tfg stela da dalt: lugares da memória

100
1 Lugares da memória Parque nas antigas Indústrias Matarazzo em São Caetano do Sul Stela de Camargo Da Dalt Orientador: Prof Dr Luís Antonio Jorge novembro 2012

Upload: stela-da-dalt

Post on 28-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Trabalho Final de Graduação Lugares da Memória: Parque nas antigas Indústrias Matarazzo em São Caetano do Sul Stela de Camargo Da Dalt, 2013 Orientação: Prof. Dr. Luis Antonio Jorge

TRANSCRIPT

Page 1: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

1

Lugares da memóriaParque nas antigas Indústrias Matarazzo em São Caetano do Sul

Stela de Camargo Da DaltOrientador: Prof Dr Luís Antonio Jorgenovembro 2012

Page 2: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

2

Este é um trabalho sobre memoria, cujo produto é uma intervenção em um grande terreno, que nas ruínas de uma fábrica, mostra os vestígios de sua antiga ocupação.

A intervenção, se for necessário nomear, será um parque-memorial.

Page 3: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

3And so, my trip to Tokyo was in no way a pilgri-mage. I was curious, as to whether I still could track down something from this time, whether there was still anything left of this work. Images, perhaps. Or even people. Or whether so much would have changed in Tokyo in the twenty years since Ozu’s death, that nothing would be left to find.

Wim Wenders. Tokyo, GA.

Nunca mais vi aquela casa singular, que caiu em mãos estranhas quando meu avô morreu. Tal como a reencontro na minha recordação infantil, não chega a ser uma construção, está totalmente dividida em mim; (...) tudo ainda está em mim, e nunca cessará de estar. É como se a imagem desta casa tivesse tombado em mim de uma altura infinita, partindo-se toda nas mi-nhas profundezas.

RILKE, Rainer Maria. Os cadernos de Mau-rie Laurids Brigge.

Em busca de palavras, encontrei no Filme “Tokyo, GA” um ponto de partida. Wim Wenders justifica em sua fala inicial o mo-tivo pelo qual foi ao Japão vinte anos depois da morte de Ozu, dez anos antes da produção do documentário. Diz que foi a curiosidade que o levou até lá, para descobrir se ainda poderia encontrar traços do tempo retratado nos filmes de Ozu; se haveria ainda algo da-quela Tóquio nas ruas da atual Tóquio. Ima-gens, talvez, ou até mesmo pessoas, ou tudo teria mudado nos vinte anos que sucederam sua morte, a ponto de nada haver para ser encontrado? É nestes termos que meu tra-balho, ou pelo menos minha motivação, se aproxima da de Wim Wenders: eu também estou à procura de algo. Busco permanêncas do passado em um lugar onde desenvolver significa destruir as marcas da história.

Wim Wenders procura vestígios da cidade e das relações transmitidas pelo diretor japo-nês. Uma imagem — hoje não mais que uma

Page 4: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

4 memória — registrada pelo olhar de outro. Seria um exercício de interpretação de algo interpretado, um buscar pela captura do cap-turado, um duplo-distanciamento. Ou seja, através de Ozu, ele criou um imaginário do ser/viver/habitar japonês, do espaço, da cul-tura e dinâmica social desse povo.

Remontando um pouco ao processo de for-mação da ideia, gostaria de discorrer sobre o paralelo que este trabalho faz, não declara-damente, com a literatura.

Quando lemos obras literárias, realizamos um exercício semelhante ao descrito aci-ma, pois criamos paisagens e ambiências não necessariamente baseadas em lugares reais mas, por sermos capazes de, através de simples descrições, associá-las a um léxico conhecido de elementos espaciais, criamos o que virá a ser o palco das histórias contadas pelos narradores de nossos livros.

O autor que desde o princípio eu tinha por “evocador de ambiências” era o escritor me-xicano Juan Rulfo. Dos detalhes da história me lembro pouco; entretanto, ficaram cores, imagens soltas e lembranças de sensações. Estas são permanências que me interessam.

Tendo isto em vista, é possível que quando projetamos, esteja implícita a tentativa de traduzir estas atmosferas guardadas em nos-so inconsciente.

Partindo destes questionamentos, cresceu o interesse por trabalhar com espaços da me-mória. De certa forma, se aproximaria mais de uma memória da nossa história — do que dela ainda levamos conosco, de quais as re-miniscências ainda nos são possíveis — do que uma memória de um imaginário abstra-to, mais distanciado da vida cotidiana, como o das literaturas.

O processo de formação da ideia começou com uma conversa: um amigo descrevendo brevemente a história do livro que tinha acabado de ler. O livro abordava o tema da memória através da descrição da emprei-tada do escritor Joshua Foer para tornar-se campeão mundial de memória. É descrito

Page 5: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

5o processo de treinamento pelo qual o autor passou e o funcionamento de algumas técni-cas mnemônicas. Uma das mais populares delas tem o nome de “Castelo da Memória”. Nela, a pessoa que deseja guardar uma infor-mação deve colocá-la dentro de um “Caste-lo”. Este deve ser um lugar que o interlocutor conheça bem — a casa que morou, a escola que estudou — basta ser um espaço que esteja claramente construído em seu inconscien-te. Devemos transformar a informação em imagem para guardá-la dentro dele.

Com isto na cabeça pensei: em que Castelo eu colocaria tudo que me valesse guardar? Oprimeiro lugar que me veio à mente foi a casa da minha tia-avó, Maria Da Dalt, onde morou com sua mãe, minha bisavó, Angeli-na Da Dalt.

Mas aos poucos fui então passando da ideia do meu “castelo” — a casa da minha tia-avó, com os cômodos dentro dos quais guardaria minhas informações “imageificadas” — à lembrança e consequente nostalgia do que fora viver esta casa e este bairro nos fins de semana. Depois disto, decidi qual seria o local de intervenção do meu Trabalho Final.

Por que esta casa, não sei. Não sei, principal-mente, por, desde aquele dia até hoje, haverlugares dentro dela que estão borrados na minha lembrança. Outros, tenho bem claroenquanto unidade, mas não conseguiria en-caixar numa planta, não encontraria o cor-redor de circulação que me levaria à eles. Tal-vez por, naquele tempo, haver nesses lugares muito pouco que atraísse da minha atenção, ou, até mesmo, um receio de explorar esta casa que não era a minha, e que, talvez, neste fazer, ferisse a intimidade de seus habitantes.Me identifiquei com os escritos mais au-tobiográficos de Rainer Maria Rilke, e, valendo-me da falta de clareza espacial, con-siderei interessante explorar as capacidades plásticas destas situações. Elaborei, portanto, algumas ilustrações que externalizam o que tenho de alguma forma registrado destes lugares, alguns mais constituídos que outros. Por não ter nada muito claro, as impressões de agora se juntariam às antigas sensibilida-des, transformando-se em uma mistura de

Page 6: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

6 certezas e incertezas que estão em mim.

A casa está localizada no Bairro Fundação, em São Caetano do Sul. O bairro é impor-tante para a história da cidade por ter sido o berço dos fundadores do município e pri-meiro núcleo colonial dos imigrantes italia-nos. Uma de suas mais importantes constru-ções foi e é, até hoje, o complexo industrial das Fábricas Matarazzo. Meus familiares que moraram nas proximidades também traba-lharam lá até se aposentarem ou até o fecha-mento da fábrica, em 1986. Juntamente com a linha da CPTM e a hidrografia — formada pelo Córrego dos Meninos e o Rio Taman-duateí — é dada a “cara” do bairro, que, com o fim das atividades industriais e o aumen-to dos danos causados pelas enchentes, foi sendo paulatinamente abandonado por seus moradores e pela própria administração do município.

