título o imperativo categórico: três casos...

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Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br Título: Autor: Ano: Páginas: Obs: O imperativo categórico: três casos concretos Immanuel Kant - 03 - 1 Problema central: Em que consiste a lei moral? Como determinar o valor ético do compor-tamento? Tese central: A doutrina do imperativo categórico, tese importante em Kant, afirma que um comportamento só pode ser considerado moral quando é universalizável. Existem comporta-mentos que a consciência, ao universalizar a vontade individual, pode reconhecer como certo. Se eu penso em um imperativo hipotético não sei o que acontecerá até que ele se a-presente a mim. Se, ao contrário, penso em um imperativo categórico sei imediatamente o que convém. De fato, o imperativo, além da lei, não contém senão a necessidade, em princípio, de ser conforme a tal lei, sem que a lei se submeta a nenhuma condição. Conseqüentemente, o que resta não é senão a universalidade de uma lei em geral, à qual a máxima da ação deve se conformar, e é somente esta conformidade que o imperativo apresenta propriamente como necessidade <sollen>... Primeiro caso Um homem, que uma séria de males acabou por levar ao desespero, sente um grande desprazer pela vida, mas, todavia, ainda esta de posse de sua razão para poder perguntar-se se não haveria uma violação do dever para consigo mesmo, mas tirar a própria vida. Ele procura, então, saber se a máxima da sua ação poderia tornar-se uma lei universal. A sua máxima seria esta: por amor a mim mesmo, eu estabeleço o princípio de encurtar a própria vida a partir do momento em que, prolongando-a, tenho mais males a temer do que satisfações a esperar. A questão agora é somente saber se esse princípio do amor a si poderia tornar-se uma lei universal. Porém, logo percebe que uma natureza cuja lei fosse destruir a própria vida, apoiando-se justamente naquele sentido cuja função especial é iniciar o desenvolvimento da vida, esta-ria em contradição consigo mesma e não poderia subsistir. Conseqüentemente, essa máxima não poderia absolutamente ocupar o lugar de uma lei universal, portanto, contrária ao princípio supremo do dever <sollen>.

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Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br

Título:

Autor:

Ano:

Páginas:

Obs:

O imperativo categórico: três casos concretos

Immanuel Kant

-

03

-

1

Problema central: Em que consiste a lei moral? Como determinar o valor ético do compor-tamento?

Tese central: A doutrina do imperativo categórico, tese importante em Kant, a�rma que um comportamento só pode ser

considerado moral quando é universalizável. Existem comporta-mentos que a consciência, ao universalizar a vontade individual,

pode reconhecer como certo.

Se eu penso em um imperativo hipotético não sei o que acontecerá até que ele se a-presente a mim. Se, ao contrário,

penso em um imperativo categórico sei imediatamente o que convém.

De fato, o imperativo, além da lei, não contém senão a necessidade, em princípio, de ser conforme a tal lei, sem que a lei

se submeta a nenhuma condição.

Conseqüentemente, o que resta não é senão a universalidade de uma lei em geral, à qual a máxima da ação deve se

conformar, e é somente esta conformidade que o imperativo apresenta propriamente como necessidade <sollen>...

Primeiro caso

Um homem, que uma séria de males acabou por levar ao desespero, sente um grande desprazer pela vida, mas, todavia,

ainda esta de posse de sua razão para poder perguntar-se se não haveria uma violação do dever para consigo mesmo, mas tirar a

própria vida.

Ele procura, então, saber se a máxima da sua ação poderia tornar-se uma lei universal. A sua máxima seria esta: por amor a mim

mesmo, eu estabeleço o princípio de encurtar a própria vida a partir do momento em que, prolongando-a, tenho mais males a

temer do que satisfações a esperar. A questão agora é somente saber se esse princípio do amor a si poderia tornar-se uma lei

universal.

Porém, logo percebe que uma natureza cuja lei fosse destruir a própria vida, apoiando-se justamente naquele sentido cuja função

especial é iniciar o desenvolvimento da vida, esta-ria em contradição consigo mesma e não poderia subsistir.

