sustentÁvel correios

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EM BUSCA DO BIOBUTANOL COMBUSTíVEIS ULTRAEFICIENTES, COM BAIXA EMISSãO DE CARBONO, MULTIPLICAM NEGóCIOS NO CAMPO CORREIOS Impresso Especial 9912224192 3/8 - DR/RJ CEBDS ABRIL/MAIO EDIçãO 28 R$ 10 2010 UMA PUBLICAçãO DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL O NOBEL DAS COMUNIDADES: ELINOR OSTROM PRINCíPIOS DO VAREJO SUSTENTáVEL 9 BILHõES EM UM PLANETA FINITO

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Page 1: SUSTENTÁVEL CORREIOS

Em busca do biobutanol

combustívEis ultraEficiEntEs, com baixa Emissão dE carbono, multiplicam nEgócios no campo

BRASILSUSTENTÁVEL CORREIOS

Impresso Especial

9912224192 3/8 - DR/RJCEBDS

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2010

u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o p a R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l

o nobEl das comunidadEs: Elinor ostrom

princípios do varEjo

sustEntávEl

9 bilhõEs Em um

planEta finito

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Page 3: SUSTENTÁVEL CORREIOS

C â m a r a s t e m á t i C a s

Carlos eduardo Garrocho de almeida

Holcim

Franklin FederAlcoa

Gilbert Landsberg Shell Brasil

João Batista Ferreira Dornellas

Nestlé

sidnei BasileAbril

marco simõesCoca-Cola

antonio Carlos manssour Lacerda

Basf

Hélio ribeiro Duarte HSBC

C O N s e L H O D e a D m i N i s t r a ç ã O

PRESIDENTE EXECUTIVA

Marina Grossi

CHAIRMAN

Marcos Bicudo

PRESIDENTE DE HONR A

Erling Sven Lorentzen

a s s O C i a D O s C e B D s

• 3m do Brasil Ltda.• abralatas• alcoa alumínio s.a.• amanco Brasil s.a.• amBev – Companhia de Bebidas das américas• arcelormittal Brasil• Bahia mineração• Banco do Brasil • Basf s.a.• Bayer s.a. • Bradesco s.a.

• BP Brasil Ltda.• Braskem s.a.• Caixa econômica Federal• Chemtech• Cia. Brasileira de Petróleo ipiranga• Cia. energética de minas Gerais – Cemig• Coca-Cola• Copel• DNV• eBX

• ecopart • eletronuclear – eletrobras termonuclear s.a.• energias do Brasil• Furnas – Centrais elétricas s.a.• Goodyear do Brasil • Gerdau açominas s.a.• Grupo abril• Grupo santander• HsBC• Holcim Brasil s.a.• itaú Unibanco

• Lorentzen empreendimentos s.a. • michelin • monsanto do Brasil Ltda.• Natura Cosméticos• Nestlé Brasil Ltda.• Organização Odebrecht• Organizações Globo• Petrobras – Petróleo Brasileiro s.a.• Philips• shell Brasil Ltda.

• souza Cruz s. a.• solvay do Brasil Ltda.• suzano Papel e Celulose• syngenta seeds Ltda.• tim• Usiminas – Usinas siderúrgicas de mG s.a.• Vale• Votorantim Participações s.a.• Walmart Brasil

D i r e t O r i a

Vânia somavillaVale

Jorge sotoBraskem

altair assumpçãoGrupo Santander Brasil

Wilson santarosa

Petrobras

v i n c u l a d o a o

Av. das Américas, 1.155 - grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Tel.: 55 21 2483.2250, e-mail: [email protected], site: www.cebds.org

W O R L D B U S I N E S S C O U N C I L F O R S U S T A I N A B L E D E V E L O P M E N T ( W B C S D )

e Q U i P e C e B D s

Beatriz Bulhões Fernanda resende

Flávia ribeiro

Leandro Batista maria Lúcia assunção

Pablo Vázquez

Patrícia Vianna Phelipe Coutinho

silvana Nocito

sueli mendesVerônica Oliveira

ÁGUA

PRESIDENTE: Yazmin trejos Amanco

VICE-PRESIDENTE: Josemar Picanço

Coca-Cola

BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA

PRESIDENTE: Gloverson moro Syngenta Seeds

VICE-PRESIDENTE: maria Cláudia Grillo

Petrobras

COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

PRESIDENTE: eraldo CarneiroPetrobras

CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS PRESIDENTE: Carlos eduardo

Garrocho de almeida Holcim

VICE-PRESIDENTE: Fábio José Pereira Leme

Itaú Unibanco

ENERGIA E MUDANÇA DO CLIMA

PRESIDENTE: Luís César stano Petrobras

VICE-PRESIDENTE: David Canassa

Votorantim Participações

FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

PRESIDENTE: Wagner siqueira Banco do Brasil

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

PRESIDENTE: erico sommer Gerdau

GESTÃO SUSTENTÁVEL PRESIDENTE: ana Lúcia

suzuki Basf

VICE-PRESIDENTE: Luiz Fernando Nery

Petrobras

Page 4: SUSTENTÁVEL CORREIOS

REPORT COMUNICAÇÃO

Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3.530 – 5.o andar – Jd. Paulista – São Paulo – SP – CEP 01402-001 telefone: 55 11 3051.8400e-mail: [email protected]

direçãoÁlvaro Almeida (MTB: 45384)Estevam Pereira (MTB: 21302)

conselho editorialAna Lúcia Suzuki (Basf)Carlos Eduardo Garrocho de Almeida (Holcim)Cristiane Oliveira (Souza Cruz) Eraldo Carneiro (Petrobras) Erico Sommer (Gerdau)Luís César Stano (Petrobras)Luiz Fernando Nery (Petrobras) Yazmin Trejos (Amanco)

Wagner Siqueira (Banco do Brasil)

coordenaçãoCEBDSBeatriz BulhõesMarina Grossi Flávia RibeiroFernanda Resende e Sueli Mendes (assistentes de coordenação) EdiçãoRicardo Arnt (redator-chefe)Alessandra Pereira , Álvaro Penachioni, Beto Gomes, Daniela Vianna, Fernando Badô, Gustavo Magaldi, Raquel Sabrina e Rita Nardy (editores) Conrado Loiola, Michele Silva, Paula Andregheto, Paulo César Pereira e Silvia Wargaftig (repórteres)

fotografiaRicardo Corrêa

direção de arteMENTES DESIGN

Marcel VotreMarcio Penna

revisãoAssertiva Produções Editoriais

administrativoCristina Almeida (gerente)Carlos NascimentoCicero Gomes

publicidadeSÓLIDA CONCEITUAL Telefone: 55 21 3154.9450, e-mail:[email protected] Alvaredo (diretora) Melissa Canero e Michel Santos (executivos de atendimento) Jefferson Eduardo (marketing)Denise Barreto (gerente inanceira)

impressãoEdiouro

tiragem5 mil exemplares

E x P E D I E N T E

assinaturas e números avulsos • Telefone: 55 21 2483.2250 • e-mail: [email protected] • www.cebds.org

nesta edição bRasil sustentável 28abR/mai 2010

foto dE capa: divulgação unica

A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é uma publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Os artigos não reletem necessariamente a opinião do CEBDS, sendo de responsabilidade dos articulistas e entrevistados.

imagEm

campanhas publicitárias

ambientais de impacto

notas

a bola-gerador, a camisa verde

canarinho e o voto climático

vida nova

o ciclista militante

e a caminhonete suv

panorama

a educação como antídoto,

o direito e a agrobiodiversidade

rEportagEm

cidades congestionadas:

9 bilhões no planeta em 2050

agEnda

prepare-se para os

eventos de maio e Junho

rEportagEm dE capa

novos biocombustíveis

multiplicam negócios no campo

EntrEvista

elinor ostrom, prêmio nobel

de economia de 2009

rEportagEm

estão surgindo os princípios

do vareJo responsável

lidEranÇa

marco aurélio raimundo,

o presidente hippie da mormaii

ano da biodivErsidadE

os proJetos redd

e o valor das Florestas

fErramEnta

índice Farmasustentável,

o primeiro do setor Farmacêutico

controvérsia

sacolas de plástico

oXibiodegradável reduZem impactos?

