textos de economia e política de rolf kuntz
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Compilação de textos escritos por Rolf Kuntz no jornal O Estado de S. Paulo.TRANSCRIPT
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Um governo atolado vai desemperrar a economia?
Postado por: Rolf Kuntz 21/07/2013 em Artigos, Destaque, Eficincia
Tiririca estava errado. No Brasil, sempre d para piorar, como tm
provado com notvel diligncia a impropriamente chamada classe poltica
e o governo da presidente Dilma Rousseff. Qual a distncia, hoje, entre
otimismo e pessimismo nas previses econmicas? A economia brasileira
crescer em mdia 3,2% ao ano entre 2014 e 2018, segundo a nova bola
de cristal operada em parceria pela Fundao Getlio Vargas (FGV) e pela
instituio de pesquisas The Gonference Board, o indicador antecedente
composto. No discurso oficial, um crescimento inferior a 4% ou 5% ao ano
jamais foi admitido, at h pouco tempo, como padro normal para o
Brasil. Poderia ocorrer como consequncia de choques externos ou em
fases de ajuste muito forte, mas sempre como situao excepcional. Hoje,
at uma expanso pouco superior a 3% por vrios anos pode parecer
improvvel, quando se considera a crise de produtividade da economia
nacional.
No h clculo seguro do potencial de crescimento do pas, mas os
nmeros estimados vm caindo nos ltimos anos da faixa de 3,5% a 4%
at h pouco tempo para algo entre 2,5% e 3% nas ltimas avaliaes. O
nmero de 2,5% foi indicado esta semana pela economista Alessandra
Ribeiro, da consultoria Tendncias, segundo o jornal Valor.
Calcular o produto potencial pode ser muito complicado, mas, apesar
disso, economistas e formuladores de polticas tm excelentes motivos
para levar em conta esse conceito. A existncia de limites tem sido
mostrada amplamente pela experincia. Pode-se ultrapass-los de vez em
quando, mas insistir na aventura acaba normalmente em desastre.
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Inflao e desequilbrio externo so consequncias bem conhecidas e
muito frequentes na Histria do Brasil.
Inflao e desajuste crescente no balano de pagamentos j esto
presentes no cenrio brasileiro, apesar do crescimento pfio dos ltimos
dois anos e meio. Ningum deveria iludir-se com o recuo de alguns ndices
desde o ms passado. A reduo dos preos dos alimentos tem efeito
passageiro na formao dos indicadores, assim como a reduo das tarifas
de transporte coletivo. Grandes fatores inflacionrios, como o desarranjo
fiscal, a expanso do crdito e os aumentos salariais acima dos ganhos de
produtividade, foram apontados, mais uma vez, na ata da ltima reunio
do Comit de poltica monetria (Copom), divulgada na quinta-feira. A ata
destoou claramente do discurso presidencial do dia anterior.
Os autores do texto, no entanto, apontaram a possibilidade de um
arrefecimento da demanda se nada for feito para reverter a tempo a crise
de confiana do setor empresarial e das famlias. Por enquanto, a
demanda domstica tende a se apresentar relativamente robusta,
especialmente o consumo das famlias, segundo a ata. Mas os sinais de
alerta j esto acesos. O texto contm o suficiente para indicar o risco de
uma estagnao mais ampla, mas seus autores poderiam ter ido mais
longe. Se o consumo cair, o investimento continuar insuficiente e a
indstria continuar em marcha lenta, como ficaro as j estropiadas
finanas pblicas?
A peculiaridade brasileira outra: programas so secundrios e o
fundamento das alianas a partilha dos benefcios do poder
No h resposta para o problema do crescimento, no Brasil, sem a ao do
governo, mas o governo est atolado na prpria incompetncia gerencial,
raphael turraHighlight
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na indigncia de ideias de seus formuladores de polticas e num esquema
pegajoso e sufocante de alianas polticas.
No Brasil, dizem especialistas, nenhum presidente pode governar sem
acordos, s vezes com parceiros da pior espcie. Pode ser. Em muitos
pases coalizes so indispensveis operao do governo. Alianas, no
entanto, so em geral precedidas de algum entendimento a respeito de
objetivos e mtodos. o caso, em pases da Europa, da formao de
gabinetes para enfrentar a crise fiscal e financeira.
A peculiaridade brasileira outra: programas so secundrios e o
fundamento das alianas a partilha dos benefcios do poder. No se
divide o governo como responsabilidade, mas como butim. Esse padro se
fortaleceu com a disposio petista de aparelhar e lotear a mquina
federal. Nada mais natural, quando um partido chega ao Palcio do
Planalto com um projeto de poder e nenhum projeto real de governo.
Sem alianas em torno de um programa, o governo forado a negociar
com a base a votao de cada projeto, como se nenhuma ideia geral desse
um sentido comum s vrias propostas. No se pode sequer confiar na
aprovao da Lei de Diretrizes Oramentrias, condicionada pelos
companheiros adoo de um impropriamente chamado oramento
impositivo na prtica, uma simples manobra para tornar obrigatria a
liberao de verbas para emendas.
A um governo com essas condies de funcionamento e comandado por
uma presidente cada vez mais isolada cabe a misso de promover a
mudanas necessrias para destravar a economia, aumentar seu potencial
de crescimento e impor ao Pas um ritmo de expanso mais parecido com
o dos emergentes mais dinmicos.
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Nenhuma tarefa importante ser cumprida se a presidente Dilma Rousseff
e sua equipe forem incapazes de comear a arrumao das prprias
contas. Para isso ser necessrio desfazer a confuso de incentivos
temporrios e permanentes, trocar as aes pontuais pelas chamadas
polticas horizontais e cortar o vnculo incestuoso entre o Tesouro e os
bancos controlados pela Unio.
Tudo isso dever ser apenas o comeo de uma lista enorme de mudanas.
Elevar a eficincia na elaborao e na conduo de projetos de
infraestrutura ser outro desafio to duro quanto urgente. Sem isso, at
como exportador de matrias-primas o Pas ser cada vez menos
competitivo.
Que diro dessa agenda os marqueteiros eleitorais da presidente?
Sem o governo nenhum problema se resolver, mas o prprio governo o
primeiro problema.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 20/07/2013
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Dilma no pode ser melhor que seu governo
Postado por: Rolf Kuntz 28/07/2013 em Artigos, Democracia
Representativa, Estado de Direito
Nenhum governante, diz o bom senso, pode ter desempenho melhor que
o de seu governo. No caso do Brasil, trata-se de uma administrao
fracassada, com dois anos e meio de estagnao econmica, inflao alta,
contas pblicas em mau estado, contas externas em deteriorao e
resultados gerais muito inferiores aos de outros latino americanos. Alm
disso, as possibilidades de melhora at o fim do mandato parecem muito
escassas. Mas o senso comum dos brasileiros tem algumas peculiaridades
notveis. Parte substancial dos cidados considera a presidente Dilma
Rousseff melhor que seu pfio governo. Enquanto s 31% avaliam o
governo como timo ou bom, 45% aprovam o desempenho da presidente.
Os dados so da ltima pesquisa CNI-Ibope e confirmam, de modo geral,
as tendncias indicadas em sondagens recentes.
Quanto avaliao da presidente, importante ressaltar o detalhe: a
pergunta sobre sua maneira de governar. No se trata de sua pessoa. O
entrevistado poderia consider-la honesta, esforada, gentilssima,
simptica e movida pelas melhores intenes, mas frustrada em seu
empenho por divindades invejosas. O Olimpo um ninho de maldades.
Mas a histria outra, e a est o dado intrigante. O modo de agir da
chefe de governo avaliado mais favoravelmente que a ao do prprio
governo, embora ela seja responsvel pela escolha dos ministros e, como
todos sabem, centralizadora, mandona e habituada a distribuir broncas e
a maltratar seus subordinados.
Essa notvel dicotomia entre o presidente e a administrao federal pode
parecer misteriosa, mas um velho componente da poltica nacional. Para
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milhes de brasileiros, houve sempre uma distncia imensa entre a figura
de Getlio e as prticas de seus subordinados. O presidente Joo
Figueiredo sempre foi mais popular que seu governo, embora seu perodo
tenha sido marcado por uma recesso pavorosa, com muito desemprego,
empobrecimento e fome. Nessa fase, muitas famlias s conseguiram
consumir alguma protena de origem animal, de vez em quando, porque
supermercados passaram a vender separadamente asas de frango. Mas o
presidente nunca foi to mal avaliado quanto qualquer de seus ministros.
Apesar da estranha separao entre o Palcio do Planalto e os ministrios,
ainda mais estranha no caso de uma presidente centralizadora, os
brasileiros parecem ter noes claras de alguns dos principais defeitos da
administrao. A avaliao dos impostos e do uso do dinheiro pblico
inequvoca. Os entrevistados deveriam dizer se, em sua opinio, o
governo j arrecada muito e no precisa aumentar mais os impostos para
melhorar os servios pblicos. Essa dupla afirmao foi classificada como
total ou parcialmente verdadeira por 87% dos consultados. Para 82%, a
baixa qualidade dos servios pblicos deve-se mais m utilizao dos
recursos pblicos do que falta deles. Para 91%, os impostos so
elevados ou muito elevados.
A presidente discorda. Na quinta-feira, quando a CNI divulgou a nova
pesquisa realizada pelo Ibope, o Dirio Oficial registrou o veto ao projeto
de extino da multa adicional de 10% do FGTS nos casos de demisso
sem justa causa. Segundo a mensagem presidencial, os parlamentares
deixaram de indicar fontes para compensar a perda de cerca de R$ 3
bilhes e, alm disso, a falta desse dinheiro foraria o governo a reduzir
investimentos em infraestrutura e no programa habitacional.
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Essa notvel dicotomia entre o presidente e a administrao federal pode
parecer misteriosa, mas um velho componente da poltica nacional
As duas alegaes so furadas. A multa adicional, paga diretamente ao
governo, foi criada para compensar o custo de esqueletos fiscais deixados
pelos Planos Vero e Collor 1. Essa funo, segundo informou h um ano e
meio a Caixa Econmica, gestora do fundo, estaria concluda em julho do
ano passado. No tem sentido, portanto, cobrar dos congressistas a
indicao de como compensar a perda. Em segundo lugar, o governo
jamais deveria ter tratado essa receita como recurso permanente.
Esse erro, uma velha tendncia da administrao brasileira, toma-se mais
forte num governo propenso confuso na rea fiscal. A maior parte dos
cidados acompanha muito de longe as aventuras da administrao.
