tau da travessia - a teopoética de milton nascimento

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O Tau da travessia: a teopoética de Milton NascimentoPaulo Botas Pedro Sol Blanco

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© 2013, Paulo Botas e Pedro Sol Blanco2013, Editora Universitária Champagnat

Os cadernos Ciência e Fé, na totalidade ou em parte, não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização expressa por escrito do Editor.

Diretoria de Pastoral e Identidade InstitucionalDiretor-Geral: Rogério Renato MateucciCoordenador de Pastoral: Darly Fatuch

Instituto Ciência e Fé da PUCPRDiretor: Fabiano Incerti

Editora Universitária ChampagnatDireção: Ana Maria de BarrosEditora-Chefe: Rosane de Mello Santo NicolaCapa, projeto gráfico e diagramação: Rjayra Rodriguez RuedaRevisão de texto: Bruno Pinheiro Ribeiro dos AnjosImpressão: Gráfi ca Everest

Conselho CientíficoAdalgisa Aparecida de Oliveira Gonçalves Daniel Omar PerezMario Antonio SanchezWaldemiro Gremski

Conselho Editorial Alceu Souza Eduardo Biacchi Gomes Elisangela Ferretti ManffraElizabeth Carvalho VeigaLorete Maria da Silva Kotze Lúcia Maziero Mônica Panis Kaseker Ruy Inacio Neiva de Carvalho Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

ISSN: 2317-7926

Editora Universitária ChampagnatRua Imaculada Conceição, 1155 - Prédio da Administração - 6º andar

Câmpus Curitiba - CEP 80215-901 - Curitiba (PR) Tel: (41) 3271-1701

[email protected] www.editorachampagnat.pucpr.br

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Sumário

Introdução

O Tau da travessia: a teopoéti ca de Milton Nascimento

Entre a travessia e a resistência: senti nela

Uma teologia da resistência

A proscrição dos poetas e profetas

A utopia: o Tau-não-ainda-possível

Referências

Sobre os Autores

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Este Caderno que agora temos em nossas mãos é o resulta-do de um importante projeto do Insti tuto Ciência e Fé, da PUCPR, denominado Diálogos Contemporâneos. Dialogar é condição ne-cessária do respeito que dedicamos às pessoas, em favor de uma mesma humanidade. Ele é um existencial que aproxima as dife-renças, constrói caminhos, vislumbra perspecti vas. Sem dúvida, estamos num momento da história em que o diálogo se confi gura como uma ação vital e imprescindível e que, para acontecer, ne-cessita de lugares reais de acolhida, de iniciati vas concretas de encontro e de procedimentos qualifi cados de comunicação.

Dialogar com o contemporâneo é um desafi o. Ao colo-carmos esse tema em questão, devemos estar à altura daquilo que ele nos exige e, principalmente, dispostos a assumir as con-sequências de tal escolha. Diante desse “tempo do presente”, concordamos com Giorgio Agamben quando afi rma que o con-temporâneo é “perceber no escuro do presente essa luz que

Introdução

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procura nos alcançar e não pode fazê-lo. Por isso mesmo, os contemporâneos são raros. E, por isso, ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque signifi ca ser capaz não apenas de manter fi xo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infi nitamente de nós”1.

Com uma clara inspiração no projeto Átrio dos Gentios, do Ponti fí cio Conselho para a Cultura, o objeti vo dos Diálogos Contemporâneos se efeti va na criação de pon-tes entre diferentes visões de mundo. Inserido no universo acadêmico, e a parti r de uma conversa verdadeira sobre as-suntos que tangem à existência humana e sua relação com o transcendente, espera-se traçar percursos comuns, nos quais a escuta qualifi cada e a interlocução transparente se transformem em fontes originárias para as buscas de sen-ti do e para, quem sabe, como nos inspira o Cardeal Ravasi, um aventurar-se pelas altas veredas do mistério — que, para aqueles que acreditam, traduz-se na experiência de Deus, e para outras pessoas, num encontro com o Desconhecido.

Esta segunda edição dos Diálogos Contemporâneos tem a responsabilidade de discuti r a fé e a espiritualidade nas músicas de Milton Nascimento. A simplicidade é uma marca da criação artí sti ca e do jeito de ser desse gênio “mineiro” e brasileiro, e suas canções tocam profundamente a alma da-queles que estão sensíveis ao inesperado. Suas letras e melo-dias nos convidam a fazer travessias: falam do amor em todas as dimensões e nos lembram que uma vida, para ter senti do,

1 AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. p. 65.

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precisa de buscas, de sonhos, de solidões e de fé. Bituca, como os amigos o chamam carinhosamente, desfaz com sua arte a tênue linha que separa (ou aproxima) a imanência da transcendência, e nos ensina que somos mais felizes quando senti mos, em nossa existência, a beleza e a angústi a do mis-tério que nos envolve. Aos poucos, vamos compreendendo as doces palavras de Elis Regina quando diz que, “se Deus cantas-se, seria com a voz do Milton”.

Unir teologia e poesia. Essa foi a forma que o teólogo Paulo Botas e o músico Pedro Sol, ambos amigos do Bituca, en-contraram para falar de fé e espiritualidade nas músicas do can-tor. E eles o fi zeram com sensibilidade e competência, próprias daqueles que compreendem, a parti r de sua maneira singular de ver o mundo, que a vida se constrói na místi ca do caminho. E o que eles nos ensinam? Que a teopoéti ca de Milton é canção proféti ca, forte; de uma fé engajada com o tempo, com a histó-ria, com a natureza. Mas é também canção que dura para sem-pre, porque nos recorda, a todo instante, que somente somos plenamente humanos quando estamos abertos ao infi nito.

Nosso agradecimento ao Paulo, ao Pedro e também ao Edu Spiller, que tornaram possível, com sua amizade, a realização de mais um Diálogo Contemporâneo.

Fabiano Incerti Diretor do Instituto Ciência e Fé da PUCPR

Ir. Rogério Renato MateucciDiretor de Pastoral e Identidade Institucional da PUCPR

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A Daniel Cielo Blanco, mano da travessia...

Antes mesmo de ser um encontro, pude crer que o come-ço está com gosto de conti nuação no fl uxo da eternidade.

