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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 2 - 2008 1 Teoria Geral dos Contratos Maria Bernadete Miranda Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. 1. Introdução A presente pesquisa tem por objetivo apresentar a teoria geral dos contratos iniciando-se com a origem etimológica e conceito de contrato, seguindo-se para os princípios gerais dos contratos, sua função social e boa-fé objetiva. Posteriormente apresenta-se a classificação dos contratos, sua formação e lugar, defeitos na formação e extinção dos contratos. Em um próximo tópico faz-se referência ao contrato preliminar, as arras, aos vícios redibitórios e a evicção seguindo-se para as conclusões. A metodologia de apresentação está dividida em tópicos, sendo que no primeiro, apresenta-se a origem etimológica e conceito de contrato, seguindo-se para os princípios gerais dos contratos, sua função social e boa-fé objetiva. Posteriormente apresenta-se a classificação dos contratos, sua formação e lugar, defeitos na formação e extinção dos contratos. Em um próximo tópico faz-se referência ao contrato preliminar, as arras, aos vícios redibitórios e a evicção seguindo-se para as conclusões. O conteúdo descrito a seguir foi desenvolvido de forma a propiciar um fácil entendimento dos conceitos apresentados. 2. Origem Etimológica e Conceito de Contrato A origem etimológica do vocábulo contrato conduz ao vínculo jurídico das vontades com vistas a um objeto específico. O verbo contrahere conduz a contractus, que traz o sentido de ajuste, convenção ou pacto, sendo um acordo de vontades criador de direitos e obrigações. É o acordo entre duas ou mais pessoas

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 2 - 2008

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Teoria Geral dos Contratos

Maria Bernadete Miranda

Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada.

1. Introdução

A presente pesquisa tem por objetivo apresentar a teoria geral dos contratos

iniciando-se com a origem etimológica e conceito de contrato, seguindo-se para os

princípios gerais dos contratos, sua função social e boa-fé objetiva. Posteriormente

apresenta-se a classificação dos contratos, sua formação e lugar, defeitos na

formação e extinção dos contratos. Em um próximo tópico faz-se referência ao

contrato preliminar, as arras, aos vícios redibitórios e a evicção seguindo-se para as

conclusões.

A metodologia de apresentação está dividida em tópicos, sendo que no

primeiro, apresenta-se a origem etimológica e conceito de contrato, seguindo-se para

os princípios gerais dos contratos, sua função social e boa-fé objetiva.

Posteriormente apresenta-se a classificação dos contratos, sua formação e lugar,

defeitos na formação e extinção dos contratos. Em um próximo tópico faz-se

referência ao contrato preliminar, as arras, aos vícios redibitórios e a evicção

seguindo-se para as conclusões.

O conteúdo descrito a seguir foi desenvolvido de forma a propiciar um fácil

entendimento dos conceitos apresentados.

2. Origem Etimológica e Conceito de Contrato

A origem etimológica do vocábulo contrato conduz ao vínculo jurídico das

vontades com vistas a um objeto específico. O verbo contrahere conduz a

contractus, que traz o sentido de ajuste, convenção ou pacto, sendo um acordo de

vontades criador de direitos e obrigações. É o acordo entre duas ou mais pessoas

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para um fim qualquer. É o trato em que duas ou mais pessoas assumem certos

compromissos ou obrigações, ou asseguram entre si algum direito. 1

Contrato é o acordo de vontade entre duas ou mais pessoas com a finalidade

de adquirir, resguardar, modificar, transferir ou extinguir direitos.

Na definição de Ulpiano contrato “est pactio duorum pluriumve in idem

placitum consensus”, que em vernáculo significa “o mútuo consenso de duas ou mais

pessoas sobre o mesmo objeto”.

Clóvis Beviláqua entende por contrato “o acordo de vontade de duas ou mais

pessoas com a finalidade de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direito”. 2

Para Maria Helena Diniz, “contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na

conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de

interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações

jurídicas de natureza patrimonial”. 3

Nos ensinamentos de Orlando Gomes “contrato é, assim, o negócio jurídico

bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância de conduta idônea à

satisfação dos interesses que regularam”. 4

Na concepção moderna contrato é negócio jurídico bilateral que gera

obrigações para ambas as partes, que convencionam, por consentimento recíproco,

a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, verificando, assim, a constituição,

modificação ou extinção do vínculo patrimonial.

3. Princípios Gerais dos Contratos

A validade do contrato exige acordo de vontades, agente capaz, objeto lícito,

possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.

