tecnologia de rações

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Alimentação Animal

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  • 2013Frederico Westphalen - RS

    Tecnologia de RaesCarlos Alexandre Oelke

    Edi Franciele Ries

  • Presidncia da Repblica Federativa do Brasil

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica

    Equipe de ElaboraoColgio Agrcola de Frederico Westphalen CAFW

    ReitorFelipe Martins Mller/UFSM

    DireoFernando de Cristo/CAFW

    Coordenao Geral do e-TecPaulo Roberto Colusso/CTISM

    Coordenao de CursoMagda Aita Monego/CAFW

    Professor-autorCarlos Alexandre Oelke/UNIPAMPAEdi Franciele Ries/CAFW

    Equipe de Acompanhamento e ValidaoColgio Tcnico Industrial de Santa Maria CTISM

    Coordenao InstitucionalPaulo Roberto Colusso/CTISM

    Coordenao de DesignErika Goellner/CTISM

    Reviso PedaggicaElisiane Bortoluzzi Scrimini/CTISMJaqueline Mller/CTISMLaura Pippi Fraga/CTISM

    Reviso TextualCarlos Frederico Ruviaro/CTISM

    Reviso Tcnicamerson Soares/UFSM

    IlustraoMarcel Santos Jacques/CTISMRafael Cavalli Viapiana/CTISM Ricardo Antunes Machado/CTISM

    Diagramao Cssio Fernandes Lemos/CTISM Leandro Felipe Aguilar Freitas/CTISM

    Colgio Agrcola de Frederico WestphalenEste caderno foi elaborado em parceria entre o Colgio Agrcola de Frederico Westphalen CAFW e a Universidade Federal de Santa Maria para a Rede e-Tec Brasil.

    O28t Oelke, Carlos AlexandreTecnologia de raes / Carlos Alexandre Oelke, Edi Franciele

    Ries. Frederico Westphalen : UFSM, Colgio Agrcola de Frederico Westphalen ; Rede e-Tec Brasil, 2013.

    141 p. : il. ; 28 cmISBN 978-85-63573-38-4

    1. Zootecnia 2. Nutrio animal 3. Alimentos para animais4. Rao I. Ries, Edi Franciele

    CDU 636.084/.087

    Bibliotecria Maristela Eckhardt CRB 10/737

  • e-Tec Brasil3

    Apresentao e-Tec Brasil

    Prezado estudante,

    Bem-vindo a Rede e-Tec Brasil!

    Voc faz parte de uma rede nacional de ensino, que por sua vez constitui uma

    das aes do Pronatec Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e

    Emprego. O Pronatec, institudo pela Lei n 12.513/2011, tem como objetivo

    principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educao

    Profissional e Tecnolgica (EPT) para a populao brasileira propiciando cami-

    nho de o acesso mais rpido ao emprego.

    neste mbito que as aes da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre

    a Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica (SETEC) e as instncias

    promotoras de ensino tcnico como os Institutos Federais, as Secretarias de

    Educao dos Estados, as Universidades, as Escolas e Colgios Tecnolgicos

    e o Sistema S.

    A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande

    diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao

    garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da

    formao de jovens moradores de regies distantes, geograficamente ou

    economicamente, dos grandes centros.

    A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos tcnicos a todas as regies do pas,

    incentivando os estudantes a concluir o ensino mdio e realizar uma formao

    e atualizao contnuas. Os cursos so ofertados pelas instituies de educao

    profissional e o atendimento ao estudante realizado tanto nas sedes das

    instituies quanto em suas unidades remotas, os polos.

    Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educao profissional

    qualificada integradora do ensino mdio e educao tcnica, capaz

    de promover o cidado com capacidades para produzir, mas tambm com

    autonomia diante das diferentes dimenses da realidade: cultural, social,

    familiar, esportiva, poltica e tica.

    Ns acreditamos em voc!

    Desejamos sucesso na sua formao profissional!

    Ministrio da Educao

    Setembro de 2013Nosso contato

    [email protected]

  • e-Tec Brasil5

    Indicao de cones

    Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas de

    linguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.

    Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.

    Saiba mais: oferece novas informaes que enriquecem o assunto ou curiosidades e notcias recentes relacionadas ao

    tema estudado.

    Glossrio: indica a definio de um termo, palavra ou expresso utilizada no texto.

    Mdias integradas: sempre que se desejar que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mdias: vdeos,

    filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.

    Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes nveis de aprendizagem para que o estudante possa realiz-las e

    conferir o seu domnio do tema estudado.

  • Tecnologia da Informticae-Tec Brasil 6

  • e-Tec Brasil

    Sumrio

    Palavra do professor-autor 9

    Apresentao da disciplina 11

    Projeto instrucional 13

    Aula 1 Introduo tecnologia de raes 151.1 Mercado de raes 15

    Aula 2 Classificao dos animais com base no seu hbito ali-mentar 19

    2.1 Consideraes iniciais 19

    2.2 Particularidades do trato digestivo de animais ruminantes e no ruminantes 21

    Aula 3 Principais conceitos aplicados nutrio animal 333.1 Conceitos iniciais 33

    Aula 4 Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 37

    4.1 Definio de ingrediente 37

    4.2 Principais ingredientes 37

    4.3 De origem vegetal 38

    4.4 De origem animal 45

    4.5 Lquida 48

    4.6 Demais ingredientes 49

    Aula 5 Tabela nutricional dos alimentos e limitaes ao uso 535.1 Nutrientes na alimentao animal 53

    5.2 Composio qumica de alimentos 55

    5.3 Nveis prticos e mximos de utilizao e limitaes de uso de ingredientes 58

    5.4 Escolha de ingredientes 60

    Aula 6 Aditivos utilizados na alimentao animal 656.1 Principais aditivos utilizados na rao animal 65

    6.2 Aditivos autorizados e proibidos conforme a legislao vigente 71

  • Aula 7 Elaborao dos diferentes tipos de raes 757.1 Escolha dos ingredientes 75

    Aula 8 Mtodos para clculo e formulao de raes 818.1 Mtodos de formulao 81

    8.2 Mtodos manuais 82

    8.3 Mtodos computacionais programao linear 93

    Aula 9 Fabricao de raes com nfase no controle de qualidade 999.1 Fabricao de raes 99

    9.2 A qualidade na fabricao de raes 104

    Referncias 136

    Currculo do professor-autor 141

    e-Tec Brasil

  • e-Tec Brasil9

    Palavra do professor-autor

    O segmento de produo de alimentos destinados aos animais vem crescendo

    anualmente, tanto em faturamento como em toneladas produzidas. Este

    setor, cada vez mais tem buscado no mercado de trabalho um profissional

    que, alm de conhecer o processo produtivo dentro da fbrica, entenda a

    necessidade de se produzir uma rao com qualidade, uma vez que esta ter

    reflexo imediato no desempenho produtivo dos animais, alm de influenciar

    na qualidade do produto final que ser destinado ao consumo do homem

    (por exemplo: carne, leite e ovos).

    Este material tem como objetivo reunir informaes importantes que iro

    auxiliar na capacitao de um profissional atuante no setor agroindustrial,

    particularmente no segmento de tecnologia de raes. Os conhecimentos

    aqui reunidos, no tem a pretenso de formar um nutricionista animal ou

    especialista em alimentao animal, mas sim, um profissional que compreenda

    e tenha capacidade de intervir no processo produtivo dentro das fbricas,

    deixando-o mais racional, eficiente, rentvel e com produtos de qualidade.

    importante salientar que desde a formulao de uma dieta para os ani-

    mais at a produo da rao, tm-se inmeros processos envolvidos, tanto

    conceituais como operacionais. Nesse sentido, este material trar em alguns

    momentos uma abordagem mais superficial de alguns temas, aprofundando-se

    em outros, e mesmo nesses casos os assuntos no sero esgotados. Assim,

    ser necessrio que o aluno busque uma interao com o professor, no

    sentido de construir um conhecimento continuado no ambiente virtual de

    ensino-aprendizagem. Os conhecimentos aqui repassados ao estudante, alm

    de buscarem instigar reflexes a cerca da tecnologia de raes e exercit-las

    com simulaes de situaes prticas, impulsionam a complementao com

    mdias integradas e links sites de contedo cientfico como ferramentas de auxlio aprendizagem, de aproximao do saber e de dinamizao do ensino.

    Toda nova situao geralmente vem cercada de expectativas e anseios.

    nesse esprito que gostaramos de desejar ao aluno sucesso em seus estudos.

    Carlos Alexandre Oelke

    Edi Franciele Ries

  • e-Tec Brasil11

    Apresentao da disciplina

    A disciplina de Tecnologia de Raes abrange aspectos relacionados pro-

    duo de alimentos destinados ao consumo animal e destaca-se no cenrio

    industrial brasileiro tanto por sua relao com a produo de alimentos aqui

    se referindo alimentao animal e humana quanto por seu crescimento

    e movimentao da economia.

    Esse material foi elaborado com intuito de reunir os conhecimentos necessrios

    para capacitao de um profissional com atuao no setor de tecnologia de

    raes abordando assim elementos importantes ao processo de fabricao

    de raes, destacando-se entre eles o controle de qualidade. Alm disso,

    abordar aspectos relacionados aos fundamentos bsicos da nutrio animal,

    alimentos e formulao de raes, totalizando 60 horas/aula.

    Aspectos inerentes nutrio animal como classificao dos animais com

    base em seus hbitos alimentares e particularidades do sistema digestivo

    so abordados de forma concisa, fornecendo base para compreenso de

    fatores relacionados escolha de ingredientes para formulao de raes e

    determinao de exigncias nutricionais conforme espcie animal e fase

    de produo. O conhecimento das diferentes exigncias nutricionais, que

    devem ser atendidas pela rao fornecida, corresponde a um dos fatores

    determinantes na escolha de ingredientes para compor a formulao. O

    procedimento de escolha elucida-se com a compreenso da composio

    qumica dos alimentos, da disponibilidade destes e do seu custo.

    Conhecendo-se as necessidades nutricionais dos animais e as matrias-primas

    para composio da rao, o profissional possuir base para analisar alter-

    nativas e calcular uma formulao que atenda as exigncias em nutrientes

    ao menor custo. A ltima etapa consistir na compreenso da fabricao da

    rao seguindo etapas de processamento predeterminadas conforme unidade

    onde se dar a produo.

    Em todas as fases de produo, o controle de qualidade se far presente e

    premissa bsica para assegurao da garantia de qualidade das raes.

  • e-Tec Brasil13

    Disciplina: Tecnologia de Raes (carga horria: 60h).

    Ementa: Introduo tecnologia de raes e nutrio animal. Classificao dos alimentos e principais matrias-primas utilizadas na fabricao de rao

    para animais de produo. Instalaes, mquinas e equipamentos utilizados

    na fabricao de raes. Clculo de raes: elaborao dos diferentes tipos de

    raes em funo do animal. Clculos de raes. Aditivos utilizados na elabo-

    rao: principais aditivos utilizados para raes animal. Legislao: legislao

    especfica para rao animal.

    AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM MATERIAISCARGA

    HORRIA(horas)

    1. Introduo tecnologia de raes

    Demonstrar a importncia econmica e produtiva do mercado de raes e compreender a importncia da tecnologia de raes.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    01

    2. Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar

    Conhecer as diferentes espcies animais com base no hbito alimentar e as particularidades do trato digestivo.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    04

    3. Principais conceitos aplicados nutrio animal

    Conhecer a terminologia utilizada na nutrio animal.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    02

    4. Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo

    Conhecer as principais matrias-primas de origem vegetal, animal e lquidas.Conhecer demais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    14

    5. Tabela nutricional dos alimentos e limitaes ao uso

    Compreender o papel dos nutrientes na alimentao animal.Verificar a composio nutricional dos ingredientes estudados.Compreender o nvel prtico de utilizao dos ingredientes. Conhecer as limitaes ao uso dos ingredientes estudados.Compreender as consideraes gerais de uso e escolha de ingredientes.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    07

    Projeto instrucional

  • AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM MATERIAISCARGA

    HORRIA(horas)

    6. Aditivos utilizados na alimentao animal

    Conhecer os principais aditivos utilizados na formulao de raes e suas funes. Conhecer a legislao vigente inerente utilizao de aditivos na formulao de raes.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    04

    7. Elaborao dos diferentes tipos de raes

    Compreender as diferenas na formulao de raes em funo da categoria animal e fase de produo.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    04

    8. Mtodos para clculo e formulao de raes

    Compreender os diferentes mtodos de formular raes.Calcular frmulas de raes por mtodos manuais e por programao linear.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    10

    9. Fabricao de raes com nfase no controle de qualidade

    Compreender as etapas do processo de fabricao de raes.Estudar aspectos relacionados s Boas Prticas de Fabricao (BPFs) e Procedimentos Operacionais Padres (POPs) aplicados fabricao de raes.Conhecer a legislao inerente fabricao de raes.Compreender a importncia da limpeza de instalaes e equipamentos no controle de qualidade de raes.

    Ambiente virtual: plataforma Moodle.Apostila didtica.Recursos de apoio: links, exerccios.

    14

    e-Tec Brasil 14

  • e-Tec Brasil

    Aula 1 Introduo tecnologia de raes

    Objetivos

    Demonstrar a importncia econmica e produtiva do mercado de

    raes e compreender a importncia da tecnologia de raes.

    1.1 Mercado de raesA necessidade de alimentos, indiscutivelmente, fator primordial de atendi-

    mento em qualquer sociedade, capaz de mobilizar diferentes setores da eco-

    nomia em prol do objetivo de no apenas sobreviver, mas nutrir-se (BUTOLO,

    2010). Na nutrio animal, o alimento continua sendo o fator determinante

    das transformaes, tendo o animal como consumidor final. Assim, inicia-se

    a compreenso da importncia do estudo do setor de alimentao animal,

    representado aqui mais especificamente pela abordagem da sua tecnologia

    de produo, a tecnologia de raes, entendendo-se por rao, o total de

    alimentos consumidos por um indivduo no perodo de 24 horas (ANDRI-

    GUETTO et al., 1983, p. 387).

    At o sculo XIX acreditava-se que as necessidades nutricionais dos animais

    eram supridas pelos glicdios, protdeos e lipdeos. Hoje, fica evidente porque

    os animais apresentavam sintomas de deficincias nutricionais, pois se sabe

    que mais de dezenas de fatores nutricionais, incluindo aqui minerais, vitami-

    nas e gua so necessrios ao desenvolvimento animal (RIBEIRO, 2006). Se

    for considerado que sade e alimentao adequada so a base da produo

    animal, bem como que o custo com alimentao pode representar de 60 a

    80 % do total da produo, fica fcil compreender a expanso do setor de

    alimentao animal nos ltimos anos.

    Desde as origens discretas de indstrias de raes no Brasil Pr-pecuria em

    So Paulo, Moinho da Luz, Fluminense e So Cristvo no Rio de Janeiro, em

    anos da 2 Guerra Mundial aos mais de 2900 estabelecimentos fabricantes

    de produtos destinados alimentao animal registrados no MAPA nos dias de hoje, o setor apresentou aumentos progressivos, chegando ao grande

    boom da indstria, nos anos de 1965 e 1980. A partir deste perodo, a indstria foi marcada por modificaes como maior uso de concentrados,

    MAPAMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, o rgo responsvel pela gesto das polticas pblicas de estmulo agropecuria, pelo fomento do agronegcio e pela regulao e normatizao de servios vinculados ao setor.

    e-Tec BrasilAula 1 - Introduo tecnologia de raes 15

  • premix, disponibilidade de insumos regionais, crescimento de integraes e possibilidade de produo nos locais de criao animal (BUTOLO, 2010).

    O Brasil produziu em 2011 cerca de 64,5 milhes de toneladas de rao e

    2,35 milhes de toneladas de suplementos minerais (SINDIRAES, 2012).

    No mundo, em 2011 foram produzidas aproximadamente 870 milhes de

    toneladas de rao, com um faturamento em torno de 350 bilhes de dlares.

    O Brasil o maior produtor de alimentos para animais na Amrica Latina e o

    terceiro no mundo, ficando atrs apenas da China e dos Estados Unidos (IFIF,

    2013). Na Tabela 1.1 apresentada a produo de raes dos cinco maiores

    produtores do mundo, sendo que as suas produes so estratificadas por

    categoria animal.

    Tabela 1.1: Produo em 2012 dos cinco maiores produtores de rao do mundo Produo*/Pas China USA Brasil Mxico Japo

    Sunos 52,4 23,2 15,9 4,1 6,1

    Ruminantes 59,0 41,5 7,3 7,2 7,3

    Aves 44,7 83,9 33,4 14,2 9,7

    Aquticos 16,6 0,3 0,4 0,0 0,6

    Equinos 0,0 11,3 2,0 0,7 1,2

    Outros 2,7 5,0 0,6 0,1 0,0

    Total 175,4 165,2 59,6 26,3 24,9

    *Milhes de toneladas.

    Fonte: Adaptado de ALLTECH, 2012

    A Figura 1.1 reflete o crescimento no mercado brasileiro. O setor registrou

    aumento de 5,2 % e movimentou R$ 40 bilhes em 2011, com quase 50 %

    da produo total de raes absorvida na alimentao de frangos, seguido

    pelo setor de sunos e bovinos (Figura 1.2).

    premixMistura de ingredientes

    e/ou alimentos, geralmente em baixas quantidades que

    complementaro a rao.

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 16

  • Figura 1.1: Movimentao financeira do mercado de raes e aditivos no perodo 2003-2010 (U$ bilhes, cotao mdia/2010: U$1.00 = R$1,70) Fonte: CTISM, adaptado de Sindiraes, 2011

    Figura 1.2: Consumo de rao por espcie em 2011Fonte: CTISM, adaptado de Sindiraes, 2011

    A evoluo do setor de alimentao animal acompanha, impulsiona e reflete

    em outros setores da economia, caracterizando-se como um importante elo

    dentro da agroindstria brasileira. Em 2011, o setor de alimentao animal

    consumiu 35 % da produo nacional de farelo de soja e quase 60 % da

    produo nacional de milho, sendo que para este ltimo h projees de

    Para saber mais, acesse a biblioteca virtual do Sindiraes (Sindicato Nacional da Indstria de Alimentao Animal) em:http://sindiracoes.org.br/produtos-e-servicos/biblioteca-virtual

    e-Tec BrasilAula 1 - Introduo tecnologia de raes 17

  • consumo de 60 milhes de toneladas para 2020 (SINDIRAES, 2012). Alm

    do envolvimento com mercado de gros e outras matrias-primas, movi-

    menta ainda a indstria qumica com produo de insumos, a exemplo dos

    aditivos (Figura 1.1), vitaminas e minerais, e a indstria alimentcia humana,

    por integrar a principal fonte de produo de protena animal destinada ao

    consumo humano. Impulsionada pelo crescimento da populao e incremento

    no fornecimento de alimentos seguros, evidencia-se a importncia da tec-

    nologia de raes e a necessidade crescente de profissionais capacitados e

    comprometidos com a garantia de qualidade na formulao e produo de

    produtos destinados ao consumo animal.

    ResumoA tecnologia de raes tem grande relevncia econmica no s por repre-

    sentar at 80 % do custo de produo de um animal, como tambm por

    movimentar outros setores da economia, como indstrias de gros, qumica

    e alimentao humana. O crescimento do setor e a necessidade de alimentos

    impulsionam a demanda de profissionais na rea.

    Atividades de aprendizagem1. Qual importncia da tecnologia de raes e de se capacitar profissionais

    na rea?

    2. Explique de que forma a alimentao animal movimenta outros setores da economia. Que setores so esses?

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 18

  • e-Tec Brasil

    Aula 2 Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar

    Objetivos

    Conhecer as diferentes espcies animais com base no hbito ali-

    mentar e as particularidades do trato digestivo.

    2.1 Consideraes iniciaisA manuteno da vida requer que os animais obtenham nutrientes essenciais

    para os processos corpreos a partir dos alimentos (REECE, 2008, p. 295). A

    funo primria da ingesto de alimentos a sustentao das necessidades

    metablicas do animal e estas so determinadas por suas funes fisiolgicas

    (mantena, crescimento e produo). O estudo da nutrio animal funda-

    mental para o conhecimento das exigncias nutricionais dos animais.

    Em seu estado natural, os animais so classificados de acordo com a dieta

    que consomem (Figura 2.1), sendo definidos como carnvoros, onvoros ou

    herbvoros, sendo que os herbvoros so classificados em dois grupos, um

    composto pelos ruminantes, tais como bovinos, ovinos e caprinos, e o segundo

    grupo denominado de herbvoros de estmago simples, representado pelos

    equinos (REECE, 2008).

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 19

  • Figura 2.1: Exemplo da classificao dos animais com base no seu hbito alimentarFonte: CTISM, adaptado de autores

    Em animais carnvoros, os quais obtm a maior parte do seu alimento inge-

    rindo outros animais, a digesto praticamente enzimtica, e a digesto

    microbiana mnima. J os herbvoros domsticos integram dois grupos:

    a) Nos ruminantes, como os bovinos, os ovinos e os caprinos, ocorre exten-sa fermentao microbiana da dieta vegetal em regio especializada do

    trato proximal (fermentao pr-gstrica).

    b) Naqueles com estmago simples, como os equinos, a fermentao mi-crobiana tem lugar no trato digestivo distal (fermentao ps-gstrica).

    Esses locais de digesto microbiana requerem um grande rgo de fermenta-

    o digestiva, no qual o trnsito do alimento pode ser retardado, para assim

    fornecer tempo necessrio fermentao, especialmente da celulose. No caso

    dos animais onvoros, tanto a fermentao enzimtica intermediria quanto a

    ps-gstrica so importantes, pois nesta categoria animal no apenas o intes-

    tino delgado possui tamanho relativamente longo, onde ocorrem os processos

    de digesto e absoro de nutrientes que no requerem fermentao, mas

    Para saber mais sobre a capacidade volumtrica de partes

    do trato digestivo de algumas espcies animais, acesse:

    http://file.aviculturaindustrial.com.br/Material/Tecnico/

    alimentosuino.pdf

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 20

  • tambm tem uma parte expandida do clon, na qual ocorrer a fermentao

    das partes fibrosas da dieta (REECE, 2006; 2008).

