tecnologias digitais e modelagem matemÁtica naxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf ·...

18
 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO     Resumo Este artigo apresenta e analisa uma prática de iniciação científica desenvolvida a partir da utilização de modelagem e tecnologias digitais na realização de projetos de pesquisa básica como meio de estimular a arte da pesquisa. O estudo empírico foi desenvolvido em uma instituição pública agrícola do sul do Brasil, na qual estudantes do Ensino Médio desenvolvem trabalhos de pesquisa no ambiente escolar, durante um ano letivo. Os dados, coletados por meio da observação dos fazeres destes estudantes, diários de campo, artigos finais e do material de socialização, foram analisados utilizando os procedimentos de Análise Textual Discursiva, o qual destacou três categorias. Os resultados apontaram que o uso das tecnologias digitais potencializa o trabalho de modelagem matemática, e, ambas articuladas com discussões vinculadas à realidade dos projetos desenvolvidos promovem aos estudantes: motivação no aprender e no pesquisar; o uso de normas técnicas na escrita; autonomia; reflexão e conhecimento para a expressão de suas ações e a própria matemática.   Palavraschave: Modelagem. Tecnologias digitais. Projeto. Iniciação científica Jr   Morgana Scheller IFC ‐ Câmpus Rio do Sul [email protected]          

Upload: dangdat

Post on 03-Jan-2019

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO    

 

Resumo Este  artigo  apresenta  e  analisa  uma  prática  de  iniciação científica desenvolvida a partir da utilização de modelagem e tecnologias digitais na realização de projetos de pesquisa básica como meio de estimular a arte da pesquisa. O estudo empírico  foi  desenvolvido  em  uma  instituição  pública agrícola  do  sul  do  Brasil,  na  qual  estudantes  do  Ensino Médio  desenvolvem  trabalhos  de  pesquisa  no  ambiente escolar,  durante  um  ano  letivo.  Os  dados,  coletados  por meio da observação dos fazeres destes estudantes, diários de  campo,  artigos  finais  e  do  material  de  socialização, foram  analisados  utilizando  os  procedimentos  de  Análise Textual  Discursiva,  o  qual  destacou  três  categorias.  Os resultados  apontaram  que  o  uso  das  tecnologias  digitais potencializa  o  trabalho  de  modelagem  matemática,  e, ambas  articuladas  com  discussões  vinculadas  à  realidade dos  projetos  desenvolvidos  promovem  aos  estudantes: motivação  no  aprender  e  no  pesquisar;  o  uso  de  normas técnicas  na  escrita;  autonomia;  reflexão  e  conhecimento para a expressão de suas ações e a própria matemática.   Palavras‐chave: Modelagem. Tecnologias digitais. Projeto. Iniciação científica Jr  

 Morgana Scheller 

IFC ‐ Câmpus Rio do Sul [email protected] 

     

 

 

 

 

Page 2: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

X A

nped Sul

1. O início do caminho 

A pesquisa escolar deve ocupar espaço cada vez mais amplo nas  instituições de 

ensino,  vista  ao  desenvolvimento  de  competências  e  habilidades  que  possibilitem  ao 

estudante  o  desenvolvimento  de  objetivos  educacionais  de  distintos  níveis,  tanto 

conceituais, como procedimentais ou atitudinais. No ensino de Matemática, a disciplina 

deve  extrapolar  o  caráter  instrumental,  colocando‐se  como  ciência  com  caráter  de 

investigação,  cujo  papel  é  de  integrar‐se  às  demais  ciências.  Já  na  educação  básica  se 

busca  desenvolver  “estratégia  do  aprender  a  aprender,  saber  pensar,  compreender  a 

realidade globalmente, avaliar processos sociais e produtivos, discutir e realizar qualidade 

da cidadania e produção” (DEMO, 2009, p.85). 

Dessa  forma  o  ensino  de  matemática  deve  priorizar  a  construção  do 

conhecimento;  conhecimento  adquirido  por  meio  de  processos  investigativos, 

construtivos e não apenas instrutivos. Um estudante, bem mais do que dominar técnicas 

e  estratégias  de  cálculo,  precisa  desenvolver  a  iniciativa  e  o  senso  criativo  para  saber 

adaptá‐lo  a  diferentes  contextos,  usando‐as  adequadamente  em  momento  oportuno 

(BRASIL, 2008). Pois "nós somos, enquanto organismos que se adaptam e que resolvem 

problemas,  motivados  a  responder  ao  nosso  meio  ambiente  e  alcançar  objetivos  e 

finalidades" (GEORGE, 1973, p. 29). 

Aprender  matemática  e  paralelamente,  aprender  a  pesquisar  com  auxílio  de 

tecnologias digitais, softwares, computadores, internet, faz com que estes adquiram uma 

importância  natural  como  recursos  que  permitam  a  abordagem  de  problemas  cujos 

dados reais requerem habilidades de seleção e análise. Nesse sentido, é mister propiciar 

ao  estudante  oportunidades  para  o  desenvolvimento  de  habilidades  relacionadas  à 

representação,  compreensão,  comunicação  e  pesquisa,  como  também  a 

contextualização sociocultural, independente da disciplina ou do contexto. A escola pode 

contribuir  estimulando  o  estudante  a  fazer  pesquisa,  tanto  no  espaço  da  sala  de  aula 

como  fora dela. Como defende Demo  (1996), pode  ser uma oportunidade de  iniciar os 

primeiros passos na arte da pesquisa, despertar no estudante a curiosidade, a autonomia 

na busca de informações e, por fim, a expressão de ideias. 

