vio lenci a segundo hanna a rent dt

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A VIOLÊNCIA SEGUNDO HANNAH ARENDT Maria Clara Lucchetti Bingemer A violência tornou-se o problema número um nas sociedades contemporâneas, chegando ao ponto de constituir um verdadeiro desafio para a consciência moral de nosso tempo. Sua generalização apresenta-se como uma interrogação e um paradoxo no momento em que a compreensão humana dos fenômenos naturais e sociais, o avanço do saber científico e das conquistas da razão, assim a consciência do valor e do respeito à vida pareciam afirmar-se de modo indiscutível. Proclamamos os direitos humanos e os violamos a cada dia e a cada passo. O início do novo milênio e do novo século trazem ainda o rescaldo do passado século XX, quando a violência apresentou-se sob suas formas mais insidiosas, mais cínicas, constituindo-se a partir de um grau de refinamento que provavelmente supera em muito os períodos mais cruéis da história da humanidade. Genocídios e torturas "cientificamente" organizados, perseguições de todos os matizes, depurações raciais e "limpezas étnicas", êxodo forçado de inteiras populações e grupos sociais indefesos , terrorismo em formas inumanas, segregação e/ou exclusão econômica, racial e religiosa, comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro, formam parte do cotidiano da humanidade hoje talvez mais que nunca. 1

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A VIOLNCIA SEGUNDO HANNAH ARENDT

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A VIOLNCIA SEGUNDO HANNAH ARENDT

Maria Clara Lucchetti Bingemer

A violncia tornou-se o problema nmero um nas sociedades contemporneas, chegando ao ponto de constituir um verdadeiro desafio para a conscincia moral de nosso tempo. Sua generalizao apresenta-se como uma interrogao e um paradoxo no momento em que a compreenso humana dos fenmenos naturais e sociais, o avano do saber cientfico e das conquistas da razo, assim a conscincia do valor e do respeito vida pareciam afirmar-se de modo indiscutvel. Proclamamos os direitos humanos e os violamos a cada dia e a cada passo.

O incio do novo milnio e do novo sculo trazem ainda o rescaldo do passado sculo XX, quando a violncia apresentou-se sob suas formas mais insidiosas, mais cnicas, constituindo-se a partir de um grau de refinamento que provavelmente supera em muito os perodos mais cruis da histria da humanidade. Genocdios e torturas "cientificamente" organizados, perseguies de todos os matizes, depuraes raciais e "limpezas tnicas", xodo forado de inteiras populaes e grupos sociais indefesos , terrorismo em formas inumanas, segregao e/ou excluso econmica, racial e religiosa, comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro, formam parte do cotidiano da humanidade hoje talvez mais que nunca.

A histria do novo sculo estreou com o ataque s torres gmeas em Nova York, prosseguiu com a invaso do Afeganisto e a guerra do Iraque que se desdobra em brbaras torturas nas prises de Bagd, morte de inocentes e estmulo aos atentados, aos ataques kamikazes, investida de seres humanos carregados de bombas explodindo locais pblicos e semeando a morte com seu prprio sangue.

Como se isto no bastasse, o desenvolvimento tecno-cientfico deu origem a novas formas de coao moral e fsica que possibilitam a manipulao e a violao das conscincias, e que constituem verdadeira indstria de alienao e cerceamento liberdade. Estas formas so muito provavelmente as mais perigosas, pois, manipulando habilmente as motivaes, tendem a encerrar o indivduo em uma rede invisvel , escravizando-o mais na medida em que se sente mais livre. Estas possibilidades tecno-cientificamente organizadas so insensveis, pois surpreendem a conscincia quando ela se encontra indefesa, apoderando-se da vontade dos indivduos. E por isto talvez constituam a forma mais ameaadora de violncia e o maior dos desafios para o futuro . Contra a brutalidade explcita pode-se supor uma reao clara e direta, ao passo que as tcnicas de adestramento e condicionamento tendem a conquistar a conivncia daqueles que so enredados em suas malhas.Segundo estudo sobre violncia e juventude no Brasil, via de regra, tanto as anlises sociais quanto a imagem divulgada pelos meios de comunicao tm privilegiado a adolescncia e a juventude como momento de produo da violncia, como agressora, destacando seu envolvimento com a delinqncia e a criminalidade, com os trficos de drogas e armas, com as torcidas organizadas, com os espetculos musicais nas periferias das grandes metrpoles (WAISELFISZ, 1998, p. 11). No entanto, existem algumas pesquisas, como as realizadas por Cecilia Minayo (1994), pela equipe da CLAVES/FIOCRUZ, por Helena Mello Jorge (1998) e Julio Jacobo Waiselfisz (1998), que apontam o jovem como vitima prioritria da violncia. J as pesquisas de Alba Zaluar (1996) mostram estes jovens no apenas enquanto vtimas mas tambm como algozes. A violncia aparece como um problema ligado educao, percebido tanto em relao escola quanto cultura. Em relao a esta problemtica, no h consenso entre os pesquisadores quanto s causas que produzem a violncia nem mesmo quanto ao fenmeno em si. Isto confirma a constatao de Georges Sorel, um dos primeiros autores a tematizar a questo em nosso sculo: "os problemas da violncia ainda permanecem obscuros" (Apud SV, p. 31)..Neste incio de sculo e de milnio, portanto, a violncia cobre o planeta em muitos de seus pontos mais importantes, muitas vezes relacionada de perto com a religio e seus fanatismos e subprodutos, tais como os fundamentalismos de toda espcie, as guerras santas, as "limpezas tnicas" e outros. Os trs monotesmos so ento postos em julgamento enquanto propostas excludentes e incitadoras de violncia.

