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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CCJ DEPARTAMENTEO DE DIREITO SABINA HELENA SILVA DE CARVALHO RODRIGUES POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE NO CONTRATO DE TRABALHO FLORIANÓPOLIS, SC 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC

    CENTRO DE CINCIAS JURDICAS CCJ

    DEPARTAMENTEO DE DIREITO

    SABINA HELENA SILVA DE CARVALHO RODRIGUES

    POSSIBILIDADE DE CUMULAO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE

    E PERICULOSIDADE NO CONTRATO DE TRABALHO

    FLORIANPOLIS, SC

    2014

  • SABINA HELENA SILVA DE CARVALHO RODRIGUES

    POSSIBILIDADE DE CUMULAO DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE

    E PERICULOSIDADE NO CONTRATO DE TRABALHO

    Monografia submetida ao Curso de Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina para a obteno do Ttulo de Bacharel em Direito. Orientador: Dr. Eduardo Antonio Temponi Lebre

    FLORIANPOLIS, SC

    2014

  • RESUMO

    O presente trabalho dispe acerca da possibilidade dos trabalhadores

    receberem, de forma concomitante, os adicionais de insalubridade e de

    periculosidade, visto que o entendimento majoritrio atual no sentido que essa

    cumulao seja vedada pelo ordenamento jurdico brasileiro. A pesquisa

    inicialmente tece reflexes sobre os preceitos referentes ao assunto segurana

    e sade do trabalho no Direito ptrio, seguida por explanaes acerca das

    caractersticas prprias dos adicionais em questo. A partir de conceitos tericos

    e concluses prticas, alcana-se o argumento de que, em verdade, a

    Constituio Federal de 1988 no recepcionou o dispositivo infraconstitucional e

    o infralegal que, em tese, no possibilita aos trabalhadores o recebimento

    simultneo dos referidos adicionais remuneratrios. Evidencia-se no estudo,

    ainda, que os adicionais devem ser acumulados por decorrerem de fatos

    geradores completamente distintos, no havendo qualquer motivo justificvel

    para retirar esse direito dos trabalhadores. Por fim, defende-se na pesquisa que

    a percepo concomitante dos aludidos adicionais tem um carter punitivo aos

    empregadores, por submeterem seus empregados a situaes insalubres e

    perigosas.

    Palavras-chave:Direito do Trabalho. Segurana e medicina do trabalho.

    Adicional de insalubridade. Adicional de periculosidade. Cumulao.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ADI Ao Direta de Inconstitucionalidade

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CPC Cdigo de Processo Civil

    CRFB Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    EPI Equipamento de proteo individual

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    NR Norma Regulamentadora

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    OJ Orientao Jurisprudencial

    OMS Organizao Mundial da Sade

    SDI Seo de Dissdios Individuais

    STF Supremo Tribunal Federal

    TRT Tribunal Regional do Trabalho

    TST Tribunal Superior do Trabalho

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................... 8

    1 SEGURANA E SADE NO TRABALHO ................................................ 10

    1.1 CONSIDERAES INICIAIS .................................................... 10

    1.2 CONCEITO DE SADE ............................................................ 12

    1.3 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ................. 14

    1.4 EVOLUO HISTRICA .......................................................... 15

    1.4.1 No mbito internacional ....................................................... 15

    1.4.2 No Brasil .............................................................................. 19

    1.5 TENDNCIAS NORMATIVAS ................................................... 21

    1.6 DEVERES ................................................................................. 23

    1.6.1 Do empregador ................................................................... 23

    1.6.2 Do empregado ..................................................................... 24

    1.6.3 Do Ministrio do Trabalho e Emprego ................................. 25

    1.7 MEDIDAS PREVENTIVAS ........................................................ 26

    1.8 EQUIPAMENTO DE PROTEO INDIVIDUAL ........................ 27

    1.9 RGOS DE SEGURANA E SADE NO TRABALHO .......... 28

    1.9.1 SESMT ................................................................................ 28

    1.9.2 CIPA .................................................................................... 28

    2 ADICIONAIS ............................................................................................. 30

    2.1 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE ........................................... 30

    2.1.1 Destinatrios ....................................................................... 30

    2.1.2 Conceito e caractersticas gerais ........................................ 30

    2.1.3 Natureza .............................................................................. 33

    2.1.4 Percentagens e base de clculo ......................................... 34

    2.1.5 Eliminao ou neutralizao da condio insalubre ............ 36

  • 2.2 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE......................................... 38

    2.2.1 Destinatrios ....................................................................... 38

    2.2.2 Conceito e caractersticas gerais ........................................ 38

    2.2.3 Natureza .............................................................................. 41

    2.2.4 Percentagem e base de clculo .......................................... 41

    2.2.5 Eliminao ou neutralizao da condio perigosa ............. 42

    3 CUMULAO DOS ADICIONAIS ............................................................. 44

    3.1 ENTENDIMENTO MAJORITRIO ATUAL ................................ 44

    3.2 O 2 DO ARTIGO 193 DA CONSOLIDAO DAS LEIS DO

    TRABALHO E A CONSTITUIO FEDERAL DE 1988 ............................... 47

    3.3 CONVENES INTERNACIONAIS E A CUMULAO DE

    ADICIONAIS ................................................................................................. 49

    3.4 PRINCIPIOLOGIA DO DIREITO DO TRABALHO COMO

    FUNDAMENTO PARA A CUMULAO DE ADICIONAIS ........................... 52

    3.5 POSSIBILIDADE DE PERCEPO SIMULTNEA DOS

    ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE ......................... 55

    3.5.1 Fatos geradores distintos .................................................... 55

    3.5.2 Cumulao dos adicionais como perspectiva de instrumento

    de poltica de sade do trabalhador .......................................................... 56

    3.5.3 Cumulao dos adicionais como perspectiva de taxao aos

    empregadores ........................................................................................... 58

    3.6 PERSPECTIVAS ....................................................................... 59

    4 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 61

    REFERNCIAS ................................................................................................ 62

  • INTRODUO

    O presente estudo diz respeito possibilidade de os trabalhadores

    receberem, de forma concomitante, os adicionais de insalubridade e de

    periculosidade.

    O trabalho se inicia pelo estudo a respeito do tema relativo segurana e

    sade no meio ambiente de trabalho. So desenvolvidas consideraes gerais

    e so apresentados conceitos sobre a matria, a fim de possibilitar uma

    compreenso global acerca do tema desenvolvido.

    Demonstra-se, ainda, o histrico principal da segurana e da sade do

    trabalho, tanto no mbito mundial, quanto no Brasil, a fim de comprovar a

    importncia de todos os direitos conquistados pela classe trabalhadora.

    Trata-se sobre os deveres de cada parte do contrato de trabalho, a fim de

    delimitar as responsabilidades. Procura-se evidenciar que os empregadores

    possuem papel fundamental na garantia da segurana e da sade dos seus

    empregados no meio ambiente onde as atividades so desenvolvidas. Busca-

    se, tambm, demonstrar que, alm dos empregadores, os prprios trabalhadores

    possuem responsabilidade na garantia da segurana e da sade no ambiente do

    trabalho, tendo em vista que depende de uma harmonia cuidadosamente

    cultivada por todos os integrantes da instituio, independentemente do nmero

    de componentes.

    Aps traado essa panorama geral e terico a respeito do assunto, o

    trabalho passa a fazer a anlise dos adicionais de insalubridade e periculosidade

    propriamente ditos.

    Primeiramente o adicional de insalubridade analisado, desde quem so

    os beneficirios, quando devido, as caractersticas especiais e base de clculo.

    Aps, passa-se ao estudo minucioso do adicional de periculosidade.

    Novamente tratando a quem deve ser pago, em quais casos, asseverando os

    casos especiais e colocando a base de clculo.

    Depois de desvendar todas as informaes importantes sobre os

    adicionais, o presente trabalho passa e expor os motivos pelos quais devem ser

    devidos concomitantemente.

  • 9

    Ab initio, traada uma perspectiva geral de como esse recebimento

    simultneo tratado no ordenamento jurdico do Brasil. Para tanto, analisa-se,

    precipuamente, o 2 do artigo 193 de CLT e a portaria 3.214-1978 do MTE, que

    so os dispositivos que no permitem a cumulao dos adicionais. Alm disso,

    demonstra-se que a jurisprudncia e a doutrina ptrias seguem,

    majoritariamente, essa orientao.

    Passado o cenrio sobre o entendimento atual, defende-se que o aludido

    2 do artigo 193 da CLT no foi recepcionado pela Constituio Federal, que

    prev, em seu artigo 7, inciso XXIII, o direito dos trabalhadores a serem

    remunerados pelas atividades desenvolvidas sob condies insalubres e

    perigosas.

    Alm disso, o estudo defende que a interpretao das Convenes ns.

    148 e 155 da OIT, que foram ratificadas pelo Brasil, tambm permite o

    pagamento simultneo dos adicionais de insalubridade e periculosidade.

    Invoca-se, ainda, os princpios do Direito do Trabalho, segundo os quais

    os trabalhadores, parte reconhecidamente como hipossuficiente da relao,

    deve ser protegida. Assim, negar-lhe uma remunerao que lhe garantida

    constitucionalmente ofender as bases desse ramo jurdico.

    Alm de defender a cumulao dos adicionais pelo estudo terico do

    Direito do Trabalho, aliado ao Direito Constitucional, o presente estudo trata dos

    argumentos prticos de tal possibilidade, tais como o instrumento de poltica de

    sade dos trabalhadores, como uma perspectiva de taxao dos empregadores.

    Acredita-se que o assunto abordado no presente trabalho de suma

    importncia, tendo em vista que a realizao do que se defende teria

    repercusso positiva na vida de um grande nmero de trabalhadores do pas,

    alm de estar interligado efetividade dos direitos fundamentais.

    Registre-se que o mtodo de abordagem adotado no estudo o dedutivo

    e que o procedimento o de anlise bibliogrfica.

  • 10

    1 SEGURANA E SADE NO TRABALHO

    1.1 CONSIDERAES INICIAIS

    Conforme expe Maria Ins da Cunha (2009), observa-se que nem todos

    os trabalhadores desenvolvem suas atividades em condies adaptadas a suas

    capacidades fsica e mental, sendo que, alm de acidentes de trabalho e

    molstias profissionais, o empregado est sujeito s deficincias do ambiente de

    trabalho.

    De acordo com Martins (2012), a segurana e a medicina do trabalho o

    ramo do direito trabalhista que tem como fundamento a garantia de proteo

    sade dos trabalhadores no local de prestao de servios ou, ainda, do direito

    recuperao digna quando no estiverem em estado capaz de trabalhar.

