação do organismo

agrícola em torno desses elementos, atingindo-se a saúde do solo, das plantas, dos

animais e dos seres humanos. Os preparados são utilizados no incremento, dinamização

e capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização

química, transmutação ou transubstanciação do mineral morto, ou harmonização e

adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida. Esses preparados apoiam a

planta a ser transmissora, receptora e acumuladora do intercâmbio da Terra com o Cosmo

(SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA, 2010).

Os cultivos podem ser acompanhados por técnicos de certificadoras, como o

IBD, recebendo um selo de certificação como produto biodinâmico. O IBD tem seus

fundamentos em princípios humanistas, incentivando o comprometimento social dos

projetos certificados, e a legislação ambiental, promovendo a recuperação e a conservação

do meio ambiente (IBD, 2010). Este movimento é ligado à IFOAM e tem uma forte atuação

na certificação de produtos orgânicos.

Agricultura Biológica - é um sistema agrícola que procura fornecer ao consumidor

alimentos frescos, saborosos e autênticos, respeitando os ciclos de vida naturais. Baseia-se

numa série de objetivos e princípios, assim como em práticas comuns desenvolvidas

para minimizar o impacto humano sobre o ambiente e assegurar que o sistema agrícola

funcione da forma mais natural possível.

43DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

De acordo com a IFOAM (2010), baseia-se nos seguintes princípios: a) saúde,

mantendo e melhorando a qualidade dos solos, assim como a saúde das plantas, dos

animais, dos seres humanos e do planeta como organismo uno e indivisível; b) ecologia,

com base nos sistemas ecológicos vivos e seus ciclos, trabalhando com eles, imitando-os

e contribuindo para a sua sustentabilidade; c) justiça, fundamentada em relações justas no

que diz respeito ao ambiente comum e às oportunidades de vida; d) precaução, devendo

ser gerida de uma forma cautelosa e responsável, de modo a proteger o ambiente, a saúde

e o bem-estar das gerações atuais e daquelas que hão de vir. As práticas incluem:

�� rotação de cultura como um pré-requisito para o uso eficiente dos recursos locais;

�� limites muito restritos ao uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, antibióticos, aditivos alimentares e auxiliares tecnológicos, entre outros;

�� proibição absoluta do uso de organismos geneticamente modificados;

�� aproveitamento dos recursos locais, mediante, por exemplo, o uso do estrume animal como fertilizante, ou pela alimentação dos animais com produtos da própria exploração;

�� escolha de espécies vegetais e animais resistentes a doenças e adaptadas às condições locais;

�� criação de animais em liberdade e ao ar livre, fornecendo-lhes alimentos produzidos segundo o modo de produção biológico;

�� utilização de práticas de produção animal apropriadas a cada espécie.

(AGRICULTURA BIOLÓGICA, 2010).

Os agricultores, transformadores e importadores biológicos devem cumprir

regulamentos para usar o rótulo ou logotipo da União Europeia para a agricultura biológica

ou distinções nacionais equivalentes, cuja qualidade é assegurada por um sistema de

inspeção.

Agricultura Natural - esta forma de agricultura tem Masanobu Fukuoka como seu

precursor e defensor, com experiências desenvolvidas durante mais de 30 anos. Como

estratégia deste tipo de agricultura, o homem deve intervir minimamente nos processos

da natureza, o que se traduz, por exemplo, na ausência de aração, das capinas, do uso

de fertilizantes e pesticidas. Esta proposta dispensa em grande parte um planejamento

centralizado do processo produtivo para realizar práticas de manejo, defendendo uma

“agricultura da natureza”. Fundamenta-se na “sucessão natural” de espécies (cereais,

leguminosas e frutíferas), as quais são produzidas sem o aporte de insumos externos e

sem alterar a base dos ecossistemas locais (PAULUS, 2010).

Agricultura Orgânica - é um conjunto de processos de produção agrícola que parte

do pressuposto de que a fertilidade é função direta da matéria orgânica contida no solo.

44

A ação de microrganismos presentes nos compostos biodegradáveis existentes ou

colocados no solo possibilita o suprimento de elementos minerais e químicos necessários

ao desenvolvimento dos vegetais cultivados. Complementarmente, a existência de uma

abundante fauna microbiana diminui os desequilíbrios resultantes da intervenção humana

na natureza. Alimentação adequada e ambiente saudável resultam em plantas mais

vigorosas e mais resistentes a pragas e doenças (ORMOND et al., 2002).

A agricultura orgânica tem normas a serem seguidas, tais como os produtos

permitidos, período de transição do convencional para o orgânico, barreiras para proteger

da produção convencional, entre outras. Assim, para o produto ser orgânico ele precisa

ter um selo, proveniente do processo de certificação realizado por empresas cadastradas

para tal.

Entre as agriculturas “alternativas”, a orgânica tem a sua cadeia produtiva bem

definida, desde as questões agronômicas até as comerciais.

Agricultura Sustentável - pode ser definida como uma agricultura ecologicamente

equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, humana e adaptativa (REIJNTJES

et al., 1992).

Agroecologia - segundo Altieri (2010), é uma ciência ou disciplina científica,

com um campo de conhecimento de caráter multidisciplinar, que apresenta uma

série de princípios, conceitos e metodologias que permitem estudar, analisar, dirigir,

desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de possibilitar a implantação e

o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade. A

agroecologia proporciona então as bases científicas para apoiar o processo de transição

para uma agricultura sustentável nas suas diversas manifestações e/ou denominações.

Agroecossistemas - segundo Caporal e Costabeber (2010), são as unidades

fundamentais para o estudo e planejamento das intervenções humanas em prol do

desenvolvimento rural sustentável. Nestas unidades geográficas e socioculturais é que

ocorrem os ciclos minerais, as transformações energéticas, os processos biológicos e

as relações socioeconômicas, constituindo o espaço onde se pode buscar uma análise

sistêmica e holística do conjunto dessas relações e transformações.