681214161820

263034364042

BRASILSUSTENTÁVEL

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aeconomista Marina Grossi foi eleita nova

presidente executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pela sua Assembleia Geral Ordinária, em abril. Ex-negociadora brasileira no Protocolo

de Quioto e ex-coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Marina atua no CEBDS desde 2005. Começou como assessora da Presidência e passou à diretoria da organização, coordenando várias câmaras temáticas. À Brasil Sustentável, a presidente falou sobre as novas perspectivas da organização.

o que representa para o cEbds a alternância na presidência?Estar no CEBDS me dá a oportunidade de trabalhar com o que acredito: a importância da sustentabilidade para o futuro. Essa preocupação ainda ocupa um nicho dentro das organizações, por isso vale a pena trabalhar com a vanguarda de cada companhia. Queremos apontar caminhos para a sobrevivência das empresas, mostrando o quanto é importante para o setor privado o zelo com essa questão. Vemos a sustentabilidade como um fator competitivo. É fundamental ajudar as companhias a perceber o olhar da sociedade sobre elas. As organizações têm recursos necessários para mudança, têm disciplina e têm tecnologia. Tentaremos alavancá-las para que possam gerar efeito também na cadeia de fornecedores e nos clientes.

Quais os maiores desafios do cEbds? Tornar o desenvolvimento sustentável uma prática. Precisamos ter mais participação nas políticas públicas, prover ferramentas e estimular discussões. Buscamos uma sinergia entre as boas iniciativas das empresas e as trilhas

sustentáveis. Esta é uma fase positiva para o CEBDS, com participação intensa dos associados e bom funcionamento das câmaras temáticas. Queremos aumentar nossa função estratégica e continuar a ser um radar de sustentabilidade para as nossas empresas, descentralizando a discussão da sustentabilidade e alcançando todas as regiões do país.

como mobilizar as empresas e avançar com a cultura sustentável?O formato do CEBDS ajuda. O nosso chairman é atualmente Marcos Bicudo, presidente da Philips do Brasil, e temos quatro diretores que são líderes do setor privado: Altair Assumpção (Grupo Santander Brasil), Jorge Soto (Braskem), Vânia Somavilla (Vale) e Wilson Santarosa (Petrobras). Além disso, temos o Conselho de Administração, composto pelas empresas: Abril, Alcoa, Basf, Coca-Cola, Holcim, HSBC, Nestlé e Shell. Juntos, avaliamos os principais temas de sustentabilidade. Queremos mais participação das companhias e envolvimento com a cadeia de fornecedores. Estamos num processo de reestruturação para conquistar mais transparência e visibilidade diante do governo e da sociedade.

o que espera dos próximos dez anos? Buscamos um paradigma que incorpore a sustentabilidade nos negócios. Provavelmente, haverá uma ruptura com os velhos paradigmas. Nesse processo, haverá ganhadores e perdedores. Não sei se o CEBDS terá os mesmos associados em dez anos. As companhias terão de se aperfeiçoar e zelar pelo desenvolvimento sustentável. Esse caminho não existe sem trauma, sem competitividade e perda de mercado. O CEBDS apontará os rumos com projeções, discussões epercepção dos cenários. Queremos nos aperfeiçoar para aumentar ainda mais nossa credibilidade. A meta para os próximos dez anos é conscientizar o governo de que o setor privado precisa participar das decisões das políticas públicas, pois só com o envolvimento de um número maior de pessoas será possível alcançarmos esse novo paradigma que inclui o desenvolvimento sustentável.

RadaR de sustentabilidade

diReto do conselho

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imagem

ilumine só o necessário. campanha da eskom, áfrica do sul

comentário da diesel italiana sobre as ameaças climáticas

podEr da imagEm

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campanhas publicitárias dE impacto mobiliZam mais do QuE tonEladas dE palavras, EspEcialmEntE Em causas ambiEntais.

a moda faz mais vítimas do que você pensa. WWF

pressão sobre os eua nas negociações climáticas. greenpeace

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Você sabia que a bola de futebol que rola nos campos profissionais e na pelada com os amigos pode ajudar a produzir energia? Um grupo de engenheiras da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, está desenvolvendo um protótipo de bola que absorve a potência do chute e a armazena em uma bateria recarregável, l0calizada em seu interior. O dispositivo

funciona por meio de um sistema semelhante ao das bobinas indutivas usadas em lanternas que se acendem com um chacoalhar. Testado em países como África do Sul e Quênia, o projeto sOccket ball garante que a prática do esporte, por 15 minutos, com esse modelo de pelota pode produzir energia para acender uma lâmpada de LED durante três horas.

futwatts

«edição beto gomes»

notastecn o lo g ia • m u dan ças cli máti cas • F utebo l • ed u cação

depois do jogo, essa bola é capaz de acender uma lâmpada d

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gaçã

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A seleção brasileira de futebol desembarca na África do Sul com uma nova camisa canarinho. Os modelos que serão usados pelos jogadores foram confeccionados com poliéster reciclado, gerado a partir de garrafas PET. O novo uniforme é 13% mais leve que a versão anterior e economiza 30% de energia, se comparado ao fabricado com poliéster comum. Cada camisa retira oito frascos de plástico do meio ambiente, o que, no total, representará uma economia de 13 milhões de garrafas plásticas – quantidade suficiente para cobrir mais de 29 campos de futebol. Outras seleções que irão à África do Sul também usarão o uniforme feito com garrafas PET, como Holanda, Portugal, Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Sérvia e Eslovênia.

canarinho verde

o brasil é o 88º. país no índice de desenvolvimento da educação da organização das nações unidas para educação, ciência e cultura (unesco). na pesquisa realizada em 128 nações, o país conquistou grau 0,883, atrás de panamá, peru, paraguai, bolívia, equador e honduras (a nota varia de zero, a mais alta, a um). o brasil tem bons números de atendimento universal escolar, analfabetismo e igualdade de acesso à escola entre sexos. mas, no número de alunos que entram na 1º. série do ensino fundamental e concluem a 5ª. série, o grau baixa para 0,756. “melhorar a qualidade é mais caro do que colocar a criança na escola”, diz o presidente do movimento todos pela educação, mozart ramos.88

centro de sydney antes e depois do evento

mundo às escuraso mundo ficou mais escuro em 27 de março de 2010. mais de 1 bilhão de pessoas apagaram as luzes de suas casas e escritórios durante uma hora, em ato simbólico para lembrar a importância e as consequências das mudanças climáticas. o evento a hora do planeta, criado pelo WWF em 2007, envolveu governos, empresas e a população, proporcionando cenas curiosas nos principais cartões-postais do mundo. símbolos como a torre eiffel, o big ben, o coliseu e as pirâmides

do egito ficaram totalmente às escuras. no brasil, 98 cidades participaram do ato. Ficaram sem luz o cristo redentor, no rio de Janeiro, e a ponte estaiada, em são paulo. a maior participação popular foi a dos australianos de sydney. “a mensagem é simples. as mudanças climáticas são uma preocupação crescente. as soluções estão ao nosso alcance e prontas para serem implementadas por indivíduos, comunidades, empresas e governos”, declarou o secretário-geral da onu, ban Ki-moon.

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r e t r a n c a

Falsa

depois do parque eólico de osório, os gaúchos vão extrair mais energia do vento

notas

A matriz energética que mais cresce no Brasil é a eólica: só no Ceará, a produção aumentou cerca de 430% entre 2008 e 2009. O primeiro leilão exclusivo de energia eólica do país, em dezembro, contratou 1.805,7 megawatts de energia e habilitou 71 empreendimentos, a serem distribuídos em cinco estados. Ceará e Rio Grande do Sul receberão a maior parte dos projetos. Com isso, a capacidade de geração eólica brasileira será triplicada até 2012. “O Brasil é o líder na América Latina

e será um centro desenvolvedor da tecnologia”, diz Santiago Miles, diretor de comunicação do Grupo Impsa. Com três parques eólicos no Ceará e dez em Santa Catarina, a empresa tem planos de investir R$ 200 milhões na ampliação da fábrica no Porto de Suape, em Pernambuco, onde produz aerogeradores e componentes. Outros fabricantes também estão se instalando no país. A Siemens pretende investir R$ 200 milhões no Brasil em 2010, parte na construção

de uma fábrica de turbinas. A Alstom assinou um protocolo com o governo da Bahia para construir uma fábrica de aerogeradores no complexo industrial de Camaçari, com investimentos de R$ 50 milhões. A General Electric norte-americana começou a fabricar turbinas eólicas em Campinas, investindo R$ 145 milhões em linhas de montagem. Em 2004, o país tinha apenas 22 megawatts de energia eólica instalados; hoje, são 600 MW; até 2010, deverão ser 1.500 MW.

vento em popa

inês

ari

goni

se depender dos eleitores brasileiros, o posicionamento dos candidatos às eleições de 2010 em relação às mudanças climáticas deve, sim, pesar na escolha do voto. segundo a pesquisa barômetro ambiental 2009, realizada pela market analysis e divulgada em fevereiro, 66% do eleitorado deve considerar o assunto na hora de definir um candidato. os eleitores mais jovens (de 18 a 24 anos) são os que mais valorizam o tema: 73% garantem que as políticas em relação

às mudanças climáticas serão a principal exigência eleitoral. outra constatação diz respeito aos diversos graus de sensibilização entre as classes sociais: 41%

dos que concordaram totalmente ou em parte com a importância do fator ambiental recebem até dois salários mínimos. essa parcela cai para 8% na

faixa salarial entre quatro e cinco mínimos, 13% na faixa entre cinco e dez mínimos e 8,26% na faixa entre dez e 25 mínimos. a pesquisa foi realizada em julho de 2009, com 835 adultos de nove capitais brasileiras.

a voz do povo nas urnas

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os compromissos que o brasil assumiu na cop-15 superaram as expectativas, porém, na prática, ainda deixam a desejar. é o que pensa aron belinky, coordenador executivo do projeto tictactictac, o braço brasileiro da campanha global de ações para proteção do clima, que tem como objetivo pressionar as autoridades governamentais com mais intensidade para obter avanços nas questões climáticas. belinky acredita que o brasil poderia ter sido mais assertivo nas propostas de mudanças, e não esconde sua decepção com o evento que reuniu as principais lideranças mundiais em copenhague.