Plenitude e fraternidade fl uem solos no meu ser, sem barreiras pendentes, muito menos dúvidas presentes das mazelas ou bondades puras dessa terra. A raiz dos meios de contato, a

ciência, a fí sica quânti ca e o amor universal pleno, contém em sua seiva a resposta original e genuína, baseando, na cumpli-

cidade da vida, na humildade de errar e assumir – nem que seja fazer o sinal da paz e sorrir, ou senão um “tudo bem” e

sumir, nem que seja por um segundo na linearidade da ilusão –, aquilo que chamamos de tempo, que é mano do vento, que

fez pacto com o mar, que salgou a terra e secou ao sol.

(Pedro Sol Blanco, O começo, os meios e o fi m)

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O Tau da travessia:a teopoética de

Milton Nascimento

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As pessoas necessitam saber o que são elas mesmas. Há em cada um de nós um certo tom, uma certa palavra,

e nosso dever é fazer disto nosso próprio poema, nosso próprio canto, uma sinfonia. Se faltarmos a esse dever,

teremos vivido em vão.

(Eugen Drewermann)

Há espaço para tudo numa única vida. Para acreditar em Deus e para um fi m miserável... é uma questão de se viver a

vida de minuto a minuto, acolhendo, além disso, o sofrimento.

(Ett y Hillesum, Diários 1941-42)1

As travessias da vida são diversas e plurais. Das afeti vas às políti cas, elas vão se revelando a cada novo momento e a cada novo encontro. Guimarães

Rosa (2006, p. 553) escreve no seu mais célebre romance: “Existe é homem humano. Travessia”.

Para ele, travessia tem o senti do simbólico de vida, transposição de etapas: “digo: o real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da tra-vessia” (ROSA, 2006, p. 57). No entanto, se são plurais as travessias, o caminho a perseguir (Tau) é um só: a busca da plenitude que as várias culturas religiosas nomearam de Deus, não só numa aventura de alegria, encontros, mas também de sofrimentos e cruzes.

1 Etty Hillesum, holandesa de 29 anos, assassinada em Auschwitz em 30 de novembro de 1943.

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Ontem deixei muito claro para mim que eu demorei 27 anos para conhecer o verdadeiro amor universal, que é resultado da união de todas as coisas não sagradas nem pagãs, e sim a união de toda a natureza, que resulta no que chamamos de Jehovah, Alah, Deus, Jah, Criador, Todo Poderoso, dentre muitos outros nomes que nossa história cultural denominou, ao longo das gerações e nos diferentes cantos geográfi cos do nosso pequeníssimo mundo, mais vulnerável que uma pulga no pescoço de um cão peludo!

(Pedro Sol)

O Tau é a 22ª e últi ma letra do alfabeto hebraico. No alfabeto grego é a 19ª, associada ao número 300, uma combi-nação derivada dos números 3 e 100 (este, um múlti plo de 10, que representa a perfeição). Para os cristãos, essa letra marca a contradição e a rasteira que o Senhor passa em todos os que pensam poder reduzi-Lo a conceitos racionais e tangíveis: “A loucura de Deus é mais sábia que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens” (1 Cor 1,22-25).

Essa letra sempre foi usada como sinal. Para os he-breus, a plenitude do alfabeto; para os gregos, num duplo senti do: como cruz e como vida; para os romanos, em suas listas militares, era escrita ao lado do nome dos soldados para signifi car que eles estavam vivos.

Essa marca é apresentada pelo profeta Ezequiel como o anúncio e a esperança da plenitude do pacto feito pelo Senhor: “Eu lhes darei um coração íntegro e infundirei neles um espírito novo: eu lhes arrancarei o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” (Ez 11,19).

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Na libertação do Egito, a marca do Tau foi feita com o sangue do cordeiro nas molduras das portas, para que o Senhor, quando passasse pelo Egito para casti gá-lo, respei-tasse as que estavam com aquele sinal e não deixasse o ex-terminador penetrar nas casas dos hebreus (Ex 12,21-23).

O Tau é um sinal no meio da travessia. O caminho de uma escolha espiritual e o testemunho de vida concreti zado no amor, na verdade e na liberdade. No livro do Apocalipse, o Tau é o selo do Deus vivo: “Vi outro anjo que subia do oriente, com o selo do Deus vivo, e gritava com voz potente aos quatro anjos encarregados de causar dano à terra e ao mar: não cau-seis dano à terra nem ao mar nem às árvores, até que selemos a fronte dos servos do nosso Deus” (Ap 7,2-3).

São Francisco assinava seus escritos com a letra Tau, que, para ele, signifi cava a bênção de Deus: “Que o Senhor te abençoe e te guarde; que o Senhor faça brilhar sobre ti a Sua face e Se compadeça de ti ; que o Senhor volte para ti o Seu rosto e te conceda a paz” (Nm 6,24-26).

O Tau é o símbolo de uma vida sempre renovada que afasta a velhice e a mesmice dos que só cobram resultados e perdem a gratuidade de existi r: é o símbolo da cruz, da intersecção entre o humano e o divino, para testemunhar que tudo tem um preço, que a vida não é impune e que o Senhor nos chama a fazer dela uma consagração de amor e de liberdade. Por essa razão, o Tau não pode ser reduzido a um mero elemento exterior ou decorati vo. Ele é um selo, uma marca, uma tatuagem gravada, a ferro e fogo, como símbolo e sinal da força interior e da bênção que devemos ser para os que nos amam e nós amamos (BIGI, 2004).

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O Papa Bento XVI (2005, p. 33, 39) escrevia:

O cristão é alguém que durante a sua vida tem de compre-ender que as suas certezas e a sua situação pouco se dis-ti nguem das dos outros, mesmo que ele tenha pensado o contrário anteriormente. Existe sempre uma ameaça da incerteza, da tentação e com toda a dureza a fragilidade de tudo aquilo que costumava parecer-lhe tão evidente. No mar do oceano das incertezas da vida se encontra cada um de nós. A única coisa que nos salva e não nos faz afun-dar é a trave da cruz, o Tau, que nos liga a Deus.

Assim se faz a travessia dos homens e das mulheres: algumas vezes náufragos, sempre errantes num mundo in-certo; outras vezes agarrados a um pedaço de madeira como um joguete das ondas do oceano. E todos nós estamos re-almente presos a uma cruz, mas a uma cruz – um Tau – que não está preso a mais nada, porque está fl utuando no mar.

