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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL CAREN DE LIMA TEIXEIRA A MÍDIA E O PODER PÚBLICO: construção da opinião popular sobre a redução da maioridade penal Rio de Janeiro 2015

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TCC - A MÍDIA E O PODER PÚBLICO_ Construção Da Opinião Popular Sobre a Redução Da Maioridade Penal

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Page 1: TCC - A MÍDIA E O PODER PÚBLICO_ Construção Da Opinião Popular Sobre a Redução Da Maioridade Penal - Caren de Lima Teixeira - Versão Final

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

CAREN DE LIMA TEIXEIRA

A MÍDIA E O PODER PÚBLICO: construção da opinião popular sobre a redução da maioridade penal

Rio de Janeiro 2015

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CAREN DE LIMA TEIXEIRA

A MÍDIA E O PODER PÚBLICO: construção da opinião popular sobre a redução da maioridade penal

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requesitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora Profª Drª Lobelia da Silva Faceira

Rio de Janeiro 2015

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A MÍDIA E O PODER PÚBLICO: construção da opinião popular sobre a redução da maioridade penal

CAREN DE LIMA TEIXEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requesitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.

Banca Examinadora: ________________________________________________

Profª Drª Lobelia da Silva Faceira – Orientadora (ESS/UNIRIO) _______________________________________________

Profª Drª. Vanessa Bezerra de Souza (ESS/UNIRIO) _______________________________________________

Prof. Dr. Francisco Ramos de Farias (PPGMS/UNIRIO)

Rio de Janeiro 2015

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Dedico este trabalho à minha família e amigos e aos que realmente acreditam que a Educação vale a pena.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente à minha orientadora Lobelia Faceira, por aceitar este projeto,

por acreditar, pela atenção, paciência e gentileza;

Agradeço à minha irmã, Camila e a meu cunhado Aldebaran, por estarem sempre do

meu lado, pela paciência e disponibilidade em me ajudar;

Agradeço aos meus pais, Denize e Elbio pelo apoio e dedicação;

Agradeço aos colegas de faculdade pela amizade e solidariedade, e em especial à amiga

Elisangela, pelo cuidado, companheirismo e paciência;

Agradeço à equipe docente e aos técnicos administrativos da Escola de Serviço Social

pelo apoio e atenção.

Muito obrigada!

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Diniz é libertado após 36h de negociação........................................................30

Figura 2: Saulo: vagabundos se passam por terroristas...................................................30

Figura 3: Cercados os sequestrados de Diniz..................................................................31

Figura 4: Luís Sales: Coincidências são muitas..............................................................32

Figura 5: Tuma: Seqüestro de Abílio não foi político.....................................................32

Figura 6: Seqüestro: família Medina apela à polícia para suspender investigação.........33

Figura 7: Liberto Roberto Medina; Polícia inicia a caçada aos seqüestradores..............34

Figura 8: A sociedade no limite.......................................................................................43

Figura 9: Cadeia mais cedo para menores.......................................................................45

Figura 10: Novinha do açaí tinha cracolândia na perereca..............................................46

Figura 11: Civil pega menor da faca...............................................................................46

Figura 12: Maioridade: Governo já estuda alternativas..................................................47

Figura 13: Menores apreendidos irão para a cana dura..................................................48

Figura 14: Câmara rejeita a redução da maioridade penal.............................................49

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SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................... 8

2. Concepções de Estado e a perspectiva gramsciana a respeito da hegemonia e

organização da cultura e do Estado .................................................................

15

2.1. Concepções de Estado .............................................................................. 15

2.2. A perspectiva gramsciana a respeito da hegemonia e organização da

cultura e do Estado ..........................................................................................

22

3. A relação entre Estado e Capital, tendo a mídia como instrumento de

legitimação da ordem burguesa ........................................................................

27

4. O papel da mídia no processo de construção da imagem do crime e da prisão

no cenário contemporâneo ...............................................................................

39

5. Considerações finais ......................................................................................... 54

Referências ......................................................................................................... 57

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1. INTRODUÇÃO

A pesquisa “A Mídia e o Poder Público: construção da opinião popular sobre a

redução da maioridade penal” trata-se de um trabalho de conclusão de curso da

graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

(UNIRIO). O objeto de estudo deste trabalho é a análise do papel da mídia

contemporânea no processo de construção da imagem e opinião popular sobre o crime e

as prisões, perpassando também o campo da cultura, da educação e da política, tendo

como eixo principal a relação entre mídia e Estado e sua contribuição para a legitimação

da ordem burguesa.

O interesse em trabalhar este tema partiu da necessidade de elaborar um projeto

de intervenção para a disciplina Gestão e Planejamento em Serviço Social que foi

cursada no quinto período da graduação em Serviço Social na UNIRIO. A partir de uma

conversa com a professora da disciplina1, sobre os possíveis temas a serem estudados

num trabalho, a mesma sugeriu que cada aluno observasse as atividades

extracurriculares desenvolvidas na faculdade e tentasse, a partir delas, pensar um plano

de intervenção, seja com base no estágio, projeto de extensão, pesquisa ou monitoria.

Foi então que surgiu o interesse em trabalhar o tema da Mídia mais especificamente,

pois era o tema do projeto de pesquisa sobre cultura, mídia e direitos humanos2, no qual

estava inserida como bolsista.

A participação em projetos de extensão, pesquisa e estágio foi determinante na

escolha do tema para este projeto. As três dimensões foram vivenciadas num mesmo

projeto vinculado às temáticas de cultura, mídia e direitos humanos. Por meio destes

projetos nos interessamos pelo tema e começamos a pensar possibilidades de construção

de uma concepção de mundo diversa da reproduzida hegemonicamente, sem opressão

de classe, de gênero e de etnia3. Desta forma, nos interessamos por investigar a relação

mídia, Estado e empresariado, e seus rebatimentos na legitimação da ordem vigente.

1 Disciplina Gestão e Planejamento em Serviço Social, ministrada pela Professora Doutora Lobelia

Faceira. 2 Projeto de pesquisa Cultura, mídia e direitos humanos: potencialização da consciência crítica e

desenvolvimento de processos emancipatórios, coordenado pela Professora Doutora Janaina Bilate na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. 3 Princípios do Código de ética do Assistente Social de 1993. [ver referências]

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A participação no grupo de estudos “Privação e Restrição de Liberdade” 4 e no

projeto de extensão “Universidade e Prisão: um diálogo crítico e dialético”5

proporcionou o estudo do papel da mídia no processo de construção da imagem e

opinião pública sobre o crime e as prisões. A partir das apreensões teóricas nos projetos

sobre os temas de cultura e da mídia e dos projetos sobre o tema da prisão é que se

inicia a pesquisa “A Mídia e o Poder Público: construção da opinião popular sobre a

redução da maioridade penal”, sobre a contribuição da mídia contemporânea na

construção da opinião pública no que se refere à prisão e aos crimes na atualidade.

Ao longo de nossa participação nestes projetos, entendemos que a mídia é um

importante aparelho privado de legitimação de hegemonia6 e possui incidência direta na

construção da opinião pública, além de interferir em comportamentos culturais7 na

sociedade, reproduzindo não só o senso comum, mas também possibilitando a

ampliação de horizontes no que tange à compreensão da vida em sociedade e suas

potencialidades como ser social.

Em uma sociedade em que a educação produz ‘reprodutores’ de uma ideologia hegemônica que reduz tudo a mercadoria, que pode ter variados preços, a violência não pode ser pensada apenas como motivo de ‘descaso’ da escola. Ela precisa ser vista com uma consequência de todo um projeto de nivelamento dos desiguais, da falsa ideologia de que ‘todos têm oportunidades iguais de acesso’ e que a escola está aí para todos se ‘tornarem alguém na vida’, sendo que essa ultima frase significa ‘ter algo’ que a sociedade do consumo disponibiliza para a venda. (ALVES, 2012, p.30).

Na pesquisa e no projeto de extensão “Cultura, Mídia e Direitos Humanos”, no

qual a atuação aconteceu tanto como bolsista de iniciação cientifica, e também como

estagiária de assessoria em serviço social, chegamos, no decorrer do processo de ensino

e pesquisa a compreender que a organização da cultura8 e da mídia pode,

4 Grupo de estudos sobre a temática da prisão, desenvolvido pela Professora Doutora Lobelia Faceira na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. 5 Projeto de extensão desenvolvido pela Professora Doutora Lobelia Faceira, na Penitenciária Industrial Esmeraldino Bandeira e na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. 6 GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995 & Hegemonia. Vocabulário Gramsciano. In: Gramsci e o Brasil. http://www.acessa.com/gramsci/texto_visualizar.php?mostrar_vocabulario=mostra&id=644 7 Ver: RUIZ, Jefferson Lee de Souza. Comunicação como direito humano. In: SALES, Mione Apolinario & RUIZ, Jefferson Lee de Souza (orgs.). Mídia, questão social e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011. 8 ALVEZ, 2012. [ver referências].

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contraditoriamente, contribuir para potencialização da consciência crítica e alavancar

ações políticas coletivas; que ela exerce um forte poder na construção de valores

hegemônicos, dando uma direção no entendimento do que seria liberdade, democracia,

equidade, as noções de feio/belo, bom/mau, justo/injusto, fidelidade/infidelidade, bem

como na reprodução do senso comum9. No entanto, esta esfera pode, face ao projeto

societário que busca defender, contribuir com a luta contra a dominação capitalista,

além de incentivar a construção de uma nova hegemonia. Conforme Bravo (2006)

destaca: “[...] fortalecimento da organização política dos usuários, que acredita-se, se

dará pela sua participação nos movimentos sociais se fortalecem na luta pela

democracia e dos direitos humanos” (BRAVO, 2006, p.152).

Atualmente esta pesquisa está vinculada, como subprojeto, à pesquisa “Memória

Social e Prisão: reflexões sobre as políticas públicas no âmbito da execução penal” que

tem a proposta de reflexão sobre a prisão sendo uma esfera de produção e reprodução da

estrutura social legitimada na sociedade contemporânea. Portanto, este subprojeto busca

analisar e compreender como a mídia contemporânea configura a imagem social do

crime e da prisão10 no Brasil, tentando contribuir para a análise das estratégias de poder

da hegemonia dominante e da construção do consenso pelo Estado e pela mídia como

estratégia de manutenção da ordem vigente, do poder econômico e ideológico. Em

contrapartida, vale ressaltar que esta mesma mídia pode se configurar importante

instrumento de potencialização da consciência crítica das classes subalternas e de

fortalecimento da luta pela democratização da informação como direito humano e como

espaço democrático. E este movimento pode ser identificado na forma de utilização da

mídia nos movimentos sociais, conselhos e entidades voltadas para a luta pela

democratização do acesso aos direitos, onde ela é usada como instrumento de

legitimação da luta social e defesa dos direitos humanos.

O estudo das relações de poder entre mídia e Estado pode contribuir com

reflexões críticas que superem a imediaticidade dos fatos. Com isto, pode-se traçar

estratégias de superação de expressões da alienação, potencializando a consciência

crítica. No entanto, temos que ter claro os limites que o Estado capitalista produz e

9 Bilate, 2012. [ver referências]

10 XAVIER, 2008. [ver referências]

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reproduz. Isto aponta que a realidade pressupõe movimento, contradição, não estando

concluída por não termos possibilidades de mudança no modelo de produção capitalista.

Xavier (2008) nos traz alguns apontamentos no que se refere à participação da

mídia na construção do conceito de crime na sociedade contemporânea, com o estudo

sobre criminologia e concepções de criminalidade, que segundo o autor são

incorporadas na sociedade capitalista com o advento da comunicação em massa para

gerar especulações e sensacionalismos e também para a manutenção da ordem e status

quo.

