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T&C Amazônia FUCAPI Ano II - Número 1V - Abril de 2004 . ISSN - 1678-3824 Publicação Quadrimestral da FUCAPI - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica. Respirando Inovação Artigo de Guilherme Ary Plonski, Diretor Superintendente do IPT Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional Entrevista com Odilon A. Marcuzzo do Canto, Diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep A Estratégia de Desenvolvimento com Clusters: A Experiência do Banco da Amazônia Artigo de Hélio Graça, Chefe da Área de Estudos Econômicos do Basa Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas Entrevista com Marilene Corrêa da Silva Freitas, Secretária de C&T do Estado do Amazonas

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"Fábricas de apertar parafusos".

Referir-se dessa forma à atividade produtiva existente em Manaus é um modo seguro de se colocar à prova a tradicional hospitalidade do amazonense.

Modelo para o desenvolvimento regional concebido pelo governo federal com base em uma estratégia geopolítica, a Zona Franca de Manaus até hoje carrega o fardo de, pela falta de uma cultura industrial prévia e de mão-de-obra especializada, ter se valido, em seus primeiros anos de funcionamento, da comercialização de produtos importados prontos (ou semi-prontos), aos quais pouco se agregava além de um selo "Produzido na ZFM".

Embora tenha sido típico apenas naqueles anos iniciais, esse comportamento continua ainda a fazer parte da imagem que muitos brasileiros de outras regiões - até mesmo técnicos e formadores de opinião - conferem às empresas locais, o que acaba por contribuir para a sobrevida da idéia.

Após 37 anos, e agora transformada em Pólo Industrial de Manaus, a Zona Franca continua a percorrer uma jornada evolutiva na qual os mais experientes não têm dificuldades de apontar avanços e, em conseqüência, o seu distanciamento da metáfora da frase inicial.

No próximo número, cumprindo o papel de informar e difundir aspectos da realidade regional, T&C Amazônia enfatizará atividades de empresas e organizações que compõem o Pólo Industrial de Manaus, procurando ressaltar o que talvez seja uma de suas formas mais nobres, o fluxo de conhecimento nas relações entre academia e setor produtivo.

Justamente por esse motivo as contribuições para esse número serão majoritariamente solicitadas através de convite direto a profissionais envolvidos com a realidade local.

Se você hoje mora em outra região, mas já viveu experiência na atividade industrial em Manaus que se enquadre nesse perfil, submeta-nos previamente sua proposta de artigo para análise.

E assim, quem sabe, estaremos contribuindo para reformular esse conceito.

E só ele. Porque queremos que o amazonense continue a ter sua hospitalidade reconhecida.

No próximo número daT&C Amazônia...

hhttp://portal.fucapi.br

T&CAmazônia

FUCAPI

Ano II - Número 1V - Abril de 2004 . ISSN - 1678-3824Publicação Quadrimestral da FUCAPI - Fundação Centro de

Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica.

Respirando InovaçãoArtigo de Guilherme Ary Plonski, Diretor Superintendente do IPT

Finep e a Inovação Conquistando Espaços naAgenda Nacional Entrevista com Odilon A. Marcuzzo do Canto, Diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep

A Estratégia de Desenvolvimentocom Clusters: A Experiência do Banco da AmazôniaArtigo de Hélio Graça, Chefe da Área de Estudos Econômicos do Basa

Perspectivas para Ciência, Tecnologiae Inovação no Amazonas Entrevista com Marilene Corrêa da Silva Freitas,Secretária de C&T do Estado do Amazonas

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SUMÁRIO

T&C Amazônia está abordando, nesta edição, a

temática Arranjos e Sistemas Locais.

Desde a retomada da importância das aglomerações

para o desempenho econômico, particularmente com as

contribuições de autores como Porter e Krugman, na década

de 90 passada, os estudos e conceitos relacionados ao

assunto têm estimulado simultaneamente - como raras vezes

se observa - o interesse de pesquisadores, governantes e

empresários.

No Brasil, esse interesse atingiu um estágio “pré-

epidêmico” já na segunda metade daquela década, a partir da

qual podem ser contabilizadas iniciativas de ministérios,

governos estaduais (individuais ou coletivas, como no caso da

Região Nordeste), governos municipais, federações de

indústrias e agentes financiadores, espalhadas por

praticamente todo o território nacional.

Conceitos anteriores, tais como aglomerações

industriais, cadeia produtiva, externalidades econômicas e

sistema nacional de C&T alcançaram uma dinâmica renovada

pela possibilidade de diálogo com os recém-difundidos cluster,

sistema local de inovação, arranjo produtivo local e plataformas

tecnológicas. E - o mais surpreendente - os novos estímulos

desembocaram muito rapidamente no “mundo real”,

proporcionando aumento de eficiência para os tais arranjos e

sistemas.

Como corolário, passaram a ser ainda mais valorizados

os comportamentos baseados em cooperação, relações

sinérgicas e conexões, bem como a habilidade de mobilizar

protagonistas do ambiente econômico através da governança

local.

Acreditamos que o relato e a avaliação de experiências

em curso, acrescidos de depoimentos que apresentam uma

apreciação crítica do ambiente atual, auxiliam na compreensão

de como este processo tem evoluído e, portanto, representam

uma contribuição proporcionada por esta edição de T&C.

Aos que já incursionam no tema, o conjunto aqui

apresentado pode representar o contato com um interessante

mosaico de experiências particularmente focadas no estado do

Amazonas; aos noviços, esperamos que a leitura atenta do

conteúdo permita a sua “contaminação”, ampliando a rede dos

que acreditam que esses conceitos têm ainda muito a oferecer

para a alavancagem do desenvolvimento regional.

Os Editores

E D I T O R I A L

ENTREVISTA

PERSPECTIVAS PARA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVACÃO NO AMAZONASMarilene Corrêa........................................02

RESPIRANDO INOVAÇÃOGuilherme Ary Plonski...............................11

ENTREVISTA

FINEP E A INOVAÇÃO CONQUISTANDO ESPAÇOS NA AGENDA NACIONALOdilon Marcuzzo do Canto.......................18

PROJETO PLATAFORMAS TECNOLÓGICAS PARA A AMAZÔNIA LEGALWaleska Barbosa, Alceu C. Branco..........23

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS - APLICAÇÃO NO ESTADO DO AMAZONASNilson Pimentel, Emerson Matias............ 31

A CADEIA PRODUTIVA DO PESCADONO AMAZONAS : UM ENFOQUE NO AGRONEGÓCIORigoberto Neide Pontes........................... 42

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E O COMPROMETIMENTO INSTITUCIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONALFernando Santos Folhadela, Allessandro Bezerra Trindade..................................... 49

A ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTOCOM CLUSTERS : A EXPERIÊNCIA DOBANCO DA AMAZÔNIAHélio Graça.............................................. 56

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELATRAVÉS DOS ARRANJOS PRODUTIVOSSávio José Ferreira Ramos..................... 64

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

PERSPECTIVAS PARA CIÊNCIA,TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NOAMAZONAS

À frente da Secretaria de Estado deCiência e Tecnologia – SECT, que é uma dasinovações estratégicas e administrativas,implementadas pelo atual governo, MarileneCorrêa oferece à T&C Amazônia um relatocompleto dos resultados obtidos para oincremento da produção científica no Estadodo Amazonas e fala também dos desafios aserem vencidos para a estruturação de umsistema local de Ciência e Tecnologia e paraa transformação do conhecimento gerado,através de pesquisa, em riqueza e melhorqualidade de vida para as comunidades.Como destaque ela cita programasespecialmente concebidos para potencializaras características regionais como o Programade Ciência e Sustentabilidade, a Rede Nortede Propriedade Intelectual e a interiorizaçãoda pesquisa sobre o conhecimento tradicionaldos povos indígenas. A secretária nos brinda,finalmente, com uma análise conjuntural decausas e circunstâncias que favorecem ouprejudicam a implementação e consolidaçãode uma política de Ciência, Tecnologia eInovação para o Amazonas.

T&C - A Criação da Secretaria deu--se no atual governo e a senhora é aprimeira secretária. Em que condiçõesencontrou a Ciência e Tecnologia noEstado e o que já pode ser descrito comoresultado do primeiro ano?

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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Entrevista

Q U E M É M A R I L E N ECORRÊAProfessora da UniversidadeFederal do Amazonas desde 1979,Mestre em Ciências Sociais pelaPUC de São Paulo, doutora emC i ê n c i a s S o c i a i s p e l aU n i ve r s id a d e E s t a d u a l d eCampinas – Unicamp e pós doutorap e la U n ivers id ad e C A E N , n aFrança. Em janeiro de 2003 assumiuo cargo de Secretária de Ciência eTecnologia do Amazonas.

Projeto Gráfico da Infografia: Marcos Moura -Acadêmico em Design.

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

MC - A Criação da Secretaria deCiência e Tecnologia resulta da Reforma doEstado efetivada pelo governador EduardoBraga em 31 de janeiro de 2003, através daLei nº 2783. A encontramos, portanto, no planoformal de sua definição legal. Estruturamossua vida regimental e institucional de acordocom os propósitos estratégicos, tópicos,integrados às políticas públicas prioritárias.I s s o r e s u l t o u n aelaboração das diretrizesespecíficas da política deC&T no Estado, nap r o d u ç ã o d o f i oarticulador das ações deC&T entre todas asinstituições formadorase produtoras de pesquisaavançada; a definição deprogramas prioritárioscom ações, objetivos,metas qualitativas, ainclusão do nosso Estado nas RedesNacionais de Pesquisa e um padrão invejávelde interlocução entre a comunidade científicalocal e o governo do Estado. Do ponto de vistaestrutural, a SECT induziu políticas depesquisa nas Entidades vinculadas ( UEA,Utam, Fapeam e Cetam) e induziu aspesquisas prioritárias para o Estado medianteos Editais da Fapeam. É possível dizer quetodas as instituições federais, estaduais eprivadas (2) de pesquisa estão executandoestas políticas por meio de financiamento dosprojetos, de bolsas e custeio das linhas depesquisa e formação avançada (mestrado edoutorado).

A UEA interiorizou o Programa de

Iniciação Científica em municípios do interior(Tefé, Parintins) e na capital; a Utamimplementou bolsas universitárias do mesmoprograma; a Escola Agrotécnica de SãoGabriel da Cachoeira interiorizou projeto depesquisa em comunidades indígenas; domesmo modo a Associação de Produtores doManairão desenvolveu pesquisa tecnológicatanto quanto a Associação de Mulheres

Indígenas Sateré Maué ea Associação Yakinô. Hámais de mil projetosimplantados e em julho aFapeam atingirá mais de2 mil bolsas de pesquisas.Inauguramos também odebate entre comunidadecientíf ica e a SECTsobre os indicadoressociais e regionais deC&T e o seminário sobre

o tema de software livre mobilizou 750pessoas. Produzimos, f inanciamos eimplementamos o Programa Ciência eSustentabilidade voltado para apoiarcientificamente o Programa Zona FrancaVerde. Apoiamos ações de tecnologiaeducacional junto à Seduc e planejamos aintervenção científica junto à Secretaria deSegurança (os futuros laboratórios de DNAcriminal e os futuros cursos de formação emgenética forense).

Do mesmo modo articulamospesquisas prioritárias na Susam e produzimosa agenda internacional do Governo do Estadocom Cuba. No início de 2004 lançamos oPrograma de Apoio à Pesquisa em Empresas:o PAPPE, prevendo financiar pesquisas em20 empresas e obtivemos a demanda

“ No início de 2004lançamos o Programa de

Apoio à Pesquisa emEmpresas: o PAPPE,

prevendo financiarpesquisas em 20

empresas e obtivemos ademanda de 113. ”

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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de 113. Junto à Sead estamos programandoações integradas à Escola de Governo para amodernização de formação dos servidoresem áreas identif icadas pela Política deRecursos Humanos dessa Secretaria.

T&C - Em sua visão, quecontribuições C&T têm a oferecer para odesenvolvimento do Amazonas?

MC - São diversas em formas e níveisas contribuições que C&T têm a oferecer parao desenvolvimento do Amazonas. Apartirdeuma concepçãoestratégica, o Estado podeter clareza doseulugarnodesenvolvimento do Brasil,do valor científico de suasócio e biodiversidade, doleque de ofertas possíveisde serem desenvolvidascom investimentos emC&T: a formação avançadaem todos os campos doconhecimento, a pesquisaavançada em todos ostemas e áreas daprodução científ ica, aprodução de dados e indicadores apropriadosaos processos físicos e sociais da Região, aelevação dos índices de desenvolvimentohumano pelo melhor desempenho daspolíticas públicas, a modernização deestruturas e processos de gestão. O apoio àimplantação de tecnologias apropriadas àsinovações tecnológicas. Ciência e Tecnologiasão criações sof isticadas d e u m

determinado padrão de desenvolvimentocultural e das forças produtivas, e, portanto,não são dissociadas do desenvolvimento so-cial. É pelo conhecimento científico que avaloração dos recursos de sobrevivência e decrescimento econômico são acionalmentedimensionados, tanto quanto são definidas aschamadas “vocações” de um Estado, de ummunicípio, de um país. Do mesmo modo, épelo conhecimento científico que as formashumanas de intervenção no Trópico Úmidopodem ser melhor dosadas, induzidas,corrigidas, criticadas. No caso do Amazonas,

a ciência já identificouinúmeros processos eformas de intervençãopredatórias e anti-econômicas a longoprazo. Mecanismos deadaptação ao ambientetêm s id o t am b é ma p e r f e i ç o a d o s emelhorados pela açãoda ciência: vivermelhor e com padrãode bem estar digno é oobjetivo máximo que aciência oferece à

humanidade. Aos grupos sociais doAmazonas o desenvolvimento pode traduzir-se em melhorias econômicas, sociais,culturais e existenciais. Eliminar e reduzir apobreza da vida humana nos trópicos é umdesafio, considerando que produção dariqueza é concentrada em grande parte, asobrevivência depende dos recursos naturais.

Buscamos, então, resultados que

“ Buscamos, então,resultados que articulem

as preocupaçõesgovernamentais com odesenvolvimento e a

produção doconhecimento aplicadoàs realidades regionais.

Este é o sentido queorienta os Programas da

SECT ”

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“ A ausência deestudos estratégicos

de dados eindicadores confiáveis

constitui-se emdesafios a serem

superados ”

articulem as preocupações governamentaiscom o desenvolvimento e a produção doconhecimento aplicado às realidadesregionais. Este é o sentido que orienta osProgramas da SECT, tais sejam: Gestão daPolítica de Ciência e Tecnologia, CooperaçãoInternacional em Ciência, Tecnologia eInovação, Capacitação de Técnicos da SECT,Ciência e Tecnologia para Inclusão Social,Formação e Capacitação para PesquisaAvançada, Desenvolvimento Regional eBiotecnologia, Promoção da Pesquisa e doDesenvolvimento Científico e Tecnológico,Difusão e Popularização do ConhecimentoCientífico e Tecnológico eApoio ao Parque Industrialde Manaus (PIM). Alémdestes p r o g r a m a sestamos participando daRede Brasil de Tecnologia,Rede da Cadeia Produtivade Petróleo e Gás,Programa de Comunicaçãoe Informação paraPesquisa – Prossiga, Rede Nacional deProteoma (com implantação de 03 laboratóriosassociados e 03 usuários), Rede Estadual deEnsino e Pesquisa integrada à Rede Nacionalde Pesquisa, Rede Amazônica de Design.Doze instituições de pesquisa locais comseus corpos de pesquisadores, integram-seàs ações dessas redes, o que é um resultadomuito bom, no tempo de vida da SECT. Mas oresultado mais fecundo e palpável, de amplarepercussão social é que todas as instituiçõespúblicas federais e estaduais e 2 privadas, ou

seja, 18 instituições internalizaram todos

os programas editados da Fapeam parafinanciamento de pesquisas, bolsas, eventos,custeio de projetos, e inovação tecnológica,mestrado e doutorado. Resultou, este fato, nainternalização de 15 diferentes estratégias dedesenvolvimento de pesquisa induzida peloEstado com o apoio do Governo Federal. Alémdisso, interiorizaram ações do ProgramaJovem Cientista Amazônida, através depesquisa rural, indígena e urbana emBenjamim Constant, São Gabriel daCachoeira, Barcelos,Manairão, PresidenteFigueiredo, Rio Preto da Eva, Manacapuru,Itacoatiara, Silve s , Nhamundá, Parintins,

Barreirinha e Maués.Apenas neste item há 39projetos de pesquisainteriorizados com 383bolsas vinculadas a estesprojetos.

Outro exemplo é oresultado obtido pela açãodos Editais Temáticostotalmente voltados para

apoiar cientificamente o foco do governo noZona Franca Verde, nas áreas de recursosflorestais, recursos pesqueiros, saúde públicae ambiente, tecnologias sociais para odesenvolvimento sustentável e agronegóciossustentáveis. Onze instituições públicas euma associação de piscicultores aprovaram34 projetos, com 119 bolsistas. A capacitaçãode recursos humanos para formação decientistas concedeu bolsas e custeio de 30%do valor das bolsas para os projetos. Por meiodo PIBIC (totalmente financiado pelo Governodo Estado) 254 bolsas foram implementadas:

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no PIBIC júnior, 155 bolsas , na pós-graduaçãoStricto-sensu, 98 bolsas, no Posvinc(dedicada a pesquisadores das IES e IPESpúblicas), 98 bolsas.

O resultado do Programa Integrado dePesquisa e Inovação tecnológica – PIPTaprovou 97 projetos, de uma demanda de 248,aos quais associaram-se 129 bolsas depesquisa em nível de doutorado, mestrado,apoio técnico e iniciação científica. Outrosprogramas como o Pronex, DesenvolvimentoCientífico Regional que apóiam Núcleos deexcelência em C&T e destinam-se à fixaçãode recém-doutores em projetos de pesquisade grande envergadura, foram igualmentebem sucedidos com 30 bolsas concedidas.Os auxílios a 15 eventos científicos deram-seem todas as grandes áreas do conhecimentoe permitiram 82 participações em eventoscientíficos nacionais e internacionais. Noâmbito da Divulgação de C&T, a Fapeamfinanciará 17 obras da Ufam e Inpa em todasas áreas do conhecimento. E o PAPPE,lançado em 2004, para financiar 20 empresas,teve a demanda de 113. Como trata-se depesquisa específica e em área específica, ademanda também surpreendeu. As entidadesvinculadas UEA e Utam introduziram 13 dos15 programas editados em suas políticasacadêmicas. Não se pode dizer mais queessas entidades não têm política de pesquisa.Até julho ultrapassaremos 2000 bolsas empouco mais de 1200 projetos recebidos eanalisados.

T&C Amazônia - Quais os principaisdesafios para a estruturação de um sistema

de CT&I no Amazonas?

MC - Sem priorizá-los, avalio que aausência de estudos estratégicos de dados eindicadores confiáveis constitui-se emdesaf ios a serem superados. Sórecentemente, a UEA tem cursos de Pós-Graduação Stricto Senso (doençasinfecciosas e parasitárias, direito ambiental –o primeiro do Brasil – e Biotecnologia,B i o d i v e r s i d a d e e B i o p r o s p e c ç ã o )reconhecidos pela Capes.

Enquanto isto, o Inpa que tem 50 anosno Amazonas, tem 11 pós-graduações(mestrado e doutorado) e a Ufam que tem 95anos, tem 28 cursos deste tipo. Aconcatenação de diferentes tempos,interesses, linhas de prioridade e objetivospróprios destas instituições que fazem aformação avançada, aquela além dagraduação no ensino superior, desafia ainteligência do Estado em identificar, nasdiferentes tradições intelectuais, o fio que asarticula aos interesses do Estado. Temas,áreas do conhecimento, prioridades tópicassão modos de induzir demandas e superar odesafio de aplicar ciência às políticas públicasde educação, saúde, habitação, meioambiente, atividades econômicas, segurança,entre outras prioridades. Outro desafio é criarum padrão de influência nas demandasqualif icadas dos institutos privados depesquisa e das instituições não públicas quese dedicam ao desenvolvimento tecnológicoe à inovação. Mesmo que todas busquemresultados qualitativos nos seus campos de

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“ Na definição da políticaindustrial brasileira há trêsgrandes setores que são

potenciais nodesenvolvimento local:

semicondutores,fitofármacos e software,

mas toda a opiniãopública nacional pensa o

Amazonas comoextrativismo ”

atuação e de interesses específicos, a políticado Estado busca uma equivalência de níveisde excelência, entre esses e as instituiçõespúblicas de formação avançada. Por outrolado, há um nível do desenvolvimento dasforças produtivas que não evolui semconhecimento científico, sem a transformaçãodesse conhecimento em tecnologia, emprocessos e produtos. Hoje, a ciência estápresente desde a descoberta do princípioexplicativo, até nac o m u n i c a ç ã o d omarketing. Outro desafioé convencer os gestoresda ciência que se produzno Brasil, seja nosMinistérios de Educaçãoe de Ciência eTecnologia, seja nasagências que financiamas prioridades nacionais,que temos especificidadespróprias que poderiamser equacionadas commaiores investimentos em C&T. Na definiçãoda política industrial brasileira há três grandessetores que são potenciais nodesenvolvimento local: semicondutores,fitofármacos e software, mas toda a opiniãopública nacional pensa o Amazonas comoextrativismo. Além de outros arranjos e cadeiasprodutivas que o PIM desenvolveu, há espaçopara desenvolvimento de outros, e os setoresprodutivos que investem em P&D e I estão seorganizando para isso.

O desafio “final”, sem ser o último, écapacitar e produzir a mão-de-obra avançada

para a produção tradicional de um lado, cujopadrão tecnológico deve ser desenvolvido, ea da produção de ponta, que tem nabioindústria o maior foco de interesse dainteligência,do bionegócio, do uso racional eprodutivo da nossa biodiversidade. OPrograma Ciência e Sustentabilidade mapeoue interveio nos principais problemas da produçãotradicional: as necessid ades de infra-estrutura, estudos tecnológicos, pesquisas

t e c n o l ó g i c a s ecapacitação em nível deespecialização estãoidentif icadas, sejamcomo desafios sejamcomo prioridades decurto, médio e longoprazo. Com o PIM, odesafio é convergir apolítica estadual de C&Tpara constituir efortalecer pólostecnológicos, cadeiasprodutivas, incubadoras

de empresas e induzir programa detecnologias industriais básicas. A aproximaçãodos setores públicos de pesquisa com oambiente da empresa e da inovaçãotecnológica é desafio constante do presentee do futuro.

T&C - Que tratamento estásendodado à inovação como um dosagentes promotores do desenvolvimentoeconômico ?

