thomas edson - o feiticeiro de menlo park

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A vida do homem que ajudou a iluminar o mundo, Thomas Edison, um dos maiores inventores da História. Desde as primeiras demonstrações públicas de seu fonógrafo em 1878, do desenvolvimento da lâmpada incandescente e dos primeiros aparelhos cinematográficos, o nome de Thomas Edison tornou-se o símbolo de todas as maravilhas que uma nova era tecnológica prometia. Em Thomas Edison: o feiticeiro de Menlo Park, a vida do mais famoso inventor americano é desvendada. Um verdadeiro retrato de um gênio e de uma época. Revela-se, aqui, não somente o lado brilhante do inventor, mas também sua rotina de trabalho e como administrava sua equipe e a própria fama, a ponto de ele ser considerada a primeira grande celebridade da era moderna. “Neste livro, Stross fornece uma fascinante e, ao mesmo tempo, contemporânea contribuição para o entendimento de uma figura americana tão representativa”. —Los Angeles Times “O jornalista Stross mostra a figura de Edison, o inventor do f

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O Feiticeiro de Menlo Park

Como Thomas Alva Edison inventou o mundo moderno

RANDALL STROSS

São Paulo, 2013

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2013IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – Barueri – SP

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Copyright © 2007 by Randall E. StrossCopyright © 2013 by Novo Século Editora Ltda.

the Crown Publishing Group, a division of Random House, Inc.

Mateus Duque Erthal

Cinthia Alencar

Jonathan Busato

Luciana Inhan

Lílian Moreira Mendes

�iago Lacaz

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Stross, Randall E.

Edison inventou o mundo moderno / Randall E.Stross ; tradução Cinthia Alencar. --Barueri, SP : Novo Século Editora , 2013.

CDD-621.309212-12343

Índices para catálogo sistemático:

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AGRADECIMENTOS

Os editores do Thomas A. Edison Papers Project mereciam ser santi-ficados, pois trouxeram talento, competência e paciência a um vasto projeto que ainda está longe de terminar: tornar o corpus de documen-tos que Edison reuniu durante toda a sua vida facilmente acessível a estudiosos, estudantes e ao público em geral. Estima-se que o principal local de armazenamento de documentos ligados a Edison, o Edison National Historic Site, situado em West Orange, Nova Jersey, conte-nha cerca de cinco milhões de registros – uma aproximação grosseira, pois nem mesmo o inventário do material está completo. Entretanto, graças ao Edison Papers Project, obtemos muitas ferramentas para es-cavar os tesouros contidos nessa coleção.

Os primeiros cinco volumes da série de quinze livros The Papers of Thomas A. Edison já estão prontos e constituem uma maravilha moder-na. Sinto-me grato pelo extraordinário trabalho expresso na preparação das introduções, linhas do tempo, bibliografias, notas de cabeçalho e de rodapé, tornando-as modelos de erudição contemporâneos.

Também tive grande sorte em poder contar com o acesso a mais de 180 mil documentos sobre Edison sem sair do conforto de minha casa – o site de fácil navegação do Project surgiu pouco depois de eu começar minhas pesquisas. Que bênção!

Gostaria de agradecer separadamente a Paul Israel, atual diretor do Edison Papers Project; ao antigo diretor Robert Rosenberg; e aos editores da equipe Theresa Collins e Brian Shipley, que me fornece-ram assistência durante todo o curso de minhas pesquisas.

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Nem todos os registros sobre Edison podem ser encontrados on-line. Gostaria de agradecer a Leonard DeGraaf, Doug Tarr e a outros membros da equipe do Edison National Historical Site pela ajuda com minhas visitas aos arquivos em momentos conturbados durante o ano, em que o local estava sendo fechado para sofrer renovações, além das tantas vezes em que solicitei auxílio com pedidos de acompanhamen-to. Também obtive ajuda da equipe do Benson Ford Research Center no Henry Ford, o novo termo que engloba o Henry Ford Museum e a Greenfield Village, em Dearborn, Michigan.

A College of Business of San Jose State University presenteou--me com generosos e recorrentes estudos reduzidos, bem como com suporte financeiro com licença para um ano. Durante os sete anos de geração do livro, os administradores da San Jose State e os colegas da facul dade demonstraram paciência incansável, ao menos quando eu estava presente, pela qual sou muito agradecido.