Acaba sentindo, depois de algum tempo, os efeitos dos erros acumulados,
como os problemas de sade, segurana e educao. Nenhuma das
grandes questes apontadas pelos entrevistados nova na imprensa
independente.
A comparao entre o governo atual e o do presidente Lula outra
aparente esquisitice revelada pela pesquisa. Para 46% dos entrevistados, o
governo da presidente Dilma Rousseff pior que o do antecessor. Em
junho, 25% dos consultados haviam expressado essa opinio. Essa
avaliao seria mantida, se as pessoas se dispusessem a pensar alguns
minutos?
Afinal, o presidente Lula quase se limitou a aproveitar, durante a maior
parte de seus oito anos, da herana de reformas deixada pela
administrao anterior e de um quadro internacional muito favorvel at
o fim de 2008. Elevou o salrio mnimo, transferiu renda com recursos
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pblicos e ampliou o mercado interno, sem nada ter feito para fortalecer a
capacidade produtiva do Pas.
Sua melhor realizao foi tambm a mais fcil. Ele jamais enfrentou para
valer as tarefas mais complicadas. Alm disso, rejeitou a proposta do
ministro Antnio Palocci de iniciar um programa srio de equilbrio das
contas pblicas. A presidente Dilma Rousseff apenas manteve o estilo de
seu antecessor. Ao insistir nesse caminho, acelerou a desorganizao das
contas federais, alimentou a inflao e deixou a economia estagnar-se,
porque as fontes internas e externas de dinamismo estavam esgotadas.
Dilma no mais do que uma extenso da gente, disse Lula a
companheiros, na tera-feira, num aparente impulso de veracidade. No
faz sentido, neste caso, avaliar a extenso sem levar em conta sua
fidelidade origem.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 27/07/2013
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No comrcio exterior, o buraco dos erros polticos
Postado por: Rolf Kuntz 04/08/2013 em Artigos, Economia de
Mercado, Eficincia
O Brasil s precisa conseguir um supervit comercial de US$ 4,99 bilhes
em cinco meses mdia mensal de US$ 998 milhes para encerrar o ano
com o saldo zerado, o pior em 13 anos, mas, ainda assim, muito melhor
que o acumulado nos ltimos sete meses. Nada mais fcil, se os preos e o
volume de vendas de commodities ajudarem, se a indstria se tomar mais
competitiva e os ventos forem mais favorveis no mercado internacional.
O entusiasmo criado pelos ltimos nmeros da indstria, com crescimento
de 1,9% de maio para junho, combina com essa aposta. Olhados com um
pouco mais de ateno, no entanto, os dados justificam alguma cautela: a
produo industrial est apenas voltando aos nveis de 2011. No se deve
esquecer o tombo do ano passado. Da mesma forma, convm olhar com
mais cuidado as cifras da balana comercial. So mais feias do que podem
parecer primeira vista.
O resultado oficial de janeiro a julho inclui, na coluna da receita, US$ 2,81
bilhes de exportaes fictcias de plataformas para extrao de petrleo.
Foram US$ 380 milhes s no ms passado. Em sete, meses, esse tipo de
operao ficou no segundo lugar na lista de vendas de manufaturados.
Situou-se logo abaixo de automveis de passageiros (US$ 2,99 bilhes) e
logo acima de leos combustveis (US$ 2,1 bilhes) e de autopeas (US$
2,05 bilhes). S h um problema nessa classificao. O Brasil de fato
produz e exporta veculos, leos, autopeas e avies (US$ 1,81 bilho),
mas as plataformas so contabilizadas sem necessidade de embarque e
sem a realizao efetiva de uma operao comercial. Sua exportao
apenas uma formalidade para reduzir a tributao sobre equipamentos do
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setor petrolfero. A operao legal, mas sua incluso na balana de
comrcio distorce as contas. Sem essa receita fictcia, o rombo teria
chegado a US$ 7,8 bilhes.
O pas, segundo a secretria de Comrcio Exterior do Ministrio do
Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, ainda poder ter um saldo positivo
este ano, embora muito menor, certamente, que o de 2012 (US$ 19,41
bilhes). O resultado em grande parte explicvel, disse a secretria,
pelas operaes com petrleo e derivados. Foi um dficit de US$ 15,44
bilhes, 270,31% maior que o de um ano antes. A observao pode
parecer razovel, mas o problema da conta petrleo est longe de ser
acidental ou passageiro. No ano passado, o rombo, no mesmo perodo,
havia sido 164,26% maior que o de janeiro a julho de 2011. Tambm isso
conseqncia da poltica econmica.
O cardpio da poltica econmica permanece quase invarivel com
pequenas mudanas para pior
As importaes de combustveis e lubrificantes tm aumentado porque a
Petrobrs deixou de produzir petrleo e derivados em volumes
suficientes. Isso resulta do estilo de gesto adotado no governo anterior,
quando o presidente Luiz Incio Lula da Silva subordinou a estatal a seus
objetivos polticos. A alardeada autossuficincia nunca foi muito alm do
marketing presidencial.
O acmulo de erros minou as finanas e a capacidade produtiva do grupo.
Houve investimentos mal planejados, prioridades mal escolhidas, controle
de preos e uso da empresa como instrumento de uma poltica industrial
voluntarista. As correes iniciadas pela atual administrao tiveram
efeitos at agora limitados. A poltica de preos, apenas atenuada nos
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ltimos tempos, causou danos enormes produo de etanol, porque o
lcool se tomou proporcionalmente mais caro.
O mau estado das contas externas mais uma vez reflete os grandes erros
da poltica econmica. As exportaes de produtos bsicos e
semimanufaturados somaram 60,2% da receita comercial acumulada nos
sete meses. A participao dos manufaturados cresceu ligeiramente, de
36,8% para 37,5% (o resto da conta corresponde s chamadas operaes
especiais). Mais uma vez, portanto, o Brasil se caracterizou como
fornecedor de commodities e pagou um preo pesado por isso. Pela
mdia diria, houve reduo de 1,6% na receita dos bsicos e de 6% na de
semimanufaturados.
Esse efeito foi particularmente sensvel em julho, quando os preos de 12
das 22 principais commodities foram menores que os de um ano antes. Os
valores desses bens so normalmente mais afetados pelas oscilaes da
demanda que os preos dos manufaturados. Mas a diplomacia comercial,
ao desprezar acordos com os mercados mais desenvolvidos, tornou o
Brasil mais dependente da Amrica Latina para as vendas desses
produtos.
Tambm na regio os produtores chineses vm tomando espaos dos
brasileiros. Nada parece mais natural. Basta levar em conta a baixa
qualidade dos acordos comerciais firmados at com os vizinhos e as
condies de competio, minadas pelo encarecimento da produo, pelo
alto custo do investimento e pelo ambiente -includo o sistema de
transportes altamente desfavorvel aos negcios. A ateno maior ao
consumo que produo afeta a balana comercial desde 2007, quando
as importaes comearam a crescer mais que as exportaes.
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Nem o aparente arrefecimento da inflao justifica maior otimismo. Com
a pioradas contas pblicas, presses inflacionrias continuaro forando o
Banco Central a manter juros elevados. Mudanas no cenrio global
complicam o quadro. A alta do dlar mais um fator de elevao de
preos e o financiamento externo tende a ficar mais difcil.
Enquanto isso, o cardpio da poltica econmica permanece quase
invarivel com pequenas mudanas para pior. Enquanto ministros da rea
econmica encenam um corte de gastos de R$ 10 bilhes tesourada no
vento, na maior parte -, a presidente se dispe a liberar R$ 6 bilhes para
amansar uma base parlamentar indcil. A eleio continua dominando as
atenes do governo, como se todo o resto, includa uma economia de
uns R$ 4,5 trilhes (cerca de US$ 2,2 trilhes), pudesse esperar.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 03/08/2013
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Falta saber se o ET de Varginha cr no governo
Postado por: Rolf Kuntz 11/08/2013 em Artigos, Eficincia
quase uma crueldade pedir presidente Dilma Rousseff a substituio
do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem ser almas irms, so pelo
menos espritos complementares. Ambos atribuem a alta da inflao nos
primeiros meses deste ano quebra da safra americana. Nenhuma
relao com a demanda, disse recentemente o ministro. A presidente
reafirmou a tese da seca nos Estados Unidos na quarta-feira, ao comentar
triunfalmente o resultado de julho, uma alta de apenas 0,03% do ndice de
Preos ao Consumidor Amplo (IPCA). Onde encontrar um parceiro to
adequado para esse dueto?
Talvez no Ministrio da Educao, mas essa hiptese tem sido negada no
Palcio do Planalto. Outra possibilidade seria chamar o ET de Varginha,
merecedor do maior respeito, segundo a presidente. Mas seria preciso
saber, em primeiro lugar, se ele acredita na existncia do governo
instalado em Braslia ou se o considera mais uma alucinao coletiva ou
produto da crendice popular. Mas todos esses detalhes, neste momento,
so pouco importantes. Quarta-feira, esta a grande notcia, foi um dia
glorioso para a presidente e para Mantega.
A inflao, disseram os dois, est e sempre esteve sob controle, sem
prejudicar a economia. O ministro, no entanto, foi mais cauteloso e
admitiu aumentos de preos mais acelerados nos prximos meses
como em todos os anos, segundo ele. Com a mesma prudncia, evitou
previses mais detalhadas. Quando lhe perguntaram se a taxa acumulada
no fim do ano ser menor que a do ano passado, quase tirou o time de
campo. No sei, provavelmente sim, foi a resposta registrada pela
Agncia Estado.
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Sem a seca americana e com boa oferta de alimentos no Brasil, fica difcil
entender essa hesitao. Talvez ele tenha lido, num momento de folga, as
projees de mercado mantidas no site do Banco Central (BC). Na sexta-
feira de manh o BC ainda registrava a estimativa para o ms de julho:
0,01%, um nmero pouco melhor que o divulgado oficialmente pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Os nmeros
projetados para os meses seguintes crescem de forma quase contnua:
0,26% em agosto, 0,43% em setembro, 0,55% em outubro, 0,55% em
novembro e 0,67% em dezembro.
Para o ano a srie indica uma alta acumulada de 5,72%, bem pouco
inferior do ano passado, 5,84%. Talvez se possa falar em convergncia
para a meta, de 4,5%, mas o avano lento e, nesse ritmo, o percurso
dificilmente ser concludo nos 12 meses seguintes.
Mas o governo parece continuar satisfeito com acumulados anuais abaixo
de 6,5%. Sua meta efetiva qualquer ponto na faixa de 4,5% a 6,5%, um
detalhe trado mais de uma vez pelo prprio ministro em suas
declaraes. Politicamente este o ponto mais importante: a inflao
estar bastante sob controle, segundo a linguagem presidencial,
enquanto as taxas de 12 meses ficarem nessa rea. O compromisso com
a estabilidade, mencionado mais uma vez pela presidente na quarta-
feira, tem como referncia esse limite.