Qual a sua avaliação sobre a cop-15?de modo geral, uma decepção. o que ficou claro é que a questão do clima vai exigir um grau de compromisso dos governos não apenas em conferências ou em relações internacionais, mas também internamente, em cada país. o desafio é tornar mais efetivos os mecanismos de decisão da conferência do clima.

E a participação do brasil?Foi melhor que as

expectativas iniciais, mas as ações ainda deixam a desejar. não há nada de concreto, e é preciso transformar compromissos em medidas concretas aqui no país. o governo tem um débito a ser saudado.

no ano passado, a campanha tinha um foco muito específico, que era a convenção do clima. Ela terá continuidade?sim, mas deve mudar o formato. a ideia é continuar em outras frentes, por prazo indeterminado, com mais foco nas políticas públicas, no comportamento e no cotidiano das pessoas. a aprovação da legislação brasileira sobre mudanças do clima, por exemplo, precisa ser regulamentada e exige posicionamento em diversos detalhes.

como o senhor avalia a participação na campanha?muitos têm vontade de participar, mas, ao mesmo tempo, há certo ceticismo. vejo um desânimo que detém a ação de colocar a mão na massa e ir à luta. o desafio é conseguir a motivação e mostrar que, mesmo não sendo fácil, resultados acontecem.

pinguE-ponguE aron belinKY

perseverança

felicidade interna brutaO índice Felicidade Interna Bruta (FIB), desenvolvido no zen e longínquo Butão, começa a chegar às empresas brasileiras. A Natura já iniciou um projeto piloto com uma versão empresarial do indicador, elaborada pelo Instituto Visão Futuro. Cerca de 50 pessoas participaram do processo e responderam a um questionário sobre os nove temas centrais do FIB, como saúde e bem-estar psicológico. “O índice tem a ver com a essência da Natura, que é a ideia do ‘bem estar bem’”, diz a ouvidora da empresa, Estelita Thiele. No caso, “bem-estar” significa a relação do indivíduo consigo mesmo, e “estar bem”, a relação com o outro e a sociedade. Outra companhia que pretende incorporar o conceito do FIB é a Icatu Hartford. A empresa está elaborando um questionário próprio para avaliar a satisfação de seus funcionários.

energia • eleições Felicidade • mobiliZação

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todo peRcuRso deve ser um deleite, e não a ânsia por chegar logo. Essa é uma das muitas premis-sas que levaram o paulistano Alexandre Delijaicov a mudar radicalmente seus hábitos de vida e a adotar a bicicleta como meio de transporte. Desde 1997, há 13 anos, ele pedala todos os dias para ir a dois empregos. Delijaicov é arquiteto de Pro-jetos Públicos da prefeitura da capital paulista e professor do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Ur-banismo, na Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde se formou e cursou mestrado e doutorado. “Sou duas vezes ser-vidor público”, destaca. Especialista em arquitetura de cida-des fluviais, em 15 anos percorreu 72 mil quilômetros mar-geando rios de cidades europeias, sempre de bicicleta. “Lá, o espaço público tem outro conceito, voltado para o convívio e o bem-estar social”, descreve.

Delijaicov defende um urbanismo humanista e social, em contraposição ao “mercantilismo rodoviarista”, como costu-

ma dizer. “Em pouco tempo na história das cidades, 80 anos, tudo se modificou para se adequar ao automóvel; a escala não é mais o pedestre, o cidadão e o corpo humano.” Isso, o profes-sor comprova todos os dias, em seus percursos de 8,5 quilôme-tros até a USP, e de 5,5 quilômetros até o escritório da prefeitu-ra, no centro histórico de São Paulo. As travessias levam cerca de 40 minutos. O lugar mais perigoso por onde passa, na caó-tica São Paulo, é a ponte Eusébio Matoso, sobre a Marginal do Pinheiros. “Foi desenhada para o automóvel. Não tem espaço para pedestres e ciclistas, iluminação nem limpeza. Quando passo por ali, tenho de fechar bem a boca para não mastigar a sujeira que os carros levantam”, relata.

A ponte é uma das únicas vias que não permite um cami-nho alternativo. Em geral, o arquiteto evita as grandes ave-nidas, em busca de ruas mais agradáveis e seguras. No ca-minho, percebe as sutilezas e as violências da cidade, como pontos de menor elevação, que aliviam o pedalar, e o bafo de

c a p a

eneRgia

« e d i ç ã o g u s t a v o m a g a l d i »

vida nova

ciclismo militantEnão é preciso ser urbanista, como o proFessor aleXandre deliJaicov, para adQuirir uma

nova percepção da cidade pedalando. andar de bicicleta signiFica mudar de cultura

i n i c i at i va s p e s s oa i s t r a n s F o r m a d o r a s

RepoRtagem silvia WaRgaFtig

Ric

ardo

cor

rêa

delijaicov enfrenta o trânsito de são paulo, de bicicleta, até de noite.

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ar quente que sobe do chão molhado, depois das chuvas de verão. Na volta para casa, afirma sentir o cheiro de bife acebolado sain-do dos lares, quando “bate aquela fome”. “Percebi que as ruas têm personalidade, e às vezes o humor delas não está muito bom.”

Percepções como essa, ele jura que só tem quem pedala, por isso sente falta da bicicleta quando está de férias, e anda mais a pé. “Posso dizer que adquiri uma amizade não verbal com as pessoas que encontro no caminho, por meio do contato visual. Elas sentem minha falta quando não apareço, e eu sinto a falta delas.” Esse é um dos motivos por que não usa óculos escuros, so-mente o de grau, que ajuda a proteger os olhos. Outro cuidado é o de limpar as vias nasais com soro fisiológico quase todos os dias. No primeiro jato, o líquido sai escuro, conta. “É a poluição que a gente respira, sai dos escapamentos dos carros.” Mas a saúde, em geral, vai muito bem. Pedalar ajuda a manter colesterol zero. A única adaptação necessária para a “mania” foi na alimentação, que já era isenta de frituras e, agora, conta com mais carboidra-to, para evitar a perda de massa magra.

Responsável e metódico, Delijaicov estudou as leis de trânsi-to. Jamais anda na contramão ou sobe em calçadas. “Faço exata-mente o que o código diz. Na faixa da direita, ao lado da calçada, o primeiro 1,5 metro é reservado para veículos leves não motori-zados.” Para ser visto com mais facilidade pelos motoristas, es-pecialmente quando levanta o braço para sinalizar uma curva, sempre usa camisas brancas de mangas compridas e camiseta por baixo, que ajuda no controle da transpiração. “Ando devagar feito uma tartaruga, a 5 quilômetros por hora.” Para os dias de chuva, leva sempre uma capa e uma calça impermeável.

Carro, ele tem, mas diz que é enfeite na garagem. Utilizado para emergências e eventuais viagens, o veículo completa seis anos com apenas 15 mil quilômetros rodados. “Certa vez, o motor estragou por ficar muito tempo parado.” Na faculdade, Delijai-cov é conhecido pela bicicleta azul, barra forte, de 18 marchas, estacionada na entrada do prédio. “Comprei na liquidação de um supermercado popular, em Amsterdã. Paguei 350 florins, a moe-da da época, que era equivalente ao real”, recorda. “Essa tem pa-ralamas, que são importantes. Nos primeiros meses, usava uma bicicleta que não tinha e chegava ao trabalho com um rastro de sujeira nas costas. Parecia um gambá”, ri.