A fábrica encontra-se em meio a um proces-so de desmanche. Enfrentou uma primeira fase de modificação, em que a prefeitura transformou parte de seu terreno em praça de eventos: o Espaço Matarazzo, onde acon-teciam festas e shows. Agora resta pouco do edifício que, por tantos anos, mesmo com o fechamento das fábricas, permanecia como uma espécie de monumento ao curto perío-do de industrialização e à influência dos imi-grantes italianos nesta história. A demolição foi iniciada no final do ano passado, e tem previsão de ser concluída até o fim do ano.

O meu trabalho é, então, a união dos re-manescentes físicos da história da cidade à intervenção não programática em uma área. Em suma é um projeto com viés artístico, paisagístico e arquitetônico em um local onde ainda podem ser encontrados vestígios da história.

Page 7: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

7

Page 8: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

8 Esta fábrica, estes muros, este bairro estão em mim. Na minha cabeça eu os visito e encontro com as pessoas queridas que habitaram estes lugares. Estas lembranças me ligam às ruínas e dão sentido à vontade de intervir neste espaço. Encontro em mim a vontade de propor situações, caminhos e encontros. Mais do que uma implantação, tenho um conjunto de momentos, de ambiências e potencialidades. Lugares que evocariam também, nos seus futuros habitantes, lembranças (dificilmente as mesmas que as minhas) e sensações. Esta sempre foi a intenção, e, ao longo do processo, me vi com o desafio de encontrar a expressão plástica que tra-duzisse este esforço. Sempre fui uma partidária do desenho à mão, e me vejo neste momento último e único da minha graduação, com a oportunidade de experimentar do início ao fim, sozinha, um dos jeitos que eu gosto de projetar. A parte construindo o todo, apesar do todo nunca ser posto de lado. É um ir e voltar constante, muitas vezes caótico, mas, nenhuma palavra melhor que esta para definir o que eu sou, em quase todas as esferas da minha vida. Tudo que eu faço eu faço desse jeito.

depoimento 2˚ semestre.

Page 9: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

9

Page 10: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

10 bairro fundação: evolução urbana e contexto histórico A formação de São Caetano do Sul começa no século XVI, com a Vila de Santo André, fundada por João Ramalho, em 1554. Esta mais tarde foi abandonada e destruída em 1560. Acabou sendo ocupada por fazendeiros, tropeiros e carreiros que trabalhavam no transporte de mercadoria entre o porto e o Planalto. Algu-mas destas fazendas eram propriedades dos bandeirantes, que doaram, em 1631, sítios que possuíam no Tijucuçu aos padres bene-ditinos, que lá iniciaram a Fazenda São Cae-tano. A área era antes conhecida pelos índios por Tijucuçu, por ser uma grande área verde que, devido às cheias dos rios Tamanduatiba e Caaguaçu, hoje Córrego dos Meninos e Rio Tamanduateí, alagava e formava muito bar-ro. Os padres, além de pequenas plantações, mantinham uma olaria para fazer os tijolos, lajotas e telhas de que necessitavam para a construção do Mosteiro São Bento, em São Paulo.

A fazenda São Caetano pertenceu à ordem de São Bento por 246 anos, de 1631 a 1877, quando as terras foram desapropriadas pelo governo impe-rial para a formação de um núcleo colonial, por imigrantes italianos, o que ocorreu a 28 de julho. A região só passou a ser conhecida como São Ca-etano a partir da fundação da capela dedicada a esse santo, entre 1717-1720, no mesmo local em que está hoje a matriz velha. 1

Por volta de 1877 começaram a chegar os imigrantes italianos vindos da região do Ve-netto. Nesta época, os beneditinos já haviam deixado o local e formou-se, por ordem de D. Pedro II, o Núcleo Colonial, que for-neceria alimentos para a Província de São Paulo. A Estrada de Ferro São Paulo Railway já havia sido construída, e em 1883 é feita a estação local. A rodovia foi um fator decisivo para que isso acontecesse, já que era este seria um dos poucos fatores favoráveis à implan-tação de um núcleo colonial naquele local. O

1 MARTINS, José de Souza. A Formação do Espaço Regional do Tijucuçu e de São Caetano. Raízes, julho 1991.

Page 11: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

11

fonte José de Souza Martins, 1991

Page 12: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

12 núcleo era povoado por, além dos imigran-tes, caboclos remanescentes do bairro e da fazenda, que fora desapropriada, loteada e distribuída entre os colonos.

Foi com as olarias que os colonos obtiveram mais frutos, devido às cheias dos rios no pe-ríodo das chuvas. Havia muitas encomendas de São Paulo e em 1913 formou-se a Cerâmi-ca Privilegiada de São Paulo, que mais tarde seria chamada de Cerâmica São Caetano. Com o barro formado, produzia-se tijolos, telhas, louças, enfeites e outros artigos de cerâmica.

Em 1912 Francesco Matarazzo entra nos ne-gócios imobiliários de São Caetano, arren-dando a fábrica de graxa e sabão de Mariano Pamplona. Ele a comprou em 1916, circun-dando completamente a igreja, ao redor da qual estavam a Fábrica de Formicida e a Fábrica de Sabão, Óleos e Graxas Pamplona, Sobrinho & Cia. A partir de 1911, devido a uma política de incentivos por parte do município de São Bernardo, algumas fábri-cas foram atraídas para terrenos de vocação industrial nos vales do Tamanduateí e dos Meninos.

Dentre os fatores que levaram as indústrias a procurarem a cidade estava o aumento do valor dos terrenos de São Paulo, fazendo-se necessária a busca por outros locais. Influen-ciavam também o baixo custo dos terrenos, a presença da ferrovia, abundância de ma-téria prima para as indústrias cerâmicas, o suprimento de água para a indústria têxtil — vindo da represa do Rio Grande, em Santo André, e do rio Tamanduateí e córrego dos Meninos —, e a oferta de mão de obra. Dessa forma, junto às olarias e cerâmicas nativas, viriam a instalar-se outros estabelecimentos industriais, diversificando e incentivando a economia local. A cidade foi enriquecendo, e em 1930 já instalavam-se grandes indús-trias como a General Motors. Foi só em 1948 que a cidade se constituiu como município, tendo, assim, autonomia para gerenciar as indústrias instaladas em seu solo. Entre 1950 e 1970, já era vista como cidade industrial, recebendo novas fábricas e, consequente-mente, operários.

Page 13: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

13

fonte José de Souza Martins, 1991

Page 14: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

14

Page 15: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

15fabricas matarazzo: surgimento e evolução A implantação do complexo industrial da Matarazzo, em São Caetano do Sul, começou em 1912 com o arrendamento das indústrias Pamplona & Sobrinho. Atra-vés de uma sucessão de empreendimentos e investimentos dentro de si, a indústria cres-ceu e formou o que acabou sendo conhecido como Grupo São Caetano das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Ao longo dos anos formou o complexo que englobaria as fábricas de: Cortumes (1922); Rayon (1924); Papel, papelão e Celulose (1930), Cerâmica Matarazzo — Louças Cláudia (1935); Áci-dos (1936); Refinaria de Petróleo — I.M.Ê. (1938); Sulfato de Alumínio (1939); Soda Cáustica (1948); Acetileno (1954); Carbureto de Cálcio (1955) e Ácido Sulfúrico (1961). A partir de 1977 começa a desativação de al-guns destes núcleos. 2

Em 1912 são introduzidas uma caixotaria e uma serraria e, no mesmo ano, arrendam a Pamplona & Sobrinho, fábrica que existia na cidade desde 1976 nas terras da antiga Fa-zenda São Caetano, produzindo sabão, vela, graxas, óleos lubrificantes, glicerinas e estea-rinas. A área ocupada pela Pamplona era de 40 mil m2 e trabalhavam na fábrica em 1901 cerca de 35 mil empregados. A família tam-bém atuava na cidade através da Companhia Melhoramentos São Caetano, que controlou o nascimento dos primeiros loteamentos no Distrito.

