temas de história de sergipe i aula 5

13
5 5 5 aula TUPINAMBÁ E TAPUIA: MODOS DE SER INDÍGENAS? META Apresentar o modo de ser das culturas tupinambá e tapuia como traços culturais de um povo. OBJETIVOS Ao estudar esta lição, o aluno deverá discernir os modos de ser de cada povo. PRÉ-REQUISITOS Ter assimilado o conteúdo das aulas 01 a 04. Família de Tupinambá , xilogravura presente em Viagem à Terra do Brasil , de Jean de Léry (1578).

Upload: rexmacbeth

Post on 24-Jul-2015

95 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aulaTUPINAMBÁ E TAPUIA:

MODOS DE SER INDÍGENAS?

METAApresentar o modo de serdas culturas tupinambá etapuia como traços culturaisde um povo.

OBJETIVOSAo estudar esta lição, oaluno deverá discernir osmodos de ser de cada povo.

PRÉ-REQUISITOSTer assimilado o conteúdodas aulas 01 a 04.

Família de Tupinambá, xilogravura presente em Viagem àTerra do Brasil, de Jean de Léry (1578).

Page 2: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

48

Olá, caro aluno ou querida aluna: Os textos das aulasanteriores nos ajudarão na compreensão da temática

que iremos enfocar nesta aula. Provavelmente você deve estarcurioso para saber informações sobre os nossos primeiros

habitantes. Penso que está fazendo asseguintes perguntas: Como viviam?Habitavam todo o território sergipano?Onde mais se concentravam? Como seria

seu modo de ser? O correto não seria falarmos no plural “modosde ser”, de culturas diferentes?

INTRODUÇÃO

(Fonte: ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: fundamentos de umaeconomia dependente. Petrópolis: Vozes, 1984. p. 26).

Page 3: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

49

Eram inúmeros os núcleos de povoamento dos primeiroshabitantes de Sergipe, antes da chegada de Gaspar

Lourenço e seu irmão João Salônio, primeiros padres jesuítasem missão cristã católica, no ano de 1575, entre os rios quehoje conhecemos pelos nomes de Real eSergipe. No mapa 01, na página anterior,localize esses dois rios.

Em seguida, observemos no mapa 02 aindicação da presença desses padres jesuítas no território queconvencionamos chamar de Sergipe. Atentemos que eles chegaramà Bahia e ocuparam também vários lugares no território brasileiroao longo do século XVI.Marcaram presençapraticamente em quasetodo o litoral brasileiro.

A ocupação de umespaço não é atitudedesvinculada da culturade um grupo social. Osjesuítas sabiam por queestavam construindosuas missões no litoral doterritório brasileiro. Elessó chegaram a Sergipe, enas demais localidadesapontadas no mapa, porserem porta-vozes da suacultura. Em outro textoapresentaremos quem foio padre Lourenço e osdemais religiosos que atuavam ao longo dos dois rios: Real eSergipe; entenderemos depois por que eles eram porta-vozes dacultura do mundo português e, sobretudo, da Igreja Católica noséculo XVI.

SER ÍNDÍGENA

Page 4: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

50

Reflita: por que deixamos para um próximo texto acompreensão da ocupação do espaço sergipano por parte dosjesuítas? Por que também deixaremos para depois oentendimento dos jesuítas como protagonistas da culturaportuguesa e da Igreja Católica no século XVI?

Acertou quem disse que estamos valorizando a culturados primeiros habitantes, considerando-os como tendo umacultura diferente da dos jesuítas e dos outros colonizadorespertencentes ao “Velho Mundo”. Observe que escrevemosa palavra “diferente”, e não “inferior”, seguindo as mesmasorientações apontadas nos nossos primeiros textos. Comisto, queremos dizer que havia espaços ocupados e culturasantes da chegada desses padres e demais colonizadores noterritório sergipano. De igual forma, também queremosdizer que a História de Sergipe e do Brasil como um todonão começa com a chegada do homem do “Velho Mundo”.

Todavia, para compreendermos a culturados nossos primeiros povos precisamos dedocumentos. A antropóloga Beatriz GóisDantas faz a seguinte declaração: “A questãodas fontes é, aliás, fundamental para que sepossa reconstituir os processos sociais,culturais e históricos vividos pelos índios”(DANTAS, 1991). Infelizmente, nãoconhecemos nenhuma fonte escrita pelospróprios primeiros habitantes que nosproporcionem uma aproximação da suamaneira de ser, dos seus símbolos, dos seusrituais, entre outros aspectos da cultura. Asfontes que temos são deixadas pelos viajantes,cronistas, padres ou documentos oficiais docolonizador.