Conversão - inicia-se em um ponto de partida no sistema em questão a partir da

decisão dos atores envolvidos com a produção. Exige-se a elaboração de um diagnóstico

que subsidia um planejamento de conversão para alcançar o ponto de chegada da

conversão. Na prática, esse ponto ocorre quando a propriedade cumpriu as normas,

prazos e legislação em vigor. É o momento em que a produção ou a propriedade inteira

está apta a receber o selo orgânico, se assim seu gerente quiser ou necessitar. O ponto de

chegada depende exclusivamente dos anseios, potencialidades, relações e limitações de

quem está promovendo o processo de transição para a agroecologia.

45DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Desenho de Agroecossistemas - está baseado na aplicação dos seguintes

princípios ecológicos: a) aumentar o reciclado de biomassa e otimizar a disponibilidade

e o fluxo balanceado de nutrientes; b) assegurar condições do solo favoráveis para o

crescimento das plantas, com o manejo da matéria orgânica, aumentando a atividade

biótica do solo; c) minimizar as perdas devidas a fluxos de radiação solar, ar e água

mediante o manejo do microclima, colheita de água e o manejo de solo por meio do

aumento na cobertura; d) diversificar específica e geneticamente o agroecossistema

no tempo e no espaço; e) aumentar as interações biológicas e os sinergismos entre os

componentes da biodiversidade, promovendo processos e serviços ecológicos-chave

(REIJNTJES, C. et al., 1992).

Enfoque Agroecológico - para Caporal e Costabeber (2010), corresponde à

aplicação de conceitos e princípios da Ecologia, Agronomia, Sociologia, Antropologia,

Ciência da Comunicação, Economia Ecológica e outras tantas áreas do conhecimento, no

redesenho e no manejo de agroecossistemas que sejam mais sustentáveis através do tempo.

Trata-se de uma orientação cujas pretensões e contribuições vão mais além

de aspectos meramente tecnológicos ou agronômicos da produção agropecuária,

incorporando dimensões mais amplas e complexas que incluem variáveis ou dimensões

de primeiro nível (social, ambiental e econômica), segundo nível (política e cultural) e

terceiro nível (ética).

Permacultura - para Paulus (2010), é a prática de uma “agricultura da mente”, no

sentido de ser pensada e planejada conscientemente, tanto em termos espaciais quanto

de evolução da sucessão ecológica. Destaca-se, na permacultura:

�� noção de planejamento da permacultura em dois níveis: espacial (zona, setor, fronteira, elevação) e ecológico (diversidade, polivalência, produção de energia);

�� preocupação em usar as fontes de energia de modo a obter a melhor eficiência, seja ela de dentro do sistema ou de fora;

�� inclusão dos animais no sistema, como forma de aproveitamento de pasto e elemento de diversidade da produção;

�� reciclagem de nutrientes e resíduos dentro do sistema;

�� não limitação das funções do meio rural à produção primária: o objetivo, no sentido amplo, é desenvolver uma síntese autossustentável de habitações, paisagismo e espécies animais;

�� não restrição da proposta de intervenção exclusivamente ao espaço físico rural, ampliando para o planejamento de cidades novas e reorganização das já existentes;

46

�� indicação de estratégias de desenvolvimento local ou regional que promovam a estabilidade regional e a evolução do comércio regional, reduzindo a dependência de propriedades ou energias distantes.

Pesquisa Agroecológica - seus objetivos são a otimização do equilíbrio do

agroecossistema como um todo, o que significa a necessidade de uma maior ênfase no

conhecimento, na análise e na interpretação das complexas relações existentes entre as

pessoas, os cultivos, o solo, a água e os animais.

Transição Agroecológica - pode ser entendida como um processo gradual e

multilinear de mudança através do tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas,

que, na agricultura, tem como meta a passagem de um modelo agroquímico de produção

(que pode ser mais ou menos intensivo no uso de inputs industriais) a estilos de agriculturas

que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica. Essa ideia de mudança se refere

a um processo de evolução contínuo e crescente no tempo, porém sem ter um momento

final determinado. Porém, por se tratar de um processo social, isto é, por depender da

intervenção humana, a transição agroecológica implica não somente a busca de uma maior

racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada

agroecossistema, mas também uma mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em

relação ao manejo e conservação dos recursos naturais (CAPORAL e COSTABEBER, 2010).

O conceito de transição é fundamental, pois, segundo o enfoque agroecológico,

não se trata de implementar uma nova revolução, tampouco de adotar modelos de

conversão (como nos orgânicos). O que se busca é um processo de transição, de construção

de tipos/formas de agriculturas mais sustentáveis.

Pode-se classificar os níveis de transição agroecológica em:

1. incremento da eficiência das práticas convencionais para reduzir o consumo

de inputs;

2. substituição de insumos e práticas convencionais por “alternativas”;

3. redesenho de agroecossistemas para que funcionem com base em um novo

conjunto de processos ecológicos e sociais (GLIESSMAN, 2001).

47DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

REFERêNCIAS

AGRICULTURA BIOLÓGICA. O que é a agricultura biológica. Disponível em: <http://

ec.europa.eu/agriculture/organic/organic-farming/what-organic_pt>. Acesso em: 05 mar. 2010.

ALTIERI, M. Biodiversidad, agroecología y manejo de plagas. Valparaiso, Chile: CETAL, 1992.

ALTIERI, M. Diversification of agricultural landscapes: a vital element for pest control in

sustainable agriculture. In: EDENS, T. C.; FRIDGEN, C.; BATTENFIELD, S. L. (Ed.). Sustainable Agriculture & Integrated Farming Systems. East Lansing, Michigan: Michigan State University

Press, 1985. p. 166-184.

