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Tomas Rocha e os filhos de Odin José Edilson Silva Filho

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Autor: José Edilson Silva Filho. A Saga de Tomas Rocha e os Filhos de Odin conduz o leitor a mergulhar em uma ficção policial repleta de suspense, mistério, surpresas e muita ação. Após o misterioso sequestro de Junior Bezerra, filho de um importante empresário da Bahia, Tomas e Augusto, dois investigadores entram em uma eletrizante aventura em busca de desvendar o misterioso caso. Descobrem uma grande trama que envolve corrupção no governo, exploração de diamantes e uma rede internacional de intrigas.

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Tomas Rochae os filhos de Odin

José Edilson Silva Filho

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

Coordenação GeralFilipe Cabral

Coordenação EditorialCarolina Fernandes

Diagramação e CapaKelly Cristina

RevisãoEunice dos Santos Sousa Silvestre

Edições ShalomEstrada de Aquiraz – Lagoa do Junco CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE | Tel.: (85) 3308.7402 www.edicoesshalom.com.br | [email protected]

Silva Filho, José Edilson. Tomas Rocha e os filhos de Odin / José Edilson Silva Filho - Aquiraz, CE: Edições Shalom, 2013. 224f. ISBN: 978-85-7784-035-9

1. Literatura brasileira. 2. Ficção e contos brasileiros. I. José Edilson Silva Filho II. Título.

CDD – B869

Índices para Catálogo Sistemático1.Literatura brasileira – B869 2. Ficção e contos brasileiros – B869.3

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Sumario

Capítulo 1A ligação inesperada ................................................................. 11Capítulo 2O começo ........................................................................................ 27Capítulo 3A escolha do escritório .............................................................. 39Capítulo 4Descobertas ...................................................................................49Capítulo 5Sábado ............................................................................................. 57Capítulo 6Descobrindo personagens novos ......................................... 67Capítulo 7O envelope chega as mãos de Luiz Bezerra .....................83Capítulo 8Um sinal de aviso foi acionado ..............................................89

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Capítulo 9Cruzando dados .........................................................................101Capítulo 10Encontre-me nesta noite .......................................................111Capítulo 11Os Filhos de Odin ...................................................................... 125Capítulo 12Alfredo se revela ...................................................................... 137Capítulo 13Ajuda inesperada .......................................................................147Capítulo 14Um encontro perigoso ............................................................ 155Capítulo 15Apenas uma bala .......................................................................167Capítulo 16Mais um sequestro ....................................................................175Capítulo 17Cai a farsa .....................................................................................195Capítulo 18Uma luta decisiva ..................................................................... 205Capítulo 19Um almoço e uma notícia .......................................................213

Tomas Rocha II – A Ordem dos Iscariotes Capítulo 1 .....................................................................................219

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Aos meus pais, que sempre me incentivaram a ler.

Aryana Fideles, primeira pessoa a ler Tomas Rocha e os Filhos de Odin.

À Amanda Cividini e Josefa Alves, as pessoas que mais me incentivaram a publicar este romance.

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Para efeitos da ficção, tomamos liberdade para desenvolver os processos legais na construção

da fase de inquérito até o julgamento.

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Capitulo 1 A ligacao inesperada - -

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Tomas Rocha, saiba que existem mais coisas neste caso, voce esta apenas na ponta do iceberg...

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A ligação inesperada

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Trim, triiim, trim!

– Mais uma vez! Como posso perder a hora! – disse Tomas Rocha.

Trim, triim, triiim!

– Alô?

– Rocha? Onde você está?

– Cara, eu perdi a hora.

– O chefe me ligou e disse que temos mais um caso en-volvendo sequestro... mas, desta vez, envolve gente grande.

– Tudo bem, chego aí em 20 minutos.

