tcc - o mecanismo da conciliação no processo judicial - Ênfase no processo civil brasileiro

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UNIJUI UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEISI DA SILVA O MECANISMO DA CONCILIAÇÃO NO PROCESSO JUDICIAL: ÊNFASE NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO. Ijuí (RS) 2014

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TCC - O Mecanismo Da Conciliação No Processo Judicial - Ênfase No Processo Civil Brasileiro

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  • 1

    UNIJUI UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

    GRANDE DO SUL

    DEISI DA SILVA

    O MECANISMO DA CONCILIAO NO PROCESSO JUDICIAL:

    NFASE NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.

    Iju (RS)

    2014

  • 2

    DEISI DA SILVA

    O MECANISMO DA CONCILIAO NO PROCESSO JUDICIAL:

    NFASE NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.

    Monografia final do Curso de Graduao em Direito

    objetivando a aprovao no componente curricular

    Monografia.

    UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado

    do Rio Grande do Sul,

    DCJS - Departamento de Cincias Jurdicas e Sociais.

    Orientador: Msc. Joaquim Henrique Gatto

    Iju (RS)

    2014

  • 3

    Dedico este Trabalho de

    Concluso de Curso aos meus pais,

    pelo carinho, incentivo, confiana

    e amor dedicados a mim.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, principal responsvel por tudo isso.

    Aos meus pais, Darci e Cleci, pelo apoio, incentivo, no medindo esforos para que eu

    chegasse at esta etapa de minha vida, pela compreenso, amor e principalmente pelo

    companheirismo, sempre estando ao meu lado quando precisei.

    Ao meu namorado Antonio, por toda pacincia, compreenso, carinho e amor, e por

    me ajudar muitas vezes a achar solues quando elas pareciam no aparecer. Voc foi a

    pessoa que compartilhou comigo os momentos de tristezas e alegrias. Alm deste trabalho,

    dedico todo meu amor voc.

    Ao meu Orientador, Joaquim Henrique Gatto, pela pacincia, dedicao, incentivo e

    sabedoria que muito me auxiliou para concluso deste Trabalho de Curso.

    A todos os mestres e amigos de verdade, que me ensinaram, incentivaram e ajudaram,

    direta ou indiretamente, contribuindo assim, para que eu pudesse crescer. A todos vocs, meu

    muito obrigado.

  • 5

    Justia atrasada no justia, seno injustia

    qualificada e manifesta. Porque a dilao

    ilegal nas mos do julgador contraria o

    direito escrito das partes e assim as lesa no

    patrimnio, honra e liberdade. Os juzes

    tardinheiros so verdadeiros culpados que a

    lassido comum vai tolerando.

    RUI BARBOSA

  • 6

    RESUMO

    A lei impe ao juiz o dever de buscar a conciliao das partes, mas no lhe so

    disponibilizados os instrumentos necessrios para que o faa. A conciliao uma tcnica que

    deveria ser usada como um dos instrumentos necessrios para harmonizar os conflitos e para

    aproximar as partes, orientando-as na construo de um acordo que seja satisfatrio. Busca-se

    analisar a conciliao como uma forma de efetivar a jurisdio por intermdio da via

    consensual, buscando uma soluo pacfica, prpria dos meios alternativos de resoluo de

    conflitos de interesses. O conciliador um facilitador na busca de solues aos conflitos, e

    orienta-se pelos princpios basilares dos processos conciliatrios. Destaca-se tambm, a

    competncia e as habilidades necessrias ao conciliador para que ocorra a construo de um

    resultado satisfatrio, demonstrando, com isso, as caractersticas relevantes da conciliao

    para se atingir uma justia diferenciada, a fim de que ela seja efetivamente prestada com

    eficincia, simplicidade e principalmente com celeridade aos cidados que dela necessitam.

    Palavras-Chave: Resoluo de conflitos. Conciliador. Justia. Conciliao.

  • 7

    ABSTRACT

    The lawyer requires the courts to seek to reconcile the parts, but you are not provided the

    necessary tools to do so. Conciliation is a technique that should be used as an instrument to

    harmonize conflicts and to bring the parts together, guiding them in building an agreement

    that is satisfactory. It search to analyze the reconciliation as a way of effecting jurisdiction

    through consensual means, searching a peaceful solution itself of the alternative means of

    resolving conflicts of interest . The mediator is a facilitator in finding solutions to conflicts,

    and is guided by the basic principles of conciliation proceedings. Also noteworthy , the skills

    and abilities necessary to the conciliator to the construction of a satisfactory outcome to occur

    , demonstrating thereby the relevant features of conciliation to achieve a differentiated

    righteousness, so that it is effectively delivered efficiently , simplicity and speed especially

    with the citizens who need it.

    Keywords : Conflict resolution. Adjudicator. Justice. Conciliation .

  • 8

    SUMRIO

    INTRODUO.......................................................................................................................09

    1 PARTE GERAL DA CONCILIAO..........................................................................11

    1.1 Breve relato histrico........................................................................................................11 1.2 Aspectos diferenciadores da conciliao, negociao e mediao................................12 1.3 Conceito..............................................................................................................................13 1.4 Objetivo .............................................................................................................................14 1.5 Vantagens e Desvantagens da Conciliao ....................................................................15 1.6 Dificuldades ......................................................................................................................18

    2 A CONCILIAO ..........................................................................................................21 2.1 Comportamento dos envolvidos ......................................................................................21 2.2 Momento para conciliar ..................................................................................................24 2.3 O conciliador ....................................................................................................................26 2.4 Etapas do processo conciliatrio .....................................................................................29 2.5 Tipos de conciliao .........................................................................................................31 2.6 Tcnicas de atuao do conciliador ................................................................................32 2.7 Consequncias jurdicas da conciliao positiva............................................................35

    CONCLUSO ........................................................................................................................37

    REFERNCIAS .....................................................................................................................40

  • 9

    INTRODUO

    O presente trabalho tem como principal objetivo analisar o instituto da conciliao

    como forma de resoluo de conflitos, em que os conflitantes, atravs do dilogo facilitado

    por um terceiro imparcial, buscam uma soluo, um acordo de vontades para resolver tal

    controvrsia.

    Podemos observar que a sociedade pratica a justia pelos mtodos existentes em nossa

    legislao, notadamente pelo meio do instrumento da jurisdio, ou seja, pelo processo, que

    possui formalismo excessivo, tornando-o caro e moroso, e na maioria das vezes no sendo

    capaz de dar resposta adequada a todos os conflitos, e por consequncia, no alcanando a paz

    social de forma efetiva.

    Noutro tanto, se fossem utilizados mtodos alternativos, tal como a conciliao, que

    possui grande celeridade, dispensando a instruo probatria e no permitindo uma infinidade

    de recursos que acabam estendendo o tempo processual, tornando com isso, os custos com os

    processos mais baixos, sendo possvel, ento, alcanar a soluo do litgio em tempo razovel

    e obter to almejada pacificao social.

    A conciliao judicial um dos meios alternativos de resoluo de litgios, uma vez

    que se trata de um procedimento em que devolvida s partes a responsabilidade para que

    elas mesmas encontrem a melhor soluo para o caso. Alm disso, a conciliao se levada a

    cabo de forma eficaz, pode contribuir significativamente para a melhoria do sistema judicial,

    uma vez que comum se ouvir falar atualmente da crise do sistema judicirio, que foi

    motivada pelo aumento da procura dos servios, acarretando com isso, a perda da qualidade

    da justia e a morosidade na mquina estatal.

    Em um primeiro momento, no presente trabalho ser feita abordagem histrica da

    conciliao no Brasil, desde as primeiras tentativas na utilizao de tal mtodo alternativo at

    a sua consolidao na legislao atual. Apresentaremos os aspectos diferenciadores do

    mtodo em tela com os demais existentes, tais como o da negociao e da mediao.

  • 10

    Traar-se- tambm, o conceito da conciliao, trazendo seus objetivos principais,

    destacando suas vantagens, desvantagens, assim como, apontar-se-o algumas dificuldades

    encontradas em sua aplicao, bem como em sua aceitao na sociedade atual.

    Como objeto do segundo captulo discorrer-se- sobre o comportamento dos

    envolvidos nas audincias de conciliao, destacando qual o momento adequado para tal

    tentativa. Alm disso, o estudo abranger a figura do conciliador, sua competncia e

    caractersticas necessrias para que possa exercer o seu papel de forma eficiente, ressaltando a

    complexidade e a importncia de sua misso para o incentivo da conciliao, sem, contudo,

    fazer qualquer julgamento ou favorecimento das partes. Entretanto, devendo-se ressaltar que,

    apesar de sua extrema importncia, h poucos profissionais habilitados nessa funo.

    Aps a anlise da parte geral, conclusivamente sero analisadas as etapas do processo

    conciliatrio, apontando os tipos adotados no direito brasileiro. Ser feita ainda, a exposio

    das tcnicas e estratgias de atuao do conciliador para a facilitao da construo de um

    acordo, bem como para a obteno de uma soluo satisfatria para ambas as partes litigantes,

    apontando oportunamente suas consequncias jurdicas em caso positivo.

  • 11

    1 PARTE GERAL DA CONCILIAO

    No presente captulo ser abordada a evoluo histrica da Conciliao, bem como seu

    conceito, seu objetivo perante a sociedade, suas vantagens e desvantagens, analisando

    tambm, as dificuldades enfrentadas para a efetiva aplicao desse mtodo alternativo em

    nossa sociedade que voltada extremamente para o litgio.

    A necessidade da busca de alternativas, inclusive extrajudiciais, ser analisada como

    uma das formas existentes para a resoluo dos conflitos, uma vez que atualmente a sociedade

    como um todo vem exigindo uma prestao jurisdicional mais adequada s suas necessidades.