    2.2 Particularidades do trato digestivo de animais ruminantes e no ruminantesPara que os alimentos sejam efetivamente aproveitados pelo animal, precisa

    sofrer os processos fsicos e qumicos que os dividem em partculas menores,

    que so unidades aproveitveis que cruzam a parede intestinal (REECE, 2008).

    A complexidade dos rgos do trato digestrio depender das variaes

    que ocorrem entre as diferentes espcies. Dotado de funes mltiplas, tais

    como mastigao, digesto, absoro e excreo, o aparelho digestivo est

    capacitado a simplificar, por degradao enzimtica, carboidratos, lipdeos

    e protenas que fazem parte da composio dos alimentos (BACILA, 2003).

    Fazem parte geralmente do sistema gastrointestinal, a boca, dentes, lngua,

    faringe, esfago, estmago, intestino delgado, intestino grosso e nus. So

    considerados rgos acessrios ao processo de digesto as glndulas salivares,

    fgado e o pncreas (REECE, 2008).

    2.2.1 Cavidade oralA cavidade oral constituda pela boca (mamferos), bico (aves), lngua,

    glndulas salivares e faringe.

    2.2.1.1 Boca e bicoO processo de digesto na maioria dos animais de produo inicia-se na boca.

    Aps sofrer a quebra inicial, o alimento misturado saliva, para facilitar a

    deglutio do bolo alimentar.

    2.2.1.2 DentesResponsveis por reduzir o tamanho das partculas alimentares atravs da

    triturao, processo esse que, alm de facilitar a deglutio do bolo alimentar,

    tambm aumenta a rea de superfcie do alimento para a degradao qumica

    e microbiolgica. Por no haver a presena de dentes nas aves, a quebra

    mecnica do alimento realizada pelo bico e pela moela (REECE, 2008).

    2.2.1.3 Lnguargo muscular usando para trabalhar a massa alimentar dentro da boca.

    Ela responsvel em conduzir o alimento para as superfcies das mesas den-

    trias dos dentes, para serem triturados (REECE, 2008). Em bovinos auxilia

    na apreenso do alimento e leva-o para a boca (ANDRIGUETTO et al., 2002).

    Para saber mais sobre a localizao dos diferentesde dentes, acesse:http://www.fmv.utl.pt/spcv/PDF/pdf9_2003/547_103_110.pdf

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 21

  • As papilas gustativas localizadas na lngua so responsveis pela percepo

    do gosto nos mamferos, sendo que esses pontos gustativos diferenciam-se

    quanto forma, distribuio na cavidade e quanto ao nmero de botes

    gustativos que possuem (VIEIRA et al., 2010). Segundo Macari et al. (2002)

    as aves possuem de 250 a 350 botes gustativos. J o homem possui 9.000,

    os sunos 15.000, as cabras 15.000, os coelhos 17.000 e os bezerros 25.000

    botes gustativos (VIEIRA et al., 2010).

    Para se usar corretamente os palatabilizantes na rao, muito importante que

    o profissional conhea a capacidade que cada espcie animal tem em sentir

    o gosto dos alimentos, por exemplo, nas aves a concentrao de botes gus-

    tativos relativamente reduzida, sendo esta percepo potencializada pelos

    sentidos do tato e da viso, j os sunos e bezerros possuem um nmero mais

    elevado de botes gustativos, que pode potencializar sensibilidade ao gosto

    dos alimentos. Alm disso, importante que se observe as diferenas que

    ocorrem devido idade do animal, por exemplo, animais jovens apresentam

    preferncia marcante por substncias adocicadas (VIEIRA et al., 2010).

    2.2.1.4 Glndulas salivaresConstitudas por trs pares bem definidos e alguns escassos tecidos salivares

    menos definidos. As glndulas maiores so conhecidas como glndulas saliva-

    res partidas, submaxilares ou mandibulares e sublinguais (REECE, 2008), as

    quais produzem as secrees salivares. As glndulas sublinguais so respons-

    veis pela produo de uma secreo mista (mucosa e serosa) nos homens. As

    submaxilares produzem uma secreo mista em equinos. Por fim, a glndula

    partida produz uma secreo serosa (RIBEIRO, 2006).

    As secrees serosas, so as secrees que apresentam enzimas, como a

    alfa-amilase e/ou ptialina (RIBEIRO, 2006, p. 22), que age em pH neutro,

    atuando assim exclusivamente na boca ou enquanto o alimento estiver em

    trnsito pela faringe e esfago (REECE, 2008). Ao atingir o estmago a

    alfa-amilase salivar inativada devido ao pH estomacal (ZARDO; LIMA, 1999,

    p. 09), que gira em torno de 1,5 a 2,5 em sunos (BACILA, 2003). O co, gato

    e os ruminantes no possuem amilase salivar, enquanto que a secreo serosa

    em algumas espcies de aves parece ter pequena atuao (RIBEIRO, 2006,

    p. 22). As secrees mucosas, que so responsveis por secretarem muco,

    so consideradas as mais importantes, e tm como funes a lubrificao, a

    proteo e o transporte do alimento (RIBEIRO, 2006, p. 22).

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 22

  • Em ruminantes, a secreo contnua fundamental, uma vez que o fludo

    excretado ao atingir o rmen tem funo tamponante. Nesses animais o pH

    da saliva pode chegar at 8,5, enquanto que o pH em animais no ruminantes

    gira em torno de 6,5 a 7,3 (RIBEIRO, 2006).

    A saliva contm cerca de 99 % de gua e 1 % de slidos orgnicos (mucina

    e protenas: alfa-amilase salivar e/ou ptialina), inorgnicos (cloretos, fosfatos

    e bicarbonatos) e demais elementos (leuccitos, micro-organismos e clulas

    epiteliais de descamao) (BACILA, 2003; ZARDO; LIMA, 1999).

    H duas fases distintas que controlam a secreo de saliva, fase ceflica,

    estimulada pela viso, odor e imaginao e fase de contato, sendo mecnico

    ou qumico (sabor), iniciada quando ocorre o contato do alimento com a

    mucosa (RIBEIRO, 2006, p. 22).

    2.2.1.5 FaringeA faringe uma via comum a alimentos e ar. Durante a passagem pela

    faringe, o reflexo e fatores mecnicos associados com a deglutio evitam

    que o alimento entre na glote e nas cavidades nasais (REECE, 2008, p. 299).

    2.2.2 Esfago, estmago, intestino delgado, intestino grosso e nus2.2.2.1 EsfagoEstende-se da faringe at o estmago, serve como ducto de passagem de

    alimento por ondas de contrao na parede muscular. Em ruminantes a

    deglutio do alimento feita com o auxlio das paredes, j nas aves feito

    por gravidade (RIBEIRO, 2006, p. 25).

    Nos bovinos, o esfago alm de ser utilizado no momento da deglutio do

    alimento, novamente utilizado como rota no momento da regurgitao da

    digesta, para que ocorra a ruminao. Em outras palavras, tm-se uma nova

    mastigao.

    Nas aves, o esfago dividido em pr-papo e ps-papo. O papo ou ingl-

    vio uma poro dilatada do esfago, primariamente de armazenagem de

    alimento, sendo que para animais de produo (frangos de corte e postura)

    essa estrutura passou a ter uma importncia secundria, uma vez que essas

    aves recebem alimentao vontade. No papo, como ao longo de todo o

    esfago das aves, as glndulas mucosas so abundantes, com o objetivo de

    prover a lubrificao do alimento deglutido (REECE, 2008; VIEIRA et al., 2010).

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 23

  • 2.2.2.2 EstmagoNo caso dos sunos e equinos, o estmago uma nica estrutura, conhecida

    como estmago simples ou glandular (Figura 2.2). Nas aves, o estmago

    dividido em duas pores funcionalmente distintas, o proventrculo, tambm

    conhecido como estmago verdadeiro ou glandular, e a moela, denominada

    tambm de estmago muscular ou ventrculo (Figura 2.3) (BACILA, 2003;

    REECE, 2008; VIEIRA et al., 2010). J no caso dos ruminantes (ovinos, bovinos

    e caprinos) o estmago uma estrutura compartimentalizada, apresentando

    quatro pores distintas, o rmen, retculo, omaso e abomaso, sendo que

    este ltimo tambm conhecido como estmago verdadeiro ou glandular,

    semelhante ao dos animais no ruminantes (Figura 2.4).

    A mucosa do estmago verdadeiro ou glandular possui glndulas que esti-

    muladas pelo contato do alimento secretam o suco gstrico, formado por

    gua, sais minerais, muco, cido clordrico (HCl) e pepsinognio (BACILA,

    2003; ZARDO; LIMA, 1999). Uma das consequncias de tal estmulo a

    liberao da gastrina, que um hormnio que estimula a secreo do suco

    gstrico. A liberao da gastrina inibida pelo excesso de HCl no estmago,

    estabelecendo-se assim um controle das secrees (BACILA, 2003).

    A concentrao cida do suco gstrico faz com que o pepsinognio se

    transforme em pepsina, enzima que atua na degradao das protenas,

    desdobrando-as a polipeptdios (BACILA, 2003). A acidez tambm causa

    a destruio dos micro-organismos provenientes da dieta (ZARDO; LIMA,

    1999, p. 09). Em um suno adulto o pH do estmago gira em torno de 1,0 a

    2,5 (Figura 2.2), no entanto, ao nascer, o leito est preparado para digerir

    as protenas do leite que sofrem a ao da renina (pH 5,0 a 5,4), enzima

    secretada e atuante apenas no estmago de leites jovens (BACILA, 2003).

    No h absoro no estmago a partir dos produtos obtidos pela protelise, a assimilao pelo organismo ocorre somente no intestino delgado.protelise

    Processo de quebra daprotena pela ao dasenzimas proteolticas.

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 24

  • Figura 2.2: Esquematizao do aparelho digestivo do suno e faixas de pHFonte: CTISM, adaptado de autores

    Nas aves, as secrees gstricas de HCl e pepsinognio e o muco advm do

    proventrculo. O alimento no permanece no proventrculo, aps ser envolvido

    pelo suco gstrico ele transita at a moela, que ir fazer reduo mecnica

    do alimento. na moela que ir ocorrer protelise (REECE, 2008).

    Figura 2.3: Esquematizao do aparelho digestivo de um peru e faixas de pHFonte: CTISM, adaptado de Reece, 2008

    Para saber mais sobre o que protelise, acesse:http://www.infoescola.com/bioquimica/proteolise/

    Para saber mais sobre o processo de digesto e absoro de protenas, acesse:http://fi le.aviculturaindustrial.com.br/Material/Tecnico/alimentosuino.pdf

    e-Tec BrasilAula 2 - Classifi cao dos animais com base no seu hbito alimentar 25

  • Figura 2.4: Esquematizao do estmago de um ruminante e faixas de pHFonte: CTISM, adaptado de autores

    Nos ruminantes, a saliva, alm de auxiliar na mastigao e deglutio do

    alimento, atua como um agente tamponante do rmen contra os cidos

    produzidos durante a fermentao ruminal (ANDRIGUETTO et al., 2002;

    BACILA, 2003; BORGES et al., 2003). Esse efeito se deve a grande quantidade

    de fosfatos, carbonatos, sais de sdio e de potssio secretados na saliva.