O quadro de tal maneira grave que requer com urgncia o melhor dos esforos da reflexo do esprito humano a fim de ajudar a humanidade a tomar conscincia do perigo que a cerca e procurar pistas de soluo para o mesmo.

Esse cenrio nos convida a um aprofundamento deste fenmeno multifacetado, naquilo que Paul Ricoeur chama de anatomia da guerra e de fisiologia da violncia. (RICOEUR: s/d, p. 237). Para efetuar esta tarefa, propomo-nos a entender o conceito de violncia em uma autora da filosofia poltica de nosso sculo, Hannah Arendt.. Ela mesma j alertara para a falta de grandes estudos sobre o fenmeno da violncia e a conseqente banalizao do conceito: "Ningum que se tenha dedicado a pensar a histria e a poltica pode permanecer alheio ao enorme papel que violncia sempre desempenhou nos negcios humanos, e, primeira vista, surpreendente que a violncia tenha sido raramente escolhida como objeto de considerao especial. (Na ltima edio da Enciclopdia de Cincias Sociais, a "violncia" nem sequer merece meno.) Isto indica o quanto a violncia e sua arbitrariedade foram consideradas corriqueiras e, portanto, desconsideradas; ningum questiona ou examina o que bvio para todos. Aqueles que viram apenas violncia nos assuntos humanos, convencidos de que eles eram "sempre fortuitos, nem srios nem precisos" (Renan), ou de que Deus sempre esteve com os maiores batalhes, nada mais tinham a dizer a respeito da violncia ou da histria. Quem quer que tenha procurado alguma forma de sentido nos registros do passado viu-se quase que obrigado a enxergar a violncia como um fenmeno marginal" (SV, p. 16).

Neste artigo pretendemos primeiramente considerar o conjunto da obra de Hannah Arendt, analisando o surgimento e o desenvolvimento das suas idias sobre a violncia, e procurando delinear os momentos em que se expressa e apontando para sua continuidade e coerncia. Em segundo lugar, explicitaremos o seu conceito de violncia no quadro de sua reflexo sobre o poder e a poltica. Finalmente, procuraremos discutir as possveis relaes com a educao, destacando como o pensar a violncia pode transformar-se em um processo pedaggico, auxiliando na compreenso do fenmeno na educao e na interveno na realidade conflitiva e violenta que a nossa.