O que fazer diante desse problema? Nãotemos como apreender a cultura dos nossos

Ronaldo Vainfas

Capa da Carta de Toloza, uma fonte escrita na qual adescrição do outro é marcada pela alteridade.

Historiador carioca.Professor titular de His-tória Moderna na Uni-versidade Federal Flu-minense (UFF). Especi-alista em história colo-nial ibero-americana.Entre seus livros, des-taca-se Trópico dosPecados (1997).

Page 5: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

51

primeiros habitantes?Para Pedro Puntoni (1998) “ao contrário do que pode fazer

o historiador da Meso-América, por exemplo, não temos nenhumregistro da parte dos povos indígenas como o seu ponto de vista”.Tal ausência, inevitavelmente, leva-nos a grandes embaraços comcategorias usadas há muito tempo por antropólogos,historiadores e outros pesquisadores.

Que categorias são essas? Quais os outros embaraços?Afinal, vale repetirmos: será que não temos como apreender acultura dos nossos primeiros habitantes, apesar da ausência dasfontes deixadas por eles?

Recentemente, muitos historiadores têm demonstradoinsatisfação com as generalizações sobre os primeiros habitantesdo Brasil. Muitos deles denunciam as incorreções, generalizações,estereótipos, preconceitos e desinteresses dos nossos historiadoressobre os nossos primeiros habitantes. Para Puntoni “a literaturatem comumente se respaldado em generalizações recorrentes”.

Essa mesma impressão é compartilhada pelo historiadorRonaldo Vainfas:

Desde Varnhagem nossos historiadores se acostumaram

a conceber os indígenas, principalmente, como mão-de-

obra, como objeto da catequese ou como bárbaro

indômito que obstaculizava o avanço da colonização

(VAINFAS, 1995).

O pesquisador está diante das fontes escritas pelo colonizadore elas estão cheias de armadilhas, podendo-nos levar a umacompreensão distorcida dos primeiros habitantes. Puntonirecomenda que o “historiador não pode desconsiderar os filtrosnecessários”. Devemos, por exemplo, ter um olhar atento paranão cairmos numa generalização dos primeiros povos a partirde uma visão bipolar que enxerga os índios em duas unidadesculturais (ou mesmo raciais): os tupi e os tapuia. Esse binômio

Adolfo de Varnhagen

Historiador paulista(1816-1878). Considera-do o �pai da historiogra-fia�. Sócio correspon-dente do Instituto His-tórico e Geográfico Bra-sileiro e nomeado adidocultural da missão doBrasil em Lisboa. Editoua História Geral doBrasil (1854).

Page 6: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

52

tem sido – escreveu Puntoni – “a chave classificatória fundamentala perpassar a documentação e a historiografia.” Segundo Dantas(1987) “a categoria nativa Tapuia foi transformada em categoriaanalítica, dando início a um processo de classificação por exclusão:o que não fala Tupi, é Tapuia”. Dantas alerta ainda que até hojeo livro didático não só reproduz essa bipolaridade, mas apresentaos traços culturais dos Tupinambá para o modo de vida dosoutros índios do Brasil. Transformam o múltiplo em uno, ignora-se a diversidades cultural e lingüística dos primeiros habitantes.Essa classificação bipolar é chamada de tupimania.

E os tapuia, como aparecem nos documentos escritos? Ostapuia foram entendidos como tendo uma unidade histórica ecultural, em oposição não só ao mundo cristão, mas também aospovos tupi, habitantes do litoral. Tapuia é uma palavra da línguatupi que significa bárbaro e inimigo. Os tapuia eram umageneralização dos tupinambá em referência a todos os outrospovos inimigos deles que habitavam outras partes do territóriobrasileiro que não o litoral, sendo que nem falava as suas línguas.

Os pesquisadores parecem nos dizer: “Abram os olhos” paranão reproduzir a bipolaridade tupinambá dos colonizadores e dahistoriografia. Vale ressaltar: o termo tapuia é uma noçãohistoricamente construída. Está associado a uma noção de barbárieelaborada em vários momentos históricos, a começar pelo mundotupinambá antes do século XVI. É igualmente importante frisar:podemos cair numa armadilha ao generalizarmos o modo de sertupinambá para compreendermos todos os outros povos quehabitavam Sergipe e o restante do Brasil.