MC - Começamos a induzir temas e

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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preocupações com a inovação por meio doPAPPE, totalmente voltado para empresas epor meio do fortalecimento de todos osprogramas de capacitação avançada demestrado e doutorado daqui e do resto doBrasil. Por outro lado, o Programa Integradode Pesquisa e Inovação Tecnológica propõe--se a financiar projetos de pesquisa e inovaçãoque representam contribuição significativapara o desenvolvimento do Estado. Assimdefiniram-se 4 faixas de financiamento de até10 mil reais, de 10.001 a 20.000 reais, de20.001 a 50 mil reais e de 40.001 a 100 milreais. Na primeira faixa, foram destinados480.000,00 reais, para a segunda 720.000,00,também para a terceira 720.000,00 e na quartafaixa 960.000,00, sem falar que cada faixa temvalores para custeio, capital e bolsas,crescentes. A chamada de Edital para ainovação tecnológica realizada pela Fapeamatribui a maior faixa de financiamento, ou seja,a de 100.000 reais para a inovaçãotecnológica. O resultado foi a aprovação de97 projetos de uma demanda de 248 projetosaprovados; e associados aos projetosaprovados implantaram-se 129 bolsas.Destaque-se que para a inovação tecnológicao proponente tem 4 modalidades de bolsas ademandar: de Desenvolvimento Científico eTecnológico no valor de 1.045,89 reais, depesquisador visitante Sênior no valor de241,51 reais. Resta informar que todas asbolsas tiveram acréscimo de 25% aprovadaspelo Conselho de C&T da Fapeam que aSECT preside. Treze órgãos públicoscapacitaram-se aos projetos de inovação ecremos que este é um tratamento que

intervém diretamente no apoio e na aceleraçãoda capacidade e da necessidade de inovação.O apoio à inovação também se estende àcriação de condições para aumentar acompetitividade do PIM, seja por meio de apoioao desenvolvimento tecnológico e atividadesde C&T em áreas estratégicas (energiasrenováveis, fármacos, etc), seja apoiando aincubação e transferência de tecnologias. Aparticipação do Governo do Estado no CAPDAe na dinâmica definidora de ProgramasPrioritários e Projetos Estruturantes, tambémse inscreve neste propósito.

T&C - E quanto ao desafio deutilizar o conhecimento científico paratransformar a riqueza natural do Amazonasem melhoria da qualidade de vida dosseus habitantes, como ele está sendoenfrentado?

MC - De várias formas. Demosprioridades em 2003 à recuperação dacapacidade de pesquisa instalada nasinstituições como Inpa, Embrapa, Ufam,Fiocruz, Instituto de Medicina Tropical,Fundação Alfredo da Matta, etc. Porquesabemos da relação direta entre a pesquisabásica e a aplicada à produção rural, à saúdee ao meio ambiente, etc. A capacidade do Inpae da Embrapa no desenvolvimento de projetosdemonstrativos, aqueles de imediata traduçãoda ciência básica para a intervenção social, émuito grande. Acontece que nossa escalaespacial de atenção de todo o interior doEstado é enorme e dos 62 municípios doEstado do Amazonas, os projetos dessa

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

natureza só atingiram 14 em todo Estado. Oque nos permite uma avaliação positiva é o

fato da comunidade indígena, do técnicoagrícola, do engenheiro agrônomo, do PhD queforma mestres e doutores estarem, nestecaso, integrados ao Ciência e

Sustentabilidade e agindo sobre um tema, umproblema, uma necessidade em que a ciênciapode transformar e induzir soluçõesinovadoras. Um aproveitamento de madeira

com tecnologia apropriada por cientistas doInpa e da Fucapi, por exemplo permite que 43jovens de nível médio apropriem-se detecnologias capazes de

gerar renda e melhorar aqualidade de vida de seugrupo familiar. AsSecretarias de Meio

Ambiente e DesenvolvimentoSustentável e de induçãoaos estudos estratégicos,desenvolvimento e

inovação tecnológica;apoio a ações demodernização e à formação e capacitação derecursos humanos. Cada área de ação do

Edital Temático, tais sejam: Uso Sustentávelde Recursos Florestais, Uso Sustentável deRecursos Produção Rural receberam daSECT edital específico de R$10 milhões para

projetos de Pesqueiros, Saúde Pública eAmbiente, Tecnologias Sociais em PolíticasPúblicas e Agronegócios Sustentáveis recebeu2 milhões. Pode-se dizer que é um esforço

considerável, todo interiorizado, privilegiandoas populações tradicionais sob a forma de 34

diferentes projetos.Essas ações complementam-se com

a criação do Cetam – Centro Tecnológico doAmazonas, outra Entidade vinculada à SECTcriada e implementada no exercício de 2003.O Cetam começou suas atividades em 22 de

março com 853 alunos em 14 municípios. Édestinado a formar técnicos para asnecessidades do Estado (técnicos florestais,enfermeiros, técnicos agrícolas, etc.) e con-

verge também para a produção de profissõesque os municípios demandam, além de darcumprimento a educação técnica e

profissionalizante. O

impacto dessas medidasé visível no plano dasociabilidade e geraçãode renda local.

T&C - Comoocorrem as relaçõesentre o conhecimentocientífico e oc o n h e c i m e n t o

tradicional? A sua Secretaria já dispõe dealgum meio para estimular essa interação?

MC - O pensamento produzido peloconhecimento científico a partir do Ocidentenegou, por muito tempo, todo e qualquer

conhecimento resultante da tradição. A ciênciaconcebida no Oriente, por outro lado, ancora--se no conhecimento tradicional porque elealicerça posições e cristaliza o status das

próprias castas de cientistas. O próprioprocesso de legitimação da ciência como

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

“ A Rede Norte dePropriedade Intelectual,

Biodiversidade eConhecimentos Tradicionais

(...) pode tornar-se em uminstrumento poderoso de

proteção do conhecimentotradicional ”

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instituição universal exclui o “senso comum”e todas as experiências tradicionais. Essapostura, hegemônica até os anos 70, sofreumacrítica radical onde o marco do “Círculo deViena x Escola de Frankfurt” culmina nodilaceramento das certezas científicas, de suaabsolutização. A critica não atinge apenas opensamento científico ocidental, mas toda aorganização da ciência na civi lizaçãocapitalista.

Assim, o etnoconhecimento éretomado sob perspectivas novas de articularlinguagens, procedimentos, meios,complementaridade e discursos nãohegemônicos.

O foco do pensamento tradicional naAmazônia foi dirigido pela questão indígena epelo reconhecimento de que o encontro dacultura européia e as culturas amazônicas nãoconsegue eliminar os processos identitários.Para as populações amazônicas indígenas ecaboclas, o conhecimento desenvolvido pelanecessidade de sobrevivência e pelas formasde adaptação ao ambiente amazônico ébásico para todas as formas de classificaçãoda natureza que a ciência ocidental seapropriou. A Rede Norte de PropriedadeIntelectual, Biodiversidade e ConhecimentosTradicionais produzida pelo conjunto deiniciativas do Inpa, Museu Goeldi e Fucapi podetornar-se em um instrumento poderoso deproteção do conhecimento tradicional. Ab io p i ra t a r ia e o p a t e n t e a me n t o d eco mp o n e n t e s a t i vo s já co n h e c id o spelosamazônidas e expropriado deles porempresas de bioprospecção, é um fato, massó recentemente o Brasil reage a essas

iniciativas. Há vertentes no âmbito doconhecimento de várias especialidadescientíficas que têm ponto de vista contrário àproteção do conhecimento tradicional.Tentativas de classificação da naturezacoletiva, do uso e da transmissão doconhecimento tradicional, opõem-se aospontos de vista do patenteamento e daapropriação particular de processos eprodutos. É, portanto, um tema polêmico queenvolve interesses de ONG´s, instituiçõescientíficas, empresas, representações elideranças indígenas e, no próprio governofederal, há pontos de vista divergentes sobreo mesmo assunto.

O governo do Estado nomeourecentemente uma comissão para analisar odocumento produzido por iniciativa do poderLegislativo e liderado pelo Dr. Frederico Arrudaque apresenta uma proposta amazônica deregulação do uso de nossa própriabiodiversidade. Este sim, pode ser oinstrumento gerador de tantos outros, nosentido de estimular essa intenção, semrelação de subalternidade e de apropriaçãoindevida. Pelo menos é isso que queremos.Outras iniciativas de articular a Universidadee o conhecimento científico às OrganizaçõesIndígenas atuam na mesma direção.

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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RESPIRANDO INOVAÇÃO

Guilherme Ary Plonski *

RESUMO

O artigo examina o atual projeto da leide incentivos à inovação, conhecido comoprojeto de “lei da inovação”, sob a ótica deinstitutos de pesquisa tecnológica brasileiros,principalmente os públicos. Conclui que,embora podendo contribuir para oadensamento do sistema nacional deinovação, a proposta preparada pelo PoderExecutivo mantém barreiras históricas àcontribuição desses institutos. Um espaçopara a voz dos institutos no Conselho Nacionalde Ciência e Tecnologia permitiria valorizarexpressivamente a sua contribuição para odesenvolvimento econômico e social do País.

DA ESSENCIALIDADE DA GESTÃO DOPROCESSO DE INOVAÇÃO

Embora realizada de forma intuitiva, arespiração pode ter seu desempenhometabólico significativamente melhoradomediante exercícios sistemáticos. Para quemquer atuar – e, mais ainda, obter destaque –em áreas tais como esportes e música vocal,a capacitação respiratória adequada éessencial. Pessoas enfermas, por sua vez,também podem requerer cuidadosrespiratórios especiais.

Mas seja qual for a técnica adotada –

Respirando Inovação

Projeto Gráfico da Infografia: Luciane Melo -Acadêmico em Design.

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ginástica aeróbica, ioga ou qualquer outra – oefeito desejado apenas será alcançado e sesustentará caso haja dedicação de recursos(principalmente tempo), disciplina eaprendizagem em sua prática regular epermanente. A elevada motivação requeridapode estar associada a qualquer nível denecessidade humana – por exemplo, a decontinuar vivendo, como no caso de pessoascom problemas cardiorrespiratórios. Ou a deser reconhecido, por ter vencido um certameintensamente competitivo. Ou, ainda, a de,pelo controle da respiração, melhorardimensões físicas, mentais ou espirituais davida.

A inovação tem, para as sociedadescontemporâneas, características análogas àsda respiração para os indivíduos. Emborarealizada de forma natural por algumasorganizações, seu desempenho econômicoe relevância social podem sersignificativamente melhorados mediantegestão sistemática e competente. Essepotencial de ganho tem se manifestado comparticular intensidade na inovação tecnológicabaseada no avanço do conhecimento.

Organizações expostas a ambientesfortemente competitivos, tais como asempresas que atuam em segmentos daeconomia expostos aos rigores damundialização, percebem os benefíciosdecorrentes do alcançamento e sustentaçãode desempenho superior nos processos deinovação e, em muitos casos, dedicamatenção expressiva à sua gestão. Essasensibilidade é menor – e se faz mister

continuar a desenvolvê-la – em parcelasvulneráveis do tecido econômico nacional,notadamente empresas de pequeno portetradicionais.

Especialmente preocupante é ainsuficiente presença da inovação no ambientede políticas públicas no País. Prevalece, comexceções honrosas, o modelo mental pelo qualo resgate das dívidas nos campos da infra-estrutura nacional e da coesão social éassociado, de forma quase exclusiva, àalocação de maiores recursos pelas diversasesferas de governo. Problemas de elevadacomplexidade são reduzidos a um embatesobre percentuais alocados do orçamento,sem esforço organizado na busca dequalidade dos gastos, medida em termos dosresultados efetivos e sustentados para asociedade.

O PROJETO DE LEI DE INOVAÇÃO

Países emergentes que foram bemsucedidos no último quartel do séculopassado e princípios do atual – tais comoCoréia, Finlândia, Irlanda, Israel e Taiwan e,mais recentemente, China e Índia –conseguiram combinar virtuosamente o poderde compra do Estado com os poderes daarticulação dos conhecimentos da sociedade.

Trilhar caminho virtuoso similar aosdos países mencionados é o objeto daproposta do projeto de lei que “dispõe sobreincentivos à inovação e à pesquisa científicae tecnológica”, conhecido como projeto de leide inovação. A promulgação de tal lei tornou-

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se um mantra da inovação em nosso país1.

É verdade que um novo marco legalpode ser o divisor de águas em determinadasdimensões do processo de inovação. Issoocorreu, por exemplo, na apropriação pelasempresas do conhecimento desenvolvido porinstituições científico-tecnológicas nos EUA,em decorrência de dois atos legislativosocorridos em 1980. O primeiro, o Stevenson--Wydler Act, incorporou a transferência detecnologia na missão de todos os laboratóriosfederais e requereu que os maioresestabeleçam escritórios de aplicação dapesquisa e da tecnologia. O segundo, oconhecido Bayh-Dole Act, permit iu auniversidades e outros executores depesquisa apoiada com recursos federaisreceber patentes das invenções e os instruiua part ilhar os proventos derivados dolicenciamento com os inventores individuais.

O estabelecimento de uma lei deinovação para o Brasil foi assumido peloMinistério da Ciência e Tecnologia (MCT) porocasião da Conferência Nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação, realizada em setembrode 2001. O texto básico estava calcado emprojeto de lei anterior, apresentado pelosenador Roberto Freire, o qual, por sua vez,baseava-se na lei de inovação francesa, de19992.

A proposta foi submetida a discussãoem múltiplos fóruns, bem como colocada emaudiência pública na internet. Grandequantidade de sugestões foi recebida eprocessada pelo MCT, resultando num textopublicamente divulgado em cerimônia pública

realizada no Palácio do Planalto em agostode 2002. Após uma tramitação complicada pordiversas instâncias do Poder Executivo, foiencaminhado projeto de lei ao Congresso, emcaráter de urgência, quando já se estavaencerrando a gestão passada.

A administração empossada em 2003manteve o projeto no Congresso – em quepese a pouca simpatia em relação aproposições ali contidas, notadamente as quese referiam à flexibilização do regime docentenas universidades –, mas sem caráter deurgência. O processo de consolidação de umprojeto de lei capaz de satisfazer as partesinteressadas tem se mostrado árduo. O textodo anteprojeto atravessou o primeiro ano daatual gestão sem atingir, no âmbito do PoderExecutivo, as condições de consenso quepermitissem submetê-lo, como substitutivo, aoCongresso Nacional.

Pretende-se fazê-lo em 2004, comoparte das medidas da Política Industrial,Tecnológica e de Comércio Exterior, divulgadaem 31 de março. Atribui-se ali ao MCT, nocapítulo Fortalecimento do Sistema Nacionalde Inovação, a execução de “Nova lei deincentivo à inovação que atua na relaçãouniversidade – institutos de pesquisa –empresas. Possibilita que as universidades,institutos de pesquisa e empresas fechemacordos de parceria para criação de novosprodutos e processos”. A meta exposta é“Criar condições para que a taxa deinvestimento em P&D aumente nasempresas, integrar esforços de P&D deempresas e de universidades e institutos depesquisa”.

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Cabe, evidentemente, confiar no poderde uma legislação adequada de estimular ainovação. Mas tendo presente a limitação dopoder da abordagem legal de, por si,transformar a realidade3.

Essa cautela é reforçada pelaexperiência histórica na execução dasdezenas de mecanismos de estímulo àinovação no Brasil gerados no âmbitogovernamental, mormente na esfera federal,ao longo da segunda metade do século 20 einício do atual. Entre eles, mecanismos deestímulo financeiro; mecanismos de estímulomoral; mecanismos de estímulo orientadosprincipalmente para a inovação em empresasde pequeno porte; mecanismos educacionais;mecanismos associados ao poder de comprado estado; e disponibilização de infra-estruturatecnológica.

Essa abundância de mecanismosreflete a intenção positiva dos gestorespúblicos, notadamente dos que cuidam deagências especializadas. Contudo, em quepese o êxito localizado de algumas dessasiniciativas, seu efeito conjunto em termos dealavancagem da inovação no Brasil afigura-se módico. Diversos fatores podem serarrolados, entre os quais se destacam três.

O primeiro, estrutural, é a ausência deuma estratégia científico-tecnológica acordadaentre os principais agentes do sistema deinovação. O Brasil chegou perto de iniciar umprocesso participat ivo estruturado eestruturante, capaz de estabelecer prioridadesnacionais ancoradas numa visão prospectivafundamentada, que havia sido demandada pelo

Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia(CCT) ainda em 1996. Quatro anos depois,por motivos não explicados substantivamente,o MCT decidiu abortar a realização de estudoprospectivo já em condições de ser iniciado.

O segundo fator, tático, é o caráterespasmódico e fragmentado dos mecanismos.Geralmente efêmeros, têm sua subsistênciaafetada mais por mudanças na direção dosórgãos e entidades que o criaram do que emdecorrência de avaliação isenta. A inexistência,no Brasil, do eixo estruturante dodesenvolvimento tecnológico voltado para ainovação, primeiro fator apontado, torna esses

mecanismos vulneráveis a contingenciamentoe outras restrições. Essa apnéia orçamentáriagera conseqüências graves e, por vezes,fatais.

A terceira razão é a concentração dosmecanismos de estímulo governamental emsegmentos do processo de inovação amontante desse “duto virtuoso”. Issocorresponde ao paradigma conhecido comomodelo linear de inovação, que se baseia naexpectativa de que a produção de novosconhecimentos, devidamente “transferidos” dauniversidade para a empresa, gerará bens eserviços competitivos.

O projeto de lei de inovação explicitaalguns conceitos típicos de paradigmasmodernos de inovação, tais como os dealianças estratégicas, redes e incubação. Mascontém lacunas expressivas em termos detratamento abrangente do processo deinovação. É sintomática a ausência deatenção à engenharia, componente

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fundamental do processo de inovação, quenem é mencionada no texto.

A LEI DE INOVAÇÃO CONTRIBUIRÁ PARAS U P E R A R AS B AR R E I R AS A O SINSTITUTOS DE PESQUISA ?

A principal barreira aos institutos depesquisa tecnológica brasileiros (IP) é acultura de incompreensão da complexidadedo processo de inovação tecnológica por partedo governo e de atores privados.

IP públicos são criados pelo governofederal ou por um governo estadual pararesponder, com qualidade, a necessidades dosistema produtivo e das políticas públicas.Ocupam uma posição singular no sistema deinovação, pela sua capacidade de, estandointimamente associados ao setor produtivo,ser capazes de compreender a academia elidar com o governo. Têm, ademais, valoresessenciais para a inovação, entre eles: abusca obsessiva de resultados concretos, quevão além da publicação de trabalhos emrevistas científicas; a sensibilidade do valor dotempo para o cliente; o envolvimentoinst itucional em projetos de impactoestratégico social e econômico; e, umatranqüilidade para operar em ambientes desigilo absoluto.

No caso de institutos de grande portehá, ainda, a expressiva vantagem daabrangência e multidisciplinaridade, quepermite coligar e integrar competênciashumanas e laboratoriais de várias áreas.Assim, seu papel natural é o de ajudar aadensar o sistema de inovação (nacional e

regional), na posição de nó articulador deredes de instituições, empresas, entidadesfinanceiras e ONGs.

Evidência contemporânea danecessidade de promover uma mudançaconceitual é o entendimento equivocado daidentidade entre os papéis e característicasde instituições de ensino superior (IES) e IP.Esse entendimento reducionista está tãoentranhado que leva o governo a tomar a parte(universidade) pelo todo (complexo deinstituições do sistema de C&T). Exemplocontundente é o conhecido “Fundo Verde-Amarelo”, cujo nome formal é “Programa deEstímulo à Interação Universidade-empresapara Apoio à Inovação”. Ilustração recentedesse capitis diminutio é uma publicaçãooficial, de janeiro/fevereiro/2004, que tem portítulo “Fundo Verde-Amarelo: universidade eempresa juntas no caminho da inovação”.

O projeto da lei de inovação pelomenos é inclusivo, ao usar as expressões“instituição científica e tecnológica (ICT)” paraas entidades públicas e “entidades nacionaisde direito privado sem fins lucrativos voltadaspara atividades de pesquisa” para as privadas.

Todavia, o referido projeto de lei reforçao conceito equivocado subjacente ao modelode f inanciamento público da pesquisatecnológica, inclusive pelos fundos setoriais,que veda qualquer participação no custeio daequipe profissional do IP – pedra angular dainovação. Está ele calcado no perfil acadêmicodo(a) pesquisador(a), cujo salário já éintegralmente pago pelo estado emdecorrência da atividade de ensino de

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graduação e de pós-graduação, sendo apesquisa e, eventualmente, a extensão,atividades complementares à docente.

O modelo de f inanciamentouniversitário da pesquisa tecnológicaestrangula economicamente os IP, cujosquadros – à diferença das IES - sãointegralmente dedicados à pesquisa e àextensão. Pelas limitações de recursosorçamentários, o aporte do tesouro cobreapenas parcela da folha de salários e encargosdo IP e uma parte limitadíssima de seu custeio.Isso induz à busca intensa de serviçosremunerados, que freqüentemente nãoconstituem o melhor uso estratégico dascompetências instaladas e que, ademais, podesofrer dificuldades legais para a sua imediatautilização no IP.

A conseqüência que a persistênciadesse modelo perverso causou nos IP, sobreos quais a proposta de lei de inovação aindanão trata, é a perda de talentos e aobsolescência da sua infra-estrutura depesquisa e produção tecnológica. Quem sofreo impacto é a sociedade - empresas que não

podem ser atendidas em suas necessidadesde apoio e inovação, deixando de geraroportunidades de trabalho e renda; programasgovernamentais feitos com boa intenção, masque não otimizam soluções-recursos, e assimpor diante. Cabe observar que, de forma geral,mesmo em condições longe das ideais, os IPpúblicos “fazem das tripas coração” econtinuam a desempenhar um papel singularno apoio ao sistema produtivo e às políticaspúblicas. Mas poderiam fazer muito mais, commenos desgaste.

Um passo inicial seria o de incluir a vozdos IP em todos os colegiados dirigentes dosistema nacional de ciência, tecnologia einovação. No âmbito do CNPq, por exemplo,há uma representação da comunidadetecnológica – além da acadêmica eempresarial. Com isso, pôde-se iniciar umprocesso de ref lexão que, certamente,contribuirá para tornar os resultados dessaagência mais aderentes à totalidade da suamissão de fazer uma diferença nodesenvolvimento científico e tecnológico.

Já na atual composição do ConselhoNacional de Ciência e Tecnologia, reformuladopela atual administração, não há – quer entreos representantes dos “produtores de C&T”,como entre as “entidades nacionaisrepresentativas de setores de ensino,pesquisa e C&T” – quem possa expressar,alicerçado(a) em vivência concreta, as formasde melhor valorizar a contribuição que os IP jádão e podem ainda mais dar ao País.

Contribuição que institutos similaresaos nossos deram a seus países. Com o que,passando a respirar inovação com fôlego deatleta bem treinado, essas sociedadessuperaram o Brasil nos principais indicadoresde desenvolvimento econômico e social. Oprojeto de lei de inovação precisa seraprimorado.

Notas

1 Plonski, G.A. – “Mantras da Inovação”. In: Fleury, M.T.L.e Fleury, A. (org.) – Política Industrial. São Paulo:Publifolha, 2004. vol. 2, pp. 93-118.

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2 A lei 99.587, de 12 de julho de 1999, sobre ainovação e a pesquisa foi adotada por unanimidadepelo Senado francês.