O BC continua sozinho no combate inflao, num ambiente de tolerncia
e gastana
um compromisso frouxo, prprio de quem pouco se incomoda com a
alta persistente dos preos. Em dez anos, uma inflao anual mdia de
4,5% resulta numa taxa acumulada de 55,3%. Uma inflao de 2,5%, mais
prxima das metas adotadas nos pases desenvolvidos e em vrios
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emergentes, produziria uma alta de preos de 28% no mesmo perodo.
Uma das consequncias seria um considervel desajuste cambial no Pas
com taxa mais elevada.
O ministro Mantega falou muitas vezes em guerra cambial, nos ltimos
cinco anos. A presidente Dilma Rousseff acusou os governos dos pases
desenvolvidos de criarem um tsunami monetrio e com isso afetarem o
cmbio e o poder de competio dos emergentes. Ambos seriam muito
mais realistas, e mais eficientes na poltica econmica, se dessem mais
ateno diferena entre as taxas de inflao no Brasil e em outros
pases.
Mas isso parece muito improvvel. As presses inflacionrias, segundo o
governo, vm de fora, juntamente com a crise causadora, tambm
segundo a verso do Planalto, da estagnao brasileira. Alm disso, a
meta de 4,5% foi estendida at 2015, com a margem de tolerncia de 2
pontos para mais ou para menos (na prtica, para mais). Um resultado
anual de 6,4%continuar sendo alardeado como prova do compromisso
com a estabilidade.
Tudo isso combina perfeitamente com o desleixo fiscal. Como os truques
de maquiagem esto cada vez mais evidentes, o governo tem desistido,
com jeito de criana flagrada em molecagem, de alguns expedientes
escandalosos, como a antecipao de recebveis da Itaipu Binacional.
cada vez mais difcil encontrar meios para entregar no fim do ano um
supervit primrio de 2,3% do produto interno bruto, j bem menor que a
meta inicial de 3,1%. Enquanto isso, continua a poltica fiscal expansionista
apontada mais de uma vez pelo pessoal do BC nas avaliaes dos fatores
inflacionrios.
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Sem melhora na gesto das finanas pblicas nem corte de gastos, nem
aumento da eficincia no uso do dinheiro -, mantm-se uma das causas
principais do desarranjo dos preos. As possveis presses derivadas do
aumento do dlar apenas complicaro um quadro j bastante ruim.
A tarefa de frear a inflao continuar entregue aos formuladores da
poltica monetria. Nenhum diretor do BC entender a taxa de 0,03% de
julho, explicvel basicamente pela reduo poltica das tarifas de
transportes e pelo recuo temporrio dos preos dos alimentos, como um
sinal de vitria. Muito mais fcil ser declarar respeito ao ET de Varginha e
abrir licitao para um ufdromo. Uma nova estatal poder cuidar do
assunto. Em cinco anos as obras estaro incompletas, talvez nem
comeadas, mas o oramento ter aumentado barbaramente.
O BC continua sozinho no combate inflao, num ambiente de tolerncia
e gastana.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 10/08/2013
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Um governo preso numa teia de erros
Postado por: Rolf Kuntz 19/08/2013 em Artigos, Eficincia
Trem-bala, conta de luz, cmbio, Copa, inflao, pr-sal, gasolina,
oramento por onde comear? Com pouco mais de um ano de mandato
pela frente, a presidente Dilma Rousseff s realizar alguma coisa se
romper uma teia de trapalhadas construda por ela mesma, com a
colaborao de um dos Ministrios mais incompetentes da Histria e com
material em parte prprio e em parte deixado por seu antecessor.
Algumas decises sero especialmente complicadas. Se continuar
reprimindo os preos dos combustveis, com ajustes insuficientes,
agravar a situao da Petrobrs, j complicada por erros acumulados em
vrios anos includa a obrigao de controlar pelo menos 30% dos poos
de petrleo do pr-sal.
Se atualizar os preos da gasolina e do diesel, as presses inflacionrias
ficaro mais soltas. Isso ser melhor que represar os ndices, mas ser
preciso apertar e talvez ampliar a poltica anti-inflacionria. Outras
decises sero tecnicamente mais fceis, como o abandono do projeto do
trem-bala. Mas falta saber se o governo estar politicamente disposto a
admitir o recuo e reconhecer a acumulao de custos inteis. Mesmo sem
sair do papel, o projeto custar pelo menos R$ 1 bilho at o prximo ano,
somadas os valores acumulados a partir de 2005 e o do projeto executivo,
segundo informou O Globo.
O trem-bala s um exemplo de objetivos mal concebidos, mal
planejados e perseguidos com invulgar incompetncia, A Copa do Mundo,
com projetos em atraso e custos multiplicados, talvez seja o caso mais
visvel de um compromisso assumido de forma irresponsvel e sem
avaliao de prioridades.
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Parte da herana recebida pela presidente Dilma Rousseff, esse
compromisso, alm de impor despesas crescentes e graves
constrangimentos ao governo, limita seu espao de ao. A menos de um
ano do comeo dos jogos, um recuo parece impensvel. Para garantir a
concluso pelo menos das obras mais importantes o governo ter de
intervir com dinheiro. Quando o prazo ficar muito apertado, ser intil
jogar a responsabilidade sobre os parceiros privados. Ser preciso gastar e
ampliar o buraco nas contas pblicas.
Essas contas j vo muito mal e tendem a piorar nos prximos 12 meses
tambm por causa das eleies. Mas o governo, at agora, tem exibido
muito mais preocupao com a aparncia do que com a situao efetiva
de suas finanas. O quadro tem piorado com o uso crescente de
maquiagem para enfeitar o quadro fiscal e os nmeros da inflao.
Uma poltica mais prudente e mais voltada para o longo prazo teria
tornado a economia nacional mais eficiente e menos dependente do
cmbio para a competio global
Essa maquiagem, a mais cara e menos eficiente do mundo, tem borrado
os limites das polticas fiscal, de crdito e de combate inflao. Um dos
grandes retrocessos dos ltimos anos tem sido a crescente promiscuidade
entre o Tesouro e os bancos federais, principalmente com o BNDES.
Recursos fiscais tambm tm sido usados na maquiagem de preos. Para
disfarar os custos, em vez de combat-los de forma efetiva, o governo
criou uma embrulhada com as empresas de energia eltrica.
As tarifas foram contidas e isso se refletiu por algum tempo nos ndices de
inflao, mas a conta para o governo est saindo bem maior do que as
autoridades haviam calculado. O custo para o Tesouro, segundo informou
o Estado, pode chegar a R$ 17 bilhes, o dobro do valor estimado pelas
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autoridades no comeo do ano. O novo clculo, mais completo,
atribudo ao consultor Mrio Veiga, um especialista em energia. S esse
acrscimo anularia 85% do corte de R$ 10 bilhes prometido na ltima
reviso do Oramento se esse corte fosse para valer.
A isso ainda seria preciso somar, entre outros itens, os R$ 6 bilhes
anunciados pelo governo para emendas oramentrias, principalmente,
claro, de parlamentares aliados. Mas os desembolsos com as emendas
ficaro maiores e mais difceis de comprimir, nos prximos anos, se o
projeto de oramento impositivo, j aprovado na Cmara, passar pela
etapa final, Os vereadores federais, tambm conhecidos como
congressistas, podero mais facilmente realizar sua poltica paroquial,
mais uma forma de pulverizar e desperdiar recursos do Tesouro Nacional.
Sem apoio firme no Congresso, sem competncia gerencial, sem ministros
capazes de planejar e de executar polticas e sem coragem de reconhecer
e de enfrentar os desafios mais srios, o governo da presidente Dilma
Rousseff criou e deixou acumular-se a maior parte de seus problemas, Por
mais de dois anos insistiu na prioridade expanso do consumo, sem
cuidar da eficincia econmica e da capacidade produtiva. Foi incapaz de
reconhecer o esgotamento da poltica de ampliao do mercado interno
um objetivo importante, mas insuficiente quando tratado de forma
isolada.
Inflao, descompasso entre importaes e exportaes e eroso das
contas externas foram as conseqncias mais visveis desse erro. Em vez
de atacar a inflao, o governo manteve a gastana, tentou maquiar os
preos e ainda promoveu de forma voluntarista uma prolongada reduo
dos juros.
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Uma poltica mais prudente, mais corajosa e mais voltada para o longo
prazo teria tornado a economia nacional mais eficiente e menos
dependente do cmbio para a competio global. Ao mesmo tempo, uma
inflao mais baixa, como em outras economias emergentes, tomaria mais
fcil absorver os efeitos da depreciao do real.
Como toda a poltica foi errada, tambm nesse caso a escolha muito
custosa: o Pas fica mais competitivo com o dlar bem mais caro, mas o
combate inflao, nesse caso, tem de ser mais duro.
No h deciso fcil e confortvel num ambiente de erros acumulados por
muito tempo. Com a aproximao das eleies, quantos erros o governo
estar disposto a atacar seriamente, em vez de apenas continuar
disfarando?
Fonte: O Estado de S. Paulo, 17/08/2
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Um desafio para o ministro n 40
Postado por: Rolf Kuntz 01/09/2013 em Artigos, Economia de
Mercado, Eficincia
O juzo final vai criar um grave problema para os ministros da rea
econmica. Por falta de futuro, eles ficaro impedidos de prever ou de
prometer -resultados melhores para o ano seguinte, como fez ontem o
ministro da Fazenda, Guido Mantega. Por enquanto eles tm essa rota de
fuga, especialmente valiosa quando o cenrio de curto prazo parece muito
inseguro. Mesmo diante do resultado aparentemente bom do primeiro
trimestre, o ministro evitou projees para 2013 e anunciou 2014 como
um ano mais promissor. Que significa promissor? A resposta ser
especialmente importante para o trabalho do ministro nmero 40,
principal ajudante da presidente Dilma Rousseff, seu marqueteiro eleitoral
e grande planejador de aes polticas de impacto.
O ministro da Fazenda recusou indicar nmeros, mas talvez possam servir
como referncia de um ano promissor as estimativas includas na
proposta de lei oramentria para 2014:4% de expanso para o produto
interno bruto (PIB) e inflao de 5%, medida pelo ndice de Preos ao
Consumidor Amplo (IPCA), usado na poltica de metas do Banco Central
(BC).