Tomas Rocha se ergueu lentamente da cama e foi ao banheiro. Tentou mais uma vez entender o sonho estra-nho que teve: ele corria desesperado molhado pela chu-va fina que caia na cidade. Foi até uma cova que ainda estava aberta e viu o rosto de um jovem inerte olhando para ele como se ainda pedisse ajuda, mesmo estando morto. Quando ele se aproximou para tocá-lo, alguém ligou para o seu telefone celular, e uma voz lhe dizia ape-nas “você perdeu...”, depois disso, ele acordou. Estava pensando no sonho enquanto olhava para sua imagem desbotada pelo ar quente que o chuveiro elétrico deixou no espelho do banheiro. Seu rosto desfigurado lhe fazia pensar no rosto do jovem do último caso que ele havia investigado, ele seguia as pistas de forma brilhante, mas a vítima já estava morta.

Tomas Rocha era um investigador da polícia da cida-de de Salvador, era especialista em solucionar sequestros e sociedades secretas. Era alto, cabelos negros, rosto jo-

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vial e pele clara. Era amigo de seu colega de trabalho, Au-gusto, um pouco mais novo que Tomas, moreno, filho de uma família de comerciantes e rico, mas apaixonado por investigação. Os dois trabalhavam juntos há certo tempo e já haviam passado por várias situações perigosas, mas experimentaram que a amizade e o companheirismo os ajudavam. Trabalhar em equipe era com eles mesmos.

– Alô?

– Tomas, te encontro na sala do chefe, não posso mais esperar.

– Ok, chego daqui a pouco.

Depois de um movimentado trânsito pelas ruas de Salvador, Tomas entrou no gabinete da polícia e foi para a reunião. Ele era jovem, mas muito respeitado pelos co-legas mais velhos.

– Moacir Miranda é pai de Tales Miranda, o jovem que já está sob investigação e que será interrogado por vo-cês dois – disse um homem de aparência séria, rígida e muito profissional, era Carlos Eduardo, chefe de polícia, apontando para Tomas e Augusto.

– O que já temos, senhor? – perguntou Augusto, ano-tando tudo em um bloquinho amarelo que sempre usava.

– As primeiras investigações apontam que ele volta-va da faculdade no campus de Ondina. Seu pai, Moacir Miranda, é deputado federal e será candidato este ano a prefeitura de nossa cidade.

– Eita, o menino acabou com o pai! – disse um dos policiais.

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– O fato, senhores – disse Carlos – é que, no interroga-tório, Tales apenas disse que estava passando por perto quando aconteceu tudo e que se escondeu. Ele disse ainda que fora confundido com um dos sequestradores e insiste em falar com um advogado chamado Valder de Narro.

Tomas olhou para Augusto e disse:

– Este não é o que conseguiu a liberdade dos jovens acusados de crimes neonazistas e...

– Sim, é ele – disse Augusto.

Carlos continuou: – Tales Miranda, um jovem de 25 anos, estudante do curso de geofísica, nunca foi desta-que em sua turma, na verdade, já havia abandonado a faculdade e estava voltando a estudar. Tentou ingressar há dois anos em um grupo ligado ao movimento neona-zista, raspou a cabeça e, misteriosamente, começou a se destacar na sua sala, exercendo exemplar liderança en-tre os calouros. O que já descobrimos é que talvez agora ele esteja envolvido com alguma sociedade secreta, os registros de e-mail falam em Filhos de Odin e é aqui – apontou para Tomas e Augusto – que vocês começam. Vamos ao trabalho!

Todos se levantaram e saíram da sala, mas Tomas e Augusto foram até Carlos.

– Já conversamos com o pai dele?

– Sim, é um homem muito respeitado no meio políti-co, foi ativista, professor. Quero que vocês interroguem o rapaz antes que o advogado dele chegue.

– Tudo bem.

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– Podem ir.

Tomas e Augusto foram até a sala de interrogatório conversar com Tales. Ele estava sentado na sala quase toda escura, iluminada apenas pela lâmpada que pen-dia. A cadeira de madeira envelhecida combinava com a mesa de madeira retangular, os únicos móveis na sala.

– Entre, Tomas, eu fico aqui fora, qualquer coisa eu entro também. Estarei tomando nota de tudo.

– Ok.

Tomas entrou na sala de interrogatório de forma si-lenciosa, sentou, pegou uma caneta do bolso, olhou para o celular e depois tirou de outro bolso um bloco de no-tas, começou a escrever. Tales no começo achou normal a forma que Tomas entrou, mas depois de um tempo, percebeu que Tomas estava escrevendo várias coisas no bloco e não havia falado nada, então Tales disse:

– Quero falar com meu advogado.