    Outras substncias presentes na saliva, como ureia, fsforo, magnsio e cloro

    servem como nutrientes para os micro-organismos do rmen. Um bovino pode

    produzir de 100 a 190 litros de saliva/dia (BORGES et al., 2003).

    Os animais herbvoros de fermentao pr-gstrica, possuem uma caracterstica

    bem peculiar espcie. A ruminao o processo de trazer o material alimentar

    de volta do estmago para a boca para mastigao adicional (REECE, 2008).

    O objetivo proporcionar a diminuio do alimento com fi bras grosseiras e

    tambm regular o pH do rmen pela adio de saliva, devido a maior secreo

    durante a ruminao do que na mastigao. Um bovino mastiga em mdia de

    15 a 20.000/dia e rumina em mdia 25.000/dia (BORGES et al., 2003).

    O ciclo de ruminao comea com a regurgitao de um bolo alimentar

    (REECE, 2008). O alimento sofre a 1 deglutio, alcana o rmen, por onde

    permanece armazenada por um tempo, passa pelo retculo e regurgitado

    para ser remastigado, reinsalivado e passa pela 2 deglutio. Posteriormente,

    o bolo alimentar passa pelo rmen, retculo, omaso e abomaso, alcanando

    por ltimo o intestino (BORGES et al., 2003). Durante as 24 horas do dia,

    uma vaca leiteira emprega cerca de 7 a 10,5 horas no processo de ruminao

    (BACILA, 2003, p. 168).

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 26

  • A fermentao no rmen e no retculo dos ruminantes realizada por

    micro-organismos (bactrias e protozorios). As bactrias respondem por

    cerca de 80 % do metabolismo ruminal, e os protozorios aos 20 % restantes

    (REECE, 2008). A faixa de temperatura ideal para o bom desenvolvimento dos

    micro-organismos de 39C, e um pH na faixa de 6,7 (RIBEIRO, 2006). No

    rmen so encontradas mais de 1.000 espcies de bactrias e 30 de proto-

    zorios. As bactrias e protozorios produzem cidos graxos volteis (AGV),

    dixido de carbono e metano a partir da fermentao de seus nutrientes

    (BACILA, 2003), alm disso, as bactrias do rmen sintetizam vitaminas,

    principalmente as do complexo B e a vitamina K, e ainda sintetizam amino-

    cidos a partir de quase todas as fontes de nitrognio (ANDRIGUETTO et al.,

    2002, p. 54). Os principais AGV so o actico, propinico e butrico, e a maior

    parte destes so absorvidos pelo rmen antes da ingesta atingir o duodeno.

    As propores usuais de AGV no rmen so de 60 a 70 % de cido actico,

    de 15 a 20 % de cido propinico e de 10 a 15 % de cido butrico (REECE,

    2008). O retculo tambm tem papel importante na regurgitao do alimento

    e na eructao. O omaso responsvel pela absoro de gua, minerais e AGV (BORGES et al., 2003).

    As propores de AGV no rmen devem ser mantidas adequadas, pois caso

    haja algum desequilbrio, pode-se observar nos animais uma queda no con-

    sumo de alimentos e na produo de leite, alm de haver alteraes na com-

    posio do leite e o surgimento de distrbios metablicos, que acabam por

    comprometer a sanidade animal. Com isso, muito importante que se tenha

    fornecimento adequado de alimentos volumosos e concentrados. Em relaes volumoso:concentrado de 100:0, 80:20 e 60:40 so observados

    valores de pH no rmen de 7,0, 6,6 e 6,2 respectivamente, sendo valores

    considerados adequados para a fermentao da celulose pelas bactrias e

    protozorios (PELEGRINO, 2008).

    As protenas de origem microbiana e dos alimentos, que escapam degra-

    dao bacteriana, sero degradadas no abomaso. (BORGES et al., 2003). O

    abomaso onde ocorre a digesto atravs da ao do suco gstrico (similar

    a que ocorre em animais no ruminantes) (ANDRIGUETTO et al., 2002).

    2.2.2.3 Intestino delgado (duodeno, jejuno e leo)O contedo estomacal que deixa o estmago e entra no intestino recebe o

    nome de quimo. O intestino delgado possui trs pores distintas, o duodeno,

    jejuno e leo (REECE, 2008). No intestino delgado chegam quatro secrees, a

    saber, o suco pancretico, o suco duodenal, o suco entrico e a bile (ZARDO;

    LIMA, 1999, p. 9).

    alimentos volumososSo os alimentos de baixo valor energtico e com alto teor de fibra. Possuem mais de 18 % de fibra bruta.

    alimentos concentradosAlimentos que possuem at 18 % de fibra bruta.

    eructaoProcesso pelo qual os gases dos pr-estmagos so removidos, via esfago, para a faringe.

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 27

  • O intestino delgado o local principal para a digesto de alimentos e absoro

    de nutrientes em animais no ruminantes (Figura 2.5).

    Figura 2.5: Locais de secreo, digesto e absoro ao longo do trato gastrointestinalFonte: CTISM, adaptado de autores

    O suco pancretico secretado pelo pncreas excrino por estmulo do cido

    clordrico, amido, gorduras e hormnios gastrintestinais (secretina e colecis-

    toquinina) (BACILA, 2003; ZARGO; LIMA, 1999) e depositado no duodeno

    atravs do ducto pancretico. O suco pancretico contm sais inorgnicos

    (bicarbonato sdico) e enzimas.

    O suco duodenal produzido pelas glndulas de Brnner no duodeno. Essa

    secreo alcalina, age como lubrifi cante e protege a mucosa intestinal contra

    o HCl que vem misturado ao contedo estomacal, mas no possui enzimas.

    Nas aves no h glndulas de Brnner, de modo que a secreo duodenal

    atribuda apenas s glndulas ou criptas de Liberkhn ali presentes (BACILA,

    2003; RIBEIRO, 2006; ZARDO; LIMA, 1999).

    A secreo biliar composta de sais biliares, bilirrubina e eletrlitos (Na+, K+,

    Cl- e HCO-3) (REECE, 2008).

    A bile, secretada pelo fgado e armazenada na vescula biliar, contm

    sais sdicos e potssicos que ativam as lipases pancretica e intestinal e

    contribuem para a emulsifi cao das gorduras. A bile tambm facilita a

    absoro de cidos graxos e das vitaminas lipossolveis (ZARDO; LIMA,

    1999, p. 10).

    Para saber mais sobre as propriedades das principais enzimas digestveis, acesse:

    http://gepsaa.fi les.wordpress.com/2013/03/enzimas-

    digestivas.pdf

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 28

  • Os hormnios relacionados com a secreo de bile so a secretina, colecisto-

    quinina e gastrina (REECE, 2008).

    O suco entrico produzido nas vilosidades do intestino delgado pelas crip-

    tas de Liberkhn, composto de muco, gua, eletrlitos e rico em enzimas

    (ANDRIGUETTO et al., 2002; BACILA, 2003). Sua produo provocada pelo

    estmulo mecnico da mucosa e pela presena de hormnios gastrintestinais

    (ZARDO; LIMA, 1999, p. 10).

    2.2.2.4 Intestino grosso (ceco, clon e reto)O desenvolvimento do intestino grosso varia entre os animais, de acordo

    com a dieta (REECE, 2008, p. 307).

    No suno, a digesto no intestino grosso se realiza por meio de algumas

    enzimas procedentes do intestino delgado e atravs da ao de micro-or-

    ganismos que habitam principalmente o ceco. Estes micro-organismos

    so, em sua maioria, proteolticos e atacam as protenas no digeridas

    no intestino delgado (ZARDO; LIMA, 1999, p. 10).

    No ceco dos sunos ocorre a produo de AGV pelos micro-organismos. Os

    micro-organismos sintetizam aminocidos essenciais e vitaminas do complexo

    B. No intestino grosso ocorre reabsoro de gua (RIBEIRO, 2006).

    No ceco das aves, os micro-organismos atuam em particular na degradao

    da celulose. O clon responsvel em transportar o contedo intestinal por

    movimentos peristlticos para a cloaca, onde a urina ser concentrada devido

    absoro de gua e, particularmente, de sdio j que a urina das aves

    bastante diluda para excretar cido rico (BACILA, 2003; REECE, 2008).

    A digesto microbiana observada em ruminantes tambm realizada no

    intestino grosso de herbvoros no ruminantes (REECE, 2008). Um equino

    pode obter at 75 % de sua necessidade de energia da absoro de AGV no

    intestino grosso (CERQUEIRA, 2010). Tambm h a presena da enzima celu-

    lase no intestino grosso de equinos. No intestino grosso ocorrem absoro

    de gua, eletrlitos, vitaminas do complexo B e protena microbiana.

    Nos ruminantes, os pr-estmagos (rmen, retculo e omaso) constituem o

    principal ponto de fermentao, assim o intestino grosso ter como principal

    funo a absoro de eletrlitos e gua.

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 29

  • 2.2.2.5 nusO nus a juno da parte terminal do trato digestrio com a pele. Ele se

    fecha por meio do esfncter muscular formado por fibras musculares lisas e

    estriadas. Nas aves o nus chamado de cloaca e, uma sada comum ao

    sistema digestrio, urinrio e reprodutor (REECE, 2008).

    2.2.3 Fases da secreo gstricaSo trs as fases de controle das secrees gstricas (ceflica, gstrica e intes-

    tinal). A fase ceflica inicia-se com a percepo do alimento, aonde ocorrem

    estmulos (gustativos, visuais e olfativos) que desencadeiam o reflexo. J a fase

    gstrica se d pela chegada do alimento ao estmago, onde ativa a secreo

    devido a estmulos mecnicos (aumento de volume do estmago) e qumicos

    (pH). E por fim, a fase intestinal, desencadeada pela chegada da digesta cida

    ao intestino (RIBEIRO, 2006).

    ResumoAs diferentes espcies animais apresentam, na sua grande maioria particulari-

    dades quanto ao trato gastrointestinal. Conhecer e entender essas singularida-

    des so fundamentais, pois o que determinar qual o manejo alimentar e/ou

    tipo de alimento que ser fornecido para determinada espcie animal, ser a

    capacidade desta em aproveitar os nutrientes contidos nesses alimentos. As

    aves e os sunos apresentam uma capacidade limitada de aproveitar a fibra

    da dieta, e o consumo de uma rao rica em fibra pode lev-los a uma piora

    significativa no desempenho produtivo. J no caso dos herbvoros ruminantes,

    o fornecimento de uma dieta pobre em fibra poder ocasionar distrbios

    metablicos nos animais, os quais podem levar estes morte.

    Atividades de aprendizagem1. Quais so as partes que compe o sistema gastrointestinal dos animais?

    Descreva sucintamente as funes de cada uma destas partes.

