terra livre 58 junho de 2013
DESCRIPTION
Boletim do CAESTRANSCRIPT
TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL
BOLETIM Nº 58 JUNHO DE 2013
Lei das sementes: Carta Aberta a
Durão Barroso
MARCHA CONTRA A MONSANTO?
Trilhos Pedestres, turismo e touradas
LIBERDADE NÃO RIMA COM TOURADA
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 2
A/c Presidente da Comissão Europeia
José Manuel Durão Barroso
Pedido para alterações significativas na
legislação para a Comercialização de
Material de Propagação de Plantas, de
forma a salvaguardar a agro-
biodiversidade, os direitos dos agricultores
na Europa e países em desenvolvimento, a
segurança alimentar global e o direito à
escolha e à transparência dos
consumidores.
Lisboa, 2 de Maio de 2013
Os representantes da sociedade civil
portuguesa signatários desta carta instam o
Senhor Presidente da Comissão Europeia a
rejeitar a actual proposta para um
Regulamento sobre a Comercialização de
Material de Propagação de Plantas, a ser
votada pelos Comissários Europeus no
próximo dia 6 de Maio.
O sistema de registo e certificação
obrigatórios proposto no Regulamento
(versão publicada por DG SANCO em
Novembro de 2012) agrava a perda de agro-
biodiversidade que já se verificava com o
anterior regime. A obrigação de registar toda
e qualquer variedade de planta de cultivo,
mesmo as utilizadas em hortas familiares, por
agricultores tradicionais ou em mercados
locais, acarreta custos e processos
administrativos proibitivos para a produção
em pequena escala, discriminando
severamente as sementes e material de
propagação de plantas de polinização aberta,
regionais e tradicionais, a favor das sementes
industriais e dos operadores corporativos.
O novo regulamento ameaça a agro-
biodiversidade preservada in situ por
agricultores e a segurança alimentar e auto-
suficiência locais, ao criminalizar a prática
milenar de partilha de sementes de colheitas
próprias, aumentando por consequência os
custos da conservação ex situ das variedades
que podem vir a desaparecer com o novo
regime. Servindo a legislação europeia de
referência para as normas internacionais de
comercialização de plantas e material de
propagação, existe também o risco real de
inviabilizar os sistemas informais de troca e
venda de sementes que são a base da
Lei das Sementes: Carta Aberta a Durão Barroso
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 3
segurança alimentar nomeadamente em países
em desenvolvimento.
Pedimos:
A isenção da obrigação de registo e
certificação para sementes e material
de propagação de plantas (MPP) que
sejam de polinização aberta e não
protegidos por direitos de propriedade
intelectual.
A exclusão do âmbito do novo
regulamento, da troca e cessão de
sementes e material de propagação de
plantas entre agricultores, pessoas
individuais e organizações sem fins
lucrativos.
O âmbito do novo regulamento deve
ser limitado à comercialização de
MPP com vista à sua exploração
comercial e acima de um certo nível
de quantidades (como definido no
art.8 (2) do Regulamento 1765/92).
O registo voluntário de variedades,
baseado na Descrição Oficialmente
Reconhecida, deve ser possível para
todas as espécies e gêneros, sem
restrições temporais ou geográficas.
O regulamento não deve discriminar
sementes de polinização aberta,
agricultura biológica ou criadas para
condições locais específicas, com a
aplicação das mesmas normas de
registo (mesmo voluntário),
certificação ou fitossanitárias que
foram criadas para sementes
industriais.
Micro e pequenas empresas apenas
devem ser sujeitas às regras básicas
para operadores, desde que não
trabalhem com Organismos
Geneticamente Modificados ou com
MPP protegido por direitos de
propriedade intelectual.
Os criadores devem informar o
público sobre os métodos de criação
utilizados e os direitos de propriedade
intelectual associados a uma variedade
e as suas linhas parentais quando
registam estas variedades.
As organizações signatárias deste apelo estão
muito preocupadas com as consequências
potencialmente nefastas das restrições e
obrigações apresentadas na proposta de
regulamento e solicitam a sua revisão,
garantindo os direitos dos agricultores e
protegendo a agricultura local e a agro-
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 4
biodiversidade, que são os alicerces da nossa
herança bio-cultural.
