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REVISTA DE MANGUINHOS | JUNHO DE 2019 30 Territórios urbanos saudáveis: desafio da saúde pública Agenda 2030 da ONU orienta os países para que tornem os assentamentos humanos inclusivos e sustentáveis ESPECIAL

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Territórios urbanossaudáveis: desafioda saúde públicaAgenda 2030 da ONU orienta os países para que tornemos assentamentos humanos inclusivos e sustentáveis

ESPECIAL

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Luiza Gomes

om um programa co-nectado a dez Objeti-vos de Desenvolvimen-to Sustentável (ODS) daAgenda 2030, a Coor-

denação de Cooperação Social daPresidência da Fiocruz propõe um con-junto de ações integradas para a pro-moção de territórios saudáveis, ten-do em Manguinhos seu principal localde intervenção. Historicamente vincu-lada à discussão sobre desenvolvimen-to local e tecnologias sociais na insti-tuição, a Coordenação desenvolveações sempre com vistas à reaplica-ção das metodologias a contextos si-milares no país.

O programa atua no enfrenta-mento das questões relativas às con-dições de saúde e ambiente em ter-ritórios urbanos de periferias, emconsonância com a Nova AgendaUrbana das Nações Unidas, que iden-tifica na urbanização um dos princi-pais desafios para a saúde públicano século XXI. A iniciativa está ali-nhada com a proposta do ProgramaInstitucional de Territórios Sustentá-

veis e Saudáveis da Fiocruz, atual-mente em construção, e com a Es-tratégia Fiocruz para Agenda 2030.

Para tornar as cidades e os as-sentamentos humanos inclusivos, se-guros, resilientes e sustentáveis,como orienta o ODS 11, o Programade Promoção de Territórios UrbanosSaudáveis (PTUS) da CooperaçãoSocial estrutura suas ações a partirde diagnósticos sobre os determinan-tes sociais da saúde em Manguinhos,enquanto território civil e socioambi-entalmente vulnerabilizado. A cate-goria chama a atenção para proces-sos sociais e históricos de produçãode desigualdades que determinam ascondições de vida da população lo-calmente.

“O que vemos nesses lugares éum quadro estrutural de desigualda-des sociais que afeta diretamente aqualidade de vida da população e doambiente, com restrições ao acesso àcultura, educação, mobilidade urbana,trabalho digno, entre outros”, afirmouo coordenador de Cooperação Socialda Fiocruz, Leonídio Madureira, quehá mais de 30 anos atua nas favelasde Manguinhos.

Considerando a importância daintersetorialidade nas ações de pro-moção da saúde, o programa norteiasua atuação a partir de seis eixos: Pre-venção às Violências; Gestão Ambi-ental Participativa; Território, Arte eSaúde; Governança Territorial Demo-crática; Comunicação Territorial Crí-tica; e Educação Territorializada. Emtodos eles a participação e o controlesocial de políticas públicas são apon-tados como elementos chave parapromoção de um território urbano sau-dável, em consonância com o que diza Política Nacional de Promoção daSaúde. “Cidade saudável é aquelaque está continuamente criando emelhorando o ambiente físico e soci-al, fortalecendo os recursos comuni-tários que possibilitam às pessoas seapoiarem mutuamente no sentido dedesenvolverem seu potencial e me-lhorarem sua qualidade de vida”(Hancock, 1986). A OMS adota a con-ceituação de Hancock & Duhl(WHO/EURO/HCPO, 1988).

O programa existe formalmentehá dois anos, mas sistematiza umacúmulo de mais de vinte anos deexperiência da instituição na intera-

C

O encontro temático Saúde, racismo egênero: mulheres jovens presentes! reuniupesquisadores, estudantes e ativistas dosmovimentos negro e feminista, durante umdia inteiro na Fiocruz (fotos: Peter Ilicciev/Presidência/Fiocruz)

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ção com Manguinhos, que legaramo modo de agir em cooperação soci-al em relação a territórios de favelase no âmbito da própria Fiocruz. Olugar de chegada do programa é aGovernança Territorial Democrática,conceito sistematizado em um deseus eixos. Leonídio explica que o for-talecimento das redes territoriais,organizações de base comunitária eespaços coletivos de participação –como conselhos comunitários e fó-runs - estão no centro da perspecti-va que orienta as ações.

“Os coordenadores do programatrabalham com a ideia de que territó-rios urbanos saudáveis só serão umarealidade quando houver efetiva par-ticipação da sociedade civil organiza-da nos diversos espaços públicos exis-tentes para disputar e efetivar políticaspúblicas territorializadas”, acrescentao coordenador.

Prevençãoàs violências

A partir desse eixo, o programarealiza assessoria jurídica a famíliasem situação de vulnerabilidade civile social e pesquisa o impacto da vio-lência armada nas condições de vidade moradores de favelas do Rio deJaneiro. O projeto dialoga com a po-lítica estadual de segurança públicae com os programas institucionais deViolências e Saúde e de Álcool, Cra-ck e outras drogas da Fiocruz. A Co-operação Social também coordenaacordo com o Tribunal de Justiça doRio de Janeiro (TJ-RJ) junto ao De-partamento de Direitos Humanos,Saúde e Diversidade Cultural (Dihs/Ensp) na realização do Programa Jus-tiça Itinerante. A iniciativa viabilizao acesso de moradores de Mangui-nhos, Jacarezinho e territórios vizi-nhos, na Zona Norte do Rio de Janei-ro, ao poder judiciário.