    1.1 Breve relato histrico

    O histrico da Conciliao no Brasil marcado por idas e vindas. Prevista nas

    Ordenaes Manuelinas e Filipinas, a Conciliao continuou presente no art. 161 da 1

    Constituio Imperial, ao proclamar que Sem se fazer constar que se tem intentado o meio da

    reconciliao no se comear processo algum.

    No Rio Grande do Sul, a Lei n 10/1895, decretada por Jlio de Castilhos (Lei de

    Organizao Judiciria), em eu artigo 74, 2 dispunha competir aos ento juzes districtaes

    homologar dentro de sua alada os compromissos entre pessoas capazes de contractar.

    Neste perodo, por volta de 1895 e 1900 e um pouco mais tarde, verificou-se a

    tendncia de se afastar a tentativa de conciliao. No entanto, naquela poca deveria ter sido

    mantida. A mudana bastante intensa no campo dos negcios, surgindo o desenvolvimento do

    processo de globalizao do comrcio, segundo Andr Jean Arnaud (1999, p.14), criou uma

    verdadeira ruptura com a ordem antiga, sendo necessrio, ento, esse mecanismo como uma

    forma de resposta gil na soluo dos conflitos de interesses. E com isso, fez surgir

    novamente a conciliao prvia obrigatria.

    Mais tarde, na segunda metade do sculo XX, a conciliao comeou a ser banida,

    sendo esquecida pelo Cdigo de Processo Civil de 1939. S em 1974 com o Cdigo de

    Processo Civil de tal ano que se ressuscitou a Conciliao, sendo que voltou ao ordenamento

    jurdico devido a inmeros motivos, tais como: sobrecarga dos tribunais; complexidade da

  • 12

    estrutura da Justia Comum, pouco ou nenhum acesso do povo Justia; despesas altas com

    os processos; soluo rpida para os litgios; decises so mais bem aceitas; alternativa de

    pacificao social.

    Hoje no Brasil a Conciliao est prevista nos Juizados Especiais - Lei n 9099 de 26

    de setembro de 1995; Instituto da Arbitragem Lei n 9307 de 23 de setembro de 1996;

    Juzes de Paz Lei Complementar 59, de 18 de janeiro de 2001; Cdigo de Processo Civil

    atual, que prega que o Juiz deve tentar a conciliao a qualquer tempo; Juizados de

    Conciliao Resoluo 460/2005(Revogou a Resoluo 400/200); Centrais de Conciliao

    de Varas de Famlia Resoluo 407/2003.

    1.2 Aspectos Diferenciadores da Conciliao, Negociao e Mediao.

    Pode-se dizer que a Conciliao, a negociao e a mediao so meios alternativos de

    resoluo de conflitos, no entanto cada um tem suas particularidades baseados na necessidade

    social e a sua aplicao sobre o caso concreto.

    Para Paula Heugnia Minghini e Gilberto Notrio Ligero (2010, p.4):

    Na conciliao o papel do juiz torna-se to importante quanto nos processos

    tradicionais, pois alm de julgar e manter a justia ainda se faz necessria a funo

    de pacificao mediante as partes para que se mantenham as relaes da melhor

    forma possvel aps o trmino da conciliao entre as mesmas.

    Com relao negociao, diferente dos demais mtodos auto compositivos, ela faz

    com que as partes cheguem a uma soluo satisfatria, sem qualquer participao de terceiros

    no conflito instaurado, ao contrrio da mediao e da conciliao, pois nelas as solues

    sempre dependem da interveno obrigatria de terceiros.

    J no que tange mediao, ela :

    [...] um meio em que um terceiro chamado para acompanhar as partes at a

    chegada de uma resoluo ou acordo, um meio extrajudicial onde as partes so

    encaminhadas a realizar acordos sem a interferncia direta do mediador, deixando

    claro que a resoluo direta ser sempre das partes, sem vnculos com quem

    mediar.

    Tem a mesma relao jurdica de um contrato em que as partes devem estar de

    acordo com o que for combinado e se responsabilizam pelas alteraes no direito.

    Tambm deve se tratar de objeto lcito que completar as caractersticas formadoras

    de um contrato.(MINGHINI; LIGERO. 2010, p.4).

  • 13

    Vale ressaltar que a mediao destinada, principalmente, a conflitos oriundos de

    relaes continuadas, cito: relaes familiares, empresariais, trabalhistas ou de vizinhana,

    pois faz com que as partes reestabeleam ou aprimorem o relacionamento j existente entre

    elas.

    Como j referido, a Conciliao tem suas prprias caractersticas na qual, segundo

    Antnio Hlio Silva (2008 p. 26),

    [...] alm da administrao do conflito de interesses por um terceiro, neutro e

    imparcial, este mesmo conciliador, diferentemente do mediador, tem a prerrogativa

    de poder sugerir um possvel acordo, uma possvel soluo, aps uma criteriosa

    avaliao das vantagens e desvantagens que tal proposio trar s partes. Na

    Conciliao o acordo buscado com a presena e o dilogo das partes, em principio

    num nico momento. A Conciliao tem recebido grande destaque no meio jurdico,

    sendo objeto de recente campanha do Superior Tribunal de Justia (STJ) sob o ttulo

    Conciliar Legal, movimento este que tem por objetivo de promover a mudana de

    comportamento dos agentes da Justia, de todos os seus usurios, dos operadores do

    Direito e da sociedade. Pretende-se mudar comportamentos e induzir na sociedade a

    cultura de que um entendimento entre as partes sempre melhor caminho para o

    encerramento de um conflito de interesses, trazendo inmeros benefcios para todos

    os envolvidos, com uma maior satisfao das pessoas envolvidas e diminuio do

    tempo na soluo dos conflitos.

    Alm disso, ao analisar a Conciliao, percebe-se que o processo que menos ameaa

    o status quo, tendo em vista, que, normalmente, as partes no tm obrigao de chegar a um

    acordo, a uma composio, a uma transao. A elas so oferecidas apenas uma oportunidade

    de discutirem e explorarem possibilidades de resoluo aceitveis a ambas.

    1.3 Conceito

    imprescindvel, antes de dissertar sobre o tema, que se esclarea a noo do que

    realmente seja a palavra Conciliar. Encontramos no Dicionrio Online de Portugus vrias

    palavras que exprimem o real sentido da palavra conciliar: fazer com que haja acordo entre

    pessoas; conseguir estar em concordncia com outra pessoa; congraar; conciliar equipes

    rivais.

    No mbito jurdico, o termo empregado no sentido de procedimento do rgo

    judicirio, presidido por um terceiro imparcial, o conciliador, cuja atuao visa facilitar o

    acordo entre as partes.

    Cabe ressaltar atravs da colocao de Luiz Guilherme Marinoni (2007, p.700) que:

  • 14

    A conciliao permite que as causas mais agudas do conflito sejam consideradas e

    temperadas, viabilizando a eliminao do litgio no apenas na forma jurdica, mas

    tambm no plano sociolgico, o que muito importante para a efetiva pacificao

    social.

    Luza Andra Gaspar Loureno (1998, [?]) conceitua da seguinte forma a conciliao:

    A conciliao nada mais do que uma forma de composio amigvel, em que uma

    das partes ou ambas pem termo ao processo com ou sem julgamento de mrito

    (exs. Renncia ao direito ou desistncia da ao, respectivamente), solucionando o

    conflito de interesses; as prprias partes, portanto, encontram a soluo para o caso

    concreto, podendo ou no ter a ajuda externa, contudo, mesmo com a presena de

    um terceiro, como o mediador ou o conciliador, essa forma de resolver litgios no

    impe solues, pois tanto o mediador como o conciliador apenas formulam

    sugestes para resolver controvrsias, sugestes essas que podem ser acolhidas ou

    no pelas partes.

    O Conselho Nacional de Justia disponibiliza no site www.conciliar.cnj.gov.br uma

    definio bastante ampla e clara do que seja a conciliao e como se d:

    um meio alternativo de resoluo de conflitos em que as partes confiam a uma

    terceira pessoa (neutra), o conciliador, a funo de aproxim-las e orient-las na

    construo de um acordo. O conciliador uma pessoa da sociedade que atua de

    forma voluntria e aps treinamento especfico, como facilitador do acordo entre os

    envolvidos, criando um contexto propcio ao entendimento mtuo, aproximao de

    interesses e harmonizao das relaes. Conforme o momento em que for feito o

    acordo, a conciliao pode se dar de vrias formas: de forma organizada

    comunitariamente onde a comunidade se rene, na prtica sempre, estimulada por

    um setor da Administrao Pblica que trabalha com o social tipo ouvidorias e cria

    uma casa de conciliao, preparando aquelas pessoas mais acreditadas e experientes

    da comunidade para serem os conciliadores, e formas processuais, quando a lide j

    est instaurada, ou pr-processual, tambm denominada informal, quando os

    conflitos ainda no foram jurisdicionalizados.

    Os profissionais Lia Regina Castaldi Sampaio e Adolfo Braga Neto (2007, p. 9), assim

    se posicionam:

    A caracterstica mais marcante de todos os mtodos alternativos de resoluo de

    conflito o emprego da negociao como instrumento primeiro e natural para

    solucionar os conflitos, ao qual muitas vezes recorrem seus agentes mesmo de modo

    inconsciente, quando existe algo incmodo na inter-relao existente, seja ela de

    ordem afetiva, profissional ou comercial. Ao recorrer ao dilogo o que se tenta

    atender ao reclamo de uma parte em relao outra.