A reflexo sobre a violncia na obra de Hannah ArendtPara apreendermos o conceito de violncia na obra de Hannah Arendt ou qualquer outro aspecto que decorra do seu pensamento, preciso tomar conscincia do ngulo a partir do qual ela percebeu o trabalho de filosofia poltica que se props realizar. Em Entre o passado e o futuro, este ponto nos dado quando ela afirma que para as questes da Poltica, o problema da liberdade crucial (EPF, p, 191). De fato, o tema da liberdade no apenas privilegiado em sua obra, mas constitui-se em chave hermenutica de seu pensamento.[5]O pensar a liberdade e seus desdobramentos constitui-se o horizonte hermenutico no qual devemos situar a violncia, a qual, embora no se constitua seu objeto temtico, abordada no conjunto de sua reflexo poltica. Por esta razo, o conceito de violncia em Arendt vai se transformando na mesma medida em que desenvolve seu pensamento. Em 1951, no contexto do ps-guerra, publicou seu primeiro grande trabalho, As origens do Totalitarismo. Em seus trs captulos - anti-semitismo, imperialismo e totalitarismo - delineiam-se alguns temas fundamentais, entre os quais liberdade e poder, que serviro de referncia para sua reflexo posterior. Nesta obra, Arendt explicita o escopo fundamental de seu projeto de pesquisa: O anti-semitismo (no apenas o dio aos judeus), o imperialismo (no apenas a conquista) e o totalitarismo (no apenas ditadura) - um aps o outro, um mais brutalmente que o outro, demonstraram que a dignidade humana precisa de nova garantia, somente encontrvel em novos princpios polticos e em nova lei na Terra, cuja vigncia desta vez alcana toda a humanidade, mas com fora limitada, pois, ao mesmo tempo, gerada por novas entidades territoriais e controladas por elas (ST, p. 11).No ano de 1957, a partir da experincia dos grandes progressos da pesquisa cientfica e tecnolgica, como o lanamento da primeira nave espacial, publicou A condio humana, considerado por muitos como o seu trabalho mais significativo, propondo-se a uma reconsiderao da condio humana luz de nossas mais novas experincias e nossos temores mais recentes (CH, p. 13). Neste trabalho, aprofundando o tema da vita activa, isto , do que estamos fazendo (Idem), faz a distino essencial entre labor, trabalho e ao, como expresses das condies bsicas mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra (CH, p. 15). Por labor, entende o processo biolgico do corpo humano enquanto que liga o trabalho ao artificialismo da existncia humana. A ao, compreendida como um segundo nascimento, no imposto nem pela necessidade nem pela utilidade, relaciona-se a atos e palavras mediante os quais os seres humanos revelam, ativamente, suas identidades pessoais (CH, p. 188-193).Arendt, nesta obra, mesmo en passant e de forma pulverizada, faz algumas consideraes importantes sobre o tema da violncia. Inicialmente, considerando o processo histrico da mudana do privado para o pblico, caracteriza a violncia como elemento pr-poltico ou anterior ao surgimento da polis (CH, p. 36-40). Ao tratar do trabalho humano e do processo de reificao que ele implica, constata a existncia de elementos de violncia no processo de fabricao: ...o homo faber, criador do artifcio humano, sempre foi um destruidor da natureza (CH, p. 152). No captulo sobre a ao, quando aborda o espao da aparncia e do poder, relaciona violncia com a deteriorao do poltico e com a ausncia de ao e de dilogo, expresses efetivas de poder (CH, p. 212-216). Em 1961, no contexto das incertezas provocadas pela guerra fria, Arendt publicou Entre o passado e o futuro, que contm todo o temrio de sua obra e o conjunto de inquietaes a partir do qual ela iluminou a reflexo poltica do sculo XX, entre as quais a liberdade, a autoridade, bem como a crise na educao e na cultura. Nele, especialmente no primeiro captulo, quando analisa o pensamento moderno em relao tradio da filosofia poltica, constata a existncia de a antiga confuso de poder com violncia (EPF, p. 49). nesta obra que apresenta sua crtica ao pensamento marxista da violncia como parteira da histria - que chama de glorificao da violncia-, por sua negao do logos, do discurso, a forma de relacionamento que lhe diametralmente oposta e, tradicionalmente, a mais humana (EPF, p. 50). Tambm estabelece a distino entre autoridade e violncia, obedincia e coero (Cf. EPF, p. 129). Sob a inspirao de um seminrio intitulado Os Estados Unidos e o esprito revolucionrio escreveu Da Revoluo, publicada no ano de 1962. A partir da oposio entre violncia e palavra, qualifica a violncia como um fenmeno marginal no campo poltico; pois o homem, na medida em que um ser poltico, est dotado do poder da fala (DR, p. 15-16).A revolta estudantil de 1968 e os movimentos de libertao da Amrica e frica intervieram como elemento provocador para sua sistematizao sobre o tema. Sobre violncia, publicada em 1969, por ela definida como uma investigao acerca da natureza e das causas da violncia (SV, p. 45). O livro organiza-se em trs partes. Na primeira, Arendt preocupa-se em mostrar que a multiplicao dos meios de violncia pela revoluo tecnolgica fez com que as antigas verdades a respeito da violncia e do poder se tornassem inaplicveis (SV, p. 17). Analisa tambm aquilo que chamou de glorificao da violncia, apontando para a fragilidade desta argumentao e fundamentao terica. Na segunda parte, busca compreender o que constitui a essncia do poder e da criatividade da ao. Para isto, procede uma srie de delimitaes