No so de fato previses, disse Mantega ao apresentar o projeto, na
quinta-feira, como se os tcnicos tivessem tomado quaisquer hipteses
mais ou menos crveis para calcular a receita e a despesa do prximo
exerccio. Pode parecer meio estranho, mas s um pouco. Afinal,
nenhuma esquisitice deste governo causa mais muita estranheza. Para o
marqueteiro presidencial, no entanto, esses nmeros podero ser muito
relevantes.
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S para um exerccio muito simples, admita-se para este ano um
crescimento econmico de 3% por enquanto, uma hiptese otimista. Se
o PIB aumentar 4% em 2014, a expanso acumulada nos quatro anos de
mandato da presidente Dilma Rousseff ser de apenas 11%. A produo
de bens e servios ter crescido a uma taxa mdia inferior a 3% ao ano. Se
a perspectiva de um desempenho ainda medocre neste ano e no prximo
se confirmar, o mercado de emprego ficar provavelmente mais fraco. A
expanso do salrio real, j menor em 2013, ser prejudicada. Os
empresrios estaro menos dispostos a contratar e ser mais difcil
compensar com aumentos a perda salarial causada pela inflao.
Para estimular a produo o governo poder usar novas doses de
benefcios fiscais, cortando tributos de setores selecionados. Nesse caso,
insistir numa linha de ao fracassada. Incentivos desse tipo custam caro
ao governo e s produzem efeitos localizados. Nem a mdio prazo o
aumento da produo compensa os buracos abertos na arrecadao. Mas
o governo parece ainda acreditar nas virtudes da poltica adotada nos
ltimos anos. Os fatos desmentem essa crena, mas a teimosia tem sido
muito mais forte que os fatos.
Dois outros fatores ainda podero impulsionar o crescimento e, mais que
isso, criar condies para uma expanso sustentvel. Em primeiro lugar,
novas concesses para infraestrutura podero movimentar o setor da
construo e produzir bons efeitos a curto e a mdio prazos, a comear
pela multiplicao de empregos. Os ganhos de eficincia econmica sero
benefcios mais duradouros e de maior alcance. O governo tem apostado
nessas possibilidades, mas foi incapaz, at agora, de iniciar a execuo do
programa, anunciado festivamente h um ano.
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Se quiser tratar seriamente do assunto, a administrao federal dever ser
mais pragmtica na elaborao dos editais, pr de lado preconceitos e
abandonar a ideia mal concebida do trem-bala, um projeto carssimo e
nada prioritrio neste momento. Muitssimo mais importante, nesta
altura, cuidar das condies do transporte de carga, pensar nos sistemas
multimodais e dar um jeito nos aeroportos ineficientes e congestionados.
O reajuste cambial poder ser outro fator positivo. Ningum sabe qual
ser o novo patamar do cmbio, depois de superada a atual instabilidade,
mas o produtor nacional certamente ganhar algum poder de competio
com o real mais barato. Ser um erro enorme, no entanto, fazer do
cmbio o fator decisivo de competitividade, como j ocorreu em outras
pocas. Quem entra nesse jogo condenado ao fracasso, at porque o
estmulo cambial tende a tornar-se um vcio. Os brasileiros deveriam
conhecer muito bem a desastrosa sequncia formada pela depreciao
cambial e pela inflao.
No h competitividade real e duradoura sem muito investimento. No
segundo trimestre, o valor investido em mquinas, equipamentos,
construo civil e obras de infraestrutura foi 3,6% maior que o dos
primeiros trs meses do ano e 9% superior ao de igual perodo de 2012.
Mas esse crescimento ocorreu sobre uma base muito baixa. No trimestre,
a relao entre investimento e PIB ficou em 18,6%. Um ano antes estava
em 17,9%. Ser preciso um esforo muito grande e muito srio para se
chegar a uns 24% ou 25%, nvel j superado, at com folga, por vrios
latino-americanos.
Alm de investir mais em ativos fsicos, o pas precisar cuidar muito mais
seriamente da formao de pessoal e da inovao tecnolgica. Sem isso
seu potencial de crescimento continuar muito limitado. Esse potencial
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hoje estimado na faixa de 2% a 3% por economistas de muito boa
reputao. difcil uma estimativa precisa, mas os limites brasileiros,
como tem mostrado a experincia, so muito estreitos, especialmente no
setor industrial. Diante da baixa capacidade de oferta, qualquer aumento
importante da demanda pode resultar em mais inflao e em deteriorao
das contas externas -fenmenos muito visveis hoje, mesmo com modesto
crescimento econmico. A soluo de problemas desse tipo vai muito
alm do marketing eleitoral.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 31/08/2013
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A retrica da pobreza e a pobreza do investimento
Postado por: Rolf Kuntz 30/09/2013 em Artigos, Destaque, Eficincia
Rolf Kuntz
O governo tirou da pobreza extrema em apenas dois anos 22 milhes de
brasileiros, disse a presidente Dilma Rousseff, em Nova York, em discurso
na Assembleia-Geral das Naes Unidas. Se isso for verdade, essa ter sido
a informao mais importante da fala presidencial muito mais
importante que a maior parte do palavrrio pronunciado naquele dia por
vrios governantes. Falta esclarecer um detalhe: se as transferncias
governamentais forem interrompidas, quantas daquelas pessoas sero
capazes de se manter fora da misria? Quantas se tornaram, nos ltimos
dois anos, mais produtivas e menos dependentes de auxlio oficial?
Nenhuma pessoa razovel se ope a programas de socorro aos mais
necessitados. Mas por quanto tempo ser possvel manter programas to
amplos, e com efeitos ainda pouco claros sobre a capacidade produtiva, se
a economia continuar avanando to lentamente quanto nos ltimos dois
anos e nove meses?
Por enquanto, as previses mais otimistas apontam para este ano um
crescimento econmico de 2,4%. Essa expanso ser puxada, segundo as
novas projees da Confederao Nacional da Indstria (CNI), por
investimentos 8% maiores que os do ano passado. Essa a parte mais
interessante do cenrio. Se as estimativas forem confirmadas, o aumento
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do Produto Interno Bruto (PIB) ter sido alimentado, em 2013, menos pelo
consumo do que pela aplicao de recursos em mquinas, equipamentos,
instalaes diversas e obras de infraestrutura. A expanso econmica
ainda ser modesta, mas o potencial de crescimento ser reforado e
resultados melhores podero surgir em breve.
Mais uma vez, no entanto, o quadro fica bem menos bonito quando se
examinam os detalhes. A maior parte do crescimento da produo de
bens de capital mquinas e equipamentos foi concentrada no setor de
material de transporte, especialmente de caminhes. Boa parte da
expanso dependeu tambm da indstria de equipamentos agrcolas,
pormenor facilmente explicvel pelo bom desempenho da agropecuria, o
setor mais dinmico da economia nacional. Alm disso, a retomada da
produo de bens de capital para fins industriais pode estar perdendo
impulso. Em junho, havia sido 21,4% maior que a de um ano antes. Em
julho, a diferena diminuiu para 13,3%, detalhe notado no Informe
Conjuntural da CNI. Essa diferena para mais pode ainda parecer
considervel, mas a base de comparao muito baixa.
No h desastre vista, mas a situao poder ficar mais complicada se a
confiana no pas cair acentuadamente
No conjunto, a aplicao de recursos em bens de capital, instalaes e
obras de infraestrutura continuar muito abaixo da necessria para um
crescimento menos medocre, se as projees da CNI estiverem corretas.
Em 2011, a soma dos investimentos em capital fixo dos setores pblico e
privado equivaleu a 19,3% do PIB. Em 2012, a proporo caiu para 18,1%.
Neste ano, chegar a cerca de 19,1%, se o PIB crescer 2,4% e o
investimento, 8%.
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A meta governamental, j modesta, alcanar 24% do PIB, taxa obtida nos
anos 70 e nunca repetida nas dcadas seguintes. Esse objetivo parece
ainda muito distante.
No h acordo, entre os economistas, quanto ao potencial de crescimento
econmico do pas. O clculo complicado, mas o conceito importante,
porque indica o ritmo de expanso sustentvel sem novos desequilbrios.
As avaliaes mais sombrias indicam um limite na vizinhana de 2% ao
ano. As estimativas mais otimistas ficam prximas de 4%. Nem na melhor
hiptese, no entanto, a economia brasileira poder crescer tanto quanto
as mais dinmicas da regio na faixa de 4% a 6% ao ano sem acumular
presses inflacionrias e desarranjos nas contas externas. Poder haver
um arranque temporrio, mas faltar flego para uma corrida prolongada.
Mesmo com o crescimento pfio dos ltimos anos, o Brasil j acumulou
problemas considerveis. A inflao continua elevada para os padres
internacionais e deve continuar em alta nos prximos meses, depois de
um breve arrefecimento no meio do ano. O presidente do Banco Central
(BC), Alexandre Tombini, reafirmou em Nova York, num encontro com
investidores, o compromisso de continuar buscando a meta de 4,5%, mas
ningum pode dizer com alguma segurana quando a convergncia
ocorrer. Um dos principais obstculos, a farra das contas pblicas, deve
atrapalhar o combate inflao ainda por um bom tempo. Quem espera
austeridade em tempo de eleio?
Do lado externo, o cenrio continua ruim. O BC reduziu de US$ 7 bilhes
para US$ 2 bilhes o supervit comercial estimado para o ano. A CNI
cortou sua projeo mais drasticamente de US$ 9,2 bilhes no Informe
Conjuntural de junho para US$ 1,76 bilho no documento recm-
divulgado. O BC manteve, no entanto, a previso de um dficit em
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transaes correntes de US$ 75 bilhes, equivalente a 3,35% do PIB. O
investimento direto estrangeiro dever chegar a 2,64% do PIB. Parte do
buraco nas contas externas ser coberta, portanto, por outras formas, em
geral menos saudveis, de financiamento.
No h desastre vista, at porque o Pas dispe de mais de US$ 370
bilhes de reservas, mas a situao poder ficar mais complicada se a
confiana no pas cair acentuadamente. O risco tangvel. O Cristo
Redentor representado como um foguete em decolagem numa capa da
revista The Economist de 2009 foi substitudo, na ltima edio, por
uma figura no rumo do desastre, depois de um voo descontrolado.