A manutenção do estado de medo faz-se necessária para legitimar a utilização do paradigma etiológico, sendo fundamental manter o sentimento do perigo (sentimento subjetivo de insegurança), gerando indignação e consensos silenciosos entre os setores sociais. A mídia, como instituição informal, contribui para edificar esse processo por meio de programas, matérias e artigos sensacionalistas, em que centraliza, sem base científica, dados alarmantes da violência urbana e do campo, transformando-a em espetáculo. (XAVIER, 2008, p.277).

Historicamente, vamos percebendo o quão importante é estar ciente criticamente

do que acontece na sociedade, tendo clareza da reprodução da hegemonia11 burguesa, de

modo que analisamos esta concepção a partir da perspectiva gramsciana, na qual o

conceito de hegemonia está na contramão do conceito de dominação. Hegemonia seria a

direção sem o uso da força diretamente:

O conceito gramsciano de hegemonia se contrapõe, nos Cadernos do cárcere, à ideia de “dominação”. Somente numa fase tosca e primitiva é que se pode pensar numa nova formação econômica e social como dominação de uma parte da sociedade sobre outra. Na realidade, o que uma hegemonia estabelece é um complexo sistema de relações e de mediações, ou seja, uma completa capacidade de direção. Gramsci fornece uma série de exemplos históricos, em particular o da hegemonia dos moderados na França do século XIX ou na Itália. Não haveria organização do poder moderado somente com o uso da força. É um conjunto de atividades culturais e ideológicas — de que são protagonistas os intelectuais — que organiza o consenso e permite o desenvolvimento da direção moderada. (...). (TORTELLA, 2014, p. 1).

A mídia hegemônica contemporânea cada vez mais utiliza seus aparelhos

privados de hegemonia disseminando a informação de modo a manipular a opinião

11 Ver TORTELLA (2014).

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pública e legitimar a lógica do capital de acordo com os interesses do Estado e do

empresariado. Neste sentido, Dias (2013, p.1) complementa que “a imprensa foi arauto

da trama golpista contra o presidente João Goulart. Sempre conservadores, os “barões

da mídia” brasileira agem na fronteira do reacionarismo”12, e de certa forma ratifica o

nosso pensamento a respeito dos acordos e ações da mídia no que se refere a

manipulação da informação.

Diante da afirmação do colunista Dias (2013)13 e de estudos sobre a trajetória da

mídia no Brasil e sua relação com a política, adquirimos uma noção sobre os padrões

adotados pela mídia, como noção de belo, sucesso, liberdade, entre outros, para sua

legitimação na indústria da comunicação no Brasil. Isto ainda em épocas em que poder

expressar sua opinião abertamente era privilégio de poucos. No período da ditadura

militar brasileira, o que imperou na mídia foi o silêncio em relação a fatos concretos

ocorridos a quem, de algum modo, se manifestasse contra aos rumos que o governo

tomava. Este foi o período exato para alavancar projetos de consolidação de empresas

do ramo da comunicação, legitimando não só o mercado deste setor, mas também o

governo que se consolidava no poder14.

O Estado pode ser visto como responsável por organizar as relações entre o

capitalista, a sociedade civil e ele mesmo. Ele normatiza, e contribui nas mediações

dessas relações visando estabelecer um padrão de manutenção da ordem vigente através

do consenso e/ou da coerção. À luz dos “anos de chumbo”, o Estado se legitima

principalmente pela coerção.

Diante das posições acima mencionadas, podemos entender que, por um lado, a

classe dominante usa o Estado como um instrumento de dominação da classe

trabalhadora e que o Estado partilhando dos mesmos interesses, acaba por estabelecer

laços interpessoais e políticos com o empresariado. O conceito de Estado provedor do

bem comum15 não se sustenta à medida que este, cada vez mais, age politicamente em

favor da manutenção do capital e não na direção da universalidade de acesso a direitos

sociais, políticos e econômicos dos sujeitos sociais.

12

Revista eletrônica: Carta Capital. Acessado em 14/10/2014 e disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-midia-na-ditadura 13 Revista eletrônica: Carta Capital. [ver referências] 14

Ver NETTO (1991) e o documentário de Simon Hartog, 1993. 15

Ver: LUCENA (1976) e MARX & ENGELS (1848) Edição 2008.

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Então o interesse em desenvolver esta pesquisa partiu não só da participação nos

projetos de extensão, pesquisa e estágio relacionados à discussão dos direitos humanos,

políticas sociais, da cultura, e do poder da mídia na reprodução de valores hegemônicos,

dos projetos sobre o crime e a prisão, conforme citado anteriormente. Mas também em

função de considerar que este debate tem total relevância dentro da profissão de Serviço

Social, uma profissão que cada vez mais mantém o compromisso ético político com a

classe trabalhadora, tendo como princípios, dentre outros, a liberdade como valor ético-

central e defesa da construção de uma nova ordem societária, sem dominação/

exploração de classe, etnia e gênero16.

A natureza dessa pesquisa classifica-se como qualitativa, de natureza

bibliográfica, pois pretende investigar as estratégias acima citadas, além dos

investimentos do Estado na mídia hegemônica para controle da opinião.

A fundamentação teórica foi construída através de uma investigação sistemática

em livros, teses, dissertações, artigos científicos, sobre a temática mídia e prisão, além

das obras de grandes pensadores, como Karl Marx (2008) e Antonio Gramsci (2001),

para analisar a sociedade capitalista.

Foram analisadas reportagens publicadas em sites da internet no primeiro

semestre do ano 2015, dos Jornais O Globo e Meia Hora sobre o tema crimes e prisão.

A escolha dos jornais se deu pelo nível de abrangência de ambos e alcance das massas,

características que ao nosso entendimento propiciam o maior controle de opinião.

Embora ambos os jornais possuam um nível alto de abrangência, o jornal O Globo por

ter uma linguagem mais formal atinge as classes média e alta e o jornal Meia Hora a

partir do seu preço e uso de linguagem coloquial e mais popular atinge a faixa da classe

média e baixa da população. Assim, buscamos analisar nestes dois jornais notícias

acerca da redução da Maioridade Penal e de crimes cometidos por jovens, pois foi um

tema bastante discutido no primeiro semestre de 2015 por conta das votações que

ocorreram para a efetivação desta redução no que tange a punição para jovens em

condição de infração da lei. Adotamos a pesquisa destes jornais por identificarmos neles

um grande potencial de construção da opinião pública acerca do que é noticiado.

16

Ver: Código de Ética do Assistente Social, 1993, Princípios. [ver referências]

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Neste sentido, a monografia está estruturada em três capítulos, onde no primeiro

capítulo apresentamos o debate teórico sobre as diversas concepções de Estado com

base nas ideias de Thomas Hobbes (2005), John Locke (2005), Jean-Jacques Rousseau

(2005), Karl Marx (2008), Antonio Gramsci (2001), e estudos teóricos críticos de

Carlos Nelson Coutinho (1996), Ricardo Luiz Alves (2005), Martin Carnoy (2005) e

Janaina Bilate (2012).

No segundo capítulo apresentamos a relação entre Estado e Capital, tendo a

mídia como instrumento de legitimação da ordem burguesa. Este capítulo foi construído

a partir das obras de autores mais contemporâneos, como Mascarenhas (2010), Petrarca

(2007) Carvalho e Freire (2008), Chauí (2006), bem como análise de leis, como a Lei

Nº 8.072/90 – Crimes hediondos e a Lei Nº 7.210/87 – Lei de Execução Penal.

No terceiro capítulo discutimos o papel da mídia no processo de construção da

imagem do crime e da prisão no cenário contemporâneo, apresentando a análise de

reportagens publicadas no primeiro semestre de ano 2015, referentes ao debate sobre a

redução da Maioridade Penal no Brasil.

Esperamos, a partir deste trabalho, poder contribuir para o debate crítico acerca

das relações estabelecidas entre o Estado, Capital, e a Mídia na construção de uma

imagem hegemônica sobre o crime e a prisão.

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2. Concepções de Estado e a perspectiva gramsciana a respeito da

hegemonia e organização da cultura e do Estado

Buscaremos compreender, através do estudo de Hobbes, Locke, Rousseau, Marx

e Gramsci, como o Estado se constituiu e se legitimou no que entendemos por sociedade

capitalista17. Seguindo a análise das concepções de Estado buscaremos estudá-lo sob a

perspectiva Gramsciana de hegemonia para assim, tentando identificar os processos

pelo qual a figura do Estado e seus modos de organização se tornam hegemônicos na

sociedade, ou seja, de que forma eles são apreendidos e aceitos pela população.

Portanto, o capítulo será composto de duas subdivisões, sendo a primeira

subdivisão um estudo geral sobre as diferentes concepções de Estado encontradas nas

bibliografias mais tradicionais no campo do estudo da organização política, econômica e

social. No estudo das produções teóricas de autores supracitados, e de autores que

também tiveram sua base teórica construída no estudo destes autores tradicionais,

pretendemos expor e correlacionar estas diferentes teorias18. A segunda subdivisão deste

capítulo contará com uma análise do processo de consolidação e legitimação do Estado

através do conceito de hegemonia encontrado na produção teórica de Antonio Gramsci.

2.1. Concepções de Estado

Pensar o Estado não é uma tarefa fácil, principalmente discutir e analisar

diferentes formas de interpretação deste. Por isso será priorizado o conceito de Estado

Moderno, ou melhor, Estado Capitalista. Este capítulo limitar-se-á a apresentação e

discussão sobre as diferentes concepções de Estado bem como seus processos de

constituição e consolidação no poder e tendo como base para a pesquisa, a concepção

17 Utilizamos o termo apenas para o recorte da organização econômica estudada, neste caso, será restrito ao modo de produção e acumulação capitalista. 18

Este estudo compreende a utilização de dois blocos de autores, os quais identificamos como jusnaturalistas: Hobbes, Locke e Rousseau, pois constroem suas respectivas teorias com base na razão humana sobre o que é justo, e marxistas como Gramsci, estes fundamentam seus estudos nas teorias elaboradas por Karl Marx realizando a análise econômica da sociedade considerando que as transformações sociais ocorrem por meio de conflitos e relações estabelecidas na própria sociedade.

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gramsciana de organização da sociedade. Assim buscaremos, em alguma medida, a

partir de diferentes concepções, pensar a sua organização, identificar e analisar seu

papel e seus objetivos para com a sociedade, além de seus meios de legitimação na

sociedade capitalista através da força ou do consenso.

O Estado parece deter a chave para o desenvolvimento econômico, para a segurança social, para a liberdade individual e, através da “sofisticação” crescente das armas, para a própria vida e a morte. Compreender o que seja politica no sistema econômico mundial de hoje é, pois, compreender o Estado nacional e compreender o Estado nacional no contexto desse sistema é compreender a dinâmica fundamental de uma sociedade. (CARNOY, 2005, p. 9).

Neste trecho, Carnoy (2005) ratifica a importância do que pretendemos realizar

neste capitulo inicialmente. Analisar, estudar, entender como se constitui e organiza o

Estado, tanto na sua trajetória histórica como em tempos mais atuais nos ajuda a,

inclusive enquanto cidadãos pertencentes a esta sociedade, compreender a nossa

organização econômica e social, a identificar problemas e melhorias possíveis a serem

realizadas.

Conforme afirma Lucena: “Estado é o poder político enquanto juridicamente

regrado”. (1976, p. 917). Assim podemos também entender o Estado como

representante da sociedade, porém, a partir de uma análise crítica acerca da atual

conjuntura política, ele não representa a sociedade como um todo, e sim até aonde

contempla os interesses de uma minoria dominante, detentora dos meios de produção e

capital.

Ou seja, “garantindo a propriedade privada, o Estado assegura e reproduz a

divisão da sociedade em classes [...] e desse modo, garante a dominação dos

proprietários dos meios de produção sobre os não-proprietários”(COUTINHO, 1996, p.

19). Dessa forma, fica impossível crer que “o Estado possa representar efetivamente

uma vontade geral”. (COUTINHO, 1996, p. 18).