conceituais: violncia, poder, vigor, autoridade, comando, obedincia, construindo um quadro referencial slido. Na terceira, faz um confronto com as diversas explicaes sobre a violncia, como as de base biolgica e ideolgica , reafirmando a especificidade prpria do campo poltico e a sua pertinncia hermenutica para explicar os fenmenos do poder e da violncia. O conceito de violncia em Hannah ArendtUm aspecto importante da contribuio de Arendt para a reflexo sobre a violncia sua delimitao conceitual, num campo geralmente afeito a muitas implicaes e confuses. Ela mesmo assim constata: Penso ser um triste reflexo do atual estado da cincia poltica que nossa terminologia sobre violncia no distinga entre palavras-chave tais como poder (power), vigor (strength), fora (force), autoridade e, por fim, violncia as quais se referem a fenmenos distintos e diferentes (SV, p. 36). No se trata, no seu entender, de apenas uma questo de impreciso na linguagem, mas de uma forma de impostar a prpria poltica e seu significado e transcendncia. Os termos poder, vigor, fora, autoridade e violncia so tomados como sinnimos porque tm, na compreenso comum, a mesma funo, isto , indicar quem domina quem. necessrio uma mudana de percepo - deixar de reduzir o pblico questo do domnio - para que a preciso conceitual se manifeste (SV, p. 36).Poder, conceito chave no seu pensamento poltico, corresponde habilidade humana no apenas para agir, mas para agir em concerto (SV, p. 36). Pertence a um grupo e permanece somente na medida em que o grupo conserva-se unido, desaparecendo quando este desaparece. O vigor designa algo no singular, uma entidade individual (SV, p. 37), constituindo-se em propriedade inerente a um objeto ou pessoa e pertence ao seu carter, podendo provar-se a si mesmo na relao com outras coisas ou pessoas, mas sendo essencialmente diferente delas (SV, p. 37) Quanto palavra fora, "deveria ser reservada, na linguagem terminolgica, s foras da natureza ou fora das circunstncias (la force des choses), isto , deveria indicar a energia liberada por movimento fsicos ou sociais (SV, p. 37), no podendo, assim, ser confundida com vigor.Em relao aos usos e abusos conceituais, menciona que o mais freqente ocorre com o termo autoridade, que comumente confundida como alguma forma de poder ou violncia (EPF, p. 129). A essncia da autoridade, no seu entender, o reconhecimento inquestionvel, constituindo-se o desprezo seu maior inimigo e a risada o meio eficiente para destru-la (SV, p. 37). Assim, a autoridade incompatvel tanto com a utilizao de meio externos de coero - onde a fora usada, a autoridade em si mesmo fracassou -, tanto com a persuaso, a qual pressupe igualdade e opera mediante um processo de argumentao (EPF, p. 129).A violncia, no pensamento arendtiano, distingue-se por seu carter instrumental. Meios, implementos, instrumentos, ferramentas, so alguns dos substantivos usados pela autora. Assim, com o propsito de multiplicar o vigor natural, a violncia aproxima-se fenomenologicamente do vigor (SV, p. 37).Embora a autora faa estas distines, entendendo-as como no sendo arbitrrias, diz que no se referem a compartimentos estanques no mundo real (...). Assim, o poder institucionalizado em comunidades organizadas freqentemente aparece sob a forma de autoridade, exigindo reconhecimento instantneo e inquestionvel; nenhuma sociedade poderia funcionar sem isso (SV, p. 38).A desmistificao da violnciaAlm da reviso conceitual, outra contribuio do pensamento arendtiano para o conceito de violncia o processo de desmistificao, que pode ser compreendido em trs dimenses: a desnaturalizao, a despersonificao e a desdemonizao.Arendt discute, especialmente com Nietzsche e Bergson, acerca do que ela chama da justificao biolgica da violncia (SV, p. 54). Estes pensadores atribuem ao poder uma dimenso expansionista natural e uma necessidade interna de crescer. A ao violenta, neste contexto, explicada como uma estratgia para conceder ao poder novo vigor e estabilidade. A autora contesta esta posio, afirmando que nada poderia ser teoricamente mais perigoso do que a tradio do pensamento organicista em assuntos polticos, por meio da qual poder e violncia so interpretados em termos biolgicos (SV, p. 55). Sustenta que nem a violncia nem o poder so fenmenos naturais, isto , uma manifestao do processo vital, eles pertencem ao mbito poltico dos negcios humanos, cuja qualidade essencialmente humana garantida pela faculdade do homem para agir, a habilidade para comear algo novo (SV, p. 60). Assim, Arendt descarta as metforas orgnicas da violncia como doena da sociedade (SV, p. 55). A desnaturalizao do fenmeno da violncia em Hannah Arendt sua recusa em associar o processo histrico com a luta pela sobrevivncia e a morte violenta no reino animal e de abrir mo do significado da poltica enquanto determinao do humano (SV, p. 55). Alm da desnaturalizao, Arendt contribui, igualmente, para despersonificar a violncia, uma vez que no atribui a ela nem uma potencialidade de sujeito, mas apenas instrumental. Ela no promove causas, nem a histria, nem a revoluo, nem o progresso, nem o retrocesso; mas pode servir para dramatizar queixas e traz-las ateno pblica (SV, p. 58). , essencialmente, reao ao decrscimo do poder e no princpio de ao. Como instrumental e meditica, a violncia detentora de uma certa racionalidade, medida que eficaz em alcanar o fim que deve justific-la. Em virtude de sua instrumentalidade, a violncia perde o carter