Page 3: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.3 

 

X A

nped Sul

Segundo Hamson e Lynch (1998), a atividade  investigativa destaca a essência do 

projeto. Essência esta que consiste na arte de proporcionar ao estudante pesquisador a 

oportunidade de desenvolver pesquisa sobre algum tema que é de seu interesse.  Dessa 

forma,  possibilita  levá‐los  a  apreciar  as  estratégias  variadas  para  a  solução  de  um 

problema  de  seu  contexto,  a  aprender  a  traduzir  as  relações  entre  as  variáveis  do 

problema em equações, a exercitar a habilidade de traduzir os resultados e modelos em 

linguagens  adequadas  para  a  compreensão  geral  e  a  desenvolver  competências  na 

expressão escrita e oral de seus resultados.  

Dessa maneira, professores e estudantes podem compartilhar tarefas percorrendo 

caminhos  que  culminam  no  desenvolvimento  de  habilidades  e  aprendizagem  de 

conceitos  científicos,  por meio  do  desenvolvimento  de  projetos  de  pesquisa.  Como  a 

modelagem matemática  tem abordagem  relacionada com projetos, estes  têm  recebido 

significativas contribuições nos últimos anos das tecnologias digitais como suporte. Várias 

práticas  de  pesquisa  nesse  sentido  já  foram  realizadas. Mencionamos  as  pesquisas  de 

Araújo  (2002),  Diniz  (2007),  Borba  e Malheiros  (2007),  Franchi  (2007),  Santos  (2008), 

Malheiros  (2008) e Borba e Villareal  (2005), cujas pesquisas, envolveram modelagem e 

TIC objetivando compreender e analisar práticas de modelagem e tecnologias digitais na 

sala  de  aula,  seja  na  forma  de  atividades  ou  de  projetos  desenvolvidos  em  níveis 

diferentes  de  ensino  com  propósito  de  explorar  conteúdos  matemáticos,  ou  seja, 

aprender  matemática  e  não  necessariamente  desenvolver  habilidades  relacionadas  à 

pesquisa.  

Baseados nos estudos  recentes envolvendo Modelagem e  tecnologias digitais, e 

tendo  como premissa que os estudantes  tornam‐se mais  interessados em aprender ao 

realizar  pesquisa,  o  estudo  objetiva  apresentar  e  analisar  uma  prática  de  Iniciação 

Científica no Ensino Médio de Escola Agrícola na busca de potencialidades da utilização 

de  tecnologias  digitais  na  modelagem.  Para  tanto,  a  seguir  apresenta‐se  um  esboço 

teórico utilizado para a contextualização do estudo; seguido dos aspectos metodológicos 

que  serviram  de  orientação,  fundamentação  do mesmo,  os  dados,  os  conhecimentos 

manifestos e latentes do estudo. 

 

Page 4: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

X A

nped Sul

2. O aporte teórico da pesquisa: da modelagem às tecnologias digitais  

Biembengut (2004) concebe a modelagem como um conjunto de procedimentos 

necessários para fazer um modelo cujo processo pode ser utilizado em qualquer área do 

conhecimento.  Já  para  Bassanezi  (2006),  seja  como  estratégia  de  ensino  ou método 

científico,  a  modelagem  é  um  processo  que  envolve  teoria  e  prática,  levando  o 

pesquisador a interagir e entender a realidade que está inserida na investigação, podendo 

ter como consequência a ação sobre ela visando transformações.  

No  contexto  da  Educação,  Biembengut  (2004)  define  a modelagem  como  um 

método de pesquisa utilizado, em particular nas Ciências. Destaca que os procedimentos 

da  modelagem  são  essencialmente  os  mesmos  presentes  nas  etapas  da  pesquisa 

científica,  defendendo‐os  como  método  de  pesquisa  na  Educação.  O  propósito  é 

incentivar  e  envolver  os  estudantes  a  fazer  pesquisa  e  ao  mesmo  tempo  aprender 

matemática,  podendo  ser  utilizada  em  qualquer  fase  da  escolaridade.  Para  tanto, 

Biembengut (2013) agrupa em três os procedimentos da modelagem: 

‐ 1ª fase  ‐ Percepção e apreensão: nesta fase ocorre o reconhecimento e delimitação do 

problema;  bem  como  a  familiarização  com  o  assunto  a  ser modelado,  que  consistirá 

posteriormente num referencial teórico; 

‐ 2ª  fase  ‐ Compreensão e explicitação: após  realizada a  inteiração com o tema,  faz‐se a 

formulação do problema, elaboram‐se questões e apontam‐se hipóteses; posteriormente 

realizando a formulação do modelo; 

‐ 3ª  fase  ‐ Significação e expressão: a  resolução do problema é desenvolvida a partir do 

modelo  e  interpretação  da  solução  encontrada.  Consiste  numa  avaliação  do  modelo 

procurando verificar se o mesmo é ou não válido, assim como a expressão do processo e 

do resultado.  