Entre a travessia e a resistência: sentinela

Milton Nascimento surge no cenário da música brasi-leira em 1965, no II Festi val Nacional da Música Popular, con-vidado por Baden Powell para interpretar uma composição deste em parceria com Lula Freire, chamada “Cidade vazia”. Em 1966, Elis grava “Canção do sal”2, e então tem início a travessia poéti ca do Bituca, seu apelido carinhoso. Milton

2 Gravada por Elis Regina em 1966, no disco Elis, e por Milton no disco Courage, em 1969.

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conta que havia lido um livro sobre as canções de trabalho dos negros do Mississipi (sul dos EUA) e voltou à sua me-mória o tempo de quando era criança e sua madrinha o levou para Cabo Frio. A imagem dos salineiros, da água do mar virando sal, teceu uma rede de associações com os ne-gros americanos e surgiu a poesia, na máquina de escrever do escritório de Furnas, em Belo Horizonte, onde exercia o cargo de dati lógrafo3. O coti diano desses homens salta aos olhos e ao coração:

Trabalhando o sal, é amor o suor que me saiVou viver cantando o dia tão quente que fazHomem ver criança buscando conchinhas no marTrabalho o dia inteiro pra vida de gente levar

E a sua indignada indagação sobre a destruição da na-tureza e sobre a exploração da força vital desses homens, obrigados a vender sua vida na esperança de um futuro me-lhor para suas mulheres e seus fi lhos. A preocupação social de Milton já vem delineada na canção, e será sua eterna companheira de travessia.

Água vira sal lá na salinaQuem diminuiu água do mar?Água enfrenta o sol lá na salinaSol que vai queimando até queimar

3 Todas as letras e informações são extraídas do livro Contos da água e do fogo: a poesia de Milton Nascimento, notas organizadas por Danilo Nuha (a ser publicado).

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Trabalhando o sal pra ver a mulher se vesti re, ao chegar em casa, encontrar a família a sorrirFilho vir da escola, problema maior de estudarQue é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar

No período de ebulição social e políti ca de canções de protesto, teatro de denúncia e shows politi zados, Milton não fi ca imune a essa contestação toda e escreve “...E a gente sonhando”4 (1962-1963):

Há quem muito sofre, porque quer sofrerHá quem muito chora, porque quer chorarHá quem não quer nada e de tudo teme, tendo de tudo, nunca tem ninguém

Em 1966, Milton escreve “Morro velho”5, motiva-do pela situação vivida na fazenda da tia de Wagner Tiso, onde as crianças brincavam juntas – os meninos da casa do patrão e os da fazenda:

Filho de branco e do preto correndo pela estrada atrás de passarinho Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos

4 Disco ...E a gente sonhando, 2010.5 Dos discos Milton Nascimento, de 1967, e Courage, de 1969.

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Passava um trem na beira do rio à margem da fa-zenda e, profeti camente, sua poesia descreve o que seria inevitável:

Filho do sinhô vai embora, tempo de estudo na cidade grande

O pacto dos amigos é feito pelo que parte, sem saber que as condições sociais desiguais entre os dois os separa-riam para sempre:

Não se esqueça, amigo, eu vou voltar

A volta do amigo que parti ra é marcada pelo status conquistado a parti r do trabalho da família e de seu amigo de infância:

Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandarE seu velho camarada já não brinca, mas trabalha

No Festi val Internacional da Canção de 1967, com “Travessia”, Milton tem uma parti cipação consagradora e solta, defi niti vamente, a voz nas estradas sem parar, ainda que seu caminho fosse de pedra e lhe fosse custoso sonhar.

Nesses tempos de preconceito religioso, sobretudo com os afrodescendentes, em que a hegemonia religiosa era católica romana e das igrejas evangélicas, Milton compõe “Pai Grande”6 e, sem saber o porquê, rende homenagem ao

6 Disco Milton, 1970.

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dono do seu Orí 7, Oxalufã, orixá sincreti zado com Jesus Cristo. Emergia sua dimensão religiosa feita poesia e canção:

Meu pai grande, quisera eu ter sua raça pra contara história dos guerreiros trazidos lá do longe sem sua paz

E revelava a conquista do Ìwà Pèlé, o bom caráter dos seus ancestrais:

De onde eu vim, é bom lembrar,todo homem de verdade era forte e sem maldadePodia amar, podia ver todo fi lho seu seguindo os passose um canti nho pra morrer [...]Se estou aqui, trouxe de lá um amor tão longe de menti rasQuero a quem quiser me amar...

Esse tema seria retomado no encerramento da Missa dos Quilombos, escrita por Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, e realizada no Recife, em 1981, na praça em que ex-puseram a cabeça de Zumbi, líder de Palmares. A ameaça feita pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) não inti -midou nem Milton nem os bispos Dom Hélder Câmara, Dom José Maria Pires, Dom Marcelo Cavalheira e Dom Pedro Casaldáliga, que a concelebraram.

Em 1985, escreve a poesia “Lágrima do Sul”, uma crí-ti ca contra o Apartheid na África do Sul:

7 Orí, na língua yorùbá, signifi ca “cabeça, alma orgânica, perecível cuja sede é a cabeça, inteligência, sensibilidade, em contraposição ao emi, espírito, sopro, imortal” (CACCIATORE, 1977, p. 205).

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África, berço de meus pais, ouço a voz do seu lamento,de multi dão, grade e escravidão, a vergonha dia a diaE o vento do teu sul é semente de outra História que jáse repeti u, a aurora que esperamosE o homem não senti u que o fi m dessa maldade é o gás que gera o caos, é a marca da loucuraÁfrica, em nome de Deus cala a boca desse mundoe caminha, até nunca mais, a canção torce por nós

Milton evoca o preconceito contra os judeus, o Holocausto e o genocídio produzido pela Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje, o preconceito não foi abolido, e pelas ruas e pelos becos de nossos países cresce o movimento violento dos neonazistas contra os pobres, os negros e os homossexuais. O dramaturgo alemão Bertold Brecht escre-veu, profeti zando: “Não se alegre com a derrota dele, jo-vem. Embora o mundo erguido tenha derrubado o canalha, a cadela que o gerou está no cio novamente”.

No fim dos anos 80, Milton também se solidari-za com a questão ambiental, com a causa dos Povos da Floresta e das Nações Indígenas e realiza uma expedi-ção pela Amazônia, com o apoio do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e do Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações Indígenas (UNI), que resulta na criação do disco Txai8 – termo que signifi-ca: companheiro, a outra metade de mim, palavra da lín-gua da nação Kaxinawa.