    Consoante ensina Nascimento (2010, p. 836):

    A segurana e a medicina aplicadas ao trabalho tm um objetivo prprio, que

    pode ser resumido, seguindo Simonin, da seguinte maneira: a) complexo

    homem-mquina, em face das modificaes constantes desta ltima,

    acarretando toda sorte de estragos nos que as manejavam, impondo-se um

    corretivo de ordem fisiolgica, biolgica, psicolgica e tcnica; b) complexo

    trabalhador-ambiente, tendo em conta que o local de trabalho fonte de

    riscos e perigos diversos, que devem ser evitados, tanto no que tange

    edificao do estabelecimento, em seu aspecto material, como em relao

    implantao de meios tcnicos sanitrios a cargo de engenheiros, qumicos

    e toxiclogos; c) equipe obreiro-patronal, compreendendo fatores

    psicolgicos de produtividade, pertinentes esfera das relaes humanas na

    empresa e a considerao do trabalhador como ser dotado de necessidades

    e ao mesmo tempo sujeito a fatores de ordem tica, moral e espiritual; e)

    complexo obreiro-comunidade, que entra no campo da previdncia social,

    dada a necessidade de suprimir ou diminuir no trabalhador a incerteza quanto

    a determinadas contingncias que o afetam sobre o futuro e os riscos do

    trabalho.

    O ordenamento jurdico brasileiro trata das normas referentes a esse

    assunto nos artigos 154 a 201 da CLT, que foram editados pela Lei n. 6.514-

    1977, alm da Portaria n. 3.214-1978 do MTE.

  • 11

    O tema tratado, ainda, na CRFB, em seu artigo 7, caput e inciso XXII,

    que prev ser direito dos empregados urbanos e rurais a reduo dos riscos

    inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana.

    Nunca demais frisar que o mesmo artigo 7 da CRFB assegurou aos

    trabalhadores avulsos os direitos nele previstos, dentro os quais, como acima

    mencionado, o direito ao meio ambiente do trabalho seguro.

    Segundo determina a prpria CLT, as empresas devem obedecer s

    normas nela previstas, alm das legislaes estaduais e municipais referentes

    ao assunto medicina e segurana no trabalho, bem como disposies de acordos

    e convenes coletivas a respeito do tema.

    Aps o advento de muita luta por parte dos trabalhadores, a integridade

    fsica no ambiente de trabalho passou a ser visto, pelo menos teoricamente,

    como um direito da personalidade e, por isso, oponvel contra todos,

    especialmente o empregador.

    Assim como ressalta Correia (2013), as normas que disciplinam o assunto

    em questo so de ordem pblica e, desse modo, de indisponibilidade absoluta,

    sendo que no cabe flexibilizao para reduo de direitos dos empregados

    nesse tema de segurana.

    Alm disso, complementa o aludido autor, as normas que asseguram

    segurana aos trabalhadores na prestao de seus servios so clusulas

    implcitas no contrato de trabalho e, por conseguinte, no necessria a

    previso expressa.

    Como salienta Barros (2012), normalmente as condies em que as

    atividades laborais so desenvolvidas no esto de acordo com a capacidade

    fsica e psicolgica do empregado.

    Assim, complementa a mencionada autora, alm de acidentes de trabalho

    e enfermidades profissionais, as aludidas deficincias nas condies de trabalho

    resultam em fadiga, tenso e insatisfao, fatores que tambm so

    extremamente prejudiciais sade e integridade fsica do trabalhador.

    Ainda segundo a supracitada escritora, as principais causas das

    enfermidades trabalhistas so a jornada de trabalho excessiva, a falta de

    repousos suficientes, o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, as

    tarefas repetidas e limitadas, o trabalho penoso, o esforo fsico exacerbado, o

    trabalho em ambiente hostil, o ritmo de trabalho, a ateno e tenso constantes.

  • 12

    Alm dessas causas, importante ressaltar os problemas decorrentes das

    inovaes tecnolgicas, a exposio a meio qumicos com causas

    desconhecidas e os efeitos causados da automao.

    1.2 CONCEITO DE SADE

    Segundo Souto (2009), a interpretao do conceito de sade modifica-se

    em cada perodo da histria da humanidade, o que revela que a sade perfeita

    um ideal muito varivel que nunca ser plenamente alcanado, tendo em vista

    que, de tempos em tempos, novos problemas se apresentam.

    Ainda de acordo com Souto (2009, p. 16), a sade humana pode ser

    classificada em estgios:

    1. Um estado de sade tima, em estado terico no qual a vida de um

    indivduo se aproxima de suas completas potencialidades.

    2. Um estado de sade subtimo ou de doena incipiente ou subclnica,

    condio quem, em essncia, no um estado de doena, contudo

    antiestado de doena.

    3. Um estado de doena manifesta ou de incapacidade.

    4. Um estado de muitas doenas srias ou de morte aparente.

    Conforme prev a OMS, no prembulo da sua Constituio, o estado

    saudvel aquele de completo bem-estar psquico, mental e social do indivduo

    e no apenas a ausncia de doena ou enfermidade.

    Sabe-se, desde sempre, que esse estado de sade plena praticamente

    inalcanvel pelo homem mdio, mostrando-se, portanto, inadequado exigir que

    o empregador garanta tal estado ao empregado.

    Souto (2009) corrobora com esse entendimento, ao afirmar que o conceito

    de sade proposto pela OMS bastante utpico e contm um grau considervel

    de reserva, sendo que a sade se torna, assim, um ideal ambicioso, difcil de ser

    alcanado, principalmente de imediato.

    Em razo da crtica ao conceito da OMS, o aludido autor coloca que uma

    melhor definio de sade de que ela resultante de um estado de equilbrio,

    no qual os mltiplos e diversos fatores que tm influncia sobre ela so

  • 13

    igualados. uma relao equilibrada, dinmica e harmnica entre as condies

    biolgicas e o meio fsico e social, isto , com o meio ambiente.

    Contrapondo o entendimento, o escritor expe que, por outro lado, a

    doena ocorre quando o equilbrio perturbado pela alterao da fora com a

    qual um ou mais fatores operam.

    Conforme expe Barros (2013), a sade um direito subjetivo pblico e,

    assim sendo, deve ser garantida pelo Estado.

    A escritora fundamenta sua afirmao ao dizer que o artigo 3, inciso IV,

    da CF afirma que um dos objetivos da Repblica Federativa do Brasil promover

    o bem de todos, enquanto o artigo 6 da mesma lei maior coloca a sade como

    um direito social a todos.

    Desse modo, a sade constitucionalmente assegurada e mais,

    considerada, no nosso ordenamento jurdico, como um direito fundamental.

    Da mesma forma, a OMS preconiza que o gozo do melhor estado de

    sade que seja possvel atingir constitui um dos interesses fundamentais de todo

    o ser humano, sem distino de raa, religio, opinio poltica, condio

    econmica e social.

    E diz, ainda, que a sade de todos os povos condio fundamental para

    a consecuo da paz e da segurana e depende da mais estreita cooperao de

    indivduos e de Estados.

    Assim, tendo em conta que o estado plenamente saudvel

    possivelmente inatingvel e que a sade, de forma menos utpica, tambm um

    conceito complexo e, portanto, depende de vrios fatores para ser alcanada,

    no se espera que apenas a empresa seja responsvel pela sade do

    trabalhador.

    O que o poder pblico determina que a parte empregadora da relao

    cumpra o seu papel na contribuio da sade social, ou seja, assegure a

    proteo da sade dos seus empregados, naquilo que estiver ao seu alcance e

    que seja de sua responsabilidade.

    preciso, dessa forma, a garantia de um meio ambiente do trabalho

    saudvel.

    Para tanto, os empregadores devem adotar medidas de higiene e

    segurana para prevenir doenas e acidentes profissionais, alm de manter o

  • 14

    meio ambiente do trabalho de forma que no ocasione perigo vida e

    integridade fsica do empregado, sob pena de responder pelos danos causados.

    1.3 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

    Conforme leciona Martins (2012, p. 665), meio ambiente o conjunto

    condies, leis, influncias e integraes de ordem fsica, qumica e biolgica,

    que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

    De acordo com Barros (2013, p. 850), o meio ambiente do trabalho o

    local onde o homem obtm os meios para prover a sua subsistncia, podendo

    ser o estabelecimento empresarial, o ambiente urbano, no caso dos que

    executam atividades externas e at o domiclio do trabalhador, no caso do

    empregado a domiclio, por exemplo.

    Segundo Nascimento (2010, p. 835):

    O meio ambiente do trabalho , exatamente, o complexo mquina-

    trabalho: as edificaes do estabelecimento, equipamentos de proteo

    individual, iluminao, conforto trmico, instalaes eltricas, condies de

    salubridade ou insalubridade, de periculosidade ou no, meios de

    preservao fadiga, outras medidas de proteo ao trabalhador, jornadas

    de trabalho e horas extras intervalos, descansos, frias, movimentao,

    armazenagem e manuseio de materiais que formam o conjunto de condies

    do trabalho etc.

    Assim, o meio ambiente do trabalho ser todas aquelas condies a que

    o trabalhador estar submetido e que, portanto, podero influenciar na sua

    sade, seja de forma benfica, quando atendidos os preceitos legais e morais,

    ou de forma malfica, no caso de estar em desacordo com as normas de

    proteo sade do trabalhador, causando prejuzos integridade fsica e

    mental do empregado ou at mesmo riscos sua vida.

    So muitos fatores, desse modo, que compe o meio ambiente do

    trabalho, razo pela qual a sua manuteno de forma saudvel e esperada pelo

    poder pblico requer cuidados intensos e dedicao pelas empresas.

  • 15

    Aplica-se espcie o artigo 225 da CRFB, segundo o qual o ambiente de

    trabalho dever assegurar equilbrio ecolgico, a fim de garantir qualidade de

    vida a quem labora nele.

    Alm disso, a OIT, em sua Conveno n. 148, dispe acerca do meio

    ambiente do trabalho, tratando da contaminao do ar, rudo, vibraes,

    estabelecendo que tais pretextos se aplicam a todas as categorais, facultando-

    se ao Estado-parte, na ratificao, excluir uma delas.

    Barros (2013, p. 842), nesse contexto, coloca que a utilizao de

    procedimentos, substncias ou materiais que exponham os trabalhadores a

    esses riscos dever ser comunicada autoridade competente, que poder

    autoriz-las com cautela ou proibi-las fixando limites de exposio.

    Segundo Barros (2013, p. 850), no meio ambiente do trabalho, o bem

    jurdico tutelado a sade e a segurana do trabalhador, o qual deve ser

    salvaguardado das formas de poluio do meio ambiente laboral, a fim de que

    desfrute de qualidade de vida saudvel, vida com dignidade.

