televisão uma viagem na janelinha do boeing

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Televisão Uma viagem n a janelinha do Boeing Como é pensado e produzido o Jornal Nacional , que hd 20 anos vai ao ar todas a s noites levando a bordo 35 milhões de brasileiro s por Gabriel Prioll i tat qc= 7, wpm. São 19h35 do dia 2 de agosto de 198 9 e o Boeing já está na cabeceira da pis- ta, com os motores roncando, pront o para decolar . Na cabine, o piloto Cai o César Cruz, tensíssimo, confere os mo- nitores de video à sua frente, disparan- do ordens pelo interfone. A seu lado , o comandante Fábbio Perez, aparente- mente calmo, relê o plano de vôo, fa z alterações de rota e dá novas instruções à tripulação. Nos monitores, vê-se o s comissários de bordo Cid Moreira e Sérgio Chapelin retocando a maquia - gem, fazendo exercícios faciais e pra- guejando contras as mudanças de úl- tima hora. E um momento de concen- tração geral da equipe de vôo . Dentro de poucos instantes, os comissários vã o dar "Boa Noite" a quase 35 milhões d e passageiros e lhes desejar uma boa via- gem . Vai começar uma volta ao mun- do em 30 minutos, a bordo da mais for- midável máquina eletrônica de notícia s do país: o Jornal Nacional . A analogia entre a decolagem de u m Boeing e a emissão do Jornal Nacio- nal foi imaginada pelo diretor da Cen- tral Globo de Jornalismo, Armand o Nogueira, há 20 anos, exatamente no dia 1? de setembro de 1969, quando o 198 3 telejornal estreou . Naquela . época, o Boeing não passava de um Electra II , mas já era um salto no futuro perto do s DC-3 que as outras televisões opera- vam . Isso porque, enquanto os outro s telejornais ainda eram essencialment e locais, o Jornal Nacional nascia par a integrar o Brasil pela notícia, utilizan- do a recém-inaugurada rede de mi- croondas da Embratel . Sinais de tele- visão trafegavam de Porto Alegre, Cu- ritiba e São Paulo para o Rio de Janei- ro, e eram retransmitidos de volta, ao vivo, para essas e outras cidades . Co m o Jornal Nacional, começava no Bra- sil o telejornalismo de rede. Na nervosíssima noite do nervos o dia 1? de setembro de 1969, Armand o Nogueira era o comandante do vôo e Alfredo Marsillac, diretor de imagens , o piloto. O jovem comissário Cid Mo- reira, ainda de cabelos pretos e sem plástica, dividia as atenções dos passa- geiros corn o já veterano Hilton Go- mes, também produtor e locutor do s Festivais Internacionais da Canção. O grande problema daquela tripulação - e também da equipe de terra, da qua l a hoje diretora-executiva de telejorna- lismo, Alice Maria, é a única remanes- cente - era simplesmente que as má - quinas de video-tape funcionassem e pusessem no ar, sem problemas, as imagens geradas algumas horas ante s via Embratel de São Paulo, Porto Ale- gre e Curitiba. Ou seja : torcia-se co m angústia para que o equipamento fizes - se o mínimo que se espera dele. Qua terminou o jornal, que trazi a cias de um m _ ento delicado , p (veja o script mpleto-rra•página 47) , a equipe'fplaitdiu-se,-.exultante, e fir - mando Nogueira resumiu o _al"viEf .'ge- ral numa frase :`'r `Crlroeing dec 1 " De lá para eáçsje se converteu no ti s alto vôo do telé ' Tháalismo brasileir o em sua história . 19h40. A cabin e do Boeing está em polvorosa. Na última hora, é cancela - da uma entrada ao viva direto de Lon- drina, da repórter Dulcinéia Novaes, que mostraria aos passageiros u m quebra-quebra de ônibus . Chega tam- bém a informação de que o tempo d o jornal está estourado e o comandant e Fabbio Perez, editor-chefe, determin a a "derrubada" de três minutos de ma- téria. Isso significa mexer em todo o script - e o piloto Caio Cruz fica ain- da mais tenso . Aperta os botões da me- sa de corte como quem vai dinamita r uma ponte. O nervosismo se explica : 1969 1976

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Page 1: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

Televisão

Uma viagem najanelinha do Boeing

Como é pensado e produzido o Jornal Nacional ,que hd 20 anos vai ao ar todas as

noites levando a bordo 35 milhões de brasileiro s

por Gabriel Priollitat

qc= 7, wpm.

São 19h35 do dia 2 de agosto de 1989e o Boeing já está na cabeceira da pis-ta, com os motores roncando, pront opara decolar. Na cabine, o piloto Cai oCésar Cruz, tensíssimo, confere os mo-nitores de video à sua frente, disparan-do ordens pelo interfone. A seu lado,o comandante Fábbio Perez, aparente-mente calmo, relê o plano de vôo, fazalterações de rota e dá novas instruçõesà tripulação. Nos monitores, vê-se oscomissários de bordo Cid Moreira eSérgio Chapelin retocando a maquia-gem, fazendo exercícios faciais e pra-guejando contras as mudanças de úl-tima hora. E um momento de concen-tração geral da equipe de vôo. Dentrode poucos instantes, os comissários vãodar "Boa Noite" a quase 35 milhões depassageiros e lhes desejar uma boa via-

gem . Vai começar uma volta ao mun-do em 30 minutos, a bordo da mais for-midável máquina eletrônica de notíciasdo país: o Jornal Nacional .

A analogia entre a decolagem de umBoeing e a emissão do Jornal Nacio-nal foi imaginada pelo diretor da Cen-tral Globo de Jornalismo, ArmandoNogueira, há 20 anos, exatamente nodia 1? de setembro de 1969, quando o

1983telejornal estreou . Naquela . época, oBoeing não passava de um Electra II ,mas já era um salto no futuro perto do sDC-3 que as outras televisões opera-vam. Isso porque, enquanto os outrostelejornais ainda eram essencialmentelocais, o Jornal Nacional nascia paraintegrar o Brasil pela notícia, utilizan-do a recém-inaugurada rede de mi-croondas da Embratel . Sinais de tele-visão trafegavam de Porto Alegre, Cu-ritiba e São Paulo para o Rio de Janei-ro, e eram retransmitidos de volta, aovivo, para essas e outras cidades . Como Jornal Nacional, começava no Bra-sil o telejornalismo de rede.