    2. Porque necessrio que haja a produo de um volume grande de saliva diariamente nos animais ruminantes?

    3. No que consiste o processo de ruminao e qual a sua funo?

    4. Quais os efeitos que poder ser observado no metabolismo dos ruminantes se lhes for fornecida uma alimentao rica em concentrado, ficando, por

    exemplo, com uma relao (%) volumoso:concentrado abaixo de 60:40?

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 30

  • 5. A enzima alfa-amilase salivar, que observada em algumas espcies de animais, atua na degradao de carboidratos contidos nos alimentos,

    enquanto o mesmo estiver transitando da cavidade oral at o estmago.

    Porque essa enzima no continua atuando sobre o bolo alimentar quan-

    do este j estiver no estmago?

    e-Tec BrasilAula 2 - Classificao dos animais com base no seu hbito alimentar 31

  • e-Tec Brasil

    Aula 3 Principais conceitos aplicados nutrio animal

    Objetivos

    Conhecer a terminologia utilizada na nutrio animal.

    3.1 Conceitos iniciaisAlguns termos so comumente utilizados quando se refere alimentao

    animal e imprescindveis compreenso da tecnologia de raes. As termino-

    logias a seguir trabalhadas foram reunidas de diversas publicaes cientficas

    na rea de alimentao animal (ANDRIGUETTO et al., 1983; 2002; BUTOLO,

    2010; ISLABO, 1984; RIBEIRO, 2006; BRASIL, 2007).

    O termo rao, j denominado na primeira aula refere-se ao total de

    alimentos consumidos por um indivduo no perodo de 24 horas (ANDRI-

    GUETTO et al., 1983, p. 387). No entanto, esse termo dever ser seguido

    qualitativamente por equilibrada ou balanceada para indicao de que

    est nutricionalmente adequada para atender as necessidades do animal.

    Alimento substncia que, consumida por um indivduo fornece os nu-trientes assegurando o ciclo regular de vida e a sobrevivncia da esp-

    cie a qual pertence. O alimento constitudo de nutrientes e no pode

    possuir substncias txicas. Quanto composio qumica dos alimentos

    pode-se dividir majoritariamente em duas fraes: matria seca e gua.

    A matria seca dividida em matria orgnica (carboidratos, protenas,

    lipdeos e vitaminas) e matria mineral (macro e microminerais).

    Nutriente o componente do alimento que entra no metabolismo celular com capacidade de desempenhar funes para manuteno da

    vida ou da produo. Os nutrientes so convencionalmente classificados

    em macronutrientes (protenas, carboidratos e lipdeos) e micronutrientes

    (vitaminas e minerais).

    Alimentao estuda a composio dos alimentos e os padres de exi-gncias, no sentido de alimentar os animais de forma econmica e nutri-

    tiva. Objetiva suprir os animais para atender a manuteno e produo,

    correspondendo administrao racional do alimento.

    e-Tec BrasilAula 3 - Principais conceitos aplicados nutrio animal 33

  • Nutrio conjunto de processos que resulta na assimilao dos nu-trientes pelas clulas. Inicia-se com a ingesto do alimento.

    Dieta conjunto de alimentos que compe uma rao particularmente prescrita para uma determinada categoria animal.

    Matria-prima toda substncia que, para ser utilizada como ingre-diente, necessita ser submetida a tratamento ou transformao de natu-

    reza fsica, qumica ou biolgica.

    Ingredientes qualquer matria-prima utilizada na composio de uma rao, concentrado ou suplemento.

    Fibra Bruta (FB) frao da parede celular de vegetais constituda prin-cipalmente de celulose, lignina e parte da hemicelulose.

    Nutrientes Digestveis Totais (NDT) expresso do valor calrico dos ali-mentos, em razo dos nutrientes contidos e dos aproveitados pelo animal.

    Alimento volumoso alimento que contm um teor de FB > 18 % e NDT < 60 % (possui baixos valores energtico e proteico).

    Alimento concentrado alimento que contm um teor de FB < 18 % e rico em energia e protena (NDT > 60 %).

    Ressalta-se aqui que os alimentos concentrados podero ser fontes de pro-

    tena (acima de 18 % de protena) como farelo de soja, farelo de algodo,

    farinha de carne e ossos, etc., ou ainda serem fontes de energia (abaixo

    de 18 % de protena) como milho, farelo de trigo, quirera de arroz, farelo

    de arroz, etc.

    Suplemento mistura de ingredientes e/ou alimentos que supriro a rao em algum nutriente (exemplo: proteico, mineral, vitamnico).

    Silagem material resultante da fermentao da planta forrageira, que tenha quantidade suficiente de carboidratos para esta fermentao, na

    ausncia de ar, aps ser triturada e armazenada em silos.

    Aditivos substncias intencionalmente adicionadas aos alimentos, que no sejam prejudiciais aos animais e ao homem, no deixem resduos nos

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 34

  • produtos de consumo, no contaminem o meio ambiente e utilizadas

    sob determinadas normas.

    Concentrado, ncleo e premix mistura de ingredientes e/ou alimen-tos, geralmente em baixas quantidades que complementaro a rao.

    Exigncia nutricional quantidade de cada nutriente, requerida por determinada espcie e categoria animal, para sua manuteno, produ-

    o e reproduo eficiente.

    Deficincia nutricional e carncia insuficincia de um nutriente es-sencial que culmina com o surgimento de sinais clnicos no animal como

    resultado da deficincia nutricional.

    Frmula seleo quantitativa dos componentes de uma rao ou de um suplemento (geralmente se leva em conta a formulao com menor custo).

    A formulao de uma rao adequada ao animal deve considerar o for-

    necimento de nutrientes energticos que supram o aporte de energia

    necessrio espcie, considerando que nem toda energia ingerida ser

    utilizada pelo animal.

    Energia bruta representa a energia contida nos alimentos, e medida atravs da oxidao total da matria orgnica.

    Energia digestvel determinada pela diferena entre a energia bruta do alimento consumido e a energia bruta das fezes.

    Energia metabolizvel obtida pela diferena entre a energia bruta do alimento e a energia bruta excreta (fezes e urina) e dos gases oriundos

    da digesto.

    Energia lquida obtida da energia metabolizvel menos a energia perdida como incremento calrico. O incremento calrico representa toda

    perda de energia durante os processos de digesto, absoro e metabo-

    lismo dos nutrientes. A energia lquida a energia na forma de ATP que ser usada para crescimento, manuteno, produo de leite, de ovos, etc.

    Metabolismo conjunto de transformaes que sofrem os nutrientes no organismo animal, aps serem absorvidos no trato digestivo. Inclui o

    ATP(Adenosina Trifosfato)Moeda energtica da clula. a energia que ser utilizada pela clula, que a unidade fundamental dos organismos vivos.

    e-Tec BrasilAula 3 - Principais conceitos aplicados nutrio animal 35

  • desdobramento dos nutrientes, a sntese de constituintes celulares e a

    transformao da energia.

    Metabolismo de manuteno ou bsico corresponde s necessida-des do organismo animal durante um perodo de 24 horas para mant-lo

    em repouso, sem perda nem ganho de peso.

    Metabolismo de produo parcela adicional destinada a atender um trabalho til qualquer: lactao, ganho de peso, produo de ovos, etc.

    Consumo voluntrio quantidade de alimento consumido durante um perodo de tempo quando o alimento oferecido ad libitum.

    ResumoAlguns conceitos sero comumente utilizados e necessrios ao processo de

    fabricao de raes, como por exemplo, na diferena de se elaborarem

    raes balanceadas ou simplesmente raes. Chama-se ateno para

    diferenciao entre os tipos de alimentos fornecidos aos animais (volumosos

    e concentrados, proteicos e energticos) e conceitos de energia (bruta, diges-

    tvel, metabolizvel e lquida).

    Atividades de aprendizagem1. Diferencie rao e rao balanceada.

    2. Qual a diferena bsica entre alimentos volumosos e alimentos concentrados?

    3. Considerando uma vaca leiteira que necessita de x kcal para a produo de leite, devemos nos preocupar em atender as suas exigncias de ener-

    gia bruta ou de energia lquida? Por qu?

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 36

  • e-Tec Brasil

    Aula 4 Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo

    Objetivos

    Conhecer as principais matrias-primas de origem vegetal, animal

    e lquidas.

    Conhecer demais ingredientes utilizados na fabricao de raes

    para animais de produo.

    4.1 Definio de ingredienteO alimento pode ser definido como toda substncia que contm um ou mais

    nutrientes (RIBEIRO, 2006). Os alimentos utilizados para fabricao de raes

    tambm recebem frequentemente o nome de ingredientes e/ou matrias-pri-

    mas. Em fbricas de raes comum um aditivo, indiferente da sua classi-

    ficao, ser considerado um ingrediente, e raramente referenciado como

    matria-prima. Geralmente so consideradas matrias-primas, produtos como

    milho, farelo de soja, leo, farinha de carne, entre outros da mesma linha.

    Para fins didticos, consideraram-se neste material, ingredientes e/ou mat-

    rias-primas, todos os alimentos (milho, farelo de soja, etc.) e aditivos (fitase,

    ractopamina, etc.) que podem ser adicionados nas dietas para compor uma

    rao destinada aos animais.

    4.2 Principais ingredientesEmbora se tenha uma enormidade de ingredientes disponveis para o emprego

    na fabricao de raes, este material trar informaes a cerca das mat-

    rias-primas mais utilizadas na fabricao de raes (Quadro 4.1).

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 37

  • Quadro 4.1: Principais ingredientes empregados na fabricao de raes

    Origem vegetal Origem animal LquidoDemais

    ingredientesAditivos

    Proteicos1

    Farelo de sojaFarelo de algodoFarelo de girassol

    Bsicos2

    MilhoQuirera de arrozFarelo de arrozSorgo baixo taninoFarelo de trigo

    OutrosCasca de soja

    Farinha de Carne e Ossos (FCO)Farinha de peixeSoro de leite em p

    Melaoleo de sojaGordura de origem animal

    CalcrioFosfato biclcicoSal comumLisinaMetioninaTriptofanoTreonina

    cidos orgnicos e inorgnicosAntioxidanteAdsorventesAromatizantes e palatabilizantesEnzimasProbiticos, prebiticos e simbiticosRactopaminaBicarbonato de sdioIonforos (monensina e lasolicida)VirginiamicinaUreia pecuria

    1Alimentos proteicos apresentarem valores de protena bruta acima de 18 %.2Alimentos bsicos apresentam valores de protena bruta abaixo de 18 %.

    Fonte: Autores

    4.3 De origem vegetal4.3.1 Farelo de sojaSo encontrados vrios produtos originrios do gro da soja aps a colheita

    (ZARDO; LIMA, 1999), sendo que o farelo de soja e soja integral (tostada ou

    desativada) so as principais fontes de protenas empregadas na fabricao

    de raes (BUTOLO, 2010). O farelo de soja (com e sem casca) o produto

    tostado resultante do processo de extrao do leo por solventes (BUTOLO,

    2010; ZARDO; LIMA, 1999), que apresenta valores entre 42 a 48 % de protena

    bruta (BUTOLO, 2010) e de 1,45 a 1,69 % de gordura (ROSTAGNO et al.,

    2011). O farelo de soja integral tostado, o produto resultante da exposio

    do gro ao calor, apresenta em torno de 37 % de protena bruta e 18 % de

    gordura (FIALHO, 2009).