Incidem sobre os contratos três princípios básicos:

a) Autonomia da vontade: significa a liberdade das partes de contratar, de

escolher o tipo e o objeto do contrato e de dispor o conteúdo contratual de acordo

com os interesses a serem auto-regulados.

1 LARROUSE. Grande Enciclopédia Larousse Cultura, Nova Cultural, vol. 7, 2004. p.1598. 2 BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil anotado, vol. 4, Rio de Janeiro: Francisco Alves,1916. p. 245. 3 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 30. 4 GOMES,Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 10.

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b) Supremacia da ordem pública: significa que a autonomia da vontade é

relativa, sujeita à lei e aos princípios da moral e da ordem pública.

c) Obrigatoriedade do contrato: significa que o contrato faz lei entre as partes.

Dever da veracidade, pacta sunt servanda. Os contratos devem ser

cumpridos.

“Ninguém é obrigado a tratar, mas se o faz, é obrigado a cumprir”.

“Pode calar-se ou falar. Mas se fala, e falando promete, a lei o constrange a

cumprir tal promessa”.

Não pode ser objeto de contrato herança de pessoa viva. O distrato faz-se

pela mesma forma que o contrato.

4. Função Social do Contrato

Da mesma forma que constitucionalmente previsto para a propriedade, a

"liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do

contrato" (art. 421, CC-02).

Trata-se, sem sombra de dúvida, do princípio básico que deve reger todo o

ordenamento normativo no que diz respeito à matéria contratual.

O contrato, embora aprioristicamente se refira somente às partes pactuantes

(relatividade subjetiva), também gera repercussões e - por que não dizer? - deveres

jurídicos para terceiros, além da própria sociedade, de forma difusa.

É importante ressaltar, na esteira do insuperável Orlando Gomes quando

comentava a função social da propriedade, a autonomia do princípio da função social

(lá da propriedade, aqui do contrato); pois não se constitui em simples limitação

normativa, mas sim da própria razão de ser de todas as outras regras contratuais,

que devem gravitar em torno de si, o que justifica a utilização das expressões "razão"

e "limite" do já mencionado dispositivo legal.

5. Boa-Fé Objetiva

O Código Civil brasileiro também consagrou como princípio básico regente da

matéria contratual, a boa-fé objetiva.

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É o que se extrai do novel artigo 422, que preceitua: "Os contratantes são

obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os

princípios de probidade e boa-fé."

A boa-fé que se procura preservar, prestigiando-se no texto legal, é a objetiva,

entendida essa como a exigível do homem mediano, numa aplicação específica do

critério do "reazonable man", do sistema norte-americano.

Não se trata, portanto, da boa-fé subjetiva, tão cara aos Direitos Reais, na

forma do artigo 1.201 do CC-02.

Destaque-se que, nesse aspecto, o Código Civil pode ser considerado mais

explícito, no prestígio à boa-fé, que o próprio Código de Defesa do Consumidor, UMA

DAS LEIS MAIS AVANÇADAS DO PAÍS, que consagra, indubitavelmente, o instituto,

mas não dessa forma tão expressa e genérica.

6. Classificação dos Contratos

Os contratos se classificam em função de sua formação, das obrigações que

originam, das vantagens que podem trazer para as partes, da realidade da

contraprestação, dos requisitos exigidos para a sua formação, do papel que tomam

na relação jurídica, do modo de execução, do interesse que tem a pessoa com quem

se contrata, e da sua regulamentação legal ou não.

Em face desses elementos teremos então: a) contratos consensuais e reais;

b) contratos unilaterais e bilaterais; c) contratos gratuitos e onerosos; d) contratos

comutativos e aleatórios; e) de execução imediata, diferida e sucessiva; f) contratos

solenes e não solenes; g) contratos escritos ou verbais; h) contratos paritários e de

adesão; i) contratos principais e acessórios; j) contratos típicos e nominados; e l)

contratos atípicos e inominados.

a) Contratos consensuais são aqueles que se tornam perfeitos pelo simples

consentimento das partes.

Consideram-se formados pela simples proposta e aceitação, por exemplo:

compra e venda, locação, mandato, comissão, etc.

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Contratos reais são aqueles que só se completam se, além do consentimento

houver a entrega da coisa que lhe serve de objeto, por exemplo: depósito, doação,

mútuo, penhor.

b) Contratos unilaterais são aqueles em que somente uma das partes assume

a obrigação, por exemplo: comodato, mútuo, doação.

Contratos bilaterais ou sinalagmáticos são aqueles em que ambas as partes

assumem obrigações, por exemplo: compra e venda, troca, locação, etc.

c) Contratos gratuitos são aqueles onde somente uma das partes é

beneficiada, por exemplo: doação pura e simples.