ALTIERI, M. Conceitos do termo agroecologia. Disponível em: <http://www.agroecologia.inf.

br/conteudo.php?vidcont=34>. Acesso em: 05 mar. 2010.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico. Disponível

em: <http://www.ufrgs.br/agroecologiabr/conceitos_de_agroecologia.htm>. Acesso em:

03 mar. 2010.

CONWAY, G. R. Agroecosystems analysis. Agricultural Administration, Essex, v. 20, n. 1,

p. 31-55, 1985.

EDENS, T. C.; FRIDGEN, C.; BATTENFIELD, S. L. (Ed.). Sustainable Agriculture & Integrated Farming Systems. East Lansing, Michigan: Michigan State University Press, 1985.

EMBRAPA. Marco referencial em agroecologia / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

– Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006.

FRANCIS, C. et al. Agroecology: the ecology of food systems. Journal of Sustainable Agriculture,

[S.l.}, v. 22, n. 3, p. 99-118, 2003.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 2. ed. Porto

Alegre: Editora da UFRGS, 2001.

GLIESSMAN, S. R. (Ed.). Agroecosistemas con enfasis en el estudio de tecnologia agricola tradicional. Cardenas, México: Colegio Superior de Agricultural Tropical, 1978.

GLIESSMAN, S. R. Economic and ecological factors in designing and managing sustainable

agroecosystems. In: EDENS, T. C.; FRIDGEN, C.; BATTENFIELD, S. L. (Ed.). Sustainable Agriculture & Integrated Farming Systems. East Lansing, Michigan: Michigan State University

Press, 1985. p. 56-63.

48

HERNANDEZ XOLOCOTZI, E. (Ed.). Agroecosistemas de Mexico: contribuciones a

la ensenanza, investigacion, y divulgacion agricola. Chapingo, Mexico: Colegio de

Postgraduados, 1977.

IBD. Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural: quem somos. Disponível em: <http://

www.ibd.com.br/Info_Default.aspx?codigo=quem>. Acesso em: 02 mar. 2010.

IFOAM. INTERNATIONAL FEDERATION OF ORGANIC AGRICULTURE MOVIMENTS.

Princípios da agricultura biológica. Disponível em: <http://www.ifoam.org/about_ifoam/pdfs/

POA_folder_portugese.pdf>. Acesso: em 03 mar. 2010.

KLAGES, K. H. W. Crop ecology and ecological crop geography in the agronomic curriculum.

Journal of the American Society of Agronomy., v. 20, p. 336-353, 1928.

MDIC/SECEX. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio/Secretaria de Comércio

Exterior. Exportação de produtos orgânicos - agosto de 2006 a junho de 2010. Disponível

em: <http://www.mdic.gov.br>. Acesso em: ago. 2010.

ORMOND, J.G.P. et al. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES Setorial, Rio

de Janeiro, n. 15, p. 3-34, mar. 2002.

PAULUS, G. Do padrão moderno à agricultura alternativa: possibilidades de transição.

Dissertação de mestrado em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina,

1999. Disponível em: <http://portal.mda.gov.br/portal/saf/arquivos/view/ater/teses/Do_

Padr%C3%A3o_Moderno_%C3%A0_Agricultura_Alternativa.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2010.

REIJNTJES, C. et al. Farming for the future: an introduction to low-external-input and sustainable

agriculture. London: The Macmillan Press, 1992.

SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA. Agricultura biodinâmica. Disponível em: <http://sab.org.br/

agric-biod/>. Acesso em: 01 mar. 2010.

WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) (2010) The World of Organic Agriculture - Statistics and Emerging Trends 2010. IFOAM, Bonn, and FiBL, Frick.

ANEXOS

51DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

ANEXOS

CONSTITUIÇÃO DA CÂMARA SETORIAL DE AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA, VINCULADA AO CONSELHO ESTADUAL DE

DESENVOLVIMENTO RURAL E DE AGRICULTURA FAMILIAR

O Estado do Paraná vem conquistando, nos últimos seis anos, uma privilegiada posição

no cenário da produção orgânica de alimentos.

Neste período, o segmento cresceu a taxas entre 20% e 30% ao ano, chegando a 95 mil

toneladas na safra 2005/2006, com a participação de 6.520 produtores cadastrados pela

EMATER-PR, que cultivaram área de aproximadamente 14.000 hectares.

Esta produção atende tanto ao mercado externo, notadamente com o soja, café, açúcar

mascavo, cachaça, bebidas aromáticas, como ao mercado interno, com o fornecimento

de frutas, oleráceas, plantas medicinais e carnes.

Paralelamente à geração de emprego e renda, principalmente junto à agricultura familiar,

as práticas e métodos adotados na produção orgânica de alimentos contribuem para a

preservação do meio ambiente e da saúde de agricultores e consumidores, promovem

inclusão social e valorizam culturas, tecnologias e saberes tradicionais.

Entretanto, a produção orgânica de alimentos, de forma semelhante a qualquer outra

atividade econômica, viabiliza-se quando há o efetivo envolvimento de uma extensa

gama de organizações, de profissionais, de bens e de serviços.

Assim, o desenvolvimento de pesquisas apropriadas, a participação da extensão rural,

a formação de técnicos de nível médio e superior com especialização nas áreas da

agroecologia e da agropecuária orgânicas, a capacitação contínua de agricultores, a

permanente disponibilização de crédito, o incentivo ao cooperativismo, ao associativismo

e ao trabalho das organizações não-governamentais são alguns exemplos de ações

fundamentais para o contínuo e seguro crescimento da agricultura orgânica no Estado.

Ademais, apesar dos números apresentados atualmente pela agricultura orgânica no

Paraná, existem vários entraves que precisam ser urgentemente discutidos e solucionados,

52

tais como a geração de tecnologias apropriadas à produção orgânica e questões ligadas

à certificação e comercialização da produção.