Nas últimas décadas, assim como a modelagem, as  tecnologias digitais,  também 

destacaram‐se  quando  o  objetivo  é  a  busca  do  conhecer  e  interpretar  um  fenômeno, 

visto  que  devido  a mesma  há mais  e melhores maneiras  de  se  aprender.  Lévy  (1993) 

destaca que a mídia  informática cria condições para mudanças qualitativas na educação, 

qualidade esta referente como sendo a que surge do coletivo, com a formação das redes 

Page 5: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

X A

nped Sul

e da inteligência vista como um processo em que se incluem vários saberes. Para Papert 

(1985), ao pensar no uso de computadores aliado ao uso de projetos, só percebe que isto 

agrega qualidade à aprendizagem,  se quem executa o projeto, o  faz de posse de  seus 

interesses  e  vontades.  Pondera  que  “[...]  tecnologia  não  é  a  solução,  é  somente  um 

instrumento  (p.  2).”  Logo,  práticas  escolares  de  modelagem  podem  tê‐la  como 

instrumento e potencializar a pesquisa na educação, como defende Brasil (2008). 

Para  Moran,  Masetto  e  Behrens  (2000),  a  internet  facilita  a  motivação  dos 

estudantes, pela novidade e pelas possibilidades  inesgotáveis de pesquisa que oferece. 

Ela  ajuda  a  desenvolver  a  intuição,  a  flexibilidade  mental  e  a  adaptação  a  ritmos 

diferentes. No contexto da modelagem, Blum e Niss  (1991) afirmam que as TIC, usadas 

nos  trabalhos  de  Modelagem,  não  só  facilitam  a  resolução  de  problema  como  são 

indispensáveis para validação do modelo matemático. Borba  e  Penteado (2001) por sua 

vez  consideram  que  a  informática  facilita  as  visualizações  de  modelos,  possibilita  o 

surgimento  de  conjecturas  e  podem  levar  à  descobertas.  Destacam  que 

os  computadores  reorganizam  o  pensamento e contribuem para modificar as práticas 

do  ensino  tradicional.  Já  Araújo  (2002)  confirma  estas  informações  expondo  que  a 

interação entre estudantes e as TIC possibilita novas vertentes da pesquisa, assim como a 

interação da modelagem e da tecnologia possibilita a exploração de situações problemas 

em que o mesmo participa ativamente do processo.  

 

3. Os caminhos da pesquisa: do contexto ao método 

Em relação ao espaço empírico, o estudo foi realizado numa instituição pública de 

Ensino  Técnico  Integrado  localizada  no  sul  do  Brasil,  durante  o  desenvolvimento  de 

quatro  projetos  de  pesquisa  em  que  estudantes  iniciavam  a  arte  da  pesquisa. 

Desenvolvido no espaço escolar, sete estudantes da 2ª e 3ª série do Ensino Médio, cuja 

faixa  etária  é  15  à  17  anos  de  idade,  realizaram  seus  projetos  integrando  as  áreas  de 

agropecuária, matemática  e  informática.  Estes  projetos  utilizaram  a modelagem  como 

método de pesquisa para o estudo de fenômenos/problemas existentes em outras áreas 

do conhecimento e relacionados ao cotidiano do seu curso, sendo as tecnologias digitais 

um recurso para o desenvolvimento da pesquisa.  

Page 6: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

X A

nped Sul

A  instituição parte da premissa de que um ensino no qual o estudante  sente‐se 

interessado e envolvido, num movimento de buscar respostas para aquilo que não está 

em seu interior assimilado e acomodado, propiciará não só o desenvolvimento de espírito 

investigativo, mas  também,  de  atividades  voltadas  para  a  compreensão  da  realidade 

sócio‐econômica‐cultural, buscando soluções para problemas/curiosidades.  

No contexto desta instituição de ensino se inseriu o presente estudo de natureza 

qualitativa,  que  segundo  Bogdan  e  Biklen  (1994)  é  uma  tentativa  de  compreensão 

detalhada  dos  significados  e  características  de  situações  apresentadas  pelos 

investigadores,  os  quais  são  os  responsáveis  por  recolher  os  dados.  No  estudo 

qualitativo,  o  pesquisador  interessa‐se  por  investigar  o  problema  em  seu  ambiente 

natural  considerado  como a  fonte direta dos dados,  tais  como eles  se manifestam nas 

atividades, nos procedimentos e nas interações entre investigador e sujeito da pesquisa. 

Trata‐se de um  estudo de  caso  (YIN,  2001; BOGDAN; BIKLEN,  1994),  em que os 

quatro  projetos  desenvolvidos  pelos  estudantes  e  orientados  pela  primeira  autora 

iniciaram por  interesse dos estudantes (1) ou por convite desta (3). Os temas escolhidos 

encontram‐se  situados  na  área  de  agropecuária,  área  de  formação  dos  estudantes. 

Referiam a temas de crescimento de bezerras para fins leiteiros e crescimento de frangos 

e  suínos  realizados  em  2012,  estudo  da  produção  de  ovos  de  aves  de  postura 

desenvolvido em 2013, e curva de  lactação de vacas holandesas, em 2011. Neste estudo 

foram utilizados apenas excertos de cada um dos produtos de pesquisa elaborados. 