    1.4 EVOLUO HISTRICA

    1.4.1 No mbito internacional

    De acordo com Buck (2001), o primeiro autor a abordar o assunto sade

    no trabalho foi Georg Bauer, no ano de 1556, quando escreveu um tratado sobre

    mineirao, no qual relatou diversos problemas ligados com a extrao do ouro

    e da prata, falando a respeito do padecimento dos mineiros, inclusive em relao

    aos acidentes do trabalho e as doenas mais comuns entre essa categoria de

    trabalhadores, discutindo, ainda, a preveno e indicando o tratamento para as

    doenas das juntas, pulmes e olhos e, finalmente, as doenas fatais.

    Posteriormente, em 1567, um autor alemo, conhecido como Paracelso,

    escreveu uma monografia acerca do mesmo assunto, a relao entre sade e o

    trabalho dos mineiros.

    Segundo a aludida autora, o marco da luta pela sade do trabalho foi em

    1700, em Mdena, na Itlia, quando o mdico Bernadino Ramazzini, tido como

    o pai da medicina do trabalho, lanou o livro as doenas dos trabalhadores.

  • 16

    De acordo com a escritora, esse escrito foi fundamental at a ocorrncia

    da Revoluo Industrial, a qual alterou profundamente o cenrio laborativo da

    poca, resultando em graves problemas decorrentes da competio desleal

    entre o homem e a mquina, tendo como consequncia o aumento exponencial

    do nmero de doentes nos ambientes do trabalho.

    Nessa contexto, os trabalhadores se submetiam s mais extremas

    condies de trabalho, nas quais no eram protegidos por nenhum meio, sendo

    responsveis pelo seu prprio zelo, em detrimento do ambiente de trabalho

    extremamente perigoso e agressivo.

    Segundo Jacinto Costa (2008, p. 19):

    As mquinas existentes nos primrdios das civilizaes eram muito

    rudimentares e como o homem sempre foi dotado de imperfeies, os riscos

    de acidentes eram constantes, at porque ainda no existiam as ideias de

    treinamento e aperfeioamento profissional, sendo que com a evoluo

    industrial houve o aparecimento de toda uma maquinaria no dotada dos

    mtodos de segurana, por isso que eram perigosas e fceis de provocar

    infortnio aos trabalhadores.

    Diante de um situao to dramtica, a opinio popular ensejou um

    interveno estatal, at que, em 1802, o Parlamento britnico aprovou a primeira

    lei dos trabalhadores que previa, dentre outros direitos, jornada de trabalho de

    no mximo 12 horas dirias e proibia o trabalho noturno.

    De acordo com a referenciada escritora, sem grandes melhoramentos

    precria situao dos empregados, em 1833 foi baixado na Inglaterra o Factory

    Act, tornando-se a primeira legislao eficiente no campo de proteo ao

    trabalhador, uma vez que se aplicava a todas as empresas txteis onde se

    usasse fora hidrulica ou a vapor.

    Tal legislao proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos e

    restringia as horas de trabalhos desses menores a 12 horas por dia e 69 horas

    semanais. Alm disso, as fbricas precisariam manter escolas e a idade mnima

    para o trabalho era 9 anos.

    Em 1841 e 1843, Frana e Itlia, respectivamente, regulamentaram suas

    condies de trabalho, aplicando basicamente os ditames da lei inglesa.

  • 17

    Em 1869, a Alemanha sancionou uma norma obrigando os empregadores

    a fornecer aos empregados os equipamentos necessrios proteo aos riscos

    contra a vida e a sade.

    Como afirmou a aludida autora, a primeira conferncia de ocorrncia

    mundial sobre o assunto ocorreu em Berlim, em 1890, na qual houve a

    recomendao de proibio do trabalho do menor e da mulher em condies

    insalubres ou perigosas,

    Conforme coloca Buck (2001, p. 39):

    As manifestaes dos operrios e as reivindicaes estabelecidas

    em diversos congressos de trabalhadores, durante a Primeira Grande Guerra,

    levaram a Conferncia da Paz, de 1919, a criar a Organizao Internacional

    do Trabalho OIT, atravs do Tratado de Versailes, com o propsito de dar

    s questes trabalhistas um tratamento uniformizado, com fundamento na

    justia social, ou seja, uma organizao permanente para a proteo e

    melhoria das condies de vida do trabalhador.

    Ainda em 1919 foram aprovadas seis convenes pela OIT, com o

    objetivo de proteo sade e integridade fsica dos trabalhadores.

    Em 1948 foi assinada a Declarao Universal dos Direitos Humanos, a

    qual preconiza diversos direitos trabalhistas e previdencirios aos trabalhadores,

    os quais so indisponveis e irrevogveis.

    Em 1950, a OIT, em conjunto com a OMS, aprovou uma resoluo

    estabelecendo as funes da medicina do trabalho, entre as quais a de promover

    o bem estar fsico e mental do trabalhador e prevenir os danos causados a sua

    sade.

    Segundo Sssekind (2010, p. 504), a Constituio mexicana foi a

    primeira a dispor sobre a matria. E essa tendncia revelou-se nas constituies

    mais modernas, como a de Portugal (1974), a de Cuba (1976), a da extinta Unio

    Sovitica (1977), a da Espanha (1978) e a do Peru (1978).

    Em 1985, a OIT aprovou a Conveno n. 161, que trata do assunto,

    havendo a valorizao da qualidade de vida dos trabalhadores.

    Segundo Sssekind (2004), essa Conveno muito importante para a

    anlise do artigo 7, inciso XXII, da CF, atinentes aos servios de sade no

    trabalho, uma vez que devem ser institudos pelas empresas e pelo poder

  • 18

    pblico, a fim de obter um meio ambiente de trabalho seguro e so, alm de

    adaptar o trabalho capacidade fsica e mental do trabalhador.

    De acordo com Gonalves (2003), atualmente a insalubridade e a

    periculosidade so tratadas da seguinte forma em outros pases:

    1) Alemanha: a agressividade no local de trabalho determina o pagamento

    de um salrio maior, o que no corresponde aos conhecidos adicionais

    de insalubridade e periculosidade, mas sim a um acrscimo estabelecido

    mediante negociao entre o sindicato e os rgos patronais de cada

    classe trabalhadora.

    2) Blgica e Holanda: permitido o pagamento de adicional de

    insalubridade e periculosidade somente aps todas as medidas para

    eliminar ou neutralizar os riscos ambientais do trabalho no tiverem

    obtido xito.

    3) Estados Unidos da Amrica: a ideia bsica que todas as empresas

    devem estabelecer um ambiente de trabalho sadio e reduzir a sua

    agressividade no havendo determinao legal acerca do pagamento de

    adicionais especficos. No caso de haver um trabalho insalubre ou

    perigoso, o pagamento salarial decidido em conveno coletiva de

    trabalho.

    4) Itlia: no h previso legal a respeito do pagamento de adicionais, mas

    apenas sobre a eliminao e neutralizao do risco. Quando os

    trabalhadores so expostos a situaes insalubres ou perigosas,

    entretanto, o pagamento salarial decidido em conveno coletiva de

    trabalho.

    5) Japo: a legislao determina a eliminao de trabalhos perigosos ou

    insalubres, no havendo previso sobre o pagamento de adicionais.

    permitida, no entanto, a variao salarial, na qual as atividades mais

    agressivas ensejam um salrio maior.

    6) Reino Unido e Portugal: no previsto o pagamento de nenhum adicional

    de insalubridade ou periculosidade. Existe, contudo, limites mximos de

    exposio a agentes agressivos que no podem ser ultrapassados.

    7) Sua: o trabalho insalubre no considerado para efeito de recebimento

    de salrio maior, exceo de quando j est configurada a

    manifestao de doena profissional ou do trabalho.

  • 19

    1.4.2 No Brasil

    Segundo Souto (2009), no Brasil, a preocupao com a sade no

    ambiente de trabalho teve incio apenas no sculo XX.

    De acordo com Buck (2001), por outro lado, j em 1891 foi editado um

    Decreto, no qual o governo determinava a fiscalizao pemanente de todos os

    estabelecimentos em funcionamento na Capital, nos quais trabalhassem

    menores.

    Nos termos da aludida norma, a durao do trabalho deveria ser de sete

    horas dirias, prorrogveis para nove, para os menores, e o trabalho noturno

    para os menores de quinze anos estaria proibido.

    Como explanado pela mencionada autora, posteriormente, entre 1904 at

    1908, foram apresentados projetos de lei com a inteno de regulamentar os

    acidentes de trabalhos e as suas respectivas indenizaes.

    Decorrente da abertura poltica ocorrida a partir de 1910, em 1920

    comeam os primeiros ensaios em matria de legislao trabalhista.

    A escritora comenta que interessante destacar que, no Cdigo Civil

    promulgado em 1916, havia 22 artigos que tratavam das questes afetas s

    relaes trabalhistas.

    Em 1917, seguindo a tendncia nacional, criado o Departamento

    Nacional do Trabalho, com a instituio de Comisses de Conciliao e

    Conselhos de Arbitragem Obrigatria.

    Em 1919 foi aprovado o Projeto n. 5, que tratava de acidentes do trabalho,

    que resultou na Lei n. 3.724-1919, regulamentada pelo Decreto n. 13.499-1919,

    que vigorou at 1934, quando foi promulgado o Decreto n. 24.637.

    Segundo a mesma autora, com o advento da era Vargas, foi criado, em

    1930, o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, alm de uma legislao

    farta sobre os direitos e benefcios dos trabalhadores, no mbito da sade e

    segurana do trabalho, considerao de que com o aparecimento de novos

    meios industriais, surgiram novas doenas laborais.

    Com a promulgao da Constituio de 1934 foram mantidos os direitos

    trabalhistas j existentes, com algumas inovaes.

    No mesmo ano criada a Inspetoria de Higiene e Segurana do Trabalho,

    atualmente denominada Secretaria de Segurana e Sade no Trabalho.

  • 20

    Passada a era Vargas e restauradas as ideias liberais aps o advento do

    Estado Novo, foi publicado o Decreto n. 2.162-1940, que foi o primeiro a instituir

    a monetizao do risco, com o estabelecimento de pagamento de adicional de

    insalubridade, em graus mnimo, mdio ou mximo.

    J no ano de 1943, foi aprovada a Consolidao das Leis do Trabalho,

    por meio do Decreto-lei n. 5.452, que trata sobre higiene e segurana do trabalho

    no Captulo V, nos artigos 154 a 223.

    De acordo com Santos (2011), a legislao nacional a respeito do assunto

    se desenvolveu inicialmente na mesma poca e do mesmo modo que a

    legislao trabalhista em geral, ou seja, foi decorrente do trabalho assalariado,

    da rpida urbanizao e do processo de industrializao.