Contratos onerosos são aqueles onde ambas as partes visam as vantagens

correspondentes às respectivas prestações por exemplo: locação, compra e venda,

etc.

d) Contratos comutativos são contratos onerosos em que as prestações de

ambas as partes são certas. Cada uma das partes recebe, ou entende que recebe,

uma contraprestação mais ou menos equivalente, por exemplo: compra e venda,

locação, etc.

Contratos aleatórios são contratos onerosos nos quais a prestação de uma ou

de ambas as partes fica na dependência de um caso fortuito, de um risco. As partes

se arriscam a uma contraprestação inexistente ou desproporcional, por exemplo:

seguro, jogo, aposta.

e) De execução imediata e diferida são aqueles de prazo único.

De execução sucessiva são aqueles cumpridos em etapas periódicas.

f) Contratos solenes são aqueles para os quais se exigem formalidades

especiais e que dão ao ato um caráter solene, por exemplo: escrituras de compra e

venda de imóvel.

Contratos não solenes são aqueles aos quais a lei não prescreve, para a sua

celebração, forma especial, por exemplo: agência e distribuição.

g) Contratos escritos são aqueles que só podem ser contraídos mediante

escritura pública ou particular, por exemplo: sociedade.

Contratos verbais são aqueles que podem ser celebrados por simples acordo

verbal, por exemplo: sociedade em conta de participação, corretagem, comissão.

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h) Contratos paritários são aqueles em que as partes estão em pé de

igualdade, escolhendo o contratante e debatendo livremente as cláusulas, por

exemplo: compra e venda, comissão, distribuição.

Contratos de adesão são aqueles em que um dos contratantes é obrigado a

tratar nas condições que lhe são oferecidas e impostas pela outra parte, sem direito

de discutir ou modificar cláusulas, por exemplo: contratos bancários, seguro.

i) Contratos principais são aqueles que existem por si só, sem dependência de

outro. Subsistem de forma independente, por exemplo: locação, mútuo.

Contratos acessórios são aqueles que acompanham o contrato principal e cuja

finalidade é a segurança e a garantia da obrigação principal, por exemplo: fiança,

penhor.

j) Contratos típicos e nominados são aqueles tipificados na lei, que tem uma

denominação específica em direito e regulamentação própria, por exemplo: compra e

venda, troca, doação.

l) Contratos atípicos e inominados são aqueles resultantes de variadas

combinações entre as partes, não tem denominação e nem regulamentação própria,

por exemplo: todo e qualquer contrato desde que seja lícito.

7. Formação e Lugar dos Contratos

Os contratos consensuais formam-se com a proposta e a aceitação, os reais

com a entrega da coisa e os formais com a realização da solenidade.

O proponente ou policitante propõe e o aceitante ou oblato aceita, de modo

expresso ou tácito.

Diz-se expressa quando a manifestação da vontade se revela através de

propósito deliberado de uma das partes, de externar o seu pensamento em

determinado sentido. Pode se revelar através da palavra escrita ou verbal, por meio

de gestos, etc.

Diz-se tácita quando o consentimento provém de ato do agente, incompatíveis

com a decisão contrária. Correspondem a manifestações indiretas da vontade.

Contrato entre presentes é aquele em que a proposta ou oferta é feita e a

aceitação é imediata.

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Considera-se também entre presentes o contrato celebrado por meio

telefônico, e os contratos celebrados em salas de Chat, na Internet.

Contratos entre ausentes é aquele em que a parte a quem é dirigida a

proposta não manifesta imediatamente a sua vontade, declarando se aceita ou se a

recusa.

Na hipótese de formação de contratos entre ausentes, reputa-se constituído o

contrato no momento em que o oblato (isto é, a parte que recebeu a proposta)

manifesta através da expedição de correspondência, aceitando o contrato proposto

sem condição nem reservas.

O aceitante poderá, após o envio da aceitação, retratar-se, desde que a

retratação chegue ao proponente antes ou conjuntamente com a aceitação.

Os contratos celebrados por meio de fax, e-mail ou outro meio similar, são

contratos celebrados entre ausentes.

Consenso significa dizer, um acordo entre as partes.

Dissenso significa dizer, divergências ou não ajuste perfeito entre as partes.

Contraproposta significa dizer, que o aceitante introduz alterações na

proposta, fazendo adições ou restrições; neste caso o aceitante passa a ser

proponente e vice versa.