Na nervosíssima noite do nervos odia 1? de setembro de 1969, Armand oNogueira era o comandante do vôo eAlfredo Marsillac, diretor de imagens ,o piloto. O jovem comissário Cid Mo-reira, ainda de cabelos pretos e semplástica, dividia as atenções dos passa-geiros corn o já veterano Hilton Go-mes, também produtor e locutor dosFestivais Internacionais da Canção. Ogrande problema daquela tripulação -e também da equipe de terra, da qua la hoje diretora-executiva de telejorna-lismo, Alice Maria, é a única remanes-cente - era simplesmente que as má -quinas de video-tape funcionassem epusessem no ar, sem problemas, as

imagens geradas algumas horas ante svia Embratel de São Paulo, Porto Ale-gre e Curitiba. Ou seja : torcia-se comangústia para que o equipamento fizes -se o mínimo que se espera dele. Qua

terminou o jornal, que trazi acias de um m _ ento delicado , p(veja o script mpleto-rra•página 47) ,a equipe'fplaitdiu-se,-.exultante, e fir-mando Nogueira resumiu o _al"viEf .'ge-ral numa frase :`'r̀ Crlroeing dec 1 "De lá para eáçsje se converteu no tisalto vôo do telé' Tháalismo brasileiroem sua história .

19h40. A cabin e do Boeing está empolvorosa. Na última hora, é cancela -da uma entrada ao viva direto de Lon-drina, da repórter Dulcinéia Novaes,que mostraria aos passageiros u mquebra-quebra de ônibus. Chega tam-bém a informação de que o tempo dojornal está estourado e o comandant eFabbio Perez, editor-chefe, determin aa "derrubada" de três minutos de ma-téria. Isso significa mexer em todo oscript - e o piloto Caio Cruz fica ain-da mais tenso. Aperta os botões da me-sa de corte como quem vai dinamitaruma ponte. O nervosismo se explica:

1969

1976

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quando o Jornal Nacional está no ar,a segurança do vôo está quase toda nasmãos do diretor de imagem. Ele maisque o piloto, o manche do Boeing .

Caio César Cruz, 37 anos, 13 de pro -fissão, alterna-se há oito anos com Jo-sé Carlos Viana, 35 de idade, 12 de TV,na pilotagem do Boeing . Ele tem a van-tagem de ser piloto brevetado na vid areal, embora José Carlos diga que nã oé lá muito confortador um piloto qu etraz no nome um "caio" e um "cruz".De qualquer forma, nenhum dos doi sveio abaixo com o Boeing, apesar devárias panes e perdas de altura que ele -varam bastante a pressurização da ca -bine . Foi o caso da edição que noticio ua morte do presidente Anuar Sadat, doEgito. A imagem saiu do ar tantas ve -

zes que parecia que atentado tinh aocorrido na Globo, e não no Cairo.

2 '0 Jornal Nacional não é tãocomplicado de fazer, mas a responsa-bilidade é grande demais e isso deixaa gente em alerta total", diz Caio. JoséCarlos concorda: "Com o tempo, agente ganha uma certa capacidade deconcentração para operar tudo. Mas nocomeço, a gente fica muito tenso, mes-mo depois que o jornal acaba . Isso du-ra vários dias".

19h5S . O Boeing está no ar. Cid Mo-reira e Sérgio Chapelin lêem as man-chetes da ediçãq que, entre outros pra-tos, oferece um assalto a banco com 18feridos no Ria o desabamento de umaagência de correio na União Soviética,crise no Líbano e a morte de Luiz Gon-zaga. E um dia de noticiário quente:boas imagens, drama, emoção. Um jor-nal para arrancar lágrimas do especta-dor. E não há um Cid ou um Sérgiomelhores para isso do que o Moreirae o Chapelin .

Não venham com esse papo de an-chorman para cima da dupla mais di-nâmica do telejornalismo pátrio. Ele svão rebater de primeira . "Honestamen -

te, não vejo nenhuma diferença em re-lação ao trabalho que eu faço", di zChapelin, 48 anos, 37 de microfone. "Oanchorman tem que viver, interpretara notícia e é exatamente isso que eu fa -ço todo dia", emenda Cid, 61 anos, 4 5de locução. Portanto, é com um certoar de superioridade - de quem voa nasalturas de um jornal que é sintoniza -do por 80% dos aparelhos de TV liga -dos no país às oito da noite - que o sdois observam Boris Casoy, Carlo sNascimento e demais homens-âncora .

Cid prefere dissertar sobre a nature-za de sua função. "O apresentador écomo um cirurgião, que tem de ter amão forte para operar, ou como o su-jeito que trabalha no necrotério, e te mque mexer em cadáveres todo dia" ,compara . "Eles não podem se deixa rdominar pela emoção. Tem que dosar,jogar a emoção só até certo ponto. Eupego qualquer texto e dou de cara otom que ele deve ter. "

Mas é Chapelin quem filosofa co mmais objetividade . "Aqui, o grande ân -cora é o patrão. A minha responsabili-dade no Jornal Nacional não é maio rdo que a dele. "

Na volta do comercial, Cid Moreir aenche o peito, emposta a voz e dispa-ra: "Violência e tiroteio num assalto aum carro forte, no posto pagador d oBanco do Brasil, na Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro. Dezoito pes-soas ficaram feridas': Essa noticia abreo jornal desta noite.

O tiroteio do Rio começou a se

transformar numa notícia do JornalNacional por volta de meio-dia, duran-te uma reunião na sala de Alberico d eSouza Cruz, diretor de telejornais d erede da Globo, o homem da cúpul amais diretamente ligado à edição d ojornal . Todos os dias, nessa reunião, oeditor-chefe Fábbio Perez e os diversoseditores de área (Nacional, Política, In -ternacional, Economia, Esporte, Cul-tura, Ciência e Tecnologia) acertamcom Alberico o que vai compor o car-dápio do jornal e como as matérias se-rão servidas . No caso do assalto, po rexemplo, o problema era reconstituir a simagens da fuzilaria, já que o artistaque normalmente faz os desenhos es-tava de férias . Discutiu-se o substitu-to, o tratamento que a matéria deveriater e que ela abriria o jornal .