Os recursos de pesquisa da Stanford University contribuíram mui-to para o projeto. Sou grato pelas reuniões de estudos das quais partici-pei por dois anos e que eram promovidas por James Sheehan, diretor do departamento de História, e por Tim Lenoir, diretor do Program in History and Philosophy of Science. Também Richard Koprowski e Aurora Perez ofereceram sua preciosa ajuda no Archive of Recorded Sound em Stanford.

Madeleine Sloane e David Sloane aceitaram se encontrar comi-go e generosamente compartilhar as memórias paternais de sua avó, Madeleine Sloane, nascida com o sobrenome Edison, e as experiên-cias da família.

Meus empréstimos em diversas bibliotecas foram volumosos e possivelmente criaram registros confusos entre as instituições. Porém, Mary Munill, da Stanford, e Kara Fox e Shirley Miguel, da San Jose State, trabalharam para mim de maneira irrestrita.

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Bonnie Newburg, do Edison & Ford Winter Estates, e Ruth Ann Nyblod, do United States Patent and Trademark Office, au-xiliaram-me prontamente em meus questionamentos. Jack Curlin forneceu-me informações sobre seu avô que me ajudaram a amarrar acontecimentos que pareciam soltos. Martin Sheehan-Stross assistiu--me com as pesquisas em bibliotecas.

O manuscrito foi aprimorado por meio das críticas livres de re-servas feitas por Gail Hershatter e Pamela Basey, responsáveis por di-minuir as inconsistências e por me forçar a reexaminar as mais básicas suposições presentes no primeiro rascunho do livro.

Como sempre, minha agente, Elizabeth Kaplan, sabia do que eu precisava em cada momento – uma questão de intuição que, frequen-temente, nem eu mesmo reconhecia até que pudesse contar com sua ajuda.

Em Crown, Emily Loose era uma grande especialista em Edison e nesse período da história; seu entusiasmo pelo projeto estimulou o meu. Seu sucessor, Luke Dempsey, com suas orelhas e olhos incomu-mente vivos, leu atentamente o manuscrito de forma gloriosamente antiga. Sou grato a ambos.

Jim Gullickson fez incansáveis correções enquanto realizava seu trabalho de cópia-edição. Lindsey Moore foi quem nos manteve dentro dos prazos.

Esse trabalho é dedicado à minha mais importante colaboradora, Ellen Stross. Suas sugestões editoriais tornaram o livro incomensura-velmente melhor – e consideravelmente mais curto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

PARTE I: SUCESSO 23

PARTE II: A VIDA APÓS O SUCESSO 173 EPÍLOGO 339 NOTAS 349

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INTRODUçãO

Thomas Alva Edison é o patrono da luz e energia elétricas, da música sob demanda, é avô do Mundo Conectado e bisavô da Nação iPod. Foi ele quem apertou o interruptor. Antes de Edison, só havia escuridão. Depois dele, modernidade movida por mídias.

Bem, não exatamente. A biografia heroica que nos foi apresen-tada na escola tem suas limitações, a começar pela omissão de outros inventores que tiveram papel crucial – não somente os talentosos as-sistentes de Edison, mas também seus brilhantes concorrentes. O mais interessante sobre esse Edison biográfico que aprendemos não é o fato de ele ser heroico, mas de ser enorme, projeção muito diferente do ho-mem de 1,80 m1 que era o inventor. Como ser humano, Edison viveu sua vida e agiu de forma independente, o que seu homônimo biográ-fico não controlava. É famosa a associação que se faz entre o inven-tor e o início do cinema, considerado também o começo da moderna indústria de celebridades. Edison merece, ainda, crédito por outra (e não menos importante) descoberta sobre pessoas famosas: o esforço das estrelas em entrar no mundo dos negócios – o que ele próprio per-cebeu acidentalmente em sua vida pública.