3 A experiência de outros países indica umamadurecimento à medida que se passa demecanismos exclusivamente legais prescritivos paracombinação de um quadro legal favorável comincentivos econômicos inteligentes. No Brasil, por umlado, há dispositivos constitucionais não aplicados e,por vezes, ainda nem regulamentados. Por outro,existem casos relevantes de inovações que ocorremsem nenhum mandado legal. Por exemplo, com 87%das latas de alumínio recicladas em 2002, o Brasil érecordista mundial entre os países onde não existe lei

que obrigue à reciclagem.

* Guilherme Ary Plonski é DiretorSuperintendente do IPT, Professor da Poli/USPe FEA/USP, Vice-Presidente da Anprotec eDiretor da Anpei. Preside os conselhoscuradores da Fundação Vanzolini e daFundação de Apoio ao IPT. Integra osconselhos deliberativos do CNPq, Sebrae-SP,Centro Incubador de Empresas Tecnológicas(Cietec), Núcleo de Polít ica e GestãoTecnológica da USP, Sociedade Brasileira deMetrologia, Instituto Genius, Fundação Iochpee Hospital Einstein. Membro da Junta deGovernadores do Technion – Israel Institute ofTechnology.

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FINEP E A INOVAÇÃOCONQUISTANDO ESPAÇOS NAAGENDA NACIONAL

A construção de um sistema nacionalde inovação capaz de integrar as instituiçõesgeradoras do conhecimento às empresasprodutoras de tecnologia é, na opinião doDiretor da Finep, um passo decisivo para queo Brasil avance em inovação. Nesta entrevistaà T&C Amazônia, Odilon Marcuzzo Cantoafirma, entretanto, que a inovação já compõea agenda nacional e que a presença doPresidente República no recém formadoConselho Nacional de C&T é uma enfáticademonstração do compromisso do governopara com a matéria. Ele enfatiza ainda que ocombate às desigualdades regionais emCT&I, através da criação de Fundos Setoriais,é um passo importante e decisivo, mas que odesafio é não comprometer a capacidade jáinstalada nos grandes centros. Sobre aparticipação da Finep no estímulo à CT & I,Odilon Marcuzzo Canto é categórico aoafirmar que a Financiadora está “na gênesisde todos os grupos de pesquisa do Brasil” eque, através do Prêmio Finep de Tecnologia,vem não só est imulando uma novaconsciência como proporcionando tambémmaior visibilidade a seus vencedores.

T&C - O que diferencia os estágiosem que se encontram os sistemas locaisde CT&I pelo país? A redução de desníveisregionais é uma preocupação da Finep?

OC - As diferenças nodesenvolvimento de CT&I refletem os grandes

Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional

Projeto Gráfico da Infografia: Carol Azulay -Acadêmico em Design.

Entrevista

QUEM É ODILON MARCUZZOCANTO

Diretor de Desenvolvimento Científico eTecnológico da Financiadora de Estudos eProjetos – FINEP, do Ministério de Ciência eTecnologia, o gaúcho Odilon Antônio MarcuzzoCanto é Mestre e Ph.D em Engenharia Nuclear pelaUniversidade Berkeley da Calofórnia. Foipresidente da Fundação de Ciência e Tecnologia– Cientec, vice-presidente da ABIPIT e Reitor daUniversidade Santa Marta, no Rio Grande do Sul.

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desníveis no estágio de desenvolvimento dasregiões brasileiras, conseqüência de políticaspúblicas equivocadas implementadas noBrasil ao longo de décadas. O aporte derecursos, salvo raras exceções, seguiu ummodelo altamente concentrador. Deve-senotar que este estado de coisas, emborasocialmente injusto, foi responsável pelacriação de uma capacidade de produção dec o n h e c i m e n t o r e c o n h e c i d ainternacionalmente. Desta forma, éresponsabilidade do Governo criar condiçõesde superação desses desníveis regionais,sem no entanto colocar em perigo acontinuidade da capacidadejá instalada, o que,evidentemente, não é umatarefa singela. A criação dosFundos setoriais comexigência em lei dedistribuição mínima de 30%para as regiões Nordeste,Norte e Centro - Oeste, já é um importanteavanço. Além disso, o MCT, através da Finep,vem se preocupando em criar programas quevisem alcançar todas as regiões de formaeqüitativa.

T&C - A mobilização alcançadaatravés da primeira Conferência Nacionalde CT&I justificaria uma nova edição e asua adoção como um fórum permanentepara a discussão das diretrizes de umapolítica nacional?

OC - O envolvimento de todos osatores da cadeia de ciência e tecnologia com

os Fóruns Regionais e depois com o FórumNacional, foi um dos fatos mais importantespara a criação de uma agenda nacional deCT&I. A criação do Conselho Nacional de C&Te principalmente seu funcionamento com apresença constante do Presidente daRepública, o coloca num plano político deimportância. Entendo que a comunidade deC&T deve ter o entendimento e usar o CNCTcomo canal de demandas e fórum privilegiadode debates, valorizando-o.

T&C - Como andam as relaçõescooperativas entre a academia e o setor

produtivo no Brasil?O que tem sido feitopara torná-las maisintensas?

OC - Certamente onível de interação éainda inadequado, inclu-

sive por condições históricas. Por um lado,tínhamos até há pouco tempo um ambientemacroeconômico pouco favorável, com níveisde inflação e taxas de juros estratosféricos,mais adequado ao jogo da ciranda financeira,afastando as empresas dos investimentos emP&D e da busca de relacionamento com asuniversidades e centros de P&D. Hoje essascondições estão mudando, inclusive comtaxas de juros buscando patamares maiscivilizados. Por outro lado, é importante quese entenda o papel das universidades numsistema nacional de inovação. Asuniversidades produzem conhecimento,idéias. A transformação de uma idéia em

Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional

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“ O aporte de recursos,salvo raras exceções,

seguiu um modeloaltamente concentrador ”

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produto ou processo com valor de mercado é

um processo que exige investimentos e com

alto grau de risco embutido. Normalmente o

empresário não está disposto a correr tais

riscos. A empresa só vai apostar quando vir

condições reais mais imediatas de sucesso

econômico da inovação. Desta forma, a

aposta em uma interação universidade –

empresa com foco na inovação, tem tudo para

não dar certo. As empresas devem buscar

nas universidades o que é produto das

universidades, ou seja,

conhecimento para

re so lv e r problemas

específicos, e capacidade

de qualif icação e

educação continuada

para seus funcionários.

Para que sejam

intensificadas as relações

entre universidades e

empresas, é preciso

entender que o processo

de inovação tem mais

atores. É necessário

construir e implementar um sistema nacional

de inovação com universidades, institutos

tecnológicos e empresas de base tecnológica,

inserido num ambiente normativo e de

financiamento convenientes. A interação entre

os componentes do sistema e o entendimento

do papel de cada um deles cria as condições

favoráveis à inovação. Na medida em que as

universidades se qualificarem cada vez mais,

produzindo conhecimento de ponta e

formando cérebros capazes de dar

continuidade ao avanço da ciência e os

i n s t i t u t o s e ce n t r o s t e cn o l ó g i co s

modernizarem seus processos de gestão,

melhorarem seus laboratórios tornando-os

aptos a responderem aos desafios de

pesquisa e desenvolvimento de produtos e

processos inovadores, teremos as empresas

mais competitivas. A intensificação do número

de projetos cooperativos envolvendo

empresas, inst itutos tecnológicos e

universidades, levará a um conhecimento

m ú t u o e , p o r

c o n s e q ü ê n c i a , o

aumento de confiança

entre os atores do

sistema.

T&C - Osenhor acredita quetem aumentado aconsciê ncia dasociedade brasileiraquanto à importânciada inovação para adinâmica e

competitividade de economias modernas?Que papel a Finep vem desempenhandona ampliação dessa consciência?

OC - A abertura de mercado

acontecida no Brasil a partir dos anos 90 e

que teve funestas conseqüências para um

grande número de empresas brasileiras, foi

também responsável pelo surgimento de uma

mentalidade de inovação. Até então as

empresas tinham mercado cativo para seus

“ É necessário construir eimplementar um sistema

nacional de inovação comuniversidades, institutostecnológicos e empresas

de base tecnológica,inserido num ambiente

normativo e definanciamentoconvenientes ”

Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional

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“ Hoje se pode afirmarque a inovação estápresente na agenda

nacional; é difícil abrirum jornal que não

tenha algumareferência à inovação

produtos, não tendo portanto preocupaçãocom processos inovadores. Hoje se podeafirmar que a inovação está presente naagenda nacional; é difícil abrir um jornal quenão tenha alguma referência à inovação. AFinep tem por missão o fomento à ciência,tecnologia e inovação. Desta forma, deste asua criação em 1967 vem se empenhando nocumprimento desta missão. A Finep está nagênesis de praticamente todos os grupos depesquisa existentes no Brasil. Além disto,iniciativas de C&T deempresas em parcerias comuniversidades, que tiveramgrande sucesso econômico,também estão associadas afinanciamentos da Finep,como por exemplo, odesenvolvimento do aviãoTucano da Embraer, inícioda caminhada de sucessodaquela empresa. Osempreendimentos daPetrobras na área de prospecção em águasprofundas e o sistema Embrapa, principalresponsável pelo desenvolvimento daagroindústria brasileira, são outros exemplossignif icativos do apoio da Finep aodesenvolvimento de P&D no País.

T&C - Alcançando em 2004 a suasétima edição, que balanço pode ser feitodos resultados apresentados pelo PrêmioFinep de Inovação Tecnológica?

OC - O Prêmio Finep de InovaçãoTecnológica vem desempenhando, desde sua

criação em 1998, papel fundamental nofomento ao desenvolvimento tecnológico e aoesforço inovador das empresas e instituiçõesbrasileiras. Em sua sétima edição (quarta emnível nacional), em 2004, o Prêmio obtém,hoje, o reconhecimento do meio empresarial,científico e acadêmico e da mídia, legitimadopela presença do Presidente da República napremiação nacional, nos últimos três anos.Prova de que a filosofia com que o Prêmio foiconcebido faz parte da agenda nacional do

país, independente daorientação política de seusgovernos.

Os vencedores recebemtroféus – peças artísticasque têm como tema oc a l e i d o s c ó p i o ,simbolizando astransformações advindasdo processo inovador, bemcomo bolsas dedesenvolvimento científico

e tecnológico do CNPq. As pequenasempresas vencedoras nas fases regionais enacional recebem laptops oferecidos peloSebrae. O grande ganho, entretanto, é a maiorvisibilidade que empresas e instituiçõesconquistam para seus produtos e processos.Para 2004, temos duas novas parceiras: aPetrobras e o Conselho Britânico. Este últimopremiando os cinco vencedores nacionaiscom viagem ao Reino Unido, para conhecerempresas e instituições afins.

A Região Norte teve participaçãoimportante no ano de 2003 com quase 20%das 337 inscrições.

Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

T&C - Em relação à RegiãoAmazônica, que iniciativas de destaqueestão recebendo apoio da Finep?

OC - As instituições da região têm sidoágeis no atendimento aos editais e chamadaspúblicas da Finep. O lançamento do Pappe -Programa de Apoio à Pesquisa em Empresasfoi muito bem recebido na Região Amazônicae esperamos em breve estar assinando osprimeiros convênios. Entre janeiro de 2003 ejaneiro de 2004 a Finep repassou em torno deR$1.000.000,00 para projetos de instituiçõesdo Estado do Amazonas, além deR$160.000,00 em apoio a eventos.

T&C - A descentralização naimplementação de políticas públicas nãoexigiria uma maior capacidade degovernança local, pública e privada?Neste caso, o senhor acredita que aRegião Amazônica está preparada?

OC - A Finep tem procurado nortearsuas ações dentro das diretrizes do Governodo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quereafirma a importância estratégica do setor deCT&I para a soberania nacional e para odesenvolvimento econômico e social,buscando maior equanimidade nas questõesregionais.

Para isto é fundamental a interação dosistema, criando sinergias pela açãoconjugada dos parceiros regionais.Evidentemente tais ações requerem uma

coordenação de atores onde a governançalocal é fator da maior valia. A RegiãoAmazônica, por ser uma região nova, tem asvantagens advindas do fato de não ter oemperramento característico de estruturasmais antigas. Fica mais fácil trabalhar numambiente ainda não viciado. A criação recenteda Secretaria de Ciência e Tecnologia doAmazonas representa um importante avanço.

Finep e a Inovação Conquistando Espaços na Agenda Nacional

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

PROJETO PLATAFORMASTECNOLÓGICAS PARA AAMAZÔNIA LEGALUma abordagem nodesenvolvimento de cadeiasprodutivas locais – APL´s

Waleska Barbosa*Alceu Castello Branco**

Utilizar a ciência e a tecnologia paraelevar a competitividade da economia por meiodo incremento na capacidade tecnológica dasempresas levando-se em conta critérios comoo respeito ao meio ambiente, a minimizaçãode impactos sociais e culturais, fazendo usode práticas de gestão compartilhada para aidentificação de problemas e formulação desoluções.

Esse é o desafio aceito pelo Ministérioda Ciência e Tecnologia (MCT) e pelo Bancoda Amazônia (BASA), que conta com o apoioda Associação Brasileira das Instituições dePesquisa Tecnológica (Abipti), a adesão dasecretaria de C&T ou instância responsávelpelo assunto nos Estados e atende pelo nomede Projeto Plataformas Tecnológicas para aAmazônia Legal.

Com metas audaciosas, se observadoo espaço geográfico de abrangência, o projetoteve início no ano de 2000, com investimentosda ordem de R$ 2 milhões para atuação nosEstados do Amazonas, Amapá, Acre, Pará,Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Maranhãoe Tocantins, perímetro definido comoAmazônia Legal.

Projeto Plataformas Tecnológicas Para a Amazônia Legal

Projeto Gráfico da Infografia: Luciane Melo -Acadêmico em Design.

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O objetivo é promover o suportetecnológico com vistas a aumentar acompetitividade e a sustentabilidade sócio-econômica dos setores econômicospriorizados pelo Estado, por intermédio doapoio à organização de Plataformas e aelaboração de Projetos Cooperativos.

A estratégia baseia-se na elaboraçãode um portfólio de projetos, identificados epriorizados em consenso, referenciado emestudos e diagnósticos, preferencialmente jádisponíveis, que subsidiem a elaboração deprojetos de desenvolvimento ou difusãotecnológica que levem especialmente emconta as vocações naturais da região. A apostaé no desenvolvimento econômico associadoao social; na melhoria de vida da população,de forma não episódica, mas com elementosque permitam sustentabilidade; naracionalização do uso dos recursos naturaise na redução do impacto ambiental pré-existente, originado de práticas atualmente nãorecomendadas.

Para tanto, optou-se pela metodologia(adaptada ao contexto), de PlataformaTecnológica, processo que envolve esforçosde problematização ou construção de cenáriossobre o setor econômico escolhido, oconhecimento e a identificação compartilhadados problemas tecnológicos específicos, amotivação dos atores para resolver osproblemas ou aproveitar as oportunidadesidentif icadas que vão dar origem aoschamados Projetos Cooperativos, os quaisresultam da negociação entre esses e outrosatores para a resolução dos problemasidentificados.

Plataforma – Processo decomunicação e negociação entre todos osatores envolvidos no desenvolvimentotecnológico, objet ivando identif icar osproblemas dos diversos setores e gerardemandas por projetos cooperativos para re-solver os problemas indicados. Assim, oprocesso plataforma envolve a criação decontextos sobre o setor escolhido; oconhecimento e identificação de problemastecnológicos específicos; motivação dosatores para resolução dos problemas; geraçãode demanda por projetos cooperativos enegociação entre os atores para a resoluçãodos problemas indicados. Envolve, portanto,uma abordagem sistêmica. (Rocha I.“Plataforma: conceito e operação” in Ementapara Apresentação do Processo de PlataformaMCT/2001, p. 3 – 4, 2000)

A formulação de PlataformasTecnológicas é precedida pela comunicaçãoentre os atores da cadeia produtiva com oobjetivo de compartilhar as necessidadestecnológicas nela inseridas. Para que seentenda o objetivo da criação das plataformas,é preciso conhecer os conceitos de ProjetoCooperativo, Cadeias Produtivas, bem como,de Gargalos Tecnológicos.

Por Projetos Cooperativos entende-se,a partir de formulação das Nações Unidas, “umconjunto de projetos que persegue o mesmofim, identifica potencialidades de recursos eestrangulamentos da intervenção, identifica eordena projetos, define o âmbito institucional,sinaliza os recursos a serem utilizados”.

Cadeia Produtiva é um conjunto derelações comerciais e f inanceiras, que

Projeto Plataformas Tecnológicas Para a Amazônia Legal

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estabelecem, entre todos os estados detransformação (produção, industrialização ecomercialização), um fluxo de troca, situadode montante a jusante, entre fornecedores eclientes. (Batalha, M. O. in Agropólos – umaproposta metodológica p.64, 1999).

Em Rondônia, por exemplo, na cadeiaprodutiva da Fruticultura, foram formulados osseguintes projetos cooperativos: ControleFitossanitário de Pragas Quarentenárias;Estudo de Mercado de Frutas Frescas eDerivados; Capacitação Tecnológica noAgronegócio Frutas.

No Amazonas, a cadeia produtiva daMadeira foi contemplada com os seguintesprojetos: Caracterização dos ResíduosMadeireiros e Desenvolvimento de Tecnologiaspara seu Aproveitamento; Prospecção do FluxoEconômico de Produção Madeireira noAmazonas; Modelos de Integração deProdutores de Madeiras do Estado doAmazonas.

No Pará, será gerado um Sistema deInformação Turística.

Os projetos cooperativos relacionadoscom o segmento da fruticultura de Roraimasão: O Agronegócio da Banana no Estado;Biofábrica para Produzir Mudas Certificadasde Bananeira; Competição de Cultivares deBanana; Desenvolvimento Sustentável daCultura da Melancia; Unidade Piloto deTecnologias de Colheita e Pós-Colheita daBanana; Tecnologias de Propagação deMudas de Bananeira em Viveiro a Campo.

Já os gargalos tecnológicos, tambémchamados estrangulamento, são os pontoscríticos de natureza técnica (existem, também,

gargalos de natureza legal, administrativa,política, etc.), ao longo da cadeia produtiva dedeterminado segmento econômico, queimpedem o seu desenvolvimento. Dasanálises dos gargalos tecnológicos derivam asoportunidades de projetos cooperativos aserem desenvolvidos.

Os passos deste processo levam aoentendimento de Plataformas Tecnológicascomo uma metodologia pautada na promoçãoda interação entre atores envolvidos nageração, adaptação, difusão e uso deconhecimentos científicos e tecnológicos.

DINÂMICA METODOLÓGICA - PROCESSOPROPOSTO

Reunião de sensibilizaçãoO processo de Plataformas

Tecnológicas foi concebido em três fases. Aprimeira, chamada de Preliminar, estábaseada na realização de uma reunião decunho político para a sensibilização dasentidades parceiras com o objetivo de propiciara comunicação e sedimentação entre osatores e estabelecer consensos quanto àscadeias produtivas selecionadas paraparticipar do processo. É dada ênfase, nessemomento, à explicitação do processo emcurso, em especial à necessidade decomprometimento efetivo das instituiçõesapoiadoras de âmbitos federal e estadual, naexistência, por exemplo, dos Fundos Setoriaise de outros instrumentos oportunos definanciamento para a modernização de cadasegmento. Nesta etapa são, também,efetuadas reuniões de natureza técnica com

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cada segmento econômico, para oplanejamento dos trabalhos do Projeto.

R e u n i õ e s T é c n i c a s p a r aI d e n t i f i c a ç ã o d o s P o n t o s d eEstrangulame ntos Tecnológicos

Identificar, qualificar e formular naforma de propostas de projeto os problemas(técnicos e não técnicos) de cada segmentoda cadeia produtiva e as oportunidades ecompetências essenciais do Estado (estruturade serviço de P&D, legislação, etc.) é a funçãodessa fase na qual é imprescindível aidentificação dos programas e projetoshomólogos, em níveis municipal, estadual efederal que apoiem (ou façam interface) comas demandas identificadas. Trata-se de nãoreinventar a roda em nenhuma instância,potencializando conhecimentos e soluções jádisponíveis. A utilização de um animador queauxilie na integração das pessoas e naobtenção de resultados é sugerida e, observa-se, acrescenta valor nas discussões – eminúmeras oportunidades foram colocadas emassociação, em uma única dinâmica detrabalho, entidades que emborahistoricamente atuantes em um mesmosegmento, nunca estiveram em situaçãosemelhante – em busca de um consenso.

ExecuçãoA terceira fase compreende a

Execução propriamente dita. Nela oscompromissos futuros e o apoio estratégicosão estabelecidos de forma consensuada, naforma de um projeto técnico, quanto a metas

e prazos; identificados os responsáveis peloacompanhamento e monitoria das atividadesno espírito de garantir a execução doscronogramas e a preservação dos objetivosque o originaram. Trata-se de assegurar queos resultados do projeto cooperativo serãoefetivamente assimilados pelo elo específicoda cadeia produtiva que gerou o gargalotecnológico.

Um esforço importante é o daelaboração de propostas de projetosutilizando-se os modelos e culturas dasagências para as quais serão encaminhadosvisando ao financiamento. A execução de umprograma de treinamento e atualização naelaboração de projetos tecnológicosqualificados tem sido considerada práticaimportante no contexto dos resultados obtidos,até então.

O objetivo, no momento da criação doProjeto Plataformas Tecnológicas, deconsolidação de uma política de fortalecimentoem CT&I que contemple os eixos geográficosnão consolidados da economia nacional, érespaldado no consenso, encontrado noGoverno Federal, de que é necessáriofortalecer vocações naturais de regiões menosfavorecidas, notadamente Norte, Nordeste eCentro-Oeste.

R ES ULTAD OS QUANT ITAT IVO S EQUALITATIVOS

Consolidar Plataformas Tecnológicasna Amazônia Legal pressupõe a formação deparcerias, a união de esforços e objetivoscomuns a instituições de formatos e missõestão diversas, quanto historicamente dispersas.

Projeto Plataformas Tecnológicas Para a Amazônia Legal

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Conseqüentemente, para que o projeto atinjaseu objetivo, tem sido necessário um alto graude interação entre as entidades, organismose empresas que constituem as cadeiasprodutivas como as associações deprodutores, federações da indústria, deagricultura, bancos e agências dedesenvolvimento, universidades, liderançasempresariais, entidades de pesquisatecnológica, fundações de amparo àpesquisa, escolas técnicas, secretarias deC&T, de turismo, de indústria e comércio,planejamento, secretarias municipais, entreoutras.

Além de alianças e parcerias, osresultados quantificáveis indicam que um novocenário está em formação nos Estadoscontemplados: desde o início do projeto, noano de 2000, foram realizados 27 processosde Plataformas, realizados 8 Cursos deElaboração de Projetos em C&T com oresultado de 314 técnicos treinados para aelaboração de 66 Projetos Cooperativos, porsua vez encaminhados à análise dasagências, originando a aprovação de recursosda ordem de R$ 6,7 milhões em projetoscooperativos.