Os dados empíricos, os quais comportam o nosso corpus de análise1, advieram da 

observação, diários de campo, artigos finais e do material de socialização, materiais estes 

produzidos durante o desenvolvimento dos projetos. As observações de  natureza  não 

estruturada  ocorreram  durante  aproximadamente  um  ano  (2011‐2013),  em  encontros 

semanais de  1,5  a  2 horas  e  foram  sendo  registradas num diário de bordo.  Elas  foram 

realizadas visando descrever e compreender o que estava ocorrendo em determinadas 

situações.  Também  utilizaram‐se  cópias  dos  materiais  escritos  produzidos  pelos 

                                                            1 Termo utilizado por Bardin em: BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. 

Page 7: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

X A

nped Sul

estudantes no decorrer da atividade de pesquisa, tais como arquivos do trabalho, artigo 

final, pôster e vídeo. 

 Para  a  análise dos dados  foram utilizados os procedimentos de Análise Textual 

Discursiva  (ATD)  de Moraes  e  Galiazzi  (2007),  entendida  como  uma  metodologia  de 

análise de dados e  informações de natureza qualitativa cujo propósito é a produção de 

novas  compreensões  sobre  os  fenômenos  e  os  discursos.  Ela  pode  ser  compreendida 

como um processo auto‐organizado da construção de produção de novas compreensões 

e novos entendimentos em relação ao fenômeno investigado. Este processo compreende 

três etapas: na primeira, ocorreu  a desconstrução dos  textos do  corpus  (registros das 

observações  e  materiais  produzidos  pelos  estudantes)  ‐  a  unitarização;  na  segunda, 

ocorreu o estabelecimento de relações entre os elementos unitários ‐ a categorização; e 

na  terceira,  realizou‐se  a  captação  do  emergente  em  que  a  nova  compreensão  é 

comunicada e confirmada, portanto, obtendo validade nas interpretações. 

 

4. Os  caminhos  percorridos  sob  a  rota  da  tecnologia  digital  e modelagem: resultados e discussão 

Como os trabalhos escritos (relatórios e artigos) referentes aos quatro tópicos são 

extensos e detalhados, fez‐se necessário um recorte, frisando apenas algumas ações dos 

mesmos. Também considerou‐se partes dos demais dados compilados no estudo. 

Os  dados  coletados  possibilitaram  a  identificação  emergente  de  três  categorias 

em relação aos potenciais das tecnologias digitais e modelagem nos primeiros passos na 

arte  da  pesquisa  básica  no  Ensino Médio.  Elas  fluem  com mais  ou menos  ênfase  de 

acordo com as características de cada grupo de estudantes nos projetos desenvolvidos. 

Estas  categorias  podem  ser  vislumbradas  nas  falas  dos  estudantes,  bem  como  no 

material  que  os mesmos  produziram.  No  texto  que  segue  estão  implícitas  essas  três 

categorias,  que  se  identificaram  como:  utilização  das  normas  técnicas  na  escrita  da 

pesquisa;  compreensão  do  que  é  e  como  se  pesquisa;  desenvolvimento  cognitivo 

(habilidades descritivas, analíticas, críticas e criativas). 

 

Page 8: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

X A

nped Sul

4.1 Da percepção e apreensão 

Relacionados  á  área  agropecuária,  os  temas  das  pesquisas  versaram  sobre 

crescimento  de  bezerras  para  fins  leiteiros,  estudo  da  produção  de  ovos  de  aves  de 

postura, crescimento de frangos e suínos e curva de lactação de vacas holandesas. Em um 

momento  inicial  no  desenvolvimento  destes  projetos,  os  estudantes  buscaram  por 

perceber  e  apreender  um maior  número  de  informações  relativas  ao  tema,  a  fim  de 

delimitar uma situação problema para cada projeto. Biembengut (2013) destaca que essa 

fase  é  importante,  pois  para  que  se  possa  compreender  uma  situação‐problema,  um 

fenômeno ou um tema/assunto de interesse, precisa‐se perceber o respectivo contexto e 

apreender o maior número de  informação e dados disponíveis em primeira  instância, e, 

assim, reconhecer e se familiarizar com o tema/assunto. 

Nesta  etapa, os  estudantes  exploraram o  conhecimento  existente na  literatura, 

com  profissionais  da  área  zootécnica,  bem  como  em  parte  de  material  acadêmico 

disponível em páginas da rede mundial, todos com referência ao tema. Estas informações 

obtidas estavam dispostas em  forma de  arquivos,  fichas de  leituras,  tabelas de dados, 

vídeos, artigos de revistas, entre outros. A internet, computador e softwares como Excel e 

Grafhmática  foram  os  recursos  mais  explorados  pelos  estudantes.  Isto  confirma  o 

descrito por Borba e Penteado  (2001), que os estudantes utilizam  tecnologias desde o 

início de suas pesquisas.  Isto pode ser percebido nas considerações do estudante A: “‐ 

Quando  optamos  pela  busca  no  Google,  surgem milhares  de  opções  de  pesquisa  pra 

gente saber mais sobre o tema. É preciso agora  filtrar e ver o que realmente  interessa. 

Não é só abrir o primeiro e acabou a pesquisa.” 

