tanatologia

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MEDICINA LEGAL TANATOLOGIA FORENSE

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Tanatologia

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MEDICINA LEGAL

TANATOLOGIA FORENSE

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MEDICINA LEGAL

Prezados, esse material é complementar ao estudo direcionado de vocês.

De acordo com a necessidade de cada assistido, o Coach irá recomendar o

estudo a título de aprofundamento ou revisão. Nossa missão aqui é estudar

os pontos com maior incidência no concurso de Delegado de Polícia e de

forma estratégica. Para tanto, selecionamos o que realmente cai e trazemos

os pontos e discussões principais, sempre balizados na estatística de

incidência em nossos certames policiais.

Leitura prévia obrigatória: arts. 162 a 167 do CPP.

CONCEITOS BÁSICOS: O Código de Processo Penal considera a morte pela parada cardíaca.

Entretanto, a lei dos transplantes (Lei Federal – 9.434/97 e modificações),

considera a morte como a parada do encéfalo, mesmo que ainda haja

batimentos cardíacos. Inclusive, este último entendimento vem sendo

chancelado pela jurisprudência do STJ e STF.

Genival Veloso França, com a maestria que lhe é peculiar, explica que um

dos objetivos primordiais do estudo da Tanatologia é estabelecer o

diagnóstico da causa jurídica da morte. Nesse sentido, a literatura médico-

legal, quando diante do estudo do evento morte, classifica a morte em

alguns tipos:

Tipos de morte: 1. Causa médica (biológica);

2. Causa jurídica (natural ou violenta);

Natural: É a que resulta da alteração orgânica ou perturbação funcional

provocada por agentes naturais, inclusive os patogênicos sem a

interviniência de fatores mecânicos em sua produção. Causa interna.

Súbita: Morte imprevista, que sobrevém instantaneamente e sem causa

manifesta, atingindo pessoas em aparente estado de boa saúde.

Violenta: É aquela que tem como causa determinante a ação abrupta e

intensa, ou continuada e persistente de um agente mecânico, físico ou

químico sobre o organismo. Ex.: Homicídio, suicídio ou acidente. Causa externa.

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A causa violenta, por sua vez, se divide em:

1. Acidental;

2. Suicídio;

3. Homicídio.

Necrópsia, autópsia ou tanatópsia: É o exame interno e/ou externo de um

cadáver, com finalidades específicas (identificar a causa de morte). Para o

exame externo, o termo mais apropriado é exame cadavérico. São

sinônimos: Tanatopsia; Exame do Cadáver; Autópsia; Necropsia.

Perinecroscopia – É o exame previsto no art. 6,I a fim de promover a máxima

preservação do local a fim de analisar a materialidade do delito. Na

perinecroscopia deve haver a presença de cadáver no local. Através dessa

análise objetiva-se analisar o tempo da morte e o modus operandi.

CRONOTANATOGNOSE Estuda os meios de determinação do tempo

decorrido entre a morte e o exame cadavérico.

TANATOLOGIA FORENSE

Trata-se do capítulo da Medicina Legal em que se estuda a morte e as suas

consequências jurídicas. Estudam-se os sinais que indicam que o individuo

morreu e o lapso temporal do evento morte.

A morte não é um momento ou um instante, mas sim um processo, uma vez

que ela ocorre em etapas sucessivas. Assim que o indivÍduo morre os sinais

que aparecem não garantem que ele está morto. Os sinais imediatos de

morte são sinais de probabilidade de que o individuo está morto. Esse

período é denominado de Período de Incerteza de Tourdes.

Esses sinais abióticos, como mencionado, podem ser imediatos (de incerteza

de morte, probabilidade) ou mediatos (de certeza de morte). Estudaremos

preliminarmente os sinais abióticos imediatos.