8 Disco Txai, 1990.

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Uma teologia da resistência

A Resistência e o Amor

Rasgaram fora meu bloco de notasE me deixaram algumas páginas em brancoPara o desencantamento do que foiE o despertar defi niti vo do que virá

Jogaram vento e, de paraquedas,Eu encontrei uma térmica infi nitaPara o desencantamento do que foiE o despertar defi niti vo do que virá

Foi tentando que erreiFoi achando que perdiA essência do que souA resistência e o amor

Mas como não desisto nuncaDe perseguir minha verdadeDou da nuca ao calcanharA quem por mim passarNa resistência e o amor, O amorNa resistência e o amor,O amor...

(Pedro Sol)

Em 1973, em plena Ditadura Militar, no governo do General Médici, o período mais violento da repressão,

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Milton gravou “Sacramento”9, e nesta letra encontramos o cerne da sua opção existencial e de seu canto: um apelo à resistência e à esperança.

Três pessoas vieram me pedir Não morra que o mundo quer saberAs coisas que a vida não te impôsA morte que sempre a ti perdeuO amor que teus olhos sabem darCom o pranto calado me caseiDe noivo do pobre me torneiNo crisma de busca assumiO quarto fechado que afasteiQue um banho de cinzas bati zouE o mais que consigo é dizer:Com o pranto calado me caseiUm banho de cinzas bati zouO quarto fechado que afasteiNo crisma de busca assumiDois olhos que ainda não achei.

Viver é não conceder na morte, não temer, resis-ti r, perseverar. Caminhar para onde se encontra a vida. Profeti camente, denunciar ao mundo este confl ito cons-tante e histórico entre a imposição dos opressores e a bus-ca da liberdade e dignidade dos oprimidos. Ter a lucidez de que a vida dos opressores é paga à custa da pouca vida ou mesmo da morte dos oprimidos. Nessa resistência é que afi rmamos nossa capacidade de amar. Um amor em atos e

9 Disco Milagres dos Peixes, 1973.

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obras. Não o amor das boas intenções, que não nos leva a lugar e parte alguma; nem o amor das evasões em nome do “ainda não é hora de...”.

Esse pseudoamor vela as verdadeiras contradições e as exigências concretas dos embates e desafi os pela instau-ração da paz e da justi ça. Não podemos ceder nem conceder às estruturas da morte que convertem em banalidade a vida de nossos irmãos e irmãs. Deve-se resisti r na travessia para fruti fi car o “amor que teus olhos sabem dar”.

Não podemos temer a novidade que a travessia da vida nos apresenta sempre. Como nos prega o Papa Francisco (2013a):

Frequentemente mete-nos medo a novidade, incluindo a novidade que Deus nos traz, a novidade que Deus nos pede. Fazemos como os apóstolos, no Evangelho: muitas vezes preferimos manter as nossas seguranças, parar junto de um túmulo com o pensamento num defunto que, no fi m das contas, vive só na memória da história, como as gran-des fi guras do passado. Tememos as surpresas de Deus e Ele não cessa de nos surpreender. O Senhor é assim.

Como o poeta e cantor Pedro Sol, que, não temendo a imprevisibilidade do Transcendente, busca-O dizendo:

Rolando a lista telefônica, mal lendo os nomes direito, apresso-me para achar um nome que não comece com nenhuma letra, um número sem conter dígito, um mapa sem estrada, uma rota sem chegada, uma pétala sem fl or, uma gota sem mar, um Deus sem religião, um erro

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encaixar num acerto maior, numa meta sem alvo, num jogo sem gol nem pontos, muito menos números.

Ou como o profeta amado por Milton:

Imagine que não há céuÉ fácil, se você tentarNenhum inferno embaixo de nósE, em cima, só fi rmamentoImagine todo mundoVivendo pro dia de hoje.

Imagine não haver paísesNão é difí cil imaginarNada por que matar ou morrerE nem religião tambémImagine todo mundoVivendo a vida em paz.

Você pode dizerQue sou um sonhadorMas não sou o único nãoEspero que um diaVocê se junte a nós E o mundo será uma coisa só.

Imagine não haver possesDuvido que você possa,Sem lugar para a gula ou a fome,Uma fraternidade do homemImagine todo mundoParti lhando todo o mundo.

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Você pode dizerQue sou um sonhadorMas não sou o único nãoEspero que um diaVocê se junte a nósE o mundo viverá como um só10.

Milton, em sua poesia, revela que as opções de nossa vida se fazem em momentos de profunda solidão. Não de uma solidão que nos isola dos companheiros, mas uma soli-dão que dimensiona a estatura do gesto a ser vivido e que é sempre, e deve ser, um gesto concreto de amor. Como afi rma Gabriel Marcel: “a solidão é essencial para a fraternidade”11. “Com o pranto calado me casei” é esposar o pranto calado, triste e difí cil como o do Cristo que balbuciava: “A minha alma está triste até a morte” (Mc 14,34).

Milton conti nua a revelar as escolhas a serem feitas: “De noivo do pobre me tornei”. Tornar-se noivo do pobre é reconhecer que a ele é anunciada a Boa Nova e que os pobres são os depositários da força de Deus. Nunca podemos esposar o pobre, pois esposá-lo é reconhecer que sua condição social

10 John Lennon, Imagine, 1971. Imagine there’s no heaven/It’s easy if you try/No hell below us/Above us only sky/Imagine all the people/Living for today./Imagine there’s no countries/It isn’t hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace./You may say/I’m a dreamer/But I’m not the only one/I hope some day/You’ll join us/And the world will be as one./Imagine no possessions/I wonder if you can/No need for greed or hunger/A brotherhood of man/Imagine all the people/Sharing all the world./You may say/I’m a dreamer/But I’m not the only one/I hope some day/You’ll join us/And the world will live as one.

11 Agradecemos a André de Azevedo pela lembrança desta citação.

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é querida por Deus, como tantas vezes nossos manuais de teo-logia têm repeti do ad nauseam: “É a vontade de Deus...”.

No entanto, os ricos vão fenecer como a fl or da erva do campo, pois “quem se farta de riquezas não consegue dormir” (Ecl 5,11). O Senhor exige de nós uma imediata decisão: de qual lado estamos? Da vida? Da morte? “Assim porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca” (Ap 3,16). O últi mo livro selou a sorte dos ricos: “Pois dizes: sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso. Não sabes, porém, que és tu o infeliz: miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3,17).