    Ainda segundo o mencionado autor, como o restante da legislao

    trabalhista, a segurana e a medicina do trabalho tem como principal documento

    normativo a CLT.

    Na Constituio Federal aprovada em 1946, houve a ampliao dos

    direitos e das garantias dos trabalhadores, tambm em relao segurana do

    ambiente do trabalho.

    Em 1955, a Lei n. 2.573 acrescentou legislao do Pas o adicional de

    periculosidade para os empregados que exercem suas atividades em contato

    permanente com inflamveis.

    Cita-se a Lei n. 5.880-1973, que estendeu o adicional de periculosidade

    aos que trabalhavam com explosivos.

    De acordo com a Lei n. 6.514-1977, as convenes coletivas de trabalho

    tambm poderiam estabelecer regras a respeito de segurana e medicina do

    trabalho.

    Em 1978, o Ministrio do Trabalho, por meio da Portaria n. 3.214, aprovou

    as Normas Regulamentares previstas na CLT, relativas ao tema segurana e

    medicina do trabalho. Essa norma aprovou 29 NR`s referentes ao assunto.

    Em 1985, com a Lei n. 7.369, o recebimento do adicional de

    periculosidade foi estendido aos empregados no setor de energia eltrica.

    Com o trmino da Ditadura Militar e o advento de uma nova era poltica,

    foi editada a Constituio atual, em 1988, que foi o principal marco a respeito do

    assunto, uma vez que a sade foi recepcionado como direito social, restando

  • 21

    assegurado aos trabalhadores a reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por

    meio de normas de sade, higiene e segurana.

    Segundo Santos (2011), a Constituio promulgada em 1988 foi fruto da

    necessidade de superao do regime militar e dos anseios de elevao do nvel

    de cidadania das massas.

    Houve a ampliao de direitos j existentes, alm de criao de novos.

    Interpretando os ditames estabelecidos pela Constituio Federal vigente,

    Souto (2009, p. 71), coloca, de forma interessante, que, ao declarar que o risco

    inerente ao trabalho, h a afirmao de que o risco faz parte da atividade

    laboral, ficando excluda a possibilidade de inexistncia absoluta do mesmo, j

    que a possibilidade de risco inerente ao prprio processo de viver, est, por

    sua natureza, inseparavelmente ligado a qualquer tipo de trabalho, como uma

    de suas caractersticas.

    O aludido escritor, coloca ainda que, a reduo dos riscos do trabalho

    direito dos empregados para a preservao da sade e da prpria vida, sendo

    obrigao do empregador a implementao de medidas dispostas em normas

    acerca de segurana, sade e medicina do trabalho.

    1.5 TENDNCIAS NORMATIVAS

    Vivemos em uma era na qual as mudanas tecnolgicas acontecem de

    uma forma que no possvel acompanhar as novidades. A globalizao, to

    comentada no sculo passado, j no causa espanto e tratada com

    naturalidade por todos.

    Nesse cenrio, surgem propostas que, inicialmente, demonstram-se um

    tanto contraditrias. Por um lado, os processos de reestruturao produtiva e a

    desenfreada competio pelos meios industriais no mbito internacional colocam

    em pauta, tambm no Brasil, questes como a diminuio da interferncia do

    governo nas relaes capital-trabalho, bem como a reduo e a flexibilizao de

    direitos trabalhistas, de outro vrtice percebe-se um aumento significativo de

    demandas por direitos trabalhistas mais eficientes, com a universalizao de

    direitos e com a reduo dos riscos ocupacionais.

  • 22

    Nesse contexto, Santos (2011), coloca que possvel perceber algumas

    tendncias globais e nacionais relativas s normas a respeito de segurana e

    sade do trabalho.

    O autor expe que se pode notar um avano da dignificao do trabalho,

    asseverando que, alm de importante para a convivncia dos indivduos, uma

    fonte de gratificao, o que geralmente tem como consequncia oportunidades

    de promoo pessoal e profissional.

    O escritor expe que o conceito de sade tende a ser ampliado, a fim de

    que seja garantido no ambiente do trabalho no apenas a ausncia de doenas

    e a inexistncia de agentes insalubres e perigosos, mas tambm a preocupao

    dos gerenciadores com a preveno da fadiga dos trabalhadores e outros fatores

    estressantes que sejam comuns em relao atividade que se desenvolve.

    possvel perceber uma tendncia de adaptao do trabalho ao homem,

    com ateno especial dos aspectos relativos s normas de sade de segurana

    referentes ergonomia. O estudioso cita que isso ocorre tanto no que se refere

    a mquinas, equipamentos e mobilirios, como tambm em relao

    necessidade de mudana nos processos de produo, nas jornadas e nos

    intervalos.

    Nota-se, ainda, que o direito a informao, inerente ao ordenamento

    jurdico brasileiro, est sendo mais invocado pela classe obreira, que esto

    tentando participar e influenciar nas normas referentes segurana no trabalho,

    por meio dos representantes eleitos, devendo ser comunicados sobre os riscos

    existentes nos ambientes de trabalho que frequentam, alm das medidas

    preventivas disponveis.

    O autor ainda coloca que possvel perceber uma tendncia de que os

    fatores de riscos sejam eliminados, principalmente quando abrangem um grande

    nmero de trabalhadores.

    Acredita-se, de acordo com o defendido nesse trabalho, que essa

    tendncia, no Brasil, ainda est no campo terico. Todos sabem o que deve ser

    feito para garantir a sade e a segurana dignas dos trabalhadores. Mas essa

    eliminao, como deveria ocorrer, no acontecer, em detrimento da economia

    e, consequentemente, do dinheiro, que se sobrepe a vrios direitos neste pas.

  • 23

    1.6 DEVERES

    1.6.1 Do empregador

    Ao empregador compete a manuteno do meio ambiente de trabalho

    seguro e saudvel. Para tanto, deve observar a legislao pertinente.

    Consoante estabelecido no artigo 157 da CLT, cabe s empresas: a)

    cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; b)

    instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a

    tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; c)

    adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo rgo regional

    competente; d) facilitar o exerccio da fiscalizao pela autoridade competente.

    Interpretando o aludido dispositivo, Maria Ins da Cunha (2009), assevera

    que ocorrendo a omisso do empregador acerca das posturas legais relativas

    segurana e medicina do trabalho, incorrer nas consequncias advindas dessa

    inrcia.

    Exemplificando a posio, a mencionada autora explicita que, no mbito

    individual, o empregador estar ensejando a justa causa para caracterizar a

    resciso indireta do contrato de trabalho, nos termos do artigo 483 da CLT. J

    no mbito coletivo, poder, sem prejuzo de outras sanes, ser objeto de

    inqurito civil pblico, que pode causar ajuizamento de ao civil pblica.

    Registre-se que o esse inqurito civil pblico tem como escopo fazer o

    empregador agir em consonncia com o previsto nas normas relativas sade

    e medicina do trabalho.

    Ademais, complementa a escritora, poder ser penalizado com sanes

    administrativas, tais como multas e at mesmo interdio do estabelecimento,

    alm de sanes criminais, na hiptese da conduta ser considerada ilcita.

    Alm disso, o empregador poder ser requerido em ao judicial pelo

    prprio empregado, em demanda de reparao por danos materiais e/ou morais.

    O empregador dever, ainda, instruir os seus empregados a respeito das

    medidas de preveno de acidentes e doenas ocupacionais, com o treinamento

    adequado nas rotinas das atividades.

  • 24

    Dever, tambm, fornecer, gratuitamente, equipamentos de proteo

    individual, sempre que no for possvel a neutralizao total dos agentes

    nocivos.

    Segundo Buck (2001), cabe s empresas a manuteno de servios

    especializados em segurana e medicina do trabalho, os quais esto previsos

    na NR-4, da Portaria n. 3.214-1978 do MTE.

    1.6.2 Do empregado

    De acordo com Buck (2001), os empregados devero cumprir as normas

    de segurana e medicina no trabalho, inclusive as instrues ou ordens de

    servios quanto s cautelas no local de trabalho, a fim de evitar acidentes de

    trabalho e doenas ocupacionais.

    Nos termos do artigo 158 da CLT, cabe aos empregados: a) observar as

    normas de segurana e medicina do trabalho; b) colaborar com a empresa na

    aplicao dos dispositivos refentes segurana e sade no trabalho.

    Conforme menciona o aludido artigo, a no utilizao de equipamentos

    individuais de proteo por parte do empregado constitui falta grave, que enseja

    a penalizao de dispensa por justa causa, nos termos do artigo 482 da CLT.

    Segundo Buck (2001), contudo, a falta grave depender da severidade do

    ato praticado ou da sua possvel reiterao, sendo permitido a aplicao de

    advertncia ou suspenso, quando o comportamento no for considerado grave

    o bastante para rescindir o contrato de trabalho.

    Como salienta Maria Ins da Cunha (2009), o trabalhador descuidado

    coloca em risco a sua prpria integridade fsica e a de seus companheiros, sendo

    que a responsabilidade pela segurana do ambiente de trabalho no pode ser

    incumbida to somente ao empregador.

    Correia (2013) ressalta, ainda, que os sindicatos das categorias

    profissionais tm um importante papel para a adoo de medidas de sade e

    segurana, uma vez que podero prever em clusulas de acordos ou

    convenes de trabalho normas coletivas de proteo, exigindo que

    empregadores e empregados respeitem o ambiente de trabalho.

  • 25

    1.6.3 Do Ministrio do Trabalho e Emprego

    Segundo Correia (2013), importante ressaltar, inicialmente, que a

    competncia para legislar acerca de direito do trabalho privativa da Unio, nos

    termos do artigo 22, inciso I, da Constituio Federal, enquanto a competncia

    legislativa a respeito de normas de segurana e sade concorrente, cabendo

    Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, conforme disposio

    do artigo 24, inciso XII, do aludido diploma.

    Observa-se que a CLT delegou autoridade administrativa do Ministrio

    do Trabalho e Emprego a regulamentao detalhada das normas atinentes

    segurana e sade do trabalho.

    Nessas condies, o MTE detm competncia para emisso de normas

    regulamentadoras, que tratam de matrias especificas, tais como a NR-15, que

    se refere s atividades insalubres e a NR-16 que se relaciona com as atividades

    perigosas.

    Alm disso, as autoridades do MTE tm a atribuio de proceder

    fiscalizao do cumprimento correto das normas trabalhistas concernentes ao

    assunto em voga, sendo que a desateno incorrer em aplicao de multa

    administrativa.