– Ele já foi contatado e virá em breve – Tomas falou sem olhar para Tales.

Tomas queria mostrar para ele que não estava sur-preso com o caso do sequestro, embora curioso a res-peito da sociedade que Tales parecia estar ingressando.

– Filhos de Odin, não é?

– Não falarei sem meu advogado.

– Sei que é e preciso apenas que você me explique por que você aceitou sequestrar o filho de Luiz Bezerra, o grande empresário que já bateu boca com seu pai há alguns anos.

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Tales levantou a sobrancelha, pois não esperava que Tomas já tivesse tantas informações assim, e disse:

– Não fale do meu pai. Fiz o que fiz por mim mesmo.

– Você tem problemas com seu pai? Relacionamen-to... – e foi interrompido, pois Tales socou a mesa.

– Não quero responder suas perguntas até meu advo-gado chegar!

– Quem vai pagar seu advogado?

Tales ficou surpreso com a pergunta, não esperava que Tomas fosse investigar isso.

– Meu...

– Seu pai disse que você que escolheu, rejeitou as pro-postas dele e...

– Eu dou meus pulos.

– A sociedade fará isso para você – falou Tomas ano-tando algo no bloco.

Tomas se levantou e disse apenas que café e dois pães seriam trazidos para ele em poucos minutos.

– E aí, por que você saiu tão rápido? – perguntou Au-gusto.

– O rapaz está dando uma de durão, mas é um menino. Percebi que mexia diversas vezes a perna, inquieto, sem saber o que eu pensava enquanto escrevia no bloquinho. Percebi que quando ele socou a mesa tinha uma tatuagem desenhada na mão, talvez a suástica nazista, e como ele não foi aceito, teve que riscar. Vi que seu corte de cabelo é rasteiro e, pela cor dos dentes e pelas olheiras, ele talvez te-

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nha fumado muito, além do normal nas últimas horas. Está muito ansioso e parece que está esperando alguma respos-ta, talvez alguma ajuda, talvez do próprio Valder de Narro.

– Ele deve estar com medo de ir preso, na cadeia a galera vai quebrar ele – disse Augusto.

– Por quê?

– Um filhinho de papai preso.

– Precisamos conhecer melhor este tal de Valder de Narro.

Valder de Narro era um homem de aparência firme e misteriosa, biotipo italiano, olhos claros, pele branca, cabelos curtos e levemente grisalhos. Ganhava uma for-tuna defendendo em todo o Brasil jovens “filhinhos de papai” envolvidos em escândalos de sequestro, homicí-dios, agressão a mendigos e coisas deste tipo. Não tinha escritório em Salvador, mas uma parceira com um escri-tório em São Paulo o traria para este caso.

Não demorou muito e Tomas encontrou Valder che-gando, terno preto que, com certeza, tinha custado uma nota, cabelos muito bem penteados para trás, um reló-gio de ouro e ao celular.

– Senhor Tomas? – disse uma voz grave.

– Olá, o senhor deve ser Valder de Narro – disse Tomas.

– Sim, desligou o celular e colocou no bolso.

– Tales...

– Sim, eu sei que já está me esperando – falou demons-trando seu sotaque italiano – e sei também que vocês já

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conversaram com meu cliente, mas não me preocupo, já tenho conhecimento e meu pessoal já está de olho nos acontecimentos, ele será comprovadamente apresenta-do como inocente. Sugiro que sua investigação encontre logo os verdadeiros criminosos. Agora, por favor, condu-za-me ao meu cliente – falou quase como sem pisar no chão de tanta arrogância.

Augusto, que estava com Tomas, ficou sem graça. Por conhecer a fama de Valder e querendo também evitar qualquer complicação, levou-o rapidamente para a sala onde estava Tales.

Tomas fez alguma ligação e ficou de fora esperando Augusto.

– Sr. Tales? – disse Valder vendo fechar atrás de si a porta da sala, estavam a sós.

– Sim...