Milton avança na sua revelação: “No crisma de bus-ca assumi, o quarto fechado que afastei, que um banho de cinzas bati zou”. A busca de um mundo novo se faz por meio de nossos engajamentos e compromissos com os que se reconhecem companheiros, que comem do mesmo pão. Seremos sinal de contradição, acolhidos por uns e amaldiço-ados por outros. Seremos o sim e o não ao mesmo tempo.

Romper o quarto fechado é destruir os muros para dei-xar o sol entrar; é sermos pontes para que nos convertamos em distribuidores da misericórdia e da generosidade, e não guardiões intransigentes da intolerância. Sermos bati zados no banho de cinzas é reconhecer a humildade de que somos todos fi lhos do mesmo Pai e que não devemos trabalhar tão perfi damente uns contra os outros (cf Ml 2,10). Essa humilda-de, esse lavar os pés uns dos outros, é a força interior que nos faz construir um caminho de solidariedade entre os homens e as mulheres, que nos faz perseverar e resisti r na esperança.

O Papa Francisco (2013b) declara que devemos estar a serviço uns dos outros, pois esse sinal – o de servir – “é

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uma carícia de Jesus, que Jesus o faz, pois Jesus veio justa-mente por isso: para servir”.

Quando o poder e a posse são considerados fi ns em si mesmos, não há nenhuma presença samaritana do serviço. O poder será um poder contra os outros, e a posse, a exclusão dos outros.

Deixar Fluir

Leve o pensamento o mais longe que puderMas volte com o vento antes do sol se pôrTudo tem moti vo, não importa o que forAs perguntas sem respostas muitas vezes causam dor

Não vou fugir, eu vou sonharMe distrair no teu olharVou te pedir pra responderO que ainda não entendiVou deixar fl uir, deixa fl uirDeixa fl uir através de ti ,Vou deixar fl uir, deixar fl uirDeixar fl uir através de mim

Lógica só me atrapalha a entender melhorMeu próprio entendimento se limita na razãoQuero ir além do que meus olhos podem verEu quero ter meus pensamentos focados só em você

Não vou fugir, eu vou sonharMe distrair no teu olharVou te pedir pra responderO que ainda não entendi

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Vou deixar fl uir, deixa fl uirDeixa fl uir através de ti ,Vou deixar fl uir, deixar fl uirDeixar fl uir através de mim

Leve o pensamento o mais longe que puderMas volte com o vento antes do sol se pôrTudo tem moti vo, não importa o que forAs perguntas sem respostas muitas vezes causam dor

Não vou fugir

(Pedro Sol)

Finalmente, Milton revela que este caminho insondá-vel da busca de “dois olhos que ainda não achei” será reali-zado quando o mundo novo for criado e tenhamos defi ni-ti vamente rompido com a opacidade e o ressenti mento de quem não entrega sua vida.

Se a solidão matasse, eu já estaria morto, mesmo tendo família, amigos e elogios. Se a perdição morresse, eu já es-taria morto, pois, afi nal, na vida só se encontra quem já se perdeu. Perdida nessa história está a noção dos que foram sujeitos à vossa verdade, nas vossas condições. Quero um pacto com a liberdade, um contrato com o silêncio, tascar um beijo na solidão e abraçar por inteiro a redenção de amar e ser amado, chorar e ser consolado por alguém sem interesse, uma mão sem conter braço, um coração sem ha-ver compasso, contando dias, horas, meses e segundos para

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decifrar a duração de um ano, que perde, a cada ano, mais uma fração de segundo, refracionando em si um reboot do acervo apresentado pelos mesmos que vivem pela lei que diz o que é e o que não é nessa pequena terra mesquinha e inúti l, se não houvesse a possibilidade da aproximação da presença da santa música e do sagrado amor universal

(Pedro Sol)

Dom Pedro Casaldáliga escreveu sobre Milton: “Digo eu. Canta Milton. Gritam livres, os pobres. Não é possível que conti nuem as estrelas impassíveis”. E neste julgamento fi nal, as estrelas não estarão impassíveis porque aprenderam que “o que estava escrito era irrepetí vel desde sempre e por todo o sempre, porque as esti rpes condenadas a cem anos de so-lidão não ti nham uma segunda oportunidade sobre a terra” (Gabriel García Márquez).

A proscrição dos poetas e profetas

Milton ti nha a lucidez de que sua proscrição como músico e poeta havia de acontecer porque se alinhara, no seu silêncio mais do que na ti midez, aos que enfrentavam o governo autoritário e militar com toda a sua censura aos ar-ti stas e poetas. Seu disco Milagre dos Peixes, gravado no es-túdio, em 1973, teve quase a totalidade das suas letras proi-bidas. Milton não se inti midou, lançou o disco com vocalizes no lugar das letras censuradas. Um marco no enfrentamento

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ao obscuranti smo cultural do regime ditatorial que estendia suas garras vorazes aos músicos, dramaturgos e poetas do país: presos, torturados, exilados e mesmo desaparecidos.

Em 1981, escreve seu poema de enfrentamento “Olha”12:

Tu clamas por liberdade, mas só aquela que te convémTu puxas a arma no escuro e não suportas ninguém felizPersegues a quem trabalha, calúnia, carga e traiçãoTe julgas o mais esperto, mas és menti ra, só ilusãoDepois de passar o tempo colhe o deserto que é todo teuCom todo teu preconceito segue pensando que enganas DeusE enganando a ti mesmoPois quem trabalha conti nuou em cada sonho suadoque nem percebes o que custou.

Milton faz desmoronar os esquemas preestabeleci-dos e rigidamente pré-fi xados. A vida é obra do coração de cada homem, intransferível, e não o produto de uma cadeia de montagem. Cada um tem seu ritmo e seu iti ne-rário. Cada um tem sua liturgia de gestos e palavras para expressar seu amor, mas também sua indignação.

Milton sempre acolheu os que buscam, questi onam, enfrentam, os que se debatem nas incertezas e perseguem, como ele, um raio de luz. É uma busca dolorida que pode ser mais autênti ca que a posse de uma certeza que provoca a acomodação e a esclerose. A inquietude de Milton é traço vital da sua travessia existencial, com tudo o que carrega

12 Disco Ânima, 1982.

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não só de proscrição, de maledicência, mas também de en-contros e despedidas. Sabe que:

Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; des-truir no senti do de romper com o passado e as tradições já mortas. Desvincular-se do meio excessivamente cô-modo e seguro da infância para a consequente doloro-sa busca da própria razão do existi r: SER é OUSAR SER (HESSE, 1999).