mgico ou demonaco que comumente lhe atribuda. A violncia no nem bestial nem irracional no importa se entendemos estes termos na linguagem corrente dos humanistas ou de acordo com teorias cientficas (SV, p. 47). Arendt constata que o fato de agir com rapidez deliberada no torna o dio ou a violncia irracionais. Pelo contrrio, na vida privada como na vida pblica, h situaes em que a prpria prontido de um ato violento pode ser um remdio apropriado. O ponto central (...) que, em certas circunstncias, a violncia o agir sem argumentar, sem o discurso ou sem contar com as conseqncias o nico modo de reequilibrar as balanas da justia. (...) Neste sentido, o dio e a violncia que s vezes mas no sempre o acompanha pertencem s emoes naturais do humano e extirp-las no seria mais do que desumanizar ou castrar o homem (SV, p. 48). A violncia em contraposio com a poltica e o poder o ponto mais original da reflexo sobre violncia de Hannah Arendt, que no se limita a revisar conceitos ou afastar compreenses equivocadas, mas prope, um ncleo estvel capaz de aniquilar ou diminuir o efeito da violncia: o poder e a poltica.[6]Arendt reluta em associar violncia com o poder ou com o Estado: O poder de fato a essncia de todo o governo, mas no a violncia (SV, p. 40). Desta maneira, recusa toda tradio anterior em equacionar o poder poltico com a organizao dos meios de violncia e o consenso em aceitar que a violncia a mais flagrante manifestao de poder. Sua argumentao se processa no sentido de refutar afirmaes como a de Wright Mills ("Toda poltica uma luta pelo poder, a forma bsica de poder a violncia"), de Max Weber (O domnio do homem pelo homem baseados nos meios de violncia legtima) ou de Bertrand de Jouvenel ("Para aquele que contempla o desenrolar das eras, a guerra apresenta-se como uma atividade que pertence essncia dos Estados") (SV, p. 31).Criticando a associao, prpria da histria da filosofia poltica, entre vontade de poder e vontade de obedecer, ela faz uma nova distino, desta vez entre poder e comando: Se a essncia do poder efetividade do comando, ento no h maior poder do que aquele emergente do cano de uma arma, e seria difcil dizer "em que medida a ordem dada por um policial diferente daquela dada por um pistoleiro" (SV, p. 32). na anlise da gnese histrica do poltico - a concepo grega de poder - que encontra o argumento mais slido para dissolver os nexos entre poder e comandar, poder e obedecer: Se fosse verdade que nada mais doce do que dar ordens e dominar os outros, o senhor jamais teria abandonado o seu lar (SV, p. 34). Na isonomia grega e na civitas romana, o conceito de poder no se assentava na relao mando-obedincia e no identificava poder e domnio. Viver numa polis tinha o significado de decidir mediante palavras e persuaso e no atravs da fora ou da violncia. Forar algum mediante violncia, ordenar ao invs de persuadir, constituam em modos pr-polticos de lidar com as pessoas, prprios do lar e da vida em famlia, na qual o chefe da casa imperava com poderes incontestes e despticos, ou da vida nos imprios brbaros da sia, cujo despotismo era freqentemente comparado organizao domstica (CH, p.36). Assim, a autora, no apenas diferencia poder e poltica de violncia, mas coloca-os em espaos contraditrios: Poder e violncia so opostos; onde um domina absolutamente, o outro est ausente. A violncia aparece onde o poder est em risco, mas, deixada a seu prprio curso, ela conduz desapario do poder (SV, p.44). Arendt aprofunda esta oposio, conferindo violncia, em virtude de sua natureza instrumental apenas justificao pelo fim que almeja, mas nunca legitimao, prpria do poder porque derivado de comunidades polticas: O poder emerge onde quer que as pessoas se unam e ajam em concerto, mas sua legitimidade deriva mais do estar junto inicial do que de qualquer ao que ento possa seguir-se. A legitimidade, quando desafiada, ampara-se a si mesma em um apelo ao passado, enquanto a justificao remete a um fim que jaz no futuro. A violncia pode ser justificvel, mas nunca ser legtima. Sua justificao perde em plausibilidade quanto mais o fim almejado distancia-se no futuro ( SV, p. 41).Ao tratar poder e violncia como mutuamente exclusivos, de forma que onde domina um absolutamente, o outro est ausente, Arendt chama a ateno para a instrumentalizao da ao e a degradao da poltica (CH, p. 242). A instrumentalizao da ao significa a transferncia do processo de fazer, determinado pela categoria meio-fins, prprio do trabalho, para o campo poltico da ao. Em virtude da condio humana da pluralidade, a ao sempre imprevisvel e incerta. Substituindo-a pela fabricao, a humanidade abandona a fragilidade dos negcios humanos para a solidez da tranqilidade e da ordem. A violncia desempenha papel importante no pensamento e planos polticos baseados na interpretao da ao como fabricao. Porm a esfera da ao poltica no trabalha com meios e fins. No entanto, a instrumentalizao da ao e a degradao da poltica jamais chegaram a suprimir a ao, a evitar que ela continue a ser uma das mais decisivas experincias humanas nem a destruir por completo a esfera dos negcios humanos (CH, p. 242). Desta forma, mesmo reconhecendo a fragilidade do poder em face da violncia, Hannah Arendt d quele uma lugar insubstituvel face a esta: A violncia capaz de destruir o poder, mas nunca de substitu-lo (CH, p. 214). Nem mesmo poder reconstru-lo ou recuper-lo: A violncia no reconstri dialeticamente o poder. Paralisa-o e o aniquila (SV, p. 9).