Além destes gargalos, há carência de um plano estadual voltado ao desenvolvimento

da agricultura orgânica e de uma rede que congregue os vários atores envolvidos com o

setor e que hoje estão agindo de forma desarticulada, muitas vezes duplicando atividades,

perdendo-se recursos e informações valiosos.

Parece evidente que a solução dessas questões só será possível se organizações

governamentais e não-governamentais envolvidas com a produção orgânica de alimentos

contarem com um foro oficial visando à promoção dos necessários debates sobre o tema,

à formalização de um plano de metas de longo prazo para o setor e à formação de uma

rede de integração entre pessoas e instituições que atuam direta ou indiretamente na

agricultura orgânica.

Dentre as várias alternativas possíveis, a mais viável parece-nos a constituição

de uma Câmara Setorial vinculada ao Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural

e Agricultura Familiar, uma vez que a agricultura orgânica e a agricultura familiar

encontram-se intimamente correlacionadas,

Assim, solicitamos aos conselheiros do CEDRAF que autorizem a alocação da

Câmara Setorial de Agroecologia e de Agricultura Orgânica no âmbito deste Conselho

Estadual.

53DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

CONSELHO ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL E AGRICULTURA FAMILIAR - CEDRAF

CÂMARA SETORIAL DE AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA

REGIMENTO INTERNO

CAPÍTULO I

DA DENOMINAÇÃO E COMPETêNCIA

Artigo 1.o - O Decreto Estadual n.o 272, de 07 de Março de 2007, em seu artigo 5.o, institui, no âmbito do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (CEDRAF), a Câmara Setorial de Agroecologia e Agricultura Orgânica, doravante referida simplesmente como Câmara Setorial.

§ 1.o - A Câmara Setorial terá como sede e foro a cidade de origem de seu Gerente.

§ 2.o - A Câmara Setorial tem por finalidade propor ações voltadas para o desenvolvimento da agroecologia e da rede de produção orgânica, constituindo-se em um espaço de caráter multissetorial, voltado aos debates acerca das questões mais relevantes para o setor no Estado do Paraná.

Artigo 2.o - À Câmara Setorial compete:

�� Congregar e integrar todos os atores e todas as instituições governamentais e não-governamentais representativas do setor;

�� Acompanhar permanentemente os cenários interno e externo da agroecologia e da agricultura orgânica, de modo a propor as metas e as diretrizes necessárias ao desenvolvimento do setor;

�� Contribuir, sempre que solicitado, na formulação de políticas públicas voltadas à valorização e expansão do setor;

�� Propor ações técnicas, políticas e legislativas que sejam necessárias à constante atualização do setor e à manutenção de sua competitividade interna e externa;

�� Representar, sempre que solicitado, a agroecologia e a agricultura paranaenses;

�� Emitir pareceres relacionados com a agroecologia e a agricultura orgânica, quando solicitado pelo CEDRAF;

�� Auxiliar na proposição de pesquisas de interesse para o setor, bem como facilitar a transferência de tecnologias apropriadas para os sistemas de produção e transformação;

�� Estudar e propor medidas que assegurem uma comercialização justa dos produtos oriundos da produção orgânica e agroecológica;

�� Estudar e propor medidas que possibilitem e incentivem o consumo de alimentos orgânicos, bem como o consumo responsável de alimentos;

�� Desempenhar outras atividades correlatas.

54

CAPÍTULO II

DA COMPOSIÇÃO DA CÂMARA SETORIAL

Artigo 3.o - A Câmara Setorial será constituída por um representante titular e um suplente

das seguintes entidades:

Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB

Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI

Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA

Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Negócios do Mercosul - SEIM

Secretaria de Estado da Educação - SEED

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA/DFA

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA

Ministério do Meio Ambiente - MMA

Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA

Universidade Federal do Paraná - UFPR

Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR

Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR

Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER

Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES

Centro Paranaense de Referência em Agroecologia - CPRA

Centrais de Abastecimento do Paraná S/A - CEASA

Empresa Paranaense de Classificação de Produtos - CLASPAR

Secretaria Municipal de Abastecimento de Curitiba - SMAB

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná - FETAEP

Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar - FETRAF

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE

Agência de Promoção de Exportações do Brasil - APEX

Associação de Consumidores de Produtos Orgânicos do Estado do Paraná - ACOPA

Rede de Agroecologia Ecovida

Itaipu Binacional

Via Campesina

Instituto Maytenus

Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia

Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor - CAPA

55DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Associação Central de Produtores Rurais Ecológicos - ACEMPRE

Associação de Produtores Orgânicos de Londrina - APOL

Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Orgânica - ASPTA

Fundação para o Desenvolvimento Econômico e Rural do Centro-Oeste do Paraná - RURECO

Associação das Famílias de Agricultores Experimentadores em Agroecologia no Bioma

da Floresta de Araucária - ECOARAUCÁRIA

Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural - ASSESSOAR

Banco do Brasil

Sistema de Crédito Cooperativo - SICREDI

Banco Regional de Desenvolvimento Econômico e Social - BRDE

Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária - CRESOL

Organização das Cooperativas do Estado do Paraná - OCEPAR

§ 1.o - Os membros titulares e suplentes de que trata o Artigo 3º serão indicados pelas

suas respectivas entidades.

§ 2.o - Em caráter extraordinário, integrarão, a convite da Câmara Setorial, outras entidades

públicas ou privadas, conforme a especificidade do(s) assunto(s) a ser(em) tratados.

§ 3.o - A participação na Câmara Setorial não será remunerada, sendo considerada como

serviço público relevante.

CAPÍTULO III

DA ESTRUTURA DA CÂMARA SETORIAL

Artigo 4.o - A Câmara Setorial será administrada por um Gerente e um Secretário.