Conseqüentemente, essa máxima não poderia absolutamente ocupar o lugar de uma lei universal, portanto, contrária ao princípio

supremo do dever <sollen>.

Rua Maranhão, 620 - Cj. 141 - Higienópolis - CEP 01240-000 - São Paulo/SP - Tel: 3661-7532 - www.espacoetica.com.br

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Páginas:

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O imperativo categórico: três casos concretos

Immanuel Kant

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Segundo caso

Um outro homem é levado pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Ele sabe que não poderá devolvê-lo, mas

sabe também que nada lhe será emprestado, se ele não se empe-nhar seriamente em devolvê-lo na época determinada. Ele tem

vontade de fazer esta promes-sa, mas tem a consciência su�ciente para se perguntar: não é proibido e contrário ao dever <sollen>

se livrar da necessidade deste modo?

Supondo, porém, que ele tomasse essa decisão, a máxima da ação signi�caria: quando eu acredito precisar de dinheiro

logo peço emprestado, prometendo devolvê-lo, mesmo sa-bendo que não farei nunca. Ora, é certamente possível que esse

princípio do amor a mim mesmo, ou da utilidade própria se conecte com todo o meu bem-estar futuro. Mas no momen-to isto é

justo? Transformo, portanto, este problema em caráter universal. O que aconteceria se minha máxima se tornar-se uma lei

universal?

Ora, ela nunca poderia valer como lei universal... Porque admitir como lei universal que todo homem que pensa em se

encontrar em necessidade possa prometer tudo o que lhe passa pela cabeça com o propósito de não cumprir; nada tornaria

impossível qualquer promes-sa. Ninguém mais acreditaria mais naquilo que lhe é prometido.

Quarto caso

Finalmente, um homem que é bem sucedido em tudo, vendo que os outros (a quem poderia muito bem ajudar) estão

vivendo com grandes di�culdades, assim raciocina: O que me importa? Que cada um seja feliz com o que o Céu manda, ou seja

feliz por si mesmo... não estou disposto a contribuir para o seu bem-estar ou ajudá-lo na necessidade.

Ora, se um tal modo de pensar se tornasse uma lei universal, a espécie humana poderia sem dúvida subsistir em

melhores condições do que quando todos falam continuamente de simpatia e benevolência, e até se empenham em praticá-las

eventualmente, mas depois, ao contrário, assim que possível, os prejudicando de alguma outra maneira.

Mas, apesar de ser possível que subsista uma lei universal conforme esta máxima, é por outro lado impossível querer

que tal princípio valha universalmente como lei universal. Porque a intenção de tomar esse partido contradiria a si mesma, uma

vez que podem existir casos em que esse homem possa precisar do amor e da simpatia de outrem, então ele mesmo seria privado

de esperar obter a assistência desejada, por força da mesma lei instituída por sua vontade.

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O imperativo categórico: três casos concretos

Immanuel Kant

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Esses são somente alguns dos numerosos deveres reais, ou ao menos assim por nós considerados, cuja derivação do

único princípio que expusemos salta evidentemente aos o-lhos. É preciso querer que aquilo que é a máxima de nossa ação se

torne lei universal: este é o cânone que permite a avaliação moral da nossa ação em geral. (KANT, 1980)

É plausível buscar a felicidade e a moralidade através do prazer?

Na constituição natural de um ser organizado para a vida, admitimos, por princípio, que nele não haja nenhum órgão destinado à

realização de um �m que não seja o mais adequado e adaptado a este �m. Ora, se num ser dotado de razão e de vontade a

natureza tivesse por �na-lidade última sua conservação, seu bem-estar ou, em uma palavra, sua felicidade, ela teria se equivocado

ao escolher a razão para alcançá-la. Isto porque, todas as ações que este ser deverá realizar nesse sentido, bem como a regra

completa de sua conduta, ser-lhe-iam indicadas com muito maior precisão pelo instinto. (KANT, 1980)

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980

NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filoso�a. São Paulo: Editora Globo, 2005