O pensamento de Hannah Arendt como inspirao para uma pedagogia da paz

A reflexo de Hannah Arendt sobre violncia, constitui um instrumental de anlise para a crtica da compreenso da violncia presente implcita e explicitamente na educao, levando a formular questes que podem ainda ser exploradas ulteriormente. Na verdade, foroso constatar que a histria humana uma histria das violncias e que os vencedores tem seu nome escritos nas placas de ruas e ensinados nas escolas (SERPAJ, s/d, p. 1).Trata-se, portanto, a partir de seu pensamento, de perguntar-se pelos referenciais tericos usados pelos educadores que investigam e analisam a problemtica da violncia. Estes no podem, em suas anlises, prescindir das contribuies de outras reas de conhecimento, como a antropologia e a sociologia, e, especialmente, a filosofia poltica, sob o risco de no entender este fenmeno na sua complexidade e amplitude. Alm disso, os discursos sobre violncia na educao procedem a mixagens semnticas, confundindo, por exemplo, violncia com agressividade ou com fora, no fazendo a distino conceitual que Arendt com tanta preciso utiliza por compreender estes fenmenos de forma diferenciada. Sobretudo, preciso perguntar-se em que medida os discursos e as anlises trabalham, no apenas a violncia expressa na educao, mas a violncia produzida pela educao, ultrapassando o discurso descritivo sobre a violncia (nos meios de comunicao, em sala de aula, na juventude, etc.) e abrindo espao para uma crtica e autocrtica da prpria educao como instrumento de violncia. Em segundo lugar, importante perceber como o pensamento de Arendt funda um caminho de ao no campo da educao em vista de uma interveno na realidade de violncia social. Grande parte das polticas educacionais sobre violncia detm-se na tentativa de represar, amenizar e conter a onda da violncia, administrando seus efeitos. Hannah Arendt, com sua insistncia na contraposio entre violncia e poder, nos faz apostar no incremento da vida poltica e no estreitamento da poltica com a educao enquanto alternativa. Arendt, a partir do pensamento grego, caracteriza a vida poltica por dois elementos estruturantes: a ao (prxis) e o discurso (lexis) dos quais surge a esfera dos negcios humanos (ta ton anthroopon pragmata, como chamava Plato), que exclui estritamente tudo o que seja apenas necessrio e til (CH, p. 34).O discurso e a ao possuem, assim, um carter constitutivo da relao das pessoas umas com as outras e destas com o mundo circundante. somente atravs deles que os seres humanos se manifestam uns aos outros, no como meros objetos fsicos, mas enquanto homens (CH, p. 189). Ao mesmo tempo, com palavras e atos nos inserimos no mundo humano, realizando como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento fsico original (CH, p. 190).Alm disso, ambos originam o prprio fato poltico: o espao da aparncia passa a existir sempre que os homens se renem na modalidade do discurso e da ao, e portanto precede toda e qualquer constituio formal da esfera pblica e as vrias formas de governo, isto , as vrias formas possveis de organizao da esfera pblica (CH, p. 211-212). Nesta linha de raciocnio, a educao pode se contrapor, verdadeiramente, violncia se efetiva o discurso e a ao, compreendidos como realidades que interagem reciprocamente e criam novos discursos e aes. Como diz Hannah Arendt em exemplar reflexo:O poder s efetivado enquanto a palavra e o ato no se divorciam, quando as palavras no so vazias e os atos no so brutais, quando as palavras no so empregadas para velar intenes mas para revelar realidades, e os atos no so usados para violar e destruir, mas para criar relaes e novas realidades (CH, p. 212).Uma educao que no efetiva o discurso e a ao, onde os sujeitos no so protagonistas, isto , detentores da palavra e autnomos em seu agir, uma educao que perpetua e reitera a violncia dentro e fora dela.Hannah Arendt, em sua anlise do mundo grego, constata uma oposio entre a organizao poltica e a associao natural, cujo centro a casa e a famlia. O que distinguia a esfera familiar era que nela as pessoas viviam juntas por necessidade, enquanto a esfera da polis era a esfera da liberdade. A polis diferenciava-se da famlia pelo fato de somente conhecer iguais, ao passo que a famlia era o centro da mais severa desigualdade. Ser livre significava ao mesmo tempo no estar sujeito s necessidades da vida, nem ao comando de outro e tambm no comandar. No significava domnio como tambm no significava submisso. Assim, dentro da esfera da famlia a liberdade no existia, pois o chefe da famlia, seu dominante, s era considerado livre na medida em que tinha a faculdade de deixar o lar e ingressar na esfera poltica, onde todos eram iguais (CH, p. 41-42).Desta forma, o lar privado caracteriza-se como espao pr-poltico, sujeito necessidade, onde a fora e a violncia so justificadas nesta ltima esfera por