    Com isso, pode-se afirmar que, nesses casos, no existe um terceiro imparcial e

    independente, pois a busca pela soluo do conflito se d apenas por aqueles que esto

    envolvidos na situao, que recorrem atravs do dilogo e da troca de informaes e

    impresses para porem fim ao conflito existente.

  • 15

    1.4 Objetivo

    O principal objetivo buscado na conciliao, que as partes cheguem soluo de

    seus problemas, por si mesmas. Em razo desse objetivo se diz que a conciliao um

    mecanismo autocompositivo, informal em que a soluo do problema no dada por um

    terceiro. Convm destacar que a prtica deste modelo consensual implica: atuao conjunta

    das partes (colaborao); poder de deciso pelas partes; fim do conflito como resultado de um

    consenso entre as partes; soluo do tipo ganha-ganha; soluo com benefcios mtuos;

    orientao para o futuro.

    O entendimento de Roberto Portugal Bacellar (2003, p. 23) o seguinte:

    Um conflito possui um escopo muito mais amplo do que simplesmente as questes

    juridicamente tuteladas sobre a qual as partes esto discutindo em juzo. Distingue-

    se, portando aquilo que trazido pelas partes ao conhecimento do Poder Judicirio

    daquilo que efetivamente interesse das partes. Lide processual , em sntese, a

    descrio do conflito segundo os informes da petio inicial e da contestao

    apresentados em juzo. Analisando apenas os limites da lide processual, na maioria

    das vezes no h satisfao dos verdadeiros interesses do jurisdicionado. Em outras

    palavras, pode-se dizer que somente a resoluo integral do conflito (lide

    sociolgica) conduz pacificao social; no basta resolver a lide processual aquilo que foi trazido pelos advogados ao processo se os verdadeiros interesses que motivaram as partes a litigar no forem identificados e resolvidos.

    Alm disso, a conciliao dever proporcionar aos contendores a oportunidade de

    comparecerem pessoalmente em juzo, assistidas por seus procuradores; manifestar

    livremente seus interesses e pretenses; ouvir a parte contrria e participar da deciso que

    melhor solucione o conflito existente. As partes litigantes tm direito de ser tratadas de

    maneira respeitosa e igualitria, devendo ser concedidos s mesmas oportunidades para cada

    um dos envolvidos no conflito. No Estado Democrtico de Direito, o objetivo da conciliao

    dever ser o resgate da cidadania, atravs da liberdade de manifestao, da igualdade de

    oportunidades e de direitos, permitindo que os contendores encontrem a melhor soluo para

    o conflito, pois so os destinatrios da deciso construda e so eles que suportaro seus

    efeitos.

    Em linhas gerais, portanto, pode-se dizer que a Conciliao um processo

    comunicacional com objetivo principal de possibilitar o dilogo e recuperar a negociao,

    para que assim, se chegue a um acordo sobre os interesses em questo.

  • 16

    1.5 Vantagens e Desvantagens da Conciliao

    Por no ser permitido fazer justia com as prprias mos, o cidado exige do judicirio

    a soluo de seu conflito, entretanto, atravs da conciliao, ele encontra a possibilidade de

    uma soluo mais adequada, restando-lhe, caso no seja possvel o acordo, aguardar a deciso

    judicial.

    Com isso, assevera Mauro Cappelletti (1998, p.35) sobre as vantagens da conciliao:

    Existem vantagens bvias tanto para as partes quanto para o sistema jurdico, se o

    litgio resolvido sem necessidade de julgamento. A sobrecarga dos tribunais e as

    despesas excessivamente altas com os litgios podem tornar particularmente

    benficas para as partes as solues rpidas e mediadas, tais como o juzo arbitral.

    Ademais, parece que tais decises so mais facilmente aceitas do que decretos

    judiciais unilaterais, uma vez que eles se fundam em acordo j estabelecido entre as

    partes. significativo que um processo dirigido para a conciliao ao contrrio do processo judicial, que geralmente declara uma parte "vencedora" e a outra "vencida"

    oferea a possibilidade de que as causas mais profundas de um litgio sejam examinadas e restaurado um relacionamento complexo e prolongado.

    Outra vantagem que deve ser observada a apontada por Srgio Augusto Zampol

    Pavani (2005, p.80), segundo o qual:

    Outra vantagem advinda do instituto em comento a de que as partes j saem da

    audincia de conciliao sabendo do resultado daquele processo, o que aumenta a

    segurana das relaes jurdicas e realiza o apaziguamento social, que constituem

    escopos da jurisdio. Assim, atribui-se uma maior credibilidade ao Poder

    Judicirio, medida que as partes tm o seu litgio resolvido por meio da atuao

    daquele Poder de uma forma mais clere.

    Ainda, a doutrina observa que a conciliao, alm de instrumento de soluo de

    controvrsias entre as partes litigantes, tambm instrumento de pacificao social. Tal como

    o raciocnio de Ada Pellegrini Grinover (2008, p. 4):

    Revela assim, o fundamento social das vias conciliativas, consistente na sua funo

    de pacificao social. Esta, via de regra, no alcanada pela sentena que se limita

    a adotar autoritativamente a regra para o caso concreto, e que, na grande maioria dos

    casos, no aceita de bom grado pelo vencido, o qual contra ela costuma insurgir-se

    com todos os meios na execuo; e que, de qualquer modo, se limita a solucionar a

    parcela de lide levada a juzo, sem possibilidade de pacificar a lide sociolgica, em

    geral mais ampla, da qual aquela se imergiu, como simples ponta do iceberg. Por

    isso mesmo, foi salientado que a justia tradicional se volta para o passado,

    enquanto a justia informal se dirige para o futuro. A primeira julga a sentena; a

    segunda compe, concilia, previne situaes de tenses e rupturas, exatamente onde

    a coexistncia um relevante elemento valorativo.

  • 17

    A questo referente pacificao de suma importncia, principalmente quando

    existem relaes continuadas entre as partes envolvidas, como por exemplo, no caso de

    disputas entre vizinhos. Ao exporem suas razes, as partes alm de resolverem a questo

    posta em discusso, resolvem tambm outras questes no expostas diretamente e evitam que

    novos conflitos surjam entre si.

    Para Nelson Moraes Rgo, Juiz de Direito (2013, p.1), a conciliao no processo civil

    :

    [...] uma das formas compositivas da lide, para usar uma linguagem Carneluttiana,

    posta disposio do cidado que se tornou sujeito da relao jurdica que se

    desenvolve em Juzo, com a participao de um outro sujeito e do Estado, por

    intermdio do JUIZ. Atravs da conciliao as partes obtm uma maior celeridade

    na soluo da controvrsia que chegou ao Judicirio e que importa muitas vezes em

    vantagens para elas, quando por exemplo, so feitas concesses recprocas, sob a

    forma de TRANSAO, proporcionando um termo final ao exasperante, moroso e

    dispendioso processo judicial. E at mesmo para o Julgador, mostra-se conveniente

    a conciliao, se considerarmos a sobrecarga de funes e atividades que lhe esto

    afetas, aliado celeridade e a segurana da conciliao, com sua consequente e

    imediata homologao extintiva do processo. Assim, revela-se a conciliao, um

    meio rpido e seguro de satisfao dos litgios e de racionalizao dos servios

    jurisdicionais, alm de no impor ao perdedor a incmoda posio de sucumbente.

    Entretanto a tarefa no fcil. Exigir-se- do mediador-conciliador muita habilidade

    para tal desiderato, sobretudo se considerar-se que quando os litigantes vo a Juzo,

    porque j assumiram posies acirradamente antagnicas e antipticas. Da que o

    Juiz, com sua serenidade, imparcialidade e autoridade aquele que rene as

    melhores condies para ensejar a conciliao num clima de respeito e urbanidade

    entre os contendores.

    Alm disso, a conciliao extremamente interessante por razes de funcionalidade

    do prprio sistema, porque atende aos princpios da celeridade e efetividade, contribuindo

    para reduzir o nmero de processos judiciais, bem como o tempo de tramitao dos processos,

    preservando assim, a qualidade da atuao dos rgos judicirios.

    Quanto s desvantagens, observa-se que as partes do conflito, muitas vezes, no se

    encontram em completa igualdade e no esto preparadas para a autocomposio, pois muitas

    vezes a proposta de conciliao feita por profissionais no capacitados para tal ato. No

    entanto, se ambas as partes estiveram bem assistidas e receberem a assistncia jurdica

    necessria, no h que se falar em desequilbrio entre elas.

    Para que haja a conciliao indispensvel que sejam analisados no apenas o

    problema imediato, mas tambm os fatores que pautam um conflito, tais como o

    relacionamento anterior das partes, as suas necessidades e interesses, o tipo de personalidade

  • 18

    das partes envolvidas no conflito, os valores das partes e a forma como elas se comunicam.

    Tais fatores muitas vezes considerados pelos operadores do direito como secundrios, esto

    na verdade, na origem do conflito e por isso devem ser levados em conta na soluo do

    problema.

    1.6 Dificuldades

    A execuo da conciliao judicial como um mecanismo para soluo de litgios

    encontra vrios desafios a serem vencidos. Para Kazuo Watanabe (2008, p. 6) o principal

    deles a mentalidade dos operadores do Direito. Afirma o autor:

    O grande obstculo, no Brasil, utilizao mais intensa da conciliao, da mediao

    e de outros meios alternativos de resoluo de conflitos, est na formao acadmica

    dos nossos operadores de Direito, que voltada, fundamentalmente, para a soluo

    contenciosa e adjudicada de conflitos de interesses. Vale dizer, toda nfase dada

    soluo de conflitos por meio de processo judicial, onde proferida uma sentena,

    que constitui a soluo imperativa dada pelo juiz como representante do Estado.