Não abrirei mão do meu sossego

Quanta farsa e hipocrisiaEu não aguento mais viverO sonho falso de outro serQue é mesquinho e pequenoCom o que merece mais atenção:Um bom carinho, um trato raro, singelo e aguçado, sem pretensão, senti ndo a premonição dascoisas lindas que estão por vir,Das muitas vidas que pude abstrair do meu ser, que é singeloE com intenção plena e pura de devoção a todos que procuram, como eu, o porquê.Atento ao vento e ao imprevisível,encontrei a minha sina,minha reza e devoção...

Não abrirei mão do meu sossego(Pedro Sol)

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Milton fora marcado com o sinal de Caim, o da pros-crição, mas reconhecia no mais fundo de si mesmo todos os outros também marcados pelo mesmo sinal. Seria Caim para os covardes e medíocres, mas Abel para Deus.

Para o mundo, nós, os marcados com [o sinal], haveríamos de passar por pessoas estranhas, talvez loucas e até mesmo perigosas. Éramos pessoas que havíamos despertado ou des-pertávamos, e nossa aspiração era chegar a uma vigília ainda mais perfeita, enquanto a aspiração e a felicidade dos demais consisti am em ligar cada vez mais estreitamente suas opi-niões, seus ideais e seus deveres, sua vida e sua fortuna, às do rebanho. Para eles, a humanidade era algo completo que devia ser conservado e protegido. Para nós, a humanidade era um futuro distante para o qual todos caminhávamos, sem que ninguém conhecesse sua imagem e sem que se en-contrassem escritas suas leis em parte alguma (HESSE, 1999).

Ecoava, neste credo do Bituca, o Credo da teóloga alemã Dorothee Sölle:

Eu creio em deus que não criou um mundo imutável, algo incapaz de se modifi car, que não governa de acordo com leis que permanecem invioladas [...] eu creio em deus que deseja confl ito na vida e quer que nós transformemos o status quo, pelo nosso trabalho, por nossas políti cas e por nossos sonhos (FOX, 2011, p. 269).

Milton vai confi rmar, em alto e bom som, sua posição diante da vida em “Teia de Renda”13:

13 Disco Ânima, 1982.

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Do meu desti no, o que restouMarca profunda de muito amorTão procurada, iluminadaEssa loucura que me abraçou [...]Eu não aceito o que se fazNegar a luz, fi ngindo que é pazA vida é hoje, o sol é sempreSe já conheço, eu quero é maisO que se andar, o que crescerSe já conheço, eu quero mais

A utopia: o Tau-não-ainda-possível

Essa busca tomou conta... por meio da busca do Ser Superior que se encontra dentro, ao redor e impregnado nas entranhas dos simples e humildes de coração, que acei-tam, como eu, que somos seres frágeis, fracos impotentes e inúteis sem a inspiração divina do Tau “Ser Superior”.

(Pedro Sol)

Essa esperança de um mundo novo é mais ainda agu-çada em Milton, ao conhecer o místi co dominicano Mestre Eckhart, do século XIV, punido pela Igreja ofi cial “por ensinar e escrever doutrinas heréti cas”. Em Eckhart, pensamento, vida e fé assumem a mesma coloração da unidade, do UM em cada homem, sem exceção, mesmo “quando ainda não era”, uma centelha divina.

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A declaração sobre a Trindade e sua pericorese (daça) o emociona profundamente: “O Pai sorri para o Filho, o Filho sorri para o Pai, e o sorriso faz nascer o prazer, o prazer faz nascer a alegria e a alegria faz nascer o amor” (MESTRE ECKHART apud RADCLIFFE, 2004, p. 35). Milton, moti vado, grava, de viva voz, esta frase no seu disco ...E a gente sonhan-do14 como epígrafe do seu poema “Sorriso”:

Sim, o teu sorriso penetrou minha almaComo um fi lme de Truff autMúsicas, crianças nessa mesma festa colorida céu fi cou [...]Nunca uma menti ra nenhuma tormentaNas janelas do teu serSolta sonho e vidaCulti va a amizade faz o teu amor vencer [...]Não desapareças, o mundo precisa da beleza para renascerTudo mais que eu queira é cumplicidade, ajudar quem quer viver.

Essa cumplicidade humana, demasiadamente huma-na, culti vada, a duras penas, na travessia de Milton, aponta para a eternidade do Transcendente. Juntam-se as vozes de Bituca e Eckhart:

De Deus é a honra. Quem são os que honram a Deus? São os que deixam totalmente a si mesmos e, de modo algum, nada buscam do que é seu em nenhuma coisa, seja o que for, grande ou pequeno; não veem nada abaixo nem acima de si, nem ao seu lado nem em si mesmos;

14 Disco ...E a gente sonhando, de 2010.

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que não procuram bem, honra, conforto, prazer, uti lidade, nem interioridade, nem santi dade, nenhuma recompensa nem mesmo reino dos céus e que se tornaram exteriores a tudo isso, a tudo que é seu. Dessas pessoas Deus recebe honra. E elas honram a Deus, no senti do próprio, dando a Deus o que é de Deus (MESTRE ECKHART, 2010, p. 69).

A estrada da vida me aguardou fazer a mala enquanto eu aguardava e estudava o tempo aberto. Ontem aprendi, na práti ca, que o sol conti nua brilhando acima das nuvens escuras. Hoje, virei a chave do carro da minha vida e saí debaixo de chuva atrás do meu desti no.

(Pedro Sol)

Em síntese, para Eckhart, Cristo é todos os homens e todo homem pode ser Cristo. A uni-versalidade do evento Cristo não se restringe a um fato histórico chamado cristi a-nismo, nem a uma ou outra insti tuição. A historicidade des-se evento lança raízes e vem à luz na própria humanidade do homem, que é divina.

Há um poema indiano que pode ilustrar a visão cós-mica de Eckhart (2010, p. 33)15, em que em cada grau sem-pre está presente o todo do universo da força, não como soma das partes, mas como força remissiva uno-múlti pla. Na identi dade de atuar e ser, no entanto, dá-se sempre e somente unidade:

15 Para quem desejar aprofundar a visão cósmica de Eckhart, ver o Sermão 54 na obra citada, p. 296.

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Deus dorme na pedra, respira na plantaSonha no animal e desperta no homem

Nessa sintonia, Milton denuncia o uti litarismo do mundo, o consumismo desenfreado que impede o encontro mais ínti mo entre os homens e as mulheres. Nele, ainda eco-am as palavras do místi co:

Muitas pessoas, porém, querem ver a Deus com os mes-mos olhos com que veem uma vaca, e querem amar a Deus como amam uma vaca. Amas uma vaca por causa do leite e do queijo, e por causa do teu próprio proveito. Desse modo comportam-se todas aquelas pessoas que amam a Deus por causa da riqueza exterior ou de conso-lo interior. Elas, porém, não amam propriamente Deus e sim o próprio proveito16.