Com segurança, Delijaicov não se preocupa. “As pessoas pen-sam que o assaltante sou eu. Quando me aproximo dos carros, à noite, ouço o barulho das portas travando. Nos grandes cen-tros, a bicicleta carrega o estigma da pobreza”, lamenta. É pos-sível mudar a cultura urbana, voltada à velocidade e ao indivi-dualismo, diz o professor, desde que as pessoas compreendam as questões filosóficas envolvidas. Só assim se organizariam natu-ralmente para desfrutar do que ele chama de “virtudes da densi-dade urbana”. [bs]

a RadaRutilitário beberrãouns dizem que foi a crise econômica mundial, outros, os impactos ambientais, mas o fato é que a gm interrompeu a produção do famoso jipe-caminhão hummer. em abril, a empresa anunciou o im de sua divisão de veículos utilitários. o hummer pertence à categoria dos off-road ou suv (sports utility vehicle), que bateram em retirada das ruas da europa e dos estados unidos depois das críticas ambientalistas. pelo porte e pelo peso, os jipões congestionam o trânsito e bebem combustível com sofreguidão. no brasil, contudo, as vendas dos gigantes continuam subindo. no primeiro semestre de 2010, 45.975 unidades foram emplacadas, contra 39.339 no mesmo período de 2009, segundo a Federação nacional da distribuição de veículos automotores. os importadores não parecem preocupados com critérios ambientais.

além das ruas, a internet é um importante espaço de interação para os ciclistas. nos últimos anos, têm se multiplicado os

sites e blogs sobre o tema, não apenas para unir os “bikers” como também para engajar novos adeptos, com dicas e troca de experiências. um dos exemplos é o portal onde pedalar (www.ondepedalar.com), que cresceu 30% em número de cadastrados em 2009. o proprietário do site, marcelo rudini, criou, em janeiro de 2010, uma nova rede de relacionamento, a bikers brasil (http://bikers.ondepedalar.com), que, em três meses, atraiu 1.250 membros. “o objetivo é conectar grupos de bikers do país e atrair novos ciclistas. nestes dois anos, abrimos o leque para o cicloturismo, a im de incentivar as pessoas a voltarem a pedalar”, airma.

ciclistas internautas

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como educar e inovar em sustentabilidade? o livro sustentabilidade XXi – educar e inovar sob uma nova consciência traz ao leitor exemplos claros de criatividade, iniciativa e inovação, demonstrando como a ciência e a tecnologia, incorporadas ao setor privado, podem ser direcionadas para ins públicos sem causar danos sociais, ambientais ou econômicos. rodrigo da rocha loures, fundador da empresa nutrimental, acredita que a sustentabilidade é “o novo nome do desenvolvimento” e uma oportunidade de crescimento e de construção de uma nova

economia verde. mas, para tanto, “não se pode ensinar a usar um bisturi sem ensinar a diagnosticar a doença”. a educação é a chave do conhecimento. na passagem do século XiX para o XX, o desaio da economia era dominar os meios para obter escala. “Fizemos isso bem demais e exageramos na dose” – diz o autor. “temos, agora, que incorporar rapidamente o novo entendimento sob pena de comprometermos a espécie humana e sua existência neste

planeta.” |paula andregheto|

a educação como antídoto [ l i v r o ]

sustentabilidade xxi – educar e inovar sob uma nova consciênciaautor: rodrigo c. da rocha loures editora: editora gentepáginas: 256 páginaspreço: r$ 59,90

agrobiodiversidade e direitos dos

agricultores, de Juliana santilli,

discute os impactos do sistema jurídico

sobre a biodiversidade agrícola,

analisando as consequências da

lei de sementes e de proteção de

cultivares, bem como de acordos

internacionais como o tratado da Fao

sobre recursos Fitogenéticos. o livro

mostra a correlação entre o sistema

jurídico brasileiro e o internacional

em áreas como segurança alimentar,

saúde, sustentabilidade, combustíveis

alternativos e mudanças climáticas.

a autora examina a implementação

dos direitos dos agricultores, diante

de movimentos como o software

livre, os commons e a valorização dos

conhecimentos tradicionais. santilli

é doutora em direito socioambiental

e promotora de Justiça do ministério

público do distrito Federal, com

atuação nas áreas de meio ambiente,

patrimônio cultural, consumidor,

criminal e direitos humanos.

|conrado loiola|

o direito e a agrobiodiversidade [ l i v r o ]

agrobiodiversidade e direitos dos agricultoresorganiZadora: Juliana santillieditora: peirópolispáginas: 520 páginaspreço: r$ 59,00

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nas últimas décadas, a indústria de eletrônicos revolucionou o mundo, dinamizando a comunicação, a medicina, a educação e outros setores. com isso, as vendas desses produtos cresceram muito, gerando grandes problemas para países em desenvolvimento. o relatório Recycling - From e-Waste to Resources, do programa das nações unidas para o meio ambiente (pnuma), aborda os passos que devem ser seguidos para lidar com o e-lixo, demonstrando como ele pode afetar o meio ambiente e a saúde da população. segundo

o documento, esforços informais para reciclar os eletrônicos não serão suicientes para solucionar o problema. É preciso uma soma de esforços e de políticas nacionais e internacionais, com as novas tecnologias, para facilitar a transformação dos resíduos em novos recursos minerais. para conferir o relatório, que leva em consideração dados de china, Índia, áfrica do sul, uganda, senegal, Quênia, marrocos, brasil, colômbia, méxico e peru, acesse: http://tinyurl.com/y4sg2cg |pedro michepud|

upgrade no lixo eletrônico [ e s t u d o ]

aa business do bem seria um

revista em formato tradicional,

se não fosse publicada na

internet. o modelo híbrido entre

web e impresso apresenta um

design convencional, valorizado

por recursos multimídia, como

hiperlinks, vídeos, animações e

áudios. a versão digital simula o

ato de “folhear” a revista, usando

o mouse em vez das mãos. o

conteúdo apresenta a relação

entre negócios e sustentabilidade,

incluindo temas como mudanças

climáticas e cidadania. há ainda uma

agenda de cursos e eventos, além de

atualidades e produtos inovadores

que estão chegando às lojas. trata-se

de uma boa opção para aprofundar

conhecimentos sobre o tema e

se inteirar a respeito do cenário

corporativo atual, que tenta encontrar

o equilíbrio do tripé economia,

sociedade e meio ambiente. acesse

www.ruscheleassociados.com.br/

business-do-bem |pedro michepud|

novidade na web [ r e v i s t a W e b ]

em meio a crises econômicas e escassez

de recursos naturais, a sobrevivência

das empresas depende da elaboração

de uma estratégia de sustentabilidade

sólida. a tarefa, no entanto, não é nada

simples quando iniciada a partir do zero.

em estratégia para sustentabilidade, o

consultor adam Werbach ensina a planejar

uma estratégia de negócios calcada em

sustentabilidade – voltada, é claro, para o

lucro, mas indo além dele, com cuidados

com o meio ambiente e os aspectos sociais.

a publicação relata estratégias bem-

sucedidas de empresas como Xerox, nike

e Walmart, dentre outras companhias que

estão obtendo ganhos de longo prazo a

partir da inserção da sustentabilidade na

gestão de negócios. para Werbach, nome

de peso no ramo da sustentabilidade

empresarial, “uma comunidade incapaz de

fornecer o alimento e o bem-estar básico

a si mesma não se manterá por muito

tempo; a turbulência do mundo mostra

que esses fatores são mais do que uma

responsabilidade empresarial”.

|conrado loiola|

colocando em prática [ l i v r o ]

Estratégia para sustentabilidadeautor: adam Werbacheditora: campus-elsevierpáginas: 224 páginaspreço: r$ 36,00

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0 dos provávEis 9 bilhõEs de habitantes do planeta em 2050, 3 bilhões estarão vivendo em cidades. As megacidades continuarão a crescer, e enormes conurbações com mais de 20 milhões de habitantes,

conhecidas como metacidades, surgirão. A geografia urbana mudará, com novos sistemas regionais: megarregiões, corredores urbanos e cidades-regiões ligando áreas metropolitanas, pequenas aglomerações e áreas internas de baixa densidade nas cercanias – que se tornarão os motores da economia. Mas a maior parte da população urbana continuará a viver em pequenas cidades, com menos de 500 mil habitantes, ou em cidades intermediárias, com até 1,5 milhão de habitantes.

r e p o r t a g e m

uRbanismo

cidades congestionadasa parceria entre governo, empresas e terceiro setor é o caminho mais curto para promover o urbanismo sustentável do Futuro, gerador de inclusão social e melhor Qualidade de vida

rEportagEm maurette brandt

mumbai, na Índia, terá mais de 20 milhões de habitantes

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Esse é o panorama que emerge dos projetos Iniciati-va de Infraestrutura Urbana e Eficiência Energética em Edifícios, apresentados durante o V Fórum Urba-no Mundial – ONU-Habitat, em março, no Rio Janei-ro, pelos especialistas Christian Kornevall, diretor do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvi-mento Sustentável (WBCSD), e Stéphane Quéré, vice-presidente de Urbanização Sustentável da empresa GDF Suez. No mesmo evento, o relatório A Situação das Cidades do Mundo 2010-2011, da ONU-Habitat, revelou que cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo: Goiânia (em 10º lugar), Belo Horizonte e Fortaleza (empatadas em 13º), Brasí-lia (em 16º lugar) e Curitiba (em 17º). O Brasil é o país com a maior distância social da América Latina.