São sinais abióticos imediatos:

1. Perda da consciência;

2. Insensibilidade;

3. Imobilidade;

4. Abolição do tônus muscular;

5. Facies Hipócritas (ou cadavérica);

6. Cessação da respiração;

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7. Cessação da circulação;

8. Relaxamento dos esfíncteres;

9. Morte encefálica (tronco cerebral).

Até o momento da cessação da circulação o indivíduo ainda pode ser

reanimado. No entanto, quando caracterizada a morte encefálica não há

qualquer possibilidade de reverter o evento morte. Desta forma, podemos

concluir que até o momento da cessação da atividade encefálica há

apenas sinais abióticos mediatos, de probabilidade de morte.

Sinais abióticos mediatos ou de certeza de morte:

1. Evaporação Tegumentar;

2. Resfriação Cadavérica;

3. Livores Cadavéricos;

4. Rigidez Cadavérica.

Art. 162. A autopsia será iniciada 6 horas após a morte, salvo se os peritos

tiverem certeza da morte. Os sinais vitais de certeza de morte aparecem

antes das 6 horas, mas o legislador inseriu o lapso de 6 horas em virtude do

momento em que eles se apresentam como mais evidentes.

A partir de agora, iremos estudar os sinais abióticos mediatos em espécie:

1. EVAPORAÇÃO TEGUMENTAR

A evaporação tegumentar se caracteriza pelo processo abiótico de

eliminação de água do organismo e sua consequente desidratação após a

morte. A partir do momento em que a pessoa morre há tendência da água

sair do corpo e se evaporar quando em contato com o ambiente externo.

Segundo Prof. Higyno, essa fase acarreta severa desidratação ao cadáver,

gerando apergaminhamento da pele e grande perda de peso corporal.

No entanto, a pele tem gordura, pode ser mais grossa ou fina, podendo

dificultar mais ou menos a saída da água do organismo. O canal de maior

facilidade de saída da água é pelo olho, quando ele estiver aberto, mas

quando fechado a dificuldade é a mesma do que das outras partes do

corpo.

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PROVA DE VERDEREAU: Consiste na existência de maior percentual de leucócitos em

relação ao número de hemácias numa área lesada em vida do que o

habitualmente encontrado noutra região incólume do corpo. O maior afluxo

leucocitário na zona traumatizada afirma fenômeno vital. Esta prova é sempre

negativa nas hemorragias copiosas e acidentes fulminantes, nas lesões produzidas

no cadáver, e se realiza, em média, a cerca de 72 horas do óbito.

CONCEITOS IMPORTANTES: os leucócitos realizam a defesa do organismo através de

anticorpos que são proteínas especializadas para cada tipo de antígeno, outro tipo

de defesa também é feita por fagocitose (englobamento de particulas sólidas) por

alguns tipos de leucócitos como exemplo mais comum os neutrófilos. As plaquetas

estão relacionadas com a coagulação sangüínea, atráves do "tampão

plaquetário" que através de uma série de reações forma o coágulo. As hemácias

estão relacionadas ao transportes de gases pelo plasma sanguineo dentre eles o,

oxigênio, o gás carbônico.

SINAIS OCULARES DA EVAPORAÇÃO TEGUMENTAR: Mancha Negra Ocular de Larcher-Sommer – Decorre da evaporação

tegumentar, onde a parte branca do olho (esclerótica). Embaixo da

esclerótica , que é branca e opaca, existe a coróide, de tonalidade escuta.

Com o advento da morte, a esclerótica fica transparente e permite a

evidencia da coróide, que é escura, formando a mancha negra ocular.

(aparece em torno de 3 a 5 horas)

Quanto maior o tempo da morte, mais a mancha toma conta do olho,

tornando-se maior.

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Tela Viscosa de Stenon-Louis – O individuo quando morre não realize o

movimento de limpeza da íris através do piscar dos olhos e, como tal,

quando aberta, forma uma camada de sujeira advinda do meio externo no

tecido ocular, tornando a córnea menos transparente. Quanto maior o

tempo de morte, maior será a opacidade. Esse fenômeno acaba impedindo

a discriminação se a pessoa possui olhos verdes, azuis ou castanhos.

Sinal de Bouchut – enrrugamento da córnea em decorrência da

desidratação cadavérica.