As celebridades distinguem-se dos simplesmente conhecidos por meio do desejo ilimitado do público de estar próximo e de saber toda e qualquer informação sobre elas. As primeiras grandes figuras da his-tória americana2 foram políticos e militares, os Fundadores e Lincoln. Considerando tais figuras como objeto de fascinação, o público expe-rimentou uma sensação pessoal, e completamente ilusória, de proxi-

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midade. Nos anos 1870, Edison juntou-se aos chamados semideuses imortais, abrindo caminho para outros famosos civis. Outros nomes do século XIX3, tais como Mark Twain e P. T. Barnum, chegaram a um patamar de sucesso inimaginável em anos anteriores para os que não pertenciam à política. No entanto, a notoriedade de Thomas Edison seria maior do que a de qualquer outra pessoa, alcançada pouco antes de o inventor, juntamente com outros colegas, criar a tecnologia para produção em massa de intimidade visual, um legado deixado para a posteridade. No início, ao se tornar famoso, o público só podia vê-lo em imagens criadas por textos de jornais, complementadas ocasional-mente por desenhos delineados. Ao longo de sua vida, entretanto, as técnicas para retratar imagens evoluíram rapidamente. O rosto de Edison tornou-se tão conhecido que uma carta postada4 na Carolina do Norte somente com sua foto no lugar de seu nome e endereço che-gava às suas mãos em Nova Jersey algumas semanas depois.

Ninguém naquele tempo poderia imaginar que um inventor, den-tre todas as profissões existentes, seria a atração da época. Se olharmos para trás, pode parecer que se tratava de uma fama merecida para aquele que inventou a luz elétrica – todavia, seu sucesso veio antes disso, por meio de outra de suas invenções: o fonógrafo. Quem arriscaria dizer que um invento como esse poderia alçá-lo, em questão de dias, do com-pleto anonimato para o firmamento? Qualquer um dos diversos avan-ços ocorridos antes do fonógrafo teve mais impacto na economia dos EUA, e seus criadores eram candidatos com reais chances de chegar ao topo do reconhecimento. O descaroçador de algodão de Eli Whitney ou seus mosquetes feitos de peças que podiam ser alternadas, o navio a vapor de Robert Fulton, o arador revestido de aço de John Jethro Wood, o ceifeiro de Cyrus McCormick, o processo de manufatura da borra-cha de Charles Goodyear, o telégrafo de Samuel Morse, o elevador de Elisha Graves Otis, o arame farpado de Lucien Smith e o telefone de Alexander Graham Bell, surgido um ano antes do fonógrafo, são exem-

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plos de invenções anteriores às de Edison que mudaram significativa-mente a economia americana. Por que, então, o fonógrafo, dentre todos os outros, fez de seu inventor uma pessoa reconhecida além do que se poderia imaginar? O mais intrigante é que não foi o fonógrafo em si – leva-ria duas décadas até que esse objeto fosse comercializado em maior esca- la –, mas a simples ideia do aparelho que instantaneamente mexeu com a imaginação de todos que ouviam a respeito, inspirando estudiosos a cogitar5 máquinas capazes de pensar e falar.

Os admiradores de Edison forneceram fantásticas somas que lhe permitiriam criar qualquer coisa que quisesse (um humorista deu a en-tender6 que ele inventou “um livro de bolso que sempre teria um ou dois dólares em seu interior”). O próprio Edison não tinha nenhum problema de autoconfiança e rapidamente concluiu que conseguiria re-mover qualquer obstáculo que impedisse seu progresso, não importando em que campo sua invenção estivesse inserida. Tal convicção o levou a becos sem saída, mas também a sucessos incríveis, planejados ou não. Acima de tudo, a atitude absolutamente destemida com que realizava suas atividades experimentais atrai a atenção de todos até hoje.

Coragem era algo necessário para quem escolhe ser inventor em tempo integral aos meros 22 anos, um passo ousado para um jovem que vinha de família pobre. As duas gerações anteriores7 dos Edison haviam sido politicamente ativas e amaldiçoadas com má sorte, ten-do que se mudar a todo momento para locais distantes para evitar as consequências por carregarem causas perdidas. O avô de Edison havia sido Legalista em Nova Jersey durante a Guerra pela Independência e mudou com a família para o Canadá ao seu final. Dois anos antes de Edison nascer, seu pai canadense, Samuel, um dono de estalagem, e Thomas Paine – todos com temperamento explosivo – lideraram uma revolta contra o governo provinciano do Canadá. Ao perceber que a empreitada falhara, Samuel teve que fugir sem sua mulher e quatro fi-lhos para o sul dos Estados Unidos. Parou na pequena cidade de canais

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fluviais Milan, Ohio, a treze quilômetros de Lake Erie, onde se reuniu à família. Envolveu-se com fabricação de telhas, especulação de terras e cultivo e transporte agrícola. Prosperou moderadamente para os pa-drões de uma cidade pequena, conforme crescia o comércio regional, até que as rodovias tomaram o lugar dos canais fluviais, levando-o a perder seus bens.