serem os nicos meios de vencer a necessidade - por exemplo, subjugando escravos - e alcanar a liberdade (CH, p. 40). Assim, a violncia no acontece no espao pblico, mas prpria do espao privado.A vida pblica, em contraposio, oferece ao ser humano uma outra experincia, jamais proporcionada pela vida familiar: Ser visto e ouvido por outros importante pelo fato de que todos vem e ouvem de ngulos diferentes. este o significado da vida pblica, em comparao com a qual at mesmo a mais fecunda e satisfatria vida familiar pode oferecer somente o prolongamento ou a multiplicao de cada indivduo, com os seus respectivos aspectos e perspectivas. A subjetividade da privaticidade pode prolongar-se e multiplicar-se na famlia; pode at tornar-se to forte que o seu peso sentido na esfera pblica; mas este mundo familiar jamais pode substituir a realidade resultante da soma total de aspectos apresentados por um objeto a uma multido de espectadores. Somente quando as coisas podem ser vistas por muitas pessoas, numa variedade de aspectos, sem mudar de identidade, de sorte que os que esto sua volta sabem que vem o mesmo na mais completa diversidade, pode a realidade do mundo manifestar-se de maneira real e fidedigna (CH, p. 67).Na educao, como se configura atualmente entre ns, o mundo pblico est encolhido ou submetido tutela do privado. Chamar a professora de tia ou designar como maternal um ambientes educativo revela resqucios e sinais de que a educao ainda compreendida como extenso do mundo familiar e, portanto, como espao da violncia. A diminuio da violncia na escola e atravs da escola est ligada sua caracterizao como espao pblico, poltico, de manifestao da liberdade, de relao entre iguais. Isto tem uma implicao interna, numa completa reviso de como se estruturam as relaes educacionais, geralmente organizadas em torno do comandar e do obedecer, para relaes que se aproximem de igualitrias.Traz como conseqncia, tambm, uma total reestruturao da prpria maneira de entender o fluxo educao e sociedade, visto atualmente como capacitao para o mercado de trabalho, para um estreitamento da relao educao e cidadania, definindo-se firmemente contribuir na formao, no de consumidores, mas de cidados. Se a educao quer ser um espao pblico - e a escola poder ser verdadeiramente chamada de pblica - essencial analisar as condies para potencializar a ao dos seus sujeitos.A ao, ao contrrio do labor e do trabalho, a nica atividade que se exerce sem a mediao das coisas ou da matria. Seu nico requisito a condio humana da pluralidade. Ao contrrio da fabricao, a ao jamais possvel no isolamento. Estar isolado estar privado da capacidade de agir (CH, p. 201). Por essa razo, a faculdade para a ao o que faz do ser humano um ser poltico: ela o capacita a reunir-se a seus pares, agir em concerto e almejar objetivos e empreendimentos que jamais passariam por sua mente, deixando de lado os desejos de seu corao, se a ele no tivesse sido concedido este dom - o de aventurar-se em algo novo (SV, p. 59). Assim, agir tem o significado de tomar iniciativa, iniciar (como indica a palavra archein, comear, ser o primeiro e, em alguns casos, governar), imprimir movimento a alguma coisa (que o significado original do termo latino agere) (CH, p. 190). Por sua novidade, a ao se equipara condio da natalidade e se distingue do mero comportamento ou preservao (SV, p. 59). Hannah Arendt est convencida que a deteriorao da ao poltica relaciona-se com o crescimento da violncia: Muito da presente glorificao da violncia causada pela severa frustrao da faculdade da ao no mundo moderno (SV, p. 60). Esta degradao da ao pode tanto se dar por sua substituio pelo processo de fabricao, tal como explicitado no item 2.3., como pela imposio da sociedade seus membros de um certo tipo de comportamento, impondo inmeras e variadas regras, todas elas com inteno de normaliz-los (CH, p. 50).E justamente na tendncia a entender a educao como processo de normalizao ou adaptao dos indivduos ou como espao de transmisso de conhecimento tcnico - na linha do incremento da fabricao - que se funda a tradio pedaggica do ocidente. Nela, a faculdade da ao tem tido, at h pouco tempo, espao reduzido e, justamente por isso, ela tem se tornado portadora e transmissora de violncia.. A prtica educativa corrente entre ns tem mascarado a ao poltica: o agir em concerto substitudo por um coletivo ou justaposio de indivduos isolados e a ao criadora de novo trocada por uma coletnea de atividades pr-determinadas - copiar, escrever, desenhar, etc. - que se aproximam mais do eterno retorno do mesmo do que da condio de natalidade e criatividade. Tem-se a iluso da ao, mas no a ao propriamente.As experincias educativas mais conseqentes, aquelas que tm obtido um resultado mais eficaz nas alternativas violncia, so exatamente aquelas que esto conseguindo criar espao de ao poltica em seu prprio seio.