A historiografia sergipana não foge à regra desses equívocoscometidos pela historiografia brasileira, notadamente quanto àgeneralização dos povos a partir da ótica da cultura tupinambá.Os pesquisadores sergipanos, em sua maioria, tratam dos primeiroshabitantes como se todos eles fossem da cultura tupinambá. Muitasvezes esse exclusivismo é disfarçado em determinados autores eem outros não. José Antonio da Silva Travassos (1916) declarou:

Antônio Travassos

Advogado e políticosergipano (1804- ). Em1858 editou em SantoAmaro das Brotas o jor-nal Conciliador.

Page 7: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

53

“eram os índios de Sergipe, todos da tribo tupinambá.”Em Os índios em Sergipe e A tupimania na historiografia

sergipana, Dantas consegue se distanciar dessa historiografiasergipana que generaliza os modos de ser indígenas a partir dostupinambá. Segundo a autora, podemos perceber essa diversidadeentre os povos que ocuparam o atual território de Sergipe quandoafirmamos que “aqui viveram os Tupinambá e os Kiriri além demuitos outros grupos menores como os Boimé, os Karapotó,os Aramuru, os Kaxagó etc”.

Você deve estar admirado com adiversidade de nomes dos povos quehabitavam o território sergipano antes dachegada dos jesuítas e demaiscolonizadores, e certamente deve terelaborado a seguinte pergunta: não seriamelhor dizer que os Tupinambá tinham“um modo de ser indígena” ?

A pergunta é feita usando o artigo“um” no lugar de “o”. A escolha peloartigo “um” reflete a sintonia doperguntado com a compreensão datemática de que estamos tratando nestetexto. Esperamos que você tenhaelaborado tal pergunta nessa sintonia.A mesma deve ter sido formulada poroutros pesquisadores, como foi o caso de Dantas. Esta antropóloga,mesmo não explicitando tal pergunta, deixou claro qual era sua intençãoao criar o subtítulo denominado “Tupinambá, um modo de ser índio”no texto Os Índios em Sergipe.

É importante repetirmos: podemos afirmar com mais certezaque temos mais dados sobre o modo de ser tupinambá do quemesmo de um outro grupo, os kiriri e outros menores como osboimé, os karapotó, os aramuru, por exemplo.

Essa afirmação nos leva certamente a indagarmos: onde os

(Fonte: LESTRINGANT, Frank. O canibal: grandezae dacedência. Tradução Mary Murray Del Priore. Brasília:Editora Universidade de Brasília, 1997.)

Page 8: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

54

tupinambá estavam geograficamente localizados no territóriosergipano? Qual o modo de ser tupinambá?

Estavam localizados, principalmente, na costa sergipana à épocada chegada dos jesuítas e dos demais conquistadores. O “modo deser” tupinambá deixou várias marcas no litoral nordestino. Inúmerasaldeias com grandes casas coletivas, rituais, símbolos, regras sociais,divisão social do trabalho, organização política, administrativa - chefes,pajés, conselho de anciões -, são alguns exemplos.

Observemos novamente as marcas no mapa 2, já citado. Asrepresentações no mapa das missões jesuítas sinalizam a presençados jesuítas em Sergipe e nas demais localidades do Brasil. Nóspoderíamos também apresentar outro mapa com a representaçãoda presença dos tupinambá e outros povos em Sergipe e nasdemais localidades do litoral brasileiro.

Em 1575, um dos superiores dos jesuítas fez um relatóriodas atividades das missões de Gaspar Lourenço e Salônio noterritório sergipano. Esse documento, que ficou conhecidopela historiografia como Carta de Toloza - pois o nome dessesuperior era Toloza -, nos deixou algumas informações dis-persas que possivelmente nos ajudam a compreender a locali-zação dos tupinambá. Logo no início do documento existe aseguinte frase: “Vieram do Rio Real muitos índios principaisdas aldeias camareans que estão naquela parte...”

O trecho acima é significativo para compreendermos a existênciade denominações de núcleos de habitantes fundados pelos própriosíndios. Camareans é um nome de um espaço dado por esses povos.

Jesuítas

Pajés

A Companhia de Jesus(em latim, Societas Iesu,abreviadamente S. J.),cujos membros são co-nhecidos como jesuítas,é uma ordem religiosafundada em 1534 por umgrupo de estudantes daUniversidade de Paris,liderados pelo bascoÍñigo López de Loyola(Santo Inácio deLoyola). É hoje conhe-cida principalmente porseu trabalho missioná-rio e educacional.

Espécie de curandeiro eadivinho que tem a ca-pacidade de invocar ouincorporar espíritos pormeio de estados altera-dos de consciênciacomo o sonho, o transemístico etc., e por issoé eleito pela comunida-de para realizar rituaismágico-religiosos

Page 9: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

55

ATIVIDADES

Você conhece o nome de um rio, serra, povoado, cidade,alimento, vestuário ou tradições imateriais dos nossos primeirospovos?Que tal sabermos o nome e o sentido das palavras “jenipapo”,“maturi”, “tapioca”, “sururu”. Não seria interessante você saber seainda hoje esses alimentos são utilizados e de que forma?Vejamos o texto abaixo que ilustra essa nossa indagação.