Retratação será uma declaração lícita do policitante para obstar os efeitos da

proposta. Somente se torna eficaz chegando ao conhecimento do aceitante antes ou

juntamente com a proposta.

Ou, será uma declaração lícita do aceitante, para obstar os efeitos da

aceitação. Somente se torna eficaz chegando ao conhecimento do proponente antes

ou juntamente com a aceitação.

A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos

essenciais ao contrato

A proposta pode não ser dirigida a uma pessoa determinada, mas sim a toda

uma coletividade, no sentido de contratar.

Seria a hipótese de anúncios pagos na televisão, em jornais, em revistas, nos

sites da Internet, onde o proponente fornece número de telefone para que o pedido

seja feito ou fornece cupom no próprio anúncio ou oferta na tela do computador.

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Esse “pedido” tem a natureza jurídica de aceitação à proposta feita por meio do

anúncio e como tal deve ser tratada.

Assim, se forem preenchidos os requisitos essenciais ao contrato, isto é, caso

alguém manifeste sua vontade no sentido de contratar antes da proposta feita ao

público ser retirada, o proponente ficará vinculado juridicamente aos termos da sua

proposta. Portanto, se o contrato for consensual, ele estará perfeito no momento em

que ocorrer a remessa da aceitação. Uma vez formulada a oferta ao público, o

anunciante fica vinculado à sua proposta.

Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar onde foi proposto.

8. Defeitos na Formação do Contrato

Nos contratos, o consentimento deve ser voluntário, isto é, desprovido de

qualquer ato que se venha interpretar de forma negativa como ameaça, medo,

violência, fraude, dolo, etc.

Na formação dos contratos podem surgir vícios que o tornem nulo ou anulável.

Nulo é o contrato que atenta contra norma de ordem pública ou que não tenha

os pressupostos e requisitos de validade do negócio jurídico, A nulidade pode limitar-

se apenas a uma cláusula se não contaminar as demais.

Anulável é o contrato celebrado por pessoa relativamente incapaz, ou viciado

por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

O ato nulo (nulidade absoluta) não pode ser convalidado nem ratificado,

podendo a nulidade ser argüida a qualquer tempo, por qualquer pessoa.

O ato anulável (nulidade relativa), ao contrário, pode ser ratificado pelas

partes. Só os interessados diretos podem alegar a nulidade relativa, enquanto não

ocorrer a decadência.

Os vícios que invalidam o consentimento são: erro, dolo, coação, estado de

perigo, lesão e fraude contra credores.

Erro é a falsa noção ou falsa idéia. Provém do não conhecimento da

verdadeira natureza do objeto; a vontade se desvia ou não é real.

Dolo, dolus (latim) astúcia, engano, ardil, esperteza, manha. Assenta-se na má

fé e na indução ao erro.

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Ações dolosas objetivam o não cumprimento da promessa. O agente quer o

resultado ilícito, contrário ao direito. O objetivo da conduta é conduzir em erro a parte

contrária.

Coação, coactio, cogere (latim) constranger, forçar, impor, obrigar, violentar,

restringir a liberdade do querer.

Qualquer emprego de forma física ou simples ameaça de mal físico, material

ou moral para que alguém faça ou deixe de fazer alguma coisa.

Para anular o ato é necessário que a coação seja injusta. Viciado o

consentimento pela coação, nulo é o contrato.

Estado de perigo é quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou

a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume

obrigação excessivamente onerosa.

Lesão ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por

inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da

prestação oposta.

Fraude contra credores, fraudare (latim), falsear ou ocultar a verdade com

intenção de prejudicar ou enganar.

É o artifício, a manobra com objetivo de fraudar terceiros. Fraude à lei o

chamado “jeitinho brasileiro” com o intuito de fugir à incidência da lei e seus efeitos.

Fraude contra credores é o artifício malicioso empregado para prejudicar

terceiros despidos de quaisquer garantias reais.

Para caracterizar a fraude basta que o devedor tenha consciência de que seu

ato irá prejudicar ou trazer prejuízos a terceiros.

Os atos viciados por fraude são anuláveis por meio da Ação Pauliana, onde os

bens transferidos fraudulentamente retornam ao patrimônio do credor.

9. Extinção dos Contratos

O contrato extingue-se normalmente pela sua execução com o cumprimento.

Assim como eles nascem, também se extinguem.

Há várias formas pelas quais os contratos se extinguem. A forma normal de

extinção do contrato é pelo cumprimento das obrigações por eles geradas.

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O credor atestará o pagamento por meio de quitação regular. A quitação vale

qualquer que seja a forma do contrato. Se determinado ato foi através de escritura

pública, vale a quitação por instrumento particular.