O desafio imediato, na agenda do governo, atrair capitais privados para
os grandes projetos federais de investimento. Para isso a presidente e as
principais figuras da equipe econmica foram Nova York. O resultado
ser visto nas prximas licitaes. Mas a presidente faria bem se pusesse
no alto da agenda medidas para uma recuperao mais ampla da
credibilidade a comear por uma poltica fiscal mais sria e sem
contabilidade criativa, j desmascarada em todo o mundo.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 28/09/2013
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Cazaquisto parte, o inferno so os outros
Postado por: Rolf Kuntz 07/10/2013 em Artigos, Eficincia
O Corinthians e o governo brasileiro puderam, enfim, comemorar pelo
menos uma vitria na primeira semana de outubro. O Itamaraty conseguiu
a adeso da Chancelaria cazaque campanha pela regulamentao da
espionagem. Em visita a Braslia, o ministro dos Negcios Estrangeiros do
Cazaquisto, Erlan Idrissov, foi persuadido a assinar uma declarao
contra as prticas de interceptao ilegal de comunicaes e dados de
cidados, empresas e membros de governos por governos e empresas
estrangeiras. Ele se disps tambm a cooperar em foros multilaterais
para o desenvolvimento de governana internacional apropriada para a
segurana ciberntica. Esse compromisso aparece no 18. dos 21 itens da
declarao conjunta divulgada na quarta-feira, vrias horas antes dos 2 a 0
do Timo contra o Bahia. Na maior parte da semana, no entanto, a
presidente Dilma Rousseff e sua equipe tiveram maior dificuldade nos
esforos para conquistar confiana em seus planos e realizaes.
Excetuado o Cazaquisto, preciso dar razo a Sartre. O inferno so os
outros, a comear, nos ltimos dias, pela agncia Moodys de classificao
de riscos. Mas, pensando bem, nem o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE), com seus pssimos indicadores de desempenho
econmico, tem sido muito cooperativo. Na Argentina, os Kirchners
tiveram problema semelhante com o Indec [Instituto Nacional de
Estatstica e Censos da Argentina], mas cuidaram do assunto sua
maneira, recauchutando o sistema pblico de estatsticas e proibindo a
divulgao de nmeros menos favorveis por instituies privadas.
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A economia cresce pouco, o governo usa a contabilidade criativa, o
investimento insuficiente, as contas externas pioram e a dvida bruta
muito maior que em outras economias emergentes
No Brasil, bem mais simples a vida dos analistas econmicos dos
mercados, da imprensa e das agncias de classificao de riscos. Os
nmeros oficiais so em geral confiveis e at as lambanas, como a
maquiagem das contas pblicas, so identificveis sem muita dor de
cabea. No caso da inflao, tambm fcil apontar as tentativas de
administrar os ndices prticas sem mistrio, como controlar os preos
dos combustveis e reduzir politicamente as tarifas de eletricidade e de
transporte pblico. No fim, os truques e problemas acabam convergindo.
O Tesouro foi autorizado a emitir mais ttulos da dvida, no valor de R$ 2,3
bilhes, para cobrir os custos do voluntarismo na rea da energia eltrica.
mais um acrscimo a um endividamento de escassa utilidade para o
fortalecimento e a expanso da economia, como a maior parte do
dinheiro transferido pelo Tesouro aos bancos federais desde o comeo da
crise estimado em torno de R$ 400 bilhes.
Bem conhecidos, todos esses dados afetam a credibilidade do governo e
prejudicam as apostas na economia nacional. Essas e outras informaes
foram mencionadas, nesta semana, quando a Moodys anunciou a
mudana da perspectiva da dvida soberana de positiva para estvel na
prtica, uma espcie de advertncia, embora o vice-presidente da
agncia, Mauro Leos, tivesse rejeitado essa interpretao. Sem melhora
significativa, no entanto, ser difcil evitar um rebaixamento, admitiu o
economista.
As justificativas divulgadas pela Moodys so um bom resumo das
avaliaes correntes fora do governo, sustentadas por muitos analistas e
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classificadas pela presidente Dilma Rousseff na categoria do pessimismo
adversativo. A economia cresce pouco, o governo usa a contabilidade
criativa, o investimento insuficiente, as contas externas pioram e a
dvida bruta muito maior que a encontrada em outras economias
emergentes: cerca de 60% do produto interno bruto (PIB) no Brasil,
enquanto permanece em torno de 35% em pases de desenvolvimento
semelhante.
No mesmo dia, em Washington, a diretora-gerente do Fundo Monetrio
Internacional (FMI), Christine Lagarde, apresentou um panorama da
transio da crise para o ps-crise em todos os grandes grupos de
economias. Sem mencionar muitos detalhes, chamou a ateno para as
presses inflacionrias no Brasil, na Indonsia e na Rssia e mencionou o
pouco espao para estmulos fiscais em muitos emergentes. Alm disso,
apontou o Brasil e a ndia como pases necessitados de mais investimentos
em infraestrutura e maior abertura comercial.
O partido est no poder h 11 anos e seu balano de realizaes abaixo
de pfio
No adiantaria, diante do noticirio da semana, denunciar essa fala como
mais uma prova da perversidade do FMI. Os jornais continuam mostrando
as dificuldades e os tropeos da poltica de infraestrutura, o IBGE
informou crescimento nulo da produo industrial em agosto, depois de
uma queda de 2,4% em julho, e o Banco Central (BC) cortou de US$ 7
bilhes para US$ 2 bilhes o supervit comercial projetado para o ano.
Alm disso, as novas projees indicaram crescimento anual do PIB de
apenas 2,5% at o segundo trimestre de 2014 e inflao de 5,5% at o
terceiro de 2015. Mas, segundo disse em Londres o presidente do Banco
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Central, Alexandre Tombini, a inflao est controlada e converge para a
meta, 4,5%. H algum prazo para essa convergncia?
No se pode cobrar do PT, dizia o presidente Luiz Incio Lula da Silva, a
correo de problemas acumulados desde o Descobrimento. Em outras
ocasies, sua referncia foi a Histria da Repblica. Gente do governo tem
citado, recentemente, a escassez de investimentos em infraestrutura nos
ltimos 40 anos. Pessoas mais moderadas mencionam trs dcadas.
Mas o partido est no poder h 11 anos e seu balano de realizaes
abaixo de pfio, quando se trata de reformas complicadas (a tributria, por
exemplo), de qualidade da gesto e de medidas para tornar a economia
mais eficiente e com maior potencial de crescimento.
Fidelssima a seu criador, a presidente Dilma Rousseff manteve as piores
prticas do perodo Lula, includos o loteamento e o aparelhamento da
administrao federal e as intervenes voluntaristas. O rebaixamento da
classificao da dvida de longo prazo da Petrobrs, outra deciso da
Moodys, uma das consequncias. Ningum, na equipe do Planalto,
havia notado esse risco?
Fonte: O Estado de S. Paulo, 05/10/2013
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Pior que os nmeros s o otimismo de dona Dilma
Postado por: Rolf Kuntz 20/10/2013 em Artigos, Economia de
Mercado, Eficincia
H uma notcia pior que a mistura de inflao em alta, economia quase
parada, contas pblicas piorando e balano externo em deteriorao. O
fato mais assustador, mas nada surpreendente, a tranquilidade, quase
alegria, exibida pela presidente Dilma Rousseff e por sua solerte equipe
econmica diante desse quadro. Este ano foi difcil para todos, disse o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, na apresentao do oitavo balano
do PAC 2, o atual Programa de Acelerao do Crescimento. Foi realmente
um ano difcil, mas ele parece haver esquecido alguns detalhes. A
economia americana continuou em recuperao, com mais investimentos
e mais exportaes, a Unio Europeia comeou a sair da recesso, o Japo
continuou avanando e a maior parte dos emergentes, embora perdendo
impulso, continuou crescendo mais que o Brasil. A economia brasileira,
disse nesta semana o secretrio de Poltica Econmica do Ministrio da
Fazenda, Mrcio Holland, ser uma das poucas, neste ano, com
crescimento superior ao de 2012. Ora, alvssaras! E quantas tero crescido
0,9% no ano passado, depois de alcanar o ritmo quase alucinante de
2,7% em 2011?
Se a presidente e seus ministros levam a srio o prprio discurso, ningum
deve esperar medidas mais produtivas nos prximos meses, at porque a
campanha para a reeleio o primeiro item da agenda presidencial. A
inflao e as contas pblicas esto absolutamente sob controle, disse a
presidente em Salvador, na tera-feira.Pelos dados oficiais, essa inflao
controlada continua em alta. O IPCA-15, prvia do ndice de Preos ao
Consumidor Ampliado, subiu 0,27% em setembro e 0,48% em outubro,
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continuando a ascenso iniciada em agosto. Em julho havia ficado em
0,07%, mas no ms seguinte j avanou 0,16%.
Acabado o efeito dos truques com tarifas de nibus e de eletricidade, o
conjunto dos preos voltou ao curso normal numa economia com muita
gastana pblica, muita demanda privada de consumo e capacidade
produtiva defasada. Alm disso, a difuso dos aumentos de preos passou
de 59,5% em setembro para 65,8% em outubro, no IPCA-15, segundo
clculo da Votorantim Corretora.
Se a presidente e seus ministros levam a srio o prprio discurso, ningum
deve esperar medidas mais produtivas nos prximos meses
O indicador de difuso porcentagem de itens com majorao de preos
rotineiramente calculado pelas instituies do mercado financeiro.
um importante sintoma da vulnerabilidade dos vrios segmentos do
mercado s presses inflacionrias. Quando a alta se espalha por quase
dois teros dos preos e a alta geral acumulada em 12 meses, 5,75%,
continua longe da meta, discutir se a inflao est controlada ou
descontrolada um exerccio de escassa utilidade. Alm disso, o resultado
em 12 meses deve continuar acima da meta de 4,5% nos prximos dois
anos, at o terceiro trimestre de 2015, segundo projeo do Banco Central
(BC) repetida na ata da ltima reunio do Comit de Poltica Monetria.
Alm dessa ata, o BC divulgou tambm, nesta semana, seu ndice de
atividade econmica, o IBC-Br, uma espcie de prvia do produto interno
bruto (PIB). Esse indicador subiu apenas 0,08% em agosto, depois de ter
cado 0,33% em julho. Mesmo com um resultado melhor em setembro, a
comparao do terceiro com o segundo trimestre dever apresentar uma
variao muito prxima de zero, talvez negativa, segundo a maior parte
das projees do mercado.
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Esse e outros nmeros parecem apontar, passados trs quartos do ano,
um crescimento pfio em 2013, embora maior que o do ano passado. O
ministro da Fazenda j declarou aceitar a projeo de 2,5%, formulada
pelo BC e pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI).
Mas o FMI, ao contrrio do governo brasileiro, projeta a mesma taxa
tambm para 2014 e uma expanso anual mdia, nos prximos cinco
anos, de 3,5%, se os investimentos em infraestrutura comearem a
deslanchar. As previses so melhores para a maior parte dos emergentes
da sia, da Europa ex-socialista e da Amrica Latina. Quase todos, alm
disso, continuaro com inflao menor que a do Brasil.