    A cultura da conciliao deve ser trabalhada junto a todos os atores do processo, para

    garantir a pacificao social, que o objetivo principal dos meios alternativos de soluo de

    conflitos. Afinal, o incremento de formas alternativas jurisdio se d dentro e fora do

    judicirio, como o caso da conciliao.

    A Constituio Federal de 1988, em seu artigo 5, LXXVII, determina que, a todos,

    no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os

    meios que garantam a celeridade de sua tramitao, mas mesmo havendo esta determinao,

    percebemos que um dos aspectos mais relevantes no que se refere dificuldade de acesso

    justia est na demora da tramitao dos processos judiciais, e nisso que a conciliao ajuda,

    afinal, faz com que as demandas sejam resolvidas em menos tempo, fazendo com que a

    relao entre as partes no se desgaste tanto, pois atravs do dilogo resolvero suas disputas.

    Tal a opinio de Luiz Guilherme Marinoni (2009, p. 40):

    Os estudiosos do tema, como Mauro Cappelletti e Bryant Garth, em sua obra

    clssica, e, no Brasil, entre outros, Luiz Guilherme Marinoni, apontam, basicamente,

    quatro ordens de obstculos para acesso justia: a) obstculos de natureza

    financeira, consistentes nos altos valores praticados para a cobrana de custas

  • 19

    processuais e honorrios advocatcios, bem como configurados pela economia de

    escala que os litigantes habituais tm se comparados aos litigantes eventuais;

    b) obstculos temporais, consubstanciados na grande morosidade caracterstica do

    Poder Judicirio, seja por dificuldades institucionais, relacionadas m administrao, falta de modernizao tecnolgica e/ou insuficincia do nmero de

    magistrados e de servidores, seja em razo da complexidade do nosso sistema

    processual, que permite a interposio infindvel de recursos;

    c) obstculos psicolgicos e culturais, consistentes na extrema dificuldade para a

    maioria da populao no sentido de at mesmo reconhecer a existncia de um

    direito, especialmente se este for de natureza coletiva, na justificada desconfiana

    que a populao em geral (e em especial a mais carente) nutre em relao aos

    advogados e ao sistema jurdico como um todo e, ainda, na tambm justificvel

    intimidao que as pessoas em geral sentem diante do formalismo do Judicirio e

    dos prprios advogados; e

    d) obstculos institucionais, referentes aos direitos de natureza coletiva, em que a

    insignificncia de leso ao direito, frente ao custo e a morosidade do processo, pode

    levar ao cidado a desistir de exercer o seu direito por ser a causa antieconmica.

    A doutrina ainda aponta mais alguns fatores que dificultam o acesso justia como,

    por exemplo, a morosidade nos processos e seus altos custos; a mentalidade dos juzes

    jurisdicionados; a falta de informao sobre a possibilidade de solues pacficas; e

    principalmente a falta de conhecimento das tcnicas conciliativas, causando com isso, uma

    crise na estrutura judiciria ptria.

    Por fim, percebe-se que para as partes, a conciliao ainda no traduz mtodo eficiente

    para concluso de questes litigiosas. Assim, apontam Lilia Maia de Morais Sales e Cilana de

    Morais Soares Rabelo (2009, p. 75-76) que deve haver adequao entre o conflito e o tipo de

    soluo apresentado. Para as autoras,

    [...] importante desapegar-se da viso de que s possvel a resoluo de um

    conflito por um caminho exclusivo ou quando houver interveno estatal e passar a

    construir a ideia de que um sistema com instituies e procedimentos que procuram

    prevenir e resolver controvrsias a partir da necessidade e dos interesses das partes.

    Nota-se que a conciliao pode ser um instrumento poderoso na busca de solues

    para os problemas do Poder Judicirio, todavia, acredita-se que a cultura da conciliao ainda

    precisa ser assimilada pelos brasileiros.

    Entretanto, cabe ressaltar que a conciliao no a melhor soluo para todos os

    conflitos. Contudo, parece-nos que a sentena judicial tambm no representa a melhor

    soluo em todos os casos. Face diversidade do tipo de conflitos existentes, diversos devem

    ser tambm os meios para resolv-los. No desejvel que as partes se distanciem da justia,

    uma vez que, se elas no compreendem o que se passa, os seus conflitos no ficam

  • 20

    verdadeiramente sanados. A conciliao deve ser encarada como uma fase importante,

    avaliando o juiz em que casos pode ser til, sendo usadas as suas potencialidades de forma

    sistemtica, trazendo com isso melhorias na qualidade da justia.

    Mas para isso, preciso haver mais investimento na formao dos profissionais de

    direito, assim como a necessria destinao de recursos financeiros para reconstituir o Poder

    Judicirio, fazendo com que o mecanismo da conciliao deixe de ser uma alternativa, para se

    tornar um meio frequente no judicirio brasileiro. Alm disso, necessria a superao

    cultural litigiosa da populao, para assim compreenderem que alternativas de soluo de

    conflitos so possveis, construindo a cultura do consenso e do acordo, para com isso, trazer

    maior rapidez na soluo do conflito, menor desgaste emocional e, o mais importante, a

    pacificao social, porque [...] a justia atrasada no justia, seno injustia qualificada e

    manifesta [...] (BARBOSA, 2009, p.62).

    E, ainda, possibilita que a resoluo dos conflitos ocorram de forma mais clere, em

    menos tempo e sem que se perca da qualidade da justia.

  • 21

    2. A CONCILIAO

    A partir de uma anlise do litgio como um elemento inerente s relaes humanas,

    faz-se necessria uma busca de alternativas prestao jurisdicional do Estado, a fim de

    regular essas relaes de forma construtiva e solucionadora. A conjuntura atual no permite

    mais que se prolonguem conflitos em razo da falta de uma utilizao adequada de mtodos

    alternativos.

    Dentre as diversas formas de resoluo de conflitos, a Conciliao ser abordada de

    forma mais aprofundada, face sua peculiaridade de procedimento que visa analisar e

    trabalhar no s o conflito aparente, mas busca a real causa desse conflito e os meios para a

    sua harmonizao, com a ruptura da corrente de mgoas e ressentimentos que tanto afetam as

    partes envolvidas.

    2.1 Comportamento dos envolvidos

    Pode-se perceber que o conciliador tem uma grande importncia na administrao da

    justia, pois permite a soluo mais clere de conflitos e de forma mais eficiente. Sua funo

    consiste basicamente em promover o acordo entre as partes, e para isso deve tomar certas

    posturas e procedimentos para facilit-la. Informam Andr Gomma de Azevedo e Roberto

    Portugal Bacellar (2009, p. 21) que:

    O conciliador uma pessoa selecionada para executar munus pblico de auxiliar os

    litigantes a compor a disputa. No exerccio dessa funo, ele deve agir com

    imparcialidade e ressaltar as partes que no defender nenhuma delas em detrimento

    da outra. O conciliador, uma vez adotada a confidencialidade, deve enfatizar que

    tudo o que for dito a ele no ser compartilhado com mais ningum, exceto do

    supervisor do programa de conciliao (se houver) para eventuais elucidaes de

    algumas questes. Observa-se que uma vez adotada a ferramenta da

    confidencialidade, o conciliador deve deixar claro que no comentar o contedo

    das discusses nem mesmo com o juiz. Isto porque, o conciliador deve ser uma

    pessoa com quem as partes possam falar abertamente.

    Ao se adotar o mtodo da conciliao capacita-se auxiliares, servidores da justia,

    preparando-os com determinadas tcnicas capazes de abrir caminho para o dilogo entre os

    contendores e se alcanar a satisfao dos interesses de todos, ou seja, o conciliador torna-se

    um facilitador do entendimento entre as partes que esto em conflito e que tentam encontrar

    uma soluo mutuamente aceitvel.

  • 22

    Assim, alm de estimular e/ou facilitar a aproximao entre os interessados e restaurar

    o dilogo entre eles, faz com que as prprias partes resolvam seus conflitos, no havendo

    despesas desnecessrias com advogados ou para produzir provas, pois h concesses mtuas

    sobre os direitos e obrigaes.

    Conforme bem elucida o Professor Rodrigo Almeida Magalhes (2008, p.28):

    O terceiro interventor (conciliador) atua como elo de ligao. Sua finalidade, (...),

    levar as partes ao entendimento, atravs da identificao de problemas e possveis

    solues. Ele no precisa ser neutro, ou seja, pode interferir no mrito das questes.

    O conciliador no decide o conflito, ele pode apenas sugerir decises; a deciso cabe

    s partes.

    O conciliador deve escutar de forma ativa, dinmica o contedo emocional, o

    significado das palavras pronunciadas pelas partes, demonstrando compreenso, intervindo de

    forma natural somente quando necessrio, estimulando possveis opes aos envolvidos na

    lide, para que atravs dos conhecimentos disponveis sobre o tema, possa estabelecer os

    pontos em comum e incentivar, assim, os envolvidos a encontrarem juntos uma soluo,

    evitando com isso a perpetuao do conflito.

    Entende-se que seria melhor, que os conciliadores no se apresentassem como

    autoridades em frente s partes, afinal essa autoridade ser alcanada a partir do nvel de

    relacionamento que ele conseguir estabelecer com as partes. O uso de um tom de conversa,

    sem maiores formalidades estimula o dilogo, mas a informalidade que nos referimos no

    significa que todos envolvidos na sesso de conciliao no precisem se preocupar com uma

    adequada postura profissional.