Um pouco do sertão no coração de Aracaju.No mercado central a venda dessa massa é o carro-chefe de 30mulheres, que tiram da essência da mandioca, o seu ganha-pão.O local, tomado pelo pó branco, anuncia que ali se comercializauma das maiores atrações do café da manhã [dos sergipanos: obeiju de tapioca (Correio de Sergipe, Aracaju, domingo, 13-14fev. 2006, Arte e Televisão).

O beiju é um alimento do sergipano, sendo vendido ainda hoje nomercado central de Aracaju e em muitoslocais turísticos de todo o Estado deSergipe, com o nome popularizado de“tapioca”.

Façamos uma tarefa: procure nomesde lugares, alimentos e objetos maisrepresentativos da cultura dos nossospovos na região onde você mora. Incluao significado das palavras. Mas não façaessa atividade de forma mecânica,listando somente os nomes e seussignificados sem ligação com as tradiçõesainda hoje presentes em sua região. Consulte os mais velhos sobreos significados e descubra o porquê desses nomes ainda hoje seremlembrados enquanto outros foram esquecidos.

(Foto: Gerri Sherlock).

Page 10: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

56

O “jenipapo” foi muito usado na cultura tupinambá comobebida e tintura para escurecer a pele, para se esconder dosespíritos maus ou para ir à guerra, entre outras finalidades. Damesma forma, o uso de “riscar” partes do corpo, a tatuagem.

Registros dessa tradição de riscar o braçocomo um ato de bravura entre os primeiroshabitantes podem ser encontrados nos váriosprocessos da inquisição de Lisboa, dirigidos porHeitor Furtado na sua visita ao Brasil, no ano de1592. O processo de número 14098, por exemplo,pertencente ao mameluco João Gonçalves, naturalda capitania de Ilhéus – processo esse estudadopor Angelina Messias Imidio, aluna do curso deHistória da UFS, na monografia intitulada Umsoldado da conquista de Sergipe Novo...: o processo deinquisição de João Gonçalves (1592)” -, retrata queesse denunciado “afirmou ter feito o riscado pelofato de tal atitude significar entre os índios serforte e valente”.

Ser “forte” e “valente” são metas importantes a serem atingidaspor homens tupinambá desde a infância até a vida adulta. Há váriosrituais da cultura tupinambá que reforçam esses valores a serem atingidosem vida pelas crianças do sexo masculino.

Dantas, influenciada por Florestan Fernandes, relata que quandoo menino nascia o pai ficava de quarentena – conhecido entre osprimeiros povos como “couvade”-, deitado numa rede como guardiãoda defesa da vida do filho até o umbigo cair, para que ele não fosseacometido de doenças. O pai achatava o nariz do recém nascido,banhava e pintava, fazia uma oferta cerimonial de unhas de onça egarras de pássaro, conforme a tradição. Também colocava umaminiatura de arco e flecha e amarrava um molho de ervas, “quesimbolizava os inimigos que ele deveria matar e comer ritualmenteno futuro”- escreveu Dantas. Um costume que parece banal, quandoo analisamos sem atentar para o contexto social em que ele é exercido.

Retrato do rei Quoniambec, 1575, gravura emmadeira, André Thevet.

Page 11: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

57

A criança do sexo masculino simbolizava o agente da reprodução eprecisava sobreviver para ser um homem forte e valente, para defender emanter o domínio dos tupinambá na região. Os valores guerreiros eramapreciados na cultura e tinham muita importância na vida do povotupinambá. A guerra era uma realidade comum entre eles e uma dasprincipais fontes de prestígio e elevação de status.

Imaginemos: o quanto de cultura material e imaterial –artefatos, danças, rezas, por exemplo - foram produzidos porum homem tupinambá mergulhado nos valores da guerra? Atatuagem do corpo é uma ação tipicamente comum dessa cultura,bem como produção de lanças e a pintura de jenipapo no corpo.

Tais práticas fazem parte da cultura tupinambá. Tem sentidoquando a olhamos a partir da própria cultura deles.

Estima-se que era numerosa a população dos tupinambá noterritório que hoje denominamos o Estado de Sergipe. Pelos cálculosdos cronistas e viajantes do século XVI, havia mais de 20.000 índios.