E Milton arremata, em 1984, em “A Primeira Estrela”17:

Perdoar e fazer crescer o bem comum, o seu trabalho, seu sustentoA emoção de ver seu fi lho tecer, com mão, a cor da liberdade Sua casa, casa clara, clara paz celebrando a naturezaAbraçar o mundo na ternura e na dor,elevar o pensamento e tornar-se rei [...]Nosso irmão, Senhor das manhãs com sua estrela deusa, lua novidadeSimples coração de prata de lei

16 Idem, Sermão 16.17 Disco Encontros e Despedidas, 1985.

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Nosso coração traz tanto pranto, pranto, pranto tanto canto, pra soltarRenascer da velha história abraçando o mundo da ternura e na dorNos ensina a escrever a canção do sol

Finalmente, o Tau, caminho e cruz, nos é apresenta-do com toda a sua força e virulência. Nas nossas travessias múlti plas e plurais, o caminho a ser conquistado e trilhado é o caminho da amizade e do amor, que é o único que nos conduz ao Transcendente.

No poema “Tudo”18, de 1979, Milton nos convida a despertar:

Barco é pra quem pode, barco é pra quem querPássaro que pousa onde vê. Onde está a entrega, tua vibração Num abraço, um beijo é teu coração.Tá tudo o que importa coisa de irmão que nunca terminaÉ só conhecer.Raiva, me ajuda que a morte é solidão. [...]Barco é só um nome e é tudo de vocêÉ chamada, é vinda, é o fundo, é se verTá tudo o que importa onde está o irmãoPássaro que pousa barco é o coração.

18 Disco Sentinela, 1981.

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Milton conti nua a reafi rmar, como um grito preso na garganta, em “De Magia, de Dança e Pés”19, de 1980:

A pulsação do mundo é o coração da genteO coração do mundo é a pulsação da genteNinguém nos pode impor, meu irmãoO que é melhor pra gente.

Declara a sua defi nição de alma no poema “Ânima”20, como uma concretude de ternura e coragem:

Alma, vai além de tudo o que o nosso mundo ousa perceberCasa cheia de coragem, vidaTodo afeto que há no meu ser te quero ver, te quero ser alma.

Milton aprende que, tanto no amor quanto na amiza-de, ninguém é dono nem devedor. Uma reciprocidade amo-rosa que deve conduzir os que se amam a olhar na mesma direção e não somente um para o outro. O segredo do ca-minho do amor e da amizade é cada um buscar fazer feliz o outro e não procurar realizar a sua própria felicidade no outro, pois neste caso não amamos o diferente de nós, mas nosso próprio espelho.

Milton nos exorta, em “Portal da Cor”21:

Coragem, companheiroPra que fechar a voz

19 Disco Caçador de Mim, 1981.20 Disco Ânima, 1982.21 Disco Encontros e Despedidas, 1985.

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Se a força do desejoPulsa em cada um de nós?

Milton fez gravar, na porta da sua casa, há alguns anos, um texto de Santo Agosti nho:

As conversas, o rir juntos, a leitura conjunta de livros amenos, os passatempos em comum, ora leves, ora sé-rios, as brigas ocasionais sem rancor, como de um homem consigo mesmo, os mais frequentes acordos, o ser um do outro ora mestre ora discípulo, a saudade impaciente de quem está longe, a acolhida festi va de quem volta – estes e outros sinais semelhantes, próprios de corações amigos, expressos com a boca, a língua, os olhos e mil gestos ex-tremamente agradáveis – tudo isso é como o alimento da chama que funde juntas as almas e de muitas faz uma só (Confi ssões 4, 8, 13).

Forma Única

Dividimos as metades confundindo o inteiroInsegurança humana produz desesperoProcuramos um caminho que defi na liberdadeNo fi m do labirinto, um ponto é o que nos restaNinguém mais já foi perfeitoLivre de todo preconceitoQue a raça humana inventaPara impor a diferençaPontos de vista pra cá, não perca a vista de láPois é de lá que vem o socorro e o socorro temUma forma única

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Enxergo a forma que você conservaAlcanço a forma de outro jeito, mesmo assimVejo o brilho em seu olhar como mais um caminhoE a alegria em meu andar faz parte do costume

E a única forma de enxergarÉ alcançando as outras formas de olharPra aquilo que se enxerga

Enxergo a forma que você conservaAlcanço a forma de outro jeito, mesmo assimVejo o brilho em seu olhar como mais um caminhoE a alegria em meu andar faz parte do costume

Costume, se acostume com a paz de saber que o socorro tem uma forma única.Única, sim, única, uma forma únicaUma fonte única, sim, única.

(Pedro Sol)

Em “Rádio Experiência”22, Milton vai desvelar o segre-do deste Tau da travessia:

Eu quero a alegria em cada vozQue a anti ga espera tenha a sua vezE o sonho que carrego em minhas costasÉ o laço de união entre vocêsNós

22 Disco Encontros e Despedidas, de 1985.

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Devemos ser um entrelaçamento de pessoas que afi rmam sua originalidade por meio de sua alegria, de sua doação e de sua ternura. O Papa Francisco, na homilia que iniciou seu ministério de Bispo de Roma, em 19 de março de 2013, afi rmou:

Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida [...] Não devemos ter medo da bondade e da ternura [...] Uma grande ternura não é virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!

Nossas vidas devem fazer ecoar, como tem ecoado a vida de Milton, neste Tau da Travessia, neste Tau-não-ainda-possível, cosmicamente, o escrito por Santo Agosti nho (Carta 73, 3, 10):

Quanto a mim, confesso que acho natural entregar-me por inteiro ao afeto de meus amigos, especialmente quan-do estou cansado dos escândalos do mundo. Neles me repouso sem preocupação alguma. Pois sinto que Deus está lá, que é n’Ele que me lanço com toda a segurança e em toda segurança me repouso. Quando sinto que um homem, abrasado de amor cristão, tornou-se meu amigo fi el, o que lhe confi o de meus projetos e de meus pensa-mentos não é a um homem que confi o, mas Àquele em que ele permanece e pelo qual é o que é.