Por isso, há necessidade de se entender como a figura do Estado se estabeleceu

na sociedade. Ao longo desse estudo encontramos muitas teorias sobre a consolidação e

organização do Estado, dentre elas, teorias em que essa organização do Estado se

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efetiva através de um contrato social, ou seja, a partir da necessidade de se protegerem e

se organizarem enquanto um grupo social, indivíduos concordam em centralizar o

poder, a gestão das relações econômicas e sociais nas mãos de um só. E este será

soberano e detentor do controle sobre a comunidade que se organiza a sua volta. Será o

Estado eleito e organizado pela sociedade civil a fim de possibilitar e trabalhar para o

bem comum. É o que Hobbes tratará como contrato social. Diferente do soberano

apresentado por Hobbes, Locke, em sua teoria vai dizer que os governantes também

participam deste contrato inicial e não simplesmente assumem a organização da

sociedade. A comunidade confia ao governo escolhido à proteção dos seus direitos; e, se

este governo falta com a confiança depositada, o povo pode afastá-lo ou alterá-lo. Se

este age arbitrariamente, ou usurpa o papel de outro, tal governo é dissolvido. Ou seja,

neste acordo há participação mutua, há uma troca de obrigações, onde a população não

só abdica de certa liberdade presente no estado de natureza19, como reivindica que o

governo faça jus a confiança nele depositada.

[...] se Hobbes via o "Homem como o lobo do Homem" (devendo, portanto, ser politicamente submisso à um Estado Absoluto), Locke assumiu uma visão oposta,possuindo uma fé muito clara na capacidade humana de consenso e diálogo, com o Homem, na sua função social, mais que política, de cidadão, tendo o controle do Estado mediante os seus representantes regularmente constituídos. Neste sentido, Locke identificava o Estado da Natureza como uma condição de paz e assistência mútua pré-existente à instituição do Estado. (ALVES, 2005, p.12).

Locke explica que o Estado é uma entidade criada pelo próprio homem, mas que

precisa ser regulado, pois uma vez que assume um grande poder, se não controlado leva

à opressão e arbitrariedade. De modo que Locke entende a necessidade de não

centralizar o poder unicamente ao Estado utilizando-se dele apenas como mero

instrumento provisório de organização, sem muita interferência significativa, inclusive

na propriedade privada, que seja apenas para manter a ordem. Sendo assim, podendo ser

deposto e remodelado ou alterado se assim a sociedade entender.

19

Grifo este termo para a diferenciação de situação em que não há qualquer forma de governo para organizar e estabelecer certa ordem. Termo apreendido dos estudos de Thomas Hobbes.

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Segundo estudo a respeito da teoria de Hobbes, “a sociedade passa a existir com

a figura do Estado” (2001)20 como regulador das relações inerentes a vida social.

Hobbes introduz a abstração lógica do estado de natureza, uma condição hipotética em que não há poder comum para controlar os indivíduos, nem lei e nem coação da lei. O homem civilizado queria sair dessa condição, mas ao mesmo tempo ele também tinha – no estado de natureza – os direitos naturais que queria preservar, particularmente “a liberdade que cada homem possui para usar seu próprio poder como quiser, para a preservação de sua própria natureza; isto é, de sua própria vida, e, consequentemente, de fazer qualquer coisa conforme seu próprio juízo e razão e, além disso, de conceber os meios mais apropriados para tanto”. (HOBBES, 1968,189). Por essa razão há uma tensão entre preservar a liberdade vantajosa no estado de natureza e o medo da violência e da guerra, que logicamente esse estado produz. Isso leva à renuncia do poder do individuo em favor de um soberano. Os homens devem, em seu próprio interesse, reconhecer total obrigação para com o soberano. (CARNOY, 2005, p. 26).

Então pelo que percebemos, na teoria de Hobbes, o homem natural não

necessariamente significa considerá-lo como homem selvagem, mas como o próprio

homem em sociedade. No entanto, este estado de natureza que o cerca lhe permitiu o

direito a tudo o que quiser, este homem goza da liberdade de usufruir do próprio poder

sobre sua vida, e preservação de sua vida e do que for, no seu julgamento, adequado

para isso. Os homens neste estado não são diferentes entre si, ao contrário, são iguais o

suficiente para que um não consiga de um modo geral dominar o outro. Daí a ocorrência

de competições e conflitos entre eles gerando desorganização e uma permanente

desconfiança, o estado de natureza acaba por propiciar guerra entre os indivíduos, mas

não por riquezas concretamente, mas pela honra e pelo poder.

Desde muito cedo o homem vivencia normas de conduta e meios de

organização, Segundo Lucena, “[...] a família, primeira instância no processo de

socialização, constitui também a primeira instância normativa, a fonte do primeiro dever

ser que aos homens se depara” (LUCENA, 1976, p. 926), ou seja, é na própria família,

como primeira forma de convívio em um grupo social compreendendo deveres e

satisfação de necessidades individuais e do grupo em si que o homem encontra as

primeiras formas de normativas sociais a seguir. Não poderia ser diferente fora do

convívio em família. A vida em sociedade exige essa organização, uma espécie de 20

RIBEIRO, 2001, p. 62. [ver referências].

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regulamentação para que haja não só um padrão, mas um mínimo de controle, de

consenso e satisfação das necessidades entre os seres sociais.

Discordando desta concepção encontraremos Rousseau, que em seus estudos,

definirá que esta necessidade de autoproteção e organização das relações estabelecidas

em sociedade é o verdadeiro problema e o corruptor do homem. Para Rousseau, os

homens em seu estado de natureza vivem sem maldade (ou busca por acumulação de

riquezas) e que a partir do momento em que se instaura uma figura absoluta na gestão

desse grupo de seres sociais, estabelecendo posses de propriedade, normativas e

controle, esses homens perdem seu ideal de liberdade se tornando mais competitivos,

agressivos e ambiciosos pelo poder sobre a comunidade.

Para Rousseau, ao contrário, e em contraste com outras teorias do contrato social daquela época, a sociedade civil é uma descrição do modo como os homens são atualmente encontrados em sociedade não como uma construção ideal ou hipotética, mas como uma realidade. Por isso, ele postulou exatamente a dicotomia antagônica entre natureza e sociedade civil: Rousseau viu o homem na natureza como sem moralidade, mas ao mesmo tempo sem maldade; o homem é corrompido não pela natureza, mas pela posse da propriedade e pela formação da própria sociedade civil. É a sociedade civil que é corrupta e a natureza é um ideal pré-humano. (CARNOY, 2005, p. 31).

Na concepção de Estado baseada nas definições de Rousseau entendemos o

Estado como uma estratégia dos detentores de capital de garantir a hegemonia na

dominação da comunidade. Os mais ricos, para assegurar sua posição como classe

dominante, implementam a figura do Estado como um beneficio a todos, porém este

contribui para a preservação da ordem e da desigualdade, ou seja, regulando as relações

em prol dos interesses dos ricos e não para o interesses das massas, legitimando a

exploração. Carnoy complementa que,

Em uma sociedade desigual, o rico achou isso necessário para preservar a ordem, controlar as tentativas de usurpá-la e para legitimar a exploração do pobre. Foi, portanto, o rico que concebeu a sociedade civil, uma sociedade civil que protegia os seus interesses. (2005, p. 32).

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20

Contudo, e considerando que os indivíduos poderiam e criaram as leis que

regulam suas vidas e as relações de poder, e que o governo, segundo Rousseau, se

submeteria à soberania do povo. Ou seja, o soberano, constituído no contrato social,

seria o povo, do qual a vontade geral era expressa na lei.

Assim a passagem do estado da natureza para a sociedade civil, a partir do

contrato social, consolida e preserva o direito à propriedade, de modo que este contrato

é um pacto de consentimento dos indivíduos para proteção da propriedade. Diante

disto, verificamos que a problemática da desigualdade acontece porque essa figura

absoluta [Estado] trabalha um prol de apenas uma das partes da sociedade, que no

âmbito do capital é o empresariado garantindo a exploração, propriedade privada e

acumulação de capital. “Locke viu a posse da propriedade como a base de uma

sociedade civil justa e equitativa; Rousseau considerou que isso foi a origem do mal e

da desigualdade [...]”. (Carnoy, 2005, p. 31). E de fato, com a aliança entre Capital e

Estado fica evidente que a perda recai para a classe trabalhadora (parte que não detém

capital e os meios de produção). A união dessas duas esferas em detrimento da última

precisa ser mantida para a garantia do status quo.

Marx confirma essa ideia ao definir o Estado, a partir de uma concepção

materialista histórica, como instrumento fundamental para a legitimação de uma classe

dominante sobre outra. Para ele e Engels, o Estado é fruto das relações de produção e é

construído pela sociedade civil que é moldada pelo modo dominante de produção e das

relações inerentes ao mesmo.

Nesse sentido, o Estado é a figura que representará o interesse universal, mas

apenas de uma classe. Para estes autores, o Estado atua como um comitê da burguesia

administrando os negócios desta classe burguesa utilizando a coerção ou opressão para

exercer suas funções e o domínio de classe burguês. Deste modo, no sistema capitalista,

a burguesia se sobrepõe a classe trabalhadora, neste aspecto:

Marx veio a rejeitar essa visão do Estado como o curador da sociedade como um todo. Uma vez que ele chegou a sua formulação da sociedade capitalista como uma sociedade de classes, dominada pela burguesia, seguiu-se necessariamente sua visão de que o Estado é a expressão política dessa dominação. Na verdade, o Estado é um instrumento essencial de dominação de classes na sociedade capitalista. (CARNOY, 2005, p. 67).

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21

Partindo para a concepção gramsciana de organização da sociedade, já

encontramos uma divisão que foi utilizada por Gramsci para definir melhor o papel do

Estado para com essa organização. Gramsci realiza seus estudos sob a perspectiva da

existência de dois polos que compõem a sociedade capitalista: a sociedade política e a

sociedade civil compreendendo aparentemente uma divisão entre o que seria a figura do

Estado e o que seria a classe trabalhadora (ou subalterna) e os capitalistas (empresários

de um modo geral). No entanto, o Estado, segundo Gramsci, pode incorporar esses dois

polos:

Estamos sempre no terreno da identificação de Estado e Governo, identificação que é, precisamente, uma reapresentação da forma corporativo-econômica, isto é, da confusão entre sociedade civil e sociedade política, uma vez que se deve notar que, na noção geral de Estado, entram elementos que devem ser remetidos à noção de sociedade civil (no sentido, seria possível dizer, de que Estado = sociedade política + sociedade civil, isto é, hegemonia couraçada de coerção). (GRAMSCI, 2011, p. 269).

Assim podemos entender que segundo a visão de Gramsci, o Estado é produto da

sociedade civil com a sociedade política, caracterizando este um sistema com

ramificações que permitem o controle de um dos fatores que consideraremos conforme

termo gramsciano: classe subalterna. Para Carnoy,

[...] sociedade civil significava uma organização dos indivíduos, além da família, produção, etc., em uma entidade coletiva, abrindo mão da liberdade a fim de proteger sua liberdade. Assim, a sociedade civil era o estado de natureza organizado e governado pela vontade coletiva, pelo Estado. (2005, p. 91).

De acordo com as considerações de Carnoy (2005) sobre o conceito de Estado

em Gramsci, verificamos que esta concepção segue a mesma linha do pensamento de

Marx e ainda acrescenta que o Estado, em parceria com o capital mantém a dominação

da classe trabalhadora buscando o consentimento desta, se utilizando de aparelhos

privados de construção da hegemonia. Para Carnoy essa “hegemonia significa o

predomínio ideológico das classes dominantes sobre a classe subalterna na sociedade

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civil”. (2005, p.93). Essa construção se dará tanto de forma consensual como coercitiva.