    No caso da utilizao da soja em seu estado natural sem processamento na

    nutrio de aves e sunos, so observados fatores antinutricionais que inibem

    o crescimento dos animais, reduzem a digestibilidade da protena, causam

    hipertrofia pancretica, estimulam a hiper e hipo secreo de enzimas pan-

    creticas e reduzem a disponibilidade de aminocidos, vitaminas e minerais

    (BUTOLO, 2010).

    A inativao de alguns fatores antinutricionais ocorre por aquecimento do

    gro. No Quadro 4.2, observam-se alguns fatores antinutricionais e seus

    efeitos no metabolismo dos animais.

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 38

  • Quadro 4.2: Fatores antinutricionais presentes no gro cru de soja e seus efeitos no metabolismo animal

    Fator antinutricional Modo de ao

    Inibidor de tripsinaCompostos proteicos que se complexam com a tripsina, prejudicando a digesto das protenas alimentares desdobradas pela ao da pepsina.

    Hemaglutininas

    Albuminas solveis em gua que interagem com glicoprotenas presentes nas membranas celulares dos glbulos vermelhos, aglutinando-os. Aderem-se a stios de absoro do intestino delgado, dificultando a absoro de nutrientes.

    cido ftico

    Fator antinutricional que indisponibiliza minerais (Zn, Cu, Ca, Fe, Cr) e aminocidos (arginina). Aproximadamente 75 % do fsforo presente nos gros e cereais esto indisponveis.

    GoitrogniosAgentes antitireoideanos que inibem a produo de iodo, bloqueando a utilizao da tiroxina.

    Lpase e lipoxidase Promovem a oxidao e rancificao do leo de soja.

    Fatores antivitaminas Aumentam a necessidade das vitaminas A e E.

    Saponinas, estrgenos, fatores flatulentos e alrgicos (Glicinina e Conglicinina)

    Reduzem a absoro de nutrientes, causando efeitos deletrios sobre as microvilosidades do intestino delgado de sunos.

    Fonte: Butolo, 2010

    H vrios mtodos para medir a inativao dos fatores negativos da soja,

    dentre os principais, o teste que mede a atividade uretica e a solubilidade pro-

    teica. O mais utilizado o que determina a atividade uretica, possivelmente

    pelo fato de ser mais econmico e mais rpido. A determinao da urease na

    soja mede de maneira eficaz, o grau de inativao dos fatores antinutricionais

    termolbeis, mas no tem valor para determinar se o processamento prejudi-

    cou ou no a qualidade da protena e das vitaminas dos gros. Sua aferio

    se faz pela variao do pH (atividade uretica) (BUTOLO, 2010).

    Alm da realizao do teste da atividade uretica, importante realizar o teste

    para determinar a protena solvel em soluo de hidrxido de potssio a 0,2 %.

    Em uma situao de superaquecimento dos gros, a atividade uretica poder

    apresentar-se dentro dos valores de referncia, no entanto, a solubilidade

    proteica ficar abaixo do ideal (< 80 %), indicando a queima do produto, o

    que compromete a disponibilidade de lisina e de outros aminocidos. Em caso

    de subaquecimento poder se observar uma solubilidade prxima de 90 %, e

    nesse caso no houve uma boa desativao dos fatores antinutricionais. Para

    se determinar a qualidade de uma soja integral ou farelo importante que

    sejam realizados os dois testes, o de atividade uretica, com uma faixa ideal

    entre 0,05 a 0,20, e o de solubilidade proteica, com uma faixa ideal entre 80

    a 85 % (BUTOLO, 2010; FIALHO, 2009).

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 39

  • A contaminao e os defeitos do gro tambm influenciam na sua qualidade.

    Excesso de cascas, partculas superaquecidas, areia, terra, talos e sementes

    so considerados exemplos de contaminao (BUTOLO, 2010). Com base nos

    defeitos dos gros e limites aceitveis de impurezas e matrias estranhas, a

    soja classificada de acordo com a Instruo Normativa n 11, de 15 de maio de 2007, na qual podem ser encontradas as definies do que vem a

    ser gros ardidos, brotados, chochos, quebrados e carunchados. A presena

    destes acaba por depreciar qualitativamente o gro.

    4.3.2 Farelo de algodoO farelo de algodo uma das mais usuais fontes de protena vegetal utilizadas

    na alimentao de gado de leite e corte. O uso do algodo e seus subprodutos

    resumem-se as reas produtoras, tornando sua utilizao economicamente

    invivel em regio aonde no se tem o plantio e a colheita desta oleaginosa.

    O teor de fibra e a presena de gossipol, pigmento amarelo, polifenlico,

    encontrado nas glndulas de leo do caroo de algodo, so os fatores

    limitantes quanto utilizao desse ingrediente nas raes de animais

    no ruminantes (BUTOLO, 2010, p. 113).

    Na maioria dos farelos, o contedo de gossipol total, est em torno de

    1 %, mas somente 0,1 % est na forma de gossipol livre, forma que se

    liga quimicamente ao ferro da dieta, tornando-o indisponvel, causando

    problemas relacionados ao aparecimento de deficincias de ferro (ane-

    mias) (BUTOLO, 2010, p. 113).

    O gossipol pode ser inativado por tratamentos trmicos realizados de

    forma adequada, embora o uso desses processos possa formar com-

    plexos inertes e indigestveis entre o gossipol e protena, reduzindo

    com isso o valor nutricional da protena. Outra estratgia que pode

    ser adotada a utilizao de sulfato ferroso nas raes na proporo

    de 1:1 (ferro:gossipol livre). O ferro forma um complexo insolvel e

    irreversvel com o gossipol no trato intestinal, evitando sua absoro

    (FIALHO, 2009, p. 145).

    Nos sunos, a intoxicao pelo gossipol pode causar esterilidade dos repro-

    dutores, debilidade muscular, edema cardaco e outros prejuzos econmicos

    decorrentes da queda do desempenho (FIALHO, 2009, p. 145). Nas aves,

    pode ocorrer a descolorao da gema e do albmen e aparecimento de

    manchas de sangue na gema (BUTOLO, 2010, p. 113). Os touros so dez

    vezes mais susceptveis que as vacas, pois podem apresentar reduo sbita

    Instruo Normativa (IN)Atos normativos expedidos por autoridades que visam

    complementar ou regulamentar leis, decretos ou portarias

    sem, no entanto, transpor ou modificar seu contedo.

    Para saber mais sobre a Instruo Normativa n 11,

    de maio de 2007, a respeitodo padro de classificao

    da soja, acesse: http://www.agricultura.gov.br/

    legislacao

    Para saber mais sobre oalgodo e do efeito do

    gossipol, acesse: http://sistemasdeproducao.

    cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Algodao/

    AlgodaoAgriculturaFamiliar_2ed/subproduto.html

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 40

  • na quantidade de smen produzida. Para bovinos, no se deve fornecer acima

    de 15 % ou 20 % da rao (FREIRE, 2006).

    4.3.3 Farelo de girassolO farelo de girassol pode ser considerado uma boa fonte de protena (28 a

    40 %), principalmente para animais ruminantes. O farelo de girassol apresenta

    baixo valor energtico, baixo nvel de lisina total (em torno de 1,3 %) e alto

    teor de fibras (16 a 25 %) (BUTOLO, 2010). Esses elevados nveis de fibras

    esto diretamente relacionados com a sua baixa energia digestvel, o que torna

    o seu uso em grandes quantidades no recomendado para aves e sunos.

    O girassol contm um composto polifenlico conhecido como cido cloro-

    gnico, tido como um fator antinutricional (ANDRIGUETTO et al., 2002). O

    consumo do cido clorognico ocasiona a diminuio da digestibilidade de

    protenas e gorduras, pela inibio das enzimas tripsina e lpase, respectiva-

    mente, e adicionalmente em aves so observadas alteraes na casca do ovo.

    Trabalhos demonstram a utilizao na dieta de frangos de corte e sunos em

    terminao de at 20 %, sem que haja detrimento no desempenho dos ani-

    mais (TAVERNARI et al., 2008). No entanto, necessrio que se faa um ajuste

    na dieta em termos de energia e protena, sendo quase certa a necessidade

    da suplementao com leo e lisina sinttica, principalmente em fases nas

    quais as exigncias de energia e lisina dos animais so maiores.

    4.3.4 MilhoO milho a principal fonte energtica empregada nas raes produzidas no

    Brasil (FIALHO, 2009, p. 24). O gro de milho participa com mais de 60 %

    do total nas raes. Apresenta alto valor nutritivo e contedo de carboidra-

    tos, principalmente o amido, e rico em caroteno e xantofila, que fornece a

    provitamina A, responsvel pela pigmentao amarela da pele dos frangos e

    colorao da gema do ovo (BUTOLO, 2010).

    Em termos de protena, o milho apresenta um baixo valor de aminocidos

    essenciais, particularmente a lisina e triptofano, o que torna a protena total

    do milho deficiente nesses aminocidos para aves e sunos (BUTOLO, 2010).

    O cido ftico um dos principais fatores antinutricionais presentes no milho.

    Em mdia, apenas 24 % do fsforo est na forma livre, ou seja, que pode ser

    aproveitado pelo animal (ROSTAGNO et al., 2011; FIALHO, 2009). O restante

    est na forma de cido ftico, que pode estar complexado a protenas e

    minerais, deixando-os indisponveis ao metabolismo animal.

    Para saber mais sobre ofarelo de girassol, acesse:http://www.nutritime.com.br/arquivos_internos/artigos/064V5N5P638_647_SET2008_.pdf

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 41

  • Os principais contaminantes do milho so os fungos e as sementes de plantas

    invasoras (principalmente o Fedegoso).

    Quando o milho apresenta valores de umidade muito acima de 13 %, por

    exemplo, maior de 16 %, se propicia um ambiente adequado para o desen-

    volvimento mais rpido de diversos fungos (BUTOLO, 2010), e consequen-

    temente produo de micotoxinas. Como exemplo pode-se citar os fungos

    Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, que so responsveis pela produo da aflatoxina B1 (AFB1), reconhecida na literatura como o agente natural mais

    carcinognico que se tem registro.

    O Fedegoso, como conhecido popularmente, uma leguminosa do gnero

    Cassia (Cassia occidentalis L.) e uma das principais plantas invasoras que con-taminam o milho, soja e sorgo. A colheita mecnica possibilita que sementes

    desta planta acompanhem o gro do milho, parte da planta aonde se registra

    a maior toxidez (BUTOLO, 2010).

    Os sinais clnicos da ingesto por bovinos so diarreias, fraqueza muscular e

    incoordenao motora. Nas aves, dependendo da quantidade de semente

    consumida, os sinais vo deste uma diminuio na produo de ovos das

    galinhas poedeiras at a morte das mesmas (BUTOLO, 2010). Em sunos,

    os sinais clnicos da intoxicao so, inicialmente, anorexia e apatia e, em

    seguida diarreia e vmitos. Aps uma semana do incio do quadro clnico,

    pode ocorrer incoordenao muscular, perda do equilbrio, marcha irregular

    e morte do animal (SOBESTIANSK; BARCELLOS, 2007).