Thomas Alva Edison – conhecido como “Al” na infância – era o último dos sete filhos de sua mãe, Nancy. A alta taxa de mortalidade infantil do século XIX é arraigada à história da família: apenas três de seus seis irmãos sobreviveram e passaram dos seis anos de idade. Todos eram adolescentes quando Al nasceu, em 11 de fevereiro de 1847 – a irmã mais velha já estava com dezoito anos –, portanto ele era a única criança dentro da casa de seus pais. Aos sete anos, mudou--se com a família para Port Huron, Michigan, uma cidade fronteiriça que oferecia oportunidades em exploração de madeira e especulação imobiliária. Sua mãe, que fora professora, ensinou-lhe tudo em casa, o que constituiu sua completa educação, a não ser por duas breves ten-tativas de frequentar as escolas locais. Tais circunstâncias, juntamente com sua progressiva perda de audição8, contribuíram para a formação autodidata de Edison.

Seu pai o apresentou aos tão admirados textos de Paine, porém o jovem Edison não herdara o interesse político paterno. No entanto, mostrava um senso empreendedor que lembrava o de seu pai. Antes de Edison, o inventor, surgir precocemente, apareceu Edison, o ga-roto magnata. As oportunidades se abriram quando, aos doze anos, convenceu sua mãe9 a lhe permitir deixar os estudos em casa para que pudesse trabalhar como vendedor de jornal em um trem que ia de Port Huron a Detroit. A bordo do trem, descobriu que poderia comprar mercadorias na cidade grande por um bom preço e, então, revendê-las na pequenina Port Huron aumentando significativamente seus valo-res. Abriu, assim, duas lojas – uma banca de jornal e uma de hortifruti -

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gran jeiros – e contratou mais dois garotos para cuidar delas e dividir os lucros. Possivelmente, carregar um carro dos correios dos EUA com cestas de vegetais, sem pagar taxas, teria atraído a desaprovação das autoridades locais. Mas até nisso o jovem Edison mostrou seu dom em convencer a todos para que colaborassem: oferecia suas mercado - rias, como frutas frescas e manteiga, às esposas dos engenheiros e tra-balhadores dos trens pelo mesmo baixo preço que havia pagado.

Ao completar quinze anos, Edison expandiu os negócios para publicação de jornais10, utilizando uma prensa prova de granel com-prada de segunda mão e instalando-a no bagageiro do trem. Quando um passageiro britânico foi espiar o adolescente trabalhando, acabou comprando toda a tiragem de Weekly Herald como souvenir. Depois de algum tempo, Edison ouviu falar que o homem havia plantado a informação no Times de Londres de que aquele era o primeiro jornal a ser impresso dentro de um trem em movimento.

Em seu tempo livre, nosso inventor gostava de ficar em um peque-no laboratório de química que também havia estabelecido no bagagei-ro. Produtos químicos inflamáveis não eram tão simples de transportar como impressoras. Quando um recipiente com fósforo11 caiu incen-diando todo o vagão, o condutor expulsou Edison, seu laboratório quí-mico e sua gráfica. Outra de suas distrações era o código Morse usado em telégrafos, que ele tentava entender sozinho, por osmose, sentado próximo aos instrumentos telegráficos em escritórios montados sobre a ferrovia, escutando e observando. Edison caiu nas graças12 de James MacKenzie, um chefe de estação, ao salvar seu filho que brincava absorto nos trilhos quando um vagão de carga desengrenado rolou na direção da criança. Edison estava à janela e, bem a tempo, correu para retirar o garoto da via – mas não a tempo suficiente para evitar que a mãe da criança visse o acidente quase fatal e desmaiasse. Era essa a his-tória que se contava, e que nos poderia parecer duvidosa não fossem os fatos que a comprovam e a palpável gratidão de MacKenzie. O chefe

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de estação tornou-se o tutor pessoal em código Morse de Edison que, em pouco tempo, já o dominava.

A percepção de Edison sobre o resgate do garoto MacKenzie era na verdade desprovida de qualquer conotação heroica13 (“Por sorte, consegui chegar bem na hora”). E essa frase acarretou no evento prin-cipal, que eram as “dores consideráveis” que MacKenzie sentia “ao me ensinar” e a vontade com que Edison se dedicava à prática do código por “cerca de 18 horas por dia” (a capacidade do inventor em traba-lhar por horas seguidas seria um de seus principais orgulhos durante toda a vida). O tutorial intensivo fez com que se tornasse rapidamente um operador profissional de telégrafo.