Como em Gramsci, “a supremacia de um grupo social se manifesta de dois modos,

como ‘domínio’ e como ‘direção intelectual e moral’”. (2011, p. 290). O fato é que,

independente dos meios utilizados, o Estado trabalhará para garantir o máximo de

aceitação da sociedade civil para com a organização social econômica imposta pela

lógica capitalista.

O Estado em sua dimensão coercitiva trabalha para a manutenção do Capital

garantindo cada vez mais as relações de exploração entre empresário e classe

trabalhadora. E para isso ele pode usar aparelhos de repressão pela força21 (polícia,

forças armadas, etc.) ou de construção do consenso22 com a manipulação da cultura,

educação, informação, etc. Assim, começamos a discussão sobre o conceito de

hegemonia bem como o processo e mecanismos utilizados pelo Estado, aliado ao

capital, para a construção e aceitação desta na sociedade capitalista.

2.2. A perspectiva gramsciana a respeito da hegemonia e organização

da cultura e do Estado

Partimos agora para o conceito de hegemonia encontrado em Gramsci

(COUTINHO, 2000) e utilizado para reflexão do projeto de extensão e pesquisa

mencionado no início deste trabalho23. Segundo estudos sobre Gramsci (COUTINHO,

2000) no decorrer do curso de Serviço Social e dos trabalhos realizados na pesquisa

sobre cultura como aparelho potencializador da consciência crítica, é possível

identificar no decorrer da história do capitalismo processos de legitimação de

hegemonias políticas no cenário da sociedade capitalista. Não se entende a política

como um simples reflexo da economia, mas como esfera mediadora entre a produção

material e a reprodução da vida humana. Conforme Carnoy traz em seus apontamentos

21

Para uma elucidação mais profunda acerca da dimensão coercitiva, encontramos o conceito de sociedade política e civil, estudados no capitulo um da tese de doutorado de Bilate (2009). 22 “[...] a sociedade civil compreende os aparelhos privados de hegemonia, que são os organismos políticos aos quais se adere voluntariamente [...] escola, igreja, partidos políticos, organização sindicais, movimentos sociais, organização material da cultura [...]”. (BILATE, 2009, p. 42). 23

Projeto “Cultura Mídia e Direitos Humanos” (2012) [ver referências].

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acerca do conceito de hegemonia, este, para o autor, tem dois significados, sendo o

primeiro:

[...] um processo na sociedade civil pelo qual uma parte da classe dominante exerce o controle, através de sua liderança moral e intelectual, sobre outras frações aliadas da classe dominante. A fração dirigente detém o poder e a capacidade para articular os interesses das outras frações. Ela não impõe sua própria ideologia ao grupo aliado[...]. (2005, p. 95).

E o segundo significado seria a própria relação estabelecida entre a classe

dominante e a classe dominada, na qual:

A hegemonia compreende as tentativas bem sucedidas da classe dominante em usar sua liderança política, moral e intelectual para impor sua visão de mundo como inteiramente abrangente e universal, e para moldar os interesses e as necessidades dos grupos subordinados. (2005, p. 95).

Este tipo de força hegemônica se estabelece recorrendo às alianças e articulações

e ao consentimento, mesmo que de forma inconsciente, da massa por ela liderada.

Através de ferramentas culturais e ideológicas se constrói o consentimento geral.

[...] o campo da cultura também pode consistir em uma alternativa estratégica das classes subalternas na busca pela legitimação dos direitos garantidos pela Constituição de 1988 e sua consequente precarização, face às políticas de retração estatal na provisão de direitos vigente no Brasil, mormente desde a segunda metade da década de 90. (BILATE, 2012, p. 3).

Ou seja, o poder das classes dominantes sobre a classe trabalhadora na lógica do

modo de produção capitalista, não se limita simplesmente ao controle pelos aparatos

repressivos do Estado. Segundo a teoria gramsciana, esta estratégia não é suficiente,

pois havendo ataque por uma força armada equivalente ou superior que trabalhasse para

o proletariado, essa dominação poderia facilmente fracassar. O poder é garantido

fundamentalmente pela hegemonia cultural que as classes dominantes exercem sobre as

dominadas, através do controle da educação, religião e dos meios de comunicação.

Entendemos que essa dinâmica é o que caracteriza o conceito de Estado Ampliado de

Gramsci, no qual o Estado como produto da sociedade civil e da sociedade política (Ɛ =

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S.C + S.P) incorpora tanto a face coercitiva de controle quanto a face consensual de

controle da massa.

Através desse controle, as classes dominantes e o Estado educam/doutrinam os

dominados para que estes vivam em submissão como algo natural e conveniente,

inibindo assim sua potencialidade revolucionária.

Ele [Gramsci] atribuiu ao Estado parte dessa função de promover um conceito (burguês) único da realidade e, consequentemente, emprestou ao Estado um papel mais extenso (ampliado) na perpetuação das classes. Gramsci conferiu à massa dos trabalhadores muito mais crédito do que Lenin, ao considerar que eles próprios eram capazes de desenvolver a consciência de classe, porém ele considerou que na sociedade ocidental os obstáculos de tal consciência eram muito mais formidáveis do que Lenin imaginava: não era simplesmente a falta de um entendimento de sua posição no processo econômico que impedia os trabalhadores de compreender o seu papel de classe, nem eram somente as instituições ‘privadas’ da sociedade, como a religião, as responsáveis por manter a classe trabalhadora longe da autoconsciência, mas era o próprio Estado que estava encarregado da reprodução das relações de produção. Em outras palavras, o Estado era muito mais do que o aparelho repressivo da burguesia; o Estado incluía a hegemonia da burguesia na superestrutura. (CARNOY, 2005, p. 90-91- grifo meu).

Nesse aspecto, identificamos um pouco do trabalho que a mídia tem feito na

sociedade contemporânea. Historicamente, a comunicação tem desempenhado um papel

importantíssimo na construção de valores e consensos, tanto no que tange questões de

cunho cultural quanto políticos, Ruiz complementa que:

[...] a concentração da produção da comunicação de massas nas mãos de poucos adquire centralidade na definição da conjuntura, na geração de novas necessidades de consumo e de manutenção de políticas econômicas e na tentativa de produção de consensos sobre temas importantes para sociedade. (RUIZ, 2011, p. 82).

Com base em estudos da teoria marxista e gramsciana24 é que discutimos a

cultura como esfera constitutiva do ser social no sentido coletivo e não individual,

buscando problematizá-la no campo da política. Com empenho no desenvolvimento da

24

Coutinho (1996 e 2000).

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25

cultura política, necessária à crítica da ordem das coisas, entende-se que a cultura não

significa a simples aquisição de conhecimentos, mas sim posicionar-se frente à história,

buscar a liberdade. A cultura está relacionada à transformação da realidade, uma vez

que através de uma determinada concepção de mundo, cada cidadão pode compreender

suas particularidades na vida, seus próprios direitos e deveres.

A classe trabalhadora, segundo as teorias gramscianas, não detém uma

consciência teórica-crítica sobre a sua forma de trabalhar, que também se refere ao

conhecimento do mundo enquanto este, através de seu trabalho e relações sociais

estabelecidas nele, o transforma. Alienado, esse trabalhador executa sua ação de modo

prático e ao mesmo tempo tem uma consciência teórica herdada do passado, que ele

acolhe de modo acrítico. A real compreensão crítica de si mesmo ocorre por meio da

luta entre hegemonias políticas, de direções opostas, da análise da política em si, assim

ele chega à consciência da própria concepção do real. A consciência política, isto é, o

ser participante de uma força hegemônica, constitui a primeira etapa para uma

progressiva autoconsciência onde teoria e prática andam juntas.

Assim, para a construção de uma contra-hegemonia é necessário superar o

singular, mediar do particular e ao universal, e abrir espaços para agregar as diferentes

classes. Neste contexto que Gramsci tratará da guerra de posição, termo dado à:

[...] luta pela consciência da classe operária e a relação das forças políticas numa sociedade depende dos vários ‘momentos’ ou ‘níveis’ de consciência política coletiva. O primeiro nível de consciência é a identificação profissional: membros de um grupo profissional estão conscientes de sua unidade e homogeneidade e da necessidade de organizá-lo. O segundo nível se alcança quando há uma consciência da solidariedade de interesses entre todos os membros de uma classe social – mas apenas no campo econômico, na produção. [...] o individuo se torna consciente de que seus próprios interesses corporativos transcendem os limites corporativos de uma classe econômica e se estendem a todos os grupos subordinados, que compartilham a cultura da subordinação e podem unir-se para formar uma contra-ideologia que os liberte da posição subordinada. (CARNOY, 2005, p. 112).

Portanto, este conceito de luta construído por Gramsci preconiza a luta social

pela via democrático-pacifista, ou seja, através da conquista da hegemonia e dominação

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dos seus aparelhos privados. Com uma espécie de revolução passiva25, estes dois

termos estão diretamente ligados à medida que ambos estabelecem estratégia de

superação do Estado burguês pela via pacífica, desconsiderando o ataque frontal. A

superação de ideologia dominante, do modo de ser e de pensar hegemônico baseado no

capitalismo exploratório e na divisão social de classes desigual ganhará força e

delineará uma nova consciência, que se manifesta e se concretiza na prática política.

Nos torna protagonistas das reivindicações nos espaços políticos e sociais,

estabelecendo alianças com os que lutam pelos interesses coletivos.

Como sob um determinado invólucro político, necessariamente se modificam as relações sociais fundamentais e novas forças políticas efetivas surgem e se desenvolvem, as quais influenciam indiretamente, com pressão lenta mas incoercível, as forças oficiais, que, elas próprias, se modificam sem se dar conta, ou quase. (GRAMSCI, 2011, p. 316).

Assim, avançamos no debate buscando agora articular o tema com a relação

estabelecida entre Estado e Capital e a utilização da mídia como instrumento de

legitimação da ordem vigente, de modo que pretendemos identificar os mecanismos

utilizados para se chegar a tal objetivo, o Estado e Capital legitimados em nossa

sociedade. Como se estabelece essa relação e porque ela ocorre.

25 Termo também encontrado em Gramsci (2011) que explica transformações nas relações sociais como a busca de uma nova ordem. Para melhor apreensão verificar Gramsci, 2011, organizado por Carlos Nelson Coutinho.

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3. A relação entre Estado e Capital, tendo a mídia como instrumento de

legitimação da ordem burguesa.

A imprensa é a parte mais dinâmica desta estrutura ideológica, mas não a única: tudo o que influi ou pode influir sobre a opinião pública, direta ou indiretamente, faz parte dessa estrutura.

Antonio Gramsci

Neste capítulo pretendemos analisar as relações sociais estabelecidas entre

Estado, Capital e Mídia no que tange a consolidação da ordem burguesa, legitimando os

governos historicamente situados.

Refletindo sobre estudos realizados ao longo dos anos26 e de própria observação

informal da realidade brasileira, no que tange a articulação de governos com o capital e

consequentemente com a mídia, percebemos a grande capacidade e facilidade da mídia

em produzir e reproduzir valores morais hegemônicos de forma acrítica, na direção da

legitimação da ordem burguesa. Neste pressuposto encontramos a articulação de

empresas de comunicação com o regime ditatorial militar brasileiro na década de 1960,

logo após este regime a mídia volta a intervir no cenário político com a cobertura das

eleições de 1982 na qual se identifica a manipulação da informação ao divulgar as

propostas dos candidatos no sentido de contribuir para a legitimação da ordem social

capitalista e desigual, e deste modo estabelece alianças políticas com determinadas

frentes que não pretendem trabalhar para a superação desta ordem27. Portanto, a mídia

assume a sua posição como parte dos aparelhos privados de hegemonia do Capital,

posição essa com função claramente desempenhada a favor do Capital ao verificarmos o

trabalho desenvolvido nos períodos acima citados e realizados até os dias atuais. Assim,

compreendemos que a mídia hegemônica trabalha a favor da legitimação da ordem

burguesa.