ODS 16 - Promover sociedadespacíficas e inclusivas para o desenvol-vimento sustentável, proporcionar oacesso à justiça para todos e construirinstituições eficazes, responsáveis einclusivas em todos os níveis.

Gestãoambientalparticipativa

Esse eixo do programa enfoca agestão participativa dos recursos hídri-cos nos territórios vulnerabilizados nabacia hidrográfica do Canal do Cunha,no Rio de Janeiro. Dialoga diretamen-te com o Plano Nacional de Sanea-mento Básico e com a Política Nacio-nal Recursos Hídricos, que preveem aparticipação e o controle social. Ali-nhado ao ODS 6, o eixo visa à gestãosustentável da água e à garantia desaneamento básico para todos, con-templando esgotamento sanitário, dre-nagem de águas das chuvas e coletade resíduos. Como sua principal ativi-dade, apoia o Observatório da Sub-bacia Hidrográfica do Canal do Cunha.

ODS 6 - Assegurar a disponibilida-de e gestão sustentável da água e sa-neamento para todos.

Território,arte e saúde

O incentivo à produção cultural emterritórios de favelas e sua relação coma saúde é a força motriz desse eixo deatuação, considerando que o acesso àarte e à cultura são determinantes so-ciais da saúde. Se dedica a identificaras iniciativas culturais em Manguinhose favelas vizinhas que possuam aspec-to mobilizador, crítico e reflexivo so-bre as condições de vida nesses terri-tórios. Por meio de atividades deassessoramento a grupos comunitári-os, de seminários, eventos e residên-cias literárias, o eixo “Território, arte esaúde” tem o objetivo de fortalecê-lase potencializar o alcance de suasações. A partir desse eixo, o progra-ma apoia iniciativas como a Escola deMúsica de Manguinhos, Oficina Porti-nari, do Ecomuseu de Manguinhos, La-boratório de Educação Territorializadae Cidadã, entre outras. Se articula com

A inclusão do público jovem na formulação decampanhas e políticas públicas foi pauta do encontro

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a Lei que instituiu a Política Nacionalde Leitura e Escrita (Nº 13.696/2018)e com a lei estadual das Rodas Cultu-rais no Rio de Janeiro (Nº 7837/2018).

Meta 4.7 - Até 2030, garantir quetodos os alunos adquiram conhecimen-tos e habilidades necessárias para pro-mover o desenvolvimento sustentável,inclusive, entre outros, por meio daeducação para o desenvolvimento sus-tentável e estilos de vida sustentáveis,direitos humanos, igualdade de gêne-ro, promoção de uma cultura de paz enão violência, cidadania global e valo-rização da diversidade cultural e dacontribuição da cultura para o desen-volvimento sustentável.

Comunicaçãocrítica

O horizonte de atuação desse eixoé apoiar a construção de redes solidá-rias de comunicação no território deManguinhos e junto a outros coletivosdo Rio de Janeiro e do Brasil. Realiza oassessoramento à Agência de Comu-nicação do Conselho Comunitário deManguinhos, que tem como seu prin-cipal produto o jornal Fala Mangui-nhos! e ao grupo de Comunicação doConselho Comunitário de Manguinhos.Além disso, contribui com a formaçãopor meio de capacitações, oficinas,cineclubes e seminários sobre temas

relacionados ao direito à informaçãoe comunicação.

Meta 9.c - Aumentar significati-vamente o acesso às tecnologias deinformação e comunicação e se em-penhar para oferecer acesso universale a preços acessíveis à internet nospaíses menos desenvolvidos, até 2020.

Governançaterritorial edemocrática

Esse eixo de atuação é transversala todos os outros e projeta um olharglobal sobre as redes de governançaexistentes no território de Manguinhosou que incidem sobre ele. Busca tra-çar estratégias para fortalecer e poten-cializar as organizações comunitáriasa partir de espaços coletivos, assesso-rando e dando subsídios para que pos-sam dialogar com o poder público paraconquista de políticas públicas saudá-veis. Dialoga com a Política Nacionalde Gestão Estratégica e Participativa(ParticipaSUS), e a Nova Agenda Ur-bana (Habitat III) das Nações Unidas eas resoluções da Conferência de Asta-na (2018). Todos os eixos do progra-ma contribuem para a participaçãosocial nas políticas públicas de cultu-ra, educação, saúde, assistência soci-al e segurança pública e em espaço

coletivos de articulação como o Con-selho Comunitário de Manguinhos e oConselho Gestor Intersetorial – Teias-Escola, instância de controle social dapolítica de saúde no território.

ODS 11 - Tornar as cidades e osassentamentos humanos inclusivos,seguros, resilientes e sustentáveis.

Educaçãoterritorializada

Neste programa, as ações forma-tivas são sustentadas por metodolo-gias e perspectivas teóricas que valo-rizam o saber popular, a agendaterritorial, a construção compartilha-da do conhecimento e a participaçãosocial. Por isso, opta por formatosabertos e colaborativos na organiza-ção de cursos livres, oficinas, seminá-rios e rodas de conversa. Os temasabordados estão ancorados no con-ceito ampliado de saúde, em sua de-terminação social e na discussão so-bre a garantia dos direitos sociais. Sãorealizados em parceria com as unida-des técnico-científicas da Fiocruz eorganizações da sociedade civil atu-antes nos territórios.

ODS 4 - Educação de Qualidade.Assegurar a educação inclusive e equi-tativa de qualidade, e promover opor-tunidades de aprendizagem ao longoda vida para todos.

Segundo pesquisas, asmulheres negras sãomais propensas a seremvítimas de violência

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