O crescimento brasileiro, garante o ministro da Fazenda, ser puxado, a
partir deste ano, principalmente pelos investimentos. Mas, como ele
mesmo reconhece, o valor investido em equipamentos produtivos, em
instalaes e em infraestrutura tem continuado prximo de 18% do PIB,
poder subir um pouco este ano e caminhar esta a meta oficial para
24% dentro de alguns anos. Ningum sabe quando essa proporo ser
alcanada, Quando isso ocorrer, o Brasil ainda investir menos,
proporcionalmente, do que investem hoje as economias mais dinmicas
da Amrica do Sul.
Se esse avano depender do governo, o caminho ser muito longo, At
setembro o Tesouro investiu 35,7% dos R$ 91,2 bilhes previstos no
Oramento federal, valor menor que o do ano passado, descontada a
inflao. A infraestrutura continua muito deficiente e o setor privado, por
muitas razes, tambm tem investido menos que o necessrio.
A piora da balana comercial uma das consequncias. O saldo oficial de
2013 at a segunda semana de outubro foi um supervit de US$ 964
milhes. Na semana anterior, a exportao fictcia de uma plataforma de
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petrleo havia adicionado US$ 1,9 bilho receita. Essa e outras
plataformas contabilizadas neste ano jamais foram embarcadas. A
operao tem finalidade tributria, mas contada como receita.
A presidente e seus auxiliares costumam insistir, tambm, no discurso da
boa gesto fiscal. Podem convencer quem ignora a contabilidade criativa e
as ligaes perigosas do Tesouro com os bancos federais dados
conhecidos internacionalmente e objetos de gozao dentro e fora do
Pas. Pelo menos isto se pode dizer a favor da retrica e dos truques
oficiais: so divertidos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/10/2013
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No setor externo, um desastre made in Brazil
Postado por: Rolf Kuntz 27/10/2013 em Artigos, Economia de
Mercado, Eficincia
A presidente Dilma Rousseff deve terminar o ano com mais um trofu
econmico, o pior resultado das contas externas em mais de uma dcada
exportaes estagnadas, importaes em alta e um enorme buraco na
conta corrente do balano de pagamentos. Nos 12 meses terminados em
setembro o dficit na conta corrente chegou a US$ 80,51 bilhes,
equivalentes a 3,6% do produto interno bruto (PIB), informou nesta sexta-
feira o Banco Central (BC). No relatrio recm-divulgado foram mantidas
as projees para 2013: saldo comercial de US$ 2 bilhes, dficit em conta
corrente de US$ 75 bilhes (3,35% do PIB) e investimento estrangeiro
direto de US$ 60 bilhes. Alguma melhora ser necessria, portanto, para
se chegar ao fim de dezembro com o cenrio estimado pelo BC. Um
quadro mais positivo, neste e no prximo ano, depender principalmente
de uma recuperao da balana comercial e nesse quesito o Pas continua
muito mal.
A exportao rendeu neste ano US$ 192,59 bilhes at a terceira semana
de outubro, 1,1% menos que no ano passado em igual perodo. A
importao consumiu R$ 193,19 bilhes, 8,7% mais que um ano antes,
segundo os dados oficiais. O saldo acumulado em quase dez meses, US$
605 milhes, s foi possvel graas ao resultado favorvel obtido nas trs
primeiras semanas do ms, um supervit de US$ 1 bilho. Mas esse
resultado embute uma exportao meramente contbil de uma
plataforma de petrleo no valor de US$ 1,9 bilho. Outras plataformas
foram contabilizadas nos meses anteriores, mas foram sempre vendas
fictcias, vinculadas concesso de benefcios fiscais.
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Se esses nmeros fossem eliminados, o quadro do comrcio exterior
brasileiro, j muito feio pelos nmeros oficiais, seria bem menos
favorvel. Para acertar as contas seria tambm preciso, poderiam dizer os
mais otimistas, eliminar as importaes de combustveis efetuadas em
2012 e registradas s neste ano graas a um arranjo especial da Petrobrs.
verdade, mas indispensvel lembrar uma diferena entre essas
compras e as vendas de plataformas. Estas s ocorreram na contabilidade,
mas as compras de combustveis foram realizadas e seria necessrio
inclu-las nos clculos em algum momento. Se tivessem entrado nas
contas do ano passado, o supervit comercial teria ficado bem abaixo dos
US$ 19,41 bilhes divulgados pelo Ministrio do Desenvolvimento,
Indstria e Comrcio Exterior.
Se as projees do BC estiverem corretas, o Brasil vai faturar neste ano
US$ 241 bilhes com as vendas ao exterior. O gasto com produtos
estrangeiros chegar a US$ 239 bilhes. O valor exportado ser 0,6%
menor que o do ano passado e 5,8% inferior ao de 2011. A importao
ter custado cerca de 7% mais que em 2012 e 5,6% mais que dois anos
antes. A deteriorao inegvel e a causa mais importante o
enfraquecimento da indstria brasileira, por falta de investimentos,
aumento de custos e dificuldade crescente para enfrentar uma disputa
mais dura em mercados mais apertados. Isso vale para o mercado
nacional.
Como as condies de produo foram geralmente negligenciadas nos
ltimos dez anos, a comear pela infraestrutura, o potencial de
crescimento diminuiu
As medidas protecionistas impostas pelo governo foram insuficientes para
barrar o ingresso de produtos estrangeiros. Alm do mais, nenhuma
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barreira tornaria os produtores brasileiros mais capazes de competir fora
das fronteiras, mesmo em reas antes consideradas campos de caa
tranquilos, como o Mercosul e a maior parte da vizinhana. Tambm na
regio outros produtores tm conseguido ocupar espaos crescentes sem
muita oposio brasileira.
Quando se aponta a piora do balano de pagamentos especialmente da
balana comercial -, ministros costumam citar a acumulao de reservas
para mostrar a segurana do setor externo. Mesmo com intervenes no
mercado cambial, como reao s turbulncias do meio do ano, o BC
conseguiu, graas a uma estratgia bem desenhada, evitar a perda de
moeda estrangeira e preservar mais de US$ 370 bilhes. Esse , sem
dvida, um importante fator de segurana, mas de nenhum modo pode
substituir a eficincia produtiva e os acordos internacionais favorveis
expanso do comrcio.
A poltica brasileira tem falhado nas duas frentes. A deficincia de
investimentos, o desperdcio de recursos, o erro na escolha de prioridades
(na poltica educacional, por exemplo) tm dificultado ganhos gerais de
produtividade. Se as concesses derem certo, a taxa de investimentos
chegar a 22,5% do produto interno bruto at 2018, segundo estimativa
do Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES).
Muitos pases latino-americanos j esto acima desse padro, enquanto a
taxa brasileira continua oscilando entre 18% e 19%.
Como as condies de produo foram geralmente negligenciadas nos
ltimos dez anos, a comear pela infraestrutura, o potencial de
crescimento diminuiu, como seria previsvel. Hoje esse problema
assunto da pauta internacional, pouco importando os desmentidos e
esperneios do governo brasileiro.
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Na outra frente, a escolha das parcerias prioritrias, tambm se
acumularam erros desastrosos. A diplomacia comercial ps no alto da
agenda a aproximao com mercados pouco importantes, com exceo do
chins. Mas o comrcio com a China virou uma relao semicolonial, com
o Brasil praticamente limitado a vender commodities, em geral de pouca
ou nenhuma elaborao, e a importar manufaturados.
Os imperialistas, desprezados pela diplomacia de passeata dos governos
petistas, continuam como compradores relevantes de manufaturados e
poderiam comprar muito mais se tivessem sido assinados acordos de livre-
comrcio. Mas nem todos criticam a estratgia comercial brasileira e o
desprezo petista aos grandes mercados. No caso dos chineses e outros
exportadores realistas e dinmicos, a fantasia terceiro-mundista vivida em
Braslia nos ltimos dez anos elimina um possvel competidor de peso.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 26/10/2013
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O vilo da inflao e da estagnao
Postado por: Rolf Kuntz 12/11/2013 em Artigos, Destaque, Eficincia
Esqueam o tomate, a carne e as passagens areas. No falem mal das
leguminosas, dos hortigranjeiros ou dos sales de beleza. O vilo da
inflao nunca ser encontrado na lista de bens e servios comprados
pelos consumidores. A imagem usada pela imprensa mera repetio de
uma velha metfora criada l pelos anos 80 ou pouco antes. Ningum
deve entender literalmente essa figura de linguagem. O vilo existe, sim,
mas de outro tipo. o mesmo da estagnao econmica, da
irresponsabilidade fiscal e da eroso das contas externas. Em uma palavra,
o governo, embora esse nome parea um tanto inadequado para
designar a presidente Dilma Rousseff e a trupe espalhada por 39
ministrios, uma poro de estatais e outros rgos da administrao
indireta.
Explicar e justificar uma sucesso de nmeros muito ruins tem sido, h
algum tempo, uma das principais atividades desse pessoal. Mas nenhuma
retrica disfara o pssimo desempenho fiscal de setembro, quando at o
resultado primrio foi negativo, ou a acelerao contnua da inflao
mensal desde agosto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda
classificou como bom resultado a alta de 0,57% do ndice de Preos ao
Consumidor Amplo (IPCA) no ms passado. No h nada de bom nesse
nmero, nem se pode ao contrrio da afirmao do ministro
consider-lo normal para esta poca do ano.
S se pode falar de normalidade em outro sentido: esgotado o efeito dos
truques com as tarifas de transporte e as contas da energia, o
recrudescimento da alta de preos foi absolutamente natural. Que mais
poderia ocorrer, quando h um desajuste inegvel entre a demanda,
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principalmente de consumo, e a capacidade de oferta da indstria
nacional? Esse desajuste, bom lembrar, alimentado principalmente
pela poltica oficial, marcada pela gastana e pelos estmulos ao consumo
e reforada pela expanso do crdito.
Sem esses fatores, nenhum aumento do preo do tomate ou da carne
bovina produziria um impacto to amplo sobre todos os mercados. Alm
disso, o efeito da depreciao cambial seria muito menos sensvel, como
tem sido em outras economias emergentes. Aquelas, como a da ndia,
com problemas graves de inflao, tm tambm, como o Brasil, srios
desajustes fiscais e limitaes importantes do lado da oferta.