Sinal de Ripault - Após 8 horas da morte, exercendo-se a pressão dos dedos

sobre o globo ocular ocorre a deformação da íris e da pupila.

2. RESFRIAMENTO CADAVÉRICO: Fenômeno físico decorrente do fluxo de temperatura entre o cadáver e o

ambiente. O resfriamento cadavérico se justifica com a cessação do

mecanismo humano vital de autorregulação térmica. Quando há a morte,

esse sistema para e a temperatura do organismo tende a se adequar a do

meio externo.

Normalmente os cadáveres esfriam. No entanto, se estiverem em um local

mais quente do que o ambiente do corpo, a tendência é o aquecimento.

Por isso, não há uma regra pré-definida. O cálculo do tempo da morte

levando-se em consideração a temperatura do individuo não é precisa,

segundo Prof. Roberto Blanco, pois existem grandes variáveis que dificultam

esta mensuração. Normalmente a temperatura cai conforme as condições

ambientais.

Segundo Genival Veloso França, os pés, mãos e face são os primeiros órgãos

a se resfriar. O autor afirma que o tempo médio de esfriamento do cadáver

é de 1,5ºC por hora.

Os fenômenos abióticos evaporativos e de alteração térmica do corpo humano (os

dois primeiros estudados até aqui) são de difícil dogmática para fins de

cronotanatognose. Ou seja, não há uma sequência precisa que permita ao perito

mensurar exatamente em que momento a morte ocorreu quando o cadáver é

encontrado.

3. LIVORES CADAVÉRICOS OU LIVOR MORTIS OU HIPOSTÁSES São manchas arroxeadas resultantes do acúmulo de sangue nas regiões de

maior declive do cadáver. Essa concentração se dá em razão ausência de

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pressão intravascular (cessação da atividade circulatória), momento em que

a gravidade conduzirá o sangue para as regiões mais baixas.

À medida que o tempo de morte

passa o sangue vai ficando mais escuro, arroxeado. Geralmente, as partes

brancas que não apresentam os livores cadavéricos estavam apoiadas em

algum objeto, fazendo pressão contra a pele ou mesmo em áreas de aclive,

em sentido contrario a gravidade.

As hipóstases podem ser:

Cutâneas – na pele

Viscerais – nas vísceras.

CÁLCULO DO MOMENTO DA MORTE ATRAVÉS DOS LIVORES

Os livores cadavéricos começam a se evidenciar em torno de 2 a 3 horas

após a morte, em forma de estrias, ou arredondadas, que se agrupam

posteriormente, em placas, em extensas áreas corporais, conforme assinala

Genivel e Croce. Decorridas 8 a 12 horas, as manchas fixam-se

definitivamente nos órgãos internos, não mais se deslocando qualquer que

seja a mudança de posição do cadáver.

Sendo assim, podemos concluir que até 8 ou 12 horas após a morte, essas

manchas são voláteis, ou seja, ainda podem mudar de posição,

dependendo do próprio posicionamento do cadáver.

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Na imagem podemos verificar que

estamos diante de manchas generalizadas, o cadáver está virado e a parte

em aclive continua com o sangue afixado. Nesse sentido, podemos afirmar

que a morte ocorreu em período superior a 8h ou 12h, visto que é possível

notar a fixação do sangue em virtude da autólise das células sanguíneas.

A mancha roxa é um livor ou equimose? Como diferenciar?

Primeiramente cumpre destacar que os livores são reações abióticas e a

equimose biótica, ou seja, ocorre quando o ser está vivo. Para

diferenciarmos adota-se a Técnica de Bonnet: Deve ser feita uma incisão na

pele e observar os tecidos embaixo do corte. Se vermos um pontilhado de

sangue saindo dos vasos, estaremos diante de livores. Se os tecidos estiverem

impregnados por sangue, estaremos diante de equimose.

Croce Jr. ensina que a cor do livor cadavérico varia de acordo com o meio

de morte. Será vermelho-clara na asfixia-submersão, achocolatada no

envenenamento pelo clorato de potássio, vermelho-rósea ou carminada nas

asfixias pelo monóxido de carbono, e escura nas asfixias em geral.