O distrato é feito pelo mútuo acordo e deve ter a mesma forma do contrato

celebrado. É o acordo entre as partes, a fim de extinguir vínculo contratual

anteriormente estabelecido. É um novo contrato com a finalidade de dissolver o

anterior.

O distrato somente produz efeitos para o futuro, não retroage aos efeitos

anteriores, isto é, o distrato equivale a uma revenda, uma transferência da

propriedade. Seu efeito é ex nunc , somente para a frente.

A denúncia unilateral ocorre nos contratos por tempo indeterminado, pois não

se admite contratos perpétuos.

Nos contratos indeterminados as partes não estipulam sua duração. A

extinção pode se dar a qualquer tempo, por iniciativa de uma das partes.

Em alguns contratos por tempo indeterminado, a extinção pela vontade de

uma das partes deve ser precedida de notificação, chamada “aviso prévio”, dada

com certa antecedência.

Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito

investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá

efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos

investimentos.

No inadimplemento o prejudicado pode pleitear a resolução do contrato em

juízo. Nos contratos bilaterais está sempre implícita uma cláusula resolutiva em caso

de inadimplemento.

A parte lesada pelo inadimplemento pode requerer a rescisão do contrato com

perdas e danos se não preferir exigir-lhe o cumprimento.

Ocorre a inexecução involuntária quando o descumprimento do contrato é

advindo de dificuldade fora do comum, como caso fortuito ou força maior. O

inadimplente responderá também por perdas e danos.

A exceção do contrato não cumprido é aquela onde nenhum dos contratantes,

antes de cumprida a sua obrigação, poderá exigir o implemento do outro.

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Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes

diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação

pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que

aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.

Resolução por onerosidade excessiva ocorre quando a prestação de uma das

partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em

virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, podendo o devedor pedir a

resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da

citação.

A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar

eqüitativamente as condições do contrato.

Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela

pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou que seja alterado o modo de executá-

la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.

10. Contrato Preliminar

O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos

essenciais ao contrato a ser celebrado.

Concluído o contrato preliminar, e desde que dele não conste cláusula de

arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do

definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.

O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.

Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da

parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto

se opuser a natureza da obrigação.

Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte

considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.

11. Arras

Arras ou sinal são garantia do contrato preliminar, gerando presunção de

acordo final e tornando obrigatório o contrato.

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Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de

arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser

restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por

desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as

deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com

atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e

honorários de advogado.

A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior

prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir

a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da

indenização.

Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das

partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as

deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais

o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

12. Vícios Redibitórios

A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por

vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe

diminuam o valor.

O adquirente pode no lugar de rejeitar a coisa, redibindo o contrato reclamar

abatimento no preço.

Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu

com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido,

mais as despesas do contrato.

A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder

do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.

O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no

prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da

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entrega efetiva. Se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à

metade.

Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo

contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e

oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

13. Evicção

A evicção é a perda total, ou parcial, da coisa pelo adquirente, por força de

decisão judicial baseada em causa preexistente a contrato.

A jurisprudência tem reconhecido a evicção mesmo quando a perda da coisa

não foi ocasionada por decisão judicial, mas por outro motivo, como apreensão

judicial, alfandegária ou administrativa.

Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta

garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a

responsabilidade pela evicção.

Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der,

tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do

risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.

Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição

integral do preço ou das quantias que pagou: a) à indenização dos frutos que tiver

sido obrigado a restituir; b) à indenização pelas despesas dos contratos e pelos

prejuízos que diretamente resultarem da evicção; c) às custas judiciais e aos

honorários do advogado por ele constituído.

14. Considerações Finais

Essas são as breves considerações da pesquisa, reafirmando que o contrato

não pode ser mais encarado da mesma forma que era quando da plenitude do

liberalismo, mas sim sob o enfoque de uma solidariedade social que prestigie a

efetiva manifestação da vontade, com prestígio à boa-fé e à equivalência material

das partes, realizando o macroprincípio constitucional da dignidade da pessoa

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humana; pois o contrato é instrumento a serviço da sociedade, e não é a sociedade

que deve se submeter, de forma absoluta e axiologicamente deplorável, aos abusos

dos que se valem do contrato para impor o seu poder. Devendo esta ser a visão

moderna do contrato.

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Page 15: Teoria Geral dos Contratos · princípios gerais dos contratos, sua função social e boa-fé objetiva. Posteriormente apresenta-se a classificação dos contratos, sua formação

Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 2 - 2008

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