O efeito da demanda tambm evidente na evoluo dos preos dos
servios, com alta de 0,52% em outubro e 8,74% em 12 meses. No caso
dos bens, o aumento de preos tem sido atenuado, em parte, pela
importao crescente, mas essa uma soluo invivel quando se trata de
aluguel residencial, conserto de automvel, consultas mdicas ou servios
de manicures, para citar s alguns itens de uma lista muito ampla de
atividades. O mesmo desequilbrio entre a demanda crescente e a
capacidade de oferta muito limitada reflete-se tambm no dficit
comercial de US$ 1,83 bilho acumulado de janeiro a outubro. Nesse
perodo, o valor exportado, US$ 200,47 bilhes, foi 1,4% menor que o de
um ano antes, pela mdia dos dias teis, e o gasto com importao, US$
202,3 bilhes, 8,8% maior.
No h como disfarar a reduo da produtividade e do poder de
competio, resultante principalmente de uma coleo de falhas da
poltica econmica
O aumento das compras de petrleo e derivados diferena de US$ 6,64
bilhes de um ano para outro foi um fator importante, mas o total da
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importao foi determinado principalmente por outros fatores. A elevao
de US$ 17,29 bilhes na despesa com bens estrangeiros refletiu acima de
tudo os desajustes internos e especialmente a perda de eficincia da
economia nacional.
No h como disfarar a reduo da produtividade e do poder de
competio, resultante principalmente de uma coleo de falhas da
poltica econmica. A agropecuria ainda produtiva em grau suficiente
para compensar os problemas sistmicos da economia brasileira e
conquistar espaos no mercado internacional. A maior parte da indstria
tem sido incapaz de vencer esses obstculos. Os mais comentados so as
deficincias de infraestrutura e a tributao irracional, mas a lista ampla
e um dos mais importantes, embora nem sempre lembrado, o
despreparo da mo de obra.
H pouco tempo a Confederao Nacional da Indstria divulgou pesquisa
sobre a escassez de trabalhadores qualificados para o setor de
transformao. Outra sondagem, nesta semana, tornou o quadro ainda
mais dramtico: 74% das empresas de construo consultadas indicaram
dificuldades para encontrar pessoal aproveitvel. Quase todo esse grupo
94% reclamou da escassez de trabalhadores preparados at para
servios bsicos, como os de pedreiro e ajudante.
Em outros tempos, a construo exercia, entre outras, a funo
estratgica de absorver pessoal de baixa qualificao. Isso mudou. As
construtoras progrediram tecnologicamente e a educao ficou para trs,
principalmente nos nveis fundamental e mdio. Pessoas um pouco mais
atentas apontaram a m escolha do objetivo, quando o presidente Luiz
Incio Lula da Silva decidiu cuidar prioritariamente do acesso a faculdades,
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por meio de bolsas, cotas e maior oferta de vagas. O Pas paga caro, hoje,
por essa deciso obviamente demaggica e eleitoreira.
Ningum deve esperar grandes avanos na poltica educacional em curto
prazo. No Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, a presidente Dilma
Rousseff repetiu, como se fosse algo muito bom, uma ameaa muito
ouvida nos ltimos tempos: por meio dos recursos do petrleo, a
educao ser transformada no caminho fundamental do
desenvolvimento. Essa uma assustadora conversa mole. O Brasil precisa
de educao h muito tempo, preciso cuidar do assunto imediatamente
e h recursos mais que suficientes para isso. Apostar no hipottico
dinheiro do pr-sal equivale a encontrar mais uma desculpa vergonhosa
para nada fazer de srio pela educao.
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O Brasil emperrado e a tese de Nelson Rodrigues
Postado por: Rolf Kuntz 18/11/2013 em Artigos
Se toda unanimidade for mesmo burra, como escreveu Nelson Rodrigues,
respeitados economistas nacionais e estrangeiros devem estar errados,
porque as avaliaes negativas da economia brasileira esto ficando quase
unnimes. A Standard & Poors, uma das principais agncias de
classificao de risco, poder mudar a nota do pas antes das eleies de
2014, se a situao das contas pblicas continuar piorando, disse em Nova
York, na quarta-feira, o diretor responsvel pelo acompanhamento do
Brasil, Sebastian Briozzo. Ele tambm revelou a previso de crescimento
econmico para este ano e para 2014, em torno de 2,5%. Um dia antes o
Conference Board, organismo especializado em estudos
macroeconmicos, havia indicado uma projeo pouco menor para o
prximo ano, 2,3%. Estimativas semelhantes haviam sido divulgadas pela
Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE):
expanso de 2,2% neste ano, 2,5% no prximo e 3,1% em 2015. Os
clculos anteriores, publicados no primeiro semestre, haviam sido mais
otimistas 3% para 2013 e 3,6% para 2014. Mas essas estimativas so
apenas uma parte e a menos preocupante da unanimidade em
formao.
As coincidncias mais importantes referem-se qualidade da poltica
econmica, ao ambiente de negcios e ao fiasco brasileiro no cenrio
internacional, sintetizado recentemente na capa da revista The Economist
pela queda do redentor-foguete. Na pesquisa da OCDE, as economias
emergentes e em desenvolvimento continuam perdendo impulso, mas
ainda devem crescer em mdia 4,5% em 2013, 5% em 2014 e 5,3% em
2015. A zona do euro continuar em marcha lenta, mas a recesso vai
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ficando para trs. Os Estados Unidos, mesmo com a trava nos gastos
pblicos, devem manter-se em acelerao.
As avaliaes negativas da economia brasileira esto ficando quase
unnimes
Na sondagem de clima econmico, realizada pelo instituto alemo IFO em
parceria com a Fundao Getlio Vargas (FGV), a projeo de crescimento
para o Brasil nos prximos trs a cinco anos ficou em 2,6%, nmero
modestssimo quando confrontado com aqueles previstos para Chile
(3,8%), Colmbia (3,9%), Equador (4,1%) e Peru (5%). Na avaliao do
clima econmico o Brasil aparece em 9 lugar numa lista de 11 latino-
americanos. Os principais problemas detectados nas entrevistas so trs
faltas: de confiana na poltica econmica, de competitividade
internacional e de mo de obra qualificada.
Bem conhecidos no pas, esses pontos negativos se tomaram lugares-
comuns nas avaliaes divulgadas por entidades internacionais pblicas e
privadas, como a OCDE, o Banco Mundial, o Frum Econmico Mundial e
as agncias de classificao de risco.
A quase unanimidade internacional a respeito das ms condies do pas
tem sido alimentada por informaes e avaliaes tambm de entidades
oficiais brasileiras. O Banco Central (BC) tem chamado a ateno, h um
bom tempo, para as limitaes do lado da oferta, para o desajuste no
mercado de trabalho, para a demanda de consumo perigosamente
aquecida e para a inflao resistente, mas a cpula do Executivo continua
agindo como se o grande entrave ao crescimento brasileiro estivesse do
lado dos consumidores. Como conseqncia, o governo tem queimado
dezenas de bilhes de reais em estmulos fiscais ao mercado, com
pouqussima ou nenhuma resposta da indstria. Mesmo o dinheiro do
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tesouro entregue aos bancos pblicos para financiar o investimento
produziu efeitos abaixo de pfios nos ltimos anos. O valor investido pelo
governo e pelo setor privado continua na vizinhana de 19% do produto
interno bruto (PIB), uns cinco pontos abaixo da mdia latino-americana.
Os sinais de estagnao continuam pipocando. O mais recente o ndice
de Atividade Econmica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma
prvia do PIB. O nmero de setembro foi 0,01% inferior ao de agosto e
2,68% maior que o de um ano antes na srie com ajuste sazonal. O ndice
do terceiro trimestre foi 0,12% inferior ao do segundo e o acumulado em
112 meses chegou a 2,48%.
A estimativa do PIB atualizada at o perodo de julho a setembro s deve
ser divulgada no comeo do prximo ms pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE). Por enquanto, os levantamentos indicam
um resultado muito fraco. Isso inclui o crescimento industrial de apenas
1,1% nos 12 meses at setembro, segundo os ltimos dados do IBGE.
Enquanto isso, a alta dos preos ao consumidor continua em acelerao,
mesmo com a acomodao dos preos no atacado (IPA). O IGP-10 de
novembro subiu 0,44%, freado por seu componente de maior peso: o IPA,
com elevao de 0,4%, avanou bem menos que no ms anterior (1,48%).
Mas os preos ao consumidor, tambm cobertos pela pesquisa,
aumentaram 0,61%, com variao de 5,44% em 12 meses. Em outubro
haviam subido 0,33%. A nova apurao mostrou alta de preos em seis
dos oito grupos de bens e servios pesquisados, com destaque,
novamente, para os servios mais um forte sinal de excesso de
demanda.
Toda unanimidade pode ser burra, mas pode causar muito prejuzo antes
de ser descoberta a burrice. A movimentao no mercado financeiro j
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tem mostrado os efeitos da desconfiana em relao poltica fiscal,
muito frouxa, e s possibilidades de crescimento econmico nos prximos
anos. Alm disso, restam dois motivos de preocupao.
Primeiro: talvez haja algum exagero na tese de Nelson Rodrigues. Nesse
caso, pelo menos algumas unanimidades podero ser fundamentadas.
Segundo: mesmo avaliaes defeituosas podem motivar profecias
autorrealizveis. Pelo sim, pelo no, a presidente Dilma Rousseff deveria
pensar nessas possibilidades, para tentar garantir nos prximos anos uma
economia mais bonitinha e menos ordinria.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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Aleluia: expanso de 1,5%, apesar do mau-olhado
Postado por: Rolf Kuntz 01/12/2013 em Artigos, Economia de
Mercado, Eficincia
Maravilha: a economia brasileira pode ter crescido 1,5% em 2012, um
esplndido resultado, muito melhor que a expanso de 0,9% at agora
registrada oficialmente. Alm disso, as contas pblicas esto em timas
condies, embora algumas pessoas trabalhem, segundo o secretrio do
Tesouro, Arno Augustin, para transformar fundamentos fortes e
tranquilos em situaes de tenso. Maravilha, de novo! Estamos a um
passo de ouvir algum ministro ou secretrio atribuir mau-olhado aos
crticos da poltica econmica. Por que no? Quando tiverem, afinal, de
reconhecer um fiasco, podero acusar algum crtico ou opositor de ter
enterrado um sapo no subsolo do Ministrio da Fazenda. Isso ser quase
to sofisticado quanto continuar atribuindo a inflao brasileira a choques
de preos um efeito aparentemente despercebido em muitos outros
pases em desenvolvimento. Mas, descontados os sapos e o olho maligno,
vai tudo bem, segundo o governo, a comear pela evoluo do produto
interno bruto, o Superpib.