Com a chegada da das Indústrias Matarazzo, os Pamplona começam a perder poder polí-tico. Exemplo disto é a perda da concessão de exploração do serviço de construção da rede de esgoto, em 1921. Já em 1917 a Matarazzo passa a figurar nos registros de impostos substituindo a Pamplona, pagando impostos e alvarás para a transferência das fábricas de sabão e óleo. A fábrica foi vendida para o grupo após decisão em assembleia pelo preço de oitocentos e vinte e cinco contos trezen-tos e cinquenta e seis mil e cem reis.

2 GIANELLO, Joesé Roberto. Raízes, Julho 2002. Fundação Pró-Memória — São Caetano do Sul.

Page 16: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

16 A Matarazzo, antes de arrendar as fábricas de sabão, começou com uma fábrica de farinha de trigo. Resulta desta a montagem de uma indústria de sacos, mais tarde transformada em fábrica de tecidos populares (especial-mente chita). O desenvolvimento das ati-vidades têxteis levou à compra de algodão em caroço, do qual eram aproveitadas as se-mentes de algodão, linter, torta e farelo. Esta operação inspirou a manufatura de outro subproduto da semente, surgindo a neces-sidade de produzir-se sabão para lavagem, que induziu à compra da fábrica de sabão, graxas, lubrificantes etc. Para encaixotar os produtos e colocá-los no mercado foram criadas as serrarias que, por sua vez, deram origem ao ramo de construção de móveis. A demanda de pregos mais variados exigida pelas serrarias incentivou o surgimento da fábrica destes artigos, que os fornecia em escala nacional. Para o transporte e arma-zenamento dos óleos necessitava-se de latas, levando à fundação de uma metalúrgica com litografia, cuja produção abrangia todos os tipos de invólucros metálicos. Portanto, percebe-se que a demanda levava à abertura de novos negócios, ampliando o espectro de atuação conglomerado. Na década de 50 o conjunto das empresas ocupava uma área de aproximadamente dois milhões de metros quadrados, possuía uma frota de navios, dez locomotivas com 200 vagões e 900 veículos motorizados para o transporte dos produtos.

fonte (texto e imagem) Raízes, Julho de 2002. Fundação Pró-Memória — São Caetano do Sul.

Page 17: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

17

Page 18: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

18

Page 19: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

19Unidades de SodaFábricas de B.H.C. (Hexacloro)Ácido Sulfúrico/ Sulfureto de CálcioCloroDepósitoEnxofreFábrica de PapelãoFábrica de CeluloseSwenson — Banhos para FiaçãoViscofil — Celulose/ Maturação e TrituraçãoMoagem de Celulose/ Laboratório e EscritórioVestiários (Sup)/ RestauranteEscolhaTanques de ÓleoOficina ElétricaLubrificaçãoChaminéDepósito de Caixa de PapelãoDepartamento de CeluloseFunilariaUnidade RayonCaixotariaLaboratório/ Escritório TécnicoOficina MecânicaLavagem de KaolimCabine ElétricaTanque de ÁguaCarpintariaDepósito de Matérias PrimasAlmoxarifadoRefeitório e EscritórioPortariaEscritórioResidência do DiretorAtelierEnvernizamento ColonialRefeitório/ VestiáriosEntrada de OperáriosSecadores/ EnvernizamentoFornos/ PrensasFábrica de LouçasArmazém/ SupermercadoBritadores/ Moinhos/ AdministraçãoDesfiadores de Fios (Fiação Hamel)Fornetas de FritaCompressores/ CaldeirasFábrica de XantatoFábrica ViscofilTorcedeiras ConicaleirasVila Operária

123456789

101112131415161718192021222324252627282930313233343536373839404142434445464748495051

Page 20: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

20

Page 21: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

211912 O grupo Matarazzo arrenda as quatro fábricas da antiga Pamplona, de sabões e óleos vegetais1913 Inicia as atividades da fábrica de pregos1915 Ermelino Matarazzo inicia a implan-tação em São Caetano do primeiro núcleo fechado de fábricas do grupo Matarazzo1922 Início das operações da Fábrica de Cur-tumes1924 Demolidos os antigos pavilhões da Pamplona para a construção e montagem da Viscoseda — futura Fábrica de Rayon1930 É montada a Fábrica de Papel, Papelão e Celulose1935 É fundada a Cerâmica Matarazzo — Louças Cláudia1936 Começa a funcionar a Fábrica de Áci-dos1938 É inaugurada a I.M.Ê. — Indústria Ma-tarazzo de Energia —, primeira refinadora de petróleo do Estado de São Paulo1939 Inaugurada a Fábrica de Sulfato de Alumínio1948 Inaugurada a Fábrica de Soda Cáustica1954 Inaugurada a Fábrica de Acetileno1955 Inaugurada a Fábrica de Carbureto de Cálcio1961 Inaugurada a Fábrica de Ácido Sulfú-rico1977 Desativadas as Fábricas de Rayon e Sulfureto1981 Fechadas as Fábricas de Cloreto e B.H.C.1982 Fechada a Fábrica de Soda Cáustica1995 Os operários assumem a direção da Ce-râmica Matarazzo — Louças Cláudia 1997 Parte do terreno da Matarazzo é utili-zada para a realização da Festa Italiana, nos festejos do aniversário de São Caetano

Cronologia retirada da Revista Raízes de Julho de 2002. Fundação Pró-Memória — São Caetano do Sul.Créditos da Imagem: Fundação Pró-Memória.

Page 22: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

22 depoimento de mario porfirio ro-drigues 3 Em 1935 a maioria dos habitantes de São Caetano pertencia à classe trabalhadora e pouquíssimos pensavam em classe média. As famílias mais abastadas possuíam propriedades, mas todos trabalhavam arduamente nas indús-trias locais.

Com nove anos e meio de idade, após sair das au-las no Grupo Escolar Senador Flaquer, almoçava rapidamente e trabalhava no período da tarde, até às 19 horas, na barbearia do sr. Dante Neri.

A barbearia estava situada na Rua 28 de Julho, por onde passavam os empregados da Rayon Matarazzo, em direção ao portão da fábrica, na praça Ermelino Matarazzo. Os empregados de ambos os sexos que trabalhavam em horário normal, regressavam do trabalho no horário de almoço, quando eu começava a trabalhar. Eram centenas. Uma hora depois, passavam os que en-travam às 14 horas e trabalhavam até às 22 ho-ras. Mais algumas centenas de pessoas. Nesse ho-rário, a maioria era composta por moças, jovens e bonitas, que cuidavam dos teares que enrolavam os fios artificiais.

(...)fui trabalhar na Fábrica de Louças Adelinas e, depois, já tendo completado 14 anos de idade, tive meu primeiro registro em carteira profissional nas Indústrias Aliberti S.A. Nessa época, meu ir-mão trabalhava como apontador na carpintaria das Indústrias Matarazzo e conseguiu um lugar pra mim de ajudante de carpinteiro.

Com Onofre Russo e mais um empregado prepa-rávamos caixas de madeira. A cada semana ou dez dias ajudávamos o carpinteiro a serrar as tá-buas nos tamanhos das caixas. Nos dias seguintes montávamos e pregávamos as caixas, separando as tampas que o setor de expedição usava após co-locar os fios de rayon que eram despachados para os clientes.(...) Era comum surgir um trabalho maior para os carpinteiros, que nos chamavam para ajuda-los.