Na raça negra somente se pode observar o livor cutâneo pelo colorímetro

de Nutting.

França cita que em alguns cadáveres é possível verificar livores nos dentes,

denominado pela doutrina como dentes rosados (Pink teeth).

4. RIGIDEZ CADAVÉRICA Trata-se de fenômeno físico-químico decorrente das reações entre as

proteínas musculares e os líquidos cadavéricos, segundo França. Há quem

diga, contudo, que se trata de um fenômeno apenas químico. Os músculos

são formados por proteínas: Aquitina e Miosina. Quando indivíduo morre,

cessa a entrada de oxigênio e, a medida que o tempo de morte vai

passando, o organismo vai ficando ácido. Assim, com a presença do acidez,

as proteínas começam a coagular e enrijecer a musculatura.

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IMPORTANTE: O sangue é alcalino justamente para combater a acidez e

quando ocorre a morte predomina a acidez, acarretando a coagulação

das proteínas musculares.

A rigidez cadavérica varia de acordo com a causa da morte, idade e

constituição corporal da vítima. No momento da morte, o cadáver possui

flacidez muscular generalizada. Porém, a análise da rigidez cadavérica tem

fundamental importância para fins de mensurar o tempo de morte.

TEMPO DE MORTE DE ACORDO COM A RIGIDEZ CADAVÉRICA:

Inicia-se cerca de 1 ou 2 horas após a morte, é máxima com 8 horas e

perdura até o início da putrefação (fenômeno destrutivo que será analisado

mais adiante), ou seja, aproximadamente em 24 horas.

Segundo Genival Veloso França, a rigidez passa por três fases: período de

instalação (quando começa a se evidenciar -1h ou 2h após a morte);

período de estabilização (até 8 horas após a morte, momento em que o

corpo inteiro estará enrijecido) e período de dissolução (que ocorre após as

24h, momento em que a rigidez vai se desfazendo).

LEI DE NYSTEN-SOMMER-LARCHER - A rigidez cadavérica se instala da cabeça

para os pés, sentido céfalo-caudal. Diz a lei que as massas musculares

menores endurecem antes das massas musculares maiores, justificando o

enrijecer de cima para baixo, pois a musculatura superior é menor do que a

inferior. A rigidez se evidencia primeiro nos músculos menores e se desfaz no

mesmo sentido.

NÃO confunda rigidez cadavérica com rigidez cataléptica. O espasmo

cadavérico, também denominado rigidez cataléptica, estatuária ou

plástica, é uma forma particular de rigidez cadavérica instantânea, sem o

relaxamento muscular que precede a rigidez comum e com a qual não se

confunde. O indivíduo acometido, súbita e violentamente, pelo espasmo

cadavérico guarda a posição que mantinha quando a morte o

surpreendeu.

FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS E DESTRUTIVOS São sinais que asseguram a certeza absoluta da morte e correspondem a

mudanças estruturais de tal monta que a vida é impossível. Compreendem

os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os conservadores

(mumificação e saponificação).

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1. Fenômenos destrutivos:

1.1. Autólise: Auto-destruição celular que se inicia a partir do evento morte.

Tem início imediato.

Croce Jr. ensina que após a morte cessam com a circulação as trocas

nutritivas intracelulares, determinando lise (ruptura) dos tecidos seguida de

acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e

consequente diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim,

por diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os

fenômenos intra e extracelulares de decomposição. Os tecidos se

desintegram porque as membranas celulares se rompem e flocula o

protoplasma, devido às desordens bioquímicas resultantes da anóxia e da

baixa do pH intra e extracelular.

Na autólise há a desintegração dos tecidos com desorganização estrutural,

de origem química, sem interferência bacteriana.

1.2. Putrefação: Trata-se de fenômeno que se inicia imediatamente após a

autólise. A putrefação se caracteriza por acentuada desorganização celular

e tissular, por fenômenos biológicos e físico-químicos, provocados por

bactérias. O ponto de partida é no intestino.