– Ok, garoto, já tenho meus contatos agindo, não po-derei passar muito tempo, tenho outras coisas para re-solver, mas como quem pediu meu favor foi...você sabe quem foi, eu vim. Será o seguinte: diga apenas que foi confundido, que você está confuso, não seja orgulhoso e nem metido a besta! Sei que você não gosta quando falam do seu pai, da candidatura dele, mas vamos fazer o seguinte: o inquérito levará um tempo, depois a pro-motoria vai pegar o caso, aí você vai a julgamento. Ainda bem que Junior está vivo, isso está a nosso favor, e então, nesse intervalo de tempo, nosso chefe terá conseguido o que ele planejou. Se der tudo certo, até o fim do ano tere-mos algo bem significativo, de certo você ficará aqui e...

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– Como assim, ficarei aqui? – perguntou Tales irritado.

– Ah – disse Valder rindo e passando a mão nos cabe-los. – Você é réu primário e não sabe como são as coisas...você vai ficar aqui preso ou retido como preferir até o final de todo o processo.

– Mas...

– Sem ‘mas’ garoto! Vou para o escritório, preciso conversar com o pessoal. Quero saber quem será o pro-motor que vai pegar seu caso e quero preparar o terre-no. E outra coisa, isso faz parte do seu batismo.

Falou batismo se referindo ao teste para ingressar na sociedade.

– E meu pai?

– Não sei os detalhes, farei apenas minha parte, o resto...resolva com seus amigos.

Passou a mão nos cabelos, riu e saiu.

Tomas e Augusto estavam conversando quando Val-der de Narro saiu e agradeceu, perguntou onde poderia pegar um táxi e foi embora.

– Nossa – disse Augusto – ele parece ser tão educado, não é?

– Conheço este tipo – disse Tomas. – Está encenando.

Trim, trim, trim...

– Ô celular para tocar este seu, Tomas – disse Augus-to rindo.

Tomas olhou para a tela e leu: número confidencial.

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– Alô?

– Tomas Rocha, saiba que existem mais coisas neste caso, você está apenas na ponta do iceberg.

– Quem está falando?

– Converse com o menino, ele pode estar parecendo se-guro, mas na verdade o medo está endurecendo sua face e escondendo suas fraquezas e os pontos falhos nesta história.

– Quem? Não desligue o...

– Tomas? Quem estava ao telefone?

– Não sei, Augusto, mas precisamos descobrir algu-ma brecha.

– O quê?

– Vamos para o escritório.

Tomas já havia estudado casos que envolviam inicia-ções em sociedades e cultos secretos. Já havia consul-tado arquivos e procurado fatos parecidos nos últimos cinco anos em Salvador, mas era fato que ele nunca havia escutado falar da sociedade “Filhos de Odin”, até algu-mas semanas atrás, quando as primeiras investigações policiais levaram a justiça até as portas da casa de Mo-acir e, coincidentemente, na tarde daquele mesmo dia, seu escritório de advocacia ser contatado pelo empresá-rio e pai de Junior, Luiz Bezerra.

– Tomas – disse Augusto calmamente – você sabe que neste fim de semana estou querendo visitar uns paren-tes meus na Ilha e para conseguir entrar naquele ferry-boat é preciso uma certa antecedência e...

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Augusto era do tipo de colega de trabalho que todo mundo queria, sempre diplomata, cheio de iniciativa, re-solvido, jovem, era apenas um ano mais novo que Tomas. Augusto era filho de pais ricos, sempre foi acostumado a passeios com a família, mas há dois anos perdeu a mãe vítima de um AVC e costumava sempre que podia visitar o pai, já idoso, que morava na Ilha de Itaparica com um de seus irmãos, médico e engajado na Igrejinha de São José.

– Claro, Augusto – respondeu Tomas voltando a si de-pois de uma reflexão e ajuntando os papéis sobre a mesa continuou: você sabe que meu sonho é ser como você um homem de família – falou sorrindo.

– Tomas! Você sabe que já conversamos sobre isso antes, você espera que Clarinha saiba que você é apai-xonado por ela, mas você não vai lá, cara, você não diz, você não a chama para sair, você não...

– Mas como eu vou chegar para conversar com ela? Nós somos amigos há um tempão, mas ela está por aí, cheia de trabalhos e agora sendo promotora.

