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TECNOLOGIAS Tema de Capa 20 Pedra & Cal n.º 30 Abril . Maio . Junho 2006 Ao criarem-se mecanismos tecnoló- gicos que estabeleçam a ligação en- tre os organismos e as entidades pú- blicas e privadas que possuem o know how e contribuem para o in- cremento da Investigação e Desen- volvimento (I&D), estão criadas as condições para que estas possam in- teragir nas diversas áreas, possibili- tando um mais fácil acesso ao públi- co em geral e aos especialistas em particular, às diferentes áreas do sa- ber [1]. AS TECNOLOGIAS.... Os mercados de consumo e entrete- nimento são, hoje em dia, os líderes no desenvolvimento e aplicação das últimas tecnologias informáticas. Todos os dias, a televisão é palco de um novo anúncio, vídeo–clip, ou documentário que beneficia directa- mente das tecnologias desenvolvi- das. Igualmente, a sétima arte esta- belece, a cada filme, os novos limites da computação. Os jogos ditam o passo na performance dos computa- dores e definem a nova Era das so- luções gráficas, acelerando o desen- volvimento da Internet e platafor- mas associadas. O Google-Earth é tal- vez o exemplo mais pertinente: um motor de buscas geo-referenciado disponível a todos os que tenham acesso à Internet, permitindo buscas espaciais e análises sobre um mode- lo tridimensional do planeta, foto re- alista e recheado com modelos 3D! Esta foi a forma como a Google rede- finiu os horizontes dos Sistemas de Informação Geográfica. A publicação de Sistemas de Infor- mação baseados em modelos tridi- mensionais foto-realistas navegáveis permite a divulgação do património cultural com o objectivo de o dar a Tekhnologia 1 Sistemas de Informação e Património Cultural Levantamento Arquitectónico do Forte da Cidadela de Cascais: modelo tridimensional em ambiente de trabalho – wireframe, imagem do modelo geométrico poligonal, imagem do modelo final texturado com os ortofotos. Na sociedade actual, em que o conhecimento é um bem de valor inestimável, a criação de ferramen- tas que permitam a sua sedimentação, divulgação e democratização, bem como o fácil e rápido aces- so ao mesmo, é uma necessidade.

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TECNOLOGIASTema de Capa

20 Pedra & Cal n.º 30 Abril . Maio . Junho 2006

Ao criarem-se mecanismos tecnoló-gicos que estabeleçam a ligação en-tre os organismos e as entidades pú-blicas e privadas que possuem oknow how e contribuem para o in-cremento da Investigação e Desen-volvimento (I&D), estão criadas ascondições para que estas possam in-teragir nas diversas áreas, possibili-tando um mais fácil acesso ao públi-co em geral e aos especialistas emparticular, às diferentes áreas do sa-ber [1].

AS TECNOLOGIAS....

Os mercados de consumo e entrete-nimento são, hoje em dia, os líderesno desenvolvimento e aplicação dasúltimas tecnologias informáticas.Todos os dias, a televisão é palco deum novo anúncio, vídeo–clip, oudocumentário que beneficia directa-mente das tecnologias desenvolvi-das. Igualmente, a sétima arte esta-belece, a cada filme, os novos limitesda computação. Os jogos ditam opasso na performance dos computa-dores e definem a nova Era das so-luções gráficas, acelerando o desen-volvimento da Internet e platafor-mas associadas. O Google-Earth é tal-vez o exemplo mais pertinente: ummotor de buscas geo-referenciadodisponível a todos os que tenhamacesso à Internet, permitindo buscasespaciais e análises sobre um mode-

lo tridimensional do planeta, foto re-alista e recheado com modelos 3D!Esta foi a forma como a Google rede-finiu os horizontes dos Sistemas deInformação Geográfica.

A publicação de Sistemas de Infor-mação baseados em modelos tridi-mensionais foto-realistas navegáveispermite a divulgação do patrimóniocultural com o objectivo de o dar a

Tekhnologia1

Sistemas de InformaçãoePatrimónio Cultural

Levantamento Arquitectónico do Forte da Cidadela de Cascais: modelo tridimensional em ambiente de trabalho –wireframe, imagem do modelo geométrico poligonal, imagem do modelo final texturado com os ortofotos.