Destaca‐se  além  da modificação  do  conceito  de  pesquisar  comum  na  Educação 

Básica  pelos  estudantes,  que  na  transição  da  primeira  para  a  segunda  fase  da 

modelagem, eles  já optaram pelo registro de dados utilizando o Excel, deixando  logo de 

lado recursos mais simples como calculadoras ou planilhas não digitais. Os estudantes  já 

incorporaram a tecnologia em seus estudos, confirmando o nascimento na era digital. “‐ 

Quando achamos algo interessante a gente já vai separando e arquivando para depois ler 

com calma e atenção. O mesmo ocorre com os dados de peso e altura das  terneiras  já 

Page 9: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

X A

nped Sul

vamos deixando separadinho lá no Excel. A prof. orientou desde o início que devemos ser 

organizados.” Destacou o estudante B. 

Biembengut (2013) destaca que a fase de percepção e apreensão (reconhecimento 

e  familiarização  do  tema)  não  são  disjuntas.  Na medida  em  que  se  percebem  alguns 

dados, os apreendem, e esta apreensão permite a percepção de outros dados, de outras 

informações e, assim por diante, num processo cíclico, contudo, crescente. Esta fase da 

modelagem pode‐se  findar  com um  texto  compilado e dados organizados  em  tabelas, 

como o da Tabela 1. 

 

Tabela 1 ‐ Classificação industrial de ovos de galinhas de acordo com a massa, em gramas.  

 

IDENTIFICAÇÃO  CLASSIFICAÇÃO 

Jumbo  Maior que 66 

Extra  De 60‐65 

Grande  De 55‐60 

Médio  50‐55 

Pequeno  De 45‐50 

Industrial  Menor que 45 

Fonte: FRANÇA (2013). 

 

De  acordo  com  Booth,  Colomb  e  Williams  (2000),  o  estudante  nos  primeiros 

passos na arte da pesquisa, tem na pesquisa um modo de melhor compreender o assunto 

estudado e, em longo prazo, o domínio das técnicas de pesquisa e redação o capacitarão 

para  trabalhar  por  conta  própria.  Pois  cabe  ao  pesquisador  “coletar  informações, 

organizá‐las de modo coerente e apresentá‐las de maneira confiável e convincente  são 

habilidades indispensáveis na ‘Era da Informação’” (p. 3). 

 

4.2 Da compreensão e explicitação  

Na segunda etapa da modelagem, destaca‐se um diálogo entre a orientadora e o 

estudante C, o qual desenvolvia o projeto sobre crescimento de terneiras:  

Page 10: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

X A

nped Sul

‐  “Será  que  a  altura  e  o  perímetro  torácico  das  terneiras  possuem  crescimento 

proporcional? Serão eles constantes?” Estudante C. 

‐ “O que esta indagação pode inferir no seu estudo?” A professora questionou. 

‐  “Quer  dizer  que  os  dois  não  crescerem  proporcionalmente,  ela  terá  seu  corpo 

desproporcional e isso pode prejudicar na produção de leite” Estudante C.  

Os estudantes procuraram compreender um problema em cada  tema, buscando 

uma  forma  de  explicitá‐lo.  A  indagação  do  estudante  demonstrava  que  os  mesmos 

passam a não aceitar a realidade de qualquer forma, questionando‐a. Não consideram as 

informações como algo perfeito, correto. 

 A  pesquisa  em  sala  de  aula  precisa  do  envolvimento  ativo  e  reflexivo permanente  de  seus  participantes.  A  partir  do  questionamento  é fundamental  pôr  em  movimento  todo  um  conjunto  de  ações,  de construção  de  argumentos  que  possibilitem  superar  o  estado  atual  e atingir  novos  patamares  do  ser,  do  fazer  e  do  conhecer.  (MORAES, GALIAZZI E RAMOS, 2012, p. 15)  

No  episódio  acima,  o  estudante  faz  uso  de mecanismos mentais  ao  se  valer  e 

atualizar a sua percepção nas considerações do problema. Dessa forma é que os sujeitos 

ampliam sua capacidade cognitiva. Vygostky (1998) denomina fala interna o processo em 

que o estudante incorpora o sistema simbólico no seu aparato psicológico, com o suporte 

da  língua. E um  trabalho de pesquisa privilegia este  tipo de desenvolvimento por ser o 

sujeito ativo, interativo e construtivo num meio propício de interação. 

Suas habilidades cognitivas possibilitaram elaborar um modelo que permitisse não 

apenas  a  resolução  da  questão  em  particular, mas  que  também  servisse  para  efetuar 

previsões ou permitisse uma  (re)criação. Eles utilizaram os conhecimentos a priori para 

obter  um  modelo  que  pode  ser  construído  fazendo  uso  da  razão  cognitiva  ou  de 

interação que origina a comunicação de  ideias e conceitos. O resultado pode traduzir o 

que, a nível médio, pode ser construído pelos estudantes.  

O modelo algébrico A(p) = 0,55p + 32,28 foi um dos obtidos, como auxílio do Excel, 

ao investigarem a relação entre altura e perímetro torácico presentes no crescimento das 

terneiras. Neste modelo,  a  exemplo  de  todo modelo  funcional,  estão  incorporadas  as 

Page 11: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

X A

nped Sul

particularidades do fenômeno analisado (Bassanezi, 2006). No caso do modelo algébrico 

explicitado, o “A(p)” representa a altura (cm) e “p” o perímetro torácico (cm) ao  longo 

do  crescimento  da  terneira,  obtido  por  meio  do  que  Lévy  (1993)  denomina  de 

possibilidades  de  simulações.  Desta  maneira  a  segunda  etapa  se  efetiva  com  o 

compreender  dos  dados  e  explicitação  de  um  modelo.  E  isto  requer  do  estudante 

modelador criatividade, criticidade, poder analítico e persistência, entre outros.  