    Similarmente ao que ocorre com o gro de soja, o milho tambm recebe

    uma classificao com base nos defeitos dos gros. Assim, a IN n 60 de 22

    de dezembro de 2011, traz um regulamento tcnico que tem por objetivo

    definir o padro oficial de classificao do milho.

    4.3.5 Quirera e farelo de arroz A quirera de arroz o produto originado do processo de seleo de arroz

    para consumo humano (BUTOLO, 2010). A quirera de arroz pode substituir

    100 % do milho das raes, pois os nveis nutricionais so muito prximos.

    O Farelo de Arroz Integral (FAI) e o Desengordurado (FAD), que so sub-

    produtos do processamento do gro de arroz, so excelentes substitutos

    parciais do milho na alimentao de aves e sunos. O que limita um maior uso

    dos farelos de arroz nas raes o nvel elevado de fibra bruta (12 a 13 %)

    Para saber mais sobre micotoxinas, acesse:

    http://www.revista-fi.com/materias/90.pdf

    Para saber mais sobre a Instruo Normativa n 60,

    de dezembro de 2011, a respeito do padro de classificao do

    milho, acesse: http://www.agricultura.gov.br/

    legislacao

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 42

  • (BUTOLO, 2010). No FAI a frao proteica rica em aminocidos sulfurosos

    (metionina) e tem a lisina e treonina como aminocidos mais limitantes.

    Os principais fatores antinutricionais dos subprodutos do arroz so os inibi-

    dores de tripsina, o oxalato (diminui a absoro de clcio) observado prin-

    cipalmente no FAI e o alto teor de cido ftico (aproximadamente 15 % do

    fsforo encontram-se na forma livre).

    Para que ocorra a neutralizao dos inibidores de tripsina importante que os

    subprodutos do arroz sejam submetidos ao tratamento trmico, pois esse fator

    antinutricional termolbil (BUTOLO, 2010). A peletizao uma excelente

    alternativa de controle, uma vez que a rao submetida a uma temperatura

    de 70-85C.

    Outros fatores antinutricionais a serem considerados so a celulose e a slica,

    que possivelmente surge devido falta de padronizao no momento da

    industrializao. O consumo de teores elevados de fibras insolveis pode

    interferir na absoro de nutrientes essenciais no intestino, reduzindo sua

    biodisponibilidade (ZARDO; LIMA, 1999).

    O FAI tem um alto teor de gordura, rico em cidos graxos insaturados (cidos

    palmtico, linoleico e oleico), que so facilmente peroxidveis (ramificveis), o

    que reduz o valor nutricional do alimento (vitaminas) e pode causar problemas

    gastrointestinais nos animais. Assim, o emprego de antioxidantes, armazena-

    gem adequada e perodo mnimo de estocagem so medidas que contribuem

    para minimizar este problema (ANDRIGUETTO et al., 2002).

    O angiquinho (Aeschynomene) uma invasora importante em lavouras de arroz irrigado, e suas sementes acabam sendo fonte de intoxicao nos ani-

    mais. No processamento do arroz, as sementes do angiquinho so separadas

    juntamente com o arroz quebrado, que acaba constituindo a quirera de arroz

    (SOBESTIANSK; BARCELLOS, 2007).

    O arroz tambm possui uma regulamentao tcnica quanto ao seu padro

    oficial de classificao. A IN n 06, de 16 de fevereiro de 2009, estabelece as

    definies para os defeitos e formas de apresentao do arroz.

    4.3.6 Sorgo baixo tanino e/ou sem taninoO sorgo pode substituir o milho em 100 % nas raes de aves e sunos, sempre

    observando os possveis ajustes em termos de energia e aminocidos que esta

    substituio ir exigir (FIALHO, 2009; SCHEUERMANN, 1998).

    aminocidos limitantesAminocido que est presente em menor quantidade do que a necessria no alimento.

    Para saber mais sobre a Instruo Normativa n 06,de 16 de fevereiro de 2009, a respeito do padro de classificao do arroz, acesse:http://www.agricultura.gov.br/legislacao

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 43

  • As plantas produzem vrios compostos fenlicos, dentre os quais se destaca o

    tanino condensado, que tem ao antinutricional, principalmente em animais

    no ruminantes, devido a se complexar com as protenas, o que vai afetar a

    digestibilidade e modificar a palatabilidade. O tanino responsvel, metabo-

    licamente, pela inibio de algumas enzimas presentes no sistema digestivo,

    diminuindo, assim a absoro dos nutrientes atravs da parede intestinal

    (FIALHO, 2009). Os parmetros de impurezas e imperfeies do gro so

    observados na Portaria n 268, de 22 de agosto de 1984, que dispe sobre

    a classificao do sorgo.

    4.3.7 Farelo de trigoNo Brasil, o trigo destinado ao consumo humano, servindo para a produo

    de panifcios e massas alimentcias, e utilizado na alimentao animal somente

    quando por ocasio de sua colheita, condies climticas desfavorveis tor-

    naram o produto desqualificado para produo de farinha, em funo do seu

    baixo peso especfico (BUTOLO, 2010).

    O trigo apresenta teor de protena mais elevado que o milho e teor de energia

    em torno de 10 % inferior, e tambm possui teores menores de biotina dis-

    ponvel. O trigo contm em torno de 5 a 8 % de pentosanas. Os compostos

    das pentosanas so os arabinoxilanos, que contribuem para o aumento da

    viscosidade da digesta de aves, que no produzem quantidades suficientes de

    enzimas xilanases para hidrolis-las. Esses problemas podem ser contornados

    limitando a quantidade de trigo na dieta, especialmente para aves jovens ou

    utilizando-se de enzima exgena, a xilanase (BUTOLO, 2010).

    O trigo tambm contem inibidores de alfa-amilase, que so termolbeis e

    podem ser destrudos durante o processo de peletizao (BUTOLO, 2010).

    O farelo de trigo includo nas raes em pequenas porcentagens, geralmente

    como uma fonte de fibra.

    4.3.8 Casca de sojaO valor energtico metabolizvel da casca de soja, para sunos, pode chegar

    a 66 % do valor energtico do milho (gro), porm com valor de fibra muito

    acima (32,7 %) daquele proporcionado pelo milho (1,73 %) (ROSTAGNO et

    al., 2011), sendo muito utilizada em dietas de fmeas sunas em gestao,

    para se alcanar um nvel mais elevado de FB.

    Apesar do elevado teor de fibra, a digestibilidade da Frao em Detergente

    Neutro (FDN) pode alcanar 95 % em bovinos, devido ao padro de fermenta-

    Para saber mais sobre a Portaria n 268/1984, a respeito do padro de classificao do

    sorgo, acesse:http://www.agricultura.gov.br/

    legislacao

    enzima exgenaRefere-se s enzimas que so fornecidas via rao, podendo

    ou no ser produzida pelo organismo dos animais. A alfa amilase salivar um exemplo

    de enzima endgena (que produzida no organismo dos animais) que pode ser

    fornecida de forma exgena. A suplementada via rao nas

    dietas visa melhorar a eficincia da degradao do amido.

    Para saber mais sobre enzimas exgenas utilizadas na

    alimentao de aves, acesse: http://periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/acta/article/

    view/485/241

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 44

  • o ruminal, podendo ser utilizada como fonte de energia para estes animais.

    observada a utilizao de nveis de at 20 % para bovinos de corte e 8 %

    para bovinos de leite, mantendo boas concentraes de acetato ruminal e

    do teor de gordura do leite (SILVA, 2004).

    4.4 De origem animal4.4.1 Farinha de carne e ossosA Farinha de Carne e Ossos (FCO) produzida em graxarias e frigorficos,

    a partir de ossos e tecidos animais, aps a desossa completa da carcaa de

    bovinos e/ou sunos (FIALHO, 2009, p. 162).

    Os produtos de origem animal, entre eles, a farinha de carne, apresentam uma

    composio proteica de alto valor biolgico. Devido ao seu valor nutritivo, em protena (aminocidos), gordura, minerais (principalmente clcio e fsforo)

    e vitamina B12, a farinha de carne uma boa opo a ser adicionada na dieta

    de aves e sunos (BUTOLO, 2010).

    Alguns fatores contribuem para que a FCO no seja um ingrediente usual-

    mente utilizado nas fbricas de raes, tanto do ponto de vista mercadolgico

    quanto nutricional, entre esses citam-se (BUTOLO, 2010) a farta disponibili-

    dade de farelo de soja; a comercializao de aminocidos e vitaminas; a grande

    variao na qualidade das farinhas oferecidas no mercado; e em fbricas

    que produzem raes para aves, sunos e bovinos, haver a necessidade de

    duas linhas de produo, pois pode haver o risco de contaminao de raes

    destinada aos ruminantes com farinha de carne e ossos.

    Nutricionalmente, a FCO pode apresentar de 35 at 60 % de Protena Bruta

    (PB) (BUTOLO, 2010). Essa variao justamente devida variedade de mat-

    rias-primas utilizadas na elaborao (ANDRIGUETTO et al., 2002). Quanto

    menor o nvel de protena maior o teor residual de minerais, indicando a

    presena de grandes parcelas de ossos. Por exemplo: o nvel de fsforo varia

    de 3,70 % e 7,11 % em FCO com 60 % e 36 % de PB, respectivamente.

    De maneira geral, o que mais limita o uso da FCO em raes de sunos e aves

    o alto contedo em clcio e fsforo.

    O nvel de tolerncia aos minerais clcio e fsforo depender da espcie

    animal e da fase de produo que os animais se encontram. Por exemplo,

    se um suno consumir uma rao com nveis normais de clcio, porm com

    protena de altovalor biolgicoApresentam boa digestibilidade e quantidades adequadas de aminocidos essenciais. A digestibilidade pode variar entre os produtos de origem animal.

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 45

  • nveis maiores que 1,5 % de fsforo, poder se observar uma mobilizao de

    clcio dos ossos (desmineralizao), prejudicial para o animal (SOBESTIANSK;

    BARCELLOS, 2007).

    O perodo de armazenamento da FCO depende da umidade do produto e

    do teor de gordura. Se houver a adio de antioxidante aps o processa-

    mento, o produto pode ser armazenado de 3 a 5 meses, do contrrio deve

    ficar armazenado no mximo por 2 meses (BUTOLO, 2010). Esse cuidado

    necessrio, pois as diferentes FCO podem possuir teores de gordura variando

    de 10,10 a 12,63 % (BUTOLO, 2010; ROSTAGNO et al., 2011). Ingredientes

    com elevados teores de gordura favorecem a formao de perxidos, que

    indica a ocorrncia de rancidez oxidativa, alm disso, quando a temperatura

    do ambiente e a umidade do produto so altas, a putrefao da FCO ocorre

    facilmente.

    Lista-se a seguir os principais fatores que afetam a qualidade da FCO e alguns

    figuram como limitaes para o uso desse ingrediente (BUTOLO, 2010):

    Umidade elevada umidade acima de 8 % favorece o aumento na populao microbiana e a ocorrncia de acidificao do produto. Do

    contrrio, umidade muito baixa est associada a queima do produto,

    tornando-o nutricionalmente pobre.