Para tomar as decisões de edição dojornal, Alberico e sua equipe apoiam -se no trabalho do Núcleo de Coorde-nação e Pauta, mais conhecido pelonome antigo: CPN, ou Central de Pro-dução de Notícias . E uma chefia de re -portagem tamanho-gigante, dirigid apor Wilson Serra e coordenada por Jo -sé Luís Chiarelli e Reinaldo Lichti, qu emonitora diariamente a produção d eno mínimo 25 das 63 emissoras da Re -de Globo e movimenta um batalhão derepórteres (só no primeiro semestre d e89, entraram 81 repórteres no JornalNacional) . O NCP, ou CPN, edita to -dos os dias um "Jornal da Pauta", es-pécie de protocolo de intenções ond eficam registradas as matérias que ca-da praça gostaria de ver no Jornal N_

1985

1989

IMPRENSA - AGOSTO 1989 49

Page 3: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

cional. Com base Boeing já segue a viagem em velocida-nesse pautão,a equi- de de cruzeiro e o ambiente na cabinepe vai tomando o se descontrai um pouco. No ar, Cid vaipulso de cada maté- informando os passageiros que "a Pre-

ria praticamente minuto a minuto, pa- vidência Social começa a vender osra ver o que embarcará de fato no imóveis que recebeu como pagament oBoeing ou ficará no hangar à espera de de dívidas e que eram usados indevi-outra aeronave (Jornal da Globo, Ho- dmmente".je etc.) .

Esta é outra matéria que ganhou vi -

Alberico Souza Cruz, 50 anos,30 de

da na reunião do meio-dia. Albericojornalismo, é um dos diretores de vôo

sustentou que a pauta deveria indaga rque tem o poder de decidir que maté-

se o dinheiro da venda dos imóveis se -rias o Boeing carrega. E exerce o po-

rd usado para cobrir o déficit da Pre -der em toda a sua extensão, da pauta

vidência . A orientação foi devidamen -ao texto final do jornal ("Me acusam

te anotada por Fábbio Perez e pelo edi -de ser um pouco centralizador", reco-

tor nacional Carlos Schrõder, que anhece). Deve-se a ele o plano de criar

transmitiram para o pessoal da CPNeditorias especializadas para o jorna-

checar, na "reunião da caixa" das 1 4lismo da Globo, experiência inédita no

horas. O nome dessa reunião vem dotelejornalismo brasileiro que começou

alto-falante de um sistema de rádio ins -há dois anos e meio. "A es e "zalpis ■■lalairn

das salas da CPN, comé necessária na Tyjpá

élhorar aqualidade da '

rmaçao", diz Alberi -co. "Ante o ministro da Fazenda,por exen o, quisesse passar uma in-formlo para alguém da Globo, nãotin a' um interlocutor especializado.

ra ele já tem . "Alberico é também - e antes de tu -

,ito - um repórter obsessivo . Ele dá de-zenas de telefonemas por dia, para tu -do quanto é fonte imaginável, para che -car o noticiário da Globo. Nada de im-portante vai ao ar sem que, de algu mmodo, ele tenha checado . Por isso mes -mo, Alberico tem horror de tomar fu-ros . "Levar um furo é uma coisa qu eme deixa profundamente irritado", di z

'

Iele e os subordinados confirmam ."Nós temos a obrigação de dar as no -tícias antes, temos uma estrutura mon -tada para isso. "

Depois da tensão da decolagem, o

pouco para muita matéria . Mas ele nãose abala em dar 30 segundos para u massunto transcendental .

"A importância da matéria não estáligada ao tamanho". acredita ele. "Asvezes, um assunto menos important eexige mais tempo que um assunto mai ssério." Fábbio também não leva par acasa a crítica de que o Jornal Nacio-nal trata superficialmente os assuntos ."As vezes, o que se critica como super -ficialidade é simplesmente não se de -morar em aspectos secundários, deta-lhes que não comprometem a com-preensão do assunto . "

Nos monitores do Boeing surge aimagem de um míssil americano Tri-dent II, lançado de um submarino. Sér-gio Chapelin informa que é um teste d omíssil mais poderoso dos Estados Uni-dos, enfim realizado depois de protes=tos do grupo ecológico Greenpeace. Euma bela imagem, mas bem menos

tali ►j cronante do que o pouso de u mavTi ssae roda esquerda, que deve-ria ter entrado antlloirlq,,(J : J csp maté-ria foi abatida por um míssil riuclearde Fábbio Perez antes do início do jor-nal, quando se constatou o estouro dotempo. Nem sempre, portanto, o espe-táculo é critério de notícia no JornalNacional .

Henrique Coutinho, 55 anos, 24 d eprofissão, editor internacional da Glo-bo, é o homem que faz chegar o mun-do a milhões de brasileiros . Ele coman -da um setor que mobiliza 40 pessoa sem três escritórios no exterior (Nov aYork, Washington e Londres) e conso -me seis dos 50 milhões de dólares doorçamento anual de custeio do jorna-lismo da Globo . Junto com o coorde-nador de operações Luis Carlos Sol, ele

o qual a i¢11o,,Rio comunica-se,numa teleconferênci , aiftir as váriaspraças que têm matérias prevllos ..pa-ra o Jornal Nacional. E um negócio detelejornal americano, que só a Globoutiliza entre as grandes redações brasi -leiras .

Depois da reunião da caixa - um achecagem geral dos sistemas de apoiodo Boeing, com ele ainda no chão -o passo seguinte é traçar o plano devôo. E aí entram em cena, mais direta -mente, o editor-chefe Fábbio Perez e osubeditor Edson Ribeiro. Por volta d e17 horas, eles já têm pronto o "espe-lho" (o rascunho, o roteiro) do que se -rá a edição: que matérias entram, co mque tempo e em que ordem . Não há u mesquema fixo de paginação do jornal ,mas Fábbio sempre abre com o noti-ciário nacional .

Seu grande problema - e o tormen-to dos editores - é o tempo, sempre

Redação taxiando e preparando a decolagem

cn

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é quem compra as imagens de um ter -remoto na Armênia, por exemplo, o upõe um repórter da Globo na Praça d aPaz Celestial, em Pequim .

A Globo recebe dez minutos diário sde notícias da agência de imagens Vis-news e tem um contrato com a CBSamericana, que lhe dá o direito de re-ceber material 24 horas por dia e utili -zar quanto quiser. Só essa compra d eimagens custa 300 mil dólares ao ano,para a Globo. Mas quando a editorainternacional do Jornal Nacional, Ma -ria Christina Pinheiro, coloca uma ma-téria em vôo no Boeing, os passagei-ros não imaginam como é complicad otrazê-la até ali . "A nossa margem d erisco é altíssima ", diz Coutinho. "Tra-balhamos sempre na dependência dehorários de avião, disponibilidade desatélites, condições técni *s ima-gens geradas e uma in da de pe-quenos detalhes q umeter o suce

opo6 m

ra Car os chrôder,ãoçediOrt> i

no, queacumusésém a editou 'de Esportes . Omais jo em dos editores da emissora ,ele precisa justamente de muita ener-gia para articular a produção de doi sblocos de notícias, que normalment eoferece ao Jornal Nacional. Schrõdertrabalha com uma oferta média de 1 5matérias por dia e assim como Couti-nho, depende de uma boa conjunçã oastral para que tudo dê certo e a edito-ra nacional do JN, Lúcia Santana, te-nha coisa boa para pôr no ar. "Umaboa matéria é questão de biorritmo d orepórter", Schrõder já aprendeu . "Seele não estiver num bom dia, não vaidar boa matéria de jeito nenhum."