Segundo a literatura médico-legal, a putrefação pode ser impedida nos

casos de temperaturas extremas (altas e baixas); inibida por determinadas

substâncias (arsênico, antibióticos, etc); acelerada por determinadas

situações (recém-nascidos e crianças, obesos, infecções, etc).

Os sinais abióticos mediatos ou consecutivos de morte não se confundem

com o processo de putrefação, visto que aqueles começam a se

desenvolver poucos minutos após o evento morte; enquanto a putrefação,

normalmente se inicia a partir de 24 a 36 horas após a morte.

FASES DA PUTREFAÇÃO: Antes de entrarmos na análise das fases em espécie, faz-se imperioso

salientar que a doutrina denomina o estudo das etapas do processo de

putrefação de TAFONOMIA.

Muita atenção aqui, pois muitos confundem TAFONOMIA COM

CRONOTANATOGNOSE. São conceitos díspares! A CRONOTANATOGNOSE é a

parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte e não a

evolução do processo de putrefação (fases).

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1. Fase Cromática ou de Coloração

É a fase em que há alteração de coloração do cadáver, passando a ficar

com a tonalidade esverdeada escuro. Uma das características da fase é o

aparecimento da MANCHA VERDE DE BROUARDEL.

A MANCHA VERDE DE BROUARDEL deriva-

se da reação do gás sulfídrico exalado pelo cadáver em contato com a

hemoglobina. O local mais comum de aparecimento da mancha é no

abdômen (fossa ilíaca direita).

A presença da mancha verde de brouardel caracteriza inicio da fase de

putrefação e se dá a partir das 24h. Cumpre destacar que a manha verde

aparece costumeiramente no abdômen, no entanto, nada impede que ela

venha a aparecer em outra localidade.

A Mancha Verde de Brouardel, nos fetos e nos nascidos mortos, não

aparece no abdômen, mas sim ao redor dos orifícios naturais, pois estes são

os locais que permitem a entrada de bactérias no corpo.

A Mancha Verde de Brouardel, nos afogamentos verdadeiros (afogamento

azul), aparece na parte alta tórax, pescoço ou até mesmo na cabeça.

Em síntese, a fase de coloração tem início 24 a 36 horas após a mort,

evidenciando-se a partir da mancha verde abdominal, na fossa ilíaca

direita, que posteriormente se dissemina tornando-se mais escura. Nos

afogados e recém nascidos, começa pela cabeça e o início se dá pelas vias

respiratórias (partes superiores).

2. Fase Enfiseimatosa ou de Gaseificação O período gasoso se inicia 36 a 72 horas após a morte, momento em que os

gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o

aparecimento na superfície corporal de flictenas.

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É em razão desse início do período de gaseificação que o cadáver começa

a “boiar” a partir do terceiro dia, quando a morte ocorre na água ou

quando ele é submetido à água a fim de tentar mascarar o crime.

Na 2ª fase de putrefação surgem bolhas. As bolhas pós-morte não tem

proteínas ou possuem quantidade ínfima, sendo denominado pelo doutrina

como Sinal de Janesie Jeliac.

Nessa fase, há a formação

acentuada de gases, que aumentam muito o volume do corpo. Há, além da

formação de bolhas, a circulação póstuma (Circulação Póstuma de

Brouardel, que se verifica na figura ao lado), que evidencia o esboço

vascular na derme. É como se víssemos os vasos sanguíneos através da pele,

num tom esverdeado.

Nessa fase, quando diante de pessoa grávida, é comum a ocorrência do

Parto Póstumo de Brouardel, que se caracteriza pela expulsão do feto após a

morte.

No 1º dia da putrefação os gases não são combustíveis em virtude do

excesso de gás carbônico. No 2º, 3º e 4º dia os gases tornam-se combustíveis

e o principal gás é o metano. Já no 5º dia, voltam a ser não combustíveis,

aminas.

Fogo fátuo – são chamas azuladas que saem dos túmulos diante da fase

enfiteimatosa, a partir do 2º a 4º dia da putrefação, quando os gases são

combustíveis.