Atendendo solicitações das entidadesparticipantes nos Estados e preocupados coma manutenção da dinâmica em curso, o MCTe a Abipti, com o apoio do BASA estãoreconstruindo as parcerias nos Estados econduzindo no presente momento a retomadadas atividades com novos desafios einstrumentos. Na quase totalidade dosEstados da região demarcada pelo projeto,em decorrência da alternância do poder,

novos interlocutores estão sendosensibilizados para as próximas ações doprojeto.

Entre elas estão a criação de Núcleosde Gestão Tecnológica Compartilhada(NGCT) e a realização de EstudosComplementares, que contam com recursosdo BASA da ordem de R$1,5 milhão, os quaisserão complementados por parcerias locais.A função do NGTC é contribuir para uma maiorintegração entre as entidades participantes doprojeto nos Estados criando um “locus”operacional local. Como objetivos específicosbusca-se prestar apoio à realização deEstudos Complementares visando consolidaros Projetos Cooperativos elaborados naprimeira fase do projeto e apoiados no âmbitodas Plataformas; assistir as entidades locaisno planejamento das ações deoperacionalização dos projetos cooperativos;apoiar a identificação de novas oportunidadese a elaboração de novos projetos; apoiar oMCT em parceria com as entidades locais nogerenciamento do processo de elaboração denovas Plataformas e Projetos Cooperativos.

Outros desdobramentos importantesque extrapolam, inclusive, os resultadosesperados do Projeto, é o interesse que oprocesso ‘Plataforma Tecnológica’ vemdespertando no âmbito acadêmico. A provadisso é a escolha dos APL´s como objeto deestudo, em teses defendidas por doutorandosde universidades inseridas na Amazônia Legal.

No Mato Grosso, acredita-se que oprojeto teve importância considerável para atomada de decisão do governo do Estado nacriação da Coordenadoria de Ciência e

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Tecnologia. Tal órgão está vinculado à estruturaorganizacional da Fundação de Amparo àPesquisa do Mato Grosso, antes subordinadaao Gabinete do Governador e, atualmente,ligada à Seplan (Secretaria de Estado de

O Projeto Plataformas Tecnológicas para a Amazônia Legal vem contribuindo para aorganização dos seguintes segmentos da cadeia produtiva, em seus respectivos

Estados:

Planejamento e Coordenação Geral). A novahierarquia garante maior agil idade aoencaminhamento das questões relativas aC&T no Estado.

Projeto Plataformas Tecnológicas Para a Amazônia Legal

A C R E • Madeira e móveis • Farinha de mandioca• Extrativismo • Oleiro / cerâmico

AMAPÁ• Madeira e móveis• Oleiro/ cerâmico• Ouriversaria/ gemas

AMAZONAS

MARANHÃO

MATOGROSSO

• Produtos naturais• Bovinocultura• Fruticultura

PARÁ• Fruticultura• Piscicultura• Turismo

• Madeira e móveis• Grãos• Pecuária

RONDÔNIA

RORAIMA

TO CA NT IN S

• Piscicultura • Madeira• Fruticultura • Fitofármacos e cosméticos

• Fruticultura • Piscicultura• Cafeicultura • Madeira e móveis

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Termo de Cooperação Técnica(Convênio nº 08.004.00/2000) celebradoentre a União e os Estados da RegiãoAmazônica. Belém, 2000.

BRASIL. Termo de Referência para aOrganização das PlataformasTecnológicas para a Região Amazônica.Associação Brasileira das Instituições dePesquisa Tecnológica. Brasília, 2000.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia.Assessoria Especial de Regionalizaçãodas Ações de C&T. Roteiro deDiagnóstico para enquadramento deCadeias Produtivas Locais. Brasília:MCT, 2001.

BRASIL. Associação Brasileira das Instituiçõesde Pesquisa Tecnológica. ResumoExecutivo. Projeto PlataformasTecnológicas para a Amazônia Legal.Brasília, 2002.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia.Assessoria Especial de Regionalizaçãodas Ações de C&T. Ação Regional doMCT/FINEP/CNPq: diretrizes para 2001/2002. Brasília: MCT, 2001.

BUFFON, J.A.B. Apontamentos para umanova ação regional no Brasil. Rio deJaneiro: BNDES, 1997, mimeo.

BUFFON, J.A.B. e BENETTI, G. A. Ciência eTecnologia para o DesenvolvimentoRegional: As Plataformas Tecnológicas

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COCCO, G; URANI, A; GALVÃO. A.P; SILVA,M.P. Desenvolvimento Local e EspaçoPúblico na Terceira Itália: Questões paraa Realidade Brasileira in Empresários eempregos nos novos territóriosprodutivos - o caso da Terceira Itália.Coleção Espaço do DesenvolvimentoCo-edição: Consórcio do PlanoEstratégico da Cidade do Rio de Janeiro,1999.

LASTRES, H. M. e CASSIOLATO, J. E.Globalização & Inovação Localizada:Experiências de Sistemas Locais noMercosul. Brasília: IBICT/MCT, 1999, P.57-59.

ROCHA, I. Ciência, Tecnologia e Inovação:conceitos básicos. Curso deEspecialização em Agentes de InovaçãoTecnológica. ABIPTI/SEBRAE/CNPq.Brasília, 1996.

Plataforma: Conceito e Operação in Ementapara Apresentação do Processo dePlataforma. Brasília: MCT, 2000, mimeo.

Projeto Plataformas Tecnológicas Para a Amazônia Legal

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*Waleska Barbosa é jornalista, formadapela Universidade Estadual da Paraíba eEspecialista em Estratégias de Comunicação,Mobilização e Marketing Social, pelaUniversidade de Brasília (UnB); gestora decomunicação do Projeto Portal da TecnologiaApropriada (Abipti/MCT); jornalista responsávelpela neswletter Ecodesign-News.

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(Abipti/CGECon/MRE); prestou assessoria deimprensa ao projeto Capacitação para oDesenvolvimento Local, desenvolvido em2000, pelo Patac (Programa de TecnologiaApropriada às Comunidades/ PB).

** Alceu Castello Branco é designer eEspecialista em Inteligência Competitiva e emAgenciamento de Inovação e DifusãoTecnológica; Coordenador da UnidadeEstratégica de Negócio de Design daAssociação Brasileira das Instituições dePesquisa Tecnológica (Abipti); Consultor adhoc do Sebrae Nacional (SEBRAETec), doCNPq (temáticas de Design e TecnologiasIndustriais Básicas) e da Finep (Prêmio Finepde Inovação Tecnológica – Categoria Institutosde Pesquisa Tecnológica, nas edições de 2002e 2003); Consultor da Abipti/CNPq/InstitutosAssociados (Projeto Excelência na PesquisaTecnológica); Assessor do MCT (planejamentoe coordenação, pela Abipti, do ProjetoPlataformas Tecnológicas para a AmazôniaLegal).

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ARRANJOS PRODUTIVOSLOCAIS –APLICAÇÃO NO ESTADO DOAMAZONAS

Nilson Pimentel*Emerson Matias**

O Programa de Arranjos Locais desegmentos produtivos da economia estadual,foi idealizado pelo MCT – Ministério da Ciênciae Tecnologia dentro de sua política deregionalização, objetivando desenvolverestratégias e ações que possibilitassem aconsolidação e o fortalecimento de cadeiasprodutivas nos Estados.

A metodologia aplicada para alcançaros objetivos propostos foi a de PlataformasTecnológicas, a qual consiste em reunir atoresidentificados como comprometidos em certasfases, etapas ou mesmo elos da cadeiaprodutiva a ser trabalhada, incluindo osgeradores de conhecimentos científicos etecnológicos.

A metodologia de PlataformasTecnológicas em Arranjos Produtivos ouCadeias Produtivas, como forma de organizaros sistemas locais de inovação, tem semostrado um instrumento ef icaz para adefinição de ações estratégicas prioritáriasnas diversas regiões e em cada Estado, bemcomo para a construção de parcerias voltadaspara o desenvolvimento econômicosustentável local. Trata-se, portanto, de umaabordagem sistêmica que une o planejamentoe as ações estratégicas, sendo ao mesmotempo um processo de mobil ização,envolvimento e negociação entre todos os

Arranjos Produtivos Locais - Aplicação no Estado do Amazonas

Projeto Gráfico da Infografia: Tiago Magno -Acadêmico em Design.

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atores participantes.As Plataformas Tecnológicas

caracterizam-se como sendo um tipo deplanejamento estratégico participativo deatores governamentais, da comunidadecientífica, do setor privado e de comunidadesda sociedade civil, para a identificação degargalos tecnológicos, sócio-econômicos einstitucionais e a formulação de projetoscooperativos para suas superações.

Essa metodologia de ação apresentaalgumas vantagens, as quais na prática vêmdemonstrando que o processo dasPlataformas Tecnológicas proporcionamobilização de atores com rapidez, baixocusto, capacidade prospectiva e sensibilidadea novas tendências econômicas e de inovaçãotecnológica. Além disso o processo possibilitacorreções de rumo, rapidamente, e aidentif icação de atores responsáveis ecomprometidos com a implementação, coma inovação e com o fortalecimento dosarranjos produtivos locais, através da soluçãodos gargalos tecnológicos existentes.

A metodologia de PlataformasTecnológicas, e sua aplicação com certopragmatismo e através da regionalização dasações da ciência, da tecnologia e da inovação,é um importante instrumento na redução dedisparidades inter e intra-regionais e para odesenvolvimento sócio-econômico regionalutilizando os conhecimentos científicos etecnológicos locais.

No Estado do Amazonas, houvereuniões de sensibilização de atoresinstitucionais, onde foram identificadas asprincipais restrições tecnológicas, sócio-

econômicas e inst itucionais querepresentassem gargalos tecnológicos paraa cadeia produtiva a ser trabalhada. A partirdaí, os atores construíram matrizes lógicasindicadoras de ações, estratégias e parceriasestratégicas institucionais que pudessemelaborar e implementar, em conjunto, projetoscooperativos, para captação de recursos juntoaos Fundos Setoriais, Financiadora deEstudos e Projetos - Finep, Agência deDesenvolvimento da Amazônia – ADA, Bancoda Amazônia S.A - Basa e Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq, voltados ao fomento de atividades dearranjos produtivos locais, que utilizasseminovação tecnológica, com base emconhecimentos científicos e tecnológicos,para promover a redução das desigualdadesinter-regionais e a inclusão social, gerandoocupação produtiva, propiciando algum nívelde renda às comunidades participantes.

Esse programa foi desenvolvido noEstado do Amazonas, em articulação com oMCT e Basa, tendo como InterlocutorEstadual, o Departamento de Ciência &Tecnologia, da ex-Secretaria de Estado deDesenvolvimento Econômico – Sedec e tendoa Fundação, Centro de Análise, Pesquisa eInovação Tecnológica - Fucapi comoInstituição proponente dos projetoselaborados, além de uma Rede de ParceriasInstitucionais locais, como UniversidadeFederal do Amazonas - Ufam, AssociaçãoBrasileira das Instituições de PesquisaTecnológica - Abipti, Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia - Inpa, EmpresaNacional de Pesquisas Agropecuárias -

Arranjos Produtivos Locais - Aplicação no Estado do Amazonas

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Embrapa, Agência de Fomento do Estado doAmazonas - Afeam, Sebrae/AM, InstitutoNacional de Colonização e reforma Agrária –Incra, Instituto de Medicina Tropical doAmazonas - IMT, Instituto de ProteçãoAmbiental do Amazonas - Ipaam, Instituto deDesenvolvimento Agropecuário do Amazonas- Idam, Instituto de Tecnologia da Amazônia -Utam, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis - Ibama,Superintendência da Zona Franca de Manaus- Suframa, Escola Agrotécnica Federal,Universidade Luterana do Brasil – Ulbra/AM,Agência Brasileira de Inteligência - Abin,diversas Cooperativas de Produção de algunsMunicípios, Organização das Cooperativas doBrasil – OCB/AM, Cooperativa de Trabalho eAssistência em Engenharia, Agronomia,Veterinária e Meio Ambiente - Cooterma,Conselho de Desenvolvimento dasAssociações Comunitárias Rurais do Projetode Assentamento do Tarumã Mirim –CDACRPATM, Micro e PequenosEmpresários e Empreendedores e algumasComunidades Rurais.

No Amazonas, para açõesestratégicas descentralizadas e articuladascomo essa, e com esforço conjunto e apostura cooperat iva entre os atoresenvolvidos, foram indicadas ao Governo doEstado, através da Sedec, propositurasnecessárias de ações estratégicas, as quaisindicavam o papel fundamental dacoordenação participativa e da parceria comoutras Instituições, que marcasse a plenaconscientização do papel estratégico que aciência, a tecnologia e a inovação

desempenham e sua função primordial emprogramas, projetos e ações para odesenvolvimento regional sustentável.

Dessas proposições, repercutiramoutras ações de Governo, tais como: a)Emenda na Constituição Estadual sobre aseparação dos Fundos Constitucionais deMeio Ambiente e de Ciência e Tecnologia; b)Criação do Conselho Estadual de Ciência &Tecnologia; c) Criação da Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado Amazonas –Fapeam – Lei no. 2.743/02; d) Proposição/Sedec para a criação da Secretaria Estadualda Ciência & Tecnologia, na estruturaorgânica do Estado; e) Criação do ComitêConsultivo Setorial de Biotecnologia; f)Inserção na Legislação dos Incentivos Fiscaisdo ICMS, da contribuição compulsória para aUniversidade do Estado do Amazonas - UEA(criada e instalada em janeiro de 2001) porempresas industriais incentivadas peloGoverno do Estado; g) Criação da CâmaraTécnica de Gestão para cada ArranjoProdutivo; h) Criação do Comitê Gestor doEstado para os Arranjos Produtivos; i)Articulação para assinatura de diversosConvênios Institucionais de CooperaçãoCientífica & Tecnológica, com as seguintesInstituições nacionais e estrangeiras, quandoa Sedec foi extinta e absorvida pela Secretariade Estado de Planejamento eDesenvolvimento Econômico – Seplan, taiscomo: Ministério da Ciência e Tecnologia -MCT, Inst ituto de Biotecnologia daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul,Secretaria e Estado da Ciência e Tecnologiado Rio Grande do Sul, Fundação de Ciência

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Arranjos Produtivos Locais - Aplicação no Estado do Amazonas

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e Tecnologia do Rio Grande Sul – Cintec,Centro de Excelência em TecnologiaEletrônica Avançada – Ceitec/RS, Ufam, Inpa,Universidade do Vale do Rio dos Sinos –UNISINOS/RS, Instituto de Tecnologia daPUC/RS, Instituto Nacional de Biotecnologiada Costa Rica – InBio/CR e LaboratóriosBiológicos Farmacêuticos de Havana –LaBiofam/Cuba.

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS:CRITÉRIOS DE SELEÇÃO.

O Estado do Amazonas sempre foiidentificado pela singularidade de seusecossistemas (fauna e flora) e dos recursosminerais e hídricos, mas com acentuadasdesigualdades intra-regionais, nos aspectoseconômico e sociocultural, assim como emseus processos alternativos dedesenvolvimento econômico. Pode-se afirmarque a estratégia do Estado deve ser ainteriorização da atividade econômica, combase nas potencialidades dos recursosnaturais do Estado.

Arranjos Produtivos Locais - Aplicação no Estado do Amazonas

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MODELO INDUSTRIAL - PIM MODELO BIO-ECONÔMICO INTERIOR

Importador de insumos e matérias-primas; Insumos e matérias-primas estão nos recursosda biodiversidade regional;

Baixa agregação de valor local Alta agregação de valor local;

Alta concentração na cidade de Manaus,agravando o desnível sócio-econômico intra-regional;

Amplas possibilidades de interiorização deprodução de bens de base regional sustentável;

Indutor de fluxo migratório para a cidade deManaus;

Possibilidades de reversão do fluxo migratóriocom a fixação do homem no local de origem;

Enclave industrial em região de baixodesenvolvimento, colocando-o em posição defragilidade política, institucional e jurídica,perante o sudeste e sul do Brasil;

Comando total de gestão e solidez política ejurídica com base de produção sustentável comos recursos da biodiversidade;

Baixa aderência às potencialidades de recursosda biodiversidade e às tradições econômicas,sócio-culturais do Amazonas;

Projetos estratégicos alternativos dedesenvolvimento econômico regional, com basenos recursos naturais, inclusive minerais eturismo;

Principais fatores de viabilização econômicacompetitiva, está calcada nas Políticas deIncentivos Fiscais dos Governos Federal eEstadual;

A viabilidade de projetos nesse modelo têm basecompetitiva nos investimentos infra-estruturais enas parcerias estratégicas institucionais,empresariais, governamentais e sociedade civil;

Criação de postos de trabalho que requisitammão-de-obra semiqualificada e qualificaçãocom alta especialização.

Requisita mão-de-obra qualificada, mas absorveem toda cadeia produtiva elevado contingente demão-de-obra em processo de exclusão social.

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Hoje, nos parece claro que acompetitividade não decorre exclusivamentede decisões sobre fatores microeconômicos.A gestão estratégica do desenvolvimentoeconômico tem que abranger os fatoressistêmicos, de ordens institucionais,macroeconômicas, sócio-culturais, saúdepública, de meio ambiente, que acabam, deuma forma ou de outra, afetando acompetitividade de projetos, de empresas, deestados e de países.

Nesse contexto e no sistema dosArranjos Produtivos, muitos projetosalternativos de desenvolvimento regional terãoque refletir macro preocupações sobreaqueles fatores sistêmicos, principalmenteaqueles que ut il izam os recursos dabiodiversidade, as técnicas da biotecnologiae que objetivem a melhoria de vida depopulações marginais.

Impõem-se ao Estado do Amazonas,nesse início de século, em que a leitura doconhecimento é primordial, como estratégia,odiagnóstico do novo paradigma a ser trilhadopara alavancar projetos de desenvolvimentoeconômico regional sustentável que envolvamcontingentes marginais da população, atéentão fora de mercados, que minimizem asdesigualdades intra-regionais e que privilegiemo homem amazonense como maiorbeneficiário desse megabanco de recursosnaturais do Estado.

Esse paradigma de desenvolvimentoregional requer a utilização, em todas as fasesda cadeia produtiva, dos métodos einstrumentos da ciência, da tecnologia e dainovação, de forma que o planejamento

estratégico reflita o pragmatismo de açõesefet ivas, ao mesmo tempo em quedesempenhe um processo de negociaçãoentre atores envolvidos, que objetivem omesmo direcionamento nos projetospropostos.

Sem embargos de outros segmentosprioritários, foram identificados diversosprodutos potenciais, de dentro de segmentoseconômicos que fazem parte das PlataformasTecnológicas do Estado do Amazonas. Vejama seguir:

1. Plataformas Tecnológicas: a)Recursos Florestais Madeireiros e nãoMadeireiros; b) Recursos Pesqueiros; c)Medicina Tropical; d) Recursos Minerais; e)Agronegócios; f) Setor Industrial (Indústria deComponentes); g) Serviços Ambientais(Ecoturismo, Seqüestro de Carbono, PescaEsportiva); h) Qualidade e Controle Ambiental;i) Racionalização e Aproveitamento deEnergia; j) Setor Naval.

2. Arranjos Produtivos Identificadose Produtos para o Mercado.

Com esse cenário, foram selecionadosno Estado do Amazonas os ArranjosProdutivos Locais mais representativos, demaior impacto econômico e que fossempassíveis de elaboração de projetoscooperativos e participativos. Por outro lado,cada um dos Arranjos selecionados ficou soba responsabilidade de um especialista, quecoordenaram os trabalhos de seus arranjos,com todo apoio institucional do InterlocutorEstadual, conforme indicava a metodologia dePlataformas Tecnológicas, dessa forma:

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1. Fitoterápicos e Fitocosméticos.Especialista: Prof. Evandro Silva, MSc –Pronatus do Amazonas Ltda.

2. Fruticultura.Especialista: Prof. Doutor José MerchedChaar, Dr. – Universidade Federal doAmazonas - Ufam.

3. Madeira.Especialista: Engº Florestal Fernando Lufdke– Gerente Geral da Reflorestadora HolandaLTDA.

4. Piscicultura.Especialista: Pesquisador José Nestor dePaula Lourenço, MSc – Embrapa AmazôniaOcidental.

Seguindo as etapas metodológicas,para cada Arranjo Produtivo selecionadoforam realizadas reuniões de sensibilização,nas quais a mobilização e o envolvimento dosatores foram de primordial importância, paraque se formatasse os grupos temáticos deação estratégica. Isto é, o especialistaresponsável pelo Arranjo organizou aexecução dos trabalhos, sob a divisão degrupos temáticos, onde os procedimentosforam agilizados com praticidade e tomadasdecisões efetivas.

Como exemplificação dessas ações,temos o Arranjo Produtivo de Fitoterápicos eFitocosméticos, sendo formado em 04(quatro) grupos temáticos, com a seguintedivisão:

a) Obtenção de matéria-prima vegetal;b) Processamento da matéria-prima

vegetal;c) Processamento produtivo;d) Mercado.

ARRANJOSPRODUTIVOS

PRINCIPAISPRODUTOS

Fitoterápicos

Xaropes, cápsulas, chás,u n g ü e n t o s , p o m a d a s ,e m p l a s t r o s , c r e m e s ,soluções, tinturas e pós;

Óleos fixos, extratos vegetais,ó leo s essenc ia is , ba to ns ,maquiagens, desodorantes,xampus, cremes, corantes,dent if r íc ios, ó leos, ta lcos,sabonetes, sais, colônias, per-fumes e loções;

Fitocosméticos

Madeireiro

Laminados, compensados,faqu eado s , ag lo merado s ,móveis, embalagens, casaspré-fabricadas, artesanato,pequenos objetos de madeirae biomassa;

Piscicultura

A l e v i n o s , p e i x e p a r aalimentação, óleo de peixe,fa r in h a d e p e ixe , p e ixeso rn am en ta is , raç ão p arapeixe, couro e peles de peixe;

Floricultura

Flores ornamentais, bromélias(mudas e flores), folhagenstropicais e orquídeas (mudase flores);

V i t a m i n a s , b e b i d a senergéticas, corantes naturais,bebidas não alcoólicas, choco-lates, bombons, concentrados,suc os, xaro pes, sorvetes,extratos e geléias;

Nutricêuticos/ComplementosAlimentares

FruticulturaFrutas tropicais, compotas,polpas de frutas doces, póspreparados para bebida efrutas cristalizadas;

MicrobiologiaIndustrial

Bebidas alcoólicas, vinagre,á l c o o l c o m b u s t í v e l ,a n t i b i ó t i c o s , p r o t e í n amicrobiana, enzimas, produtoslácteos, demais substânciasisoladas e metabolizadas pormicroorganismos.