O Boeing já passou da metade daviagem quando entra o noticiário po-lítico. Os candidatos presidenciais sur-gem em reportagens ou notas sintéti-cas, mas o deputado Guilherme AfifDomingos, não por acaso, ganha qua-se um minuto para cobrar explicaçõesdo governo sobre a política econômi-ca. Foi uma determinação do presiden-te da companhia, Roberto Marinho,aos diretores de vôo, no início do dia.Afif vai emplacar também a mancheteprincipal de O Globo, no dia 3 de agos-to.

As interferências de Roberto Mari-nho no noticiário não são um proble.tma para a equipe do Jornal NacOal .São um dado de realidade Omples-mente. Dono é dono,,m a e desman-da, e está acabado grande ânco-ra" do ChapeIVras o que enche bas-tante a p ifeia e testa a diplomaci ade $¢ae Carvalho, editor de Po -

Coutinho e Maria Cristina:três bases e US$ 6 milhões

,

compro-ção . "

0jiti da Globo, é o assédio dos pró -ito dtfer

pisos políticos. Sempre tem um queren -, ove de

do plantar uma notícia, em seu favo ral da Globo há

ou contra alguém . "Nós precisamos fa -4os últimos me- zer uma triagem cuidadosa para nã o

deixar passar torpedos", diz Carvalho,44 anos, 24 de imprensa. "O Jornal Na-cional pode maximizar um fato e nã opodemos deixar que isso aconteça . "

A Globo já trabalhou com um cri-tério matemático de eqüidade, no iní-cio da campanha presidencial, ma sagora só vira notícia quem fizer notí-cia . Isso vale mesmo para Collor deMello, o escolhido de Roberto Mari-nho . Vetos - asseguram todos - nãohá a ninguém, mesmo Brizola . Mas,para ele, há uma, digamos, "má von-tade oficial". A editora de Política doJornal Nacional, Olga Curado, 36anos, 13 de jornalismo, acha que s ó

¢

Moreira e Chapelin : retoques no trem de pous o

IMPRENSA - AGOSTO 1989 51

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não entra no Boeing quem é incompe-tente . "Não é mídia que faz a campa-nha", diz ela . "São os candidatos quegeram fatos e atraem a mídia . "

Mas choradeira das fontes e planta-ção de noticias não são privilégios ex-clusivos da editoria de Política . PauloHenrique Amorim, editor de Econo-mia da Globo, e Bruno Cartier, editorde Economia do Jornal Nacional, sãoperitos em escapar de armadilhas ."Ninguém liga para dar uma notíci aboa", diz Paulo Henrique, 45 anos, 2 5de jornalismo. "Quando liga, está que-rendo vender seu peixe." Mas tambémé verdade que as boas fontes não estã osempre disponíveis para a Globo, co -mo sugerem aqueles famosos telefone -mas de Paulo Henrique "ao ministro"."Ninguém atende de primeira . Só¢o quer dizer coisas que lhe inte -

re

ive a .ele.O noticiárió écm mico do Jornal

Nacional tem que ser rftC o, - idado-so para certas informaçõesuncaantecipamos nenhum aumento", diz ,por exemplo, Bruno Cartier, 32 anos ,15 de profissão. "Se dissermos que al -go vai aumentar, aumenta mesmo . "

O Boeing já está fazendo a aproxi-mação para o pouso. A última maté-ria é a vida e morte de Luiz Gonzag ae Sérgio Chapelin capricha no tom pa-ra falar do homem que "cantou, com oninguém, a vida, a terra, a alegria e atristeza do povo nordestino' : No meiode tocantes quatro minutos de imagem,surge o presidente José Sarney, louvan-do o rei do baião. E outra encomendaque o dono da companhia mandou co -locar na carga do Boeing.

Cultura, a editoria pilotada por Ma-ria Lúcia Rangel, que não revela a ida-

de mas tem 20 de profissão, é o pati-nho feio do Jornal Nacional. Raramen -te emplaca notícias e, quando conse-gue, é a primeira que pode cair, se otempo estourar. "Normalmente, a gen -te pega o JN quando morre alguém im -portante. O pessoal até brinca que nó ssomos a editoria de obituári o", lamentaela . Mas na luta para ganhar um luga rno Boeing, Maria Lúcia tem a compa-nhia de Fritz Utzeri, 44 anos, 21 de pro-fissão, o chefe da recente (fevereiro de89) editoria de Ciência e Tecnologia ."Meu problema é de encontrar um alinguagem para cobrir o setor", diz ele ."No Brasil, essa é a área da choradei-ra, da falta de recursos . Além disso,tem muito laboratório, muito avental ,muita pipeta. Se você não tomar cui-dado, pode fazer coisas chatérrimas" .

São 20h29 minutos e o Boeing aca-bou de pousar, sem nenhum incidentede percurso. A tripulação já pode res-pirar aliviada. Uma parte vai descar-regar a tensão no botequim mais pró-ximo e outra ainda vai fazer uma nov a"reunião da AJa" ara planejar o diaseguinte.

O Boeing, vinte anos depois de suacriação, já não é mais um Electra I Imetido a besta, mas também não che-ga a ser o Ônibus Espacial que todo simaginam . Tem problemas materiai scomo os outros telejornais (equipa-mentos insuficientes e obsoletos, po rexemplo. Ou falta deles . O telefax sófoi instalado na redação no final de ju -nho) e é feito por pessoas reais, nãomeros autômatos de Roberto Marinho.Alheios à mitologia e ao diz-que-dizque envolve o Jornal Nacional, milhõesde brasileiros recebem todos os dias asua ração de notícias servida pelos co -missários do Boeing . E gostam .