3 Mário Porfírio Rodrigues é Morador do Bairro Fundação. RODRIGUES, Mário Porfírio. A Ma-ravilhosa Fábrica Rayon in: Revista Raízes, Julho 2002. Fundação Pró-Memória — São Caetano do Sul.

Page 23: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

23

fonte Adriana de Souza, 1995

Page 24: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

24

E íamos com eles para o interior da fábrica. Lem-bramos de tanques enormes, feitos em madeira peroba, que eram montados no local definitivo e depois recobertos com placas de chumbo. Ácidos aí eram depositados para a lavagem dos fios. Outras vezes eram reformas nas prateleiras dos almoxa-rifados gerais. Aos sábados à tarde fazíamos a limpeza da carpintaria e levávamos os retalhos de madeira e a serragem para serem usados como combustível no setor de caldeiraria, que fornecia calor para todas as seções do complexo industrial.Esses trabalhos fora da carpintaria permitiam que eu o os outros ajudantes ficássemos conhe-cendo quase todas as dependências do complexo industrial.

Em São Caetano poucas eram as ruas calçadas com paralelepípedos. Em época de chuva, os san-caetanenses eram obrigados a andar sobre ruas lamacentas ou ficar dentro de casa para não se sujarem com o barro espirrado pelos veículos.

Eu estava maravilhado vendo todas as ruas lar-gas cobertas de paralelepípedos e com calçadas de cimento nas laterais, muito melhores do que as vias públicas, limpas e ordenadas. Havia res-peito e todos obedeciam aos avisos. Os horários de entrada e saída eram rigorosamente cumpridos e os faltosos eram penalizados. Milhares de pessoas juntas, cada uma com sua função, respeitando--se. Tudo funcionava como se fosse uma grande família.

Page 25: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

25 introdução ao projeto Pontuadas as intenções e o panorama evolutivo da cidade, apresento a problemática e questões enfren-tadas na fase inicial do projeto a partir de três perguntas: Qual é o contexto atual, quais as referências e o que eu quero para este espaço?

Para pensar o projeto, me ative à realidade constatada a partir de duas visitas ao local. Jásabia do plano da prefeitura para a “remoção de alvenarias existentes em terreno público”(segundo placa afixada no local). No final de 2011 iniciou-se o processo de de demo-lição dos edifícios remanescentes, que seria concluído até o fim deste ano (2012). Parte da área viraria um parque, e no restante dela seriam construídas torres residenciais e de escritórios. Isto é decorrência de o restante já ter sido comprado por incorporadoras, à excessão da parte que pertence à Prefeitura. Era necessário, portanto, registrar o estado em que se encontrava a área, para a criação da base em que o projeto se apoiaria. As in-formações e condições dos prédios que eu considero neste projeto são referentes à visi-ta que fiz em junho de 2012. Depois disso, é possível que o processo de desmanche tenha continuado e até se concluído, mas optei por congelar a situação para elaborar a propos-ta, pois temia que o projeto perdesse cons-tantemente o sentido conforme as ruínas deixassem de existir como tal e passassem a conformar um grande vazio.

Na primeira visita percorri área da Fábrica de Rayon. Das Indústrias Químicas, que têm seu perímetro cercado por um muro, o único remanescente da fábrica é a chaminé. O espaço passou por uma primeira demoli-ção, 10 anos atrás, onde se abriu um grande espaço livre e criou-se um local para eventos chamado Espaço Matarazzo. Entretanto, ainda restavam os edifícios se voltavam para a rua Maximiliano Lorenzini. Essa rua foi criada juntamente com o Complexo Viário Prefeito Luís Tortorello, que corta o terreno da Fábrica. A Maximiliano Lorenzini já exis-tia e terminava na rua Mariano Pamplona, onde havia uma das entradas da Matara-zzo. De toda a área próxima à rua Mariano Pamplona só restam a fachada da fábrica e as chaminés. Nessa visita entendi melhor a

Page 26: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

26

Page 27: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

27

Page 28: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

28

Page 29: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

29

Page 30: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

30

Page 31: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

31

Page 32: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

32

Page 33: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

33relação entre a linha da CPTM e o terreno, que é cortado pela linha 10, Turquesa. O li-mite entre ambas é apenas o trilho do trem, não há nenhum elemento que os separem. A partir do trem, tem-se uma vista panorâmi-ca de todo o complexo; isso provavelmente decorre da desativação das fábricas, uma vez que estas, em sua materialidade, com seus gapões, edifícios e muros, eram responsáveis por determinar este limite mesmo depois de sua desativação, pois por muitos anos os edifícios lá permaneceram, apesar de terem adquirido o aspecto de ruína.

Um colapso na indiferenciação, as construções se diluindo na paisagem arruinada ao redor, con-fundindo-se com os processos físicos de longa du-ração. Afirmação definitiva da arquitetura: ela se realiza como um retorno à paisagem. Como no pitoresco, com suas ruínas cobertas por heras. Ao invés de se destacarem, elevando-se, as edificações se confundem com o solo. Em vez de arquitetura, des-arquitetura.4

Com o início da demolição o limite se per-deu, mas devido à impossibilidade de acesso ao terreno fez-se necessária a construção de algum tipo de barreira. Acho esta relação interessante e pretendia e mantê-la no pro-jeto por acreditar que o trem seja uma marca expressiva para a história do bairro e das fá-

4, 5 Os trechos citados são de Nelson Brissac Pei-xoto, curador do Arte/Cidade: A cidade e suas histórias. No pequeno ensaio que faz no prefácio do catálogo da exposição, fala sob sobre estes es-paços fabris abandonados na cidade, o que eles são e como o trem faz parte desta história, uma vez que estão geralmente localizados nas orlas do ramal ferroviário.

acima fachada da fábrica Rua Mariano Pamplonaabaixo Vista do trem da CPTM a partir do terreno

Page 34: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

34

Page 35: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

35

Page 36: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

36 bricas, além de determinar um dos limites daárea de projeto. É, portanto, o esforço de agregar e incorporar um elemento geral-mente desagregador.

O ramal ferroviário e suas ruínas industriais são como um corte que desagrega todo o desenho ur-bano da área, que rompe sua homogeneidade e continuidade, levando-o ao colapso. É um buraco negro, um vazio que se abre e engole a cidade. Uma “arquitetura entrópica”: um processo dinâ-mico de desorganização do tecido urbano.5

Na segunda visita comecei pela rua Perrella, paralela à rua da minha tia Maria. A lem-brança desta parte do bairro é forte; íamos visitá-la todos os domingos, passando sem-pre pela entrada da Cerâmica Matarazzo. Ao começar por lá, compreendi melhor aquela parte da fábrica, que desconhecia até então. Havia ali alguns edifícios, destacando-se um de alvenaria, em estado de ruína, mas com potencial para ser restaurado. Subindo a rua Rio Branco e virando à esquerda na 28 de julho, juntei o que entrevi sobre o portão da Cerâmica com outra área, que conheci somente devido à uma pequena abertura presente em um portão de metal, (provavel-mente uma entrada de serviço da fábrica). Era uma colunata da pilares, conectados em sentido longitudinal por vigas, resultante da demolição das alvenarias e lajes de um dos galpões da cerâmica. A 28 de julho desem-boca na praça da Igreja Matriz Velha, onde um dia existiu uma das entradas principais da Matarazzo. A partir dali entrei no terre-no, me dirigindo ao conjunto de galpões da fábrica Louças Cláudia. Havia um grande galpão ainda em estado físico convidativo à intervenção. Dentro do galpão, a presença de dois trilhos de trem e dois fornos de ce-râmica marcam o espaço além da sua estru-tura, definida por numerosos pilares e vigas predominantemente no sentido transversal. Um belo espaço, a partir do qual chega-se àquela área aberta que eu avistava através do portão da 28 de julho.