Artigo 5.o - O Gerente e o Secretário serão eleitos por aclamação entre os membros da

Câmara, sendo o mais votado eleito Gerente e o segundo mais votado eleito Secretário.

§ Único - O Gerente e o Secretário terão um mandato de 2 (dois) anos, podendo ser

reeleitos.

Artigo 6.o - Aos componentes da Câmara Setorial compete:

I - Gerente da Câmara Setorial:

a) promover as condições necessárias para que a Câmara Setorial cumpra suas atribuições;

b) gerenciar os trabalhos da Câmara Setorial;

c) presidir as reuniões e emitir os documentos da Câmara Setorial;

d) apresentar relatórios e pareceres conclusivos ao titular do CEDRAF sobre cada matéria

submetida para análise;

e) assinar toda a correspondência expedida pela Câmara Setorial, juntamente com o

Secretário.

56

II - Secretário da Câmara Setorial:

a) secretariar as reuniões da Câmara Setorial;

b) lavrar as atas, em conformidade com as exigências legais;

c) encarregar-se da correspondência da Câmara Setorial, assinando toda a documentação

expedida juntamente com o Gerente;

d) encarregar-se da manutenção e ordenamento dos documentos e arquivos da Câmara

Setorial;

e) presidir as reuniões da Câmara Setorial, quando da ausência do Gerente;

f) substituir o Gerente sempre que necessário.

III - Membros da Câmara Setorial:

�� analisar e discutir as matérias submetidas a exames e propor soluções;

�� elaborar documentos e pareceres que subsidiem as decisões do CEDRAF;

�� realizar pesquisas, análises, levantamentos de dados e de informações que subsidiem os debates e as conclusões sobre as matérias em apreciação pela Câmara Setorial;

�� internalizar, no âmbito de sua instituição, a discussão sobre matérias de interesse específico, as conclusões da Câmara Setorial sobre aquelas matérias;

�� levantar questões e sugerir assuntos relevantes para discussão na Câmara Setorial e para análise pelo CEDRAF;

�� indicar instituições e/ou pessoas que possam contribuir na apreciação das matérias submetidas à análise da Câmara Setorial.

CAPÍTULO IV

DO FUNCIONAMENTO DA CÂMARA SETORIAL

Artigo 7.o - A Câmara Setorial terá reuniões ordinárias a cada 60 (sessenta) dias. Ao final

de cada reunião serão definidos a pauta, data e local da próxima reunião.

§ Único - A Câmara reunir-se-á extraordinariamente, por convocação do Secretário

Executivo do CEDRAF e/ou de seu Gerente ou por solicitação da maioria de seus membros,

em que serão exclusivamente tratados os assuntos da ordem do dia.

Artigo 8.o - As assembleias ordinárias e extraordinárias serão realizadas, em primeira

convocação, desde que se verifique a presença de metade mais um dos membros da

Câmara Setorial.

§ Único - Não se atingindo o quórum mínimo de membros previstos neste Artigo, as

assembleias serão realizadas, em segunda convocação, após decorridos 30 (trinta)

minutos do horário marcado para a primeira convocação, com qualquer número de

membros presentes.

57DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Artigo 9.o - Poderão participar das assembleias da Câmara Setorial pessoas que possam

contribuir para o êxito dos trabalhos, a critério do Gerente da Câmara.

Artigo 10 - O membro da Câmara Setorial que, sem justa causa, faltar a três reuniões

consecutivas, ou seis alternadas, perderá seu mandato, sendo automaticamente substituído

pelo seu suplente, ficando a cargo da entidade representada eleger um novo suplente.

Esta nomeação deverá ser comunicada oficialmente e por escrito ao Gerente da Câmara.

Artigo 11 - É permitida a participação dos membros suplentes nas reuniões da Câmara

Setorial, por convite do Gerente ou por indicação do membro titular, com direito a voz,

mas não a voto.

Artigo 12 - São passíveis de medidas disciplinares – de advertência ou suspensão temporária –

os membros que cometerem faltas graves em relação aos deveres regimentais ou aos

demais membros da Câmara Setorial.

Artigo 13 - Toda assembleia ordinária ou extraordinária, mesmo quando não houver

quórum, deverá ser registrada em livro-ata e assinada por todos os participantes.

Artigo 14 - De acordo com as necessidades e/ou para conferir agilidade aos trabalhos da

Câmara Setorial, fica facultada ao Gerente a criação de Grupos de Trabalhos.

CAPÍTULO V

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 15 - A Câmara Setorial é uma entidade sem fins lucrativos, composta por

membros representantes de instituições envolvidas com as atividades relacionadas com

a agroecologia e a agricultura orgânica no Estado do Paraná.

Artigo 16 - A Câmara Setorial terá como área de jurisdição todo o Estado do Paraná.

Artigo 17 - Este Regimento Interno só poderá ser alterado por Assembleia Extraordinária e

desde que as alterações propostas não conflitem com o Regimento Interno do Conselho

Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar - CEDRAF.

Artigo 18 - Este Regimento Interno entrará em vigor na data de sua publicação, após a

devida aprovação pelos membros do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e

Agricultura Familiar - CEDRAF, revogadas as disposições em contrário.

CAPÍTULO VI

DA ASSINATURA DO REGIMENTO INTERNO

Artigo 19 - Por estarem de acordo e compromissados com os Artigos e condições aqui

pactuados, assinam as partes o presente Regimento.

(ASSINATURAS DOS REPRESENTANTES LEGAIS DE TODAS AS INSTITUIÇÕES

QUE ACEITAREM FAZER PARTE DA CÂMARA SETORIAL)

58

ATA DA I REUNIÃO DA CÂMARA SETORIAL DA AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA

Aos vinte e quatro dias do mês de setembro do ano de dois mil e nove, realizou-se a

primeira Reunião da Câmara Setorial da Agroecologia e da Agricultura Orgânica nas

dependências do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA) em Pinhais/PR.

