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3 CINEMA E VÍDEO [ MAURÍCIO GINO NOÇÕES DE DRAMATURGIA E DE APORTES TEÓRICOS DA CONSTRUÇÃO NARRATIVA NO CINEMA E NO VÍDEO. USO EM AULAS DE ARTES VISUAIS.

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Testando apostila de cinema

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Curso de espeCialização em ensino de artes visuais – vol. 242 3C

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inTRodUÇÃo

desde o surgimento da fotografia e do cinema no século XiX e ao longo de todo o século XX, especialmente com a popularização das imagens televisi-vas, as diversas mídias audiovisuais vêm se fazendo fortemente presentes no cotidiano dos estudantes.

além disso, novas tecnologias que surgem, especialmente a digital, com todas as suas possibilidades de criação e manipulação da imagem, e a internet, como um importante meio de divulgação da imagem em movimento, exigem da escola uma constante reflexão acerca das mídias e novas posturas frente às possibili-dades do audiovisual como meio de expressão artística.

de acordo com Kenski (2006)

as novas tecnologias de informação e comunicação, caracterizadas como midiáti-cas, são, portanto, mais do que simples suportes. elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conheci-mentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade. (p.23)

no entanto, o produto audiovisual como articulador pedagógico nas escolas ainda está, na maioria das vezes, apenas relacionado com a mera apresentação ilustrativa de outras disciplinas dentro da sala de aula. desse modo, explora-se apenas o caráter informativo da imagem em movimento, uma vez que seu uso ainda não é aplicado como forma de expressão artística própria ou como parte de um estudo exclusivo e de uma produção autônoma e independente.

numa outra perspectiva, o ensino de arte deve possibilitar ao aluno experiências e vivências significativas nos campos da apreciação, reflexão e elaboração artística.

assim, é importante que o ensino de arte aborde questões como análise crítica dos produtos audiovisuais numa perspectiva histórica e contemporânea, elemen-tos formais da obra audiovisual e a expressão e difusão em artes audiovisuais.

portanto, em consonância com a proposta Curricular de arte no ensino médio, elaborada pela secretaria de educação do estado de minas Gerais, esta disciplina do Curso de especialização em ensino de artes visuais visa à abordagem de recursos como o vídeo e o cinema como meios de expressão artística.

espera-se que este material possa contribuir para o desenvolvimento do ensino no campo das artes audiovisuais de uma maneira mais ampla. os aspectos voltados para questões práticas relacionadas ao desenvolvimento do discurso audiovisual serão abordados em aulas práticas, mediadas especialmente por recursos videográficos.

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conHecimenTo e eXPReSSÃo em aRTeS aUdioviSUaiS

de acordo com pierre lévy (1993), as tec-nologias da inteligência orientam o pensa-mento humano e determinam a forma como o homem se posiciona no mundo. dessa forma, os interlocutores da comunicação baseada na oralidade primárias1 devem compartilhar as mesmas circunstâncias, enquanto a escrita ampliou os limites espa-ciotemporais entre o autor e o leitor.

surge então a tecnologia informático-midi-ática, caracterizada pela conexão dos seus atores em rede, que cada vez mais com-partilham os diversos hipertextos. nesse ambiente, cada interface que surge traz consigo novas significações e novas pos-sibilidades de conexão.

Contudo, o autor ressalta que as três tec-nologias da inteligência apresentadas (fala, escrita e informático-midiática) não corres-pondem a eras estanques do pensamento humano, uma vez que elas coexistem em diferentes graus nas diversas culturas.

neste sentido, o ensino das artes audiovi-suais apresenta-se como um importante mecanismo de reestruturação do conhe-cimento humano na atualidade, uma vez que a imagem em movimento, associada a elementos como o som e a interatividade, pode representar uma forma de posiciona-mento do homem perante a sociedade.

