teste saramago 12c2bab

Upload: cristina-fonte

Post on 03-Jun-2018

242 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/12/2019 Teste Saramago 12c2bab

    1/5

    Escola Secundria de Lousada

    Teste Escrito de Portugus

    12. ano B junho de 2013

    _____________________________________________________________________________Grupo I

    Leia o texto a seguir transcrito.

    De Montemor a vora no vo faltar trabalhos. Voltou a chover, tornaram os atoleiros, partiram-se eixos,rachavam-se como gravetos os raios das rodas. A tarde caa rapidamente, o ar arrefecia, e a princesa D.

    Maria Brbara, que enfim adormecera, auxiliada pelo torpor emoliente dos caramelos com que aconchegara

    o estmago e por quinhentos passos de estrada sem buracos, acordou com um grande arrepio, como se um

    dedo gelado lhe tivesse tocado na testa, e, virando os olhos ensonados para os campos crepusculares, viu

    parado um pardo ajuntamento de homens, alinhados na beira do caminho e atados uns aos outros por

    cordas, seriam talvez uns quinze.

    Afirmou-se melhor a princesa, no era sonho nem delrio, e turbou-se de to lastimoso espetculo de

    grilhetas, em vspera das suas bodas, quando tudo devia ser ledice e regozijo, j no chegava o pssimo

    tempo que faz, esta chuva, este frio, teriam feito bem melhor se me casassem na primavera. Cavalgava estribeira um oficial a quem D. Maria Brbara ordenou que mandasse saber que homens eram aqueles e o

    que tinham feito, que crimes, e se iam para o Limoeiro ou para a frica. Foi o oficial em pessoa, talvez por

    muito amar esta infanta, j sabemos que feia, j sabemos que bexigosa, e da, e vai levada para Espanha,

    para longe, do seu puro e desesperado amor, querer um plebeu a uma princesa, que loucura, foi e voltou,

    no a loucura, ele, e disse, Saiba vossa alteza que aqueles homens vo trabalhar para Mafra, nas obras do

    convento real, so do termo de vora, gente de ofcio, E vo atados porqu, Porque no vo de vontade, se

    os soltam fogem, Ah. Recostou-se a princesa nas almofadas, pensativa, enquanto o oficial repetia e gravava

    em seu corao as doces palavras trocadas, h de ser velho, caduco e reformado, e ainda se recordar do

    mavioso dilogo, como estar ela agora, passados todos estes anos.

    A princesa j no pensa nos homens que viu na estrada. Agora mesmo se lembrou de que, afinal, nunca foi a

    Mafra, que estranha coisa, constri-se um convento porque nasceu Maria Brbara, cumpre-se o voto porque

    Maria Brbara nasceu, e Maria Brbara no viu, no sabe, no tocou com o dedinho rechonchudo a primeira

    pedra, nem a segunda, no serviu com as suas mos o caldo dos pedreiros, no aliviou com blsamo as

    dores que Sete-Sis sente no coto do brao quando retira o gancho, no enxugou as lgrimas da mulher que

    teve o seu homem esmagado, e agora vai Maria Brbara para Espanha, o convento para si como um sonho

    sonhado, uma nvoa impalpvel, no pode sequer represent-lo na imaginao, se a outra lembrana no

    serviria a memria.

    Jos Saramago, Memorial do Convento, 27. ed., Lisboa, Caminho, 1998

  • 8/12/2019 Teste Saramago 12c2bab

    2/5

    Escola Secundria de Lousada

    Vocabulrio:

    atoleiros (linha 1) lugares de solo mole, pantanoso.gravetos (linha 2) galhos finos e secos de rvore ou arbusto.ledice (linha 9) alegria.

    Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

    1. Vrios so os imprevistos da viagem que a princesa e a sua comitiva fazem, de Montemor a vora.

    Refira trs desses imprevistos, fundamentando a sua resposta com elementos do texto.

    2. Explicite o sentido do seguinte excerto: turbou-se de to lastimoso espetculo de grilhetas, em vspera

    das suas bodas, quando tudo devia ser ledice e regozijo (linhas 8 e 9).

    3. Identifique um dos recursos de estilo presentes no ltimo pargrafo do texto e comente a respetiva

    expressividade.

    4. Divida o texto em partes lgicas e apresente, para cada uma delas, uma frase que sintetize o respetivo

    contedo.

    Grupo II

    A

    Escolha mltiplaAssinale uma nica resposta na folha do seu teste:

    1. Blimunda, personagem com um papel muito significativo na obra Memorial do Convento, de JosSaramago, passa a ser chamada de Sete-Luas a partir de determinado momento da sua vida. O padreBartolomeu Loureno deu-lhe aquele nome porque a personagem

    a) Nasceu num dia de lua cheiab) Enamorou-se de Baltasar na stima noite da semana

    c) V s escuras

    2. Que razo levara D. Joo V a prometer construir o Convento de Mafra a frei Antnio de S. Jos?

    a) Porque se encontrava gravemente doenteb) Porque desejava ter um filhoc) Porque pretendia cair nas graas do Santo Ofcio

    3. A mquina de voar construda pelo padre Bartolomeu Loureno necessita das vontades dos homens e dasmulheres recolhidas por Blimunda. Sero as vontades fundamentais para voar,

    a) Se concertadas com as foras do sol, do mbar e dos manesb) Porque representam as foras indomveisc) Dado que no se vem

    4. O narrador do Memorial do Convento refere a determinado momento: Parece apenas um gracioso jogode palavras, um brincar com os sentidos que elas tm, como nesta poca se usa, sem que extremamenteimporte o entendimento ou propositadamente o escurecendo. Com que movimento literrio se identificamestes hbitos da poca?a) Classicismob) Barrococ) Romantismo