    Consoante preconiza o artigo 156 da CLT, compete especialmente s

    Superintendncias Regionais do Trabalho, nos limites de sua jurisdio: a)

    promover a fiscalizao do cumprimento das normas de segurana e medicina

    do trabalho; b) adotar as medidas que se tornem exigveis, em virtude das

    disposies deste Captulo, determinando as obras e reparos que, em qualquer

    local de trabalho, se faam necessrias; c) impor as penalidade cabveis por

    descumprimento das normas constantes no captulo que trata do tema.

    Segundo Buck (2001), a mencionada fiscalizao administrativa deve ser

    feita exclusivamente pelos profissionais habilitados que, na espcie, so os

    engenheiros de segurana e mdicos do trabalho.

    A autoridade do MTE possui, ainda, competncia para proceder

    inspeo prvia, que, de acordo com Correia (2013), ocorre antes do incio das

    atividades de qualquer estabelecimento e consiste na aprovao das instalaes

    do local em matria de segurana e medicina do trabalho.

  • 26

    Complementa o referenciado autor que novas inspees devem ocorrer

    no caso de mudana substancial na estrutura da empresa.

    Alm dessas incumbncias, a autoridade do MTE competente para

    interditar ou embargar uma obra, conforme previso da NR-3.

    Ressalte-se que a interdio ocorre em setores ou certos

    estabelecimentos de uma empresa, enquanto os embargos se do no caso de

    quando existe obra em construo.

    De acordo com Correia (2013), o Superintendente Regional do Trabalho

    a nica autoridade competente para determinar o embargo de uma obra, sendo

    necessria a apresentao de laudo tcnico que comprove a existncia de risco

    iminente.

    1.7 MEDIDAS PREVENTIVAS

    Conforme explanado, compete ao empregador, essencialmente, a

    responsabilidade de garantir a observncia de todas as posturas atinentes

    segurana e sade de seus empregados.

    Exige-se, tambm, como j salientado, a colaborao dos trabalhadores,

    visto que o meio ambiente de trabalho sadio torna-se patrimnio de todos os

    integrantes da organizao.

    Segundo Martins (2012), o exame mdico uma das medidas

    preventivas, sendo que ser obrigatrio e sempre com os custos pelo

    empregador, uma vez que o empregado nunca dever desembolsar quantias

    para realizar essa medida.

    Ainda de acordo com o aludido autor, o empregador estar sujeito a

    apresentar, assim que solicitado, ao agente de inspeo do trabalho, os

    demonstrativos de custeio de todas as despesas referentes aos exames mdicos

    de seus empregados, os quais devero ser realizados basicamente na

    admisso, na dispensa e periodicamente, nos termos do artigo 168 da CLT.

    Compete ao MTE a determinao de quando os exames mdicos devero

    apresentados e quais devero ser realizados complementariamente por ocasio

    da dispensa do empregado.

    Atualmente exige-se do candidato que ficar exposto a agentes insalubres

    no futuro emprego, capazes de causar leso pulmonar, uma radiografia do trax,

  • 27

    que inclusive substituiu a abreugrafia que era realizada antigamente e estava

    prevista no artigo 168, 1, da CLT.

    Ressalte-se que, alm dos exames obrigatrios previstos em lei, o mdico

    que estiver avaliando o paciente poder requisitar outros exames que entender

    necessrios, dependendo da funo que se exerce ou se ir exercer.

    Alm disso, como medida de preveno, todos os estabelecimento de

    trabalho devero estar equipados com os materiais necessrios prestao dos

    primeiros socorros em um possvel acidente do trabalho, considerando-se o

    ramo da atividade desenvolvida, sendo que preciso haver uma pessoa treinada

    para tal fim.

    1.8 EQUIPAMENTO DE PROTEO INDIVIDUAL

    O equipamento de proteo individual regulamentado pela NR-6 da

    Portaria n. 3.214-1978.

    Consoante preconiza a mencionada norma, EPI um dispositivo ou

    produto de uso individual pelo trabalhador, destinado proteo de riscos

    suscetveis de ameaar a segurana e a sade no trabalho.

    O EPI deve ser fornecido obrigatoriamente pelo empregador, de forma

    totalmente gratuita, sendo que dever sempre ser adquirido com certificado de

    aprovao CA.

    O empregador tem a obrigao, ainda, de fiscalizar permanentemente se

    os trabalhadores esto fazendo uso, correto, do EPI fornecido e de orientar e

    treinar os empregados sobre o uso adequado do EPI, sua guarda e conservao.

    Em contrapartida, dever do empregado utilizar o EPI que lhe foi

    fornecido durante toda a exposio ao risco profissional, alm de zelar pela

    conservao do equipamento e comunicar aos responsveis da empresa no

    caso de qualquer alterao que inviabilize sua utilizao.

    Como bem salientado por Gonalves (2003), quando se fala em

    preveno de acidentes de trabalho, a primeira ideia o uso de EPI,

    normalmente simbolizado por capacetes, botas e luvas. No se pode, contudo,

    esquecer que o EPI, na maioria das vezes, no previne a ocorrncia de

    acidentes, mas apenas evita ou atenua a gravidade das leses provenientes

    deles. Assim, a preocupao principal deve ser no sentido de procurar, em

  • 28

    primeiro lugar, a proteo coletiva, dada a sua melhor eficcia, uma vez que

    elimina ou neutraliza os riscos ambientais.

    1.9 RGOS DE SEGURANA E SADE NO TRABALHO

    1.9.1 SESMT

    De acordo com Martins (2012), as empresas devem manter servios

    especializados em segurana e em medicina do trabalho SESMT -, nos quais

    preciso haver profissionais aptos para manter a integridade dos trabalhadores.

    O rgo em questo est previsto no artigo 162 da CLT e regulamentado

    pela NR-4.

    Alm disso, o servio ser dimensionado levando-se em conta a gradao

    de risco da atividade principal da empresa, bem como o nmero de empregados,

    sendo que poder incluir profissionais mdicos, enfermeiros, tcnicos em

    enfermagem, engenheiros e tcnicos, todos especializados no assunto de

    segurana e sade no trabalho.

    O SESMT dever funcionar juntamente com a CIPA.

    1.9.2 CIPA

    Nos termos do artigo 163 da CLT, as empresas so obrigadas a constituir

    comisses internas de preveno de acidentes CIPA -, conforme as instrues

    emitidas pelo MTE, na NR-5 da Portaria n. 3.214-1978.

    Segundo Martins (2012), a CIPA tem o objetivo de observar e relatar as

    condies de risco nos ambientes de trabalho e solicitar medidas para reduzir

    at eliminar os riscos existentes.

    Esse trabalho deve ser realizado com a discusso sobre os acidentes que

    ocorreram na empresa, com a solicitao de medidas que os previnam, alm da

    orientao dos trabalhadores a respeito das medidas preventivas.

    A CIPA composta de representantes da empresa e dos trabalhadores,

    sendo que os da empresa sero designados pelo empregador, dentre os quais,

    o presidente da comisso. J os representantes dos empregados sero eleitos,

  • 29

    por meio de votao secreta dos interessados, dentre os quais ser eleito o vice-

    presidente da comisso.

    O mandato dos membros da CIPA de um ano, permitida uma reeleio.

    Consoante estabelece o artigo 165 da CLT, os membros titulares que

    representam os empregados na CIPA no podero sofrer despedida arbitrria,

    sendo detentores da chamada garantia provisria no emprego.

  • 30

    2 ADICIONAIS

    Segundo Srgio Pinto Martins (2012), os adicionais tem o condo de

    acrescentar algo, sendo que, no Direito do Trabalho, caracterizam-se como um

    acrscimo remuneratrio decorrente da prestao de servios em condies

    mais gravosas normalidade.

    A constituio Federal vigente, promulgada em 1988, manteve os

    adicionais de remunerao que j estavam previstos desde a Lei n. 185-1936

    (adicional de insalubridade) e a Lei n. 2.573-1955 (adicional de periculosidade),

    trazendo como novidade to somente o adicional por atividades penosas que,

    at hoje, no foi regulamentado.

    2.1 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

    2.1.1 Destinatrios

    Conforme preconiza o artigo 7, caput e inciso XXXIV, da CRFB, tero

    direito ao recebimento do adicional de insalubridade os empregados urbanos,

    assim como os rurais e avulsos.

    Alm dessas categorias, possvel afirmar que o adicional de

    insalubridade devido ao trabalhador temporrio, uma vez que o artigo 12,

    alnea a, da Lei n. 6019/1974 dispe que a remunerao dever ser equivalente

    recebida pelos empregados da mesma funo que mantm vnculo com a

    empresa tomadora de servios.

    2.1.2 Conceito e caractersticas gerais

    Trabalho insalubre aquele que resulta em prejuzo constante na sade

    do empregado. O perigo no se encontra em acontecimentos instantneos, mas

    no contato dirio com agentes nocivos que, com o tempo, so capazes de causar

    srias doenas ao trabalhador.

    Conforme ensina Martins (2012), a contraprestao por trabalhar em

    condies insalubres pode ter como base tanto a remunerao adicional do

  • 31

    trabalhador (monetizao do risco), como a proibio total da atividade ou, ainda,

    a reduo da jornada de trabalho desenvolvida sob tais condies.

    O ordenamento jurdico brasileiro adotou o acrscimo salarial como forma

    de compensar o empregado que est sujeito a condies de trabalho insalubres.

    De acordo com Alice Monteiro de Barros (2013, p. 841-842):

    muito criticada a soluo adotada pelo Brasil de compensar com

    remunerao adicional (monetizao do risco) o trabalho em condies

    insalubres, perigosas ou penosas. Afirma-se que o procedimento implica

    venda do trabalhador e sugere-se a reduo da jornada de trabalho com

    maior perodo de descanso.

    Nos termos do artigo 189 da Consolidao das Leis do Trabalho, sero

    consideradas atividades ou operaes insalubres aquelas que, por sua natureza,

    condies ou mtodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos

    sade, acima dos limites de tolerncia fixados em razo da natureza e da

    intensidade do agente e do tempo de exposio aos seus efeitos.

    Observa-se, assim, que para que a insalubridade esteja caracterizada so

    necessrios dois requisitos cumulativos, quais sejam, a exposio a agentes

    nocivos sade do empregado, bem como que essa exposio seja superior ao

    limite estabelecido em norma emitida pelo Ministrio do Trabalho e Emprego.

    A aludida norma editada pelo MTE consiste na determinao das

    atividades e operaes que so consideradas insalubres, apontando os critrios

    de caracterizao, os limites de tolerncia aos agentes, os meios de proteo,

    alm do tempo mximo de exposio a tal nocividade.

    Edwar Abreu Gonalves (2003, p. 338) esclarece que limite de tolerncia

    pode ser entendido como o nvel de concentrao mxima de um agente qumico

    possvel de existir no ambiente de trabalho sem causar danos sade dos

    trabalhadores. E, acaso ultrapassado, configurar-se- a exposio insalubre.