portanto, a introdução da temática audiovi-sual na atual proposta curricular da seemG para o ensino médio revela-se como extre-mamente oportuna, visto que o nosso século tende ao aprofundamento do conhecimento e da relação das pessoas com a imagem em movimento, já consolidado e bastante significativo desde o século XX, com o surgi-mento e/ou desenvolvimento da fotografia, do cinema, da televisão e o aparecimento de novas tecnologias aplicadas a produtos audiovisuais, como a imagem digital.

estudar e aprender artes audiovisuais cons-titui um novo parâmetro de inserção cultural, pois demonstra preocupação de estabelecer uma aprendizagem que leve em conta nova economia que vem se formando, interme-diada em grande parte por novos produtos audiovisuais. Criar a possibilidade para que os jovens possam ter uma formação ade-quada nessa área pode suscitar para eles uma forma diferenciada de relacionamento na sociedade, evitando-se ainda a forte dis-criminação social dos que não têm acesso aos meios de comunicação contemporâ-neos por não saber utilizá-los.

assim, é necessário que os alunos aprendam a lidar com o discurso audiovisual, como uma maneira de se atualizarem frente à crescente demanda dos novos conceitos visuais, como o formato digital, a interação com a internet, o entendimento da produção e realização fílmica e televisiva, etc. pode-se afirmar que o crescimento verificado na atualidade das artes audiovisuais representa uma forma dife-renciada dentro do ensino, que possibilitará ao aluno entender e se expressar em várias mídias e estabelecer uma conexão contem-porânea com a sociedade.

nesse sentido, o ensino das artes audiovi-suais nas escolas passará a ter um impor-tante papel integrador e coletivo, que possibilitará sua interlocução com outras formas de expressão artística, podendo mesmo tornar-se um núcleo aglutinador de várias produções, juntamente com o teatro, a dança e a música, por exemplo.

a educação para a expressão audiovisual se apresenta como uma rica e ampla pos-sibilidade de desenvolvimento das poten-cialidades criativas dos jovens, contribuindo fortemente para seu posicionamento na sociedade atual. através da inclusão audio-visual o jovem poderá encontrar sua forma de relacionamento com um mundo cada vez mais globalizado e interativo.

1 de acordo com o autor, oralidade

primária refere-se à oralidade em socie-

dades que ainda não dominam a escrita.

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2 conTeÚdoS e eSTRaTÉGiaS de enSino daS aRTeS aUdioviSUaiS

de maneira geral, a proposta curricular para o ensino de arte no ensino médio prevê a abordagem de três eixos como articuladores do processo de ensino e aprendizagem: o fazer, o apreciar e o contextualizar.

nesse sentido, recomenda-se a seleção de conteúdos para o ensino de artes audiovisuais que favoreçam o entendimento da arte como cultura e do aluno como produtor e apreciador; que valorizem as manifestações artísticas dos diversos povos e culturas; e que possibilitem a articulação dos três eixos do processo de ensino e aprendizagem citados acima.

sugerem-se ainda estratégias que visem ao desenvolvimento da percepção audio-visual e da sensibilidade estética dos alunos; que possibilitem o conhecimento sobre o discurso audiovisual, como os elementos de composição de imagens, escalas de planos e noções de som e iluminação; e que permitam uma reflexão a respeito dos mecanismos de veiculação e difusão da obra audiovisual.

em última análise, tais estratégias permitem a abordagem das artes audiovisuais como um possível campo de expressão artística, através do qual o aluno pode se posicionar culturalmente perante um mundo cada vez mais globalizado.