  • 8/12/2019 Teste Saramago 12c2bab

    3/5

    Escola Secundria de Lousada

    5. Em 22 de Outubro de 1730, dia da sagrao do Convento de Mafra, Baltasar mantm-se desaparecidodepois de ter visitado a passarola. Pretende a obra circunscrever-se ao memorial de um convento?a) Simb) No, porque h outras memrias histricas dispersas na obrac) No, o voo do homem e a capacidade de sonhar contrabalanam com o peso histrico associado construo do Convento de Mafra

    B

    Leia o texto com muita ateno

    J lvaro Diogo est contratado, talha por enquanto a pedra que trazida de Pro Pinheiro, grandes blocos

    transportados em carros puxados por dez ou vinte juntas de bois, enquanto outros operrios partem com os

    malhos a outra pedra grosseira que h de servir para alicerces, este de quase seis metros de profundidade,

    metros o que dizemos hoje, que ento tudo se media a palmos, afinal continua a ser por eles que se

    medem os homens, os grandes e os pequenos, por exemplo, mais alto Baltasar Sete-Sis que D. Joo V, e

    no foi rei, e lvaro Diogo, no sendo fraca figura, pedreiro de obra grossa, ali est martelando apedra,

    desbastando face, mas este vir a fazer mais do que isto, tendo ajudado a pr umas sobre outras, ser no

    futuro canteiro e lavrante, porm j real trabalho levantar uma parede direita, a fio-de-prumo, no esse

    ofcio de sarrafos e pregos, como os carpinteiros que andam a carpinteirar aquela igreja de madeira, onde se

    celebrar o ato da bno e da inaugurao, quando el-rei vier.

    Para cada item escreva a letra correspondente:

    1. Na afirmao Mas este vir a fazer mais do que isto, os pronomes destacados referem-serespectivamente

    a. a Pro Pinheiro e ao ato de puxar juntas de boisb. a Baltasar e sua tarefa de martelar a pedrac. a lvaro Diogo e ao ato de puxar juntas de boisd. a lvaro Diogo e ao ato de martelar a pedrae.

    2. Na expresso metros o que dizemos hoje, o advrbio de tempo destacado refere-sea. ao tempo da histria da construo do conventob. ao tempo psicolgico das personagens referidasc. ao tempo da escrita do romance (sc. XX)d. ao ano de 2013

    3. A frase ali est martelandotraduz uma acoa. posta em prtica, no momentob. repetida, do passado ao presentec. momentnea, no passadod. iniciada, no passado

    4. A palavra destacada na expresso como os carpinteiros queandam a carpinteirar aquela igrejaa. uma conjuno subordinativa integranteb. um pronome relativoc. uma locuo subordinativa consecutivad. um pronome indefinido

  • 8/12/2019 Teste Saramago 12c2bab

    4/5

  • 8/12/2019 Teste Saramago 12c2bab

    5/5

    Escola Secundria de Lousada

    Correo do teste escrito de Portugus do 12.B junho de 2013

    ________________________________________________________________________________________

    Grupo I

    1. A resposta deve contemplar trs dos seguintes aspetos ou outros considerados igualmenterelevantes:

    condies climatricas adversas voltou a chover (linha 1), esta chuva, este frio (linha 10);consequncia dessa precipitao os atoleiros (linha 1); desgaste do meio de transporte eixos que se partem e raios das rodas que se racham comogravetos (linha 2);viso perturbadora de um pardo ajuntamento de homens, alinhados [] e atados uns aos outros porcordas (linhas 6-7).

    2. A resposta deve contemplar a ideia de contraste entre a vontade de festejar a anunciada felicidadedas suas bodas (linha 9) e a viso da realidade brutal (a constatao da escravatura de homens no

    trabalho de construo do convento) negativamente conotada pelo adjetivo lastimoso (linha 8) e pelonome grilhetas (linha 9).3. A resposta deve contemplar apenas um dos recursos de estilo presentes no ltimo pargrafo do

    texto e o comentrio da respetiva expressividade:a construo anafrica Maria Brbara no viu, no sabe, no tocou [] no serviu, no aliviou, noenxugou (linhas 24-26) reala o forte contraste negativo entre a indiferena da princesa peranteconstruo do convento e essa construo como fonte de desgosto e de sofrimento para os trabalhadores; a comparao o convento para si como um sonho sonhado (linhas 27-28) sublinha que oconvento no faz parte da realidade de Maria Brbara. uma espcie de sonho inconsistente, sem imagens;sonho sonhado redundncia que refora o afastamento do real; a metfora uma nvoa impalpvel (linha 28) traduz a incapacidade de Maria Brbara pararepresentar o convento. Este, apesar de existir porque Maria Brbara existe, no , para a princesa, mais doque essa nvoa abstrata.

    4. A resposta deve apresentar frases que sintetizem o contedo de cada uma das partes encontradas:os contratempos surgidos durante a viagem da princesa de Montemor a vora (1. e 2. perodos do 1.pargrafo);a curiosidade e a perturbao que a princesa revela perante o pardo ajuntamento (linha 6) e o amor dooficial pela princesa (ltimo perodo do 1. pargrafo e o 2. pargrafo);a reflexo em torno do desinteresse da princesa por um convento que est a ser construdo para celebraro seu nascimento (3. pargrafo).

    Grupo I

    A1.C; 2. B; 3. A; 4. B; 5. C

    B1. D; 2. C; 3. A; 4. B; 5. A; 6. D

    Grupo III

    Sugesto de tpicos de abordagem:amor verdadeiro;sexo carnal;comunho de corpos e almas;entrega total;plenitude.