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Cada grupo temático e seucoordenador, sob a supervisão doespecialista, identif icou os gargalostecnológicos e não tecnológicos e as açõespossíveis de execução para obter suassoluções, tudo isso colocado em matrizeslógicas de apresentação.

Após essa fase, os grupos temáticosforam integrados em um único grupo doarranjo para as discussões e decisões finais,com indicações de proposições para assoluções dos gargalos às Instituiçõespertinentes, parceiras ou não da Rede deParcerias Inst itucionais ou outrosprocedimentos indicados para aquele gargalo.Esse grupo, também indicou os possíveisprojetos a serem elaborados e seusrespectivos responsáveis institucionais. Dasanálises dos gargalos tecnológicos foramderivadas as oportunidades de projetoscooperativos a serem desenvolvidos porentidades de pesquisas em conjunto com osdemais atores e, principalmente, comempresas e comunidade.

Para elaboração dos projetos foioferecido um treinamento em Elaboração,Acompanhamento e Avaliação de Projetos emCiência e Tecnologia, realizado pela Abipti emManaus com a parceria do MCT, Fucapi,Sedec e Basa, que teve como objetivoprincipal capacitar alguns dos atores de cadaarranjo produtivo em projetos cooperados.

Assim, a metodologia de PlataformaTecnológicas foi aplicada em cada ArranjoProdutivo selecionado, seus projetoselaborados, conforme treinamento realizado,e encaminhados às devidas agências

financiadoras Finep e ADA.Da aplicação desse processo

metodológico no Estado do Amazonas,resultaram, dentro de cada Arranjo Produtivotrabalhado, os seguintes projetoscooperativos:

Fitoterápicos e Fitocosméticos1) Desenvolvimento de dois

produtos fitoterápicos e um fitocosméticoa partir de espécies amazônicas.

Proponente: Fucapi.Executor: Inpa.Co-executor: Ufam.Intervenientes: Sedec e Pronatus do

Amazonas Indústria e Comércio de ProdutosFármaco-Cosméticos Ltda.

Valor: R$ 1.360.282,00.

Fruticultura1) Beneficiamento de castanha do

Brasil.Proponente: Fucapi.Executor: OCB/AM.Co-executor: Ufam.Intervenientes: Sedec e Cooterma.Valor: R$ 495.701,56.2) P r o d u ç ã o d e e x t r a t oconcentrado de guaraná (Paulinniacupana. var. sorbilis).Proponente: Fucapi.Executor: OCB/AM.Co-executor: Ufam.Intervenientes: Sedec, Cooterma eAgrorisa Produtos AlimentíciosNaturais Ltda. Valor: R$ 389.067,52.

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3) Produção de mudas, sementes epolpa de camu-camu (Myrciária dúbia).

Proponente: Fucapi.Executor: Inpa.Co-executor: Fink CIA Ltda - Yuricam.Intervenientes: Sedec.Valor: R$ 1.022.405,50.

Madeira

1) Prospecção do fluxo econômicoda produção madeireira no Amzonas.

Proponente: Fucapi.Executor: Ufam.Co-executor: Utam.Intervenientes: Sedec, Ulbra/AM E

Ibama/AM.Valor: R$ 1.397.620,60.2) Caracterização dos resíduosmadeireiros e desenvolvimento det e c n o l o g i a s p a r a s e uaproveitamento.Proponente: Fucapi.Executor: Utam.Co-executor: Inpa, Fucapi, Mil

Madeireira Itacoatiara Ltda.Intervenientes: Sedec.Valor: R$ 1.101.180,00.3) Modelo de integração deprodutores de madeiras do Estadodo Amazonas.Proponente: Fucapi.Executor: Utam.Co-executor: Inpa, Embrapa Amazônia

Ocidental e Asproju.Intervenientes: Sedec, Ibama/AM,Prefeitura de Jutaí/AM, Serraria São

Pedro Ltda. e Movimento de

Educação de Base de Jutaí.

Valor: R$ 1.503.120,30.

Piscicultura

1) Piscicultura familiar empequenos viveiros de barragens.

Proponente: Fucapi.

Executor: Ufam.

Co-executor: Inpa, Idam, Incra,

Suframa E CDACRPATM .

Intervenientes: Sedec.

Valor: R$ 1.083.339,60.

2) Tanques-rede: tecnologia para ocultivo de tambaqui (Colossomamacropomum) e matrinxã (Bryconcephalus) a nível familiar.

Proponente: Fucapi.

Executor: Embrapa Amazônia

Ocidental.

Co-executor: Inpa e Ipaam.

Intervenientes: Sedec.

Valor: R$ 567.822,00.

3) Programa de criação intensivade matrinxã (Brycon cephalus) emcanais de igarapé de terra firme:aplicação em nível de subsistênciae empresarial .Proponente: Fucapi.

Executor: Inpa.

Co-executor: Ipaam, Suframa, Incra,

Ufam e Associações Comunitárias.

Intervenientes: Sedec.

Valor: R$ 1.827.948,49.

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GLOSSÁRIO

Cadeia Produtiva – “Conjunto derelações comerciais e f inanceiras, queestabelecem, entre todos os estados detransformação” (produção, industrialização ecomercialização), “um fluxo de troca, situadode montante e a jusante, entre fornecedorese clientes. Conjunto de ações econômicas quepresidem a valoração dos meios de produçãoe asseguram a articulação das operações”(Batalha, M.O. In Agropólos – uma propostametodológica, p-64,1999).

Arranjos Produtivos Locais –Arranjos Produtivos Locais são aglomeraçõesterritoriais de agentes econômicos, políticose sociais – com foco em um conjuntoespecífico de atividades econômicas – queapresentam vínculos mesmo que incipientes.Geralmente envolvem a participação e ainteração de empresas – que podem serdesde produtoras de bens e serviços finaisaté fornecedores de insumos e equipamentos,prestadoras de consultoria e serviços,comercializadoras, clientes, entre outros – esuas variadas formas de representação eassociação. Incluem também diversas outrasinstituições públicas e privadas voltadas para:formação e capacitação de recursoshumanos, como escolas técnicas euniversidades; pesquisa, desenvolvimento eengenharia; polít ica, promoção efinanciamento (Brito & Albagli, 2003).

Atores – Organizações, entidades eempresas de qualquer natureza que possueminteresse ou participam de forma ativa doconjunto de relações que se estabelecem ao

longo da cadeia produtiva de determinadosegmento econômico.

Desenvolvimento Sustentável –“Processo de satisfazer as necessidadesbásicas da população humana atual semcomprometer as possibilidades de vida dasfuturas gerações. No âmbito econômico, asatividades produtivas devem, dentro desteconceito, se comprometer com as condiçõesde vida das gerações futuras” (Little, P. E. InAgropólos – uma proposta metodológica, p.97-98, 1999).

Gargalos Tecnológicos – Pontos deestrangulamento de natureza técnica ao longoda cadeia produtiva de determinado segmentoeconômico, que impede o seudesenvolvimento. Das análises dos gargalostecnológicos serão derivadas asoportunidades de projetos cooperativos aserem desenvolvidos por entidades depesquisas.

Fundos Setoriais – Recursosoriundos dos percentuais do faturamento deempresas privadas ou por contribuições deexploração de recursos naturais, destinadosao financiamento do esforço nacional dePesquisa e Desenvolvimento, orientado pararesultados.

Lógica Regional – Conceito utilizadopelo Ministério da Ciência e Tecnologia paracaracterizar a lógica da construção de umPlano Nacional de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico baseado na identificação préviae socialmente comparti lhada dasnecessidades locais (regional, estadual),possibilitando a definição de políticas compotencial de reduzir as desigualdades

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regionais.Plataforma Tecnológica – Processo

de comunicação e negociação entre todos osatores envolvidos no desenvolvimentotecnológico, objetivando identif icar osproblemas dos diversos setores e gerardemandas por projetos cooperativos para re-solver os problemas indicados. Assim, oprocesso plataforma envolve a criação decontexto sobre o setor escolhido; oconhecimento e identificação de problemastecnológicos específicos; motivação dosatores para resolução dos problemas; geraçãode demanda por projetos cooperativos enegociação entre os atores para a solução dosproblemas indicados. Envolve, portanto, umaabordagem sistêmica (Rocha, I. “Plataforma:conceito e operação” in Ementa paraApresentação do Processo de PlataformaMCT/2001, p. 3-4, 2000).

Projetos Cooperativos – “Umconjunto de projetos que percebe o mesmofim, identifica potencialidades de recursos eestrangulamentos da intervenção, identifica eordena projetos, define o âmbito institucional,sinaliza os recursos a serem utilizados”(Nações Unidas, 1984 in Agropólos – umaproposta metodológica p. 247, 1999).

Sistemas Locais de Inovação –Como sistema de inovação podemos definir aorganização de instituições e processos quese comunicam, interagem e se desenvolvempara produzir inovação e promover a difusãode tecnologias; organização e dinâmica dasinovações e ambientes de mercado, de infra-estrutura de C&T e da produção para gerarinovações e viabilizar a difusão de tecnologias

(Rocha, I. “Ciência, Tecnologia eInovação: Conceitos Básicos – Curso

de Especialização em Agente de InovaçãoTecnológica - Abipti-Sebrae-CNPq, p. 131,1996”).

Quando se aplica o “local” ao conceitoindica que o sistema de inovação ocorre aoredor de estruturas específicas, regionais oulocais, com características históricas eculturais próprias, gerando capacidade deaprendizagem e adaptação as mudanças doambiente em questão. Assim, oferece melhoroportunidade de compreensão do processo deinovação na diversidade existente entre osdiferentes países e regiões, tendo em vistaseus processo históricos e desenhos políticosinstitucionais particulares (Lastres, H. M. eCassiolato, J. E. “Globalização e InovaçãoLocalizada – Experiências de Sistemas Locaisno Mercosul”, p. 57-59, 1999).

Serviços Ambientais – Conjunto debenefícios gerados por ecossistemas naturaisou cultivados que, freqüentemente, não temvalor de mercado. São também conhecidoscomo “externalidades ambientais”. IncluiConservação de mananciais, seqüestro decarbono, conservação da biodiversidade, etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BATALHA, M.O. In Agropólos – umaproposta metodológica, p-64,1999.

2. BRITO, J. & ALBAGLI, S. Glossáriode arranjos e sistemas produtivos e inovativoslocais. Rede de Pesquisa em SistemasProdutivos e Inovativos Locais (REDESIST),Rio de Janeiro, 2003.

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3. CASSIOLATO, J. E. A RelaçãoUniversidade e Instituições de Pesquisa como Setor Industrial: Uma Abordagem a partir doProcesso Inovativo e Lições da ExperiênciaInternacional. Curso de Especialização emAgente de Inovação Tecnológica - ABIPTI-SEBRAE-CNPq. 1996.

4. CASTRO, A.M.G.; LIMA, S.M.V. &HOEFLICH, V. Cadeias Produtivas. UFSC/EMBRAPA/SENAR. Florianópolis, 1999.

5. DE SOUZA PAULA, M. C. e SAENZ,Sanches. Elaboração, Acompanhamento eAvaliação de Projetos: Conceitos eInstrumentos Básicos. Curso SobreElaboração, Acompanhamento e Avaliação deProjetos. ABIPTI. 2001.

6. DE SOUZA PAULA, M. C. Notaspara Matriz Lógica. Curso Sobre Princípiosbásicos de Gestão Estratégica de ProjetosCientíf icos e Tecnológicos: Elaboração,Acompanhamento e Avaliação. 2000.

7. IIDA, Itiro. Planejamento EstratégicoSituacional. Curso de Especialização emAgente de Inovação e Difusão Tecnológica. ABIPTI/SEBRAE/CNPq Brasília. 1996.

8. LEITE, L.; A. de S.; PESSOA, P.F.A.de P. Estudos da Cadeia Produtiva comosubsídio para a pesquisa e desenvolvimentodo agronegócio. CNPAT/EMBRAPA. Fortaleza,1996.

9. LITTLE, P. E. In Agropólos – umaproposta metodológica, p-97-98, 1999.

10. MAINON, D. 1996. PassaporteVerde: Gestão Ambiental e Competitividade.Rio de Janeiro. Ed. Qualitymark,1996.

11. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA ETECNOLOGIA. Ação Regional do MCT / CNPq

/ FINEp: Diretrizes para 2001/2002. Brasília.2001.

12. ROCHA, I. “Ciência, Tecnologia eInovação: Conceitos Básicos – Curso deEspecialização em Agente de InovaçãoTecnológica - ABIPTI-SEBRAE-CNPq, p. 131,1996”

13. ROCHA, I. “Plataforma: conceito eoperação” in Ementa para Apresentação doProcesso de Plataforma MCT/2001, p. 3-4,2000.

* Nilson Pimentel – Eng. Mecânico(UTAM), Administrador de Empresas eEconomista (UFAM); Pós-graduado emPlanejamento Estratégico e MBA inManagement (FGV), em EngenhariaEconômica (COPPE/UFRJ) e em ConsultoriaIndustrial (UNICAMP); Mestre em GestãoEmpresarial e Pública (FGV). Ex-Diretor doDC&T/SEDEC. Consultor Industrial desde1982. [email protected].

** Emerson Matias – Eng. Florestal(Utam). Ex-técnico do DC&T/Sedec. Possuicursos em Planejamento, Elaboração,Acompanhamento e Avaliação de Projetos, eInovação e Difusão Tecnológica. Consultor emManejo Florestal. Diretor de DesenvolvimentoInstitucional e Gestão da Qualidade daSecretaria de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável - SDS do Estado do [email protected].

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A CADEIA PRODUTIVA DOPESCADO DO AMAZONAS: UMENFOQUE PELOAGRONEGÓCIO

Rigoberto Neide Pontes*

PANORAMA DA PESCA EXTRATIVA DOAMAZONAS

Não obstante a importância que opescado representa para o Estado doAmazonas como o produto de maiorexpressão em termos de produção,consumo, geração de emprego e renda, aCadeia Produtiva do Pescado oriundo dapesca artesanal apresenta, no conjunto desuas at ividades, uma estruturadesorganizada, desarticulada e cujas relaçõesentre os principais agentes (piscicultores,pescadores, proprietários de barcos,indústrias, comerciantes e consumidores)são de desconfiança, oportunismo sazonal e,por conseqüência, os benefícios do grandepotencial dos recursos pesqueiros sãoaproveitados de forma ineficiente.

Alguns dados e informações,apresentados de forma resumida, retratamessa realidade:

- os nossos recursos ictiológicospossuem mais de 2.000 espécies de peixes;

- estima-se em mais de 200.000toneladas/ano a produção total de peixescomestíveis capturados pela pesca comerciale de subsistência, que estão concentradas emmenos de 100 espécies;

A Cadeia Produtiva do Pescado do Amazonas: Um Enfoque Pelo Agronegócio

Projeto Gráfico da Infografia: Edy da Silva - Acadêmico em Design.

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

- o consumo per-capita na capital

Manaus é de cerca de 22 kg/ano, o que

corresponde a quatro vezes o consumo médio

nacional;

- o consumo de peixes nas populações

ribeirinhas, conforme estudos da Universidade

Federal do Amazonas - Ufam, é em média de

500g/pessoa/dia, demonstrando a importância

do pescado no hábito alimentar das pessoas

que vivem no interior do Amazonas;

- a pesca comercial, atividade exercida

por profissionais que dependem exclusivamente

da captura, absorve cerca de 40.000 pessoas.

Além deste grupo de pescadores, estudos

revelam que cerca de 70.000 pescadores

ribeirinhos fazem da pesca uma atividade

complementar de renda e de subsistência;

- a frota pesqueira do Estado possui

mais de 2.000 embarcações;

- a produção da pesca comercial chega

aos mercados e às indústrias, em certos

períodos, com a qualidade comprometida, por

falta de melhores condições de higiene,

manuseio e conservação da matéria-prima à

bordo;

- estima-se que, principalmente em

épocas de piques de safra, cerca de 20% da

produção de peixes são desperdiçados, por

falta de mercado e baixa qualidade do produto;

- entre os períodos de safra e entressafra

do pescado ocorrem grandes oscilações dos

preços no mercado de atacado e varejo,

podendo algumas espécies alcançar o índice

de variação de 300%;

- a renda dos agentes produtivos,

pescadores e armadores, é muito baixa,

quando comparada com o volume deprodução capturada;

- falta de infra-estrutura de apoiocompatível com o potencial e com a produçãoatual de pescado, principalmente no que serelaciona à armazenagem de espéciespopulares de grande importância para oabastecimento interno;

- as exportações para o mercadointernacional de produtos fabricados pelasindústrias de pescado do Amazonas ainda sãomuito baixas, quando comparadas com ovolume industrializado, que alcança mais de10.000 toneladas/ano;

- o mercado interno, a nível local enacional, é muito grande e, por isso, pode serum entrave para que as indústrias de pescadodo Amazonas ainda não tenham adotadaspolíticas e estratégias visando ao mercadointernacional;

- as lideranças envolvidas no setorprodutivo não estão conscientes eprof issionalmente preparadas para osmodernos conceitos de desenvolvimentointegrado e sustentável, cuja postura omercado competitivo vem exigindo de quemdele quer participar.

Quanto à piscicultura, somente nessesúltimos anos ela vem recebendoinvestimentos produtivos que vêmtransformando-a de atividade de lazer paraatividade econômica de mercado, com altosinvestimentos da iniciativa privada nos diversossegmentos da cadeia produtiva, com destaquepara a fabricação de ração, produção dealevinos e em infra-estrutura das unidades deprodução. Com isso, a cadeia produtiva do

A Cadeia Produtiva do Pescado do Amazonas: Um Enfoque Pelo Agronegócio

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pescado oriundo do cultivo apresenta umacomposição mais estruturada e mais fácil deuma intervenção planejada e estratégicavisando à organização, fortalecimento e suacondução ao ambiente do agronegócio, inclu-sive credenciando-a como fornecedora dematéria-prima para as indústrias detransformação alcançarem o mercadointernacional.

A transformação dessa realidade exigeuma ação planejada que induza à organizaçãoda cadeia como um todo, ou seja, é precisoreunir e trabalhar de forma sistêmica eharmônica, todos os interesses e habilidadesdos agentes envolvidos nos diversos elos queformam a corrente dessa rede de produção e,assim, explotar os recursos pesqueiros emcondições que permitam maximizar oaproveitamento da produção atual e,principalmente, distribuindo os benefícios erentabilidade a todos os agentes dessa cadeia,mas, também, sem perder o foco nasustentabilidade e competitividade.

Para tanto, a busca da solução dosproblemas do setor pesqueiro do Amazonasdeve passar pelos conceitos básicos doagronegócio e, para isso, faz-se necessária aaplicação da metodologia de análise e doplanejamento estratégico e operacional decadeia produtiva.

OS CONCEITOS DE AGRONEGÓCIO ECADEIA PRODUTIVA

O termo agronegócio (ou agribusiness)tem sido cada vez mais utilizado,principalmente pelos meios de comunicaçãoque mostram o desempenho do setor e,

com isso, chamando a atenção para asdiversas atividades envolvidas no setorprimário. A crescente participação no comérciointernacional tem evidenciado a importância dosetor primário na economia brasileira e, assim,induzindo as atividades econômicas emdireção à industrialização de insumos,produtos e meios de produção.

O contexto do agronegócio englobatodas as atividades vinculadas e decorrentesda produção agropecuária, envolvendo aagricultura, pecuária, pesca e aqüicultura eflorestal (Brandão e Medeiros, 1998).

O agronegócio é o complexo deatividades que envolvem desde a fabricaçãode insumos, a produção de matérias-primas,a sua transformação até o seu consumo. EstaCadeia incorpora todos os serviços de apoio,desde a pesquisa e assistência técnica,processamento, transporte, comercialização,crédito, exportação, serviços portuários,transporte, industrialização até alcançar oconsumidor final (Brandão e Medeiros, 1998).

O conceito de Cadeia Produtivapermite uma visão sistêmica das ações eatividades que têm início (insumos / produçãoprimária), meio (processamento, distribuição)e fim (distribuição / comercialização até oconsumidor final), formando uma corrente comelos entre as atividades, os agentes e asorganizações, onde cada um desempenha umpapel específ ico e de relacionamentocooperativo.

Assim, a abordagem de cadeiaprodutiva facilita a visualização das atividadesprodutivas de forma integral, a identificação dosgargalos e potencialidades dos vários

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segmentos, incentiva a interação cooperativa

entre os elos, prospecta mercados e prepara

os agentes para atender às exigências desses

mercados e, por fim, facilita a identificação e

análises dos problemas e respectivas

soluções.

ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA CADEIAPRODUTIVA DO PESCADO DO AMAZONAS

Nesse contexto, a Cadeia Produtiva do

Pescado do Amazonas, como atividade

econômica, apresenta característ icas

especiais na sua composição e estrutura. A

matéria-prima tem procedência de duas

origens: da pesca extrativa (captura em

ambientes naturais como rios, lagos, igapós

etc.) ou do cultivo em ambientes construídos

ou controlados pelo homem (para criação em

viveiros, barragens, tanques-rede, gaiolas,

açudes, lagos etc.).

Identificam-se como segmentos ou

elos que formam o complexo da Cadeia

Produtiva do Pescado do Amazonas os

setores de suprimento (insumos e bens /

meios de produção), produção primária

(captura ou cultivo da matéria-prima),

beneficiamento / armazenamento (produto

com valor agregado e inf ra-estrutura

frigorífica), transporte / distribuição (logística)

e comercialização / mercado consumidor

(comércio no atacado e varejo; mercados:

institucional, local, regional, nacional e

internacional), conforme resume a ilustração

da Figura 1.

O primeiro segmento refere-se ao

suprimento dos bens (ou meios) de produção

e dos insumos necessários aodesenvolvimento da atividade de produzir amatéria-prima peixe, seja através da captura(pesca extrativa) ou cultivo (piscicultura). Nocaso da pesca extrativa, consideram-se comomeios (bens) de produção as embarcações,os motores, os aparelhos (apetrechos depesca) e os insumos básicos são o gelo, ocombustível (diesel, gasolina, gás) e o rancho(mantimentos para as refeições na faina depesca).

Os principais bens ou meios deprodução utilizados na piscicultura são osviveiros, os tanques escavados, as barragens,os açudes construídos para o cultivo intensivode peixes, ou os tanques-redes e as gaiolasutilizadas na criação superintensiva. Osprincipais insumos para o desenvolvimento dapiscicultura são: rações, matrizes (parareprodução artificial), pós-larva, alevinos(sementes), adubos (quando necessário paracorreções no solo e/ou água), energia,medicamentos, etc. Alguns insumos dapiscicultura podem ser obtidos através dapesca extrativa, como é o caso de matrizes ealevinos de algumas espécies de peixes. OAmazonas hoje é auto-suficiente na produçãode ração que, nos últimos anos, tem recebidograndes investimentos da iniciativa privada. Aprodução da semente da piscicultura, que é oalevino, tem uma grande estrutura instaladana estação de Balbina e alguns produtores játêm seus próprios laboratórios de produçãodesse insumo. Saliente-se também que jáexistem fábricas de farinha de peixe, que entracomo componente na ração animal, queutil izam resíduos gerados na linha de

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produção das indústrias de beneficiamento depescado. Outro resíduo gerado na linha deprocessamento do pescado é a pele de peixes,que vem sendo aproveitada para fabricaçãode produtos para vestuário e calçado,apresentando grande potencial de mercado ede alto valor comercial.