Ao mesmo tempo da história do resgate, Edison contava outra em que sua participação só pode ser classificada como heroica. Havia se estabelecido em seu primeiro emprego remunerado como operador telegráfico em um escritório local da Western Union, e, então, aos dezesseis, recebeu um cargo na Grand Trunk Railroad, que o inscre-veu para o turno da noite em uma estação da Stratford Junction em Ontario. Uma noite, recebeu instruções para parar um trem de carga que chegaria em breve – do outro lado da linha, outro trem já havia partido da última estação e estava se aproximando na direção oposta, em um único trilho. Quando saiu para procurar o sinaleiro, viu o trem que ele deveria reter passar rápida e inadvertidamente. Então, correu de volta ao escritório e relatou: “Não consegui pará-lo”. A resposta te-legrafada foi sucinta: “Droga”. Naquele momento, havia somente uma chance de Edison retornar a seu papel de herói que evitava catástrofes: se conseguisse chegar ao local onde o operador do dia estava dormin-do, um sinal ainda poderia ser enviado para impedir que a colisão iminente ocorresse. E a única maneira de chegar lá seria correndo na escuridão. Edison partiu, mas não chegou a tempo: “Caí em um bueiro e perdi os sentidos”.

A tragédia daquela noite foi evitada porque o trilho era reto, e os dois engenheiros se viram a tempo de impedir a colisão. Após o ocor-

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rido, Edison e seu supervisor foram chamados ao escritório central, em Toronto. O superintendente geral queria saber por que o supervisor havia confiado um cargo de tamanha responsabilidade a um garoto de dezesseis anos. Quanto a Edison, o superintendente ameaçou mandar prendê-lo por negligência criminosa dentro do expediente. O jovem não quis testar a seriedade das ameaças de seu superior e, então, no meio dessa discussão, quando três altivos visitantes chegaram à sala (“figurões ingleses”, segundo descrição de Edison) e distraíram momentaneamen-te a todos, Thomas Edison saiu sorrateiramente. Pegou o primeiro trem de carga que o levaria de volta a seu refúgio, os Estados Unidos.

O incidente não o afastou de um novo trabalho como operador telegráfico em Adrian, Michigan. Nos cinco anos seguintes, mudou de um emprego a outro – Fort Wayne; Indianápolis; Cincinnati; Memphis; Louisville; novamente Cincinnati – como membro da fraternidade dos operários “errantes”. Eram jovens solteiros que for-mavam uma fraternidade itinerante e muito unida. Conheceram-se, quando não pessoalmente, por seus modos diversos de bater ao enviar mensagens. Não ficavam em um local por muito tempo. Um ou outro sempre mudava de posto e, então, quando a movimentação os reunia, renovavam suas relações14. Em uma das raras cartas remanescentes15 que Edison escreveu para casa aos dezenove anos, percebe-se que ti-nha consciência de que havia amadurecido muito desde a última vez que seus pais o viram: “Cresci consideravelmente – não pareço mais um garoto”.

Dentro do clube, dois de seus talentos logo se destacaram: a ha-bilidade técnica em manipular os aparelhos e a criatividade para fazer piadas com os que não os dominavam. Era conhecido entre os colegas por ambas as competências. Tinha muita destreza16 na recepção te-legráfica (mas não no envio). Trabalhou duro para aprender17 como escrever o mais rapidamente possível (datilografando cada uma das minúsculas letras, separadamente, sem perder tempo com conectores

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cursivos). Na recepção de mensagens, sempre conseguia estar um pas-so à frente do mais veloz emissor. Também ficou conhecido por sua in-ventividade para brincadeiras. As que envolviam baterias usadas nos telégrafos eram as mais comuns e, por diversas vezes, envolviam cho-ques – o que é interessante se levarmos em conta que uma das futuras invenções de Edison seria justamente um instrumento de choque, a cadeira elétrica. Em Cincinnati, no ano de 186718, adquiriu uma bobi-na de indução poderosa o suficiente para “retorcer os braços e agarrar as mãos de um homem de modo que ele não pudesse soltar os eletro-dos”. Thomas e um colega conectaram um dos eletrodos ao lavatório de uma casa de máquinas e enterraram o outro. Em seguida, subiram no telhado do prédio e espreitaram por um furo que haviam feito com esse propósito. A primeira pessoa que entrou pisou no chão molhado ao se lavar, fechou o circuito e... suas mãos se levantaram involun-tariamente. Outras vítimas descuidadas sofreram o mesmo choque e ficaram perturbadas; ninguém descobria a causa. Edison comentou sua experiência de observar tudo de seu posto no telhado: “Nos divertimos imensamente”.