    Alm disso, segundo Mrio Parente Tefilo Neto (1996, p. 49), o conciliador no deve

    menosprezar os princpios do Devido Processo Legal em nome do Princpio da Celeridade e

    da Informalidade, pois,

    [...] o Conciliador deve esclarecer as partes o que poder ocorrer a ambas no

    processo, caso no demonstrem interesse na realizao do acordo. de bom alvitre

    que o Conciliador deixe bem claro que uma deciso judicial sempre acarreta

    prejuzo para algum, algum tipo de constrangimento, seja de que ordem for. No

    acordo, tal no acontece. Este o momento em que os litigantes podem, cada um,

    abdicar um pouco daquilo que acham fazer jus a bem de uma negociao, de um

    entendimento comum. conveniente que sempre seja dito s partes que a

  • 23

    conciliao implica um pouco de cesso de ambos os lados. Importa ainda

    considerar que o acordo no implica em reconhecimento de culpa, no se

    constituindo, pois em condenao.

    Apesar da conciliao ser de grande importncia e o Conciliador dever procurar de

    todas as formas viabiliz-la, no se deve esquecer que as partes so livres para fazer

    ou no acordo. Este no deve ser obtido com ameaas, contra a vontade da parte.

    Esta deve, pessoalmente, dizer de forma livre e espontnea se deseja ou no fazer a

    conciliao.

    Em relao ao Magistrado, sua postura assumida deve ser diferente da postura de juiz

    julgador. Ele deve ter uma especial preocupao em manter a imparcialidade. Devido

    informalidade h uma maior probabilidade de o juiz exprimir opinies que uma das partes

    compreenda como sendo a favor da outra parte ou mesmo a seu favor, deve tambm, manter-

    se sempre equidistante em relao s partes, no cedendo a simpatias ou antipatias, nem

    tentao de proteger a parte mais fraca.

    Alm disso, deve ter cuidado em manter a neutralidade, entendida no sentido de

    distncia em relao ao contedo, uma vez que este pertence s partes. O juiz deve colocar de

    lado preconceitos ou convices pessoais e no tentar influenciar o acordo.

    Como regra, o juiz no dever fazer propostas, pois isso poderia influenciar na deciso

    das partes. Sendo assim, esta situao deve ser evitada, na medida em que o que se pretende

    um acordo que satisfaa realmente os interesses das partes e sane o conflito, o que no

    acontece perante uma soluo que se viram foradas, ainda que no fosse essa a inteno do

    juiz, a aceitar.

    Entretanto, h ainda certa resistncia do magistrado quanto ao adotar o mtodo da

    conciliao, devido a sua cultura de sentenciar as questes que lhe so apresentadas. No

    entanto essa cultura alienada pela sobrecarga de trabalho, como afirma Kazuo Watanabe

    (2008, p.7):

    Todavia, a mentalidade forjada nas academias e fortalecida na prxis forense

    aquela que j mencionada, de soluo adjudicada autoritativamente pelo juiz, por

    meio de sentena, mentalidade esta agrava pela sobrecarga excessiva de trabalho.

    Disso tudo nasceu a chamada cultura da sentena, que se consolida

    assustadoramente. Os juzes preferem proferir sentena ao invs de tentar conciliar

    as partes para a obteno da soluo amigvel dos conflitos.

    Sentenciar, em muitos casos, mais fcil e mais cmodo do que pacificar os

    litigantes e obter, por via de consequncia, a soluo dos conflitos.

  • 24

    Entende-se que seria necessrio que o magistrado utiliza-se da conciliao mediante a

    tentativa do uso da persuaso, do empenho, das tcnicas de negociao e, principalmente,

    deve acreditar fielmente que esse mecanismo o melhor meio para a soluo clere e eficaz

    de conflitos.

    J em relao aos advogados, percebemos que h uma postura cuidadosa na defesa dos

    interesses de seus clientes. Quem afirma essa questo Andr Gomma de Azevedo (2009, p.

    26):

    Os advogados adotam uma postura excessivamente litigiosa e adversal. Muitos

    advogados, ao ponderarem sobre suas prticas profissionais, concluem que o efetivo

    empenho previsto no prembulo de Cdigo de tica e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil requer que desenvolvam maior nmero de atividades dentro da

    suas relaes processuais em curso, desde que estas no sejam expressamente

    proibidas em lei. Essa conduta estimula advogados a litigar de forma enftica,

    buscando auferir todas as formas possveis de ganhos para seus clientes. Em regra,

    esta relao ocorre sob forma de jogo de soma zero isto , busca-se vencer determinada lide, derrotando a parte contrria.

    Segundo artigo 2, inciso VI, do Cdigo de tica dos Advogados, seu dever

    estimular a conciliao entre os litigantes, prevenindo, sempre que possvel, a instaurao de

    litgios. Entretanto, por muitas vezes, verifica-se que alguns advogados ao invs de

    auxiliarem na busca da efetivao da conciliao, criam problemas, dificultando, com isso, a

    soluo da demanda de forma amigvel.

    necessrio, portanto, uma mudana de mentalidade, de comportamento dos

    advogados, pois eles devem estar atentos preservao dos interesses de seus clientes, e se

    verificarem que a conciliao o melhor caminho, devem ser receptivos e auxiliarem no

    processo conciliatrio, orientando seus clientes sobre as vantagens da conciliao, mostrando

    que a conciliao um caminho seguro, podendo sugerir e apresentar propostas ao caso

    especfico.

    2.2 Momento para conciliar

    No Cdigo de Processo Civil, observa-se que esto elencados dois momentos

    especficos para a tentativa da conciliao, sob pena de nulidade processual, que so eles: na

    audincia do artigo 331, e como antecedente necessrio da audincia de instruo e

  • 25

    julgamento dos artigos 447 e 448. Sendo que sua inobservncia acarretar nulidades

    insanveis, j que as normas que regem a matria so de natureza cogente.

    A possibilidade de as partes celebrarem acordo no se restringe to-somente ao

    momento da realizao da audincia de conciliao, pode haver acordo entre os demandantes

    a qualquer tempo, inclusive aps o trnsito em julgado da sentena. Nesse sentido a posio

    de Srgio Ricardo de Arruda Fernandes (2004. p. 98), que, ao comentar a insero do 3 no

    art. 331 do CPC, afirma: [...] pois as partes podem fazer acordo a qualquer momento, mesmo

    aps o trnsito em julgado da sentena.

    Deve-se salientar, que quanto mais demorada audincia de conciliao, mais acirrado

    se torna o conflito, sendo que o ideal que os sujeitos tenham essa oportunidade logo que

    iniciado o processo.

    Entretanto, se realizada a audincia de conciliao e for frustrado o acordo, sero

    fixados os pontos controvertidos, decididas as questes processuais, determinadas as provas

    requeridas e designada audincia de instruo e julgamento, se for o caso.

    Tal o entendimento de Jasson Ayres Torres (2005, p.184) sobre a importncia da

    audincia preliminar:

    A audincia preliminar um momento precioso para as partes transigirem, tomarem

    conhecimento dos pontos controvertidos e das provas que devam ser produzidas, e

    tambm, serem resolvidas as questes importantes e que interessam de perto s

    partes e celeridade processual. So avanos no sentido de Justia mais rpida, so

    possibilidades a ensejar, a qualquer momento, a transao, no retardando o

    desfecho dos processos. Mesmo que o acordo no venha a ser efetivado nesses

    momentos, h uma dinamizao do processo, pelo saneamento, pelo destaque dos

    pontos controvertidos, pelo princpio da instrumentalidade, visando a soluo mais

    rpida da causa.

    Sendo assim, no feito o acordo na prpria audincia dever ser cumprido,

    integralmente, o dispositivo constante do artigo 331 do Cdigo de Processo civil, onde a

    fixao dos pontos controvertidos far com que se evitem discusses desnecessrias, recursos

    e demoras prolongadas de questes que no so contestadas, porque so reconhecidas por

    ambas as partes.

  • 26

    Vale ressaltar, que mesmo que tenham sido frustradas outras audincias de tentativa de

    conciliao, a renovao da proposta sempre ser oportuna em qualquer momento, inclusive

    na produo de prova testemunhal. Torres (2005, p. 163) ensina:

    Como j dissemos, o sistema processual sempre estabeleceu um momento prprio

    para a Conciliao, como se vislumbra no art. 448 do CPC, mas

    que complicava o interesse das partes, pois, procedimento por si mesmo j formal e

    moroso, teria o momento conciliatrio s por ocasio da audincia de instruo e

    julgamento. Hoje, infelizmente e, por influncia da experincia dinmica do

    procedimento nas pequenas causas, tm havido mudanas substanciais e, no caso,

    podendo ser destacada, dentre tantas reformas no direito processual civil, a ocorrida

    atravs das Leis n. 8.952/94, 9.245/95 e 10.444/02, respectivamente, acrescentando

    e dando nova redao aos artigos 125, 277 e 331 do Cdigo de Processo Civil,

    sempre com o objetivo de ressaltar a Conciliao em qualquer fase do processo.

    A Conciliao deve ser incentivada e igualmente colocada em prtica tambm no

    juzo comum, primeiramente porque h previso legal e, em segundo lugar, porque

    se constitui num grande aliado da Justia. A recente Lei n. 10.444/02, bom referir,

    mais uma vez, possibilita a transao, indicando o caminho da audincia preliminar

    visando, na fase do art. 331 do CPC, resoluo do conflito, inclusive com a

    presena de procuradores e prepostos. a idia de soluo pacfica dos conflitos,

    misso que o Poder Judicirio no pode abdicar.

    Portanto, por determinao ou por solicitao das partes, a conciliao vivel,

    previamente ou a qualquer momento, sendo necessrio to somente que os mesmos

    compaream acompanhados de seus advogados e que ambos tenham igual oportunidade de

    manifestao, podendo ocorrer a transao com resoluo do mrito, caso contrrio,

    prosseguir conforme previsto no ordenamento jurdico.