Para mudar esse cenário, um dos desafios do urbanis-mo do futuro é conter a escalada de consumo dos edifícios, que, em média, respondem por 40% do gasto global de energia, água e matérias-primas. Em Nova York, os pré-dios chegam a absorver 79% do consumo e, em Londres, 60%, ressalta o projeto Vision 2050, desenvolvido pelo WBCSD. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desen-volvimento Sustentável (CEBDS) já vem dialogando com o empresariado com o objetivo de sensibilizar empresas para o desafio de tornar as cidades mais sustentáveis.

A eficiência energética dos edifícios está se conver-tendo em um imperativo social, afirma Christian Kor-nevall. Além de reformas nos prédios existentes, prin-cipalmente os mais antigos, é importante incorporar a visão de sustentabilidade aos novos projetos. “Isso só acontecerá com forte regulação”, salienta o especialista. “A construção civil é um setor voltado para o lucro ime-diato. Incluir quesitos sustentáveis nos projetos, desde o início, implica aumento de custos.” Para tanto, os ór-gãos reguladores devem definir critérios claros de sus-tentabilidade: eficiência energética, baixo consumo de água e utilização de energia de fontes renováveis, como solar, eólica e outras.

No Brasil, o setor ainda apresenta grande informa-lidade e não há dados sobre o consumo de energia dos

prédios já existentes nem sobre o consumo de shoppingcenters – que pode não estar em conformidade com os pa-drões internacionais. “Isso não está sendo mensurado, e é um dado essencial para avaliar o perfil de consumo como um todo”, lamenta Kornevall. “Na verdade, ainda hoje não conseguimos dados consistentes sobre os proje-tos da construção civil no Brasil”, diz.

paRceRias FundamentaisStéphane Quéré ressalta que qualquer reforma ur-bana para a sustentabilidade precisa reunir forças desde o início. “O planejamento e a tecnologia têm de ser agregados na fase das decisões, porque depois tudo se torna mais difícil e mais dispendioso, e os ci-dadãos têm de estar envolvidos, pois serão os maiores beneficiados”, afirma o executivo.

Para tanto, Marina Grossi, presidente executiva do CEBDS, prega a união entre o setor privado, a socieda-de civil e o governo como única forma capaz de criar condições para o país avançar na promoção da susten-tabilidade das cidades. Algumas ações do programa fe-deral Minha Casa, Minha Vida, voltado para diminuir o déficit habitacional, e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), começam a mostrar que é possível vincular sustentabilidade e baixo custo.

“As cidades geram muita riqueza, mas levam muitos à pobreza com a distribuição desigual de oportunida-des”, constata Christian Kornevall. Todo projeto de sus-tentabilidade urbana tem de envolver inclusão social, busca de paz e segurança. “Não se pode marginalizar as comunidades. Por isso as parcerias são importantes, para que tudo seja decidido de forma orgânica, buscando o máximo de eficiência”, afirma o especialista.

Para Marina Grossi, a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada, em 2016, serão duas grandes oportunida-des para o Brasil alavancar negócios urbanos susten-táveis. O CEBDS e o WBCSD iniciaram entendimentos com prefeituras com o objetivo de mostrar a impor-tância da sustentabilidade como quesito essencial dos projetos de infraestrutura urbana. [bs]

introduZir Eficiência EnErgética E novas técnicas na construÇão civil virou um impErativo para o dEsEnvolvimEnto urbano

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r e t r a n c a

Falsa

sustentável 2010o 3° ciclo de encontros sobre sustentabilidade e gestão Responsável – sustentável 2010 – reunirá especialistas nacionais e internacionais para discutir dilemas globais da sociedade e sua resposta aos desafios socioambientais. neste ano, o ciclo será composto por três encontros: “cidades e mudanças climáticas”, em 6 de maio, no Rio de Janeiro (RJ); “comunicação e educação para a sustentabilidade”, no mês de agosto, em porto alegre (Rs); e “Rede de mercados inclusivos: uma oportunidade de negócios”, em novembro, em salvador (ba). as inscrições são gratuitas e estão abertas para representantes do setor privado, universidades, ongs e governos estaduais e municipais.

so ci edad e • rel ató ri os • m o b i l i dad e • ed u cação

« e d i ç ã o F e R n a n d o b a d ô | t e X t o p a u l a a n d R e g h e t o »

agenda

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iii congresso nacional de responsabilidade socioambientalRealiZação: associação brasileira de treinamento e desenvolvimento do paraná (abtd/pR)local: parque de exposição ney braga, londrina (pR)mais inFoRmações: [tel] (43) 3025.5223 [site] http://abtdpr.com.br [e-mail] [email protected]

“sustentabilidade XXi: educar e inovar sob uma nova consciência”. esse é o tema da terceira edição do congresso nacional de responsabilidade socioambiental, que tem como missão promover a reflexão sobre a sustentabilidade. o congresso contará com a presença de importantes nomes de diferentes segmentos para discutir assuntos como educação, responsabilidade social e meio ambiente. as inscrições podem ser feitas no site até o dia 17 de maio.

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RealiZação: conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável (cebds)local: Rb1, Rio de Janeiro (RJ)mais inFoRmações: [site] www.sustentavel.org.br

a conferência global de amsterdã sobre sustentabilidade e transparência, promovida pela gri, é o principal encontro mundial de líderes e especialistas do segmento de relatórios de sustentabilidade. neste ano, o debate será estruturado em três eixos: repense, refaça e relate. entre os representantes brasileiros estará a diretora de sustentabilidade da bm&Fbovespa, sonia Favaretto, que integrará a mesa de debate sobre mercado financeiro. além disso, serão divulgados os vencedores do reader’s choice awards 2010.

conferência gri 2010RealiZação: global Reporting initiative (gRi) local: amsterdam Rai elicium , amsterdã (holanda)mais inFoRmações: [site] www.amsterdamgriconference.org

challenge bibendumRealiZação: grupo michelinlocais: Rio centro e autódromo de Jacarepaguá, Rio de Janeiro (RJ)mais inFoRmações: [tel] (21) 3621.4629 ou (21) 3621.4638 [site] www.challengebibendum.com.br

como as economias emergentes irão lidar com as questões da mobilidade rodoviária? realizado desde 1998, o challenge bibendum é um evento internacional, promovido pelo grupo michelin, que discute soluções para essa questão. a sua décima edição irá reunir mais de 2 mil representantes dos setores industrial, científico, político e administrativo, além de associações e da mídia, para avaliar quais são os principais desafios encontrados nessa questão. também será publicado, posterior ao evento, um relatório baseado nas tecnologias apresentadas e nos debates realizados.3

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biocombustÍveis

bEm-vindo ao biobutanola eXpansão dos biocombustÍveis atRai a atenção de multinacionais e de ambientalistas e multiplica gRandes negócios no bRasil, entRe eles um etanol 20% mais eFiciente

rEportagEm RobeRto RocKmann

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a disparada do preço do petróleo e o debate sobre o aquecimento global colocaram as fontes limpas de energia no topo da agenda econômica, ao mesmo tempo em que multiplicaram negócios no setor sucroalcooleiro. enquanto várias iniciativas trabalham para a conversão do etanol em commodity, um novo trunfo desponta entre os biocombustíveis à base de cana-de-açúcar: vem aí o biobutanol, o etanol ultraeficiente.

Diferentemente do etanol, o novo biocombustível possui quatro moléculas de carbono, o dobro do álcool combustí-vel, podendo armazenar mais 20% de energia. Outra ca-racterística é a não absorção de água, o que permite seu transporte pelos mesmos dutos usados na distribuição de combustíveis como a gasolina. Em três anos, o produto deverá chegar ao mercado, prometendo mais eficiência aos donos de veículos e à logística dos produtores.

Para desenvolver novos biocombustíveis, as britâ-nicas British Petroleum (BP) e DuPont criaram a joint

venture Butamax, focada na produção de biobutanol a partir da cana, do milho, do trigo, da celulose e de algas. “Os Estados Unidos e a Europa têm planos ambiciosos de reduzir o uso de combustíveis fósseis, o que abre grandes oportunidades em um futuro próximo”, disse o presi-dente da Butamax, Tim Potter, no Seminário Sugar and Ethanol Brazil Conference, realizado em São Paulo, em março. No evento, o professor José Goldemberg, da Uni-versidade de São Paulo, anunciou que os biocombustí-veis, que representam 2% da matriz energética mundial hoje, “irão crescer e poderão substituir 10% da gasolina consumida pelo mundo já em 2020”.