Na sociedade actual, em que o conhecimento é um bem de valor inestimável, a criação de ferramen-

tas que permitam a sua sedimentação, divulgação e democratização, bem como o fácil e rápido aces-

so ao mesmo, é uma necessidade.

Pedra & Cal n.º 30 Abril . Maio . Junho 2006

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conhecer, enquanto bem cultural uni-versal, de forma a que esteja ao alcan-ce de todos, contribuindo para a de-mocratização do saber e para a cons-ciencialização do cidadão comumquanto à importância cultural do edi-ficado e da sua manutenção [2].

...E O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓ-NICOHá muito que o património deixoude ser visto apenas de uma formapassiva, como registo cultural deum determinado povo, para passara ser visto, também, de uma formaactiva e integrante da nossa socieda-de. Assim, importa destacar a im-portância desse legado e utilizar es-se conhecimento para a manutençãoe conservação do edificado existen-te e futuro.

Levantamento do existenteAfotografia digital veio revolucionara capacidade de documentar visual-mente, e sem limites, todo o processode levantamento e elevou a Fotogra-metria ao estatuto digital, permitin-do a produção de desenhos técnicoscotados até ao pormenor pretendido.Não menos importante é a implemen-tação das últimas tecnologias lasernos aparelhos de medição, como as es-tações-totais da topografia, que agorasão capazes de fornecer medições comuma precisão milimétrica.

As comunicações móveis e o “Sistemade Posicionamento Global” (GPS) aju-dam à geo-referenciação e tornam pos-sível a comunicação em tempo real en-tre a equipa de campo e a de gabinete.

Representação e registo da informaçãoO grande desafio da actualidade é agestão de toda a informação geradapelos processos de levantamento eaquisição de dados.Para os dados vectoriais são usadosprogramas CAD com avançada ca-pacidade 3D. É hoje possível execu-tar um levantamento tridimensionalde rigor milimétrico, produzir ummodelo virtual e publicá-lo de umaforma foto-realista para que possaser “visitado” em ambiente virtual.Está, também, aberta a possibilida-de de proceder à análise formal domodelo para os mais variados fins,usando apenas as plataformas mul-timédia de publicação, tais como aInternet ou o DVD.Muitas vezes, a documentação pro-vém de diferentes disciplinas que seencontram num mesmo projecto.Convergir e unificar a informaçãodisponível e recolhida é fundamen-tal para que se tomem as decisõescorrectas. Depois de constituído ealimentado, o poder de gestão e aná-lise de dados fornecido por um SIG,é ímpar na sua capacidade de dar in-formação multidisciplinar.

Manutenção e monitorizaçãoAevolução dos sistemas de redes desensores permite, hoje em dia, con-siderar a monitorização através deum sistema de informação em 4D.Uma rede de sensores, criteriosa-mente distribuídos pelo monumen-to, comunica leituras em tempo real

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Levantamento Arquitectónico do Forte de Cascais (pormenor da porta principal): modelo tridimensional em ambiente de trabalho – wireframe, imagem do modelo geométricopoligonal, imagem do modelo final texturado com os ortofotos.

Modelo tridimensional de Seia:modelo tridimensional em ambiente de trabalho – wire-frame, imagem do modelo geométrico poligonal, ima-gem do modelo final em sistema de visualização tridi-mensional interactiva.

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para um Sistema de Informação tri-dimensional fazendo com que estevarie no tempo, acrescentando as-sim a quarta dimensão.