O segmento da produção da matéria-prima base da cadeia produtiva do pescadotem como agentes os pescadores e osarmadores / proprietários de embarcações depesca. No âmbito da Cadeia Produtiva, esseé o segmento que mais absorve mão-de-obrae é o responsável pela exploração dosestoques pesqueiros. E no caso dapiscicultura, o principal agente da produçãoprimária é o produtor, que hoje envolvepequenos, médios e grandes piscicultores.Vale ressaltar que o sistema de criação emtanques-redes vem sendo incentivado parafomentar a piscicultura familiar.

O segmento de transformação éformado pelas indústrias de pesca, as quaisprocessam a matéria-prima, agregando valore produzindo alterações em sua forma deapresentação, de maneira a atender aosanseios dos consumidores finais e propiciarmelhores condições de conservação aoproduto. Vale salientar que o segmento daindústria de pescado também utiliza insumos(energia, água, gelo, embalagem) e bens deprodução (máquinas, equipamentos).Atualmente esse segmento está concentradomais na produção da pesca extrativa, mas ocrescimento da piscicultura já demonstra queo segmento de transformação da produçãode cativeiro vai ter o seu próprio parque

industrial.

O segmento de transporte/distribuiçãoé responsável pela rota que os produtosfazem, através dos diversos meios (rodoviário,fluvial/marítimo e aéreo) de transporte, atéchegarem nos pontos em que serãocomercializados no atacado ou varejo(armazém atacadista, peixarias, feiras emercados, supermercados etc). Essesegmento envolve as empresas e agentes quefazem com que o pescado seja comercializadonos mercados interno e externo, operando alogística, principalmente de transporte, osmecanismos tarifários, mercadológico e deinformação, que depende da capacidade deorganização e competitividade da CadeiaProdutiva.

A Cadeia Produtiva tem o seu fim noconsumidor que adquire o peixe, por exemplo,nas feiras e mercados públicos,supermercados ou em peixarias para oconsumo na sua residência, ou já pronto emforma de refeição, num restaurante, hotel etc.Sabe-se que um dos grandes entraves queos agentes da produção primária enfrentam éa questão do escoamento e comercializaçãodos seus produtos, principalmente a produçãoda pesca extrativa que coincide num períodorelativamente curto um alto volume deprodução e grande variedade de espécies.

Por fim, deve-se enfatizar que toda aestrutura dessa Cadeia recebe influência edepende direta e indiretamente do AmbienteInstitucional e Organizacional (instituiçõespúblicas, empresas privadas, representaçõesd e c l a s s e s , o r g a n i z a ç õ e s n ã o -governamentais), envolvendo as políticas

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macroeconômicas, tarifárias, tributárias,sanitárias, comerciais, implementadas econtroladas pelos governos federal, estaduale municipal (Fig. 1).

PESCAEXTRATIVA

INSUMOS PRODUÇÃOPRIMÁRIA

PROCESSAMENTO /ARMAZENAMENTO

TRANSPORTE /DISTRIBUIÇÃO

COMERCIALIZAÇÃO /MERCADOS

PISCICULTURA

AMBIENTE E INFRA-ESTRUTURA INSTITUCIONAL

LEGISLAÇÃO, SERVIÇOS PÚBLICOS, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS E EMPRESAS

FIGURA 1

F O R T A L E C I M E N T O D A C A D E I APRODUTIVA DO PESCADO

Acreditamos que o setor pesqueiro doAmazonas, envolvendo a pesca artesanal, apiscicultura e até a pesca destinada ao peixeornamental, experimenta um momentopropício para se promover a conjugação deesforços envolvendo os elos e os agentesprodutivos desses setores com a decisãopolítica do atual Governo de dar prioridade àpesca e aqüicultura através do ProgramaZona Franca Verde. Para tanto, inclusive, dotouo setor de infra-estrutura institucional comatuação direcionada à cadeia produtiva dopescado, criando a Secretaria de Estado daProdução Agropecuária, Pesca eDesenvolvimento Rural Integrado - Sepror, aSecretaria Executiva Adjunta da Pesca eAqüicultura - Sepa, a Agência de Agronegóciosdo Estado do Amazonas - Agroamazon,

a Comissão Executiva de Defesa SanitáriaAnimal e Vegetal - Codesav e a Secretaria deEstado de Desenvolvimento Sustentável -SDS e reestruturou outros órgãos de atuação

no âmbito do setor pesqueiro como Idam,Afeam , Ipaam, dentre outros.

Por f im, consideramos que aorganização e fortalecimento da CadeiaProdutiva do Pescado do Amazonas exigema implementação de alguns fundamentosbásicos, dentre os quais destacamos:- organização associativa dossegmentos produtivos dos piscicultores,pescadores, armadores de pesca, indústriasde transformação etc.;- capacitação profissional dos agentesprodutivos que participam da Cadeia Produtivado Pescado, tanto da pesca extrativa comoda piscicultura;- interação e integração das ações eserviços dos diversos órgãos que atuam noâmbito do setor pesqueiro;- modernização das embarcações depesca, principalmente nas unidades de

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conservação, visando a melhorar a qualidadeda matéria-prima;- incentivo para ampliação da infra-estrutura de apoio à produção, principalmentepara o desembarque e armazenagem nacidade de Manaus;- implantação da política de preçosmínimos e formação de estoque regulador depescado popular;- implantação de barreiras fiscais esanitárias visando a impedir a saída ilegal depescado do Amazonas, principalmente paraa Colômbia e Venezuela e para os Estadosvizinhos;- apoio e incentivo à exportação paramercado internacional, principalmente opescado oriundo da piscicultura;- apoio e incentivo às atividades dacadeia produtiva da piscicultura: crédito,assistência técnica e produção de insumosbásicos, principalmente ração e alevinos.

A vivência de 30 anos no setorpesqueiro do Amazonas e a preocupação coma falta de organização e de pouca informaçãosobre a estrutura da Cadeia Produtiva doPescado levou-nos a expor algumas dasnossas idéias sobre o setor através destacontribuição que, ao mesmo tempo, buscaincentivar que outros profissionais envolvidosfaçam o mesmo para que possamos discutiros rumos e o futuro da pesca e da pisciculturado Amazonas.

Para concluir, resumimos que o setorpesqueiro, para se tornar competitivo e, porconseqüência, se inserir no contexto doagronegócio é necessário estar preparadopara produzir aquilo que o mercado pede, ou

seja: produzir com qualidade, na quantidade,no tempo e nos padrões negociados e,também, produzir e vender a preçoscompatíveis com as necessidades do produtore do consumidor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Ney Bittencourt de e outros. OAgribusiness Brasileiro, 1990.

CNPq. Agronegócio Brasileiro, 1998.HADDAD, Paulo R. e GOMES, Castro.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Embrapa, 1999.

IPAAM e UFAM. A pesca comercial noEstado do Amazonas, documento doWorkshop de Gestão da Pesca do AM: Políticae Ordenamento da Pesca Comercial, 2002

MDIC. Fórum de Competitividade –Diálogo para o Desenvolvimento, 2000.

PINAZZA. Associação Brasileira deAgribusiness, 1999.

* Rigoberto Neide Pontes – Engenheirode Pesca, formado pela Universidade FederalRural de Pernambuco, está vinculado ao setorpesqueiro do Amazonas há quase 30 anos.Atualmente exerce o cargo de Gerente daCadeia Produtiva do Pescado da Agência deAgronegócios do Estado do Amazonas –Agroamazon.

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ARRANJOS PRODUTIVOSLOCAIS E OCOMPROMETIMENTOINSTITUCIONAL PARA ODESENVOLVIMENTOREGIONAL

Fernando Santos Folhadela*Alessandro Bezerra Trindade**

INTRODUÇÃO“Está tudo em Marshall” e sua

sombra gigantesca projeta-se até hoje sobrenós, reconheceu Schumpeter (1911). E se nosdebruçarmos sobre seus Livros, vamosencontrar, inclusive, os Arranjos ProdutivosLocais/APLs, em seu tempo ArranjosEconômicos. Em seu Princípios de Economia,Marshall (1890) salienta:

“Nosso conhecimento [. .. ] seriaconsideravelmente aumentado, e de valiosaorientação para o futuro, se algumas pessoasparticulares, sociedades anônimas oucooperativas fizessem algumas cuidadosasexperiências sobre o que se tem denominado“fazendas industriais” (factory farms).Segundo esse sistema [...] o maquinismoseria especializado e economizado. Evitar-se-ia o desperdício de material, seriam utilizadosos subprodutos e, sobretudo, seriamempregadas as melhores competências ecapacidades de administração mas apenaspara o trabalho de sua especialidade”.(LivroSexto. Cap. X, Parágrafo 8).

KRUGMAN (1991 apud IGLIORI, 2001)

Arranjos Produtivos Locais e o Comprometimento Institucional Para o Desenvolvimento Regional

Projeto Gráfico da Infografia: Carol Azulay -Acadêmico em Design.

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salienta que o fenômeno da concentraçãogeográfica das atividades econômicas resultada integração entre demanda, retornoscrescentes ou decrescentes de escala ecustos de transportes. Essas vantagens eeconomias podem ser genericamenteclassif icadas como externalidades einternalidades.

SCHMITZ (1995), ressalta que essasaglomerações desencadeiam oportunidadespara ganhos de eficiência que individualmenteas empresas não conseguiriam, defendendoa diferenciação entre os ganhos planejados,advindos da intencionalidade das empresase os não planejados ou incidentais, ambosvinculados à idéia de externalidadeseconômicas. A somatória desses ganhos édefinida como eficiência coletiva.

Para o autor, a simples concentraçãogeográfica e setorial das empresas nãogarante aquela eficiência coletiva, emboraseja uma condição necessária para que ocorraa divisão do trabalho, a especialização dasempresas e trabalhadores, agilidade nosprocessos de fornecimento de matérias-primas, surgimento da oferta de serviçostecnológicos, contábeis e financeiros.

GALVÃO (1998), salienta que essesúltimos vinte anos testemunharam umaprofunda reestruturação da economia e dopapel dos governos, das regiões, e dosindivíduos, ou seja, a globalização produtiva ea especialização flexível geraram essesespaços industriais, para os quais se exigegrandes mudanças institucionais em todas asesferas da sociedade.

Esse ambiente exigente de grande

competitividade, riscos e incertezas, envolve

questões fundamentais para a sobrevivência

das empresas, tais como problemas de

gestão, insuficiência de f inanciamento

adequado, comercialização e marketing,

obtenção de informações sobre mudanças

tecnológicas e de inovação, comportamento

da demanda etc.

Quanto mais soluções para esses

gargalos de um APL, mais fatores de sucesso

estarão sendo canalizados para que o seu

desenvolvimento venha ao encontro de uma

intencionalidade planejada, através das

questões de externalidades econômicas

organizacionais que envolvem o papel do

governo, a capacitação e a cadeia produtiva,

bem como as voltadas para a cooperação, na

formação de redes que induzam eficiência

coletiva.

P R O G R A M A P L A T A F O R M A ST E C N O L Ó G I C A S

O Programa das Plataformas

Tecnológicas e os Arranjos Produtivos Locais

e sua aplicação no Estado do Amazonas

podem ser melhor entendidos através da

leitura de outros dois artigos publicados nesta

edição. O primeiro, abordado por Alceu

Castello Branco e Waleska Barbosa, e o

segundo, de autoria de Nilson Pimentel e

Emerson Matias.

Neste artigo, estão sendo enfatizados

os aspectos mais relevantes da questão do

comprometimento institucional para com o

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desenvolvimento da região, uma vez que,

especificamente na questão das PlataformasTecnológicas / Arranjos Produtivos Locais,iniciadas no ano de 2000, o Amazonas, pelaprimeira vez, participa do processo, já em2002, com o pleito da ordem de R$ 4,0milhões, através de dez projetos enviados àFinanciadora de Estudos e Projetos/Finep eobtém a aprovação de quatro deles nosarranjos da Piscicultura, Fruticultura, eFitoterápicos e Fitocosméticos, totalizandoR$1,87 milhão para os anos de 2003 e 2004.

A razão maior do sucesso na captaçãodos recursos acima referidos é, sem dúvida,fruto da capacidade de articulaçãodesenvolvida pelas instituições locais, doempenho contínuo de um grupo de técnicos,empresários, profissionais das mais diversasinstituições de pesquisa do Estado, que seocuparam da elaboração daqueles projetos.

Através da ex-secretaria de Estado deDesenvolvimento Econômico – Sedec, nopapel de interlocutora em nível do Estado, eda Fucapi – Fundação Centro de Análise,Pesquisa e Inovação Tecnológica, no papelcentral de proponente de todos os projetoselaborados, indicada pelo Ministério de Ciênciae Tecnologia, uma rede de instituições, numademonstração clara da busca pelodesenvolvimento regional, deixou de lado osinteresses particulares, privilegiando umsentido maior, o de captar recursos paraprojetos voltados para a integração entreInst itutos de Pesquisa, empresas ecomunidade, levando soluções efetivas paraos gargalos tecnológicos, com açõespromotoras de geração de emprego e renda,

de inclusão social e de plena utilização dosrecursos de C&T&I nunca antes direcionadospara este f im, já que predominava oisolacionismo institucional.

O PAPEL DA FUCAPI NO PROCESSO

No cenário descrito no item anterior,coube à Fucapi, no seu papel de proponente,desenvolver uma série de articulações emnível local e nacional, de sorte a que os projetosdemandados tivessem sua efetiva elaboração,dentro de um padrão elevado. Para tanto,técnicos experientes foram chamados acolaborar, quer seja para esclarecimentossobre a forma de apresentação dos projetos,quer seja para proporcionarem o suportetécnico nos mais variados temas, para que aelaboração daqueles projetos se enquadrassena filosofia de qualidade almejada, ampliandoa oportunidade de captar os recursosnecessários ao financiamento dos projetos tãosignificativos para o desenvolvimento daregião.

A elaboração destes projetos ensejouo desenvolvimento de toda uma sistemáticade procedimentos e definição de processosadministrativos e operacionais, de sorte aatender as demandas de solicitação depassagens, diárias, compras simples eespecíficas de cada projeto, treinamentos,eventos, parte gráf ica, elaboração delogomarcas, controle orçamentário,aplicações f inanceiras, enf im, umasistematização que, tendo os projetosaprovados, a sua operacionalização não fossecomprometida, não somente ao longo das

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atividades operacionais, mas durante todo oprocesso, inclusive o de f iscalização,auditorias etc., zelando para que o nome dasinstituições que participaram do processoreflita a moral e a ética de todos os seusadministradores e colaboradores envolvidos.

OS PROJETOS COOPERATIVOS EMEXECUÇÃO

Projeto Tanque-Rede

Título do projeto: Tanques-rede: tecnologiapara o cultivo de tambaqui (Colossomamacropomum) e matrinxã (Brycon cephalus)a nível familiar.Início da execução físico-financeira: maiode 2003 (duração de 24 meses).Objetivo: Adaptar e transferir uma tecnologiaexistente, tanques-rede, para o cultivo detambaqui (Colossoma macropomum) ematrinxã (Brycon cephalus) a nível familiar.Instituições envolvidas: Embrapa, InstitutoNacional de Pesquisas da Amazônia/Inpa,Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas/Ipaam, Secretaria de Estado de Ciência eTecnologia/SECT.Área de Atuação: Iranduba (25 Km distantede Manaus), Fonte Boa (a 665 Km de Manaus)e Maués (a 260 Km de Manaus).Resultados já alcançados:

• Criação de tambaquis em tanques-rede no município de Iranduba;

• Análise parasitológica e alimentar detambaquis em tanque-rede;

• Envolvimento da comunidade em

todas as fases do projeto;• Pesquisa sócio-econoômica na

comunidade envolvida no projeto;• Início da instalação de tanques-rede

nos municípios de Maués e Fonte Boa.

Projeto Canais de Igarapé

Título do projeto: Programa de CriaçãoIntensiva de Matrinxã (Brycon cephalus) emCanais de Igarapé de Terra Firme: Aplicaçãoem Nível de Subsistência e Empresarial.Início da execução físico-financeira: janeirode 2003 (duração de 24 meses).Objetivo: Montar um programa de produçãode matrinxã com elevada produtividade a partirde tecnologia desenvolvida na região erepassar aos setores produtivos locais paraaplicação imediata tanto na manutençãofamiliar como empresarial.Instituições envolvidas: Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia/Inpa, UniversidadeFederal do Amazonas/Ufam, Instituto deProteção Ambiental do Amazonas/Ipaam,Superintendência da Zona Franca de Manaus/Suframa, Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária/Incra, Secretaria de Estadode Ciência e Tecnologia/SECT.Área de Atuação: Assentamento Tarumã-Mirim do Incra (distante 21 Km de Manaus).Resultados já alcançados:

• Implementação de quatro locais decriação, com baixo custo ecaracterísticas distintas;

• Apoio dos proprietários dos locais ondeos peixes estão sendo criados;

• Experimentos com relação a

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densidade de peixes mantidos no cativeiro.

Projeto Beneficiamento da Castanha

Título do projeto: Beneficiamento daCastanha do Brasil.Início da execução físico-financeira: abrilde 2003 (duração de 24 meses).Objetivo: Desenvolver tecnologia para oaproveitamento e/ou industrialização deprodutos da castanha do Brasil.Instituições envolvidas: Sindicato eOrganização das Cooperativas do Estado doAmazonas /OCB-AM, Universidade Federal doAmazonas/Ufam, Secretaria de Estado deCiência e Tecnologia/SECT, Cooperativa deTrabalho e Assistência em Engenharia,Agronomia, Veterinária e Meio Ambiente/Cooterma.Área de Atuação: Coari (363 Km distante deManaus), Boca do Acre (a 950 Km de Manaus)e Lábrea (850 Km distante de Manaus).Resultados já alcançados:

• Visitas de benchmarking a localidadesde outros Estados, onde obeneficiamento da Castanha já é feitocom sucesso (Epitaciolândia , Xapurie Brasiléia, no Acre; Cobijas na Bolívia;Laranjal do Jarí e Macapá no Amapá;e Belém e Castanhal no Pará);

• Visita aos locais de instalação dasmini-fábricas e obtenção de apoio dasprefeituras;

• Testes com formulações de barras decereal de Castanha do Brasil;

• Realização de treinamentos naslocalidades contempladas pelo projeto

(Plano de Negócios e Cooperativismo).

Projeto Fito

Título do projeto: Desenvolvimento de doisprodutos Fitoterápicos e um Fitocosmético apartir de espécies Amazônicas.Início da execução físico-financeira: janeirode 2003 (duração de 24 meses).Objetivo: Atender aos gargalos de validaçõesbotânica, química e biológica para fins deindustrialização e comercialização dasespécies muirapuama (Ptycopetalumolacoides Benth.– Olacaceae) e Chichuá(Maytenus guianensis Klot . – FamíliaCelastraceae) para fins de registro junto àAnvisa como medicamentos fitoterápicosnovos e Crajirú (Arrabidaea chica Verlot -Bignoniaceae) como Fitocosmético.Instituições envolvidas: Instituto Nacional dePesquisas da Amazônia/Inpa, UniversidadeFederal do Amazonas/Ufam, Secretaria deEstado de Ciência e Tecnologia/SECT,Pronatus (empresa do setor produtivo).Área de Atuação: Atalaia do Norte (a 1.138Km de Manaus), Tabatinga (a 1.105 Km deManaus), Benjamin Constant (a 1.115 Km deManaus), Manaquiri (a 65 Km de Manaus),Careiro (a 102 Km de Manaus), Rio Preto daEva (a 80 Km de Manaus), Itacoatiara (a 177Km de Manaus), Silves (a 200 Km de Manaus),Barreirinha (a 372 Km de Manaus) e Parintins(a 369 Km de Manaus).Resultados já alcançados:

• Geração de um mapa da distribuiçãofitogeográf ica das espéciespesquisadas;

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• Estabelecimento de um banco depadrões de referência micro emacroscópico para determinaçãobotânica das espécies;

• Realização de inventário florístico em4 regiões distintas no Estado (Atalaiado Norte/ Tabatinga/ BenjaminConstant, Manaquiri/ Careiro, Rio Pretoda Eva/ Itacoatiara/ Silves eBarreirinha/ Parintins);

• Melhoria dos laboratórios deFitoquímica do Inpa e Farmacologia daUfam (infra-estrutura e equipamentos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os projetos cooperativos emexecução demonstram a importância dacapilaridade das ações como forma dedesenvolvimento do interior do Estado doAmazonas, fomentando a permanência dohomem no interior e a geração de emprego erenda.

Os desafios encontrados são dotamanho da Amazônia, mas as equipesexecutoras têm se mostrado persistentes ecomprometidas com os resultados. Ospesquisadores demonstram gostar do quefazem, apesar das dificuldades inerentes àrealização dos projetos. O envolvimento dosetor produtivo, de cooperat iva e dascomunidades beneficiadas pelo projeto criouum elo de relacionamento que é indispensávelpara a continuidade dos projetos, mesmodepois do término do repasse dos recursosdo Governo Federal.

Os projetos em execução estãoquebrando o paradigma atual, através doincentivo ao trabalho cooperativo entreinstituições de perfil similar.

Para 2004, a Secretaria de Estado deCiência e Tecnologia/SECT, atual interlocutorado Governo Federal no Estado do Amazonas,liderou as reuniões para definições dasprioridades: foram mantidos os quatro Arranjosiniciais e acrescentados os de mandioca,grãos, componentes e produtos do PóloIndustrial de Manaus e pecuária bovina ebubalina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GALVÃO, Olímpio de Arroxelas.Clusters e Distritos Industriais: Estudos decasos em países selecionados e implicaçõesde políticas. Pernambuco: UFPE/PIMES, 1998.

IGLIORI, Danilo Camargo. Economiados Clusters Industriais e Desenvolvimento.São Paulo: Fapesp, 2001.

MARSHALL, Alfred. Princípios deEconomia in Os Economistas, PrimeiraEdição, São Paulo: Abril Cultural, 1982 (originalpublicado em 1890).

SCHMITZ, Hubert. CollectiveEfficiency: growth path for small-scale industry.The Journal of Development Studies. V. 31, No.4, P. 529-66, Apr. 1995.

SCHUMPETER, Joseph. Teoria dodesenvolvimento econômico: umainvestigação sobre lucro, capital, crédito, juroe ciclo econômico in Os Economistas,Primeira Edição, São Paulo: Abril Cultural,

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Arranjos Produtivos Locais e o Comprometimento Institucional Para o Desenvolvimento Regional

1982. (original publicado em 1911).