3 conTeÚdoS PRÁTicoS a SeRem TRaBaLHadoS

a partir da proposta curricular apresentada, pode-se trabalhar tanto os aspectos voltados para a produção, quanto para a veiculação da obra audiovisual. nesse sentido, sugerem-se conteúdos que favoreçam a expressão do aluno por meio de recursos audiovisuais, como também estimulem uma reflexão acerca das possibilidades de veiculação de sua obra, tais como:

3.1 noÇÕeS BÁSicaS de RoTeiRo

ao falar sobre fotorromance, miriam manini (in samain, 1998: 245) afirma que o cinema nada mais é que uma série de sequências fotográficas, sendo que essa estruturação explica por que a roteirização do fotorromance é basicamente cinematográfica. nesse sentido, escrever para qualquer tipo de arte sequencial2 ou para obras constituídas por imagens em movimento significa desenvolver uma ideia a partir da qual trabalha-se com os elementos constitutivos da imagem, visando à elaboração de uma narrativa.

assim, após a concepção da ideia, desenvolve-se a história em imagens. nesse ponto, os elementos gráficos ganham uma grande importância no contexto do roteiro, que deve ser elaborado de forma a permitir que o leitor consiga enxergar as ações descritas. portanto, o roteirista deve trabalhar colocando-se sempre na posição do espectador, a fim de que consiga descrever com detalhes os elemen-

2 por arte sequencial entende-se qualquer narrativa construída por uma sucessão de imagens, onde incluem-se as histórias em quadrinhos, as novelas gráficas e os fotorromances, seja em sua aplicação gráfica tradicional impressa ou em novas mídias eletrônicas.

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tos que constituirão a imagem final na obra impressa ou audiovisual. em outras palavras, no roteiro descreve-se minuciosamente cada cena que efetivamente será vista pelo leitor/espectador.

o roteiro pode ser considerado como uma obra intermediária à literatura e ao audiovisual, porque deve descrever com palavras o que será apresentado por meio de recursos diversos, como o som e a imagem. isso significa que nem tudo precisa ser dito textualmente por um personagem ou por um narrador, mas pode ser mostrado por meio de imagens como um simples gesto repre-sentado pelo ator.

ou seja, torna-se muito importante a descrição detalhada pelo roteirista do cenário, das condições do tempo ou de iluminação, de todos os elementos sonoros que comporão a cena, dos personagens em atuação e das ações que estes desempenharão.

Graficamente, porém, não existe uma regra geral para a elaboração de um roteiro. ao apresentar um exemplo de roteiro de quadrinhos, eisner afirma que, na prática, o estilo de apresentação deste roteiro varia conforme os padrões da editora – ou conforme o combinado entre artista e escritor (eisner, 1999: 130). em seu exemplo, o autor opta por uma apresentação em que os elementos são descritos em parágrafos distintos, como neste exemplo:

QUadRinHo 4:

narrativa: duas horas depois...

cena: zona portuária de Central City. a neblina serpenteia por entre as estacas e o madeirame em decom-posição do ancoradouro. vemos o espírito de pé sob o único foco de luz, oferecido por um poste de ilu-minação. mal se vê a quilha de um petroleiro em meio à neblina. num canto do quadrinho, vê-se uma figura sombria – obviamente um bandido.

QUadRinHo 5:

Bandido: “Bem-vindo ao campo... não mova um músculo!!”

espírito: “ora, ora... o comitê de boas- vindas do Granch... tch, tch!!”

cena: Close no espírito... das sombras o bandido aproxima-se do espírito. vemos o brilho da sua faca apontada bem atrás da orelha do espírito. mal se vê o bandido. a postura do espírito é de rendição.

o autor descreve as cenas de forma objetiva, separando por parágrafos os elementos sonoros (falas dos personagens e narrativa) e os elementos visuais (descrição do cenário, iluminação, personagens em cena e ações). no entanto, essas mesmas descrições poderiam opcionalmente seguir uma apresentação em forma de tabela.

Finalmente, o roteiro deve ser tratado como um elo de comunicação entre toda a equipe de produção, independentemente do seu tamanho ou com-plexidade. nesse sentido, não importa a sua forma de apresentação, mas as informações que traz. isso faz com que se torne um importante instrumento de planejamento da obra audiovisual.