26 Para melhor compreensão as produções de Salles & Ruiz (2011), Bilate (2012), Gramsci (2011), Carvalho & Freire (2008), Chauí (2006), Coutinho (2000), Netto, (1991) fornecem o conteúdo necessário para apreensão do tema. Todas estas fizeram parte do estudo ao longo do curso de Serviço Social e serviram de base para análise e pesquisa nas áreas de cultura, política, direito, economia e etc. 27

Ruiz (2011) traz o debate aprofundado sobre a consolidação de empresas de comunicação através de alianças políticas.

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Podemos iniciar analisando o cenário mais atual da produção midiática brasileira

e verificar os canais de televisão, jornais e revistas que são controlados por empresários

que também são dirigentes religiosos e que em alguns casos também são dirigentes

políticos. Neste caso, a mídia e o seu poder comunicativo são utilizados para difundir

preceitos religiosos, atrair fiéis e vender a “marca” da igreja.

[...] a própria Igreja pode se tornar Estado e o conflito pode se manifestar entre sociedade civil laica e laicizante e Estado – Igreja (quando a Igreja se torna uma parte integrante do Estado, da sociedade política monopolizada por um determinado grupo privilegiado, que incorpora a Igreja para melhor defender seu monopólio com o apoio daquela área de sociedade civil representada pela Igreja). (GRAMSCI, 2011, p. 293).

Cada vez mais, essas emissoras investem em transmissão de cultos, missas e as

demais formas de reunião religiosa propagando uma rotina religiosa e incentivando a

doação de bens e dinheiro para a igreja com a promessa de uma vida melhor e

“abençoada”. Esse tipo de comunicação consegue não só influenciar opções religiosas

como ainda opinar em questões que na sociedade já existe grande polêmica sem nem

sequer pensar no viés religioso. Prova disso é a questão da legalização do aborto que

ainda gera bastante conflito nas bancadas religiosas que são terminantemente contra o

ato e sendo assim, utilizam de todos os argumentos religiosos possíveis para convencer

a população.

No sentido de exemplificar o poder persuasivo da mídia, analisamos a influencia

da mesma no processo de aprovação da lei 8.072/90 – Crimes hediondos. A aprovação

desta lei envolve exatamente o que temos tratado neste trabalho: a força da mídia na

manipulação da informação, promoção do consenso e da ordem vigente. A época de

discussão deste tema vem acompanhada de dois acontecimentos fortemente divulgados

na mídia, os sequestros do senhor Roberto Medina e do senhor Abílio Diniz, ambos,

figuras importantes do cenário empresarial brasileiro. Após o sequestro destes senhores,

houve uma intensa movimentação no Poder Legislativo para a aprovação do projeto de

lei que definia medidas penais para os crimes de sequestro e extorsão mediante

sequestro. Segundo Mascarenhas,

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O clamor dos meios de comunicação antes e depois de o empresário Abílio Diniz ser libertado, associado com as ondas de criminalidade urbana, resultaram na promulgação da Lei nº 8.072/90 que é, indubitavelmente, uma das mais midiáticas leis produzidas no Brasil.(MASCARENHAS, 2010, p. 4).

O que realmente impressiona é a rapidez com que todo o processo de aprovação

desta lei correu nas diversas áreas pertinentes ao processo de aprovação, o Senado

aprovou a Lei em pouco mais de um mês, contados da data de apresentação do projeto.

Em todo caso, caracteriza falha grave do judiciário e legislativo deixar que normativas

importantes como esta sejam votadas e aprovadas por uma aclamação popular

incentivada pela mídia e isto é facilmente percebido ao verificarmos que tal medida não

resolveu o problema da violência urbana, ao contrário, criou outro ainda mais grave

com o aumento da população carcerária no país.

Hodiernamente, com a superpopulação carcerária, verifica-se o quão precipitado foi o legislador. Tipos penais insignificantes são etiquetados como hediondo. Toque nas nádegas, beijo lascivo e falsificação de cosméticos, por exemplo, são considerados crimes hediondos de acordo com o ordenamento jurídico vigente. (MASCARENHAS, 2010, p. 5).

A mídia é um importante instrumento no processo de legitimação de uma

ideologia, cultura, ordem política, etc. Ela não apenas facilita a disseminação da

informação, mas também conduz o modo como esta informação será apreendida,

interpretada. Organizamos algumas imagens de notícias do jornal O Globo28, publicado

na época de discussão da lei 8.072/90, como exemplo da atuação da mídia na construção

da opinião sobre crimes hediondos e a aprovação da lei que prevê medidas punitivas

para tal crime. Em poucos dias foram publicadas diversas matérias sobre o sequestro do

empresário Abílio Diniz, o que deu mais visibilidade a ocorrências de crimes de

sequestro e extorsão como este e consequentemente ampliou o debate sobre o projeto de

lei.

28 A escolha pelo jornal O Globo se deu pela sua abrangência de circulação e influência na sociedade. Este se trata de um dos mais importantes e tradicionais jornais do Brasil. Alem também de ser o jornal que mais teve sua reputação envolvida com a manipulação de informação e faz parte de uma empresa que mais detém concessões de canais de comunicação. [ver RUIZ, 2011]. Toda a documentação do jornal exposta neste trabalho pode ser encontrada em seu acervo eletrônico, no link: http://acervo.oglobo.globo.com/

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Fonte: Jornal O Globo, 18 de dezembro de 1989, p.3. FIGURA 1: Diniz é libertado após 36h de negociação.

Dentre as notícias publicadas na mídia ainda houve algumas em que se

especulava um possível envolvimento do partido político, o Partido dos Trabalhadores

(PT) que naquela época tinha como candidato à Presidência da República o senhor Luiz

Inácio Lula da Silva. O jornal O Globo foi um dos jornais que especulou um possível

envolvimento de integrantes do partido e até integrantes do governo no sequestro do

empresário, movimentando ainda mais o debate sobre as eleições daquele período.

Fonte: Jornal O Globo, 17 de dezembro de 1989, p.19. FIGURA 2: Saulo: vagabundos se passam por terroristas.

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Nas reportagens analisadas, todas sempre mencionavam o possível envolvimento

dos sequestradores do empresário com o partido político PT que na época tinha como

candidato a Presidência da República o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, este negou

envolvimento com o grupo e afirmou que tal informação divulgada no jornal se tratava

de mais uma estratégia de enfraquecimento da sua campanha eleitoral. Acreditamos que

tal atitude do jornal serviu não só para movimentar a discussão sobre a aprovação da lei

8.072/90 como também para intervir na opinião pública a respeito dos candidatos a

Presidência, podendo até deixar como demanda para o candidato que fosse eleito a

tarefa de dar uma resposta a ocorrência desses crimes.

Fonte: Jornal O Globo, 17 de dezembro de 1989, p.1. FIGURA 3: Cercados os sequestrados de Diniz.

A reportagem anterior e a que vem a seguir fornecem mais informações a

respeito do possível envolvimento dos sequestradores com o partido político PT,

relatando a apreensão de materiais de divulgação da campanha de Lula à Presidência,

além de telefones de integrantes do partido nas agendas encontrados no local.

Entretanto, introduz certa dúvida acerca da informação ao apresentar negação de tal

ocorrência por parte dos entrevistados.

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Fonte: Jornal O Globo, 19 de dezembro de 1989. FIGURA 4: Luís Sales: Coincidências são muitas.

Após muita especulação e debate sobre o crime ocorrido, os jornais, dentre eles

O Globo, mudaram seu discurso de acusação do Partido dos Trabalhadores afirmando

que o sequestro do empresário Abílio Diniz não teria sido uma estratégia política. No

entanto, a estratégia especulativa não terminou. No lugar da possibilidade de tática

política colocaram outras hipóteses para justificar o crime e assim atrair a atenção do

público.

Fonte: Jornal O Globo, 20 de dezembro de 1989, p.13. FIGURA 5: Tuma: Seqüestro de Abílio não foi político.

Conforme Petrarca (2007) nos traz, na dinâmica do poder do Estado e

reprodução do capital, a mídia tem seu papel definido: “A imprensa, de modo geral,

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sugere ‘como pensar’ os assuntos oferecendo aos leitores compreensões sobre os temas

noticiados” (2007, p. 3). A mesma dinâmica foi utilizada para noticiar o sequestro do

empresário Roberto Medina.

Fonte: Jornal O Globo, 17 de junho de 1990, p.1.

FIGURA 6: Seqüestro: família Medina apela à polícia para suspender investigação.

No caso do sequestro de Roberto Medina houve mais controle na publicação de

reportagens, pois a família do empresário acreditando no real risco de vida dele enviou

pedido à redação do jornal no sentido de frear a especulação sobre o andamento das

investigações como fora feito no sequestro de Abílio Diniz.

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Fonte: Jornal O Globo, 22 de junho de 1990, p.1. FIGURA 7: Liberto Roberto Medina; Polícia inicia a caçada aos seqüestradores.

Deste modo, Estado e Capital conseguem legitimar sua ideologia capitalista,

vendendo a imagem que desejarem através da mídia. Na função de aparelho privado de

hegemonia, categoria encontrada em Gramsci, percebemos o quanto a mídia foi

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importante na construção da opinião sobre os dois casos de sequestro podendo

incorporar nos casos questões de cunho político. Essa e outras ações da mídia constrói o

consenso dentro de uma classe. Como fora explicitado nas imagens de notícias antigas,

a imprensa através das matérias poderia influenciar a opinião pública sobre os possíveis

suspeitos de organização do sequestro e até os rumos das eleições.

Respeitando e entendendo o poder de formação de opinião que a mídia possui,

verificamos que também é possível o movimento contra a corrente. Há uma crescente,

mas ainda não hegemônica e nem legitimada, organização no lado contrário à ordem

capitalista burguesa. Esta organização que busca espaço em meio as grandes empresas

que dominam o ramo da comunicação é denominada pela mídia hegemônica como

mídia alternativa. Este tipo de mídia caminha no sentido oposto ao da legitimação do

capital e da notícia como mercadoria, busca espaço e atenção da sociedade para

problemáticas relevantes, sobre a questão social, política, numa perspectiva de

questionamento e reflexão acerca dos temas noticiados.

A mídia desempenha atualmente um importante espaço de mediação e por isso se constitui como uma força para fazer valer certas questões e construir uma imagem publica da profissão. Isto é, claramente visto no caso dos movimentos sociais que para impor a sua luta como legítima e verdadeira contam com a mídia e desenvolvem todo um trabalho para colocar suas problemáticas na pauta jornalística, promovendo manifestações, debates. (PETRARCA, 2007, p. 4).

Este trabalho contra-hegemônico é identificado principalmente nas produções

jornalísticas de conselhos, movimentos sociais que questionam e lutam pela superação

da ordem vigente. Como exemplo mais próximo da nossa área de estudo, temos o

trabalho desenvolvido pela assessoria de impressa do Conselho Regional de Serviço

Social do Rio de Janeiro que em suas publicações sempre se compromete em realizar

um trabalho fundamentado e analítico da realidade social em que vivemos,

proporcionando debate crítico não só a respeito da categoria profissional dos Assistentes

Sociais, mas também acerca da dinâmica alienante e exploratória em que vivemos

justamente porque o objetivo da publicação está muito além de interesses particulares

do mercado.

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Toda a movimentação de grupos de luta por direitos, toda a manifestação

recentemente organizada levando a debate questões importantes para a organização

social e política no Brasil deu visibilidade à mídia ligada a movimentos sociais que

também contribuiu para a tomada de consciência em relação à forma como compramos

notícia todo o tempo e das mais diversas formas de disseminá-la construindo conceitos e

interpretações acerca do que está sendo noticiado. E assim, contribuindo inclusive com

direcionamentos políticos, em decisões que influenciam diretamente o cotidiano da

população como aprovações de leis, preços que pagamos na utilização de serviços,

implementação de políticas públicas e até a escolha dos governantes. A notícia em

forma de mercadoria é uma ameaça à efetivação de direitos e principalmente à justiça.