* Fernando Santos Folhadela éMestrando em Desenvolvimento Regional pelaUfam, Pós-Graduado em Consultoria Industrialpela Unicamp, Bacharel em CiênciasEconômicas pela Ufam, Assessor dePlanejamento da Fucapi e Professor deEconomia e dos Cursos de Pós-Graduaçãoem Gestão Empresarial e Financeira da Ufam.

** Alessandro Bezerra Trindade éEngenheiro eletricista formado pela Ufam(1995), com aperfeiçoamento em AutomaçãoIndustrial pela Unicamp (1998), atualmentecursando especialização em Monitoramentoe Inteligência Competitiva pela Ufam e atuandocomo assessor da Diretoria Executiva daFucapi para assuntos de cooperação.

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A ESTRATÉGIA DEDESENVOLVIMENTO COMCLUSTERS:A EXPERIÊNCIA DO BANCO DAAMAZÔNIA

Hélio Graça*

RESUMOMostra uma concepção teórica sobre

o processo de desenvolvimento regionalsustentável nas dimensões econômica,social, ambiental e política. Defende, a partirde uma Matriz de Insumo-Produto da RegiãoNorte, a migração de um modelo dedesenvolvimento focado na oferta para ummodelo de desenvolvimento focado nademanda, porquanto, embora a natureza dosproblemas dos estados/regiões sejamsemelhantes, eles se manifestam demaneiras diferentes conforme os setores,ambientes, territórios e regiões dentro dosquais se encontram. Fundamenta a opção pelametodologia de APLs como alternativa paraum modelo de desenvolvimento regional.

A teoria nos mostra que o processo dedesenvolvimento de uma região depende dainteração de diversos fatores econômicos epolítico-institucionais. Depende daparticipação relativa da região no uso dosrecursos nacionais, determinada a partir doscritérios econômicos e políticos prevalecentesno processo de alocação espacial dosrecursos, da direção e da magnitude que o

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quadro global das políticas econômicasnacionais, macroeconômicas e setoriais temsobre a região bem como da capacidadedeorganização social e política da mesma.

O resultado desse processo é ocrescimento econômico, porquanto com elevêm mais empregos, mais renda, mais bense serviços à disposição da população. Sãobenefícios necessários, mas não suficientes.O desenvolvimento, em sua plenitude,compreende princípios que passam pelaviabilidade econômica, sustentabilidadeecológica, eqüidade social e política corretaque visam a melhoria da qualidade de vida dapopulação, expressa por inclusão social, comouma vasta gama de oportunidades e opçõespara as pessoas, oferecendo-lhes condiçõespara que desfrutem de uma vida longa esaudável, adquiram conhecimentos técnicose culturais, tenham acesso aos recursosnecessários a um padrão de vida decente.

É o conceito de desenvolvimentosustentável, tal como foi concebido pelaAgenda 21 Global, que a ele acresceu quatrodimensões: a econômica, relativa àcapacidade de sustentação econômico-financeira dos empreendimentos; a social,relativa à capacidade de incorporação daspopulações marginalizadas; a ambiental,relativa à necessidade de conservação e/oupreservação dos recursos naturais e dacapacidade produtiva da base física; e apolítica, relativa à estabilidade dos processosdecisórios e às políticas públicas dedesenvolvimento.

Essa concepção teórica tem sido onorte do instrumento de ação do Governo Fede-

ral no processo de desenvolvimento regional,representado pelo Banco da Amazônia, que,nos últimos 12 anos, através da aplicação dosrecursos do Fundo Constitucional deFinanciamento do Norte - FNO, dos depósitoscompulsórios, de repasses de agentes dedesenvolvimento e linhas de orçamento-programa, disponibilizou na Região mais deUS$ 3,5 bilhões (1).

Os efeitos sociais dessa iniciativarenderam frutos interessantes, mesmoimprescindíveis para uma região queexperimentava o processo de desenvolvimentoeconômico.

Fazendo uma apreciação dessesresultados socioeconômicos, a partir de umaMatriz Insumo-Produto da Região Norte, o prof.Antônio Cordeiro Santana (2000)(2) ofereceestes destaques:

1. “os setores agropecuários eagroindustrial são os mais importantes, no quese refere à capacidade de gerar emprego erenda, relativamente aos demais setores daeconomia regional. Na agropecuária, gerou-seuma ocupação de mão-de-obra para cada R$5.616 aplicados do FNO e produziu oequivalente a R$ 9.382 de valor da produção.Na agroindústria, por seu turno, criou-se umaoportunidade efetiva de ocupação de mão-de-obra com apenas R$ 3.525 e gerou-se R$6.081 de valor de produção, em 1999/2000.”

2. “a agroindústria, além de ser osegmento em que as oportunidades deemprego são criadas com a aplicação demenor volume de recursos, apresentou forteganho de eficiência em relação a 1996.”

3. “A qualidade de vida, medida pelo

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Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)melhorou para a grande maioria dos Estadosda Região Norte.”

4. “estes resultados foram largamenteconfirmados nas análises de linkages parafrente e para trás e dos multiplicadores deemprego e renda, onde a agroindústria dealimentos e bebidas se consolida comoatividade-chave”.

Mas o Prof. Santana, engrossando opensamento de outros especialistas, naquelaocasião (2000), já defendia a necessidade derevisão das estratégias de alocação derecursos disponibilizados na Região e damigração de um modelo de desenvolvimentoeconômico focado na oferta para um modelode desenvolvimento focado na demanda e nasespecificidades dos problemas, isto porque asnaturezas desses problemas sãosemelhantes entre as empresas e estados/regiões, mas eles se manifestam de maneirasdiferentes conforme os setores, ambientes,territórios e regiões dentro dos quais seencontram. É a lógica econômicaconvergente, onde a oferta final de soluçõesde problemas se adapta às demandasespecíficas influenciadas pelos setores eterritórios.

Nessa linha, qualquer nova concepçãode política pública, com chances de atingir umelevado grau de sucesso, será aquela quereúna os seguintes ingredientes: (1) não teruma estrutura paternalista; (2) fomentar aformação de redes e arranjos, onde semanifestam a cooperação entre as empresase entre elas e as instituições de apoio; (3)envolver diversos níveis de instituições e

organismos públicos e privados, respeitando

os princípios da proximidade e da

descentralização; (4) concentrar os esforços

no foco da demanda; (5) envolver diversas

frentes de ações, de maneira coordenada.

Afloram dessa propositura conceitos

antigos, mas ainda pouco ut il izados:

cooperação,competitividade, mercadologia e

coordenação por agentes públicos.

A literatura econômica convencional

tende a contextualizar as empresas em

termos de setores, complexos industriais,

cadeias industriais etc., e considera pequena

ou nula a relevância da sua localização.

Poucos economistas do século passado, e

menos, ainda hoje, destacam a importância

de entender as sinergias entre as

concentrações espaciais de atividades

produtivas e a própria evolução das

civilizações, preferindo assumir a perfeição e

hegemonia dos mercados.

Hoje, verif ica-se uma crescente

convergência de visões entre as diversas

escolas de pensamento para outro prisma. O

foco de análise deixa de centrar-se

exclusivamente na empresa isolada, e passa

a incidir sobre as relações entre as empresas

e entre estas e as demais instituições dentro

de um espaço geograficamente definido,

assim como a privilegiar o entendimento das

características do ambiente onde estas se

inserem. Como decorrência, tal foco passa a

orientar as novas formas de intervenção do

Estado na promoção da política industrial e

tecnológica.

É a força do novo modelo, embalado

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por suas vicissitudes, dilemas, e procurandotrazer o aprendizado de países ditos deprimeiro mundo, que experimentaramestratégias de desenvolvimento econômicosemelhante ao Brasil e, em especial, àAmazônia.

Busca-se a competitividade dasempresas, sem esquecer o equilíbrio entrerentabilidade do capital (ou lucratividade) e ouso racional dos recursos naturais.

Os teóricos, em estudos sobrevantagens competitivas, ressaltam que ospaíses e regiões que estruturam as suaseconomias apenas na produção de bens eserviços intensivos em fatores básicos(recursos naturais renováveis e não-renováveis, clima, posição geográf ica,abundância de mão-de-obra não-qualificadaou semiqualificada etc.) são incapazes degerar os fundamentos de uma competitividadesustentável, assim como prover de melhorescondições de vida os habitantes. A economiadesses países e regiões se caracteriza porapresentar um ciclo vicioso da destruição dariqueza, sofrem, com freqüência, umprocesso de deterioração nas suas relaçõesde troca; destacam-se pelos valores baixosde seus indicadores sociais; ampliam onúmero de seus concorrentes em escalaglobal, dadas as facilidades de entrada nomercado daqueles bens e serviços; não têmcondições de sustentar o seu processo decrescimento no longo prazo.

Das estratégias conhecidas, cujasorganizações são mais apropriadas para onosso interesse, é o caso da Terceira Itália,onde prosperaram distritos industriais

abrigando setores para os quais o Brasil, emvárias de suas regiões, apresenta reveladavocação têxtil, confecções, calçados, móveis,cerâmica etc. Então, é tentadora a decisãode se processar uma transposição dessasexperiências e estratégias para a economiabrasileira.

Porém, não se pode esquecer dealgumas precauções: a primeira, é que sedeve levar em conta o ambiente cultural,político e institucional que gerou essasexperiências, no caso particular da TerceiraItália. A segunda, menos perceptível, é queessas experiências nasceram e sedesenvolveram, não só em ambientesespecíf icos, mas também em épocas,contextos e conf igurações políticas eeconômicas muito diferentes.

Essas experiências traziam em seuinterior novas formas de produção e deorganização social, o que lhes permitiram,portanto, fundar uma geografia econômicadiferente, baseada em novos paradigmas deorganização de empresas.

Todos esses fatos vêm sopesando asnovas iniciativas do Banco da Amazônia, que,nas l inhas-macro de um projeto dedesenvolvimento econômico e socialdelineado pelo Governo Federal para aRegião, contratou do Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (IPEA), três grandespesquisas:

1. “Estudo das Potencialidades dosMunicípios dos Nove Estados da AmazôniaLegal”;

2. “Estimação de Matrizes de Insumo-Produto para cada Estado da Região

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Norte e para a Região como um todo”; e3. “Contribuição ao Desenvolvimento

dos Principais Arranjos Produtos Locais”.Buscava aquela instituição de crédito

e fomento, subsídios para suporte ao novomodelo de desenvolvimento focado nademanda.

Dessas pesquisas são os seguintesdestaques:

• foram distinguidos os 175 municípios daRegião capazes de alavancar odesenvolvimento regional (120, da RegiãoNorte e 34, nos Estados do Maranhão e MatoGrosso);

• corroborou-se que existe um alto nível deconcentração das atividades econômicas nascapitais e demais cidades de grande porte.As capitais dos Estados detêm 54% do PIB eos 10% dos municípios mais ricos chegam aconcentrar mais de 77% de todo o PIB daRegião;

• foi pontuado o padrão de renda disponíveldos municípios e identificado que o Estado doPará concentra o maior número delocalidades de alta renda na região, com largadiferença para os demais estados;• a partir de um indicador sintético que agregaDinamismo, Renda Disponível, PIB,Faturamento e Volume de OperaçõesBancárias, foi constatado que os Estados doPará, Amazonas, Mato Grosso e Acre são osmais bem situados, nessa ordem;• a industrialização da região é baixa e há muitoespaço para o crescimento econômico;• a interligação comercial entre os Estados daRegião é muito incipiente;

• existe uma relativa heterogeneidade daestrutura produtiva e setores-chave para osEstados da Região;• a indústria alimentícia constitui umaoportunidade de investimento para estimularas cadeias agroindustriais. Investimentos naindústria de alimentos proporcionaram àRegião agregar valor proveniente doextrativismo vegetal e agropecuária,aumentando o volume das exportações erealizando a transição de uma economialigada ao extrativismo e agropecuária parauma economia de base agroindustrial;• a renda pode ser gerada em inúmerasatividades, em vários setores da economia,sob as mais diversas modalidades;• a renda é gerada por pequenos produtoresque, trabalhando isoladamente, mostram-sefracos para enfrentar as situações adversas,quando a solução dos seus problemas seriamelhor equacionada se houvesse ummovimento de cooperação entre osprodutores do mesmo bem ou setor e,também, uma conjugação de esforços dosagentes que, de uma maneira ou de outra,atuam no contexto de produção de bens;• é sempre possível às instituições federais eestaduais atuarem sobre o dinamismo dasbases produtivas da Região, através de açõesplanejadas, visando melhorar o seu sistemade transportes e de comunicação, incentivara produtividade dos fatores nas unidadesprodutivas, facilitar a introdução de inovaçõestecnológicas no sistema produtivo local,ampliar a disponibilidade de fatores deprodução na quantidade e na qualidadeexigidas etc.

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COOPERAÇÃO

COOPERAÇÃO

MercadoMundial, Nacional, Regional e/ou

Empresas/Produtor

Fornecedores

Essas ilações levaram o Banco daAmazônia a estruturar as suas políticasdesenvolvimentistas assentadas em seisestratégias de ações sistêmicas, a saber:

1. inserção dinâmica da economia daAmazônia no Brasil e no Mundo;2. competitividade sistêmica, ou seja, aredução do Custo Amazônia;3. transformação econômica, representandomudança quantitativa e qualitativa no sistemaprodutivo;4. transformação social, visando propiciardignidade econômica e social ao cidadão daRegião;5. economia baseada no conhecimento, ouseja, priorizar a ciência e a tecnologia comofatores de desenvolvimento; e6. sustentabilidade em todas as iniciativascapitaneadas pelo Banco ou por ele apoiadas.

E optou por fundamentar em ArranjosProdutivos Locais (APLs) as iniciativas desuporte ao modelo emergente, trazendo àtona uma forma alternativa de pensar odesenvolvimento regional, tornandoindispensável mudanças na conduta dosdiferentes agentes econômicos e atribuindonovos papéis às empresas, governo e outrasinstituições públicas e privadas, no sentido deuma maior interação no debate, formulação eimplementação de diretrizes para ainternalização dos benefícios dodesenvolvimento.

Nesse contexto, o desenvolvimentolocal baseado em APLs passa a despontarcomo opção que apresenta maior perspectivade inserção competitiva e sustentável da

região, tanto na economia brasileira, como namundial, já que aponta para a cooperaçãoentre os diferentes agentes públicos eprivados, como condição sine qua non para osucesso da empreitada.

Teoricamente, há algumas variaçõesconceituais correlatas ao tema(3). Assim, porvezes, para definir um mesmo processo, sãoutilizadas as terminologias clusters ousistemas/arranjos produtivos locais. Há, noentanto, o consenso de que qualquer que sejaa definição conceitual utilizada, a estratégiaterá que passar pelo adensamento dascadeias produtivas e ter, como já destacado,a cooperação como elemento-chave.

Uma figura ilustrativa de um APL e seuselementos constitutivos é apresentada aseguir:

Arranjo Produtivo Local Estruturado

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ESPECIFICIDADES DA METODOLOGIAUTILIZADA PELO BANCO DA AMAZÔNIA

No Banco, o primeiro passo paradeslanchar o processo de apoio aodesenvolvimento de APLs, como figuradoanteriormente, foi o mapeamento dasatividades produtivas com maior potencialpropulsor da economia regional.

Partindo-se de um estudo inicial,realizado no ano de 2000, em parceria com oIPEA, foram identificadas na Amazônia, 235atividades com potencialidades para trabalhara metodologia de APL.

Em 2002, um novo estudo foi realizado.O projeto teve como foco principal, além daseleção das at ividades, a difusão dametodologia de APLs em toda a região,mediante a realização de reuniões comAgentes/Instituições representativas de cadaEstado. Basicamente foram considerados osseguintes critérios para seleção dasatividades:

• Concentração espacial, que facilita odesenvolvimento de relações e ligaçõesverticais no processo produtivo, possibilitandovínculos de cooperação entre os Agentes/Instituições;

• Tamanho, que denota a importânciarelativa da atividade para o Estado, Região ouPaís e dimensiona a escala da produçãocapaz de gerar externalidades positivas paraa competitividade;

• Maturidade relativa, por indicar que aatividade já detém certa tradição produtiva esustentabilidade intertemporal, não refletindo

apenas benefícios decorrentes de fatoresconjunturais; e • Inserção nos mercados, ou seja,capacidade de penetração dos produtos nosdiversos mercados (local, regional, nacionale internacional), indicando o potencialcompetitivo da atividade.

Tais critérios, apesar de orientadoresdo mapeamento em questão, foramsubmetidos à validação dos agentespartícipes do processo, haja vista as múltiplaspeculiaridades da Amazônia, que vão deaspectos físicos a sociais, havendo, portanto,a necessidade de adequação da metodologiautilizada.

O estudo selecionou 49 ArranjosProdutivos em toda a região, sendo que, dentreestes, para implantação em caráter piloto,foram definidos nove APLs, conforme quadroa seguir:

Arranjos Produtivos Locais na Amazônia

A estratégia de desenvolvimentofundamentada em APLs proposta, tem comoobjetivo propiciar uma agenda positiva deparcerias que deflagre ações capazes deviabilizar, na região, esse novo mecanismo deatividade e de desenvolvimento sustentável,com aumento da produção e da produtividade

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Acre/Rio Branco

Amapá/Macapá

Amazonas/Itacoatiara

Maranhão/São Luis

Mato Grosso/Cuiabá

Pará/Redenção

Rondônia/Ji-Paraná

Roraima/Boa Vista

Tocantins/Araguaína

Pecuária Bovina de Corte

Madeira/Móveis

Pesca

Turismo

Turismo

Pecuária Bovina de Corte

Pecuária Bovina de Corte

Arroz

Pecuária Bovina de Corte

ESTADO/MUNICÍPIO DO APL APL SELECIONADO

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e a geração de mais empregos, tornandoviáveis diferentes alternativas de crescimentoeconômico e de melhoria dos indicadoressocioeconômicos regionais.

Além disso, a estratégia proposta, emcontraste com experiências anteriores, não sebaseia em projetos de infra-estrutura de largaescala ou em grandes projetos isolados dorestante da economia regional (enclaves), poisse direciona, também, às pequenas e médiasempresas, conquanto partes essenciais dotodo e capazes de alcançar elevados padrõesde competitividade, como se tem observadoem vários países do mundo.

Assim, o Banco da Amazônia vemincentivando a mobilização dos diversosagentes que participam do APL, ondedesenvolveu um sistema para acompanhar asações do Comitê Gestor desse APL, formadoem cada um dos Estados da Amazônia Legal,estabelecendo, inclusive um cronograma deatividades a serem desenvolvidas, visandoreduzir os gargalos impedit ivos aodesenvolvimento de cada Arranjo. O resultadodesse trabalho, entretanto, dependerá dacapacidade de organização e cooperação dosprincipais agentes envolvidos.

NOTAS:

(1) O Banco é responsável por 82% do total de recursosaplicados em financiamentos de longo prazo e por52% de todo o volume de crédito concedido na Região.

(2) Plonski, G.A. – “Mantras da Inovação”. In: Fleury,M.T.L. e Fleury, A. (org.) – PolíticaIndustrial. São Paulo: Publifolha, 2004. vol. 2, pp. 93-118.

(3) Michael Porter parece ter sido o autor de maiorinfluência na composição estrutural do conceito decluster, contudo curiosamente este nome não aparecianos títulos dos seus incontáveis artigos, até 1998. Verdo autor “Clusters and the new economics ofcompetition”, Harvard Business Review, nov-dez, 1998.

* Hélio Graça é professor niversitáriodos Cursos de Economia e Administração eChefe da Área de Estudos Econômicos doB a n c o d a A m a z ô n i a S . A [email protected]

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O DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL ATRAVÉS DOSARRANJOS PRODUTIVOS

Sávio José Ferreira Ramos *

A inovação é a chave para ocrescimento e desenvolvimento econômico esocial de qualquer empreendimento. Assimsendo, necessário se faz um constanterepensar de idéias e planejamento estratégicopara que as empresas continuem a existir e ase reinventar, para adaptarem-se ao contextoeconômico em que estão inseridas e a suadinâmica que lhes provoca permanentesmudanças. Assim é a atuação do SistemaSebrae que tem na dinâmica e na eficiência oseu contexto maior de atualização eaprimoramento cultural, social, territorial e dearticulação institucional.

Por isso, a atuação do Sistema Sebraesó tem sentido se visualizada como uma sériede processos integrados e compartilhados dedesenvolvimento, de setores, de arranjosprodutivos, de núcleos produtivos, de regiões,de sub-regiões e de país, devidamentearticulados em rede de redes. Ou seja, órgãospúblicos, entidades de classe, associaçõescomunitárias, igrejas, fundações, ONG,sociedade civil, enfim, todos os organismosvivos da sociedade necessitam estarinterligados para que contribuam para amelhor compreensão da dimensão econômicalocal, regional, nacional e internacional, deforma potencializada.

O Desenvolvimento Sustentável Através dos Arranjos Produtivos

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A definição da ação institucional doSistema Sebrae em Arranjos ProdutivosLocais - APL é respaldada e legitimada pelamaioria dos órgãos de desenvolvimento, porse constituir em importante fonte geradora devantagens competitivas duradouras, a partir doenraizamento de suas capacidades produtivae de inovação, em seu próprio bojo, que serealiza através da mobilização de redes locaisde empresários e outros protagonistas,possibilitando transformar a proximidadeespacial das empresas, em uma melhorinserção competitiva e sustentável nomercado. Ao contrário, caso as empresasvenham a se isolar, os pequenos negóciostendem em reproduzir a forma defuncionamento das grandes empresas, sem,é claro, usufruir de suas principais vantagens,que são as economias de escala, inovaçãoprodutiva e gerencial, disponibilidade de mão-de- obra especializada, dentre outras.

Com essa harmonia e consonância deinteresses, instrumentalizado pelos principaisprotagonistas locais, o processo buscaestabelecer novas formas de organizar ospequenos negócios, de tal forma que venhama superar as deficiências oriundas do porte edo isolacionismo, abrindo espaço para oassentamento de atividades produtivas,deveras importantes na geração dedesenvolvimento local integrado e sustentado.

O Sebrae/AM procura desenvolver osArranjos Produtivos com base na aglomeraçãode organismos empresariais, localizados nummesmo território, apresentando um mínimo deespecialização produtiva e ligações interativasde articulação, cooperação e aprendizagem

entre si e os chamados atores locais, como ogoverno, lideranças empresariais, entidadescreditícias, de ensino, pesquisa e extensão,dentre outros.

Em função das especif icidadesregionais e constatações empíricas óbvias,bem como das políticas governamentais,federal, estadual e municipais, dedesenvolvimento, no Amazonas o Sebraepriorizou os seguintes setores produtivos demaior potencial para atuação em APL: Turismo,Artesanato, Fruticultura, Fitoterápicos,Madeira/Móveis, Piscicultura, Petróleo/GásNatural e o desafio da Floricultura, aindainexplorado, mas que se apresenta como umpotencial extraordinário para a regiãoamazônica.