Ser classificado como um dos mais capacitados operadores não sa-tisfez Edison. Dedicava cada vez mais tempo ao manuseio de aparelhos telegráficos, tentando ganhar velocidade no envio e na impressão me-cânica de mensagens. Conseguiu permissão dos oficiais para usar equi-pamentos inativos e buscar resíduos. Além disso, utilizou suas econo-mias para a compra de ferramentas e de itens que não podia emprestar.

Ao chegar a Boston19, em 1868, para trabalhar como operador do turno da noite no principal escritório da Western Union, estava faminto e sem um centavo no bolso. Quando se apresentou no escritó-rio, era, segundo um operador que viu toda a cena, “o ser humano em pior estado que ele já vira”. Vestia jeans 15 centímetros mais curtos que sua perna, uma jaqueta que havia comprado de um operário da via férrea quando viajava pelo país, e um chapéu de abas largas com um

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furo em um dos lados através do qual se podia ver sua orelha. Termi-nou seu teste – facilmente – e se juntou aos antigos e conhecidos cole-gas na pensão. Sua primeira pergunta a eles foi: o chefe permitiria que ele ficasse mexendo nos aparelhos em seu tempo livre? A resposta foi sim. Começou, então, a procurar investidores que pudessem financiá--lo em troca de divisão de lucros sobre as patentes20. Três indivíduos21 apresentaram-se rapidamente para ajudá-lo em diversos projetos, tais como transmissores telegráficos mais avançados, uma impressora de preços de ações, um alarme de incêndio que usava tecnologia telegrá-fica e um aparelho eletrônico que registrava votos para o Congresso e assembleias legislativas estatais.

Todo esse trabalho foi conduzido pelo rapaz de 21 anos somente em meio período. Edison reunia pedidos de patente tão rápido quan-to suas ideias surgiam. O primeiro pedido de patente a ser atendido – de suas 1093 patentes dentro dos Estados Unidos – foi o aparelho de registro de votos para a câmara legislativa, que poderia reduzir as horas de trabalho. Com botões instalados nas mesas de cada um dos membros, o orador da câmara podia ver os totais de “sim” e “não” no visor em tempo real. As deficiências da votação manual eram muito claras para Edison, mas não para seus clientes. Quando Edison e seu investidor22 mostraram o invento a um operador mais politizado, cuja recomendação era necessária para fechar uma venda no Capitólio, a reação deste foi de franco horror. Os que formavam a minoria nunca se envolveriam num processo de votação, pois isso eliminaria sua pos-sibilidade de arrecadar mais votos, e a maioria, por sua vez, também não iria querer mudanças. O registrador de votos foi um fracasso e, com isso, Edison aprendeu a lição de que uma invenção não deve ser buscada para exercitar sua inteligência, mas deve estar de acordo com as necessidades comerciais.

O trabalho com o registrador afastou Edison temporariamente de sua principal especialidade, a telegrafia, um campo tecnológico

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promissor na época. Os comerciantes de ações e ouro estavam ex-tremamente interessados em qualquer meio que pudesse agilizar sua comunicação e lhes trazer vantagem competitiva. Todos que os aju-dassem a adquirir essa vantagem recebiam um prêmio, portanto, um brilhante especialista na área telegráfica como Edison, então com 22 anos, poderia ganhar um bom dinheiro inventando e produzindo me-lhores equipamentos. Ao menos era assim que lhe parecia. Depois de um ano em Boston, Edison assumiu um grande risco deixando seu emprego na Western Union para trabalhar em tempo integral como inventor e produtor de equipamentos telegráficos.