“Vamos produzir biobutanol no Brasil com foco no mercado dos Estados Unidos e da Europa”, afirma Potter. O biobutanol produzido da cana-de-açúcar é o mais eficiente e competitivo de todas as culturas tes-tadas pela multinacional. Nas contas do executivo da Butamax, em 2020 os EUA deverão utilizar 36 bilhões de galões de biocombustíveis, etanol ou biobutanol. A União Europeia, que busca converter 10% da sua frota para a energia renovável, também é vista como merca-do importante.

Além da participação na Butamax, a British Petro-leum está realizando outros investimentos no setor sucroalcooleiro. Desde abril de 2008, por meio da BP Bio Fuels, a empresa se tornou a primeira petroleira estrangeira a investir no Brasil, adquirindo 50% de participação na Tropical Energia, que mantém uma

usina em operação em Goiás. Atualmente, a empresa aguarda a definição de outro parceiro para construir sua segunda usina.

O brasileiro Mario Lindenhayn, presidente da BP Bio Fuels, afirma que o mercado dos combustíveis lim-pos será implantado globalmente com as demandas de Estados Unidos e Europa, ao longo dos próximos anos. “A BP aposta em biocombustíveis de baixo custo, com baixas emissões de carbono, produzidos em larga escala e a partir de matérias-primas sustentáveis”, ex-plica o executivo.

eFeRvescênciaPor qualquer ângulo que se olhe, o setor sucroalcooleiro está fervendo com negócios. Em fevereiro passado, a an-glo-holandesa Shell fechou um acordo de US$ 12 bilhões com a brasileira Cosan, concretizando a maior transação da história de uma petroleira com combustíveis reno-váveis. Logo depois, a ETH, controlada pela Odebrecht, anunciou a aquisição da produtora e distribuidora de eta-nol Brenco e planos para se converter em uma das maio-res produtoras de biocombustível do mundo.

mario lindenhayn: a demanda dos eua e da europa vai turbinar os negócios

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Em março, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos classificou o etanol brasileiro como com-bustível avançado, capaz de reduzir em 61% a emissão de gás carbônico em relação à gasolina. Também em março, a União Europeia anunciou que pretende importar eta-nol do Brasil para diminuir as emissões da sua frota. Em abril, a BMF&Bovespa deverá concluir a criação de um contrato futuro de etanol que servirá como parâmetro e proteção de preços para a negociação mundial.

A participação estrangeira no setor canavieiro pulou de 7%, em 2007, para 22%, em 2010. Para o diretor execu-tivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão Sousa, os movimentos de fusão e de inter-nacionalização impulsionam o processo de “commoditi-zação” do etanol e poderão destravar os obstáculos ainda existentes. “Isso permitirá maior competitividade, ga-nhos logísticos e maior capacidade de influenciar os go-vernos dos países para a abertura de seus mercados para o etanol, que ainda sofre importantes barreiras tarifá-rias e não tarifárias”, diz Sousa.

para conQuistar mErcados como altErnativa às EnErgias fóssEis, a indústria canaviEira tErá dE assumir um protagonismo socioambiEntal mais dEcidido

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biocombustÍveis

mais Eficiênciaíndice de energia produzida a partir de uma molécula

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trigocana-de- -açúcar

energia Fóssil

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plantação de cana com proteção de matas ciliares

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plantação de cana com proteção de matas ciliares

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Embora a EPA norte-americana elogie o etanol bra-sileiro, as vendas brasileiras esbarram na tarifa de US$ 0,54 aplicada à importação de cada galão (3,78 litros), o que eleva o preço do biocombustível e o torna menos competitivo. Na União Europeia, sobretaxa-se o etanol produzido no Brasil em € 0,19 por litro.

A competitividade, entretanto, está ao lado dos cana-viais brasileiros. Enquanto o etanol de cana reduz 61% das emissões de gases de efeito estufa, os combustíveis a partir de beterraba (Europa) e de milho (Estados Uni-dos) diminuem 20%. O combustível brasileiro também é 4,5 vezes mais energético do que o produzido a partir de beterraba ou trigo e quase sete vezes mais eficiente do que o fabricado a partir do milho.

“O Brasil realmente tem uma vantagem única e deve se consolidar como um importante player mun-dial”, diz o presidente da estatal Empresa de Pesquisas Energéticas, Mauricio Tolmasquim. Em 2003, quan-do era secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Tolmasquim assistiu à apresentação de um dos primeiros veículos flex-fluel do Brasil, da montado-ra Ford. “Naquele momento, não prestei muita aten-ção, mas, agora, todos percebemos como essa tecnolo-gia cresceu no Brasil”, diz. Atualmente, 40% da frota de veículos leves do país circula com tanques a gaso-lina e álcool e mais de 90% dos carros novos saem das concessionárias com essa tecnologia.

Riscos ambientaisGraças ao etanol, ao biodiesel e à energia hidrelétrica, cerca de 50% da capacidade energética do Brasil se origi-na de fontes renováveis. Os dados contrastam com os de outros países: em média, só 13% da energia das matrizes mundiais vem de fontes limpas. O problema das emis-sões de carbono pode ser reduzido com facilidade contro-lando-se o desmatamento na Amazônia. “Hoje, cerca de 65% das nossas emissões estão relacionadas ao desmata-mento”, afirma o diretor do departamento de energia do Ministério de Relações Exteriores, André Aranha Cor-rêa do Lago. “Isso quer dizer que não são emissões de pro-cessos produtivos. Isso nos proporciona grande conforto para tratar do tema e gera mais oportunidades, já que os países precisarão limpar sua matriz.”

Detentor de tecnologia e de matéria-prima abundan-te e competitiva, o Brasil atrai cada vez mais a atenção das multinacionais agrícolas interessadas em ampliar a eficiência dos canaviais. “Há espaço teórico para tri-plicar a produtividade, para 220 toneladas por hecta-

Escala globalrecentes fusões e aquisições no setor sucroalcooleiro concentram investimentos

1 louis dreyfus + santelisa vale (2009)dreyfus comprou 60% do controle

acionário da santelisa vale moagem de cana: 40 milhões de toneladasinvestimento: us$ 5,1 bilhões

2bunge + usina moema (2009) bunge adquiriu usinas do grupo moema

moagem de cana: 13,6 milhões de toneladasvalor da operação: us$ 1,4 bilhão

3 cosan + shell (2010)Joint venture

moagem de cana: 52,6 milhões de toneladas distribuição de 17,5 bilhões de litros de combustível (terceira maior do mercado) valor da operação: us$ 12 bilhões

4 Eth + brenco (2010)Fusão

moagem de cana: 40 milhões de toneladas em 9 usinas. produção de 3 bilhões de litros de etanol investimento: us$ 4 bilhões

5 Equipav + shree renuka sugars limited (2010)

shree renuka sugars comprou 50,8% do controle do grupo equipav, duas usinas envolvidas na transação moagem de cana: 10 milhões de toneladas valor da operação: us$ 320 milhões

6bertin + infinity (2010)bertin comprou 71% do controle

da infinity bioenergy, cinco usinas envolvidas na transação moagem de cana: 6 milhões de toneladasinvestimento: não divulgado

Fonte: unica, itaú bba

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re”, diz o gerente da Monsanto, Eugênio César Ulian. De olho na demanda global, a multinacional adquiriu a Ca-naVialis, a maior empresa privada de melhoramento de cana-de-açúcar do mundo, e a Alellyx, empresa brasilei-ra de genômica aplicada que se dedica ao desenvolvimen-to de pesquisas com biotecnologia. Com elas, a Monsanto espera desenvolver mudas mais resistentes e adaptadas às condições climáticas e de solo das novas fronteiras agrícolas do Brasil.

Enquanto os Estados Unidos não dispõem de ter-ras para aumentar a produção de milho para etanol e a União Europeia perderia 70% da área plantada com cul-turas alimentares se optasse por produzir etanol a par-tir de trigo ou milho, o Brasil é dono do maior potencial de terras agriculturáveis no mundo: 60 milhões de hec-tares, sem entrar na Amazônia.

Os olhos de ambientalistas e cientistas estão voltados para a Floresta Amazônica, cujas árvores são responsá-veis pela absorção de 100 milhões a 400 milhões de tone-ladas anuais de gás carbônico. Os produtores de açúcar e álcool também estão atentos a essa questão. “Apoiamos o Projeto de Lei de Zoneamento Agroecológico, que está no Congresso e proíbe a expansão de cana em 92,5% do terri-tório brasileiro, região essa que inclui não somente o bio-ma Amazônia, como o Pantanal e outras áreas sensíveis”, afirma Leão Sousa, diretor executivo da Unica.