Quando o cadáver entra nessa fase de putrefação, a epiderme começa a

descolar e os desenhos digitais vão se desfazendo. Assim, não é possível

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identificar o cadáver pela papiloscopia. Depois de perdida a epiderme a

identificação deve ser realizada por outro meio que não a utilização das

digitais.

No entanto, em alguns cadáver, quando não perdida a epiderme das mãos,

é possível realizar a identificação realizando a TÉCNICA DO DESLUVAMENTO:

Retira-se a epiderme como se fosse uma luva, preserva-se a substancia com

glicerina e depois que o material estiver em condições colhem-se as digitais.

3. FASE DE COLIQUAÇÃO Caracteriza-se pela dissolução dos tecidos moles. As vísceras perdem suas

características morfológicas. Exposição do esqueleto. Pode ser local ou

geral. Pode estar presente ao lado de outras fases. É a fase em que os

tecidos são destruídos e começa a aparecer o esqueleto.

A fase de coliquação dificulta a identificação do cadáver e também da

causa mortis. A fauna cadavérica também pode acelerar o processo de

putrefação, sem qualquer incidência do tempo no processo.

ENTOMOLOGIA FORENSE: As larvas de inseto representam o maior ponto de

destruição do cadáver. (entomologia forense – estudo dos insetos cujas larvas

destroem o cadáver – de acordo com o tipo de larva encontrada no cadáver é

possível caracterizar a data da morte). Os insetos se aproximam do cadáver de

acordo com o cheiro exalado. Assim, com base no inseto encontrado é possível

determinar qual é a provável data da morte.

SOMBRA CADAVÉRICA: Sombra escura que permanece no local onde houve

a decomposição cadavérica. Trata-se de uma área grande importância

para a medicina legal, podendo ser encontrados resíduos químicos que

podem permitir saber a causa da morte.

4. Fase de Esqueletização A esqueletização pode ser parcial ou total, ou seja, parte do cadáver pode

estar em uma fase e outra pode estar em fase distinta. No mesmo cadáver é

possível verificarmos as 4 fases cadavéricas.

No cadáver esqueletizado devemos observar a fauna cadavérica, a fim de

tentar precisar a cronotagnose. A esqueletização ocorre normalmente em 3

anos após a morte. Se o cadáver está insepulto, pode haver a

esqueletização em período inferior, em virtude de maior acesso a fauna

cadavérica.

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Cumpre destacar que não podemos precisar o tempo de morte pela

esqueletização, pois a fauna cadavérica e o meio em que o cadáver está

submetido pode catalisar este processo de putrefação.

1.3. MACERAÇÃO: Trata-se também de um fenômeno destrutivo que se

afigura através da destruição de tecidos moles quando em contato com a

água. É resultante dos fenômenos de autólise, às vezes associada à

putrefação e que ocorre principalmente em fetos mortos intra-útero,

natimortos e afogados.

Segundo a doutrina, a maceração se apresenta em três graus:

1º grau: presença de flictenas (bolhas);

2º grau: rotura das flictenas (bolhas);

3º grau: deformação craniana e infiltração hemoglobínica nas vísceras.

Resumo da Evolução dos fenômenos cadavéricos:

A) Resfriamento do Corpo: Há evolução para um equilíbrio com a

temperatura ambiente. Ocorre uma redução de 0,5 a 1,5oC por hora.

A estabilização térmica ocorre em cerca de 20 horas nas crianças e

24-26 horas nos adultos.

B) Livores - Hipóstases: Em geral aparecem de 2 a 3 horas após a morte,

por acúmulo de sangue nas áreas de maior declive do corpo, sendo

visíveis entre 1 a 3 horas post mortem e fixas em cerca de 8 a 12 horas

(antes podem mudar de posição).

C) Rigidez Cadavérica: A evolução habitual segue a Lei de Nysten (início

de baixo para cima). Em geral é máxima em 8 horas e desaparece

após 24 horas (em média 40 horas) na mesma seqüência de

aparecimento.