Estiveram presentes: AIRTON DIEGUEZ BRISOLLA (CPRA), MOACIR ROBERTO DAROLT

(IAPAR), MARY STELA BISCHOF (EMATER), VALTER ROBERTO SCHAFFRATH (IFPR),

IVO BARRETO MELÃO (IPARDES), FILIPE BRAGA FARHAT (CPRA), ANDRÉ C. PAULO

(TECPAR), ENIO N. DE GOSS (SEMA), CESAR A. BRUNETTO (SEIM), SERGIO JOÃO

KAUPKA (ASSESOAR), DENILSON DETONI (SISCLAF), ALEXANDRE AUGUSTO RAMOS

DE FARIA (MDA/DFDA/PR), JACI POLI (ASSESSOAR), MANUEL DELAFOULHOUZE

(Estagiário da UFPR), INIBERTO HAMERSCHMIDT (EMATER), AFONSO TAKAO MURATA

(UFPR Litoral), MARCELO PASSOS (AOPA Rede Ecovida), JAIR MAURO PELEGRIN JUNIOR

(MAYTENUS), EDNEI BUENO NASCIMENTO (SEAB), LUIZ FERNADO PACHECO DA

COSTA (Secretário Executivo do CEDRAF/SEAB), CARLOS ALBERTO SALVADOR (DERAL/

SEAB), LUIZ CARLOS TEIXEIRA LOPES (DEAGRO/SEAB). Em seguida compuseram a mesa

o Sr. Ednei Bueno do Nascimento e o Sr. Luiz Fernando Pacheco da Costa, que fizeram

a leitura da Pauta da Reunião com os seguintes assuntos: 1) Histórico da Constituição da

Câmara Setorial de Agroecologia e Agricultura Orgânica - Luiz Fernando P. Costa; 2) Eleição

do Gerente e do Secretário da Câmara Setorial - Luiz Fernando P. Costa; 3) Ato Oficial

de Posse - Luiz Fernando P. Costa; 4) Apresentação, Discussão e Votação do Programa

Paraná Agroecológico - Ednei Bueno do Nascimento;. 5) Expectativas dos Integrantes

quanto ao Funcionamento e Funções da Câmara Setorial; 6) Recursos para Viabilizar a

Câmara Setorial no Deslocamento e Hospedagem dos Componentes Residentes em Outras

Localidades; 7) Definir Formato das Reuniões, se Estadual ou Regional ou se Rotativas nas

Regiões do Estado; 8) Composição da Câmara Setorial; 9) Protocolo de Entrada de Novas

Entidades; 10) Formas de Divulgação das Ações da Câmara Setorial; 11) Apresentação do

Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) - Ivo Barreto Melão.

O Sr. Luiz Fernando solicitou que fosse incluído mais um item na Pauta: Apresentação

do Projeto de Agroecologia do Território do Sudoeste. O projeto foi recomendado pelo

grupo de análise para a Reunião do CEDRAF e orientado a encaminhar para esta Câmara

Setorial para analisar e aprovar, e então ser encaminhado posteriormente para análise no

CEDRAF. Por aprovação do grupo presente mais este item foi incluído na pauta.

Em seguida foi passado para o primeiro item da pauta, onde o Sr. Luiz Fernando fez uma

breve apresentação sobre o histórico da constituição desta Câmara e sua importância para

subsidiar os trabalhos no CEDRAF.

59DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Passou-se para o próximo item, que é Eleição do Gerente e do Secretário da Câmara

Setorial de Agricultura Orgânica e Agroecologia, onde o Sr. Ednei comentou a importância

de ter um animador na Câmara e sugeriu o Sr. Jair Mauro Pelegrin Junior para assumir

este papel e ser o animador para a instalação desta Câmara. Foi aberta a palavra para os

demais presentes. O Sr. Filipe colocou que é importante que alguém da iniciativa privada

assuma o papel de animador. Se ficar a cargo do Estado, devido ao excesso de trabalho

e à falta de pessoas, acaba ficando prejudicado. O Sr. Iniberto, da EMATER, concordou

e ressaltou que a Maytenus fez os primeiros passos na Agroecologia. Foi comentado

também que a Câmara Setorial transcende os problemas de Agroecologia; é importante

formar uma rede com todos os atores, como professores e alunos das Universidades.

O Sr. Ivo Melão ressaltou que a instalação desta Câmara é fundamental para o Congresso

de Agroecologia. Em seguida o Sr. Jair tomou a palavra e informou que procurou a SEAB

falando dos seus trabalhos, ressaltou que os agricultores e a Assistência Técnica não

conseguem conversar sobre as Políticas Públicas. A Maytenus se propõe e se dispõe

a alavancar este processo, e citou os bons trabalhos feitos no Oeste e no Sudoeste do

Paraná. Colocou que vem para estruturar esta Câmara durante um período, assume

esta coordenação de articular, se aceito é este trabalho a ser feito e está à disposição.

O Sr. Luiz Fernando sugeriu aos participantes que o Sr. Jair assuma a Gerência e o

Sr. Salvador a Secretaria Executiva, ressaltando as experiências do mesmo. Perguntou

se havia alguma outra sugestão, senão que fosse colocado para votação, ficando então

aprovados: Gerente da Câmara Setorial de Agroecologia, Jair Mauro Pelegrin Júnior, e

Secretário Executivo, Carlos Alberto Salvador. Em seguida, foram chamados para comporem

a mesa e, a partir daí, coordenarem esta reunião.