Feito um diagnóstico da situação da área e de suas edificações, passei para uma fase de pes-quisa. Me deparei com o fato de parte do ter-reno — correspondente à área das indústrias

Page 37: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

37

(dir)

(esq)

acima vista a partir da entrada da Cerâ-mica, na rua Perrela

acima vista interna do galpão (I)

abaixo vista a partir de um portão, na rua 28 de julho

abaixo vista interna do galpão (II) olhan-do para os fornos de ceâmica

página anterior

página atual

acima croqui de es-tudo

Page 38: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

38

fonte Luís Nunes Polastre, 2007

químicas — estar contaminada de mercúrio e H.C.H. (Hexaclorociclohexano). A con-taminação do solo é um assunto complexo, pela função econômica de “commodity” que a terra possui. Com o recente “boom” imobiliário vivido em São Paulo, era de se esperar que até as regiões menos nobres e periféricas virariam alvo de especulação.

Toda a região da Matarazzo e do Bairro Fun-dação sofrem com a questão das enchentes. Um dos motivos do bairro ter perdido aex-pressividade com o passar dos anos deve-se à queda no preço da terra, decorrente da prejudicada conexão com o resto da cidade, causada pelo corte da linha da CPTM, e pelas enchentes sazonais causadas pelo extravasa-mento da água do ribeirão dos Meninos e do Tamanduateí.

parecer cetesb sobre o terreno da indústria química matarazzo Uma área contaminada pode ser definida como área, local ou terreno onde há comprovadamente po-luição ou contaminação causada pela introdução

Page 39: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

39de quaisquer substâncias ou resíduos que nela te-nham sido depositados, acumulados, armazena-dos, enterrados ou infiltrados de forma planeja-da, acidental ou até mesmo natural. Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar--se em superfície nos diferentes compartimentos do ambiente, como por exemplo no solo, nos sedimentos, nas rochas nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas ou, de uma forma geral, nas zonas não saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas paredes, nos pisos e nas estruturas de construções.

As ações objetivando o controle das fontes de polui-ção ambiental da indústria tiveram início na dé-cada de 60. Durante o período em que operou no local, a empresa foi penalizada pela CETESB em diversos momentos, com autos de advertência e de multa por poluição de ar, águas e solo. No período de agosto de 1995 a março de 1997, investigações realizadas pela CETESB revelaram elevados níveis de concentração de mercúrio e Hexaclo-rociclohexano – H.C.H. no solo. Com base nesses resultados, a empresa foi autuada para realizar a remediação das áreas contaminadas — e com a exigência de não-aproveitamento da área para quaisqueratividades.(...)Desta forma, em outubro de 2001, a empresa foi novamente penalizada(...) com exigências para a apresentação de projeto de recuperação ambien-tal de toda a área contaminada da indústria, com o respectivo cronograma de execução, e para quantificar e apresentar a solução de tratamento para todo o material contaminado com Hexaclo-rociclehexano e mercúrio (material de escavação, edificações, equipamentos industriais e material de demolição), inclusive o solo na área situada em São Caetano do Sul. A referida empresa não apre-sentou qualquer proposta de remediação da área em atendimento das exigências formuladas nesse auto. Em vistoria no local em fevereiro de 2005, constatou-se a construção de obras viárias na área pela Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul, sem autorização e/ou conhecimento da CETESB. Por este motivo, foi imposto Auto de Intimação à Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e Indústrias Químicas Matarazzo S.A., para pres-tarem esclarecimentos sobre o assunto.(...)Em atendimento as exigências técnicas do auto de infração supracitado e aos Pareceres Técnicos

Page 40: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

40 CETESB n.ºs 068/ESCC/08, 016/ESCC/09 e 287/TACA/10 a empresa protocolou nesta agência ambiental em setembro do corrente ano Relatório de Investigação Complementar, Análise de Risco e Plano de Intervenção, os quais foram encaminha-dos para o Setor de Avaliação e Auditória de Áre-as Contaminadas para analise e considerações.

Pode-se dizer que estamos falando de uma Área Contaminada sob Intervenção (ACI), que é aquela em que se constata a presença de substâncias químicas em fase livre ou em que se comprova a existência de risco à saúde humana após investigação detalhada e ava-liação de risco. Para que o projeto seja viável, há a necessidade de transformar esse terreno em uma Área Reabilitada para Uso Decla-rado (AR) onde, após período de monito-ramento para reabilitação, é confi rmada a eliminação do perigo ou a redução dos riscos a níveis toleráveis para o uso declarado. Con-sidero que seja de interesse do município e obrigação dos agentes que contaminaram a área efetuar as medidas de remediação. A maneira mais rápida e efi ciente é retirar a terra e submetê-la a um processo de lava-gem e oxidorredução, visando a retirada os metais pesados e os poluentes, para que não ofereçam mais riscos ao meio-ambiente e às pessoas. O processo de seria do tipo “Ex Situ”, com remoção do material contaminado para tratamento em uma planta de tratamento. De forma geral, os solos contaminados são considerados resíduos e devem ser classifi -cados, armazenados, transportados e dis-postos conforme as normas vigentes. Entre as formas mais usuais de destinação de solos contaminados, pode-se citar: aterro classe I e classe II,coprocessamento, incineração, dessorção térmica, biopilha.

Sabe-se, portanto, que ao se constatar a necessidade de descontaminar a área são necessários dois anos para que o problema seja eliminado. O foco da contaminação tem localização conveniente, já que não restaram galpões industriais nessa parte do terreno. Tal fato facilita a escavação, retirada e dispo-sição de novo solo (livre de contaminação). O projeto vai considerar esta etapa prelimi-nar como prerrogativa.

Page 41: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

41

6 ZUMTHOR, Peter. Atmosferas.Portugal: Editora Gustavo Gili, 2005.

Compreendida a situação atual do terreno da Matarazzo e sua problemática, busquei projetos que servissem de referência para pensar o caráter desejado para intervenção, que consequentemente estruturaria o de-senho de seus espaços. Como referência de projeto, procurei lugares e situações com qualidades espaciais e paisagísticas que moti-vassem seu uso frequente mais pela vivência de sensações particulares e atmosferas únicas do que pela simples existência de um certo programa e/ou equipamento de lazer. Luga-res que fossem vividos e desfrutados devido à memória e à constatação destas sensações.

Uma denominação para isto é a atmosfera. Todos nós a conhecemos: vemos uma pessoa e temos uma primeira impressão. (...) Em relação à arquitetu-ra também é um pouco assim. Entro num edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fração de segundo sinto o que é. (...) A atmosfera se comunica com a nossa percepção, que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver. 6

Das várias referências que estudei, utilizo--me aqui de duas em especial para lustrar o que quero dizer quando me refi ro às “atmos-feras” (nos termos que Zumthor coloca). Vi-sitei ambas, e as elegi como as minhas duas grandes inspirações. Os sentimentos que eugostaria de evocar em meu projeto são pos-síveis pois quando estive no Pedregal da

Page 42: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

42

espacio escultorico: os pedregais de lava da cidade universitária da unam — mathias goeritz 7 Para Mathias Goeritz, a criação era uma operação sensual, extremamente complexa, com o objetivo de despertar dos os sentidos (…) foi excelente na arquitetura, que pressupunha a integração de todas estas técnicas, significava modelar o espa-ço, transformá-lo, fazê-lo transitável, habitável. Preenchê-lo com emoções.