    Segundo exposto por Martins (2012), a avaliao feita de forma

    qualitativa, no caso de rudos, presses hiperbricas, vibraes, poeiras; ou de

    forma quantitativa, quando o agente se trata de frio, umidade, agentes biolgicos.

    Cumpre salientar que necessrio que o agente nocivo esteja previsto

    em norma regulamentadora emitida pelo MTE (especificamente na NR-15), no

  • 32

    bastando o laudo pericial para que o direito ao recebimento do adicional esteja

    configurado, consoante disposio da Smula 460 do STF, alm da Smula 448

    do TST1.

    A mencionada NR-15 admite como trabalho insalubre atividades

    desenvolvidas sob tais condies: rudo contnuo ou intermitente, rudos de

    impacto, exposio ao calor, radiaes ionizantes, condies hiperbricas,

    radiaes no ionizantes, vibraes, frio, umidade, agentes qumicos, poeiras

    minerais, agentes qumicos e biolgicos.

    Atualmente encontra-se consolidado o entendimento de que o MTE detm

    competncia para especificar as atividades e operaes insalubres, tendo em

    vista que, alm da previso do artigo 190 da CLT, o STF e o TST j consagraram

    tal posicionamento.

    Para a confirmao da condio insalubre de trabalho obrigatria a

    realizao de percia tcnica. No caso da produo da prova ser impossvel,

    como no caso de fechamento da empresa, dispe a OJ 278 da SDI-1 do TST

    que plausvel que o magistrado se utilize de outros meios de prova.

    Desse modo, o artigo 427 do CPC, o qual dispe que o julgador poder

    dispensar a prova pericial quando as partes, na exordial e na defesa,

    apresentarem as questes de fato, com pareceres tcnicos ou documentos

    elucidativos, no aplicvel in casu.

    1 STF Smula n 460 - 01/10/1964 - DJ de 8/10/1964, p. 3647; DJ de 9/10/1964, p. 3667; DJ de 12/10/1964, p. 3699.

    Adicional de Insalubridade - Percia Judicial em Reclamao Trabalhista - Enquadramento da Atividade

    Para efeito do adicional de insalubridade, a percia judicial, em reclamao trabalhista, no dispensa o enquadramento da atividade entre as insalubres, que ato da competncia do Ministro do Trabalho e Previdncia Social.

    SMULA N 448. ATIVIDADE INSALUBRE. CARACTERIZAO. PREVISO NA

    NORMA REGULAMENTADORA N 15 DA PORTARIA DO MINISTRIO DO TRABALHO N 3.214/78. INSTALAES SANITRIAS. (converso da Orientao Jurisprudencial n 4 da SBDI-1 com nova redao do item II).

    I - No basta a constatao da insalubridade por meio de laudo pericial para que o empregado tenha direito ao respectivo adicional, sendo necessria a classificao da atividade insalubre na relao oficial elaborada pelo Ministrio do Trabalho.

    II A higienizao de instalaes sanitrias de uso pblico ou coletivo de grande circulao, e a respectiva coleta de lixo, por no se equiparar limpeza em residncias e escritrios, enseja o pagamento de adicional de insalubridade em grau mximo, incidindo o disposto no Anexo 14 da NR-15 da Portaria do MTE n 3.214/78 quanto coleta e industrializao de lixo urbano.

  • 33

    No que concerne aos profissionais habilitados para editar laudos periciais

    que atestem as condies insalubres, conforme prev o artigo 195 da CLT e a

    prpria NR-15, tanto Engenheiros de Segurana do Trabalho como Mdicos do

    Trabalho, registrados no MTE, esto aptos a atestar tal situao.

    Cumpre frisar que, nos termos da Smula 293 do TST, detectado em

    percia agente nocivo sade diverso do apontado na inicial da Reclamao

    Trabalhista, o pedido no estar prejudicado, podendo o magistrado conceder o

    adicional, pois, segundo Martins (2012, p. 260) o empregado no tem condies

    de dizer qual o elemento que lhe prejudicial sade, que s pode ser

    constatado pelo perito.

    Interessante ressaltar, ainda, que, mesmo sendo intermitente o trabalho

    desenvolvido sob condies insalubres, devido o pagamento do respectivo

    adicional, consoante estabelece a Smula 47 do TST. Por outro lado, caso se

    trate de exposio eventual a algum agente nocivo, a insularidade no estar

    caracteriza, sendo indevido o respectivo adicional.

    Importante registrar, tambm, que o sindicato da categoria detm

    legitimidade para atuar na condio de substituto processual nas reclamaes

    trabalhistas que postulam o pagamento de adicional de insalubridade.

    Pertinente notar, ainda, que o empregado em sobreaviso no recebe o

    adicional de insalubridade sobre tal hora, pois, conforme se concluiu na edio

    da Smula 132 do TST, nesse tempo o trabalhador no se encontra em

    condies de risco.

    2.1.3 Natureza

    Consoante explica Martins (2012), importante salientar que o adicional

    de insalubridade no possui natureza indenizatria, mas salarial, pois visa

    remunerar o trabalho prestado sob tal condio, como forma de compensao

    ao empregador.

    Nesse contexto, o adicional de insalubridade, caso pago em carter

    habitual, integrar, segundo enuncia a Smula 139 do TST, a remunerao do

    trabalhador, no que concerne ao clculo das demais verbas (aviso prvio, frias,

    13 salrio, FGTS, indenizao), exceo dos descansos semanais

  • 34

    remunerados e feriados, tendo em vista que j esto inclusos no pagamento

    mensal do referido adicional (OJ 103 da SDI-1 do TST).

    2.1.4 Percentagens e base de clculo

    Inicialmente, a base de clculo do adicional de insalubridade era o salrio

    mnimo, exceo dos empregados que, por fora de lei, acordo coletivo ou

    sentena normativa, percebesse salrio profissional.

    Nesse caso, como ressalta Barros (2013), o adicional por trabalhar sob

    condies insalubres seria calculado sobre o salrio profissional, enquanto no

    for regulamentado o artigo 7, inciso XXIII, da CF.

    Segundo o artigo 192 da CLT, o adicional de insalubridade devido aos

    trabalhadores expostos a tais condies na proporo de 10%, quando o grau

    for mnimo, 20%, em se tratando de grau mdio, e 40%, no caso de configurado

    o grau mximo, calculando-se tais valores sobre o salrio mnimo.

    O mesmo artigo 7, em seu inciso IV, por outro lado, veda a vinculao do

    salrio mnimo para qualquer fim.

    De acordo com Martins (2012, p. 257):

    Objetiva o constituinte que o salrio mnimo no seja um indexador

    para reajustes de preos, de aluguis etc. A vinculao do salrio mnimo

    apenas para alimentao, moradia, sade, vesturio, educao, lazer,

    higiene, transporte e previdncia social. No pode, portanto, haver a

    vinculao do salrio mnimo para qualquer outro fim, dos previstos na prpria

    Lei pice.

    Em ateno aludida vedao, o STF passou a entender no ser cabvel

    o salrio mnimo como base de clculo do adicional de insalubridade.

    Em consonncia aos constantes julgamentos nesse sentido, a Corte

    Suprema editou a Smula Vinculante n. 4, que estabelece que salvo nos casos

    previstos na Constituio, o salrio mnimo no pode ser usado como indexador

    de base de clculo de vantagem de servidor pblico ou de empregado, nem ser

    substitudo por deciso judicial.

    Como ressaltou Martins (2012, p. 258), no possvel inferir desse

    contexto que deixou de existir base de clculo para o adicional de insalubridade,

  • 35

    pois o obreiro que presta servios em atividade insalubre deve receber um valor

    correspondente para tanto.

    Em razo da publicao da aludida Smula Vinculante pelo STF, o TST,

    em sua composio plena, editou a Resoluo n. 148-2008, que determinou o

    cancelamento da Smula n. 17, da OJ n. 2 da SDI e ordenando a alterao da

    Smula 228, que passou a dispor que a partir de maio de 2008, data da

    publicao da Smula Vinculante n. 4 do Supremo Tribunal Federal, o adicional

    de insalubridade ser calculado sobre o salrio bsico, salvo critrio mais

    vantajoso fixado em instrumento coletivo.

    Observa-se que, no entanto, no existe nenhuma legislao prevendo a

    incidncia do adicional de insalubridade sobre o salrio bsico do empregado,

    ou seja, tendo como base o salrio contratual.

    Nesse contexto, a Confederao Nacional da Indstria intentou

    reclamao perante o STF, sendo que o Presidente da Corte, por meio de

    deciso monocrtica, decidiu suspender a Smula 228 do TST, to somente na

    parte em que permite a utilizao do salrio bsico para calcular o adicional de

    insalubridade.

    Desse decisum possvel concluir que o STF entende que, enquanto no

    for editada nova lei, deve ser adotado o salrio mnimo como base de clculo do

    adicional de insalubridade.

    Como bem ressaltou Martins (2012, p. 259):

    Essa deciso acaba sendo contraditria, pois o Pleno do STF diz que

    o adicional de insalubridade no pode ter por base o salrio mnimo e depois

    o Presidente do STF menciona que, enquanto no for editada lei, a base de

    clculo do adicional de insalubridade o salrio mnimo.

    Diante desses fatos, imperativa a edio de lei acerca do assunto.

    Cumpre frisar que, a deciso que suspendeu a Smula manteve a parte

    que plausvel que norma coletiva estabelea outra base de clculo do adicional

    de insalubridade, desde que mais benfica ao trabalhador.

    Segundo colocou Barros (2013, p. 623):

    O Ministro Ives Gandra M. Filho ressaltou que a Suprema Corte

    adotou tcnica decisria do Direito Constitucional alemo, como declarao

  • 36

    de inconstitucionalidade, sem pronuncia de nulidade, ou seja, a norma alusiva

    ao clculo do salrio mnimo continua a reger as relaes obrigacionais, em

    face da impossibilidade do Poder Judicirio se substituir ao legislador para

    definir critrio diverso destinado regulamentao da matria.

    exceo do explanado, os tcnicos em radiologia tm direito ao

    recebimento do adicional de insalubridade ordem de 40% calculado sobre dois

    salrios mnimos profissionais, conforme estabelece o artigo 16, da Lei 7.394-

    1985.

    2.1.5 Eliminao ou neutralizao da condio insalubre

    Conforme estabelece o artigo 191 da CLT, a eliminao ou a neutralizao

    da insalubridade poder se dar de duas formas, quais sejam: a adoo de

    medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerncia

    e a utilizao de equipamentos de proteo individual ao trabalhador, que

    diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerncia.