A seguir, o Sr. Ednei fez a apresentação do Programa Paraná Agroecológico, quando fez um

breve resumo sobre o cenário da Agricultura Orgânica e o panorama atual. Falou também

sobre os princípios do Programa, os objetivos, as diretrizes, sobre a pesquisa agroecológica,

comercialização e mercado, legislação, organização dos agricultores e consumidores,

sobre o financiamento da atividade e a gestão do Programa Agroecológico. Finalizando

a apresentação, solicitou a aprovação do documento apresentado para que possam ser

implementadas as ações nele descritas, sendo, desta forma, aberto para discussão. Foram

feitas diversas manifestações, alguns presentes não conheciam o teor do documento e,

diante disso, não se sentiam seguros para votar. Diante das explanações, ficou acertado

que o documento será enviado por e-mail aos presentes para conhecimento e sugestões,

ficando o endereço eletrônico do Salvador como receptador central das anotações e

respostas. Ficou sugerido que cada comentário seja passado para todo o grupo tomar

conhecimento, que o prazo para todas as respostas é até o dia 23 de outubro, para que

60

se possa elaborar o documento final e repassar a todos para votação na próxima reunião,

em novembro, junto com o Congresso de Agroecologia. Finalizado este item da pauta,

o Sr. Jair passou para o outro tema: Expectativas dos Integrantes quanto ao Funcionamento

e Funções da Câmara Setorial. Foi aberto para plenária: o Sr. André Paludo falou sobre

o início desta Câmara, de como começou esta questão, citando que são as mesmas

pessoas que discutem e animam o CPORG (Comitê de Produção Orgânica). O Sr. Iniberto

colocou que na SEAB existem vários programas, mas não tem um programa específico de

Agroecologia, e que a criação desta Câmara pode resgatar isso, buscando a captação de

recursos para aplicação no campo. Sugere que sejam indicados representantes definidos

para participarem das reuniões. O Sr. Filipe colocou que a estrutura da SEAB está cada

vez mais enxuta e com dificuldade de trabalhar. Como foi criado o CPRA, que é cem por

cento agroecologia, é favorável que se centralize tudo no CPRA. Citou que o CPRA sente

falta de pessoa que capte recursos, acha que o Sr. Salvador deveria ficar lotado no CPRA,

que acha importante que se fortaleça a Instituição no Estado. A Sra. Mari Stela, da EMATER,

fala que a expectativa quanto a esta Câmara é que é o momento de fazer integração com

todas as instituições governamentais e não-governamentais. O Sr. Airton disse que o Filipe

prega que não se façam trabalhos paralelos ao CPRA. Defende a formação de uma grande

rede, e a integração desta rede é através desta Câmara. Ednei, em sua fala, ressalta que

é importante centralizar as Políticas Públicas e não criar novas políticas. O Sr. Ivo disse

que não tem uma opinião formada quanto ao que o Filipe colocou, mas falou quanto à

necessidade de o Congresso estar no CPRA, se existe um Centro Agroecológico, porque a

coordenação do Congresso não pode estar no CPRA. O Sr. Jaci Poli, em sua fala, ressaltou

a importância da participação rural e dos atores sociais na discussão de políticas públicas.

O Sr. Sérgio falou que foi indicado como Conselheiro no CEDRAF, mas sente uma ausência

de discussão de Agroecologia naquele Conselho. Tem como expectativa que esse espaço

possa funcionar, uma vez que a agricultura familiar tem uma série de dificuldades, como

a comercialização, certificação, e o Paraná não tem políticas específicas. Encerrando-se

este tema, passou-se para a discussão quanto aos recursos para viabilizar a Câmara Setorial

no Deslocamento e Hospedagem dos Componentes Residentes em Outras Localidades.

O Sr. Marcelo Passos, em sua fala, coloca a dificuldade em participar e articular reuniões

por falta de recursos (dinheiro), as entidades estão cada vez com mais dificuldades; sugere

que as datas das reuniões sejam casadas. O Sr. Sérgio, da Assessoar, diz que precisa dar

condições para que a sociedade tenha apoio para participar das reuniões. O Sr. Jair informa

que na SETI foi constituído um fundo, mas a SEAB não possui recursos para despesas. O

Sr. Marcelo ainda colocou duas questões: o Governo criar um Conselho e o Ministério do

Meio Ambiente está aqui para fortalecer a questão quanto ao meio ambiente. O Sr. Luiz

Fernando informou a todos que neste ano foram previstos recursos de R$ 100.000,00 por

61DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

Território para custeio e R$ 50.000,00 para o CEDRAF em Custeio, previsto para 1 ano e

meio. Foi sugerido que, como a Câmara está se instalando agora, para o ano que vem terá

que fazer planejamento para custear as despesas, que por enquanto vai indo conforme as

demandas. O Sr. Jair informou que a Secretaria de Ciência e Tecnologia tem como apoiar

um evento técnico a cada três meses até o valor de R$ 5.000,00, podendo resolver neste

momento estas questões. O Sr. Alexandre esclareceu que dificilmente poderá liberar este

tipo de recursos. Encerrando-se este tema, passou-se para a questão de definir o formato

das reuniões, se estadual ou regional, ou se rotativas nas regiões do Estado, em que o Sr.

Marcelo defende a rotatividade das reuniões, dizendo que a participação é mais positiva,

pois tem-se a oportunidade de conhecer as propriedades no interior. O Sr. Jaci Poli contou

que na Câmara Temática do Sudoeste as reuniões são rotativas, a entidade do município

faz o intercâmbio, e nestas reuniões descobriu-se que existem dois tipos de agroecologia

para o agricultor: a das organizações e a governamental. O Sr. Jair ressaltou que hoje existe

consenso quanto à questão de reuniões rotativas e perguntou qual seria a abrangência: para

todo o Estado ou somente a Região. Outra possibilidade seria uma reunião em Curitiba,

Londrina e Cascavel e, depois, com todo o Estado, mas aí a questão seriam os recursos.