 

4.3 Da significação e expressão  

Os  resultados  obtidos  na  segunda  etapa,  o modelo,  necessita  de  avaliação,  de 

teste  que  procure  esclarecer  se  o mesmo  atende  às  exigências  do  fenômeno  ou  não. 

Analisar e  interpretar o modelo obtido  faz com que o estudante se mova em direção à 

formação de novas compreensões a respeito do tema  investigado, confirmando ou não 

as  hipóteses  anteriormente  explicitadas.  Trata‐se  de  significar  o  modelo,  segundo 

Biembengut (2004). 

Também é nesta fase que os estudantes expressam seus estudos na forma escrita. 

A produção  escrita  é uma  forma de deixar  aos que não  fizeram parte da pesquisa, os 

resultados e considerações do fenômeno, para crítica e avaliação.  

 A validação do modelo, em todos os projetos, valeu‐se do uso do Excel e se traduz 

na retomada dos dados empíricos advindos de experimentos e/ou da literatura aplicando‐

se  ao modelo.  Percebeu‐se  nesta  etapa  que  ao  estudar  e  resolver  uma  problemática 

utilizando o computador, o estudante descreve o problema a ser resolvido, o computador 

executa  uma  tarefa  por meio  de  um  software  ou  uma  linguagem  de  programação  e 

permite que o aluno interaja com o programa, pensando, refletindo e tomando decisões a 

respeito  da  atividade.  Trata‐se  do  paradigma  construcionista  defendido  por  Valente 

(1993). 

‐  “Nossa,  a  visualização  gráfica  do  modelo  obtido  por  dados  empíricos  e  do 

modelo  projetado  pela  empresa  que  fornece  os  animais  é  bem  próxima  visualmente. 

Agora  precisamos  verificar  se  essa  diferença  é  significativa”!  Estudante  S  diante  do 

modelo gráfico expresso pela Figura 1. 

Page 12: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

X A

nped Sul

Figura 1 ‐ Comparativo dos modelos representativos do crescimento dos frangos de corte, baseado em dados empíricos e projetados para os animais. 

 

Fonte: STRESSER; GADOTTI; SCHELLER (2012). 

 

Nesta  terceira etapa da modelagem, Biembengut  (2013) aborda que é a  fase da 

expressão  e  isso  implica  em  avaliar  e  verificar  a  validade  do  modelo,  e  por  assim, 

expressá‐lo. Os estudantes realizaram a avaliação dos modelos levando em consideração 

aspectos presentes na  literatura, os dados obtidos empiricamente e os projetados pelo 

modelo. “– Poxa vida, agora  tô vendo  realmente o que significa  fazer pesquisa, é bem 

massa  né  prof.!”  Ilustra  o  estudante  K  a  respeito  da  fase  da  modelagem  e  do  que 

representa  a  pesquisa  para  si,  ao manusear  a  planilha  do  Excel  objetivando  validar  o 

modelo. 

Destaca‐se  que  nessa  etapa,  as  tecnologias  digitais  assumiram  o  papel  de 

protagonista  estando  sempre  sua  utilização  em  destaque.  A  validação  do modelo  foi 

facilitada  quando  os  estudantes  fizeram  uso  de  softwares.  Podemos  afirmar  o mesmo 

quando considerou‐se a expressão do modelo e comunicação das novas compreensões 

atingidas.  

A comunicação do modelo é uma das maneiras de colocá‐lo a prova e completar o 

processo de modelagem. Como etapa  final de expressão, os estudantes do projeto de 

Peso (g)

Idade (dias)

Experimento

Projeção AgRoss

Page 13: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

X A

nped Sul

curvas de lactação elaboraram um instrumento de projeção e controle destas curvas em 

uma  planilha  do  Excel,  bem  como  um  vídeo  para melhor  explicitação  do  projeto  e  do 

instrumento ao público em geral (Figura 2). Esta parte extrapolou os propósitos  iniciais 

do projeto e demonstra que motivação e  interesse  impulsionam o estudante a construir 

formas para resolver seus problemas. “A apropriação de uma resposta a um estímulo ou 

complexo de estímulos deve depender da motivação (GEORGE, 1973, p. 28)”.   

 

Figura 2 ‐ Esboço de instrumento de estudo elaborado pelos estudantes findando o processo de modelagem, Rio do Sul, 2011. 

  A pesquisa inclui sempre a percepção emancipatória do sujeito que busca fazer e fazer‐se oportunidade, à medida que começa e se reconstitui pelo questionamento  sistemático  da  realidade.  Incluindo  a  prática  como componente necessário da  teoria, e vice‐versa, englobando a ética dos fins e valores. (DEMO, 1996, p. 8)  

Moraes,  Galiazzi  e  Ramos  (2012)  destacam  que  as  novas  verdades  produzidas 

durante a pesquisa necessitam serem comunicadas, compartilhadas com a comunidade 

científica mais ampla para sua validade e crítica. É importante extrapolar as fronteiras da 

escola e expressar com clareza novas compreensões do fenômeno investigado. Isso pode 

ser feito por meio de relatórios e artigos, apresentação de trabalhos em eventos ou pela 

utilização prática dos novos modos de agir diariamente. 