    Moagem (textura) a FCO possui um nvel residual de gordura va-riando normalmente de 9 14 %, sendo assim um produto de difcil

    moagem. A dureza dos ossos exige uma peneira resistente (reforada) e

    mesmo assim os rompimentos so comuns e a farinha passa a ter peda-

    os grandes de ossos.

    Contaminaes no deve conter cascos, chifres, plos, contedos es-tomacal e intestinal, sangue, sal e couro.

    Acidez a ocorrncia de cidos graxos livres nos alimentos nos d uma indicao de rancidez hidroltica, devida umidade elevada, contamina-

    o microbiana e s enzimas lpases que liberam os cidos graxos livres.

    ndice de perxidos a formao de perxidos indica a ocorrncia de rancidez oxidativa provocada por luz, umidade, temperatura elevada,

    presena de oxignio, metais como ferro, cobre e zinco. Este radical pe-

    rxido, por sua vez, provoca mais reaes nos cidos graxos e formao

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 46

  • de produtos txicos ao organismo animal. Os perxidos nas gorduras

    destroem as vitaminas lipossolveis (A, D, E e K) e pioram a palatabilida-

    de e o odor da farinha trazendo distrbios digestivos.

    Contaminao microbiana as salmonelas e outros micro-organismos so destrudos durante o processo produtivo da FCO quando expostos a

    temperaturas superiores a 100C. As maiores fontes de contaminao da

    FCO so as construes e equipamentos, o contato entre matria-prima

    e produto acabado (botas, ps e carrinhos), roedores, aerao e por fim,

    o uso de embalagens imprprias ou contaminadas.

    4.4.2 Farinha de peixesA Farinha de Peixe (FP) um produto desidratado e modo obtido pela coco

    das partes no comestveis (cabea, rabo, coluna vertebral e vsceras), sendo

    processado o peixe integral, somente quando rejeitado para o consumo

    humano (BUTOLO, 2010).

    Os nveis de protena bruta das FP variam de 54 a 61 % (ROSTAGNO et al.,

    2011). As FP so fontes de aminocidos essenciais, especialmente lisina, metionina, treonina e triptofano, alm de boa fonte de clcio, fsforo e outros

    minerais (BUTOLO, 2010). Uma das caractersticas interessantes da FP, como

    de outros produtos de origem animal a boa disponibilidade do fsforo, que

    no caso das FP pode chegar a 100 % (e apenas 24 % no milho) (ROSTAGNO

    et al., 2011).

    aconselhvel o uso de antioxidantes com o intuito de evitar a formao

    de produtos de oxidao e cidos graxos livres. Um problema com a utiliza-

    o de farinha de peixe em nveis acima de 5 % o aparecimento de odor

    desagradvel de peixe, tanto em ovos como em carne de frango e eroso

    da moela em aves jovens, associados a nveis de histamina presentes na FP

    (amina biognica) (BUTOLO, 2010).

    Farinha de penas, areia e excesso de sal podem ser contaminantes da FP.

    4.4.3 Soro de leite em p Os produtos lcteos so extensivamente utilizados na alimentao de des-

    mame precoce em bovinos como substitutos de leite materno, e essenciais

    para o sucesso dos programas nutricionais de leites desmamados at trs

    semanas de idade. O soro de leite em p contm em mdia 10 % de protena

    bruta e 70 % de lactose (BUTOLO, 2010).

    aminocidos essenciaisSo aminocidos que devemser fornecidos pelas dietas,pois o organismo dos animais no consegue sintetiz-los.

    Para saber mais sobre aminas biognicas, acesse:http://digituma.uma.pt/bitstream/10400.13/83/1/MestradoNeide%20Gouveia.pdf

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 47

  • Em geral, orienta-se a incluso de 15 a 25 % e lactose em raes de leites

    at a primeira semana aps o desmame, e de 10 a 15 % para leites de duas

    a trs semanas aps o desmame (VIEIRA et al., 2010).

    4.5 Lquida4.5.1 MelaoO melao um subproduto da fabricao do acar da cana. No contm

    mais do que 48 % de acares totais, e sua umidade excede a 27 %. um

    lquido xaroposo, de cor escura, de odor caracterstico e agradvel, utilizado

    com a finalidade de melhorar a aceitabilidade de alimentos grosseiros e pouco

    palatveis (ANDRIGUETTO et al., 2002) como um saborizante nas raes de

    sunos e bovinos e para melhorar a apetibilidade das forrageiras (verdes ou

    secas) de qualidade inferior, e das palhas. Neste caso, diludo em gua morna

    (preferencialmente), em propores de 1:3 ou 1:4 e administrado em camada

    sobre os alimentos (ANDRIGUETTO et al., 2002). Alm da forma lquida, o

    melao tambm encontrado na forma de p, e este apresentada umidade

    inferior a 7 %. O teor de protena bruta dos melaos baixo, variando de

    2,44 a 3,66 % (ROSTAGNO et al., 2011).

    4.5.2 leo de soja e gordura animalAs gorduras e leos so produtos provenientes do processamento indus-

    trial das carnes (bovinos, sunos e aves), gros oleaginosos e de alguns

    cereais. Esses ingredientes so utilizados nas raes como excelente fonte

    de energia e cidos graxos essenciais (FIALHO, 2009, p. 123).

    Em mdia, o leo de soja possui um teor de energia bruta 137 % maior que

    o milho (ROSTAGNO et al., 2011).

    Os lipdeos vegetais so ricos em cidos graxos insaturados e, devido a isso,

    so lquidos e comumente denominados leos. As gorduras animais so ricas

    em cidos graxos saturados, e, por isso, so slidas, na maioria das vezes

    (BUTOLO, 2010), de digesto mais difcil e exigem adicionalmente na fbrica,

    uma estrutura para fuso do ingrediente antes da adio no misturador. Dentre

    as vantagens do uso de gorduras nas raes esto: melhora da palatabilidade;

    reduo da poeira e nas perdas de alimento; melhoria na converso alimentar;

    melhor preservao do maquinrio atravs de maior lubrificao; maior facili-

    dade de peletizao; aumento da absoro de vitaminas lipossolveis; melhora

    da consistncia das raes fareladas e/ou peletizadas; e aumento do teor de

    energia da rao (ANDRIGUETTO et al., 2002; BUTOLO, 2010; FIALHO, 2009).

    Tecnologia de Raese-Tec Brasil 48

  • Aps o processamento dos leos ou gorduras, interessante que se aplique

    antioxidantes para proteo contra a rancidez oxidativa, que ocorrendo ir cau-

    sar decrscimo no valor energtico do ingrediente (BUTOLO, 2010, p. 376).

    A anlise para controle de acidez e ndice de perxido so um dos principais

    pontos de controle empregado nos leos e gorduras (BUTOLO, 2010).

    4.6 Demais ingredientes4.6.1 Calcrio O calcrio calctico originrio de jazidas, denominadas minas. Apresenta-se

    com granulometria variando de fino at partculas grosseiras, de cor branca

    e levemente acinzentada. Composto por 37 % de clcio, representando uma

    fonte deste mineral nas raes (BUTOLO, 2010).

    4.6.2 Fosfato biclcicoO fsforo extrado de uma jazida mineral conhecida como Apatita e o

    segundo mineral mais abundante encontrado no organismo animal. A bio-

    disponibilidade do fosfato biclcico entre 95 100 %. Esse ingrediente

    composto de 24 % de clcio e 18 % de fsforo (BUTOLO, 2010).

    4.6.3 Sal comum O sdio o principal ction monovalente dos fluidos extracelulares, sendo

    responsvel pelo equilbrio da presso osmtica juntamente com o cloro e

    potssio, pela hidratao dos tecidos e absoro de algumas vitaminas hidros-

    solveis (tiamina, riboflavina e cido ascrbico), alm de regular o equilbrio

    cido bsico (BUTOLO, 2010). O cloro o principal nion e mais abundante

    nos fluidos extracelulares onde auxilia na manuteno da homeostase ele-troqumica (BUTOLO, 2010).

    O sal comum composto em mdia por 39,7 % de sdio e 59,6 % de cloro

    (ROSTAGNO et al., 2011).

    4.6.4 Lisina, metionina, triptofano e treonina (adaptado de BUTOLO, 2010)Os aminocidos sintticos so amplamente utilizados na fabricao de raes de

    aves e sunos, tendo a lisina e a metionina papis de destaque. O emprego dos

    aminocidos sintticos nas raes de animais no ruminantes proporciona um

    ajuste mais adequado das raes, permitindo o emprego de formulaes com base

    no conceito de protena ideal. Considerando a alimentao de bovinos, os ami-nocidos sintticos devem ser preferencialmente fornecidos na forma protegida.

    homeostaseCapacidade do corpo em manter um equilibro estvel a despeito das alteraes exteriores. Estabilidade fisiolgica.

    protena idealA formulao de raes com base na protena baseia-se na mistura de aminocidos ou protenas cuja composio atenda as exigncias dos animais para mantena e crescimento. A protena ideal tem total disponibilidade de digesto e de metabolismo, e capaz de atender, sem excessos nem deficincias as necessidades absolutas de todos os aminocidos requeridos para manuteno e produo.

    e-Tec BrasilAula 4 - Principais ingredientes utilizados na fabricao de raes para animais de produo 49

  • A L-Lisina HCl produzida por fermentao de matria-prima de origem

    agrcola, como o acar ou o xarope da cana-de-acar. Apresenta-se na

    forma de cristais (p) de colorao branca a amarelo claro, podendo ser

    encontrada na forma de p ou lquida com teores de 78 % e 24 % de lisina,

    respectivamente.

    A DL-Metionina pode ser encontrada na forma lquida (40 % de metionina) e

    em p (99 % de metionina), sendo esta a mais utilizada na fabricao de raes.

    A L-Treonina produzida por fermentao de matria-prima de origem

    agrcola, como o acar ou o xarope da cana-de-acar. Este ingrediente

    apresenta-se na forma de cristais (p) de colorao branca a amarelo claro,

    com um teor de 98 % de treonina.

    O L-Triptofano produzido por fermentao de matria-prima agrcola, como

    o melao de beterraba ou o hidrolisado de amido. Apresenta-se na forma

    de cristais (p) de colorao branca a amarelo claro, com um teor mdio de

    98 % de triptofano.

    Os aminocidos sintticos possuem uma alta digestibilidade verdadeira que pode ser expressa como sendo o coeficiente de absoro de um nutriente,

    sendo em geral expresso como porcentagem do que foi retido em relao

    ao que foi ingerido. Por exemplo, a L-Lisina HCl possui uma digestibilidade

    de 99,6 % para aves e 98,1 % para sunos.

    A utilizao dos aminocidos sintticos nas raes depender mais de uma

    situao econmica do que de um posicionamento tcnico. Estando o farelo

    de soja em uma situao de preo favorvel para fbrica de rao, ele poder

    entrar em maiores quantidades, diminuindo ou at mesmo excluindo algum

    aminocido da dieta.

    ResumoOs ingredientes e/ou matrias-primas de origem vegetal, particularmente gros

    e derivados, constituem a ba