Na qualidade de mercadoria socialmente produzida o discurso, contido nos jornais e revistas, age também na própria criação das necessidades de informação e definição dos temas relevantes, construindo o consumidor-leitor, nos termos já descritos por Marx (1989), ou seja, a produção fornece a matéria/objeto do consumo, ao mesmo tempo em que, cria e produz o próprio consumidor. Portanto, entendemos que as repetidas falas da mídia sobre a cobertura do fenômeno da violência, em detrimento de outros fatos sociais, não é uma escolha alheatória, ao contrário induz o próprio interesse do leitor pelo assunto, e o estimula a consumir seu conteúdo, que se torna um produto lucrativo. (CARVALHO; FREIRE, 2008, p. 152).

A noticia/mercadoria vende, estimula o preconceito, o acumulo de capital e

dissemina desigualdade. Entendemos que este tipo de venda de notícia não compreende

um discurso imparcial, no sentido de levar a informação de fato e não influenciar a

opinião pública. Podemos associar esta prática ao que Chauí (2006) elucida como

simulacro do poder que é o meio pelo qual os donos dos meios de produção, capital e/ou

divulgação da informação disseminam sua ideologia, crença, cultura ou conhecimento

de mundo de forma a convencer o leitor e levá-lo a apreensão e aceitação de tal

ideologia, assim “[...] criam simulacros (realidades ilusórias), ao mesmo tempo em que

oferecem informações sobre o ‘mundo real’ como uma mercadoria”. (CARVALHO;

FREIRE, 2008, p. 152).

A transformação da informação/fato em mercadoria/notícia evidencia seu importante papel na sociedade, não só como geradora de capital, mas também como detentora de poder simbólico, definido por Bourdieu (1989) como sendo a utilização dos símbolos para o estabelecimento da integração e

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reprodução da ordem social através do consenso. O mesmo autor afirma que a luta de classes ocorre também no microcosmo da produção cultural, portanto, os jornais e revistas encontram-se envolvidos em uma luta simbólica pela definição do mundo social, conforme os interesses das diferentes classes e frações de classes. (CARVALHO;FREIRE, 2008, p. 153).

E seguindo por esta lógica da venda, da notícia como mercadoria, a mídia não

vende apenas uma ideologia, ou algo em que possamos acreditar, ela nos vende modelos

morais a seguir, nos vende governos nos quais depositamos confiança ou rechaçamos e

rejeitamos até aonde nos é possível, como foi no período da ditadura militar brasileira.

Sabe-se que este período foi decisivo para a consolidação de determinadas emissoras no

ramo da comunicação brasileira e como meio para se alcançar tal objetivo eram feitas

alianças veladas entre empresários do ramo com o governo instaurado na época. E

assim, por se tratar de uma organização antidemocrática, eram necessários mecanismos

que legitimassem tal governo no seio da sociedade da década de 1964, o mais eficaz em

matéria de alcance da população sem duvida é a comunicação. Utilizar a mídia como

instrumento de disseminação de ordem instaurada foi a chave para vender a ideologia

que o governo quisesse. Em troca essas empresas puderam estabelecer seus monopólios

de transmissão e consolidar um império da comunicação que perduram até os dias de

hoje. As empresas com um pensamento contrário tiveram que amargar a censura.

No entanto este não foi o único governo que recorreu ao apelo midiático

favorecedor de suas políticas internas. Na década de 1930, com mídia própria, o

governo popularmente intitulado de Era Vargas também fez uso de meios de

comunicação em massa para vender sua política de governo de modo a conquistar uma

maior aceitação da população. Essas e outras formas de utilização da mídia, como já

fora citado, nos levam cada vez mais à compreensão do atual propósito que o Estado e a

mídia legitimada possuem em comum: perpetuação do capital e suas formas de acumulo

nas mãos de uma minoria privilegiada cultura e financeiramente.

A mídia é atualmente um dos mais importantes instrumentos sociais, no sentido de produzir esquemas de significação e interpretação do mundo. Os meios de comunicação nos indicam o que pensar, o que sentir, como agir. Eles nos impõem certas questões e nos fazem crer que estes é que são os problemas importantes sobre os quais devemos pensar e nos posicionar. Este instrumento forja determinadas formas de existência que não apenas possuem

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papel efetivo no incremento da violência, como também representam uma das expressões da mesma. (CARVALHO; FREIRE, 2008, p.156).

A citação anterior vem ratificar tudo o que analisamos até o momento sobre o

papel da mídia na legitimação da ordem burguesa e a sua força e abrangência na

construção do consenso acerca da violência, a produção citada faz parte do trabalho de

análise da midiatização da violência que Carvalho e Freire (2008) realizam

brilhantemente expondo os meios com que a mídia pode construir o consenso sobre os

mais variados temas. Após a identificação e análise dos objetivos em comum do Estado,

Mídia e Capital para com a organização social, abordaremos no próximo capítulo, a

compreensão do papel da mídia na construção da opinião pública sobre o crime e a

prisão no cenário contemporâneo.

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4. O papel da mídia no processo de construção da imagem do crime e

da prisão no cenário contemporâneo.

Este capítulo se concentra na análise do papel da mídia na construção da opinião

pública a respeito do crime e das prisões no cenário brasileiro atual. Este estudo baseia-

se em reflexões a partir de Antonio Gramsci (2011) e autores contemporâneos que

estudam a violência, o crime e a prisão, como Varjão (2008), Petrarca (2007), Carvalho

& Freire (2008), Farias (2015), Faceira (2014), entre outros. Continuaremos a discussão

do papel da mídia na sociedade atual analisando noticiários publicados na mídia

impressa brasileira no primeiro semestre de 2015, mais especificamente no Jornal O

Globo e no Jornal Meia Hora, e o trato que esta mídia dedica às notícias sobre crime29 e

prisão30.

Esclarecemos novamente que a escolha destes jornais se deu pela abrangência de

ambos e alcance das massas, contribuindo com a formação da opinião pública. O Jornal

O Globo possui não só grande abrangência tendo alcançado atualmente relativo

prestigio internacional, como também uma longa jornada no ramo da comunicação, no

entanto o seu público é compreendido por uma minoria privilegiada economicamente,

ou seja, o seu público leitor é composto pela classe média e classe alta social devido à

linguagem utilizada e o preço do jornal. Já o Jornal Meia Hora possui uma linguagem

mais popular e preço também, ele escreve para a população de classe média e baixa

levando a notícia sempre de um modo muito particular utilizando por vezes o “humor

negro” 31 para notícias realmente sérias. Ambos os jornais possuem grande potencial de

construção da opinião pública.

29

A saber, segundo Reishoffer & Bicalho (2015), “O crime é uma infração a uma lei estabelecida internamente pela sociedade através de seu poder legislativo. Para que haja infração, é necessário haver uma lei e que essa tenha sido formulada por um poder político constituído”. (p.14). 30

A partir da leitura de Guindani (2015, p.48), entendemos a prisão como o espaço de “utilização massiva da pena privativa de liberdade” [...]. Tal modelo vem na passagem do século XVIII para XIX repaginar os antigos modelos de castigo e suplício sofridos pela população carcerária. Conforme Farias (2015, p 86), relata, “Essas instituições teriam como funções principais fazer os presos formarem novos hábitos de acordo com determinadas premissas permeadas pelo exercício do poder”. Ou seja, a prisão como aparato legal de reajustamento do individuo a ordem vigente. 31 Segundo o dicionário Aurélio online, humor negro significa “humor que sublinha, com crueza, amargura e por vezes desespero, a absurdidade do mundo”. Link: http://www.dicionariodoaurelio.com/humor

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O termo opinião pública é a forma de pensamento que contempla a grande

maioria da população de determinado local; pode não ser unânime, mas é compartilhada

pela maior parte tornando-se assim hegemônica.

A opinião pública. O que se chama de ‘opinião pública’ está estreitamente ligado à hegemonia política, ou seja, é o ponto de contato entre a ‘sociedade civil’ e a ‘sociedade política’, entre o consenso e a força. O Estado, quando quer iniciar uma ação pouco popular, cria preventivamente a opinião pública adequada, ou seja, organiza e centraliza certos elementos da sociedade civil. (GRAMSCI, 2011, p. 283)

Conforme Gramsci nos traz, a opinião pública pode ser criada não só pela

construção coletiva e modos de pensar semelhantes, mas também a partir do interesse

individual e gradativamente ser propagar em outros espaços buscando o consenso,

concordância e aceitação desta opinião. Em casos políticos, como é citado em Gramsci

(2011) a construção da opinião pública torna-se estratégia de governo, de controle das

massas e centraliza ainda mais o poder do Estado e, no cenário contemporâneo, do

Capital.

A opinião pública é o conteúdo político da vontade política pública, que poderia ser discordante: por isto, existe luta pelo monopólio dos órgãos de opinião publica – jornais, partidos, Parlamento –, de modo que uma só força modele a opinião e, portanto, a vontade política nacional, desagregando os que discordam numa nuvem de poeira individual e inorgânica. (GRAMSCI, 2011, p. 283)

Portanto, a opinião pública representa não só o modo de pensar de um conjunto

de indivíduos como também o seu modo de agir. Este é influenciado pelo campo das

ideias e pode determinar a organização da sociedade e os rumos que ela toma nas

relações estabelecidas. E para a construção de tal elemento (opinião), a classe

dominante precisa ter o controle de aparatos inteligentes e eficazes para a aceitação de

sua ideologia que neste caso vamos considerar a mídia. O poder que a mídia exerce

sobre os modos de pensar e agir da população é extraordinário, mas não absoluto.

No dicionário informal online humor negro significa “Humor feito com desastres, preconceito, racismo, entre outras questões”. Link: http://www.dicionarioinformal.com.br/humor%20negro/

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Entretanto, tentaremos analisar os mecanismos utilizados por ela para garantir um

mínimo de controle sobre a opinião pública acerca do crime e da prisão.

A mídia pode determinar os temas que são importantes para a atenção e reflexão

da população, e se tratando de manipulação da informação encontramos dois conceitos

que exemplificam um pouco da atuação da mídia em suas publicações de notícias sobre

violência de um modo geral, trata-se da prática de jornalismo máximo e jornalismo

mínimo. Esses dois termos vão diferenciar certos tipos de reportagens, sendo o

“Jornalismo Máximo” (Varjão, 2008), a utilização máxima de recursos que tornem a

notícia ainda mais atrativa e consequentemente chame a atenção do leitor para o jornal e

suas notícias, não garante a qualidade da notícia, porém atinge o objetivo principal que é

a atratividade, confere importância à notícia.

Seguindo a explicação do termo utilizado por Varjão (2008), a autora nos traz

uma análise das estratégias utilizadas pela imprensa baiana para evidenciar algumas

notícias e banalizar outras. Com a lógica do jornalismo máximo, Varjão (2008) nos traz

exemplos de notícias publicadas em alguns jornais de grande abrangência relatando um

assaltado a um grande supermercado da região, os recursos utilizados pelos jornais para

atribuir grande importância à notícia. Esta atividade ela nomeia de jornalismo máximo e

também percebe que além dos recursos utilizados, estes jornais privilegiam o dano

material sofrido no tal assalto e consequentemente ignoram a violência concreta sofrida

pelas vítimas do crime. E como exemplificação do oposto ao jornalismo máximo, o

“Jornalismo Mínimo”, a autora analisa reportagens nos mesmos jornais, mas agora

publicando o assassinato de um jovem pedreiro. Desta vez é identificada a relativa falta

de recursos atrativos para o que está sendo noticiado, com uma nota simples e sem

muitos detalhes a respeito do crime contra o jovem pedreiro. Mais uma vez percebemos

com a análise de Varjão (2008) o intuito da mídia local no sentido de valorização do

capital.