Hannah Arendt afirma que, tal como a ao, o discurso que faz do ser humano um ser poltico (CH, p. 11). Tanto a ao como o discurso baseiam-se na condio humana da pluralidade. No entanto, enquanto a ao efetiva a pluralidade reunindo os humanos para agir em concerto, o dizer uma palavra possibilita o viver como ser distinto e singular entre iguais (CH, p. 191).A palavra , exatamente, aquilo que torna relevante e significativa a ao:Sem o discurso, a ao deixaria de ser ao pois no haveria ator; e o ator, o agente do ato, s possvel se for, ao mesmo tempo, o autor das palavras. A ao que ele inicia humanamente revelada atravs de palavras; e, embora o ato possa ser percebido em sua manifestao fsica bruta, sem acompanhamento verbal, s se torna relevante atravs da palavra falada na qual o autor se identifica, anuncia o que fez, faz e pretende fazer (CH, p. 191).Dizer uma palavra constitui, assim, uma ao, no apenas porque quase todas as aes polticas so realmente realizadas por meio de palavras, mas tambm porque o ato de encontrar as palavras adequadas no momento certo, independentemente da informao ou comunicao que transmitem, constitui uma ao" (CH, p. 35). A partir disto, a violncia definida como o agir sem argumentar e o imprio do silncio: "onde quer que a violncia domine de forma absoluta, como por exemplo, nos campos de concentrao dos regimes totalitrios, no apenas as leis - les lois se taisent - mas tudo e todos devem permanecer em silncio" (DR, p. 195). Neste sentido, somente a pura violncia muda (CH, p. 35).Esta reflexo da autora fornece uma chave interpretativa para compreender a violncia, tanto na educao como no conjunto da sociedade, como uma forma de expresso dos que no tm acesso palavra, como a crtica mais radical tradio autoritria. Quando a palavra no possvel, a violncia se afirma e a condio humana negada. Neste sentido, a reverso e a alternativa violncia passa pelo resgate e devoluo do direito palavra, pela oportunidade da expresso das necessidades e reivindicaes do sujeitos, pela criao de espaos coletivos de discusso, pela sadia busca do dissenso e da diferena.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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RICOEUR, P., Prface Condition de lhomme moderne (1983), in Lectures 1. Autour du politique, Paris, Seuil, 1991, pp. 43-66

Aqui seguimos de perto o texto de M. GUIMARES , O conceito de violncia em Hannah Arendt e sua repercusso na educao, in HYPERLINK "http://www.educapaz.org.br" www.educapaz.org.br , acessado em 20 de junho de 2006