    2.3 O conciliador

    O conciliador aquela pessoa inicialmente externa ao conflito existente entre os

    interessados, embora agindo com neutralidade faz parte do processo de conciliao. E, sendo

    assim, precisa ser capaz de criar um espao desarmado, na rea de conflito, a fim de

    possibilitar o entendimento entre as partes.

    Pode-se dizer que o conciliador age como um terceiro interventor, atuando como elo

    de ligao, onde atravs de tcnicas de natureza psicolgica, conduzir a conversa entre as

    partes de forma a transformar o conflito em algo positivo, tendo como principal finalidade,

    [...] levar as partes ao entendimento, atravs da identificao de problemas e possveis

    solues [...]. (MAGALHES, 2008, p.28).

  • 27

    O papel do conciliador de fundamental importncia na conciliao, uma vez que ele

    ser o facilitador da resoluo consensual dos conflitos, portanto deve estar preparado para

    enfrentar desafios que se apresentaro no desenvolver de suas atividades, no entanto, sabe-se

    que nem sempre isso se torna uma misso simples a ser executada, ento o conciliador deve

    tomar certas posturas e procedimentos para facilit-la.

    Observa-se que o conciliador deve ser totalmente imparcial, no podendo tomar

    partido de um lado e nem de outro, afinal o simples fato de uma pessoa ser o reclamante no

    significa que tem razo, o mesmo ocorrendo com o reclamado, que pode estar certo, mesmo

    sendo aquele em face de quem se pleiteia a pretenso.

    Devido a este dever de imparcialidade, aplicado ao conciliador o disposto no artigo

    135 do Cdigo de Processo Civil, que dispe sobre a imparcialidade do juiz, vejamos:

    Art. 135. Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade do juiz, quando:

    I - amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;

    II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cnjuge ou de parentes

    destes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau;

    III - herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador de alguma das partes;

    IV - receber ddivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das

    partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender s despesas do

    litgio;

    V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

    Pargrafo nico. Poder ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo ntimo.

    Se qualquer destas hipteses ocorrerem, o conciliador deve solicitar Secretaria do

    Juizado que passe a tentativa de conciliao para outro colega.

    O Cdigo de Processo Civil permitiu em seu artigo 277, 1, que no procedimento

    sumrio, o juiz, na audincia de conciliao, possa ser auxiliado por um conciliador. Tambm

    na Lei 9.099/95, em seu artigo 7, prev a participao de conciliadores e juzes leigos no

    procedimento dos Juizados Especiais, podendo ser juzes leigos os bacharis em Direito com

    cinco anos de experincia, enquanto para conciliadores, apenas se recomenda que sejam

    bacharis em Direito, no sendo esta condio indispensvel para o exerccio da funo.

    Embora no se exija uma formao profissional especfica ou um perfil determinado

    para ser um conciliador, Roberto Portugal Bacellar e Andr Gomma de Azevedo (2009, p. 27-

    28) apontam algumas caractersticas de um bom conciliador: capacidade de aplicar diferentes

  • 28

    tcnicas autocompositivas de acordo com a necessidade de cada disputa; capacidade de

    escutar a exposio de uma pessoa com ateno; capacidade de inspirar respeito e confiana;

    capacidade de estar confortvel em situaes em que os nimos estejam acirrados; a

    pacincia; capacidade de afastar seus preconceitos por ocasio da conciliao; imparcialidade;

    possuir empatia e a gentileza e respeito no trato com as partes.

    Essas caractersticas, como lembram os autores [...] devem ser somadas a um bom

    treinamento sobre as tcnicas e ferramentas dos processos de conciliao para

    desenvolvimento da habilidade, que se aperfeioam com a prtica da atividade de

    conciliador. (2009, p.28).

    Conforme acima explicitado, as qualidades psquicas do conciliador so, muitas vezes,

    mais importantes do que a prpria titulao, qualificao profissional ou conhecimento

    acadmico ou jurdico que possa ter adquirido, apesar de estes serem tambm requisitos

    importantes e necessrios.

    Ressalta-se, que ao conciliador no cabe dizer o direito, motivo pelo qual, ele no

    ouve testemunhas e nem discute documentos e provas, pois estas no lhe interessam. O

    conciliador trabalha apenas com propostas, objetivando encontrar um meio de acordo que

    deixe ambas as partes satisfeitas e pacificadas.

    Alm disso, cabe ao conciliador observar alguns princpios norteadores dos processos

    auto compositivos, mas antes de cita-los devemos levar em considerao as diferenas

    apontadas por Jos Joaquim Gomes Canotilho (1994, p.167-168), entre regra e princpio,

    salientando que ambos so espcies do gnero normas. Vejamos:

    Esta distino fundamental para analisarmos as regras estabelecidas luz de

    determinados princpios, sobretudo na qualidade de verdadeiras normas,

    qualitativamente distintas das outras categorias de normas: as regras jurdicas. As

    diferenas qualitativas so: os princpios so normas jurdicas impositivas de uma

    otimizao, compatveis com vrios graus de concretizao, consoante os

    condicionamentos fticos e jurdicos; as regras so normas que prescrevem

    imperativamente uma exigncia (impe, permite ou probe) que ou no

    cumprida; a convivncia dos princpios conflitual; a convivncia das regras

    antinmica. Excluem-se, conseqentemente, os princpios; ao constiturem

    exigncias de otimizao, permitem o balanceamento de valores e interesses; no

    obedecem, como as regras, lgica do tudo ou nada, consoante o seu peso e a

    ponderao de outros princpios eventualmente conflitantes; as regras no deixam

    espao para qualquer outra soluo, pois se uma regra tem validade, deve cumprir-se

  • 29

    na exata medida das suas prescries, nem mais nem menos; em caso de conflito

    entre princpios, estes podem ser objetos de ponderao, de harmonizao, pois eles

    contm apenas exigncias que, em primeira linha, devem ser realizados; as regras

    contm fixaes normativas definitivas, sendo insustentvel a validade simultnea

    de regras contraditrias.

    Pode-se mencionar os princpios mais utilizados, segundo Andr Gomma de Azevedo

    (2009, p. 191-194), que so:

    a) princpio da imparcialidade e neutralidade de interveno: o conciliador deve ser isento de vinculaes ticas ou sociais, ou seja, devero ser neutro e imparcial

    com ambas as partes;

    b) princpio da conscincia relativa ao processo: o conciliador deve esclarecer s partes as consequncias de sua participao no processo auto compositivo, bem

    como explicar o funcionamento do processo de conciliao e a confidencialidade da

    autocomposio;

    c) princpio do consensualismo processual: o conciliador deve ter o consentimento espontneo das partes para resolverem o litgio atravs da

    autocomposio;

    d) princpio da confidencialidade: todas as informaes realizadas pelas partes na autocomposio so confidenciais;

    e) princpio do empoderamento: deve o conciliador educar as partes no sentido de desenvolverem a autocomposio em problemas futuros;

    f) princpio da simplicidade: o procedimento deve ser simples e claro com o fim de deixar as partes vontade para melhor se manifestarem ou expressarem seus

    interesses.

    Alm disso, os legisladores/conciliadores devem observar em suas atuaes os

    princpios estabelecidos em nossa Carta Magna, para o correto desenvolver de suas

    atividades.

    2.4 Etapas do Processo Conciliatrio

    No se pode estabelecer uma forma pr-definida pela qual se deva orientar a

    conciliao, no entanto podemos analisar as diferentes etapas de um processo conciliatrio

    atravs do estudo, para fins didticos, feito pelos autores renomados Roberto Portugal

    Baccelar e Andr Gomma Azevedo (2009, p. 31), j que pelo seu prprio cunho informal,

    no se pode estipular, com preciso, que o processo ir se desenrolar de um determinado

    modo.

    As fases referidas pelos autores citados so as seguintes: incio de conciliao, reunio

    de informaes, identificao de questes, interesse e sentimentos, esclarecimento de

    controvrsias e dos interesses, resoluo de questes e registro das solues encontradas.

    (2009, p. 25-26).

  • 30

    Os autores afirmam que a conciliao deve iniciar com o preparo do local em que se

    realizar a audincia e com familiarizao do conciliador com o conflito, para que possa

    prever as estratgias que devem ser empregadas. Este preparo garante o conforto, tanto para

    as partes como para o conciliador. (2009, p.34).

    Contudo, lembram os autores, que se deve ter em mente que nem sempre o contato

    prvio com a situao controversa pode ser realizado, de modo que bastante til formular-

    se uma classificao de conflitos usuais, tais como: conflito de trnsito, vizinhana, conflito

    familiar, conflito de contrato inadimplido, sistema financeiro, pois, assim, o conciliador ao

    menos, antes de chamar as partes e dar incio ao processo, ter uma vaga noo de como

    poder atuar. (2009, p.33).

    Ao iniciar a conciliao, importante que o conciliador apresente s partes o processo

    de conciliao. Sendo que nesta fase o conciliador deve estabelecer um tom ameno para o

    debate, para que assim, ganhe a confiana das partes.

    Como ressalta Juliana Demarchi (2008, p.56), o primeiro ato do conciliador para com

    as partes deve ser a explicao sobre o procedimento que ser observado, esclarecendo-as

    sobre os objetivos da conciliao, suas regras e implicaes da celebrao ou no do acordo.

    Tambm nessa fase que se deve afirmar o sigilo da conciliao. Para a referida

    autora (2008, p. 56):

    [...] isso significa que as declaraes feitas pelas partes ou seus advogados no

    produziro efeitos probatrios em eventual processo judicial, assim como os

    documentos mencionados nas tratativas no sero analisados pelo conciliador, que

    no exerce funo julgadora.

    Assegurar a confidencialidade fundamental para que as partes se sintam a vontade

    para falar abertamente sobre o problema e constituir uma soluo conjuntamente.