Fica ainda mais evidente a intensa (ainda que discretamente) mística poética de Mathias Goe-ritz, e talvez sua obra-prima, o Espaço Escultórico nos pedregais de lava da Cidade Universitária. Mais do que uma tentativa de controlar a nature-za, cercando o caos pedregoso. O círculo de mono-litos abertos ao ceu convidam para a reflexão ou, melhor dizendo, para a meditação. Aí também, a paisagem retém seus direitos, e as construções apenas afloram. Esta é, talvez, uma das poucas, senão a única obra escultórica do século XX que cumpre, verdadeiramente, suas funções, como comprovam todos os dias os jovens que descansam sobre os monolitos, brincam de esconde-esconde (...). Meditar. Nunca antes o conceito de Goeritz de uma “arquitetura emocional” teve tanta resso-nância. Com simples blocos de concreto, Mathias Goeritz inatalou a poesia em meio ao pedregal. 8

7 Espacio Escultorico da Universidade Nacional Autônoma do México.8 por Olivier Debroise in: Mathias Goeritz — Las timidas revoluciones. (tradução livre).

acima: corte e planta abaixo: foto aérea

UNAM, no México, e no Memorial do Ho-locausto, em Berlim, senti o que era ser to-cado por um projeto. A experiência de estar em ambos não é facilmente descrita e, por isso, uso-me da palavra de outros para tentar expressar o que eu senti.

Page 43: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

43

Page 44: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

44 memorial do holocausto — peter eisenmann Nos 15 anos desde a queda do Muro de Berlin e a reunificação alemã, a nação se esforçou — dolorosamente e às vezes de-fensivamente — para chegar a um acordo com o seu passado nazista. O Memorial do Holocausto 9, projeto de Peter Eisenman, é a apoteose desde exame de consciência. Um vasto grid de 2,711 pilares de concreto (...), sem inclinar-se ao senti-mentalismo — mostrando como abstração pode ser a ferramenta mais poderosa para transmitir as complexidades da emoção humana.

A localização não poderia ser mais apropriada. Durante a guerra, este foi o locus administrativo da máquina de matar de Hitler. Não há manei-ra de apreender isto a partir de fotografias; pode ser entendido somente o experienciando enquanto espaço físico. Mas é só quando você re-emerge do memorial, reunindo-se com o mundo de todos os dias, que aquilo que você experienciou torna-se claro. Peter Eisenman, o arquiteto, disse que seu maior medo era sentimentalizar o Holocausto. “Eu não quero que as pessoas chorem para de-pois saírem com a consciência limpa” disse ele. A tranquila abstração do memorial — seu silên-cio perturbador e presença física gritante — tece psiquicamente o holocausto na nossa existência diária. Ele comemora sofrimentos passados, mas também nos obriga a reconhecer a relevância des-ta história hoje. 10

9 Memorial of the Murdered Jews of Europe, 200510 Texto traduzido e adaptado do artigo de Nicolai Ouroussoff em The New York Times: A Forest of Pillars, Recalling the Unimaginable, publicado em 9 de maio de 2005.

implantação, esquemas, cortes e foto aérea do memorial

Page 45: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

45

Page 46: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

4646 Tendo abordagem e base de trabalho formu-ladas, chego à terceira parte da etapa preli-minar, onde defi no o que eu quero para esse espaço.

A princípio, o projeto poderia seguir duas linhas opostas de trabalho. A primeira con-sistiria na inserção da área no tecido urbano dos arredores, através da proposta de um novo desenho de quadra, com novos usos e ocupações. A segunda seria manter aquele lugar como um vazio, um Parque, eviden-ciando-o como cicatriz da antiga ocupação, e destacando os edifícios remanescentes, que seriam restaurados e atuariam como elementos protagonistas neste espaço. Optei por essa segunda linha, por acreditar que mesmo o vazio pode ter um signifi cado; também por ela me oferecer possibilidades que iam de encontro às referências que tinha em mente.

Estes espaços estão à espera de que alguma coisa aconteça. Aqui o passado aguarda o futuro.

Em nenhuma outra parte da cidade a destruição e o abandono foram tão sistemáticos e intensos. Aqui surgiu uma área de desagregação, desprovi-da de vida, onde impera uma sensação de deca-dência, de desorganização e perda. Mas também uma certa grandeza emana do ordinário, do descartado, naqueles lugares sem destino.11

Portanto, utilizando-me dessa realidade que Nelson Brissac denuncia em seu texto, pro-curo na minha intervenção trazer de volta a este espaço a vida descrita nos relatos de an-tigos moradores e funcionários das fábricas.

Desenvolvi o trabalho através da elabora-ção de croquis e desenhos que retratam os diversos ambientes do Parque. O percurso foi então invertido com relação àquele mais frequente: da parte cheguei ao todo, que só foi possível por saber o que eu queria para aquele lugar, e porque, o tempo todo, tran-sitei da pequena à grande escala.

Uma última vez, cito Wim Wenders em sua leitura do Japonês Yasujiro Ozu, em Tokyo Ga.

Page 47: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

4747Esta crônica leva quase quarenta anos para retratar a transformação da vida no Japão. Os fi lmes de Ozu lidam com a lenta deterioração da família japonesa e, consequentemente, com a deterioração da identidade nacional. Mas ele o faz não apontando com consternação o que é novo, ocidental ou americano, mas lamentando ao mesmo tempo com um senso de nostalgia o que se perdeu.

Mesmo sendo um retrato específi co da sociedade japonesa, estes fi lmes são, de certa forma, uni-versais. Neles eu fui capaz de reconhecer todas as famílias de todos os países do mundo, assim como os meus pais, meu irmão e eu mesmo. 12

Apesar de estar falando de cinema, acredito que com a arte, escultura, música, arquite-tura entre outras artes, possamos alcançar resultado semelhante ao descrito.

O tipo de lugar que eu quero criar tem como objetivo incitar em cada um algum tipo de recordação. O conjunto de espaços deste Par-que conformam um todo que, quando expe-rienciado completamente, pode proporcio-nar algum tipo de nostalgia do que pode ter sido aquele bairro em tempos anteriores ao nosso.

11 PEIXOTO, N. B. in: Arte/Cidade: A cidade e suas Histórias. Catálogo da Exposição, 199712 Wim Wenders em Tokyo-Ga, 1985

Page 48: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

48

Page 49: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

49

proposta de um parque na área das antigas indústrias matarazzo Pro-põe-se para este terreno uma nova função social. Para este local outrora associado ao Traba-lho sugere-se um novo uso, oposto em sua essência à herança industrial. A forma de ocupação do espaço também pauta-se pela negação: uma área livre em substituição à adensada estrutura dos galpões fabris.Esta intervenção tem como estrutura fun-damental a afirmação do vazio deixado pelo tempo. Hoje, muito mais do que ruínas, o maior vestígio do patrimônio deixado pela Matara-zzo é este terreno e as memórias nele conti-das. Se um dia lá houve um grande conglo-merado, o que se vê atualmente desta antiga ocupação não são mais do que dois edifícios em estágio avançado de degradação.

Para explicar o projeto divido-o em 10 espa-ços.

espaços do parque

1. Entrada Cerâmica Matarazzo: Rua Perrela2. Galpão Louças Cláudia e Corredor de Pi-lares3. Teatro 4. Pavilhão de Eventos e Museu da Memória5. Praça da Igreja Matriz Velha6. Parede de Equipamentos de apoio ao Par-que7. Piscinas e acesso ao Cais Baixo8. Cais Baixo9. Gramado Vila Operária10. Passeio Ribeirão dos Meninos11. Estacionamento

Page 50: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

50

Page 51: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

51

Page 52: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

521

2

3 4

5

6 7

9

11

Page 53: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

53

8

10

Page 54: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória
Page 55: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória
Page 56: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

56

entrada cerâmica matarazzo: rua perrela Alguns dos acessos tradicionais da fábrica são conservados para manter parte dos marcos simbólicos do Bairro Fundação. É o caso do portão de entrada da Cerâmica Matarazzo, onde será mantida a inscrição em seu topo. O acesso é livre: o portão se abre para definir uma das formas de chegar ao Parque.