– Ela te ligou ontem, disse que adorava um forró pé de serra, mas que ia ter que preparar uns papéis. Meu irmão, ela estava era pedindo para você ir lá ajudá-la, quem sabe talvez até...

Trim, trim...

– Alô?

– Tomas? Oi, é Clara.

– Oi, Clarinha – disse Tomas antes de cobrir com a mão o telefone e pedir para Augusto fazer silêncio. – Como estão as papeladas?

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– As papeladas? Sim, já conclui. Estou me preparando agora para terminar umas revisões e recebi um convite de um amigo meu.

– Um convite de um amigo? – Tomas olhou para Au-gusto num misto de desapontamento e de interesse no assunto.

– Um casamento.

– Casamento! – Tomas olhou aflito para Augusto, que sentou na cadeira e passou a mão no cabelo achando que tudo estava perdido entre Tomas e Clarinha.

– Sim, ele vai casar e me convidou para ir e então pen-sei se você poderia ir comigo.

– Eu...

Tomas sorriu e olhou para Augusto, colocou a mão no telefone e repetiu a história rapidamente enquanto Clarinha explicava onde era a Igreja e o horário. Augus-to ficou de pé, deu um tapinha no rosto de Tomas, fez um gesto dizendo que estava indo e depois perguntava como tinha sido. Despediu-se de Tomas dizendo baixi-nho: “Garotão!”

– Posso sim – disse Tomas.

– Ok, então tá.

Tomas desligou o celular quase como quem coloca uma carta em cima de um castelo de baralho, então se lembrou do caso de Tales e foi para casa. Antes de che-gar ao seu apartamento na Pituba (um bairro nobre na orla de Salvador), deu uma volta na praça Nossa Senhora da Luz e estacionou. Olhou para a Igreja, em sua arquite-

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tura com traços certos, uma grande imagem em mosai-co da Virgem Maria e uma iluminação que destacava o semblante sereno da Mãe de Jesus.

– Olha, sou sincero em lhe dizer, se é que podes me escutar – disse Tomas, observando o grande mosaico e sorrindo levemente. – Eu não acredito em milagres ou coincidências, mas fiquei mesmo impressionado com o fato de Clarinha me ligar bem na hora em que eu falava sobre ela e ainda me chamar para um casamento. Eu não sou de entrar em igrejas, mas... – sorriu de novo – estou ansioso para entrar numa amanhã!

Tomas então desceu, travou o carro e atravessou a avenida, foi para uma praça que fica em frente à igreja, mas já próximo à praia, e começou a refletir sobre o seu dia. Ele fazia isso às vezes, pois em geral saía com Au-gusto para conversar sobre o trabalho ou ia para casa correr 30 minutos na esteira do prédio e, depois do ba-nho e da refeição, cair na cama. Enquanto ele ainda esta-va pensativo e caminhando de volta para o carro, obser-vou que próximo ao semáforo parou um carro branco e dele desceu um rapaz de cabeça raspada, olhar sério e porte atlético olhando bastante para os lados, pare-cia suspeito. Tomas considerou que não poderia pensar que todos com estas características seriam membros de uma sociedade neonazista ou algo parecido, mas, não se contendo, pôs a segui-lo discretamente com o olhar.

O rapaz andou até o estacionamento da Igreja, olhou para os lados e tranquilamente caminhou em direção ao carro de Tomas. No para-brisa do automóvel colocou um papel, como um envelope, depois puxou um cigarro

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e saiu. Voltando para o seu carro branco... – ele mesmo era o motorista – foi embora. Tomas chegou discreta-mente próximo ao veículo, olhou para os lados e tentou averiguar se daquele ângulo de visão ele ou a praça onde estava poderiam ser vistos, mas não podiam, então se aproximou do carro, abriu o envelope e leu:

Amanhã, às 11h, Avenida Chile, farmácia da esquerda, ao lado da balança. Estarei todo de branco. Pergunte se vai chover e eu responderei que sempre está chovendo.

Tomas fechou o bilhete, colocou no envelope e tirou o telefone do bolso, mas lembrou que Augusto deveria estar dormindo, então guardou o telefone e voltou para casa.