Com a análise de Varjão (2008) identificamos novamente que a tendência da

mídia tem sido quase que exclusivamente legitimar o sistema vigente, isso pode ser

percebido no trato oferecido às reportagens não só sobre violência, mas também sobre

política, economia, etc. Através dos recursos já mencionados e muitos outros como a

linguagem utilizada, recursos de imagens, manchetes sensacionalistas ou banalizadoras

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dependendo da noticia e até a localização da notícia dentro do jornal, podem atrair uma

maior ou menor atenção do leitor e consequentemente construir uma imagem, uma

opinião sobre o tema noticiado. Como identificado na análise realizada acerca da

influência exercida pela mídia no debate a respeito da aprovação da Lei nº 8.072/90

sobre crimes hediondos, Petrarca complementa:

A mídia, [...], pode se tornar parte das estratégias da defesa ou da acusação. Além disso, outro efeito da mídia sobre os diferentes campos de produção é a forma como ela pode colaborar para reforçar o efeito de heteronímia dos campos dando espaço para aqueles que não são reconhecidos fazerem valer suas ações no mercado intelectual. Tal efeito é denominado por Bordieu (1997) como a ‘lógica do cavalo de troia’, a qual implica na forma como o jornalismo pode introduzir nos universos autônomos produtos heterônomos. Assim, a mídia pode afetar o que se faz e o que se produz em outros campos, orientando o trabalho dos juízes ou de jurados por meio da divulgação intensiva de certos crimes e do desenrolar de certos julgamentos, promovendo um debate público tão intenso que pode influenciar as decisões nos tribunais. (PETRARCA, 2007, p. 3).

No que tange as notícias de crimes e prisão, podemos verificar o papel

desempenhado pela mídia na construção da opinião acerca da Maioridade Penal e

centraremos nossa análise agora neste tema analisando também reportagens e manchetes

do Jornal Meia Hora do primeiro semestre de 2015 e também do Jornal O Globo do

mesmo período. Este debate tem sido realizado há pelo menos 10 anos e seu ápice

midiático ocorreu em 2007, período que usaremos para exemplificar inicialmente nossa

análise, com o caso do menino João Hélio, vítima do crime que causou a sua morte de

forma brutal e inesquecível para a sociedade. Identificamos este caso como ápice

midiático pela pesquisa realizada, ao realizar a busca por reportagens que tratassem do

tema Maioridade Penal encontramos no ano de 2007, ano em que o ocorreu o crime que

levou ao óbito o menino, o momento em a mídia intensificou as publicações que

retratavam crimes cometidos por adolescentes. Este fato se deve muito à forma brutal

como o menino João Hélio veio a falecer. Destacamos duas reportagens do ano 2007,

ano em que o crime foi cometido para exemplificar a forma como a mídia tratou o caso

e, posteriormente, centramos a análise no primeiro semestre de 2015, pois foi o ano de

votação da aprovação da redução da Maioridade Penal no Brasil.

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O crime em questão foi cometido por dois rapazes que na ocasião eram menores

de idade. Na tentativa de roubo do veículo da mãe da criança, os dois adolescentes

arrastaram o menino João Helio por um longo percurso preso pelo cinto de segurança

do carro, a mãe não teve tempo para retirar o filho do veículo e viu a criança ser levada

arrastada pelas ruas de um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Este acontecimento

gerou grande comoção não só pela morte trágica da criança, mas também pelo fato de

ter sido cometido por adolescentes, o que gerou grande revolta por parte da população

que assistiu ao desfecho do caso pela mídia. Não estamos determinando aqui a acusação

ou absolvição de nenhuma das partes do caso, vale lembrar que o objetivo principal do

trabalho é a análise do papel da mídia e seu desempenho na publicação de notícias sobre

crime e prisão e como esse desempenho ajuda na construção de opinião acerca destes

dois temas.

Fonte: Jornal O Globo, 11 de fevereiro de 2007, p.19. FIGURA 8: A sociedade no limite.

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Esta reportagem em específico se mostra um importante elemento de análise não

só do contexto em que se discutiram medidas punitivas para adolescentes que

cometeram alguma infração, mas também a forma como o tema foi exposto pelo jornal,

mas especificamente nesta reportagem destacada, cuja manchete é “A sociedade no

limite”. A matéria ocupa uma página inteira do primeiro caderno do jornal O Globo e

nela são apresentadas muitas opiniões a respeito do crime noticiado, o roubo do carro

que resultou na morte do menino João Helio no subúrbio do Rio de Janeiro. Entretanto,

podemos verificar como a matéria se inicia de modo a imediatamente atrair a atenção do

leitor ao mencionar a discussão sobre pena de morte no subtítulo. A primeira vista, sem

ler a matéria esta informação pode nos levar a acreditar que já se avalia possibilidade de

pena de morte aos adolescentes, o que agrava imensamente sensacionalismo praticado já

que até o momento o que é discutido em paralelo ao julgamento do crime é a redução da

Maioridade Penal. Complementando o subtítulo da matéria, a reportagem acompanha

varias opiniões não só sobre o crime noticiado, mas também acerca dos crimes

cometidos por menores de idade em geral, ao todo são explicitadas 16 opiniões, onde 4

são contra a redução de Maioridade Penal e inclusão da pena de morte como medida

punitiva para crimes hediondos e 12 são a favor.

As 12 opiniões a favor da pena de morte e da redução da Maioridade Penal são

carregadas de juízo de valor e emoção pela trágica morte do menino João Helio, todas

tem forte apelo por um código penal mais punitivo. O fato de também ter sido usada

uma foto do infrator em momento de captura também serve de elemento incentivador do

ódio e revolta do leitor, pois o jovem retratado no jornal é apresentado como uma figura

de ameaça e perigo.

Elementos como estes que nos chamaram atenção para a escolha das

reportagens, os recursos visuais de primeira linha de atenção (manchetes, subtítulos,

imagens), o que imediatamente nos deparamos tal como os leitores no dia – a – dia.

A próxima reportagem traz em sua manchete a informação de que a redução da

Maioridade Penal foi aprovada o que num primeiro momento nos leva a acreditar o

assunto estava decidido. No subtítulo que é explicado que se trata de um primeiro passo

para a efetiva aprovação da redução. A votação relatada na reportagem aconteceu na

Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, porém a redução da Maioridade Penal só foi

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efetivamente aprovada na Câmara dos Deputados no mês de agosto de 2015, após uma

manobra realizada pelo Deputado Eduardo Cunha que colocou o texto da emenda

constitucional que reduz a maioridade penal em votação por duas vezes e com redação

editada, a primeira votação no mês de julho de 2015 não foi aprovada, posteriormente,

em agosto de 2015 o deputado conseguiu a aprovação da emenda.

Fonte: Jornal O Globo, 27 de abril de 2007, p.3. FIGURA 9: Cadeia mais cedo para menores.

A forma como a informação foi colocada no jornal, ocupando praticamente a

página inteira, pode levar ao entendimento equivocado do que está sendo decidido e

também, conforme relatamos durante todo o trabalho, construir uma opinião acerca do

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que está sendo noticiado. Assim, coletamos reportagens acerca de crimes cometidos, no

estado do Rio de Janeiro, por adolescentes, com o objetivo de identificar a intenção da

mídia de contribuir com o processo de criminalização dos menores de idade e

posicionamento acerca do debate a respeito da diminuição da Maioridade Penal.

Fonte: Jornal Meia Hora, 22 de Fevereiro de 2015, p.1. FIGURA 10: Novinha do açaí tinha cracolândia na perereca.

O Jornal Meia Hora tem uma prática de publicação que realmente nos preocupa,

principalmente quando se trata de noticiar crimes, o jornal investe massivamente em

manchetes sensacionalistas e de mal gosto humorístico. No período analisado não

encontramos muitas notícias envolvendo crianças e adolescentes cometendo crime,

porém as poucas que encontramos seguem a mesma linha de fazer humor com tragédias.

Este fato pode ser facilmente observado na manchete destacada acima, onde é

relatado na capa do jornal que uma menina escondia crack em região íntima feminina.

Esta prática nos mostra que o jornal não trabalha no sentido de levar este tipo de

informação para que se faça um alerta sobre os adolescentes que estão envolvidos no

tráfico de drogas, do risco de vida que eles correm e da necessidade de medidas

educativas emergenciais por parte do Estado para por fim a esta atividade dos

adolescentes.

Fonte: Jornal Meia Hora, 22 de maio de 2015, p.1.

FIGURA 11: Civil pega o menor da faca.

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A manchete anterior também serve de exemplo para nossa análise, mais um

exemplo de como o jornal barbariza a condição do adolescente que comete um crime já

na capa do jornal sem sequer propor uma mínima reflexão para uma questão que

envolve ação de toda a sociedade e, principalmente, do Estado em garantir condições

mínimas de acesso aos direitos da criança e do adolescente para que este não exerça

atividades ilícitas.

Fonte: Jornal O Globo, 03 de junho de 2015, p.8. FIGURA 12: Maioridade: Governo já estuda alternativas.

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Ocupando praticamente uma página inteira do primeiro caderno do Jornal O

Globo, na reportagem anterior, o tema da prisão para os adolescentes é apresentado por

manchetes que sugerem uma opinião a respeito, principalmente se observamos que

dentre as quarto manchetes publicadas apenas uma critica a possibilidade de aprovação

da medida que condena os jovens, as outras três trazem relatos sobre as alternativas que

o governo adotará para a distribuição os jovens que cometeram crime nas unidades de

prisão, sobre o medo que esses jovens causam na população no sentido de ser uma

ameaça à ordem estabelecida e também sobre o aumento de punições.

Fonte: Jornal Meia Hora Online, 19 de junho de 2015, plantão de polícia. FIGURA 13: Menores apreendidos irão para a cana dura.

O Jornal Meia Hora também publicou informação sobre a votação da emenda

Constitucional que reduz a Maioridade Penal no Brasil e mais uma vez utiliza termos

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que buscam trazer humor de mal gosto a uma temática de grande importância para a

história das políticas de segurança do nosso país. No entanto, esta notícia em especial

não traz elementos de criminalização dos jovens, pelo contrário, a matéria traz no corpo

do texto elemento crítico à medida que está sendo discutida na Câmara dos deputados,

relatando através da fala do Diretor do Observatório de Favelas que a redução da

Maioridade Penal é na verdade o caminho inverso para a redução da violência.

Fonte: Jornal O Globo, 1 de julho de 2015, p.1. FIGURA 14: Câmara rejeita a redução da maioridade penal.

“Cadeia mais cedo para menores”, “Plantão de policia: Menores apreendidos

irão para a cana dura”, “Maioridade: Governo já estuda alternativas”, “Pavor dos

menores extremamente violentos”, identificamos em todas as reportagens analisadas

sempre a presença de elementos reafirmadores da punição não só dos jovens menores de

idade, mas de toda uma população infratora da lei. Esta conduta é o reflexo da transição

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do Estado – Providência para o Estado-Penal32 que Wacquant (2004) considerou em seu

estudo sobre as mudanças políticas realizadas nos Estados Unidos em relação ao

tratamento da violência nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Tais medidas aumentaram

não só o número de unidades prisionais no país, como também o número de pessoas

encarceradas, identificadas como em sua maioria negra e pobre. O Estado-Penal agia no

sentido de cada vez mais reprimir a pobreza através do encarceramento. Este aumento

também foi vivenciado no Brasil. Na tentativa de dar uma resposta ao aumento da

criminalidade, governos brasileiros intensificaram, no mesmo período, os meios legais

de condenação aos infratores da lei, aumentaram o número de prisões e propagaram

através da comunicação como aparelho privado de hegemonia, a cultura de

criminalização da pobreza. Na mídia brasileira há sempre uma predisposição na notícia

para ratificar a importância da punição para crime cometido, mesmo que ao longo da

matéria apareçam elementos contrários, o que prevalece é a conduta de punição e ainda

mais criminalização do jovem menor e para além disso, a criminalização de uma

maioria desfavorecida economicamente. A punição inerente ao sistema penitenciário

sofreu mudanças e investimentos por parte do governo, inclusive no que se refere aos

objetivos a serem alcançados por meio do aprisionamento. Wacquant (2004) nos traz a

seguinte conclusão:

[...] objetivo não é mais nem prevenir o crime, nem tratar os delinquentes visando o seu eventual retorno à sociedade uma vez sua pena cumprida, mas isolar grupos considerados perigosos e neutralizar seus membros mais disruptivos mediante uma série padronizada de comportamentos e uma gestão aleatória dos riscos, que se parecem mais com uma investigação operacional ou reciclagem de "detritos sociais" que com trabalho social. (Wacquant, 2004, p. 55)

Portanto, a partir dos objetivos de isolar e neutralizar a população carcerária e

também toda a pobreza que ainda vive “livre” e na luta cotidiana, a mídia trabalha

exercendo fortemente um papel incentivador da marginalização e segregação de uma

parcela significativa da população que, não por acaso, é o elo mais fraco na disputa pela

32

Estado-Providência, ou Estado Social, é o termo utilizado para caracterizar o modelo de Estado agente de promoção e proteção social. Neste modelo, o Estado regulamenta a área social, política e econômica do país. Estado-Penal, termo que faz oposição ao Estado-Providência, pois caracteriza um modelo de Estado mínimo para as questões de bem-estar social, um modelo de Estado opressor e punitivo.