Atentamente,
As organizações signatárias:
Associação Wakeseed
BIOFRADE Agro-pecuária, Lda.
CAES - Colectivo Açoriano de Ecologia
Social
Campo Aberto- associação de defesa do
ambiente
Casa do Sal da Figueira da Foz
CEIFA ambiente Lda – Centro de Estudos,
Informação e Formação pró Ambiente
Círculos de Sementes
CNA - Confederação Nacional da Agricultura
COOLABORA, CRL
Confederação Portuguesa das Associações de
Defesa do Ambiente
CREIAS-Oeste – Centro Regional de
Excelência da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável
Eco-Cartaxo - Movimento Alternativo e
Ecologista
GAIA – Grupo de Acção e Intervenção
Ambiental
GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento
do Território e Ambiente
Grupo Flamingo
In Loco - Associação de Desenvolvimento e
Cidadania
INTERBIO - Associação Interprofissional
para a Agricultura Biológica
Manuel Filipe Dias Antunes, Produtor
agrícola, BI:10229061, Cimo de Vila –
Salmães, Arnóia
MARCA - Associação de Desenvolvimento
Local
Mó de Vida Cooperativa de Consumo, CRL
Movimento Pró-Informação para a Cidadania
e Ambiente
Plataforma Transgénicos Fora
Psicosophos Lda
Quercus – Associação Nacional de
Conservação da Natureza
Quinta Essência, Sociedade Agricola, Lda.
Quinta Musas da Fontinha
Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo
Toca da Zorra - Associação de
Desenvolvimento Local
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 5
No passado dia 25 de Maio
realizaram-se duas ações nos Açores.
Na Horta a iniciativa partiu do Núcleo Bio da
Cooperativa Agrícola da Ilha do Faial que
promoveu na Loja "Açores Bio" e no
Mercado da Horta, Faial -Açores, uma ação
de sensibilização a favor da liberdade do uso
das sementes tradicionais e uma manifestação
de desacordo em relação às ações da
Monsanto.
Em São Miguel a iniciativa decorreu no
Mercado da Graça, em Ponta Delgada, onde
cerca de duas dezenas de ativistas
distribuíram Informação sobre a Monsanto, os
transgénicos e os OGM.
Declaração de missão
No dia 25 de Maio, ativistas de todo mundo
unem-se numa Marcha conta a Monsanto
Por que agimos?
- Muitas investigações científicas têm
demonstrado que os alimentos geneticamente
modificados (OGM) podem conduzir a
problemas graves de saúde, como o
desenvolvimento de tumores cancerígenos,
infertilidade e defeitos genéticos.
- Nos Estados Unidos, a FDA, entidade
encarregue de garantir a segurança alimentar
publica, é dirigida por Michael Taylor, ex-
vice presidente da politica publica da
Monsanto. Também o USDA, Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos, é gerido
por Roger Beachy, ex-diretor da Monsanto.
- Recentemente, no Congresso dos EUA, o
presidente Obama aprovou a lei H.R.933,
também conhecida como "Ato de Proteção à
Monsanto" que entre outras coisas nega a
autoridade às entidades federais para parar a
plantação e venda de culturas transgénicas
que representem um risco para a saúde dos
consumidores.
Pela liberdade das sementes
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 6
- Há muito tempo que a Monsanto é o maior
beneficiante dos apoios a empresas e do
favoritismo politico. Enquanto, os
agricultores de cultivos orgânicos e pequenos
agricultores sofrem grandes perdas, a
Monsanto continua forjando o seu monopólio
no fornecimento de alimentos pelo mundo,
que incluem os direitos exclusivos de patentes
sobre sementes e composições genéticas.
- Os produtos da Monsanto são prejudiciais
para o meio ambiente, por exemplo, a ciência
afirma que as plantações de OGM e os seus
pesticidas têm causado a morte, em grande
escala, de abelhas por todo o mundo.
Quais as soluções que apresentamos e
defendemos?