O Sr. Airton ressalta que o objetivo das reuniões rotativas é que todos possam participar.

O Sérgio sugere que se centralize, uma vez que há dificuldade de recursos. Se for feito na

região, terá que ter um Fórum para trazer para Reunião Geral. Em seguida passou-se para a

Composição da Câmara Setorial. A Sra. Mari Stela perguntou qual o tamanho desta Câmara,

ao que foi respondido que todas as organizações têm livre acesso de participarem. O Sr.

Salvador listou as entidades que fazem parte do regimento, o Sr. Luiz Fernando informou

que foi enviado ofício a todas, solicitando a indicação de um representante titular e um

suplente. Algumas já responderam, outras ainda não. Foi perguntado se poderia ainda

incluir a COPAFI, SISCLAF e IAP. Respondeu-se que o regimento pode ser rediscutido e

incluídas as entidades; o Sr. Sergio coloca que a composição deve ser justa e paritária,

teria que dar uma olhada nesta lista, sugeriu que uma única entidade represente as demais,

como, por exemplo, a UNICLAFES. O Sr. Jaci colocou que a Câmara deve ser enxuta, que

se criem instrumentos para trazer as reivindicações dos agricultores, ao que a Sra. Mari Stela

reforçou falando sobre a questão da funcionalidade, de formar subcâmaras nas regiões,

onde todos discutam as políticas, e tirar duas ou três representações para trazer a esta

Câmara Setorial. Ficou como sugestão de o Sr. Jair, Sr. Salvador e Sr. Luiz Fernando, com

mais 5 ou 6 pessoas, se reunirem e fazer uma nova seleção das entidades representantes.

Esta lista não será fechada. Se alguma representação tiver interesse em participar, terá que

enviar ofício solicitando a participação aos demais membros desta Câmara. Quanto à

forma de divulgação das ações desta Câmara, foi sugerido que cada representante deverá

fazê-la junto à entidade ou organização que representa. Deverá, também, divulgar em

62

jornais das instituições que a Câmara Setorial já foi instituída. O CEDRAF também fica

responsável para fazer a divulgação oficial da instalação desta Câmara.

Em seguida, o Sr. Ivo Melão informou como está a organização do Congresso Brasileiro

de Agroecologia - CBA. A expectativa é de 3.000 inscrições, já tendo sido feitas até o

momento 1.900 inscrições, mas que tende a superar o número de público participante,

sendo preocupante a questão estrutural e logística para o Congresso. Foram apresentados

1.500 trabalhos, dos quais foram selecionados 1.100 para apresentação no Congresso.

Quanto ao patrocínio, existem 35 entidades e instituições inscritas. Colocou, para o grupo

presente, que precisa de ajuda. Foi solicitado que informe, através de e-mail, que ajuda

específica precisa, onde estão os gargalos que mais necessitam de ajuda.

Após a apresentação do Ivo Melão, o Sr. Jaci Poli fez a apresentação do Projeto de

Agroecologia do Território Sudoeste, em que solicitava a aprovação desta Câmara para

encaminhar ao CEDRAF. O grupo presente, após a apresentação, solicitou que gostaria

de ter conhecimento do parecer do Grupo de análise anterior, mas também chegou-se

ao consenso de que o projeto deverá ser melhor escrito e explicitadas as ações com mais

transparência e clareza, ficando, desta forma, uma nova apresentação deste Projeto para a

próxima reunião desta Câmara, uma vez que este ano não será mais contratado pelo MDA.

Encerrou-se, assim, a reunião.

Sem mais, eu, Carlos Alberto Salvador, redigi a presente ata, que deverá passar pela análise,

correção e aprovação dos Conselheiros.

ENCAMINHAMENTOS:

�� Enviar por e-mail o Programa Paraná Agroecológico;

�� Enviar a ata a todos os presentes;

�� Enviar a relação dos participantes com endereços eletrônicos;

�� Listar as entidades para participarem da Câmara Setorial e enviar Ofício.

63DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

CONSULTA PÚBLICA

PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

A Câmara Setorial de Agroecologia e da Agricultura Orgânica submete a consulta

pública, pelo prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de publicação, o Programa Paraná

Agroecológico. O Programa tem como objetivo geral: propor, articular e apoiar ações

fundamentadas nos princípios da agroecologia, visando ao desenvolvimento de políticas

públicas, socioambientais, econômicas e tecnológicas para a agricultura paranaense. O

Programa Paraná Agroecológico foi criado para ser o Programa Estadual de Agroecologia

do Estado do Paraná, sendo encaminhado ao CEDRAF após a consulta pública.

O objetivo da presente consulta pública é permitir a ampla divulgação da proposta do

Programa Paraná Agroecológico.

A presente proposta anexa foi amplamente discutida pelos participantes da Câmara Setorial

da Agricultura Orgânica e Agroecologia, ligada ao Conselho Estadual de Desenvolvimento

Rural e Agricultura Familiar (CEDRAF). A câmara setorial, de forma paritária, congrega

entidades governamentais e da sociedade civil organizada, e tem por finalidade propor

ações voltadas ao desenvolvimento da agroecologia e da rede de produção orgânica,

constituindo-se em um espaço de caráter multissetorial, de debate acerca das questões

mais relevantes para o setor no Estado do Paraná.

Durante o prazo estipulado, o programa encontrar-se-á disponível na página eletrônica

da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB/PR),

www.seab.pr.gov.br, devendo as sugestões ao programa ser encaminhadas para o endereço

eletrônico [email protected].

Curitiba, 16 de junho de 2010.

Jair Pelegrin

Coordenador da Câmara Setorial

Carlos Alberto Salvador

Secretário da Câmara Setorial

64

65DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO

66

67DOCUMENTO-BASE PARA O PROGRAMA PARANÁ AGROECOLÓGICO