IMPRENSA - AGOSTO 198952

Page 6: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

CID (VIVO )

HILTON (VIVO)

HILTON (OFF)

HILTON (VIVO)

SLIDE 2 CID (OFF) 3

SLIDE CID (OFF )

HILTON (OFF)RODA PROJETO R 4

FILM ENEGATIVO/

SONOR O(SOM EM BG) 5

0 primeiroplano de vôo

Na norte de estréia, umadecolagem arriscada

em céu de nuvens pesadas

O Jornal Nacional estreou num dia excelente paraqualquer jornal : 1? de setembro de 1969, uma segunda -feira, foi o primeiro dia de poder da Junta Militar qu esubstituiu o presidente Arthur da Costa e Silva. Mascomo os tempos eram de ditadura, o jornal não pqdar uma cobertura decente ao grande fato - co

pode notar na leitura do script original,IMPRENSA publica com exclusividade, ilusst + .'. m as

imagens que foram ao ar.As outras notícias do pritl if r dia já são mais

e familiares . Aumento da gas . ' s , ,cri

untemédio e acidentes nas estradas, . •

plo, fre• ¢r•ntamassiduamente a pauta do Jo .

• nal . O que mudoumesmos nesses 20 anos, foram o : rasil e o próprio

jornal, que já era nacional, mas falava apenas para oRio, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. O JN cresceu

com o Brasil .

Os quatro médicos do presidente vão fornecerao Laranjeiras um boletim diário da saúde d omarechal . O de hoje informa que ele passo ubem à noite e que está em recuperação, mas nã o

Almirante Augusto Rader¡r, ministro d aMarinha .

General Lira Tav, ministro do Exército.

Desde ontem, às 9 e meia da noite, ,

s trê shomens estão governando o Brr

fala do prazo de convalescença .

+le

Marechal-d

Márcio de Souza e Melo, mi-nistro aeronáutica .

qeês chefes militares se reuniram hoje às 3a tarde, no Laranjeiras .

O almirante Rademaker sentou à cabeceira d amesa de despachos, precedência que os outro sdois membros concederam à Marinha por se ra Armada mais antiga das três forças milita -res . No despacho de hoje, foram assinados sei satos . Os primeiros ministros a despachar co ma junta foram o da Fazenda, o do Trabalho edo Exterior.

HILTON (VIVO) ' O Jornal Nacional da Rede Globo, um serviç ode notícias integrando o Brasil novo, inaugura -se, neste momento : imagem e som de todo oBrasil .

Ao sair, o ministro Delfim Netto anunciou pa-ra todo o Brasil pelo Jornal Nacional :

(NR - Perdeu-se o filme original; impossível sa-ber o que o ministro disse nessa noite . )

HILTON (VIVO) Agora, em transmissão ao vivo, diretamente d ePorto Alegre, a repercussão do Ato 12 na terrado presidente Costa e Silva. Alô Porto Alegre !

CID (VIVO) Dentro de instantes, para vocês, a grande esca -lada nacional de notícias .

VIDEO TAPE VT PORTO ALEGR E

(NR - Esta fita não foi arquivada . )COMERCIAL COMERCIAL COMERCIALHILTON (VIVO) O estado de saúde do presidente Costa e Silva ,

neste momento, é o seguinte :

Está melhor e se alimentando bem .

O presidente teve o primeiro sinal da crise cir-culatória quinta-feira, ainda em Brasília . Sen-tiu dor de cabeça e tonteira . Na sexta, chegouao Rio passando mal e foi examinado pelo clí-nico Mário Miranda, que convocou, imediata -mente, os neurologistas Abraão Ackerman ePaulo Niemeyer, que o assistem permanente-mente e que, domingo de noite, assinaram lau-do médico afirmando que o marechal Costa eSilva sofreu uma crise circulatória com mani-festação neurológica.

CID (VIVO)

HILTON (VIVO)

CID (VIVO )

HILTON (VIVO)

CID (VIVO)

Este são os primeiros atos dos três ministros mi -litares :

Abrindo um crédito especial de 544 mil cruzei -ros novos para auxílio funeral, no Ministéri odo Exército ;

Nomeando dois diretores do MEC ;

Exonerando Antonio Mastrocola da presidên-cia da Caixa Econômica de São Paulo e no -meando Marcelo Falcão;

Fixados novos preços para a gasolina :

-►

HILTON (VIVO )

CID (VIVO )

IMPRENSA - AGOSTO 1989 53

Page 7: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

t*-_.Rd-•4- -i , . ¢

A azul passa a 48 centavos e a comum, 39,1 ,em todo o Brasil.

E agora, no Jornal Nacional, em reportage mdireta, Curitiba, capital dos acidentes de trân-sito. Alô Paraná!

me, ele aparece simulando um combate com ocomediante Bob Hope, durante um espetácul ode caridade no Madison Square Garden, de No-va York .

LAPADA7

HILTON (VIVO)

CID (VIVO)

VIDEO TAP EPARAN Á

CID (V J

H bN (VIVO)

'

rCID (VIVO)

SÃO PAULODIRETO

%TON (VIVO)

VIDEO TAPE - 39"

allftirAgência Nacional divulgou hoje os úItimos

atos assinados pelo presidente Costa e Silva, an-tes de ficar doente.

Dentre esses atos está um decreto aposentand ovinte servidores federais, com base no Ato Ins-titucional n° 5. Os funcionários atingidos pas-sam a receber salários proporcionais ao temp ode serviço.

Pilotos das linhas aéreas internacionais amea-çaram deflagrar uma greve geral de 24 horas,caso a ONU não adote providências quanto a oseqüestro de um avião norte-americano que s edirigia para Israel e foi obrigado a descer e mDamasco .

O avião foi liberado pelo governo sírio e já che -gou a Telavive.

Golpe militar na Líbia : o Exército tomou o po-der e o príncipe herdeiro Hassan Al Rida re-nunciou ao trono, convocando o povo a apoia ro novo governo.

CID (OFF)SLIDE :

PAQUISTÃO8

HILTON (OFF)SLIDE : JAPÃO

HILTON (VIVO)

HILTON (VIVO)INSERT

TERMÔMETRO9

HILTON (OFF )RODA PROJETO R

FILM ENEG/MUDO

E vamos a um giro pelo mundo com as câma-ras da agência Visnews: chega ao Paquistão umacaravana de chineses, montados em camelos ,para comemorar a reabertura da Estrada da Se -da, que une os dois países através do Himalaia.O caminho foi descoberto no século treze, pe-

lo veneziano Marco Pólo, e estava fechado dest e

LAP

No Japão, lindas moças de 50 países preparam -se para disputar o título de Miss Beleza Inter -nacional, no dia 13 deste mês . A vencedora re-ceberá o título da brasileira Vera Lúcia Carva-lho, escolhida Miss Beleza Internacional no an opassado . Este ano, a concorrente brasileira éMiss São Paulo, Maria Lúcia Santos.

E atenção - Washington, urgente : porta-voz d oDepartamento de Estado afirmou hoje que asrelações entre o Brasil e os Estados Unidos per-manecerão inalteráveis durante o impedimen-to temporário do marechal Costa e Silva, po rmotivo de saúde.