Simulação e ensinoA criação de infra-estruturas tecno-lógicas de informação permite, alémda divulgação e do fácil acesso aoconhecimento, a elaboração de con-teúdos multimédia que resultam emmecanismos de estudo e análise pa-ra estudantes e técnicos das diferen-tes áreas abrangidas. Uma das áreasonde se tem evoluído nesta relaçãoinformação – tecnologia – indiví-duo, é a área do Património Arqui-tectónico e Arqueológico [1]. Um exemplo prático deste tipo deaplicação é o projecto Urbanatur, de-

senvolvido pela Oz e promovido emparceria com o GECoRPA, cujo ob-jectivo é proporcionar aos váriosgrupos profissionais do sector daconstrução uma formação no seg-mento da reabilitação do edificado eda conservação e restauro do Patri-mónio Arquitectónico. O projectoUrbanatur recorre a ferramentas pe-dagógicas avançadas e adaptadasaos níveis de qualificação dos desti-natários.Destas ferramentas, pode destacar--se a utilização de maquetas virtuaistridimensionais e interactivas quepermitem ao formando quer oconhecimento profundo das técni-cas de reabilitação, quer das partesconstituintes das construções, per-mitindo uma compreensão e asso-

ciação fácil entre o legado e a ino-vação tecnológica. As maquetasapresentam-se como um modelo tri-dimensional manuseável, onde épossível, através da interacção di-recta com os aspectos formais e fun-cionais do modelo, obter uma expe-riência “tangível”.

CONCLUSÃOCom o recurso a técnicas digitaisabriram-se novos horizontes e pos-sibilidades em diferentes áreas deintervenção [3] que permitirão, nofuturo, criar plataformas de e-lear-ning, tendo em vista a formação detécnicos na área do património, deestudantes de Engenharia, Arqui-

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Exemplos de maquetas virtuais tridimensionais e interactivas, usadas como ferramentas de aprendizagem para oconhecimento de técnicas de reabilitação.

Levantamento Arquitectónico da Vila de Marvão, totalmente realizado em 3D e publicado em filme em temporeal, através de Internet.

Casa Irene Rolo: modelo tridimensional em ambien-te de trabalho – wireframe, imagem de modelo geo-métrico poligonal, imagem do modelo final em filmeinteractivo.

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tectura e de cursos técnico-profissio-nais e colmatar, desta forma, uma la-cuna grave de componente práticano actual sistema de ensino.Nestas condições, ao garantir-se opleno acesso ao património cultu-ral, abrir-se-ão novas perspectivasde intercâmbios culturais a nívelglobal, que permitirão uma rápidae eficaz interligação entre as diver-sas entidades e grupos de investi-gação, e, consequentemente, o sur-gir de novos instrumentos para aconservação preventiva, processosde intervenção e ferramentas decatalogação e divulgação; além dadinamização do tecido empresa-rial e industrial das áreas abrangi-das e o incremento social, com oaparecimento de novos registosprofissionais e uma maior eficáciana salvaguarda e protecção do pa-trimónio.

Referências Bibliográficas[1] Livro Verde para a Sociedade da Informação emPortugal, aprovado pelo Conselho de Ministros, nodia 17 de Abril de 1997, Direcção-Geral de Inovaçãoe de Desenvolvimento Curricular;

[2] Marcos, A., Bernardes P., Fontes, L., “MultimediaKiosks and the Ancient Times: an Archaeological Re-construction and History of Braga's Cathedral”, inComputer graphics TOPICS, 1999, vol. 11(5), pp. 21-23 (ISSN: 0936-2770);

[3] Arnold, David, “Computer Graphics and Archae-ology: Realism and Symbiosis”, Proceedings of ACMSIGGRAPH and EUROGRAPHICS Campfire onComputer Graphics and Archaeology, Salt Lake City,USA, May 2000;

Solomon, Anne, “Visualising African prehistory”,Proceedings of ACM SIGGRAPH and EUROGRA-PHICS Campfire on Computer Graphics and Archae-ology, Salt Lake City, USA, May 2000.

Notas1 – A origem da palavra Tecnologia vem do gregotekhno, de techne (técnica) que expressa arte ou habi-lidade e log(o) que significa palavra, estudo, trata-mento ou conhecimento.

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ANA CRAVINHO, Arquitecta, Oz, Ld.ªPAULO DE OLIVEIRA, 3D HELPS

Levantamento Arquitectónico da Vila de Marvão: imagem do modelo geométrico poligonal e imagem do modelo final em filme.

Casa Irene Rolo (seccionada por pisos): modelo tridi-mensional em ambiente de trabalho – wireframe e ima-gem do modelo geométrico poligonal.