D) Gases da Putrefação: Duram de 7 a 30 dias. As ptomaínas são

substâncias produzidas na putrefação, surgindo de 2 a 4 dias após a

morte, aumentando em torno do 20o. dia e desaparecendo no final

da putrefação.

E) Perda de Peso: Tem valor muito relativo e variável. É necessário que se

saiba o peso exato antes da morte.

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F) Mancha Verde Abdominal: Tem início mais frequente na fossa ilíaca

direita. Ocorre pela impregnação, na pele, pela sulfoxihemoglobina.

Surge aproximadamente após 24 horas da morte e estende-se por

todo o corpo após o 3o. a 5a. dia.

G) Crescimento de Pêlos e Barba: O crescimento de pêlos (e das unhas) é

um fenômeno vital e NÃO ocorre após a morte. É possível mensurar o

tempo de morte (cronotanatognose) pelo tamanho da barba se

conhecido o momento em que o cadáver fez a barba pela última vez.

A barba cresce 0,021mm por hora, permitindo uma aferição

aproximada do tempo de morte.

H) Conteúdo Estomacal: O fenômeno digestivo é variável, sendo que a

fase gástrica dura em média de 5 a 7 horas. Evolução:

- Alimentos reconhecíveis: morte ± 1 a 2 horas após a última refeição;

- Alimentos bem digeridos: morte ± 4 a 6 horas após a última refeição;

- Estômago vazio: morte a + de 7 horas após a última refeição.

I) Fauna Cadavérica: Tem ação muito variável no tempo. Registra-se a

ação de mais de 40 espécies diferentes de insetos, que agem em

grupos, abordando o cadáver em 8 etapas.

J) Cristais de Sangue Putrefeito: São os cristais de Westenhöfer-Rocha-

Valverde. Surgem depois do 3o. dia e ficam até o 35o. dia.

K) Ponto Crioscópico do Sangue: o ponto crioscópico do sangue (de

congelamento) afasta-se a medida que evolui o tempo de morte.

SINAIS DE QUE AS LESÕES OCORRERAM EM VIDA:

- Escoriação (crosta)

- Retração dos tecidos

- Coagulação do Sangue

- Hemorragia

- Equimose

- Reação inflamatória

- Embolias

- Consolidação óssea

- Queimaduras (eritema)

REAÇÃO INFLAMATÁRIA: Quando sofremos uma lesão, quando vivos, o organismo

atua instintivamente de forma a combater a lesão através da reação inflamatória.

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Assim, se visualizamos no cadáver uma reação inflamatória é possível afirmar que o

individuo sofreu uma lesão e sobreviveu durante horas até o aparecimento da

reação inflamatória, pois esta reação não ocorre instantaneamente. Se

visualizarmos a lesão no cadáver e não houver reação inflamatória podemos

afirmar que a lesão ocorreu pós-morte ou ele estava vivo, mas morreu

instantaneamente e não deu tempo para se perfazer a reação inflamatória.

(IMPORTANTE) Não há reação inflamatória após a morte.

PROVA DE VERDERAU - consiste na comparação da relação existente entre

glóbulos brancos e vermelhos de uma lesão (em vida e depois da morte)

com a relação existente com os glóbulos brancos e vermelhos no sangue.

A literatura médico-legal traz duas docimasias que permitem mensurar se a

morte foi agônica ou instantânea:

1. Docimasia Hepática de Lacassegne e Martin - Consiste em verificar a

presença de glicogênio e glicose no fígado. A presença de glicogênio

caracteriza a morte instantânea; ao revés, a sua ausênica configura morte

agônica.

2. Docimasia Suprarrenal de Cevidalli - O valor médio da adrenalida nas

suprarrenais é de 4mg. Nas mortes agônicas estes valores estarão abaixo do

valor médio; já nas mortes súbitas, os valores estarão normais.

FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS CONSERVADORES: Os fenômenos conservadores começam a se instalar 2 ou mais meses após a

morte. O indivíduo morre, entra em putrefação e em um dado momento as

condições ambientais do cadáver ficam prejudiciais às bactérias e o

processo de putrefação cessa. Por conseguinte, instala-se o processo de

mumificação, saponificação ou corificação. Primeiro, necessariamente,

inicia-se o processo de putrefação e, ulteriormente, após 2 meses, inicia-se

um dos processos transformativos conservadores.

1º FENÔMENO – MUMIFICAÇÃO - ambiente muito arejado, seco e quente

com acentuada perda de líquidos (severa desidratação). Cessa a

ploriferação bacteriana. Há perda de peso e a coloração é castanha

escura. Pode ser por método artificial.

2º FENÔMENO – SAPONIFICAÇÃO OU ADIPOCERA – Transformação em

virtude da gordura do cadáver em contato com metais do ambiente

formando uma cera, espécie de sabão, impedindo a ploriferação de

bactérias e fazendo cessar o processo de putrefação. (ambiente quente,

úmido e pouco arejado).

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3º FENÔMENO – CORIFICAÇÃO - É muito raro. Encontrado em cadáveres

inumados em urnas metálicas (principalmente zinco) fechadas

hermeticamente. Pele de cor e aspecto de couro curtido recentemente. Na

urna encontra-se relativa quantidade de líquido viscoso, turvo e castanho-

amarelado.

4º FENÔMENO – PLASTINAÇÃO – substituição do tecido corporal por resina

sintética (acrílico), sem risco de putrefação e contaminação e facilitando o

estudo anatômico. Este é um processo proibido no Brasil, permitido apenas

na Alemanha. Trata-se de uma conservação realizada em laboratório.

5º FENÔMENO – CALCIFICAÇÃO - Ocorre mais frequentemente nos fetos

mortos e retidos por deposição de cálcio (litopédios). Trata-se de uma

espécie de mumificação do feto morto diante da ausência de liquido

amniótico, ocasionando a caucificação do feto. (Ocorre diante de aborto

durante o 2 ou 3º mês de gravidez.

EXUMAÇÃO: Consiste no desenterramento do cadáver, não importa o local onde se

encontre sepultado. A exumação pode ser judicial, administrativa ou

arqueológica. A modalidade que nos interessa é a judicial, pois é a que

revela interesse para fins de concursos públicos, já que está estritamente

relacionada ao desvendamento da causa da morte.

ATENÇÃO:

1. A inumação consiste na colocação de cadáver em sepultura ou

jazigo.

2. A cremação consiste na redução de cadáver ou ossadas a cinzas.

3. A trasladação consiste no transporte de cadáver inumado em jazigo,

ou de ossadas, para local diferente daquele em que se encontram, a

fim de serem de novo inumados, cremados ou colocados em ossário.

LEGISLAÇÃO SOBRE O TEMA:

CPP. Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade policial

providenciará para que em dia previamente marcados, se realize a diligência, da qual se

lavrará auto circunstanciado.

Parágrafo Único: O administrador do cemitério público ou particular indicará o lugar o lugar

da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique

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a sepultura, ou de se encontrar o cadáver em lugar não destinado a exumações, a

autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará o auto.

CPP. Art. 164. Os cadáveres serão, sempre que possível, fotografados na posição em que

forem encontrados.

CPP. Art. 165. Para representa as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando

possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos,

devidamente rubricados.

CPP. Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á ao

reconhecimento pelo Instituo de Identificação e Estatística ou repartição congênere ou pela

inquisição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual

se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

Parágrafo Único: Em qualquer caso, serão arrecadados e autenticados todos os objetos

encontrados que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

CPP. Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o

que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.

CP. Art. 210. Violar ou profanar sepultura ou urna funerária: Pena – reclusão, de um a três

anos e multa.

CP. Art. 211. Destruir, ou subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de um a

três anos e multa.

CP. Art. 212. Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: Pena - reclusão, de um a três anos e multa.

O presente material é de apoio aos alunos do Coaching do Canal Carreiras

Policiais que estão com dificuldade em Medicina Legal. A empresa não

comercializa o material.