    Finda esta fase, inicia-se uma nova fase que tem por objetivo reunir informaes sobre

    o conflito. fundamental que ambas as partes possam falar e no sejam interrompidas, para,

    que assim, seja retomado o dilogo entre elas. Como afirma a j citada autora:

  • 31

    A fim de realizar seu trabalho, o conciliador deve estimular as partes a falarem sobre

    o conflito, provocando a escuta recproca e a identificao das posies e interesses

    das partes. A retomada da comunicao permite o esclarecimento mtuo das partes

    acerca do conflito, de seus anseios, perspectivas, assim como a percepo de pontos

    comuns que podem auxiliar na obteno do acordo. (DEMARCHI, 2008, p. 57).

    Esclarecidos os pontos de conflito, aps debates sobre eles, inicia-se a fase da

    construo de um acordo, em que,

    [...] o conciliador deve estimular as partes a formularem propostas e opes de

    acordo para o debate. Nos casos em que as partes mostrarem-se reticentes prolao

    de propostas, pode o prprio conciliador sugerir solues, ressaltando, ao faz-lo,

    que no est tomando partido de uma ou de outra parte, mas apenas visando

    soluo do problema. (DEMARCHI, 2008, p. 58).

    A mesma autora afirma a importncia de haver vrias opes de acordo, pois quanto

    mais propostas forem debatidas, mais seguras ficaro as partes para escolher a que lhe parece

    melhor. (2008, p. 61).

    Embora no haja um procedimento pr-estabelecido para a conciliao, devem ser

    observadas algumas regras para que haja equidade no tratamento entre as partes e que estas se

    sintam confortveis para falarem sobre suas perspectivas sobre o conflito abertamente.

    Somente assim, ser garantido um bom acordo para os litigantes, com grandes possibilidades

    de ser cumprido espontaneamente, resultando na efetiva pacificao social.

    2.5 Tipos de conciliao

    No direito brasileiro vigente, poderamos resumir os tipos de conciliao, seja quanto a

    obrigatoriedade de sua ocorrncia, a qual seria facultativa ou obrigatria, seja quanto ao

    momento de realizao, sendo preventiva ou pr-processual e, processual ou incidental.

    Em se tratando da conciliao facultativa, esse tipo de conciliao est prevista no

    artigo 331 do Cdigo de Processo Civil, em processos que admitem transao, geralmente, em

    casos de direitos disponveis. Nesse caso, o juiz pode designar a audincia de conciliao para

    que as partes, pessoalmente, ou por seus procuradores, venham dialogar em juzo. Havendo

    conciliao, a mesma ser reduzida a termo e homologada por sentena.

    Quanto conciliao obrigatria, Ademir Buitoni (2010, p.2), esclarece que:

  • 32

    [...] no pode deixar de ser feita, sob pena de causar a nulidade ao procedimento

    respectivo.

    , por exemplo, a Conciliao prevista nas Convenes Coletivas de Trabalho,

    quando se estabelece que as partes devam submeter o litgio Comisso de

    Conciliao Prvia, antes de ingressar na Justia do Trabalho.

    Tambm pode ser estabelecida por uma clusula contratual, pela qual as partes

    devam se submetem a processo conciliatrio.

    tambm obrigatria a Audincia de Conciliao nos processos sumrios, que se

    iniciam com essa audincia (art. 277, do CPC). Se no houver Conciliao ento a

    parte contesta e o processo continua. Nesse caso o CPC expresso ao declarar que o

    Juiz pode ser auxiliado por Conciliador (art. 277 1).

    Em relao conciliao do tipo preventiva ou pr-processual, as partes fazem uma

    tentativa de conciliao, espontaneamente, antes de ingressarem em juzo, evitando, com isso,

    o litgio, se for o caso.

    Com esse tipo de conciliao as partes se sentem mais vontade, pois esto na

    presena de um conciliador que no tem poderes de deciso e de julgamento, atuando o juiz a

    posteriori, apenas homologando o acordo feito depois de examinar se foram cumpridas as

    formalidades legais do caso.

    Por fim, a conciliao processual ou incidental, ocorre dentro do processo judicial,

    feita pelos prprios juzes ou por conciliadores especialmente designados para a finalidade.

    Deve-se ressaltar que o estmulo conciliao uma obrigao legal do juiz, embora

    eles sejam capacitados, essencialmente, para julgar e no para desenvolver tcnicas de

    conciliao.

    2.6 Tcnicas de atuao do conciliador

    Algumas tcnicas devem ser utilizadas pelo conciliador para facilitar o dilogo entre

    as partes e para a obteno de acordos.

    O preparo do ambiente um dos aspectos de suma importncia, assim como o

    posicionamento das partes e do conciliador. o que explica Roberto Portugal Bacellar e

    Andr Gomma de Azevedo (2009, p.35):

    A forma como as partes iro se sentar durante a sesso de conciliao transmite

    muito mais informaes do que se possa imaginar. Trata-se de uma forma de

    linguagem no verbal, que deve ser bem analisada a fim de perceber o que as partes

  • 33

    podem esperar da conciliao e como elas iro se comportar nesse ambiente. A

    forma como ser organizada a posio fsica das partes dever diferir conforme o

    nmero das partes, o grau de animosidade entre elas, o tipo de disputa, o patamar

    cultural e a prpria personalidade dos envolvidos []. Dessa forma, importante que o posicionamento das partes seja realizado de modo

    que todos consigam ver e ouvir uns aos outros, como tambm participar das

    discusses.

    Ressalta o mesmo autor que:

    O posicionamento do conciliador tambm de grande importncia, j que a

    qualidade, imparcialidade, aptido e liderana, em muito, pode ser transmitida

    consoante tais aspectos. Dessa maneira, o conciliador deve se posicionar de modo

    equidistante em relao s partes. Quanto liderana, seu posicionamento deve se

    efetuar de modo a conseguir administrar e controlar todo o processo[...]

    O conforto tambm uma qualidade essencial ao processo de conciliao. O

    sentimento de desconforto, de fato, representa um inconveniente bastante acentuado

    ao alcance do xito no processo, uma vez que as partes deixaro de se preocupar

    com a controvrsia em si, deslocando a sua preocupao para algo bastante

    improdutivo conciliao. Desse modo, todos devem se sentir fisicamente

    confortveis, concentrados e seguros, e o ambiente dever transparecer conforto e

    privacidade e, por isso, no deve ser nem to grande nem to pequeno. Outros fatores ambientais como a cor das salas, msica ambiente e aromas

    igualmente podero ser teis para melhorar a sintonia das salas utilizadas para a

    recepo das partes e conciliao de seus conflitos [...]. (BACELLAR; AZEVEDO;

    2009, p. 36)

    Aps haver a explicao para as partes quanto ao processo, o passo seguinte

    perguntar, se as mesmas desejam ou no continuar com a sesso, e em caso afirmativo, deve-

    se partir para a etapa seguinte.

    Segundo Llia Samard Giacomet (2009, p.10), o conciliador pode se utilizar da

    escuta dinmica, pela qual se busca escutar e compreender as partes, afinal no basta apenas

    ouvir o que as partes dizem, e sim entend-las. Alm disso, indispensvel ateno do

    conciliador quanto linguagem no verbal das partes, como gestos e olhares. No dizer da

    autora:

    [] podemos afirmar que, o ajeitar de papis em cima da mesa, os olhares de irritao, o atender do telefone, o prprio folhear do processo, podem traduzir para a

    parte que estamos ouvindo, mas no estamos escutando. Manter uma postura

    receptiva parte interlocutora, evitar sinais de tenso, tudo demonstra uma atitude

    positiva de ateno fsica. Do mesmo modo, buscar manter um contato visual, fazer

    perguntas, resumir respostas quando for duvidosas para esclarecimentos construir

    novas ideias a partir do que foi dito etc. representam a ateno verbal.

    Na busca pela compreenso dos fatos, o conciliador pode fazer perguntas s partes,

    porm sempre necessrio que as respostas sejam ouvidas e compreendidas.

  • 34

    Deve-se ter em mente que o conciliador, ao interpretar o que houve, no pode se

    enclausurar em preconceitos ou padres, tentando sempre entender o conflito. Como ensina

    Juliana Dermachi (2008, p.51), procura-se, com isso, o aprofundamento da abordagem do

    conflito, inclusive com a criao de novos paradigmas, de novas formas de lidar com a

    situao, que se d por meio de escuta atenta, da aceitao dos limites de nossas percepes e

    de novos valores.

    Nesta fase, portanto, o importante ouvir as partes, alm disso, uma estratgia

    importante para o conciliador, na viso de Roberto Portugal Baccelar e Andr Gomma de

    Azevedo (2009, p.85), separar as pessoas dos problemas. Para eles:

    [...] comum que uma parte, assim que tenha oportunidade de falar, comece a atacar

    a outra, ressalte seus defeitos e fale de maneira rspida ao se dirigir outra parte.

    Nestes, casos, importante que o conciliador busque extrair daquilo que foi dito, os

    reais interesses das partes.

    Para focar no problema, possvel que o conciliador use de uma tcnica chamada de

    tcnica de resumo, na qual, aps a manifestao das duas partes, o conciliador retoma as

    questes principais, e tambm os interesses menores das partes.

    Durante essa fase, o conciliador far um resumo do conflito utilizando uma linguagem

    positiva e neutra. H significativo valor nesse resumo, pois ser por meio dele que as partes

    sabero que o conciliador est ouvindo as suas questes e as compreendendo. Alm disso, o

    resumo feito pelo conciliador impe ordem discusso e serve como uma forma de

    recapitular tudo que foi exposto at o momento.