Page 14: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

X A

nped Sul

Partindo desta premissa,  todos os projetos  foram divulgados  à  comunidade, de 

forma oral e escrita. Os estudantes participaram de  feiras e amostras  tanto no espaço 

escolar, como em eventos regional, estadual, nacional e até internacional.  

Para  tanto elaboraram  resumo, artigo e pôster,  justificando que as socializações 

são  de  fundamental  importância  quando  se  faz  pesquisa,  quando  se  dá  os  primeiros 

passos na arte da pesquisa. “‐ É muito bom apresentar o que  fizemos, dá um orgulho, 

ainda mais  quando  há  pessoas  que  querem  nos  ouvir.  É  gratificante  e  compromisso 

público  levar nossos estudos aos produtores de  leite e demais pessoas da comunidade” 

estudante M ao expressar suas concepções a respeito da comunicação da pesquisa. Isto 

só foi possível realizar “porque é dada ao estudante a oportunidade de estudar situações‐

problema  por meio  de  pesquisa,  desenvolvendo  seu  interesse  e  aguçando  seu  senso 

crítico” (BIEMBENGUT, 2004, p. 23).   

 

5. Finalizando o caminho na rota da tecnologia digital e modelagem 

Todo  o  caminhar  por  este  estudo  até  este momento  permite  a  realização  de 

algumas considerações pertinentes à apresentação e à análise de uma prática de iniciação 

científica: objetivo deste  estudo. Destaco  a modelagem  como método de pesquisa  no 

qual  os  estudantes  ampliam  suas  compreensões  e  constroem  conhecimento. 

Conhecimento  não  apenas  em  termos  conceituais,  mais  também  procedimentais  e 

atitudinais referentes ao domínio matemático e tecnológico, técnicas e procedimentos da 

pesquisa.  Considero  importante  a  utilização  das  tecnologias  como  recurso  apoiando  a 

modelagem, presentes em todas as suas etapas, possibilitando aos estudantes realizarem 

inferências  sobre:  o  tema  da  pesquisa  e  sua  inteiração  com  ele,  o  modelo  em  suas 

representações tabular, algébrica e gráfica, a significação e a expressão do modelo, bem 

como a comunicação do trabalho para a validação. 

Destaco  no  estudo  três  potencialidades  do  uso  das  tecnologias  digitais  e 

modelagem nos primeiros passos da pesquisa de alunos de Ensino Médio: uso de normas 

técnicas no registro escrito; reestruturação do conceito de pesquisa; e, desenvolvimento 

cognitivo. 

Page 15: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

X A

nped Sul

A primeira  refere‐se ao uso de  indicativos  técnicos na escrita dos  resultados dos 

projetos  desses  estudantes  ao  elaborarem  seus  artigos  finais,  resumos  simples  e 

expandido, arquivos para apresentação oral e pôster. Destacam‐se aqui a manipulação de 

softwares para  registro escrito dos  resultados, em que  se  fez uso de  tabelas, gráficos, 

citações,  referências,  a  linguagem  utilizada,  entre  outros.  Trata‐se  de  aspectos  que 

costumeiramente  não  estão  presentes  em  trabalhos  elaborados  por  estudantes  deste 

nível de ensino.  

Outro destaque é para com a “nova” concepção do que é e como se pesquisa para 

os  estudantes,  visto  que  a  maioria  deles  concebia  pesquisa  como  cópia  do  que 

determinado autor afirma referente à um tema, tomando‐o como seu. O contato com o 

processo de pesquisa aproximou‐os do ambiente acadêmico científico ainda na Educação 

Básica.  

Por  fim,  destaco  o  desenvolvimento  cognitivo  dos  estudantes  em  termos  de 

habilidades  descritivas,  criativas,  analítica  e  crítica.  Percebeu‐se  ao  descrever  o  tema, 

esboçar e comparar os dados, escolher estratégias para a obtenção do modelo, analisar a 

viabilidade do modelo, modificar as hipóteses para a melhoria do modelo, comunicar seus 

resultados, preocupar‐se  com o  compromisso  social  ao  socializar  seus  trabalhos, entre 

outros. 

A tecnologia digital e a modelagem proporcionaram aos estudantes nos caminhos 

da pesquisa uma postura  social ao estudarem um  tema.  Isto ocorre não  somente pelo 

estudar, mas por  considerar  indispensável o  extrapolar das  fronteiras  escolares  com  a 

socialização e divulgação do instrumento aos produtores de leite, criadores de terneiras e 

de  frango de corte e de postura, e comunidade escolar. Desta  forma, contribuiu para a 

formação  da  sua  cidadania,  ao  despertar  novos  olhares,  quer  sobre  a  situação 

investigada, quer sobre a realidade política e social que os envolvia no ambiente que para 

eles era motivador.   Esta apresentação e análise  finda aqui destacando a afirmação de 

Papert  (1985),  ao  expressar  que  educar  consiste  em  criar  situações  para  que  os 

aprendizes se engajem em atividades que alimentem o processo construtivo para pensar 

e  aprender.  Processo  este  em  que  sujeitos  ativos  na  construção  de  conhecimento, 

sujeitos autores, trilhem na arte da pesquisa. 