Page 57: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

57

Page 58: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

58

Page 59: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

59

Page 60: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

60

galpão louças cláudia e corredor dos pilares São dois espaços que, por serem interligados, podem ser lidos como um só.

O Galpão tem um sistema estrutural sim-ples de viga-pilar. Seus numerosos pontos de apoio atribuem um ritmo interessante ao ambiente. Longitudinalmente, as extre-midades são independentes da estrutura do miolo, conectadas apenas pela laje. Propõe--se a eliminação desta conexão, abrindo dois rasgos no meio do Galpão. Nestas aberturas estarão as escadas que levam ao andar supe-rior que abriga uma área de estar com ban-cos e mesas. Na parte inferior estão o foyer, bilheteria do Teatro e um Café. Ambos os pavimentos do Galpão podem servir de es-paço expositivo. O pavimento térreo tem dois elementos remanescentes do uso da fábrica que foram mantidos: dois fornos de cerâmica, com estrutura de alvenaria e dois trilhos de trem.

O Corredor dos Pilares é definido não pela adição de materiais, mas pela retirada. É o que restou do desmonte de um dos galpões da Louças Cláudia. Os pilares e seguem o ritmo estrutural do Galpão.É um espaço de passagem, mas espera-se que a permanência dos pilares e vigas acrescente algo ao caminhar do transeunte.Este percurso encerra-se com pilares metá-licos perfil “I” de alturas variadas, dispostos em um grid três vezes menor que o defindo pela estrutura da fábrica. A mudança na re-lação entre a altura e distancia entre pilares proporciona uma quebra, sinalizando um ponto final aos edifícios históricos.

Page 61: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

61

Page 62: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

62

Page 63: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

63

Page 64: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

64

Page 65: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

65

Page 66: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

66

teatro Juntamente com o Galpão e o caminho de pilares, o Teatro compõe o grupo de Edifícios que serão restaurados. A fachada é a única parte que permanece.

O teatro é no formato arena com duas pla-teias e com o palco no centro. O segundo an-dar também pode ser utilizado, com assentos dispostos na perimetralmente.

Page 67: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

67

Page 68: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

68

pavilhão de eventos e museu da memória Os dois equipamentos estão localizados nos “fundos” do parque, conec-tados a um deck de madeira. A linha-limite do parque é desenhada por uma contenção de gabião de 1,5m de altura, que ao mesmo tempo que delineia este fim-de-linha, separa o Parque da linha da CPTM mantendo a sua visual. Sobre esta estrutura se apoia o deck.

O Museu da Memória é um elemento ver-tical no Parque. Além dele, somente as cha-minés atingem altura parecida. O Pavilhão de Eventos compõe com esta verticalidade.

Dois monolitos. Um é de concreto, estéril e hermético, com portas metálicas de mesma tonalidade que, quando abertas, rompem a aparente dureza. O outro, em estrutura me-tálica com uma camada de tela perfurada, fe-chando o sólido, mas permitindo ver através dele, revelando o ritmo dado pela disposição desencontrada das escadas na fachada.

Page 69: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

69

Page 70: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

70

Page 71: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

71

Page 72: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

72

Bom é o seguinte, no tempo da crise, nós, rapa-ziada, todos sem emprego onde é que nós íamos? Então pra se divertir, pra passar o tempo, íamos lá na igreja. E as moças que entravam as duas horas da tarde na Matarazzo, passavam em frente obri-gatoriamente. E nós todos sentados em volta na entrada da igreja, sentados no chão, nós fazíamos disputa pra ver quem ganhava mais “boa tarde”. Cada moça que passasse e dissesse um boa tarde para essa pessoa então ele fazia um risquinho no chão. E nós conferíamos pra não sermos engana-dos. Eu nunca cheguei a vencer um torneio, eu sempre fui derrotado. E no fim nós somávamos, bom, quantos riscos? Cinco riscos, três riscos, dois riscos. Bom, você ganhou hoje, você é o campeão. Essa era a nossa diversão. Entre nós, parceiros a maioria já todos mortos, mas quem tinha mais conhecimento. Onde as moças moravam, quem tinha mais chego lá, ganhava vantagem. Agora, por exemplo,eu daqui de baixo da Fundação, só as da Fundação que me cumprimentavam, as de lá de cima não. Esse era um passatempo nosso. Disputavam um boa tarde, ia riscado na terra com palitinho.(Mero Mario Basso) 12

12 SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Ma-tarazzo. Universidade Católica de Santos: Trabalho de Graduação Interdisciplinar. Orientador: Paulo Mello Bastos, 1995.

Page 73: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

73

Planta esquemática da Praça

Page 74: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

74

praça da igreja matriz velha Pro-põe-se a aplicação de um piso diferenciado dos demais do parque com a intenção de marcar este espaço — nó na ocupação da fá-brica e agora ponto central do Parque. O piso é de saibro, de tonalidade amarelada. A Festa Italiana continuará sendo realizada nesta parte do parque, com a possibilidade de espalhar suas atividades também para outras áreas.

Page 75: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

75

Page 76: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

76

parede de equipamentos de apoio ao parque Abriga vestiários feminino e masculino, para visitantes e funcionários, copa, almoxarifado, posto da gcm (guarda civil metropolitana), e um bicicletário. Sua estrutura é composta por pilares metáli-cos (seção quadrada) e vigas metálicas (perfil “I”). A laje é em Steel Deck. Em sua cobertura estão dispostos bancos, criando mais uma área de estar. Uma arqui-bancada a conecta com o Parque.

Page 77: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

77

Page 78: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

78

Page 79: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

79

Page 80: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

80 Nós íamos lavar roupa no rio mas tinha poço. Mas a água daqui era estragada. O Matarazzo, fizeram a fábrica e eles fizeram o esgoto para sair a água com o ácido, mas não fizeram de chumbo, era de cimento, e o cimento aquele ácido come, né? E penetrou... Aqui, de lá da esquina até lá pra baixo tinha água, mas não prestava. Você pegava a água para lavar a mão, a água... Se você lavava a cabeça, o cabelo ficava tudo grudado, de ácido. Um cheiro de ácido que só vendo. A água pra... até jogava água no chão, pra lavar, a água descia nem penetrava... Não podia usar. Só pra molhar a verdura e ainda molhar de manhã cedo, ou senão de noite, senão a verdura queima-va tudo, do ácido. Então depois meus pais e todo o pessoal daqui foram reclamar na fábrica. Aí então eles fizeram, vieram examinar a água, veio engenheiro, tudo. Daí examinou a água e tinha não sei quanto de ácido. Um poço do meu pai que era um colosso de poço! Grande! Dava tanta água que só vendo. E a água não servia pra nada. Aí então o Matarazzo viu que tinha ácido mesmo, então ele falou “Olha, vocês vão pegar água ali” no refeitório lá. Tinha as torneiras e nós íamos buscar água lá. E tinha o meu tio que tinha um poço mais pra cima, aquela não tinha afetado. Pra lavar roupa, fazer as coisas, a gente ia busca lá e pra beber a gente ia buscar no Matarazzo. Todo dia de manhã ia com aqueles caldeirões, aqueles baldes, pra encher tudo de água. Ah... passamos uma vidinha boa, viu? E quando cho-via, aquele barro! Era terra no chão. Ah, e buscar água, meu deus do ceu! A gente se enterrava até o joelho de barro. Mas uma vida boa, viu? Não achei tão ruim não. Já foi! O que passou, passou, né? Ali não era fábrica. Era tudo tanques de água do Matarazzo, que ia para a Seda. Era tudo aber-to, tinha os filtros que filtravam a água para fazer a seda, viscoseda, que iam pra lá, ali na frente. Só uma parte era fábrica.(Helena Boteon) 13

13 SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Ma-tarazzo. Universidade Católica de Santos: Trabalho de Graduação Interdisciplinar. Orientador: Paulo Mello Bastos, 1995.