Espírito Santo, Rio e Niterói vão ter, amanhã ,tempo bom com nebulosidade . No Espírito San -to, a temperatura fica na mesma e no Rio, on -de a mínima de 15,4 foi registrada no Alto daBoa Vista e a máxima chegou a 25,7 na Penha ,vai subir.

O alargamento da praia de Copacabana come-çou, hoje, com a abertura da vala para a gale -ria do interceptor oceânico. Com as obras, fo-ram interditados cem metros de praia, parar evi -tar problemas de trânsito na avenida Atlânti-ca.

CID (VIVO )

HILTON (VIVO )

CID (VIVO)

CID (VIs

HILTON (VIVO)

CID (VIVO)

(NR - Fita n o Meal&

ams

E prosseguimos a escalada nacional da notícia :Alô São Paulo!

SÃO PAULO DIRETO

Do telex internacional :

Um conselho revolucionário assumiu o control esituação, enquanto observadores internacio-r firmam que o golpe é de inspiração nas-

serisLibia é o terceiro produtor mundialde petró

Morreu em Was`g

onhecido comenta -rista internacional Drew i

ows 71 ano sde idade.

8144

Morreu também, em desastre de avião, o ex-campeão mundial dos pesos-pesados Rock yMarciano.

HILTON (OFF) Marciano viajava de Chicago para Des Moines,RODA PROJETOR Iowa, quando seu avião caiu . O ex-campeão

FILME completaria hoje 46 anos de idade. ComeçouNEG/MUDO a lutar como profissional em 1948 . Neste fil -

COMERCIAL COMERCIAL COMERCIAL

tr.4

n

54 IMPRENSA - AGOSTO 1989

Page 8: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

CID (VIVO) O emprego como alvo :

FILME SONORO

(NR - Filme não arquivado. )

Cerca de cinqüenta candidatas a guardas no Tri-bunal de Alçada da Guanabara fizeram, hojede manhã, a prova de tiro de revólver na Forta-leza de São João . Quem passar no concurso po-de vir a trabalhar nos presídios do Rio .

SOBE SOM SOBE SOM DO PROJETOR 1°

HILTON (VIVO) Responde a processo pelo acidente em que mor-reu a mãe de Elza Soares .

Pequenos consertos, pintura, jardins e instala-ção de antenas e elevatórias de água nos edcios estão isentos de licença prévia .

Pelé põe o visto de saida Q

porte do Brasilppra o México.

AURICO NRODA PROJETOR

FILME NEG/SONOR O

(Deixa : "alvo")

HILTON (OFF)

CID (VIVO )

HILTON (VIVO) A decisão foi tomada hoje pelortário deObras .

CID (VIVO )

CID (VIVO) O Rio em festa pela Semana da Pátria .

Com um desfile às nove horas da d'nóCampo do Botafogo, começouFi iro Cam-peonato Carioca Univer

itr e Futebol "In-dependência do B

', te reúne cinqüenta fa-culd

LAPADA

CID (VIVO) Garrincha vai depor amanhã em São João deMenti .

IMPRENSA - AGOSTO 1989

Dos 23 gols que a seleção do Brasil marcou na seliminatórias para a Copa do Mundo, este dePelé, no jogo de ontem, foi o mais importante :decidiu o jogo com o Paraguai por um a zer oe confirmou a ida do Brasil ao México, em 1970.Neste abraço está a consagração da tabelinhaTostão-Pelé e dos dois maiores artilheiros no ba-lanço final da campanha brasileira : Tostão mar-cou dez dos 23 gols e Pelé, seis . Nos assenta -mentos de Pelé, este foi o gol de número 979,o que lhe deixa a 21 da meta dos mil, um re-corde na história do futebol mundial .

A escalada nacional de notícias da Rede Glo-bo levou a vocês, hoje, imagens diretas de Por -to Alegre, São Paulo e Curitiba" . E tão log oa Embratel inaugure o circuito de Brasília, a ca-pital do país e Belo Horizonte começarão a in-tegrar, ao vivo, este serviço de notícias do pri-meiro jornal realmente nacional da tevê brasi-leira. E o Brasil ao vivo ai, na sua casa .Boa noite.

ENTENDA ESTE SCRIPTI - A notação "vivo" assinala que o locutor está no ar, falando para a câmara .2 - Nos tempos anteriores ao video tape, os telejornais eram ilustrados comfilmes e slides, entre outros recursos . Este é o sinal para a entrada de um slide.3 - "Off" significa que só se ouve a voz do locutor ; sua imagem está cobert apor um slide ou filme.4 - Notação para o diretor de TV disparar o projetor de filmes. No caso, paraum filme negativo, sonoro. Mas podiam ser também filmes mudos, ou positi-vos .5 - "Som em BG" = Som em Background, mais baixo que a voz do locutor.6 - Auricon é o nome de uma câmara cinematográfica sonora, muito grandee pesada, utilizada no inicio do telejornalismo.7 - "Lapada" é um efeito de passagem de uma imagem para outra, semelhanteao virar de uma página. Uma imagem sai por um canto da tela, outra entrapelo canto oposto.8 - Antes do Gerador de Caracteres, as mensagens escritas iam ao ar atravésde slides ou de cartões de letra set, sobrepostos nas imagens.9 - Com este comando, o diretor de TV corta para uma câmara que mostraum termômetro.10 - Aqui, o som do filme sai do "BG" e substitui a fala do locutor.I I - O Tronco Sul da Embratel, primeira linha de microondas instalada pel aempresa, unia apenas essas capitais ao Rio. As outras juntaram-se ao Jornal

Nacional mais tarde.

HILTON (OFF)RODA PROJETO R

FILM ENEG/MUDO

LAPADA

O hasteamento da Bandeira Nacional e a colo -cação de uma palma de flores pelo governadorNegrão de Lima no Monumento aos e,da'=Segunda Guerra marcaram, na ntllÏtdeiiC-"je, o início da Semana da Pátria, no Rio.

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CID (OFF )

•••

SOBE SOM SOBE SOM DO PROJETO R

HILTON (OFF )FILM E

NEG/MUD O

CID (VIVO)

HILTON (OFF )

CID (VIVO)

HILTON (VIVO) A promoção é da Associação Brasileira de Doa-dores Voluntários, dentro da Semanha da Pá-tria .

O fogo simbólico da Pátria foi levado, às dua se meia da tarde, à Estátua de Tiradentes, po ralunos da escola que tem como patrono o már-tir da Inconfidência Mineira.