    O pargrafo nico do mesmo dispositivo acrescenta, ainda, que caber

    s Superintendncias Regionais do Trabalho notificar as empresas, estipulando

    prazos para a sua eliminao ou neutralizao.

    Buck (2001, p. 82) esclarece que podemos dizer que a eliminao uma

    reduo desejvel dos riscos, com a eliminao do agente agressivo. E a

    neutralizao uma reduo aceitvel dos riscos, limitando a ao do agente

    agressor a nveis tolerveis pela sade humana.

    Como bem exposto por Gonalves (2003, p. 360):

    Culturalmente, tem predominado a ideia de que proteger o

    trabalhador significa fornecer-lhe equipamento de proteo individual,

    entretanto, no se pode perder de vista o fato de que, a rigor, o EPI no

    previne a ocorrncia de acidentes do trabalho, mas apenas evita ou atenua a

    gravidade das leses, da por que h de se procurar, sempre e em primeiro

    lugar, a proteo coletiva, dada a sua melhor eficcia, uma vez que elimina

    ou neutraliza o risco ambiental na sua fonte produtora, alm do que essa

    modalidade preventiva no fica merc da utilizao ou no por parte do

    empregado.

  • 37

    Nesse contexto, se o fornecimento de equipamento de proteo individual

    aprovado pelo rgo competente do Poder Executivo eliminar completamente a

    insalubridade a que o empregado estava sujeito, haver a perda do direito ao

    recebimento do respectivo adicional, nos termos da Smula 80 do TST.

    Por outro lado, como ressaltado pela Smula 289 do TST, o simples

    fornecimento do aparelho de proteo ao trabalhador no exime o empregador

    do pagamento do adicional de insalubridade, devendo, ainda, tomar as medidas

    que conduzam diminuio ou eliminao da nocividade, entre as quais as

    relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado.

    Ademais, mesmo que o empregador fornea o aparelho de proteo e

    esse seja utilizado rotineiramente pelo trabalhador, ser devido o adicional de

    insalubridade se, no exame tcnico respectivo, for constatada a insuficincia de

    proteo sade do empregado.

    Depreende-se, assim, que para o empregador se eximir do pagamento do

    adicional de insalubridade no basta comprovar o fornecimento de equipamento

    de proteo individual ao trabalhador, mediante recibo de entrega ou outros

    meios, sendo necessrio, tambm, demonstrar que o aparelho era corretamente

    utilizado pelo empregado e que eliminou o risco a que estava submetido.

    Havendo a eliminao da condio insalubre, o empregado perder o

    direito ao respectivo adicional, nos termos do artigo 194 da CLT.

    De acordo com Martins (2012), a supresso do trabalho insalubre mais

    vantajoso para o trabalhador, uma vez que deixar de desenvolver atividades

    prejudicais sade.

    Importante destacar, ainda, que, segundo a Smula 248 do TST,

    possvel haver a reclassificao ou a descaracterizao da atividade insalubre

    pela autoridade competente do MTE, hiptese em que o empregado tambm

    deixar de receber o respectivo adicional ou passar a receber o valor reduzido.

    Necessrio esclarecer que tais supresses so legtimas, tendo em vista

    que o adicional de insalubridade nunca passa a ser um direito adquirido, alm

    de no haver, nesses casos, ofensa ao princpio da irredutibilidade salarial.

    Como exemplo, cita-se o caso da falta de iluminao, que era considerada

    condio de insalubridade, mas com a portaria n. 3.751-1990 houve a

    descaracterizao desse fator, sendo que a partir de 26.02.1991 o adicional de

    insalubridade for baixa iluminao no era mais devido.

  • 38

    2.2 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

    2.2.1 Destinatrios

    Assim como explanado acerca do adicional de insalubridade, o adicional

    de periculosidade tambm ser devido aos empregados urbanos e, alm desses,

    aos rurais a avulsos, conforme preconiza o artigo 7, caput e inciso XXXIV, da

    Constituio Federal.

    2.2.2 Conceito e caractersticas gerais

    Diferentemente da insalubridade, a periculosidade est presente nas

    atividades que resultam em prejuzo iminente sade do empregado, em danos

    que podem ser causados a qualquer momento.

    O adicional de periculosidade, ento, ser devido ao trabalhador que

    desenvolve seu labor com contato permanente com elementos inflamveis ou

    explosivos.

    Segundo Martins (2012), contato permanente tem sido entendido como

    contato dirio, aquele que ainda por poucos minutos pode tirar a vida do

    empregado em uma frao de segundos.

    De acordo com o artigo 193 da CLT, so consideradas atividades ou

    operaes perigosas, na forma da regulamentao aprovada pelo MTE, aquelas

    que, por sua natureza ou mtodos de trabalho, impliquem risco acentuado em

    virtude de exposio permanente do trabalhador a inflamveis, explosivos ou

    energia eltrica.

    Relativamente aos eletricitrios, o direito ao adicional de periculosidade

    foi inserido no ordenamento jurdico pela Lei n 7.369-1985.

    De acordo com a mencionada legislao, no apenas os funcionrios de

    empresas de produo de energia eltrica, como tambm os trabalhadores de

    todas as empresas que existam condies que resultem perigo de morte pelo

    contato com aparelhos energizados tero direito ao recebimento do adicional de

    periculosidade.

  • 39

    Como salientado por Martins (2012), a Lei 7.369 no fez distines entre

    as companhias concessionrias de distribuio, de transmisso ou de gerao

    de energia eltrica e as companhias consumidoras, bastando que o empregado

    trabalhe nas condies previstas no Decreto n. 93.412-1986.

    Segundo Barros (2013, p. 626):

    Esto, portanto, obviamente includos nesse contexto os empregados

    do setor de telefonia que trabalham em situao de perigo, constatada por

    percia, nas proximidades dos circuitos que conduzem energia eltrica e

    passam pelos mesmos postes em que se encontram as linhas telefnicas.

    De outro norte, o eletricista que realiza suas atividades em equipamentos

    desenergizados no tem direito ao recebimento do adicional de periculosidade,

    a menos que permanece no local em que os aparelhos fiquem ligados.

    Alm dessas hipteses, a Lei n. 12.740-2012 incluiu o inciso II ao artigo

    193 da CLT, estendendo o direito ao recebimento do adicional de insalubridade

    aos empregados expostos a roubos ou outras espcies de violncia fsica, nas

    atividades profissionais de segurana pessoal ou patrimonial.

    O 3 do mesmo dispositivo, todavia, dispe que sero descontados ou

    compensados do adicional outros da mesma natureza eventualmente j

    concedidos ao vigilante por meio de acordo coletivo.

    No que concerne aos empregados expostos radiao ionizante

    (exposio a raios x), ainda que no haja previso no artigo 195 da CLT, o TST

    entende que tal condio enseja o recebimento do adicional de periculosidade,

    pois previsto em regulamentao ministerial, nos termos da OJ 345 da SDI-1 do

    TST.

    Alm de tais possibilidades, a Smula 212 do STF assegura aos

    empregados de postos de revenda de combustvel lquido o direito ao

    recebimento do adicional por trabalho perigoso.

    No mesmo sentido, a Smula 39 do TST estabelece que os empregados

    que operam em bomba de gasolina tm direito ao adicional de periculosidade,

    sendo, ainda, desnecessria a realizao de percia tcnica.

    Do mesmo modo, os bombeiros profissionais possuem o direito ao

    recebimento do adicional de periculosidade, sendo, tambm, desnecessria a

  • 40

    realizao de percia tcnica, conforme dispe o artigo 6, inciso III, da Lei

    11.901-2009.

    Ademais, a OJ 385 da SDI-1 do TST dispe que devido o pagamento

    do adicional de periculosidade ao empregado que desenvolve suas atividades

    em edifcio (construo vertical), seja em pavimento igual ou distinto daquele

    onde esto instalados tanques para armazenamento de lquido inflamvel, em

    quantidade acima do limite legal, considerando-se como rea de risco toda a

    rea interna da construo civil.

    Da mesma forma que o adicional de insalubridade, para a configurao

    do de periculosidade obrigatria a realizao de percia tcnica, como prev o

    artigo 195 da CLT.

    Essa prova poder ser produzida tanto por mdicos, quanto por

    engenheiros do trabalho, bastando que a elaborao do laudo seja feita por

    profissional devidamente qualificado, nos termos da OJ 165 da SDI-1 do TST.

    De outra banda, a OJ 406 da SDI-1 do TST estabelece que se o

    pagamento do adicional de periculosidade for efetuado por mera liberalidade da

    empresa, ainda que de forma proporcional ao tempo de exposio ao risco ou

    em percentual inferior ao mximo legalmente previsto, a prova tcnica

    dispensada, pois incontroversa a existncia do trabalho em condies perigosas.

    Nos termos da Smula 364 do TST, tem direito ao adicional de

    periculosidade o empregado exposto permanentemente ou que, de forma

    intermitente, sujeita-se a condies de risco. Acrescenta, ainda, o enunciado que

    ser indevido o aludido adicional apenas quando o contato se der de forma

    eventual, assim considerado o fortuito, ou que, sendo habitual, se der por tempo

    extremamente reduzido.

    Quanto s horas em que o trabalhador permanece em regime de

    sobreaviso, por no estar trabalhando em condies perigosas, incabvel a

    integrao do adicional de periculosidade sobre tais horas, que so recebidas na

    proporo de um tero da hora normal, conforme preconiza a Smula 132 do

    TST.

    Alm disso, consoante enuncia a OJ 172 da SDI-1 do TST, condenada a

    empresa ao pagamento do adicional de periculosidade, essa condio dever

    constar, todos os meses, na folha de pagamento do empregado, enquanto as

    atividades forem consideradas de risco.

  • 41

    2.2.3 Natureza

    Em consonncia com a natureza do adicional de insalubridade, o de

    periculosidade tambm no considerado indenizao, mas salrio, tendo em

    vista que remunera o trabalho prestado em condies de risco acentuado.

    Desse modo, se pago de forma habitual, o adicional de periculosidade

    integrar o clculo de indenizao e de horas extras, nos termos da Smula 132

    do TST.

    O adicional de periculosidade dever compor, ainda, a base de clculo do

    adicional noturno, j que tambm neste horrio o trabalhador permanece sob as

    condies de risco, conforme esclarece a OJ 259 da SDI-1 do TST.

    Alm de tais verbas, o adicional de periculosidade integrar o clculo das

    frias, do 13 salrio, do aviso prvio e do FGTS.

    2.2.4 Percentagem e base de clculo

    Destoando do adicional de insalubridade, a base de clculo do adicional

    de periculosidade no enfrenta pesadas controvrsias.