Page 16: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

X A

nped Sul

REFERÊNCIAS 

 

ARAÚJO, J. L. Cálculo, Tecnologias e Modelagem Matemática: as discussões dos alunos.  Rio Claro: UNESP, 2002. Tese de Doutorado.  

BASSANEZZI, R. C. Ensino‐aprendizagem com modelagem matemática. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. 

BIEMBENGUT, M. S. Modelagem matemática & Implicações no Ensino e na Aprendizagem de Matemática. 2. ed. Blumenau: Edifurb, 2004. 

BIEMBENGUT, M. S. Modelagem no Ensino Fundamental. 2013. (no prelo pela Editora da FURB)  

BLUM, W.; NISS, M. Applied Mathematical Problem Solving, Modelling, Applications, and Links to Other Subjects – State, Trends and Issues in Mathematics Instruction. Educational Studies in Mathematics, Dordrecht, v. 22, n. 1, p. 37‐68, feb. 1991. 

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Lisboa: Porto Editora, 1994.   

BONIN, J. N.; BIZ, S. SCHELLER, M. Controle de crescimento de bezerras das raças Jersey e Holandesa. Relatório de Iniciação Científica. Rio do Sul, Instituto Federal Catarinense Câmpus Rio do Sul, 2012. 

BOOTH, W. C.; COLOMB, G. G.; WILLIAMS, J. M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 

BORBA, M. C.; MALHEIROS, A. P. S. Internet e Modelagem: desenvolvimento de projetos e o CMV. In: Barbosa, J.; CALDEIRA, A.; ARAÚJO, J. L. Modelagem Matemática na Educação Matemática: pesquisas educacionais. Recife: Sbem, 2007. p. 195‐211. v.3. 

BORBA, M. C.; VILLARREAL, M. E. Humans‐with‐Media and Reorganization of  Mathematical Thinking: Information and Communication Technologies, Modeling, Visualization and Experimentation. New York: Springer Science+Business Media, Inc., 2005. 

BORBA, M.  C.; PENTEADO, M.  G.  Informática  e  Educação Matemática. Belo horizonte: Autêntica, 2001.  

Page 17: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

X A

nped Sul

BRASIL. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências  da  natureza,  matemática  e  suas  tecnologias.  Brasília:  MEC, Secretaria de Educação Básica, 2008, v.2. 

DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 1996.  

______. Desafios Modernos da Educação. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.  

DINIZ, L. N. O Papel das Tecnologias da Informação e Comunicação nos Projetos de Modelagem Matemática. Rio Claro: UNESP, 2007. Dissertação de Mestrado.  

FERREIRA, K. T.; PANOCH, J. E.; SCHELLER, M. Modelagem Matemática no controle da produção de leite de animais da raça holandesa. MICTI, Anais ...Blumenau, 2011. 

FRANÇA, I; Estudo da produção de ovos por meio de modelagem matemática. Relatório de Iniciação Científica Jr.. Rio do Sul, Instituto Federal Catarinense Câmpus Rio do Sul, 2013. 

FRANCHI, R. H. O. L. Ambientes de aprendizagem fundamentados na modelagem matemática e na informática como possibilidades para a Educação matemática. In: Barbosa, J.; CALDEIRA, A.; ARAÚJO, J. L. Modelagem Matemática na Educação Matemática: pesquisas educacionais. Recife: Sbem, 2007. p. 177‐194. v.3. 

GEORGE, F. Modelos de Pensamentos. Trad. Mário Guerreiro. Petrópolis: Vozes, 1973. 

HAMSON, M. J.; LYNCH, M.A.M. Studente perceptions of large Systems Modelling Projects. In: GALBRAITH, P. et al. Mathematical Modelling: Teaching and Assessment in a Techonology – Rich World. England: Horwood Series in Mathematics & Applications, 1998. P. 55‐62. 

LÉVY, P. As tecnologias da Inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. Rio de janeiro: Editora 34, 1993. Trad. Carlos Irineu da Costa.  

MALHEIROS, A. P. S. Educação Matemática on‐line: a elaboração de projetos de modelagem matemática. Rio Claro: UNESP, 2008. Tese de Doutorado. 

MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. 

MORAES, R.; GALIAZZI, M. C.; RAMOS, M. G. Pesquisa em sala de aula: fundamentos e pressupostos. In: MORAES, Roque, LIMA, Valderez M. do R. Pesquisa em sala de aula: tendências para a educação em novos tempos. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. 

Page 18: TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NAxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1511-0.pdf · TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO Morgana

TECNOLOGIAS DIGITAIS E MODELAGEM MATEMÁTICA NA ARTE DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO  Morgana Scheller 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

X A

nped Sul

MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 12. ed. Campinas: Papirus, 2000.  

PAPERT, S. Logo: computadores e Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.  

SANTOS, F. V. Modelagem Matemática e tecnologias de informação e comunicação: o uso que os alunos fazem do computador em atividades de modelagem. Londrina: UEL, 2008. Dissertação de Mestrado. 

STRESSER, C. F.; GADOTTI, A. C. ; SCHELLER, M. Curva de Crescimento de frangos de corte e suínos. In: XIII FETEC, 2012, Rio do Sul. Anais da XIII FETEC, 2012. 

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2001. 

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 2.  ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.