Page 81: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

81

acima Montagem em cima de foto da Praça em Bordeau Le miroir d’eau.abaixo Plaza de la República, Mexico DF, 2011.

Page 82: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

82 piscinas e acesso ao cais baixo Defi-nem a área das “águas” do Parque. As pisci-nas pretendem-se monumentais, compondo com a extensa área pavimentada.

As duas piscinas tem água limpa e apropria-da para banho. Duas escadas definem o aces-so às piscinas. A altura do buraco é 5 metros, remetendo aos antigos poços do bairro, atra-vés dos quais obtinha-se água potável.

Ao redor das piscinas um sistema de vapor e jatos d’água mantém o piso sempre molha-do.

Três escadarias levam ao Cais Baixo, 6 me-tros abaixo da cota da praça. Também pode ser acessado através das escadas que estão incorporadas em seu muro limítrofe.

Page 83: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

83

Page 84: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

84

Page 85: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

85

Page 86: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

86

Page 87: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

87

Page 88: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

88

cais baixo Funciona como uma praia, com superfície dividida entre piso de concre-to e de pedras. As pedras fazem a transição entre o Córrego dos Meninos e o pavimento de concreto. Sua permeabilidade é favorável nos períodos de cheia do rio.

O Cais Baixo também ajuda a evitar as en-chentes no bairro. Em situações aumento do nível do rio, fecham-se seus acessos e passa a atuar como um piscinão.

Page 89: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

89

Page 90: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

90

Page 91: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

91

Page 92: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

92

gramado vila operária Esta era a a área antigamente ocupada pelas Indústrias Químicas Matarazzo e, por isso, corresponde à porção do terreno que terá seu solo subme-tido a um processo de descontaminação. A terra contaminada será removida e será co-locado um solo novo, que não ofereça riscos à saúde e ao ambiente.

Após este processo, este espaço será definido por um grande gramado, uma chaminé que foi preservada, e as árvores existentes.

É um uso que respeita a presença da antiga Vila Operária e estabelece uma relação não invasiva com os fundos destas casas.

Page 93: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

93

Page 94: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

94

Page 95: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

95

agradecimentos Depois de um ano de imersão neste trabalho, não poderia finalizar o caderno sem agradecer aqueles que contri-buiram nas diversas etapas do processo.

À minha família. Meus pais, Virgínia e Au-relio, irmão, Thomaz, e avós, pela paciência nestes anos, apoio incondicional, e interesse pelo trabalho. À minha tia Maria, pelas lon-gas conversas, relatos e histórias, essenciais para que eu me lembrasse constantemente da importância deste trabalho na minha vida.

Às minhas queridas colegas de faculdade Marcela Ferreira, Luísa Fecchio, Natália Tanaka, Giselle Mendonça e Mariana Stras-sacapa. Fica difícil falar sobre pessoas que desde o início estiveram presentes, partici-pando, ensinando e aprendendo junto, mas tenho certeza de que sem elas este trabalho não teria sido possível. Percorremos juntas estes últimos seis anos e, neste último, o trabalho cresceu e se materializou graças às nossas conversas.

Aos demais colegas da fau e de tantas outras esferas da minha vida. Foram muitas as con-tribuições, sou muito grata a todos .

Às equipes da rua Lira, 23 sul e soma arqui-tetos, por tudo.

Ao meu orientador, Luís Antonio Jorge, pela cuidadosa orientação, incentivo e entusias-mo com o tema.

À banca examinadora, por aceitar o convite e contribuir para a discussão.

Page 96: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

96 bibliografia básica

MARTINS, José de Souza. A formação do es-paço regional do Tijucuçu e de São Caetano. in: Raízes, #5: 4-17, julho de 1991. Prefeitura de São Caetano do Sul.

__________. São Caetano do Sul em IV sécu-los de história (Ensaio Histórico). São Caetano do Sul, Rotary Club, 1957.

MEDICI, Ademir. Migração e Urbanização. A presença de São Caetano na Região do ABC. Prefeitura de São Caetano do Sul, Hucitec, 1993.

RAMOS, Adriana M. C. e SOUZA, Monica. Cotidiano e História em São Caetano do Sul. São Paulo: Hucitec, 1992.

GARBELOTTO, Oscar. Cenas do Bairro da Ponte (1920 - 1940). in: Raízes, #6, janeiro 1992. Prefeitura de São Caetano do Sul.

RODRIGUES, Mário Porfírio. A Maravi-lhosa Fábrica Rayon. in: Raízes, Julho 2002. Prefeitura de São Caetano do Sul.

ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. Portugal: Editorial Gustavo Gili, 2005

PEIXOTO, N. B. in: Arte/Cidade: A cidade e suas Histórias. Catálogo da Exposição, 1997

RILKE, Rainer Maria. Os cadernos de Malte Laurds Brigge. Novo Século, 2008.

RULFO, Juan. Toda la Obra: Edición Critica. 2a edição; Madrid, Paris, Mexico, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro, Lima, AALCA XX, 1996.

DEBROISE, Olivier. Mathias Goeritz — Las timidas revoluciones. www.arte-mexico.com/critica/od62.htm (tradução livre).

OUROUSSOFF, Nicolai. A Forest of Pillars, Recalling the Unimaginable. The New York Times, 9 de maio de 2005 (tradução livre).

SOUZA, Adriana. Repensando o Espaço Ma-tarazzo. Universidade Católica de Santos:

Page 97: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

97Trabalho de Graduação Interdisciplinar. Orientador: Paulo Mello Bastos, 1995.

internet

Gerenciamento de Áreas Contaminadas: Conceiros e Informações Gerais. in: http://www5.fiemg.com.br/ cetesb http://www.cetesb.sp.gov.br/areas-contaminadasfundação pró-memória http://www.fpm.org.br

bibliografia complementar

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembran-ças de Velhos. São Paulo: Companhia das Le-tras, 1994.

NAVA, Pedro. Baú de Ossos. 1a edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

TANIZAKI, Junichiro. Em louvor da sombra. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

ROSSI, Aldo. A Arquitetura da Cidade. 2a edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MCQUADE, Marc, ALLEN, Stan. Landform Building: Architecture’s New Terrain. Princeton University School of Architecture. Nova York: Lars-Müller Publishers, 2011.

BANDEIRA, Pedro. Tudo é arquitetura. in: Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método. Porto: Dafne Editora, 2011.

BARDI, Lina Bo. Lina Bo Bardi. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.

crédito das imagens

Fundação Pró-Memória — Prefeitura de São Caetano do Sul: pp. 16,;17; 20 e 24.Adriana de Souza: pp. 14 e 23José de Souza Martins: pp.11 e 13emplasa: pp. 26; 27; 28; 29; 30 e 31Luís Castañeda: p. 19Wikipedia: p. 21Peter Eisenman, 1998: p.21

Page 98: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

98

são paulofauusp, 2012

Page 99: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

99

Page 100: TFG Stela Da Dalt: Lugares da Memória

100