    Conforme preconiza o 1 do artigo 193 da CLT, o trabalho em condies

    perigosas assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre

    o salrio, sem os acrscimos resultantes de gratificaes, prmios ou

    participaes nos lucros da empresa.

    No mesmo sentido, a Smula 191 do TST esclarece que o adicional de

    periculosidade incide apenas sobre o salrio bsico e no sobre este acrescido

    de outros adicionais.

    No que concerne aos trabalhadores eletricitrios, a Lei n. 7.369-1985

    assegurava a percepo do adicional de periculosidade ordem de 30% do

    salrio que receber, mostrando-se mais vantajoso que as demais categorias

    profissionais.

    A aludida Smula 191, em sua parte final, corroborou com esse

    entendimento, colocando que em relao aos eletricitrios, o clculo do adicional

    de periculosidade dever ser efetuado sobre a totalidade das parcelas de

    natureza salarial.

  • 42

    A mencionada Lei 7.369, no entanto, foi revogada pela Lei n. 12.740-2012,

    resultando na perda do direito dos eletricitrios em receber o adicional de

    periculosidade sobre o salrio com adicionais.

    Essa modificao legislativa impulsionou a Confederao Nacional dos

    Trabalhadores da Indstria a ajuizar Ao Direta de Inconstitucionalidade

    (processada sob o n. 5013), na qual alega que a alterao desonerou o setor

    produtivo com clara ofensa segurana jurdica e aos direitos fundamentais dos

    trabalhadores.

    2.2.5 Eliminao ou neutralizao da condio perigosa

    Nos termos do artigo 194 da CLT, o direito do empregado ao recebimento

    do adicional de periculosidade cessar com a eliminao do risco sua

    integridade fsica.

    De acordo com Buck (2001), no possvel eliminar a periculosidade

    apenas com o uso de equipamentos de proteo individual, sendo que o

    respectivo adicional visa compensar o risco a que o trabalhador est submetido.

    No mesmo sentido do adicional de insalubridade, por outro lado, o de

    periculosidade tambm no gera direito adquirido ao seu recebimento, sendo

    que a eliminao total do risco e da condio perigosa resultaram na supresso

    do valor recebido a mais por tal condio.

    Segundo Martins (2012, p. 265), para o adicional de periculosidade no

    ser devido, mister se faz que o risco seja eliminado e no neutralizado, porque a

    qualquer momento o trabalhador pode ser surpreendido com uma descarga

    eltrica, em que tal risco continua logicamente a existir.

    Complemente o autor dizendo que:

    O prprio 3 do art. 2 do Decreto n. 93.412-86 deixa bem claro que,

    enquanto no for eliminado o risco resultante da atividade do trabalhador em

    condies de periculosidade, o adicional devido. O acrscimo legal s

    deixar de ser pago se houve a cessao do exerccio da atividade, ou com

    a eliminao do risco (art. 4 do Decreto n. 93.412-86).

  • 43

    No demais ressaltar, que o ideal no haver trabalho prestado sob

    condies perigosas, sendo que o respectivo adicional existe to somente na

    tentativa de ser uma contraprestao ao empregado pelo risco a que est

    submetido diariamente em sua atividade.

    Sendo assim, como colocado por Buck (2001, p. 110), a eliminao do

    risco exige a substituio dos produtos inflamveis por produtos no inflamveis

    ou das condies de trabalho que eliminem as atividades perigosas e as reas

    de risco.

  • 44

    3 CUMULAO DOS ADICIONAIS

    3.1 ENTENDIMENTO MAJORITRIO ATUAL

    Conforme j explanado, enquanto o adicional de insalubridade visa

    remunerar os trabalhadores expostos a condies de risco equivalentes a nveis

    de agentes qumicos ou fsicos acima dos limites tolerveis, o adicional de

    periculosidade tem como finalidade remunerar o empregado exposto a risco

    iminente, tais como explosivos, energia eltrica e situaes violentas.

    Como bem colocado por Bandeira (2011), o adicional de insalubridade

    tem relao com a origem das doenas, visando proteger a sade dos

    trabalhadores. J o adicional de periculosidade, diante do risco infortnio, tem

    como objetivo a proteo da prpria vida dos empregados.

    Embora decorram, como facilmente percebido, de causas distintas, o

    ordenamento jurdico brasileiro veda que os trabalhadores os recebam

    concomitantemente.

    A propsito, o artigo 193 da CLT, ao conceituar as atividades ditas

    perigosas, acrescenta, em seu 2, que o empregado poder optar pelo

    adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido.

    No mesmo sentido, a Portaria n. 3.214-1978 do MTE, no item 15.3 da NR-

    15, estabelece que no caso de incidncia de mais de um fator de insalubridade,

    ser apenas considerado o de grau mais elevado, para efeito de acrscimo

    salarial, sendo vedada a percepo cumulativa.

    A doutrina ptria segue, de forma quase unnime, para o mesmo sentido,

    defendendo que no poder o adicional de insalubridade ser acumulado com o

    de periculosidade, devendo o trabalhador, no caso de exposto a ambos, fazer a

    opo pelo que lhe for mais benfico.

    De igual modo, o entendimento jurisprudencial, salvo rarssimas

    excees, no sentido de no permitir a cumulao dos adicionais de

    insalubridade e periculosidade.

    As decises dos Tribunais Regionais do Trabalho, assim como as do

    Tribunal Superior do Trabalho, no possibilitam a percepo simultnea dos

    adicionais, sob o argumento de que o citado 2 do artigo 193 da CLT no

    permite.

  • 45

    O TST ainda acrescenta o fundamento de que essa limitao ao

    recebimento concomitante dos adicionais no ofende a previso do artigo 7,

    inciso XXII, da CF e que o aludido 2 foi recepcionado pela Lei Maior.

    Sobre o tema:

    RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. 1. CUMULAO DOS

    ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE.

    IMPOSSIBILIDADE.

    Esta Corte adota entendimento no sentido de que no possvel a

    cumulao dos adicionais de insalubridade e periculosidade, nos termos do

    art. 193, 2, da CLT. Recurso de revista no conhecido. [...]

    (BRASIL, TST, RR-300-94.2012.5.12.0029, Relatora Ministra Dora

    Maria da Costa, Data de Julgamento: 02/04/2014, 8 Turma, Data de

    Publicao: DEJT 04/04/2014)

    No corpo do julgado, a Ministra Relatora expe que o obreiro pleiteia o

    pagamento simultneo dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, sob

    o fundamento de que as parcelas possuem fatos geradores distintos e sob o

    argumento de que a Constituio Federal permite essa postulao.

    A julgadora do TST deixa claro, ainda, que foi constatado em percia

    judicial que, de fato, o trabalhador era exposto, em seu ambiente de trabalho,

    concomitantemente a agentes insalubres e perigosos. Ainda assim, a togada da

    Corte Superior Trabalhista aplicou o posicionamento de que nos termos do

    artigo 193, 2, da CLT, cabe ao empregado optar pelo adicional que porventura

    lhe seja devido, asseverando que se restar demonstrado o trabalho em

    condies de risco e em exposio a agentes insalutferos, como no caso em

    testilha, o empregado poder fazer opo pelo adicional de periculosidade, ainda

    que receba o adicional de insalubridade, sendo que nesse caso, o julgador

    dever determinar a compensao dos valores j pagos a ttulo de adicional de

    insalubridade.

    Para corroborar com o entendimento, colhe-se de outros precedentes:

    "(...)ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E DE INSALUBRIDADE.

    CUMULAO. IMPOSSIBILIDADE. Este Tribunal Superior, aps

    interpretao literal do art. 193, 2, da CLT, firmou o entendimento de

    impossibilidade de cumulao de recebimento dos adicionais de

  • 46

    periculosidade e de insalubridade. Ao ser prevista a opo entre um adicional

    e o outro, depreende-se que ao empregado ficou inviabilizada a percepo

    de ambos os adicionais simultaneamente. Assim, se o reclamante recebia o

    pagamento do adicional de insalubridade e entende que a percepo do

    adicional de periculosidade lhe ser mais vantajosa, poder optar por deixar

    de receb-lo e passar a receber o outro, ou vice-versa. Precedentes desta

    Corte. Recurso de revista conhecido e provido.(...)" (BRASIL, TST, RR-645-

    40.2011.5.04.0022. Data de Julgamento: 05/02/2014, Relator Ministro Jos

    Roberto Freire Pimenta, 2 Turma, Data de Publicao: DEJT 14/02/2014)

    (...)2. ADICIONAIS DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE.

    CUMULAO. Preceitua o art. 192 da CLT que "o exerccio de trabalho em

    condies insalubres, acima dos limites de tolerncia estabelecidos pelo

    Ministrio do Trabalho, assegura a percepo de adicional respectivamente

    de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do

    salrio-mnimo da regio, segundo se classifiquem nos graus mximo, mdio

    e mnimo". O art. 193, 1, da CLT, por sua vez, versa que "o trabalho em

    condies de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30%

    (trinta por cento) sobre o salrio sem os acrscimos resultantes de

    gratificaes, prmios ou participaes nos lucros da empresa". J o 2 do

    ltimo dispositivo consolidado indicado estabelece que "o empregado poder

    optar pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido". Tem-

    se, assim, que o legislador, ao possibilitar ao empregado a opo, por certo,

    vedou o pagamento cumulado dos dois institutos. Recurso de revista

    conhecido e provido.(...)" (RR - 832-33.2011.5.04.0221 Data de Julgamento:

    16/10/2013, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3

    Turma, Data de Publicao: DEJT 18/10/2013)

    [...]

    Assim, estando a deciso recorrida em harmonia com a

    jurisprudncia desta Corte, descabe cogitar de violao constitucional e/ou

    legal ou de divergncia jurisprudencial, uma vez que j foi atingido o fim

    precpuo do recurso de revista, que a uniformizao da jurisprudncia.

    bice do art. 896, 4, da CLT e da Smula n 333 do TST.

    No conheo.

    Essa opo legislativa, doutrinria e jurisprudencial do pas causa certa

    estranheza, uma vez que, consoante j colocado no presente estudo, a

    tendncia mundial e tambm do Brasil pela proteo do trabalhador, sendo

  • 47

    que a vedao de percepo simultnea dos adicionais totalmente contrria a

    esse princpio.

    Segundo Georgenor de S. F. Filho (2013):

    A legislao infraconstitucional brasileira, interpretando de forma

    extremamente literal o preceito da Lei Maior (inc. XXIII do art. da CF-1988), e

    desatenta s medidas as quais, em nvel mundial, tm sido tomadas para a

    preservao do bem-estar do trabalhador, manteve a impossibilidade de

    cumulao dos dois adicionais, mediante esse opo forada do empregado

    (art. 193, 2, CLT) e, ain