Cabe aqui observar que, em regiõesainda fragilizadas economicamente, que nãodispõem de setores mais organizados eadensados empresarialmente, como aAmazônia, ainda não se justifica aplicar o rigordo conceito de APL, oriundo da definição dosClusters de Michael Porter, sendo maisapropriado utilizar o conceito como estratégiade indução para a organização efortalecimento das cadeias produtivasregionais. Ou seja, é sempre permitidoflexibilizar esse perfil, uma vez que não sepode considerar o processo como umcomponente engessado, mas sim, um entesistêmico, capaz de evoluir sua estrutura efazer evoluírem outras.

A Agência de Desenvolvimento daAmazônia - ADA assim define ArranjosProdutivos Locais: “aglomerações territoriaisde agentes econômicos, polít icos

O Desenvolvimento Sustentável Através dos Arranjos Produtivos

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e sociais – centrados em um conjuntoespecífico de atividades econômicas queapresentam vínculos, mesmo que incipientes”.

No Amazonas, como decorrência dalimitação dos recursos, mais financeira emenos de outras ordens, também foramselecionados os municípios para que o Sebraeatue em arranjos, tendo o biênio de 2002/2003servido de “piloto” para a Programação de2004. Neste primeiro momento o Sebrae/AMexperimentou uma metodologia de APL maisadequada às culturas locais onde se inserem,compreendido como uma fase preliminar deidentificação e seleção dos setores produtivose de ampla geração de conhecimentos sobreos mesmos e dos respectivos ambientes.

No ano de 2004, nos encontramos nomomento em que os “Planos deDesenvolvimento” estão sendo discutidos comos atores principais e os parceirosestratégicos, visando planejar e delinear nodetalhe, bem como fortalecer a dinâmica dasações a serem desenvolvidas, para que, nomédio prazo, sejam facilitadas a gestão, aoperacionalização e a avaliação dos esforçosdespendidos, os quais se espera sejamrefletidos no fortalecimento dos diversos elosque compõem os respectivos arranjosprodutivos.

Deve-se compreender que o nível dematuração dos APL não é uniforme, em funçãode que são diferenciados os estágios dasnecessidades de capital humano, capitalsocial, capital natural e de governança, bemcomo são diferentes os ritmos em queocorrem os avanços que envolvem aestruturação e desenvolvimento dos arranjos

produtivos locais. Por outro lado, também sedeve ressaltar que o dimensionamentoterritorial é fundamental na definição dasnecessidades e potencialidades dos atoresenvolvidos no processo, sendo condiçãoimprescindível para a obtenção de resultadosqualitativos e quantitativos relevantes, quedeverão ser observados ao longo do seudesenvolvimento.

Os mecanismos utilizados para a“concertação” das diversas componentes queconstituem os APL são as ferramentas doempreendedorismo, baseadas nos pilares dacapacitação; orientação empresarial voltadapara a gestão estratégica; suporte creditício etecnológico; e disseminação da cultura dacooperação, sem esquecer do conceito dedesenvolvimento local integrado sustentável,entendido como uma nova forma decompreender o desenvolvimento e depromover o desenvolvimento humano, odesenvolvimento social e o desenvolvimentosustentável.

* Sávio José Ferreira é Líder daUnidade de Arranjos Produtivos Locais eMercado do Sebrae/AM, Economista formadopela Universidade Federal do Amazonas(1993) e pós-graduado em Marketing pelaEscola Superior de Propaganda e Marketing(1994).

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... Continuação da entrevista com a Secretária de

Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas,

Marilene Corrêa.

T&C - Qual a estratégia daSecretaria de C&T do Amazonas para afixação de doutores em quantidadecompatível com os desafios regionais?

MC - Propusemos e aprovamos umainiciativa ousada. Com o CNPq conveniamoso DCR, o Pronex, os Primeiros Projetos. Noprimeiro, conveniamos 30 bolsas de fixaçãode recém doutores; no segundo, que apóia osnúcleos de excelência, estipulamos 400 milreais por proposta de Doutor Sênior, por 3 anosque vão equivaler a utilização de hum milhãoe duzentos mil reais mantidos pela Fapeam epelo CNPq. A Fapeam oferece de 7 a 13 milreais para um “enxoval” de fixação e o CNPqpaga as bolsas, neste caso, 25% maiores quea dos demais programas, o que atinge doismil dólares. Este é um esforço enorme dogoverno do Estado para atrair mão-de-obraexperiente, de formação avançada, que venhamultiplicar os esforços empregados naspesquisas e nos cursos de mestrado edoutorado. Esta estratégia fortalece a fixaçãode doutores em núcleos emergentes e emnúcleos de excelência. Destaque-se, ainda,que é a primeira vez que o Governo Federal éparceiro do Governo Estadual em iniciativasdeste porte.

Do ponto de vista qualitat ivo,ambicionamos mais. Os convênios comUniversidades estrangeiras são outra

estratégia para aumentar a presença e aoportunidade de fixação de recursos humanosde alta qualificação. Estamos induzindo eacelerando este processo em outras políticaspúblicas como na Saúde e na pós-graduaçãoda UEA. Destaque-se também que a Utamtem se utilizado com muita competênciadessas oportunidades.

T&C - O que tem sido feito paracompatibilizar a pesquisa produzida noEstado com as demandas sociais locais?

MC - Nem toda pesquisa produzidapode ser direcionada às demandas sociais,mas é certo que todo o conhecimento que éagregado às instituições produtoras torna-seum acervo precioso que pode, cedo ou tarde,constituir-se em um suporte a outrasiniciativas de pesquisa. A pergunta induz àspreocupações do Governo do Estado com asaúde, a educação, a habitação , odesenvolvimento regional, a matriz energética,a geração de emprego e renda, entre outros.Não há um só programa da SECT, da Fapeam,do Cetam e da UEA que não estejadiretamente ligado com os problemasimediatos do Estado, com a formaçãoavançada e dirigida a dar respostas ainúmeros problemas. Não se trata mais,apenas, de formar pessoas para a estruturaocupacional de uma sociedade que semoderniza, de um lado; e, de outro, tem gravesproblemas de empobrecimento gerado porcircunstâncias econômicas externas. Trata-se, agora, de formar uma capacidade

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

“ Propor à política pública deEducação a implantação de

laboratórios de Física,Química, Matemática, Biologia,em toda escola de nível médio,

é obrigação, assim comopropor que todo ensino funda-mental pratique a experiência

de manipulação de materiais emétodos de aceleração e

aprofundamento daaprendizagem de princípios

explicativos da educaçãocientífica ”

intelectual avançada, capaz de equacionardesafios, vencer adversidades e gerarpropostas originais que alcancem asustentabilidade da reprodução social, emtodos os sentidos: biológica, econômica esociocultural. E isto só se faz com indução equanto mais cedo começar, melhor! A razãodos Editais temáticos é atender às demandasde saúde, energia, produção de alimentos(com todo os recursose espécies regionaisc o n h e c i d a s ) , etecnologias sociais empolíticas públicas.M a p e a m o s ei d e n t i f i c a m o s n acomunidade científicaos grupos de pesquisamais at ivos e bemsucedidos nos demaist e m a s d o e n ç a si n f e c c i o s a s ep a r a s i t á r i a s ,habitabil idade re-gional, f rut icul turat r o p i c a l , e n e r g i a salternativas, e asdemandas (para não falar em carência) emtecnologias educacionais, de segurança, en-tre outros. As demandas sociais são simplese complexas, em um quadro de crescimentourbano e demográfico do Estado que requera multiplicação do alcance das políticaspúblicas. Além do mais, precisamos investirem tecnologia avançada p. ex, para combatera malária e a dengue; nossa condição

geográfica não vai mudar e precisamos

de novas tecnologias que favoreçam a

adaptabilidade do Trópico Úmido. Um exemplo

de medida simples: todos os piscicultores

precisam incluir entre suas preocupações,

questões de prevenção da malária e dengue

como medida de saúde pública. Outro

exemplo, de complexidade maior, é o de criar

cinturões de proteção sanitária às pessoas e

aos ambientes perturbados pelas invasões,

para que uma

condição endêmica

não se transforme

em epidêmica. A

proposta em teste

de “mosquiteiro

impregnado” pode

ser barata, simples e

acessível à população

de baixa renda, sem

prejuízo a todas as

medidas de prevenção

conhecidas e em

uso. A estrutura labo-

ratorial que estamos

apoiando demanda a

implantação de uma

rede de complexos laboratórios, de célula

tronco, de urgência epidemiológica e de

análise de DNA (implementação e controle de

qualidade), para citar algumas demandas

específ icas. Mas também precisamos

interferir cientificamente nos índices de

repetência e retenção escolar, distorção

idade-série e no padrão de qualidade das

disciplinas básicas das ciências da

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T&C Amazônia, ano 2, nº 4, Abril de 2004

natureza, exatas e de iniciação tecnológica.Propor à política pública de Educação aimplantação de laboratórios de Física,Química, Matemática, Biologia, em toda escolade nível médio, é obrigação, assim comopropor que todo ensino fundamental pratiquea experiência de manipulação de materiais emétodos de aceleração e aprofundamento daaprendizagem de princípios explicativos daeducação científica. Para isso, precisamostornar a UEA um centro de excelência emTecnologias Educacionais e em processoscomplexos de educação, etnicidade e políticaseducacionais. Além de cultivar a formação debacharéis para disciplinas já citadas quepossam cobrir as necessidades de toda arede pública. Isto requer, por outro lado, umconhecimento articulado aos processos deformação superior das universidades públicase dos centros e faculdades particulares. Masinvestir na formação de professores para asciências básicas não dá muito lucro, o quesignifica dizer que o Estado tem que assumirsozinho ou em grande parte esta tarefa. Aindução de pesquisas aos jovens eadolescentes do ensino médio através doPIBIC Júnior, cuja formulação em nossoEstado está sendo referência nacional, temdupla função: despertar a vocação e o inter-esse científico mais cedo e incluir esse jovemem uma comunidade seleta, responsável e degrande comprometimento público e ético.Esses programas têm grande impacto eprecisam de ampliar seu alcance em todosos municípios do Amazonas. É um sonhopossível.

Outra dimensão que a pergunta

envolve tem a ver com o uso do conhecimentoacumulado pelas instituições científicas e suatransferência para tecnologias de geração ouapoio aos arranjos produtivos locais. Nestecaso, a demanda é infinitamente maior que aoferta, mas a entrada do Estado emfinanciamento de atividades deste tipo tambémestá sendo incentivada pelos Programas jácitados: o PIPT e os Temáticos. Há setores,no caso, das empresas, que elas próprias sãoincentivadas a investir em Pesquisa eDesenvolvimento e assim suprir demandasfundamentais dos processos produtivos. Como setor público o problema maior é o daeleição de prioridades e o alcance em quepodemos implantá-las.

T&C - Como está a intensidade dasrelações entre governo, academia eempresas no ambiente de CT&I no Estadodo Amazonas? De que maneira pretende-se que elas sejam fortalecidas ?

MC - É preciso ter claro que essasrelações não são homogêneas, assim aintensidade é obtida em função de interessesmuito objetivos desses setores que nemsempre convergem para a mesma finalidade.

É lugar comum que quanto maior foro investimento de um país em CT&I, maior éo retorno econômico e conseqüentementebem-estar que se detém a partir disto. OGoverno, no plano federal, tem clareza de queesta relação precisa ser intensificada, peloincentivo às empresas, para reproduzir oambiente de C&TI no seu interior contratandodoutores e especialistas que , a rigor, são 80%

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empregados pelas instituições públicas.Incentiva, também, por meio do FNDCT umaaproximação na indução temática deprocedimentos de P&D de aplicaçãoespecífica, que só a mão-de-obra altamentequalif icada e o setor produtivo podemdesenvolver no plano local. Por exemplo, aregulamentação do CAPDA contemplou, noseu conselho, o Governo Estadual, acomunidade científica, além de representaçõesdo MCT, MDIC, BNDS, Finep e Basa. Supõe-se, então, que há intenção explícita deintensificar as relações governo, empresa eacademia no ambiente de C&T no Estado, nocaso desse exemplo específico, suposiçãoque pode ser confirmada na busca deconsenso para a escolha de projetosprioritários e projetos estruturantes noespectro da aplicação dos recursos da Lei deInformática. Acontece que as organizaçõesque gravitam em torno desses incentivos, quenem são empresas produtivas neminstituições de pesquisa públicas e privadas,também são concorrentes dos três setoresou sobrevivem de nichos não explorados poreles. Não contesto a legitimidade nem aimportância da existência de organizaçõesdesta natureza, mas tenho a convicção cívicaque devemos, enquanto representantes dogoverno, expor as melhores oportunidades erazões do Estado pela defesa de geração deestruturas e processos coletivos quebeneficiem tanto as políticas públicas quantoas iniciativas acadêmicas e empresariais. Poroutro lado, a avaliação dos órgãos externosao Estado mas que integram os Ministériosresponsáveis pelas políticas nacionais de

ciência, tecnologia e inovação e pela políticaindustrial, assim como as agências definanciamento que se representam noconselho, pautam a sua participação pelalógica que preside as suas Entidades deorigem, e não pelo que estas podem potenciarao desenvolvimento regional de uma áreaestratégica para o Brasil como o Amazonas.A obtenção de consenso nessascircunstâncias é de uma arquitetura políticasutil e sofisticada e, felizmente, obtida namaioria dos casos. Percebe-se, assim, umaevolução positiva no sentido de desarmarposições, quaisquer que sejam, e acreditarque os empreendimentos propostos sãofundamentais para a consolidação do póloindustrial, para a interação universidade –empresa, para aumentar a capacitaçãocientífica e tecnológica avançada e obterresultados sob a forma de processos eprodutos inovadores.

Há uma falsa idéia, produzida edefendida por setores externos, geralmente doSudeste e do Sul, que os recursos advindosda Lei de Informática são mal aproveitadosporque não temos capacidade científica etecnológica instalada. Contra essa ideologia,pode dizer-se que antes da regulamentaçãodo CAPDA a comunidade científica local nãoteve poder de participação, persuasão eoportunidade de disputar esses recursos.Agora tem, e tem de demonstrar como ossetores científicos podem e devem integrar-se aos setores produtivos para gerar umambiente de CT e I competitivo, masd e m o c r á t i c o , c o m i m p a c t o s m a i sconseqüentes sobre a realidade regional e do

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“ Quando substituímosempresas e ou grupos

acadêmicos locais (...) poroutros, de fora do Estado,não relacionados com asestruturas de C&T locais,estamos enfraquecendo acomunidade científica e as

instituições que têmcompetência equivalente ”

Estado. Por outro lado, é preciso acostumar-se à idéia de que os recursos públicos devemter a finalidade de fortalecer todos os setoresenvolvidos e que não podem ser apropriadospor um só setor. Quando substituímosempresas e ou grupos acadêmicos locaiscompatíveis, com formação acadêmica ecorrelatas, por outros, de fora do Estado, nãorelacionados com as estruturas de C&Tlocais, estamos enfraquecendo a comunidadecientíf ica e as instituições que têmcompetência equivalente. E se não têm,compete ao governo assegurar essa aquisiçãopor meio de fusões,intercâmbios, parceriase intensif icação deprojetos de geração e detransferência de tecnologiae inovação comuns aostrês setoresinteressados. Umaeducação tecnológicaconsistente no ensinomédio, e defender que aLei de InovaçãoTecnológica emdiscussão abrace a tesedo pesquisador de instituições públicastrabalhar nas empresas, além de continuar adefesa da formação universal e especializadade doutores, mestres, tecnólogos, sãomedidas concretas para assegurar ofortalecimento dessas relações.

T&C - Que papéis são esperadospara instituições públicas e privadas deensino e pesquisa na construção desse

ambiente?

MC - No que diz respeito a ambasinstituições, uma agenda compatível com asuperação de carências e necessidadeslocais para f irmar a busca científica etecnológica do desenvolvimento regional. Estaé uma pré-condição para a criação de umambiente favorável. Os representantesdesses setores têm de arbitrar suas açõessomando o interesse público como referênciae o resultado social que pode ser obtido comessa interação: mais emprego, mais renda,

mais desenvolvimentoapropriado às nossascaracterísticas regionaise a disseminação portodo o Estado dasconquistas obtidas pelaindução de um esforçocomum. Destaque-se,neste aspecto, o papelintegrador, indutor efomentador de açõespara o fortalecimentodos ambientes de CT&Ique, na minha opinião

tem de ter o papel catalizador do Estado, e opapel de dinamização das instituiçõesprivadas. Aliás deste último setor, o governotem a expectat iva que ele aumente aparticipação em investimentos em tecnologia,enquanto cabe ao setor público criar edesenvolver os nichos de inteligêncianecessária ao setor produtivo e aos demaissetores da sociedade. Daí decorre um papelcomum de ambas, o de

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planejador do futuro. O Canadá, em 1993, jáhavia feito a sua reforma nas instituiçõescientíf icas, onde, mesmo as entidadesprivadas têm a função pública, e sua vidaorganizacional gira em torno dessaresponsabilidade. No alcance dessa reforma,já havia a proposição de cenários para aestrutura ocupacional de 2050, o que implicana projeção de inúmeras prof issões ecompetências emergentes, e outras emprocesso de ocaso e até de completodesaparecimento. O setor produtivo e ainteligência do país buscam então alternativasde compatibilização de recursos e esforçospara manter e aperfeiçoar o padrão deorganização econômica e sócio-culturalexistente.

“A importância de um ambiente deCT&I, mesmo que fundamental para o futurodo país e do Estado, não é reconhecida porum conjunto, onde as carências básicas nãosão totalmente cobertas”

Uma última palavra diz respeito àprópria construção desse ambiente. Quandoele se configura como algo muito diferente eaté antagônico ao conjunto social, dificilmenteele é reconhecido e legitimado pela maioriaque precisa – mesmo não sabendo – dele. Aimportância de um ambiente de CT&I, mesmoque fundamental para o futuro do país e doEstado, não é reconhecida por um conjunto,onde as carências básicas não são totalmentecobertas. O que não significa dizer quedevemos abdicar dele, é só vermos o casoda Índia, mas intensificar a sua importâncianos sistemas estatuais e federais, é dever deambas.

Perspectivas para Ciência, Tecnologia e Inovação no Amazonas

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ww

w.f

ine

p.g

ov.

br/

pre

mio

A FINEP premia os

inovadores com uma inovação.

No 7º ano consecutivo do Prêmio, a FINEP inovou.

Os vencedores nacionais das cinco categorias,

além da premiação dos anos anteriores,

serão contemplados com uma viagem técnica ao Reino Unido,

patrocinada pelo British Council.

Se você acredita e investe no novo,

inscreva-se.

Inscrições até 31 de julho.

Mais informações: (21) 2555-0555.

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Os vencedores nacionais das cinco categorias,

além da premiação dos anos anteriores,

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Mais informações: (21) 2555-0555.

T&C Amazônia

ANO 2 - NÚMERO 4 – ABRIL DE 2004

ISSN 1678-3824

Publicação quadrimestral da

FUCAPI – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica.

Conselho Editorial

Isa Assef dos Santos

Guajarino de Araújo Filho

Niomar Lins Pimenta

Equipe Editorial

Dulce Oliveira

Guajarino de Araújo Filho

Niomar Lins Pimenta

Capaa.Prof Karine Gomes Queiroz

Diagramação e Soluções Gráficasa.

Prof Giselle Carneiro Falabellaa.

Prof Narle Silva Teixeira

Estagiário Breno da Costa Colares

Estagiário Artur Bitar de Souza

Estagiário Said Mendonça

Jornalista Responsável

Dulce Oliveira

Participação Especial

Jane Márcia Pinto Moura

As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.

Aos Leitores

T&C Amazônia é uma publicação quadrimestral, criada com o intuito de discutir temas relevantes de interesse do país e, em especial, da região amazônica. Cada edição aborda um tema específico, divulgando o pensamento e os estudos realizados por profissionais da área focalizada. O teor dos textos é de inteira responsabilidade dos autores. Os interessados em publicar seus trabalhos devem encaminhá-l o s p a r a a s e c r e t a r i a d a r e v i s t a ([email protected]), para que sejam submetidos à análise do Conselho Editorial. O envio de um artigo não garante sua publicação, mas delega à Fucapi o direito de publicá-lo. Os artigos publicados não concedem direito de remuneração ao autor.

No próximo número, T&C Amazônia irá abordar o tema Capacitação Tecnológica em Manaus, avaliando as atividades de empresas e organizações que compõem o Pólo Industrial de Manaus, enfatizando, em especial, a análise dos fluxos de conhecimento nas relações entre academia e setor produtivo.

Os interessados em publicar seus artigos no próximo número da T&C Amazônia devem encaminhá-los até o dia 30.06.2004 para o endereço eletrônico mencionado acima. O artigo deverá ser enviado exclusivamente por meio eletrônico, em arquivo texto, digitado em editor de texto Microsoft Word 4.0 ou superior, formatado em papel Carta, com margens laterais de 3,0 cm, margem superior de 3,5 cm, margem inferior de 2,5 cm, fonte Times New Roman tamanho 12 e espaçamento simples. O artigo deve conter um resumo e breve currículo do autor e pode apresentar gráficos e figuras, com um tamanho de 4 e máximo de 6 páginas.

FUCAPI

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"Fábricas de apertar parafusos".

Referir-se dessa forma à atividade produtiva existente em Manaus é um modo seguro de se colocar à prova a tradicional hospitalidade do amazonense.

Modelo para o desenvolvimento regional concebido pelo governo federal com base em uma estratégia geopolítica, a Zona Franca de Manaus até hoje carrega o fardo de, pela falta de uma cultura industrial prévia e de mão-de-obra especializada, ter se valido, em seus primeiros anos de funcionamento, da comercialização de produtos importados prontos (ou semi-prontos), aos quais pouco se agregava além de um selo "Produzido na ZFM".

Embora tenha sido típico apenas naqueles anos iniciais, esse comportamento continua ainda a fazer parte da imagem que muitos brasileiros de outras regiões - até mesmo técnicos e formadores de opinião - conferem às empresas locais, o que acaba por contribuir para a sobrevida da idéia.

Após 37 anos, e agora transformada em Pólo Industrial de Manaus, a Zona Franca continua a percorrer uma jornada evolutiva na qual os mais experientes não têm dificuldades de apontar avanços e, em conseqüência, o seu distanciamento da metáfora da frase inicial.

No próximo número, cumprindo o papel de informar e difundir aspectos da realidade regional, T&C Amazônia enfatizará atividades de empresas e organizações que compõem o Pólo Industrial de Manaus, procurando ressaltar o que talvez seja uma de suas formas mais nobres, o fluxo de conhecimento nas relações entre academia e setor produtivo.

Justamente por esse motivo as contribuições para esse número serão majoritariamente solicitadas através de convite direto a profissionais envolvidos com a realidade local.

Se você hoje mora em outra região, mas já viveu experiência na atividade industrial em Manaus que se enquadre nesse perfil, submeta-nos previamente sua proposta de artigo para análise.

E assim, quem sabe, estaremos contribuindo para reformular esse conceito.

E só ele. Porque queremos que o amazonense continue a ter sua hospitalidade reconhecida.

No próximo número daT&C Amazônia...

hhttp://portal.fucapi.br