Amanhã, de oito ao meio-dia, vai haver doa-ção de sangue no Monumento aos Mortos .

Os cento e quarenta e sete anos de liberdade d oBrasil estão contados, através de imagens e do-cumentos, na exposição Documentário Histó-rico da Independência, inaugurada hoje à tar -de no Museu da Imagem e do Som .

A homenagem a quem morreu por noss aindependência .

HILTON (OFF)RODA PROJETO R

FILM ENEG/MUD O

CID (VIVO)

55

Page 9: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

éChalgo que não falta na Rede Glo-bo de revisão. Para cada projeto desen-volvido, ht1a cadeia de comandante sque, reunido , ase chegam a ser em nú-mero maior que próprios comandados .Mas no jornalismo

lobo, entre chefe se mais chefes, há dois

comandam defato e direito toda a opera Armando

Armando - Falta brilho . Há um mes -Nogueira, 62 anos, 39 de proão dire-

mismo em todas as matérias, todas têm ator da Central Globo de Jornalismo;

li-

mesma objetividade fosca . E preciso acres -ce Maria, 44 anos, 23 de televisão, diretAkr ,Sentar um pouco de poesia no telejorna -ra-executiva de telejornalismo, são os pia-

gporque ninguém agüenta o massa -nejadores de vôo absolutos do Boeing e os

cre da lnforijã O espírito humano nã odois únicos - além de Cid Moreira - que

suporta tanta realfátldd ; já dizia o T. S. El -viajam nele desde a primeira decolagem .Nesta entrevista à IMPRENSA, eles escla-recem algumas questões que marcam o pas -sado e o presente do Jornal Nacional.

Imprensa - Quais os problemas que otelejornalismo da Globo ainda tem, agoraque o Jornal Nacional completa 20 anos ?

que apertam o cintoUma conversa com Armando Nogueira e Alic e

Maria: eles fazem o Boeing decolare comandam a tripulação para mantê-lo no ar

Imprensa - Por que vocês colocaram oJoelmir Beting de comentarista, este ano?Foi uma resposta a essa discussão sobre anecessidade de ter ancoradores no telejor -nalismo ?

Armando - Não foi uma resposta . Nósapenas sentimos a necessidade de dar mai sdensidade ao Jornal Nacional e uma ma-neira de fazer isso era usar pessoas mai sdensas, que tinham densidade em si . Essaspessoas - estou falando do Joelmir, da Li-lian Wite Fibe, do Paulo Henrique Amo -rim - foram sendo formadas por nós emoutro contexto, no Jornal da Globo. Nu -ma segunda etapa, nós os pusemos no Jor-nal Nacional, já com seu estilo definido,para dar mais densidade, mais credibilida -de, purificando mais o elenco de informa -ções que passamos . Agora, nós sentimosa necessidade de ter uma pessoa que entras -se com "pílulas" de esclarecimento a de -terminadas matérias. E a pessoa mais re -flexiva para isso é o Joelmir. Ele vem avan -çando não só no sentido de interpretar, mastambém de comentar e, eventualmente, d eopinar. Quanto à questão do âncora, e u

hot . Depois, tem o problema desii{o

acho que ela não leva a nada. O importan -que parece ser universal . As pessoas res

! é qualificar a informação. Se é com fu -tem a dar boas notícias . Não é nem dar boa

lano ou cow .beltrano, isso é apenas um anotícia, é dosar o jornal, porque a noss aequipe tem um tropismo natural pelas no-tícias catastróficas.

Alice - E uma deformação profissional,de anos de trabalho .

Imprensa - Que defeitos você vê no tex-to da Globo? Falta de estilo? Falta de cria-tividade?

Armando - Nosso principal problemaé a qualidade do texto. A qualidade visua lvem melhorando, mas o texto piorou .

questão de gosto pessoal .

Imprensa - O Jornal Nacional, sozinho,tem mais audiência do que todos os outrossomados . Isso é audiência dele mesmo ou,

Alice e Nogueira : milhares de horas de vô o

Os comandantes

Armando - Mas não é possível que agente não corrija isso. Ainda mais em setratando de televisão. Quando você 1ê u mjornal, você tem um comportamento psi-cológico completamente diferente do qu etem quando vê um programa de televisão,porque ali tem alguns elementos de emo-ção, e quase de comoção, que nos jornai snão tem. A chamada letra de forma emo-ciona, mas emociona num baixo relevo. Elatoca num limiar de excitação baixo dentrode você.

Alice - Dependendo do dia, você esco-lhe o que quer ler. Mas na TV, você nã otem essa chance. Você vê o que aparece.

Imprensa - Apesar das modificaçõe sque sofreu nesses 20 anos, o Jornal Nacio-nal tem basicamente o mesmo formato . Vo-cês nunca ficaram tentados em mexer nes-se formato? Dar mai< tempo às matérias ,por exemplo ?

Armando - Não . O JNtem que se aco-modar a um timing - que não é dele, é d aestação. A Globo tem um pulso, um pique,que começa nas chamadas e alcança asaberturas de novelas, a programação visual ,os intervalos . O JN não poderia destoardesse pique, sob pena de segurar a estação.Então, mesmo que tivéssemos 45 ou 60 mi-nutos, ainda assim o pique do 9N seltaomesmo .

Alice - A gente busca muito mais o pi -que psicológico. Nem todas as matérias temo mesmo tempo. Há notas de 20 segundos ,outras de um minuto e meio, ou até maté-rias longas, como esse perfil do Gonzagãono jornal de hoje, que tem quatro minu-tos. Se houver um assunto importante, oJN vai explorá-lo de ponta a ponta.

56 IMPRFNSA - A( ',OS7rl 19R0

Page 10: Televisão Uma viagem na janelinha do Boeing

como sustentam alguns estudiosos do as-sunto, é uma audiência residual da novel adas 7, à espera da novela das 8 ?

Armando - Já existe pesquisa sobre is-so. Um trabalho de alguns anos atrás dizi aque, numa audiência de 60%, 45% era mcativos do Jornal Nacional. Era gente qu eligou para assisti-lo.

Alice - Aí tem o seguinte, também .Quando começamos a ganhar do Repór-ter Esso, Iá por 1970, 1971, nós ganháva-mos por dois ou três pontos, por causa da snovelas. Elas é que estavam ganhando, nãoa gente. Mas aí surgia um grande fato e oRepórter Esso, que estava morrendo, ia l ápra cima . Quer dizer, ele tinha o seu públi-co, o público de notícias .