Junto a seus contemporâneos, quando saiu por conta própria em 1869, Edison era respeitado e, mais do que isso, estimado, tanto que conseguia trabalhar mais do que todos sem criar nenhum tipo de com-petição entre seus pares. Estava sempre disposto a participar de ses-sões de discussões na pensão e tinha opiniões que não guardava para si mesmo. Um de seus companheiros23, estudante do Massachusetts Institute of Technology, descreveu a ele a clara divisão de tarefas em suas longas conversas. Edison falava, e ele escutava. Ainda assim, era totalmente despretensioso e sociável. Era também confiável: em cer-ta ocasião, recolheu contribuições24 de mais de cinquenta colegas de trabalho e amigos para dar de presente a um funcionário que estava deixando a empresa sem que ninguém se preocupasse, certos de que cada centavo iria parar no bolso certo. A confiança era relacionada também a seu controle com bebidas, algo raro naquele círculo.

Edison não sentia muita vontade de beber com os amigos, pois isso o afastaria de seus objetivos, interferindo em seus reais prazeres: mexer em aparelhos, aprender e resolver problemas. Sua visão não era livre de religião ou emoção. Certa vez, teve problemas25 quando cometeu o sacrilégio de transcrever “J.C.” sempre que aparecia “ Jesus Cristo” no aparelho; não conseguia entender todo o alarde sobre seu “J.C.”, se “a.C.” era perfeitamente aceitável para designar datas his-

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tóricas. O início de sua carreira era movido a tudo, menos ressenti-mentos, algo de que não sofria. Quaisquer vantagens de que outros inventores gozavam por seus recursos acadêmicos ou financeiros não in teressavam a Edison. Nem mesmo sua deficiência auditiva era mo-tivo de preocupação. Na verdade, considerava-a uma vantagem26, pois o livrava de pequenas conversas que o faziam perder tempo e lhe dava tempo para “pensar em seus problemas” sem ser incomodado. Mais tarde, disse ter sorte por ter sido poupado das “conversas tolas e de outros sons sem sentido que as pessoas normais escutam”.

Imunes aos sons da cidade, seus ouvidos proporcionavam-lhe um tranquilo isolamento, fazendo com que se adaptasse27 às “condições da vida moderna” com mais facilidade do que as pessoas comuns. Tal isolamento foi também bastante útil quando Edison se tornou famoso, protegendo-o parcialmente dos contínuos pedidos para fazer discursos e participar de conversas.

Sua fama veio cedo, quando ainda era muito jovem. Entre seus 30 e 35 anos de idade, já era considerado o primeiro inventor-celebri-dade. O presente livro busca examinar como ele se tornou uma das pessoas mais famosas do mundo e, ao chegar à fama, como procurou usá-la para seus próprios propósitos, alcançando um sucesso sempre inconstante. Não entendia o poder da imprensa em moldar a vida de uma celebridade, em criá-la (ou destruí-la, se essa fosse sua intenção).

Quando chegou ao limiar da fama, não podia prever o que viria a seguir – e não se intimidou. Instruiu seus assistentes a manter recor-tes de jornais sobre ele, um hábito que duraria por toda a sua vida. A existência desses álbuns de recortes sugere que Edison abrira mão de um de seus atributos quando jovem: sua absoluta indiferença quanto às expectativas das outras pessoas. Depois que “Edison” tornou-se um nome conhecido por todos, fingiu que nada mudara, que continuava indiferente como sempre. Mas essa postura não nos convence. Ele se importava, ao menos na maioria das vezes. Quando quis tentar lim-

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par sua imagem com declarações exageradas sobre o progresso de seu laboratório, por exemplo, demonstrou ter ânsia pelo crédito de desco-nhecidos. O Edison maduro, pós-fama, fica mais interessante sempre que volta a agir espontaneamente, sem deliberar que ação melhorará sua imagem pública.

Uma das ocasiões28 em que Edison, já em sua meia-idade, des-cartou a expectativa de alguém foi quando conheceu Henry Stanley, famoso jornalista na época, e sua esposa, que vieram a seu laboratório para visitá-lo. Edison fez uma pequena demonstração do fonógrafo, algo que Stanley nunca tinha ouvido antes. O doutor perguntou-lhe devagar e em voz baixa, “Sr. Edison, se fosse possível que o senhor ouvisse a voz de qualquer personalidade da história mundial, quem preferiria ouvir?”

“A voz de Napoleão”, respondeu Edison, sem hesitar.“Não, não”, Stanley disse com pena, “eu gostaria de ouvir a voz

de nosso Salvador.”“Bem”, explicou Edison, “sabe, eu gosto de trapaceiros”.

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