O setor já percebeu que sua expansão depende da ga-rantia de que o etanol seja produzido em bases susten-táveis e não gere desmatamento. Em setembro de 2009, por exemplo, o presidente da Unica, Marcos Jank, escre-veu uma carta ao presidente Lula rejeitando as “percep-ções errôneas sobre a correlação entre biocombustíveis e desmatamento que ainda persistem”. Nela, reiterou que o crescimento do setor não está atrelado ao desmatamen-to e defendeu a preservação das nascentes do Pantanal ameaçadas pela expansão das usinas de cana-de-açúcar.

Os ambientalistas não temem o avanço do etanol na Floresta Amazônica porque sabem que a cana-de-açú-car necessita de seis meses de clima seco para concen-trar a sacarose e aumentar a produtividade – uma exi-giência inviável no clima equatorial, sujeito a chuvas o ano todo. O risco é a cultura de cana-de-açúcar avançar sobre áreas de pecuária do Centro-Sul, empurrando a criação de gado para a Amazônica. Pesquisa do Gre-enpeace de 2009 apontou que a pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento na região Amazônica. A cada 18 segundos, um hectare de Flores-ta Amazônica, em média, é convertido em pasto.

Um segundo risco é a cana deslocar a produção de soja. “No sul de Goiás, em alguns municípios próximos a Rio Verde, alguns produtores deixaram de plantar soja e começaram a cultivar cana. É necessário vigilân-cia, porque a cana pode empurrar a soja e a pecuária para regiões preservadas”, diz o pesquisador Marcel Gomes, que elaborou um recente relatório sobre o tema para a ONG Repórter Brasil sobre o impacto de algumas culturas no Brasil.

c a p a

biocombustÍveis

o avanÇo da cana-dE-aÇúcar no cEntro-oEstE podE Empurrar a soja E a pEcuária para a amaZônia

Jank, da unica: apoio à preservação do pantanal

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novas cadeiasGrande parte do etanol é produzida pelas tecnologias de primeira geração, ou seja, derivadas da reação química a partir da glucose da cana-de-açúcar. Mas, como o exem-plo do biobutanol indica, uma nova geração de biocom-bustíveis avançados está a caminho, com destaque para a segunda geração do combustível, baseada em etanol celu-lósico. Neste caso, o produto é criado a partir da celulose, que, em vez da cana ou do milho, pode usar inúmeras fon-tes, cascas de árvores, resíduos vegetais, capim e até pneus e lixo urbano. O biobutanol também pode ser criado a par-tir de milho, de trigo, de celulose ou de algas.

O segmento já despertou a atenção da Petrobras, que investe em pesquisa e desenvolvimento de etanol de se-gunda geração. Em 2010, deve entrar em operação, no Rio de Janeiro, uma planta de demonstração da tecnolo-gia, última fase antes do ingresso no mercado. A segun-da geração do etanol permitirá aumentar em 60% o ren-dimento sem a ocupação de um hectare a mais.

Outro fator decisivo para os biocombustíveis é a ex-pansão demográfica. Há 1 bilhão de veículos no mundo. Em vinte anos, a renda per capita aumentará em países emergentes, como Índia e China. Espera-se a migração de 600 milhões de chineses do campo para as cidades.

O número de veículos no planeta deverá subir para 1,4 bilhão, acompanhando os novos hábitos de consumo – o que vai criar grandes pressões sobre a infraestrutura urbana e tornar a redução de emissão de poluentes um problema prioritário.

“Para reduzir as emissões, o percentual de combustí-veis fósseis nos transportes deve cair de 81% para 68% até 2030, com os biocombustíveis crescendo e detendo 10% da fatia mundial do mercado”, diz o gerente de novos negó-cios da Novozymes, William Yassumoto. A empresa man-tém, hoje, 150 pessoas dedicadas ao estudo do etanol celu-lósico fabricado a partir de qualquer biomassa.

O etanol não avança apenas como combustível, mas também como matéria-prima da indústria petroquími-ca, que responde por cerca de 7% das emissões globais de dióxido de carbono. No polo de Triunfo, no Rio Grande do Sul, a Braskem está investindo R$ 500 milhões em um projeto pioneiro para a fabricação de polietileno ver-de, que entrará em operação no segundo semestre. Com capacidade de produção de 200 mil toneladas anuais, consumindo 460 milhões de litros de etanol, a fábrica transformará álcool em eteno verde, matéria-prima do polietileno verde, biodegradável, usado em frascos de xampus, sacolas, potes de iogurtes, tanques de combus-tíveis e brinquedos.

O polietileno verde apresenta uma enorme vantagem. “Um quilo de polietileno emite 2,5 quilos de gás carbônico, enquanto um quilo de polietileno verde captura e fixa 2,5 quilos de gás carbônico”, diz a líder comercial do projeto, Leonora Novaes. “A expectativa é de que em 2011 alguns produtos fabricados com o polímero verde já estejam nas gôndolas”, diz. A Braskem formou uma parceria com a Novozymes e a Unicamp para estudar a melhor rota tec-nológica para fabricação de polipropileno verde. A inten-ção é de que, a médio e longo prazos, 10% da produção da Braskem seja de fonte renovável. [bs]

Yassumoto, da novozymes: 150 pesquisadores de etanol celulósico

plásticos à base de polietileno verde

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entRevista

comunidades

pRêmio nobel às

ostron: responsabilizar as comunidades pode dar mais certo do que confiar no governo

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a cientista polÍtica Elinor Ostrom, vencedora do mais recente Nobel de Economia, está envolvida até o último fio de cabelo no debate da sustentabilidade. Professora da Indiana University e da Arizona State University, a norte-americana dedicou sua carreira ao estudo multidisciplinar dos chamados “bens coletivos” e à forma com que eles são administrados.

Os modelos de gestão nacionais ou globais não são, necessariamente, a melhor solução quando se trata de recursos naturais, sejam estoques pesqueiros, água, florestas ou pastagens compartilhadas, defende Os-trom. Em muitos casos, as associações de usuários e as comunidades estão mais bem posicionadas para gerir esses recursos com competência, desde que não tenham de se submeter à ingerência de governos na-cionais ou de outras forças externas.

A pesquisa premiada baseia-se em projetos experi-mentais e em um extenso levantamento de dados co-lhidos em vários países. Nos Estados Unidos, Ostrom acompanhou a evolução de comunidades de pesca na costa Leste e Oeste e a gestão dos recursos hídricos na Califórnia. Comparou áreas coletivizadas da China e da Rússia, altamente desertificadas, com os produ-tivos campos cultivados por tribos da Mongólia, que seguem o ordenamento comunitário tradicional. Na África, estudou a administração das pastagens e, no Nepal, a gestão dos sistemas de irrigação das aldeias. Também investigou por que certos parques nacionais da Guatemala floresciam com a distribuição de in-gressos de turismo aos vilarejos vizinhos, enquanto aqueles que optaram por uma gestão que excluía as populações viam a sua cobertura vegetal minguar.

A diferença está no engajamento das comunida-des, que percebem as vantagens de manter as unida-des de conservação. Segundo Ostrom, para proteger a diversidade natural é essencial manter a diversidade institucional, com espaço para a gestão comunitária, a tomada de decisões de baixo para cima e, mais im-portante, criando soluções específicas para cada gru-po e cada realidade. Ela é fervorosa defensora de um

modelo que fomente a cooperação e não a competiti-vidade. Mas, para dar certo, o grupo deve ser capaz de promover e manter um bom diálogo e de estabelecer normas e penalizações claras, aceitas pelo conjunto dos participantes. É essencial valorizar o conheci-mento tradicional e fomentar a confiança das comu-nidades na autogestão. Primeira mulher a receber o Nobel de Economia (dividido com Oliver William-son, da University of California, em Berkeley), Ostron falou à Brasil Sustentável sobre o seu trabalho.

brasil sustEntávEl a senhora verificou que, em muitas circunstâncias, a comunidade está mais capacitada para administrar os recursos naturais do que um governo centralizado. como é isso na prática?Elinor ostrom Diferentes grupos manejam pastagens de tamanho muito variável, onde crescem plantas de todo tipo. Quando você leva o seu gado para pastar ali, ele pode reagir de diferentes manei-ras. Diante dessas especificidades, a comunidade tem de aprender ao longo do tempo o que funciona na prática, quantas vacas podem ser mantidas na-quele espaço etc. Também tem de desenvolver regras compatíveis com essa realidade. No entanto, muitas vezes o governo intervém e determina que aquele grupo faça X, Y ou Z quando isso não faz absoluta-mente nenhum sentido em termos locais.

bs E, por isso mesmo, muitas vezes a comunidade reage negativamente...Eo Alguns governos funcionam bem, mas em ge-ral consomem grandes orçamentos. Além disso, muitas vezes, no momento em que determinam que algo deve ser feito, as pessoas percebem que, se descumprirem aquela ordem, não serão pegas. O número de pessoas que burlam as regras impostas pelo governo começa a crescer, e as coisas simples-mente não funcionam.