Armando - Aí o ponto é credibilidade ,que é uma coisa mais palpável no dia d ogrande acontecimento. Nesses dias, o JNsobe no mínimo 10 pontos. Esse é o públi -co latente, a reserva técnica para os gran -des acontecimentos . Um dos segredos d anossa trajetória feliz é que nunca defrau-damos o público. Sempre que houve umgrande fato, nós cobrimos bem e demos aele a dimensão que devia ter.

Imprensa - O Carlos Nascimeescre-veu um artigo para nós há algum tempo ,

or.criticando a falta de agressividade dos re-pórteres de TV brasileiros. Ele até susten-tou que o sujeito tem que ser um repórte rde TV e não um relator de VT (ver IM-PRENSA n° 21, página 18) . Como você svêem esse problema?

Armando - Nós aqui na Globo usamo sum conceito que é do Dan Rather. Ele dizque entrevista não é linchamento . Você nãoprecisa ser agressivo no tom .

Imprensa - Mas pode contraditar mai so entrevistado, contrapor idéias, discutir ,quando fica claro que o sujeito está enro-lando.

Armando - Mas isso só ocorre nas en-trevistas longas. No telejornalismo, vocênem bota a pergunta, para não perder tem-po. A edição às vezes nem deixa o telespec -tador perceber que o repórter fez uma per-gunta incisiva . Mas, de qualquer forma, nósdosamos muito esse comportamento . Lo -go que nós saímos do regime autoritário ,os repórteres queriam ir à forra . O touroera muito agressivo .

Alice - Depois, num jornal escrito, o lei -tor não sabe qual foi o tom da pergunta.Cada um lê à sua maneira. Na TV, se a per-gunta for muito agressiva, o espectadortambém pode se sentir agredido .

Armando - A televisão, do ponto de vis -ta da imagem, é uma lente de aumento, um ateleobjetiva . E do ponto de vista do áudio,é um auto-falante. O tom tem que ser mui -to bem dosado, senão fica uma coisa dis-torcida, discrepante . Por que os político snão agradam na televisão? Porque eles fa -lam com o mesmo tom do palanque, ou d atribuna, e às vezes, num tom arrogante co mque falam na sua mesa de trabalho, ond eestão sentados em cima de seu status .

Imprensa - Falando em políticos : com oé administrar as pressões, no jornalismo d aGlobo? E pressão o tempo inteiro?

Armando - É. Você recebe pressão d ecima e de baixo, e exerce pressão para tod olado. Isso aqui é uma centrífuga .

Imprensa - Qual a pressão, ou a quei-xa mais comum? Que o sujeito foi maltra-tado, que não teve espaço, que não foi ou -vido?

Armando - É tudo isso. Os político snão só querem aparecer como não quere mque os outros apareçam. A TV Globo nas-ceu debaixo das estrelas e das esporas do sgenerais de cavalaria . Há anos ela vem pa-decendo de um diálogo penoso com o Es-tado. Nós temos pouca experiência de fa-zer televisão numa sociedade aberta . Mas ,nesse pouco tempo, já dá para perceber quefloresce aos poucos uma espécie de senamento da cidadania, porque a cidade semanifesta através não só da cobrança d oEstado, mas também da cobrança de ou-tras entidades que tenham a ver com a po-pulação e com a televisão. São as associa-ções de classe,,as associações de bairro, dedonas de casa, que começam a exercer umpouco o seu papel de consciência da cida-

vdania. Acho que isso contribui para o aper-feiçoamento da televisão, porque ela só es-tará cumprindo seu papel quando estiver ri-gorosamente afinada com a sociedade.

Imprensa - Mas o Jornal Nacional, eo jornalismo da Globo, são muito critica-dos justamente porque não estariam afina -dos com a sociedade. Comos vocês recebe messas críticas? Vocês se sentem injustiçados ?

Armando - Eu sinto que a mídia, e mparte por desconhecimento do veículo e e mparte por preconceito, exerce contra a Re -de Globo uma crítica desprimorosa, desres -peitosa, ofensiva a seus profissionais .

Imprensa - Mas quando se critica o go-vernismo da Globo, o adesismo, você nor-malmente diz : "Nós fomos tão censuradosquanto os outros, não pudemos dar certascoisas porque fomos censurados". Isso é fa -to, mas é fato também que, durante o pe-ríodo de exceção, a casa foi simpática a oregime. Isso não influenciou o jornalismo?

Armando - Pelo contrário. O que é acasa?

Imprensa - O dr. Roberto Marinho . . .Armando - O dr. Roberto Marinho não

é a casa . A casa é dele, mas ele não é a ca-sa . Nós recebíamos aqui os censores do IExército como quem recebe uma doençacontagiosa, da qual não se pode livrar . Masnós pretendíamos ter o corpo e a alma fe-chados para não aceitar a intromissão de-les na nossa consciência . Nós não criáva-mos pretextos para atritos, mas nunca do-bramos a cabeça para um oficial do SNI .Eles tiravam ter, mas isso era problemadeles, porgg¢¢e'ftós sempre tentávamos pô rno ar. FoilMa convivência muito mais atri-tadtuito mais sofrida do que parece ao s

estão de fora .(Alice- O Armando foi convocado a de-por na polícia algumas vezes e eu fui cha-mada de comunista . O Luiz Edgar de An-drade (NR - Ex-editor da Globo) foi cha-mado também .

Armando - A Alice foi chamada de co-munista e foi ao DEOPS fazer um depoi-mento . Aliás, ela foi levada pessoalment epelo dr. Roberto, a meu pedido. E eu nãoconseguia sair do país, tinha de penar se-manas e semanas para conseguir um visto ,porque diziam que eu era cabeça de pont edo Partido Comunista da Albânia no Bra-sil .

Alice - Era uma coisa louca. Um lad onos acusava de ser conivente e o outro pres-sionava porque não éramos coniventes .

Armando - A Rede Globo é obra deseus profissionais . Eles que fizeram o fe-nômeno.

Imprensa - Para concluir : qual o pape lque o Jornal Nacional exerce hoje no Bra-sil?

Armando - O que me preocupa real -mente nesse retorno do nosso país à convi-vência democrática é que o Jornal Nacio-nal possa refletir a pluralidade, os anseio sda sociedade brasileira . Um programa co mo Jornal Nacional, com a tradição e o al-cance que tem, deixará muito mais felize sos seus profissionais quando puder refleti ruma sociedade com plena consciência dasua cidadania . Eu tenho certeza que o Jor-nal Nacional é hoje um patrimônio da so-ciedade brasileira .

Alice, a repórter.. . . ..e Armando (centro) : o iníci o

NIIISEEVIMPRENSA - AGOSTO 1989 57