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hegemonia. Essa população com seu escasso ou até mesmo inexistente recurso

financeiro, acesso a bens e serviços, a educação, a direitos tem em seu cotidiano o apelo

por parte da classe dominante para mais punições por conta da crença (socialmente

construída) de que a pobreza em si predispõe o individuo a criminalidade, ou seja, a

condição de individuo pobre, ainda agravada pela cor da pela e local de moradia

pressupõe uma tendência criminosa. O pobre, negro, morador da favela passa a ser não

só o retrato da pobreza, mas também do crime e por isso é exterminado do convívio

social.

A forma como a mídia produz realidades, verdades, fantasias, falas autorizadas, história e memória também atravessam o tema da violência, quando os pobres estão sendo marcados e identificados, por esses mesmos meios de comunicação, como os “suspeitos”, os “infames”, e sua territorialidade sendo considerada como “locais perigosos”. (CARVALHO;FREIRE, 2008, p. 156-157).

Conforme Carvalho e Freire relatam, a forma como a mídia expõe as notícias e

em especial, foi o que identificamos claramente nas reportagens a respeito dos crimes

cometidos por menores de idade, pode intensificar o debate e criminalizar ainda mais

uma classe. Este fato é facilmente percebido ao identificarmos nas reportagens

analisadas o grupo social ao qual cada adolescente em condição de infração da lei

pertence, é unanime que todas as notícias analisadas neste trabalho retratam a ação

criminosa de jovens pobres, negros e moradores de comunidades pobres. Se analisarmos

outras notícias mais, poderemos encontrar notícia de crime envolvendo algum jovem de

classe média ou alta, no entanto, certamente esta notícia terá outro tratamento. O jovem

pertencente à classe dominante jamais será criminalizado pela mídia e nem pelo Estado,

ao contrário, será vitimado pelas condições que o levaram a cometer a infração.

Vale ressaltar que esta observação não pretende julgar e condenar jovens

economicamente favorecidos que cometeram algum crime, mas sim alertar para as

diferenças de tratamento do infrator condicionadas pela sua posição financeira e social.

O que nos interessa neste debate é identificar até que ponto é vantajoso para o capital

punir e eliminar as classes subalternas que atrapalham a sua manutenção econômica. E

entendemos que as atuais medidas punitivas e criminalizantes da pobreza não dão conta

na diminuição da violência.

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Compreendendo a dinâmica de criminalização da pobreza identificamos que a

punição do infrator que é pobre já se inicia antes mesmo do julgamento do crime

cometido, por meio da exposição, especulação e até humilhação deste individuo. O

infrator sofre o julgamento da sociedade que levada pela emoção/ revolta por certos

crimes clama por punições mais severas até que o próprio modelo de prisão que temos

hoje. Como se viver na inexistência de dignidade e condições de sobrevivência já não

fosse punição suficiente, inclusive para tornar este infrator ainda mais propenso à

reincidência no crime. Talvez a falta de conhecimento do que é a prisão de fato também

contribua para este tipo de pensamento por parte da população. A respeito das condições

de vida precária na prisão, Guindani (2015) relata que,

[...] o acesso à saúde aos sujeitos presos é negligenciado, desde os atendimentos mais simples, como moléstias de pele, ocorrências dentárias, pequenos curativos, até problemas complexos, como acidente vascular cerebral, acidente cardiovascular e câncer. Os dependentes químicos e aqueles que chegam a desenvolver doenças mentais após o encarceramento não recebem assistência adequada, na maioria dos estabelecimentos. Em todos os estados do País, há unidades prisionais interditadas por autoridades responsáveis pela fiscalização das prisões (Vigilância Sanitária, Ministério Público, Juízes de execuções). No entanto, os Órgãos Executores não cumprem as ordens de desativação dessas unidades, devido à superlotação. (p. 52).

Se analisarmos modelos antigos de punição, voltados inclusive para penas de

morte, e compararmos ao que temos nos dias de hoje, na letra da lei identificaremos

algumas diferenças no que tange as penas utilizadas e o atual aparato legal estabelecido

para legitimar a violência empregada nessas instituições como “justificativa para a

segurança e reajustamento do indivíduo” (Farias, 2015, p.88).

O castigo como exemplo para que o delito não se repita, ainda é um pensamento

compartilhado no cenário atual e propagado nos meios de comunicação mais fortemente

nos últimos anos ao retratar crimes e também infrações da lei envolvendo menores de

idade e consequentemente acalorando o debate da redução da Maioridade Penal.

A mídia, conforme temos identificado nas analises das reportagens, tem forte

influência na construção da opinião pública no que tange aprovar ou não a redução da

Maioridade Penal, e mais, na construção do consenso sobre quem ameaça a ordem e

quem é o criminoso. Com os aparelhos privados de hegemonia estudados em Gramsci

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(2011) que legitimam formas de governo e constroem diferentes apreensões a respeito

da sociedade, o Estado utiliza-os, no sentido de consolidar uma ordem político-social e

manter a dominação de classes. Hoje, o castigo legitimado pela mídia trata-se

basicamente de manter o indivíduo em restrição ou privação de liberdade, em condições

de extrema negligência à vida humana e ao desrespeito aos direitos humanos, sendo o

cumprimento da pena frequentemente atravessado por violações e o uso da violência.

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5. Considerações Finais

Buscamos com esta pesquisa analisar e problematizar a questão da mídia como

aparelho privado de hegemonia legitimado pelo capital e potencial criminalizador das

classes subalternas, não tendo a pretensão de esgotar a temática, mas colocá-la em

análise e debate.

É inegável o poder que os meios de comunicação exercem sobre a população no

sentido de propiciar diferentes formas de compreensão das notícias e intrinsecamente

promover o debate popular acerca do crime e da prisão. O recorte temático a respeito da

Maioridade Penal nos mostrou que um assunto tão atual pode guardar uma problemática

que vem sendo enfrentada ao longo de muitos anos, o aumento da violência e em

paralelo a isto a criminalização da pobreza.

A análise do Estado, tanto no que tange aos processos e a sua efetiva

consolidação como figura organizativa, quanto as suas ações na administração da

sociedade e da pobreza nos forneceram base teórico crítica para fundamentar nosso

debate acerca do tema e identificar que as ações do Estado são pautadas pelo interesse

do capital. Nesse sentido, acreditamos que enquanto o Estado não abandonar a posição

de Estado mínimo para o controle do avanço capitalista e Estado máximo para o

controle social e punitivo da pobreza, o quadro atual de constantes violações e restrições

das classes subalternas não será superado. Ou seja, na atual organização social não será

possível a superação dessas questões.

Entretanto, é necessário desenvolvermos enquanto profissionais comprometidos

com o enfrentamento da questão social e com as demandas da classe trabalhadora uma

consciência crítica, ética e combativa a essas violações. Entendemos como inerentes ao

Serviço Social as atividades de análise e avaliação de possíveis práticas segregativas e

criminalizadoras das classes subalternas, de modo que, pautados na observação da

realidade e fundamentação teórica possamos trabalhar no enfrentamento e mediação

dessas questões.

A mídia pode servir de instrumento de trabalho para o Serviço Social e

proporcionar a comunicação a partir de um movimento contra-hegemônico de levar a

informação e orientação não só aos profissionais da categoria para também aos usuários

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do serviço no que tange ao acesso a políticas públicas e respeito aos direitos e à

dignidade humana. Identificamos que tal trabalho já começa a ser realizado ao verificar

a atuação do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (7ª região) que

entre as suas comissões organizadas também elaborou uma comissão específica para

assuntos relacionados à comunicação e cultura33. Nesta comissão são realizados estudos

e encontros periódicos para identificar e refletir sobre melhores formas de utilização da

comunicação como um aparelho privado de hegemonia, mas no sentido contrário à

ordem vigente e coerente com os princípios éticos do Serviço Social.

A comunicação precisa ser identificada como um direito humano. A mídia como

comunicador das massas deve servir para as massas que, quantitativamente, são a

maioria. E para além de uma simples abrangência, a mídia deve servir como

instrumento de promoção dos direitos, da inclusão e da sociedade, afinal, a mídia faz

parte e é composta pela sociedade. Conforme relata Santana (2004, p. 3),

[...] mídia, que deve ser passaporte para a inclusão social, promotora da educação em valores, respeitando a cultura e as crenças de cada comunidade. A mídia detém o privilégio do alcance pleno. Falta-lhe encontrar seu verdadeiro sentido de indutora da cidadania, ou seja, despertar no indivíduo o interesse pelo bem comum, pelo bom funcionamento das instituições, pelo bem-estar da coletividade.

Enquanto o trabalho da mídia hegemônica for atravessado pelo interesse do

capital pautando a produção de notícias com fins lucrativos e promovendo a segregação

não haverá avanço no enfrentamento da questão criminal estudada aqui. Obviamente,

não estamos considerando a mídia como único e absoluto incentivador da

criminalização da pobreza e nem como único fator prejudicial ao avanço para uma

organização social justa e sem exploração, mas sim conferindo à mídia hegemônica a

sua parcela de responsabilidade na legitimação do capital e do Estado capitalista.

Compreendemos que a superação da ordem vigente exige muito mais do que a

contribuição midiática na direção contra-hegemônica. Somente com a tomada de

consciência e organização política das classes subalternas poderemos em alguma 33 Para mais informações a respeito da Comissão de Comunicação e Cultura do CRESS – 7ª região, acessar: http://www.cressrj.org.br/site/comissoes-tematicas/comunicacao-e-cultura/

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medida vislumbrar a superação da ordem capitalista exploratória. No entanto,

considerando a mídia como forte construtor de concepções políticas e opinião pública,

não podemos deixar de exaltar a sua força e alcance na sociedade e também não

podemos deixar de mostrar que a sua atuação pode e deve seguir na direção contrária a

hegemonia instaurada, trabalhando como:

[...] ferramenta de motivação que suscite no indivíduo uma visão ativa e crítica do mundo, encorajando-o a adquirir novas experiências. Todo esse extraordinário potencial que tem a mídia deve ser canalizado para alavancar a educação e promover o desenvolvimento da pessoa humana. (SANTANA, 2004, p. 11).

Nesse sentido, a mídia deve ser utilizada como um instrumento, não do capital,

mas da sociedade e do Estado, seguindo no caminho oposto ao que identificamos neste

trabalho, em contracorrente ao capital exercendo o papel social de promover à garantia

de direitos, a inclusão social, a educação, o respeito às diferenças e a emancipação

humana.

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