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QUadRinHo 4:

zona portuária de Central City. a neblina serpenteia por entre as estacas e o madeirame em decom-posição do ancoradouro. vemos o espírito de pé sob o único foco de luz, oferecido por um poste de ilu-minação. mal se vê a quilha de um petroleiro em meio à neblina. num canto do quadrinho, vê-se uma figura sombria – obviamente um bandido.

QUadRinHo 5:

Close no espírito... das sombras o bandido aproxima-se do espírito. vemos o brilho da sua faca apontada bem atrás da orelha do espírito. mal se vê o bandido. a postura do espírito é de rendição.

Som

narrativa: duas horas depois...

Bandido: Bem-vindo ao campo... não mova um músculo!!

espírito: ora, ora... o comitê de boas- vindas do Granch... tch, tch!!

3.2 a inTeRneT como Um novo meio de veicULaÇÃo

um dos grandes problemas que sempre acompanhou a produção cinematográfica brasileira é a distribuição e exibição de filmes. ao longo da história do nosso cinema, chegamos a ter grandes estúdios de produção, como a atlântida com suas famosas chanchadas, e a vera Cruz, com um certo charme próprio dos grandes estúdios americanos. no entanto, a distribuição de seus filmes, especialmente no exterior, representou um entrave para a expansão e continuidade de suas atividades.

num outro contexto, temos hoje uma grande ferramenta de distribuição e veiculação da obra audiovisual: a internet. Como exemplo, assistimos a uma crescente distribuição de obras musicais por meio de arquivos em mp3 e sua evolução para mp4, ao mesmo tempo em que ocorre uma perda de espaço das grandes gravadoras que distribuem com exclusividade as obras sobre as quais detêm todos os direitos. e não apenas a distribuição se tornou mais fácil, como também a própria produção, impulsionada pela democratização dos recursos de informática. surgem então alguns fenômenos musicais próprios desse meio, que se apropriam muito bem das novas mídias, tais como a banda virtual Gorillaz.3

para os audiovisuais, que podem ser produzidos tanto por câmeras profissionais quanto por equipamentos caseiros e até mesmo por telefones celulares, surge

3 veja o site oficial da banda: www.gorillaz.com

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uma grande janela de exibição, que é o portal You tube,4 esse portal permite que produções independentes tenham na inter-net um espaço nunca antes possibilitado por outros meios.

além disso, os curtas-metragens dispõem de um novo meio de exibição e divulgação, possibilitando que o grande público tenha um maior acesso aos filmes nesse formato. Como exemplo, temos o site porta Curtas, que veicula pela internet uma rica parcela da produção curtametragista brasileira. no entanto, sites como esse não devem ser considerados apenas como um importante meio de divulgação da nossa produção audiovisual, mas principalmente como uma grande ferramenta formativa.

portanto, esses novos recursos que surgem devem também ser apropriados pela escola, possibilitando ao aluno um enorme acesso aos recursos audiovisu-ais, como também significam um campo aberto para a própria expressão artística. no entanto, há que se ter o cuidado de selecionar o que será trabalhado com os alunos, visto que grande parte das produ-ções não serve como bons exemplos de questões técnicas sobre roteiro ou sobre a própria expressão audiovisual.

ReFeRÊnciaS

eisner, W. Quadrinhos e arte sequencial. 3ª ed., são paulo (sp), martins Fontes, 1999. 154p.

KensKi, vm. Tecnologias e ensino presen-cial e a distância. 3a ed., Campinas (sp): papirus, 2006. 157p.

levY, p. As Tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informá-tica. 1a ed., rio de Janeiro (rJ): editora 34, 1993. 204p.

pimentel, lG; CunHa, eJl; moura, Ja. Proposta Curricular de Arte – Ensino Médio. secretaria de educação do estado de minas Gerais, 2007. disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br

manini, m. Imagem, imagem, imagem...: o fotográfico no foto-romance. in samain, e. (org.) o Fotográfico. são paulo: Hucitec: Cnpq, 1998. 357 p.

4 www.youtube.com.br

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