Os dados estatísticos não são muito confiáveis. Eles nãorevelam traços da cultura tupinambá e nem dos outros povos,do tipo: quais os modos de enterrar seus mortos? Como sealimentavam? Quais as doenças?

Em parte, muitas dessas perguntas continuaram semrespostas. Como já afirmamos acima, os tupinambá ou outrospovos indígenas do Brasil não deixaram nada escrito.

Entretanto, a arqueologia pode ser uma aliada nacompreensão de traços da cultura dos primeiros povos que nãosabiam ler e escrever. Ela nos ensina que os homens e mulheresdo passado deixaram inúmeras fontes materiais da sua cultura.

Mas, deixemos essas informações para outra l ição.Apreciaremos na próxima aula em que a arqueologia emSergipe nos auxilia, para completarmos tais indagações sobrea cultura dos nossos primeiros habitantes.

Cultura material

Cultura imaterial

O conjunto dos artefa-tos de um gruposociocultural, e das téc-nicas, conhecimentos,etc. relativos à produçãoe uso de tais artefatos.

Patrimônio cultural In-tangível compreende asexpressões de vida e tra-dições que comunida-des, grupos e indivídu-os em todas as partes domundo recebem de seusancestrais e passam aseus descendentes.

Page 12: Temas de História de Sergipe I aula 5

Temas de História de Sergipe I

58

Com o estudo desta lição, percebeu-se que se perderam no tempo as informações acerca dos primeiros

habitantes de Sergipe e do Brasil. Mas essa condição não nosimpede a compreensão de traços da culturadesses povos.

RESUMO

Iniciamos esta aula falando da chegada dos primeirosjesuítas a Sergipe, e vendo que, a partir daí, o que se temsão generalizações recorrentes acerca dos costumes dos

primeiros habitantes, generalizações estas praticadas peloshistoriadores sergipanos, seguindo o modelo adotado pelosoutros profissionais da área. Portanto, para que se tenha umaimagem mais precisa da cultura dos índios é necessário o trabalhodedicado de antropólogos e paleontólogos, a fim dereconstituírem os costumes, os hábitos sociais e outras práticasimateriais dos nossos ancestrais. De fato, não há documentos esão pouquíssimos os indícios deixados pelos índios, sendo quealguns deles até chegaram aos nossos dias, como a tatuagem, porexemplo. Pelos cálculos dos estudiosos, eram mais de 20.000 ostupinambá em Sergipe, por ocasião da chegada dos jesuítas.

CONCLUSÃO

ATIVIDADES

Descubra, no seu município, algum remanescente da culturaindígena, de origem material ou imaterial.

Page 13: Temas de História de Sergipe I aula 5

55555aula

Tupinambá e Tapuia: modos de ser indígenas?

59

REFERÊNCIAS

DANTAS, Beatriz Góis. Tupinambá, um modo de ser índio. Osíndios em Sergipe. In: DINIZ, Diana Maria de Faro Leal. Textos

para a História de Sergipe. São Cristóvão: Universidade Federalde Sergipe; Aracaju: Banco do Estado de Sergipe, 1991, p. 19- 28;_______ A Tupimania na historiografia sergipana. Revista do

IHGSE, n. 29, 1983-87, 39-50.IMIDIO, Angelina Messias. “Um soldado da conquista de Sergipe

Novo...”: o processo de inquisição de João Gonçalves (1592).Monografia de Conclusão de Curso. Licenciatura em História.DHI/UFS, São Cristóvão, 2007.LEITE, Serafim. Sergipe Del Rey. Da Bahia ao Nordeste. IN:História da Companhia de Jesus no Brasil. Instituto Rio deJaneiro: Nacional do Livro/ Lisboa: Livraria Portuguesa, 1945,tomo V, p. 316-327;POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupie Tapuia no Brasil colonial. Bauru: São Paulo: EDUSC, 2004,p. 41-56 e 339-378.PUNTONI, Pedro. Tupi ou não Tupi? Uma contribuição aoestudo da etnohistória dos povos indígenas no Brasil Colônia.Ethnos – Revista Brasileira de Etnohistória., ano II, n. 2, jan-jun. 1998. p. 00.SILVA, Andreza. Híbridos na carne e no espírito: o processoinquisitorial de Simão Rodrigues (1591-1593). Monografia deConclusão de Curso. Licenciatura em História. DHI/UFS, SãoCristóvão, 2006.TRAVASSOS, José Antônio da Silva. Apontamentos históri-cos e topográficos sobre a Província de Sergipe. Revista do

IHGSE, v. 3, n. 06.VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos Índios. Catolicismo e rebeldia

no Brasil colonial. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 41-69.