Finalmente, permita-nos encerrar com o poema “Cogito”, de um homem que marcou a mesma geração de Milton: Torquato Neto (1944-1972). Como Bituca, ele

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buscou, viveu e escreveu naqueles tempos perturbadores, e sua voz ainda é proféti ca nestes tempos de banalização do mal e da existência em que vivemos, nos movemos e somos.

eu sou como eu soupronomepessoal intransferíveldo homem que inicieina medida do impossíveleu sou como eu souagorasem grandes segredos dantessem novos secretos dentesnesta horaeu sou como eu soupresentedesferrolhado indecentefeito um pedaço de mimeu sou como eu souvidentee vivo tranquilamentetodas as horas do fi m.

Amor Universal

Ontem já não é mais hoje,Hoje já não foi amanhã?no fundo, o que vale sãoas sobras que o tempo nos dá para viver e simplesmente sermosúnica e exclusivamente nossospor alguns momentos

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Sem julgamentoSem máscarasnem armaduraAlimentado de Ternura eVerdadeiro AMOR UNIVERSALQue vem da fonte daquilo mesmo de quesomos feitos:energia cósmica que se torna matéria,que tem liberdade de pensamentoLiberdade de expressar tais pensamentos,liberdade para agir e viverno mesmo patamar da nossa mente e, consequentemente, da nossa boca

Coragem para vencer obstáculoscada vez mais altos e impossíveis,tornando o não-ainda-possível cada vez mais possível,o que possibilita uma visão da nova vida que, em primeira mão, aparenta ser desregrada, mas vale lembrar que estamos prejulgando nossos atosde acordo com um critério que não tem verdadeiro cri-tério divino e teológico o apoiando (às vezes, muito pelo contrário), por se originar de pensamentos humanos e calculistas que rastejam num nível no qual nenhuma di-vindade deveria ser “julgada”, “avaliada” ou até mesmo enquadrada numa moldura, como se fosse enfeite...Um bom exemplo disso seria o próprio texto que redijo, palavra por palavra, entre inspirações e pensamentos du-radouros de vida, com formas coloridas brilhando com a certeza do erro inevitável.A certeza do caminho infalível e da indiferença que as pa-lavras e os gestos maldosos de preconceito e caos fazem, faziam ou farão ao caminhar

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diante da obsti nação de seguir o Tau Caminho ainda-não--possível, que se torna a cada dia mais possível,ao viver fi elmente e a qualquer custo o caminho do Bem Maiorem nome do Amor MaiorGuardado em Toda Natureza

Do meu ninho ao meu vinhoDo Teu vinho (sangue do Cordeiro)De volta ao ninho (Fonte Divina)Quero viver simples assimMergulhado em ternura e obsti naçãoPor meio do poder do único Deus vivoDo qual faço questão de viver bem perti nhoPor ter nos dado de presenteA verdadeira PAZ E AMOR UNI VER SAL

P.S.: Não posso ser o Único que viu, vê ou verá o Sal...

(Pedro Sol)

Comunidade dos Manos da Terna Solidão (Matersol)Rio de Janeiro/Teresópolis, abril de 2013

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BENTO XVI. Introdução ao cristi anismo. São Paulo: Loyola, 2005.

BIGI, M. O Tau, um sinal, uma espiritualidade. Petrópolis: Vozes, 2004.

CACCIATORE, O. G. Dicionário de cultos afro-brasileiros. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977.

FOX, M. Christi an Mysti cs. California: New World Library, 2011.

HESSE, H. Demian. Rio de Janeiro; São Paulo: Record, 1999.

MARCEL, G. Homo viator. Paris: Aubier, 1944.

MESTRE ECKHART. Sermões alemães. Petrópolis: Vozes, 2010.

PAPA FRANCISCO. Homilia da Missa da Ceia do Senhor no Cárcere para Menores em Roma. 28 mar. 2013a.

PAPA FRANCISCO. Homilia da Vigília Pascal. 30 mar. 2013b.

RADCLIFFE, T. Les sept dernières paroles du Christ. Paris: Du Cerf, 2004.

Referências

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ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Fronteira, 2006.

SANTO AGOSTINHO. As Confi ssões. São Paulo: Editora das Américas, 1961.

REFERÊNCIAS DE DISCOS

NASCIMENTO, M. Milton Nascimento. Rio de Janeiro: Ritmos/Codil, 1967. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Courage. A&M Records/CBS/Polygram, 1969. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Milton. Rio de Janeiro: EMI-Odeon. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Milagres dos Peixes. Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1973. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Caçador de Mim. Rio de Janeiro: Ariola/Polygram, 1981. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Senti nela. Rio de Janeiro: Ariola/Polygram, 1981. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Ânima. Rio de Janeiro: Ariola/Polygram, 1982. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Encontros e Despedidas. Rio de Janeiro: Polygram, 1985. 1 disco sonoro.

NASCIMENTO, M. Txai. Rio de Janeiro: CBS, 1990. 1 disco sonoro.

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NASCIMENTO, M. ...E a gente sonhando. Rio de Janeiro: Nascimento/EMI, 2010. 1 disco sonoro.

REGINA, E. Elis. São Paulo: Phillips, 1966. 1 disco sonoro.

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Sobre os Autores

Paulo BotasDoutor em Filosofi a pela Sorbonne, em Paris, na França. É teólogo, escritor e “disco de ouro” pela parti cipação na produção do disco Senti nela, de Milton Nascimento. Parti cipou como diácono da Missa dos Quilombos, em Recife, em 1981, juntamente com Dom Helder Câmara, Dom José Maria Pires, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Marcelo Cavalheira e Milton Nascimento, e também em Santi ago de Compostela, Espanha, em 1992, em comemoração aos 500 anos do Descobrimento da América.

Pedro Sol BlancoCantor, compositor, músico e ator. Fez curso de Teoria e Percepção de Música, estudou canto com Felipe Abreu, violão clássico com Célia Vaz e bateria com o percussionista Roberti nho Silva. No teatro, atuou em diversos musicais, como 7 – O Musical, Despertar da Primavera, Beatles num Céu de Diamantes e Milton Nascimento – Nada Será como Antes, atualmente em turnê pelo país.

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A presente edição foi composta pela Editora Universitária Champagnat e impressa pela Gráfica Everest, em sistema offset, papel pólen 90 g/m²

(miolo) e papel supremo 250 g/m² (capa), em junho de 2013.

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