- "Votar com dinheiro", ou seja, tendo sempre
a preferência por comprar produtos orgânicos,
boicotando todas as empresas que utilizem
transgénicos nos seus produtos.
- Queremos que os produtos transgénicos
sejam identificados com rótulos para que os
consumidores possam ter o direito de fazer
escolhas conscientes.
- Mais investigação sobre os efeitos dos OGM
na saúde das pessoas.
- Responsabilizar a Monsanto e todos os
políticos que a apoiam, por todas as partes do
mundo, denunciando-os em praça pública.
- Mais informação pública sobre as políticas
corruptas da Monsanto, ao mesmo tempo em
que se informa sobre os benefícios da
agricultura biológica, como modelo
sustentável, também conhecido como
Agricultura Ecológica ou Permacultura.
Tomemos as ruas para mostrar ao mundo e à
Monsanto que não vamos ser vítimas de
injustiças em silêncio.
Mais informações:
https://www.facebook.com/events/511805308
875018/?fref=ts
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 7
A 27 de Agosto de 2003, o Secretário
Regional da Economia, Duarte Ponte, para
justificar o facto dos seis trilhos pedestres da
ilha Terceira estarem fechados, disse “os
trilhos nem sempre são terrenos
exclusivamente da região, muitos são
privados ou locais que têm acesso ao gado
bravo, que pode constituir uma ameaça à
integridade física dos turistas” (Diário Insular,
27 de Agosto de 2003).
A 28 de Agosto de 2003, o Público trazia uma
reportagem sobre as ilhas Terceira, Faial e
Pico onde a dado passo se podia ler: “só a
mania dos touros e das touradas, que aqui
resiste em forma de “corrida à corda” pode
causar repulsa aos defensores dos direitos dos
animais” (DI, 30 Agosto de 2003).
A Comissão de Acompanhamento dos
Percursos Pedestres da Região Autónoma dos
Açores reuniu pela primeira vez a 26 de Julho
de 2004, tendo o Eng. Paulo Barcelos, da
associação Os Montanheiros, denunciado a
apropriação ilícita, por particulares, de
terrenos públicos da Secretaria Regional do
Ambiente para “criação de touros, o que
representa um sério risco para a vida ou
integridade física dos utentes de dois trilhos
que passam pelo Algar do Carvão”.
Nesta primeira reunião, o percurso Pico da
Bagacina - Rocha do Chambre – Algar do
Carvão, na Terceira, foi aceite, mas suspenso
“até que termine a presente situação de
invasão do trilho por gado bravo, à solta, com
risco assinalável para a vida ou integridade
física dos utentes”. Por seu lado, o percurso
Alagadiços – Terra Brava – Algar do Carvão
também foi aceite, “na condição de serem
afixados avisos de perigo, devido a gado
bravo nas imediações do percurso”.
Trilhos pedestres, turismo e touradas
Terra Livre nº 58 ◊ Junho de 2013 Página 8
A 7 de Dezembro de 2004, em reunião da
Comissão de Acompanhamento dos Percursos
Pedestres da Região Autónoma dos Açores
deliberou “manter a suspensão dos trilhos
PR1 TER [Pico da Bagacina - Rocha do
Chambre – Algar do Carvão] e PR2 TER
[Alagadiços – Terra Brava – Algar do
Carvão] até se encontrar resolvida a situação
que envolve gado bravo à solta em terrenos
públicos. Paulo Barcelos informou que os
procedimentos para a retirada dos animais já
foram iniciados, com a colocação de editais,
mas que na prática tudo se mantém. A
Diretora Regional do Turismo comunicou que
vai insistir junto da Secretaria Regional do
Ambiente, para que seja dado seguimento à
ação de desocupação das áreas em questão, de
forma a poderem ser reabertos os referidos
percursos.
Hoje, como é reconhecido por alguns serviços
oficiais, a situação mantém-se de tal modo
que considero não aconselhada a prática do
pedestrianismo em alguns locais da ilha
Terceira.
Em jeito de conclusão e face ao exposto
acima, facilmente se conclui que a
tauromaquia contribui negativamente para o
desenvolvimento do turismo de natureza que
se tenta implementar nos Açores.
JS