A presidente Dilma Rousseff adiantou a reviso para 1,5% em entrevista
ao jornal espanhol El Pas. Revises so normais, disse ela, e ocorrem
tambm nas contas dos Estados Unidos. verdade, mas parece ter havido
uma confuso. Segundo a informao original, posta em circulao alguns
dias antes dessa entrevista, a nova taxa de crescimento dever resultar de
uma alterao no clculo, com a introduo de uma nova estimativa do
setor de servios. No seria propriamente a correo de um erro
estatstico, mas um aperfeioamento do sistema de dados. Mas isso
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dever envolver uma reconstruo da srie e cedo para dizer, sem mais
informaes, como ficar o conjunto.
Os dados mais importantes, por enquanto, so outros: um crescimento de
1,5% em 2012 continuar sendo menos que pfio, inferior ao de grandes
pases em crise, como Estados Unidos (2,8%) e Japo (2%), e muito menor
que a mdia dos emergentes e em desenvolvimento (4,9%). Atribuir esse
desempenho crise internacional apenas uma forma de jogar sobre os
outros a responsabilidade pelas prprias falhas, um discurso pouco
melhor que o do mau-olhado e do sapo.
Do lado da indstria, principal fonte de empregos decentes e, no passado,
foco mais importante de modernizao tecnolgica, as perspectivas
continuam ruins. O desempenho da economia vem de frustrao em
frustrao, disse na quinta-feira o diretor de pesquisas e estudos
econmicos da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp),
Paulo Francini. Em outubro, o indicador de nvel de atividade (INA) da
indstria paulista foi 0,4% menor que em setembro, descontadas os
fatores sazonais, e 0,2% inferior ao de um ano antes. Alm disso, o
aumento do INA de agosto para setembro foi revisto de 1,3% para 0,2%. O
avano acumulado em 12 meses ficou em 2,2%. Mesmo a expanso de
2,5% estimada para o ano ficar longe de compensar meramente zerar
a queda de 4,1% em 2012.
No se sustenta uma grande economia em desenvolvimento com uma
indstria estagnada e um volume ridculo de investimentos
Do lado da oferta, o PIB brasileiro continuar puxado pela agropecuria e
pelo setor de servios. Do lado da demanda, o governo tem apostado na
expanso do investimento. Se isso for confirmado, ser um mero efeito
estatstico, j que o total investido diminuiu no ano passado. Na melhor
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hiptese, o investimento medido pela formao bruta de capital fixo
(recursos aplicados em mquinas, equipamentos, infraestrutura e outras
instalaes) ficar de novo na vizinhana de 19% do PIB. De fato, os
componentes mais dinmicos da demanda continuaro sendo o consumo
privado, apesar de algum arrefecimento, e os gastos de governo,
basicamente de custeio.
No se sustenta uma grande economia em desenvolvimento com uma
indstria estagnada e um volume ridculo de investimentos. Do lado
privado, a disposio para investir depende principalmente da confiana
na poltica e da expectativa de crescimento. As empresas j investiram
com muito mais dinamismo em pocas de juros bsicos mais altos, at
porque as taxas cobradas pelo principal financiador, o Banco Nacional do
Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), sempre foram subsidiadas.
Os subsdios continuam, mas a poltica do BNDES perdeu o rumo e
tambm isso tem travado o crescimento.
Leiles bem-sucedidos no setor de infraestrutura podero resultar em
mais investimentos. Mas o xito desses leiles tem sido turbinado pela
promessa de subsdios por intermdio do BNDES ou da participao de
estatais, como indicou o professor Srgio Lazzarini, do Insper, em
excelente artigo no Estado de quinta-feira. O governo poderia usar de
outra forma esses bilhes. Por que atrair capital privado com subsdios, se
os negcios so lucrativos? Essa foi a grande pergunta deixada pelo artigo.
Esse exemplo de mau planejamento e mau uso de recursos combina com
o resultado das contas pblicas. O supervit primrio do governo central
em outubro, R$ 5,4 bilhes, foi o mais baixo para o ms desde 2004. O
acumulado em dez meses, R$ 33,4 bilhes, chegou a apenas 45,7% da a
meta de R$ 73 bilhes, j inferior inicial. Segundo o secretrio do
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Tesouro, o governo central conseguir nos dois meses finais os R$ 39,6
bilhes necessrios para fechar a conta. Se conseguir, ser graas a
receitas extraordinrias, como as prestaes do Refis, o programa de
refinanciamento de impostos.
O setor pblico total s acumulou R$ 51,2 bilhes de supervit primrio
no ano, 46,1% do prometido para 2013. Em outubro, a contribuio de
Estados, municpios e estatais foi de apenas R$ 932 milhes. Mas isso
deixou de ser problema para o governo central, agora oficialmente
comprometido s com o prprio resultado. Nem esse est garantido. Falta
um captulo sobre mau-olhado nos manuais de finanas pblicas.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 30/11/2013
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Mistura txica: inflao, estagnao e crise fiscal
Postado por: Rolf Kuntz 09/12/2013 em Artigos, Economia de Mercado
Ningum vai jogar a toalha. A inflao j estourou a meta, com 4,95% at
novembro. A economia encolheu 0,5% no terceiro trimestre e cresceu
apenas 2,3% em 12 meses. Mas a presidente Dilma Rousseff ainda poder
falar em vitria se o ano terminar com alta de preos inferior a 5,84%,
resultado final de 2012, e expanso do produto em torno de 2,5%. Nessa
altura, poucos lembraro a maior parte dos micos de 2013, includa a
entrevista ao jornal El Pas, quando ela anunciou a reviso do crescimento
do ano passado para 1,5%. Houve reviso, sim, mas de 0,9% para 1%,
como informou nesta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE). Talvez numa prxima correo aparea a taxa de 1,5%,
mas quem se importar, alm da presidente?
Em qualquer pas governado por gente comum, a mistura de crescimento
econmico em torno de 2,5% com inflao acima de 5% seria considerada
um desastre. Neste Brasil de governantes incomuns, as autoridades
torcem por esse resultado. Que mais poderiam ambicionar, neste
momento? Alm disso, cantam vantagem, apontando pases com
crescimento menor, mas, curiosamente, em posio bem melhor na
escala de risco de crdito. Agncias de classificao cometeram erros
notveis nos ltimos 20 anos, mas seus critrios, de modo geral, fazem
sentido e suas avaliaes so levadas a srio no setor financeiro.
No mercado, todo mundo sabe do risco de rebaixamento da nota do
Brasil. O ministro da Fazenda at j se mostrou preocupado com essa
possibilidade. Mas nem por isso decidiu cuidar seriamente das contas
pblicas, admitir os problemas e pr de lado a contabilidade criativa e a
poltica de remendos fiscais. H poucos dias o ministro desistiu de mais
-
uma operao para maquiar as contas federais uma jogada com
participao da Caixa e da Eletrobrs. Mas s mudou de ideia quando uma
reportagem do Valor escancarou a manobra e toda a imprensa foi atrs da
histria. A armao de um lance desse tipo havia sido mencionada algum
tempo antes na cobertura do Estado.
O desarranjo das contas pblicas tem sido apontado como um dos
principais fatores da inflao
Segundo o plano, a Caixa financiaria, com garantia do Tesouro,
pagamentos devidos por subsidirias do setor de energia a um fundo
setorial. Isso pouparia ao Tesouro uma transferncia de R$ 2,6 bilhes.
Assim ficaria um pouco mais fcil obter o supervit primrio de R$ 73
bilhes prometido pelo ministro. Se o governo alcanar esse resultado,
ser principalmente graas a manobras e a receitas extraordinrias, como
os bnus de concesses de infraestrutura e as parcelas do programa de
refinanciamento de dvidas tributrias, o Refis. Este programa dever
render uns R$ 20 bilhes. S a Vale dever entrar com uns R$ 6 bilhes
nessa coleta. E s o bnus do leilo do campo de Libra, no pr-sal, dever
proporcionar R$ 15 bilhes. A soma desses valores garantir quase
metade do resultado primrio fixado para o governo central.
O desarranjo das contas pblicas tem sido apontado como um dos
principais fatores da inflao. A alta de preos est obviamente vinculada
ao descompasso entre a demanda e a oferta interna, reconhecido por boa
parte dos analistas e de novo mencionado na ata da ltima reunio do
Comit de Poltica Monetria do Banco Central (Copom/BC). O presidente
do BC, Alexandre Tombini, citou num discurso, nesta semana, o recuo das
taxas acumuladas de inflao, mas necessrio muito otimismo para
festejar os nmeros conhecidos.
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A inflao oficial, medida pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo
(IPCA), chegou a 4,95% no ano e a 5,77% em 12 meses. A variao mensal
ficou em 0,54%, ligeiramente abaixo da observada em outubro (0,57%).
Cinco dos nove grupos de despesas encareceram mais que no ms
anterior. O ndice de difuso parcela de itens com aumento de preos
passou de 67,7% em outubro para 68,2%, confirmando, mais uma vez, a
ampla disseminao das presses inflacionrias. No h como sustentar
nem havia antes a tese oficial de uma inflao derivada da alta dos
alimentos ou da valorizao internacional das commodities. O custo da
alimentao tem subido menos, assim como os preos das matrias-
primas, como confirma a Fundao Getlio Vargas (FGV). Entre outubro e
novembro a alta dos preos no atacado passou de 0,71% para 0,12%,
enquanto a dos preos ao consumidor acelerou de 0,55% para 0,68%.
Inflao alta e contas pblicas em baixa combinam de forma desastrosa
com a indstria emperrada
Nem um resultado final abaixo dos 5,84% do ano passado est garantido,
porque o IPCA de dezembro vai registrar os aumentos de preos de
combustveis, cigarros, eletricidade, gua e esgoto, como observou o
economista Fernando Parmagnani, da consultoria Rosenberg &
Associados. Alm disso, um ligeiro recuo da inflao neste ano por
enquanto, s uma hiptese de nenhum modo garante uma nova
reduo do acumulado em 2014, advertiu Salomo Quadros, da FGV.
Houve coisas atpicas neste ano, disse ele, lembrando a interferncia
poltica nos preos administrados.
Inflao alta e contas pblicas em baixa combinam de forma desastrosa
com a indstria emperrada. A produo industrial cresceu 0,6% de
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setembro para outubro uma bela notcia, depois do fiasco do terceiro
trimestre. Mas a comemorao pode ter sido exagerada.
bom examinar as mdias mveis trimestrais de dois anos. Como a
indstria foi mal em 2011, a evoluo em 24 meses ficou abaixo de pfia.
Nos trs meses terminados em