    Sobre o resumo, assevera Llia Samard Giacomet (2009, p.14):

    Permite saber se o conciliador entendeu exatamente o que as partes buscam; auxilia

    as partes a organizar seus pensamentos; auxilia a organizar a discusso; auxilia na

    formulao de perguntas adequadas para a soluo do conflito; permite lembrar s

    partes o que realmente interessa no conflito.

    Essa tcnica muito importante porque a grande maioria dos processos possui uma

    causa psicolgica e no apenas econmica (ou judicial). Quando o juiz descobre a

    real razo da pretenso, fica mais fcil tanto a apurao da verdade quanto o romper

    das resistncias para se chegar a um acordo que contente s partes.

    Outra tcnica bastante utilizada para facilitar o acordo a normalizao, pela qual o

    conciliador deve mostrar s partes que estar em conflito natural nas relaes humanas, no

  • 35

    sendo motivo para que as partes se envergonhem (BACELLAR; AZEVEDO; 2009, p.54).

    Ultrapassada essa fase de exposio de motivos, tendo sido alcanada a adequada

    compreenso do conflito durante as fases anteriores, inicia-se a fase do acordo, onde o

    conciliador conduzir as partes a analisarem possveis solues. Assim, como leciona Daniel

    Fabretti (2008, p. 75):

    So feitas sugestes para a relao de acordos, que, frise-se, no passam mesmo de

    meras sugestes, pois, como j ressaltado, as partes possuem ampla liberdade para

    definir os termos do acordo e, alm disso, a prtica mostra que cada pessoa possui

    sua particularidade, no havendo soluo uniforme e genericamente aplicada.

    Aps, as partes, juntamente com o conciliador, devero testar a soluo alcanada e, se

    ela for satisfatria para ambas as partes, faro um acordo escrito, mas isso apenas se as partes

    acharem necessrio. Entretanto, se houver impasse, poder ser feita uma reviso das questes

    e interesses das partes e tambm sero discutidos os passos subsequentes a serem seguidos.

    Destarte, as tcnicas de atuao do conciliador so todas voltadas para que se obtenha

    uma boa percepo do conflito, buscando resgatar o dilogo entre as partes. Alm disso,

    importante que o conciliador saiba dirigir a audincia de modo a focar no problema e nas

    questes subjetivas dele, tornando vivel a produo de um acordo satisfatrio para ambas as

    partes.

    2.7 Consequncias Jurdicas da Conciliao Positiva

    A conciliao, como j mencionado, s possvel se ambas as partes cederem, isto ,

    se fizerem concesses recprocas, ou seja, a parte autora, quanto ao pedido inicial, e a parte

    requerida, quanto resistncia, afinal, muitas vezes as propostas apresentadas para a tentativa

    do acordo, no so interessantes ou vantajosas para ambas as partes, no entanto

    aconselhvel que elas faam algumas concesses ao longo do feito e aguardem o desfecho

    final do procedimento.

    Havendo conciliao entre os litigantes, se faz necessria a homologao judicial do

    que foi acordado, ocorrendo, assim, a resoluo do mrito. Resolve-se o mrito, porque as

    questes controvertidas entre as partes foram solucionadas, estabelecendo-se entre os

    envolvidos a forma de cumprimento do que foi ajustado. Ao proceder homologao do

  • 36

    acordo, o juiz dever faz-lo em obedincia ao ordenamento jurdico, deixando de faz-lo

    caso no esteja em consonncia com o mesmo, como se vislumbra com o ensinamento de

    Petrnio Calmon (2007, p.75):

    [...] a atividade do juiz jurisdicional e no meramente cartorria, competindo-lhe

    analisar profundamente todos os requisitos do ato jurdico, previstos no Cdigo Civil

    de 2002 e no art. 104, (agente capaz, objeto lcito, possvel, determinado ou

    determinvel e forma prescrita ou no defesa em lei) e observar se a vontade

    manifestada estava livre de qualquer vcio, como o erro, dolo, fraude, coao e

    simulao. O novo Cdigo Civil dispe claramente que nas declaraes de vontade se atender mais inteno nelas consubstanciada do que ao sentido literal da

    linguagem.

    Cabe ao juiz, responsvel pela homologao, averiguar se todos os requisitos do ato

    jurdico esto presentes, bem como se inexiste qualquer vcio de consentimento e se o acordo

    no lesa direitos de terceiros, afinal a homologao no mero acolhimento de acordo realiza

    entre as partes e seus procuradores. necessrio que haja adequao da deciso construda

    pelos sujeitos do conflito com o ordenamento, para que eles, que so os destinatrios, possam

    cumprir voluntariamente o que livremente acordaram.

    O que foi livremente pactuado pelas partes e homologado pelo juiz faz coisa julgada

    material, tornando, com isso, imutveis os efeitos que a sentena produz ao encerrar o litgio.

    Entretanto, caso o acordo homologado no seja cumprido, dever ser executado, sendo que se

    houver obrigao pecuniria o mesmo ser executado pelo rito previsto no artigo 475-J, caput,

    do Cdigo de Processo Civil.

  • 37

    CONCLUSO

    Como pode-se observar, atravs de estudos feitos, houve um grande aumento no

    nmero de demandas judiciais, e para que sejam atendidas tais demandas, tm sido

    estimuladas solues alternativas de resoluo de conflitos, dentre as quais se destaca a

    conciliao, pois extremamente til para a funcionalidade do sistema judicirio, pois

    contribui para reduzir o nmero de processos, bem como o tempo de sua tramitao,

    preservando com isso, a qualidade da atuao dos rgos judicirios.

    No Brasil, os primeiros passos para a mudana na democratizao do processo, bem

    como para o alcance de um direito e uma justia mais acessvel foram marcadas pela criao

    dos Juizados Especiais e a crescente utilizao da Conciliao, da Mediao e da Negociao,

    muitas vezes confundidas por seus aspectos comuns. Entretanto, cada um desses mtodos

    possui particularidades, cito como um aspecto diferenciador a questo de que, a negociao

    independe da participao de terceiros na construo do acordo, diferentemente do que ocorre

    na mediao e na conciliao, onde dependem obrigatoriamente da interveno de uma

    terceira pessoa para a resoluo do conflito existente.

    Ocorre que muitas vezes dado ao juiz o dever de buscar a conciliao entre as partes

    sem lhe serem disponibilizados instrumentos para isso, tendo um completo despreparo para a

    funo que lhe foi imposta. Podemos referir que uma das causas principais de tal despreparo

    seja a ausncia de abordagem acadmica sobre as alternativas de heterocomposio, criando

    com isso, uma deficincia no quadro de profissionais. Ademais, existe tambm a necessidade

    de serem destinados recursos financeiros para reconstituir o Poder Judicirio, e para que seja

    instalada a justia da conciliao em todas as comarcas, tendo em vista que fundamental que

    haja espaos fsicos e equipamentos, alm de servidores, conciliadores e magistrados

    preparados para este fim, fazendo com que o mecanismo da conciliao deixe de ser uma

    alternativa, para se tornar um meio freqente no judicirio brasileiro.

  • 38

    A conciliao um instituto antigo no Direito Processual Civil, representando uma

    forma de autocomposio, pela qual as partes criam a soluo para o problema, fazendo

    concesses mtuas para alcanar um acordo que satisfaa ambas as partes litigantes, tendo em

    vista que a forma de praticar a Justia pelos mtodos existentes em nossa legislao, com

    muita formalidade e muitos recursos, muitas vezes no representam uma forma eficiente e

    satisfatria em todos os casos.

    Depreende-se, do presente trabalho, que a conciliao o processo que menos ameaa

    o status quo, tendo em vista que as partes no possuem a obrigao de chegarem a um acordo,

    a uma transao ou composio, pois a elas so oferecidas apenas a oportunidade de

    discutirem e explorarem possibilidades de solues que sejam acessveis a ambas.

    O conciliador deve utilizar as diversas tcnicas disponveis a ele. Deve-se ainda,

    estimular o dilogo entre as partes sendo que para que isso ocorra, indispensvel que tenha

    conscincia de que cada pessoa se comunica e demonstra suas emoes e angstias de forma

    diferenciada, e caso perceba alteraes nas palavras e gestos das partes, deve intervir,

    separando as pessoas dos problemas e enfatizando os aspectos favorveis afirmados por cada

    uma delas, para que assim o dilogo pacfico seja restaurado.

    imprescindvel registrar que concluiu-se que a tentativa de conciliao pode ser

    tentada em qualquer momento do processo, e deve ela ser primada para a resoluo de

    conflitos de interesses, porque, realmente, apresenta-se como o meio mais adequado, barato e

    rpido, e por consequncia o mais eficaz na pacificao das partes. Assim, conclui-se que

    necessrio que todos aqueles que lidam com o instituto em questo devem conscientizar-se de

    sua importncia, contribuindo, dessa forma, para o aprimoramento deste valioso instrumento.

    Com relao aos aspectos processuais, observou-se que em caso da conciliao restar

    positiva, esta ser homologada com fora de sentena transitada em julgado, fazendo coisa

    material, atingindo com isso, tanto as matrias descritas na inicial quanto aquelas explicadas

    pelas partes, trazidas tona na discusso.

    Pelo exposto, se pode afirmar que a conciliao ainda tem um longo caminho a ser

    superado, tendo em vista que a mentalidade que prevalece em nossa sociedade a cultura da

    sentena contenciosa, na qual se busca que o entendimento do magistrado supere a vontade

  • 39

    das partes, e que os advogados atuem de forma exaustiva na defesa de interesses de seus

    clientes. Esta viso parece um tanto distorcida, afinal o que se busca uma soluo

    satisfatria para a lide e no uma boa disputa entre os operadores do direito.

  • 40

    REFERNCIAS

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