a norte-americana elinor ostrom, primeira mulher a ganhar o prêmio nobel de economia, descobriu Que a melhor estratégia para preservar os recursos naturais é envolver as comunidades na sua manutenção

entRevista Regina schaRF

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bs o que torna uma comunidade bem-sucedida na gestão dos recursos coletivos? conhecimento, educação, disponibilidade de crédito? Eo Não há uma única variável. Há vários ele-mentos a serem considerados, como a diversida-de ecológica, o tamanho do sistema, o número de pessoas envolvidas e os problemas que elas têm de resolver. Num artigo que publiquei na revista Science, em julho de 2009, identifiquei dez variá-veis relevantes que são frequentemente associa-das a essas organizações, como a relação entre o tamanho do grupo e o volume de recursos dispo-níveis, o conhecimento de que aquela população dispõe, a confiança reinante no grupo, a capaci-dade de utilizar o conhecimento e de chegar a um acordo sobre como agir.

bs Então a capacidade de construir consenso e o conhecimento tradicional são elementos essenciais?Eo Antes de mais nada, é fundamental que as comunidades tradicionais não sejam destruídas. Em boa parte da América Latina e da Ásia, expro-priou-se a capacidade delas de se autogovernarem e a confiança que as pessoas tinham na sua pró-pria capacidade. Mais tarde, se você volta e diz que agora quer descentralizar o poder, é tarde, essas populações já não têm a confiança neces-sária. Daí pode levar um tempo para que sejam desenvolvidos mecanismos que aprimorem essa confiança. Muitas vezes o governo não quer gas-tar tempo nisso nem investir num lugar remoto trabalhando pelo engajamento daquela comuni-dade. Eu participei de alguns encontros em que os representantes do governo apareciam por duas horas e achavam que isso bastaria. Muitas vezes o governo se retira, depois de dirigir uma comu-nidade por 30 anos, deixando para trás uma área que sofreu enorme degradação e desmatamento ilegal. A comunidade local tem de assumir a ges-tão daqueles recursos e têm de encontrar uma forma de lidar com aquilo. Não dá para partir do pressuposto de que basta fazer um acordo por es-crito. Essas pessoas têm de estar motivadas, têm

de confiar umas nas outras, têm de se comunicar bem. Só transferir o poder não basta.

bs a senhora chegou a estudar algum caso brasileiro? Eo Tenho alunos que são do Brasil. Além disso, o economista cubano-americano Emílio Moran, daqui da Indiana University, desenvolveu um vasto e diversificado trabalho de campo no seu país. Um dos estudos é sobre a gestão de peque-nos lagos da região amazônica, onde é possível pescar durante parte do ano, mas que dão lugar à agricultura em épocas de estiagem. Quem vive na área e conhece esse sistema, às vezes consegue manejá-lo muito bem.

bs ou seja, a gestão em pequena escala pode ser bem-sucedida.Eo As pessoas, muitas vezes, acreditam que a organização de pequeno porte será ineficiente, e não é o que vimos nas nossas pesquisas. Duran-te 15 anos estudamos o funcionamento de biblio-tecas públicas nos Estados Unidos e verificamos que as unidades de pequeno e médio porte são, em muitos sentidos, mais eficientes e eficazes do que as grandes bibliotecas.

bs como podemos dar mais poder às comunidades locais e às associações de usuários de bens coletivos? podemos ajudá-los a serem bem-sucedidos? Eo Nem sempre, mas podemos trabalhar para que elas se organizem, promover treinamentos, educar todos. Precisamos de livros que ajudem a discutir os seus desafios e dificuldades, sobre os quais elas podem se debruçar para debater como outros conseguiram ou não superar seus desafios.

bs a senhora propõe a promoção da diversidade institucional.Eo Não se trata de um modelo ou de outro, ou só gover-no ou só comunidade, ou apenas instituições grandes ou apenas pequenas. O segredo está no desenvolvimen-to de escalas de diversos portes e diferentes formatos, que podem trabalhar juntos. Eu insisto na importân-

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as comunidades precisam assumir a gestão dos recursos

com seus próprios meios e do seu próprio Jeito. é preciso

motivação e conFiança mútua. não basta o poder. o

entendimento entre as pessoas é Fundamental

gestão • comunidades

cia da diversidade. Todos nos preocupamos com a conservação da biodiversidade, mas, se você destruir a diversidade institucional em meio ao esforço de pro-mover a diversidade biológica, não conseguirá nada.

bs corremos o risco de perder a diversidade institucional em decorrência da homogenização dos modelos de gestão? Estamos perdendo estratégias interessantes?Eo Sim, podemos perder muito. Há quem não entenda o valor dessa diversidade e trabalhe para eliminá-la. Se visitarmos uma região que foi governada por um poder central durante 50 anos, talvez ainda encontremos algumas pesso-as mais velhas que se lembrarão de parte do an-tigo modelo de gestão, mas não se lembrarão de tudo. É o mesmo que ocorre quando perdemos

uma língua. Estamos perdendo os agentes de co-nhecimento institucional.

bs a senhora acompanhou de perto o caso da pesca na califórnia.Eo A pesca costeira evoluiu muito nos Estados Unidos ao longo dos últimos cem anos. Mas, em dado momento, em algumas partes da Costa Oes-te alguns grupos de pescadores decidiram limitar o volume de pescado retirado do mar. A Suprema Corte decidiu, então, que isso era ilegal porque es-tava dando origem a um cartel. Essa decisão foi um desastre. Uma vez que a mensagem enviada à comunidade foi a de que o sistema não era legal, eles começaram a promover a sobrepesca de for-ma enlouquecida. Com isso, muito da pesca da cos-ta norte-americana foi destruída, sobretudo na Califórnia e em alguns outros estados.

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o varejo é um canal de comunicação direta entre consumidores e produtores

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a Rota da seda, o conjunto de caminhos por onde passaram caravanas de aventureiros, comerciantes e soldados, não foi apenas o único meio de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente, por mais de mil anos. Espalhado por desertos, montanhas e rios, o percurso se tornou a principal avenida comercial do mundo antigo, pela qual circulavam mercadorias como ouro, marfim, seda, camelos e especia-rias, viabilizando o surgimento de grandes civilizações. Para compreender os rumos do comércio do futuro, há três anos um grupo de empresas varejistas, fabricantes, instituições financeiras e pesquisadores discute os princípios que irão nortear o varejo no século XXI, inspirando novas práticas de gestão e de consumo consciente.

Em 15 de abril, a Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, en-cerrou o período de consulta pública sobre os Princípios Fun-damentais do Varejo Responsável e o Modelo do Varejo Futuro, aberto a todos os interessados. A consulta, segundo o site da instituição, visa discutir a “incorporação de questões ecologi-camente corretas, socialmente justas e economicamente viá-veis no varejo”. A partir delas, dos debates com especialistas e da experiência das empresas, a Fundação Dom Cabral preten-de consolidar um pacto brasileiro do varejo responsável. “As-sim como o Pacto Global, das Nações Unidas, que define um conjunto de boas práticas corporativas, nossa ideia é difundir esse pacto do varejo responsável, buscando a adesão das em-presas com uma prestação de contas voluntária, criando mo-tivação para mudar o ambiente de negócios”, diz o economista Paulo Darien, um dos coordenadores do estudo.

Agrupados em uma lista com 16 Princípios Fundamentais (veja tabela na próxima página), que funcionaria como um Código de Conduta, as sugestões inspirarão a criação do Observatório

supermercados, bancos e

especialistas elaboram,

Juntos, um código de conduta

com os princípios Fundamentais

do comércio responsável

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Brasileiro do Varejo Responsável, dotado de indicadores e de pesquisas de tendência, que realizará o monitoramen-to permanente do setor. Baseado nelas, também será cria-do um programa de capacitação com o objetivo de educar e erguer as bases de um comércio justo, que leve em conta aspectos ambientais e éticos e a relação com fornecedores, empregados e governo. Desses processos surgirá o Modelo de Varejo do Futuro, tendo como horizonte o ano de 2020.

impacto socialBoa parte do trabalho foi realizada pelo Centro de De-senvolvimento do Varejo Responsável (CDVR), criado em 2007 pela Fundação Dom Cabral, com a participação de companhias do porte de Pão de Açúcar, Grupo Mar-tins e Souza Cruz, dos bancos Santander e Itaú Uniban-co e de parceiros como Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Institu-to Akatu pelo Consumo Consciente e Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. “Não estamos fa-lando em ser bonzinhos e fazer uma boa gestão, mas em criar algo inovador, tendo como estratégia de competiti-vidade a prática da gestão responsável”, argumenta Da-rien. É questão de tempo até que as empresas passem a adotar critérios sustentáveis por exigência legal ou por limitação dos recursos naturais do planeta, ressalta.

Um dos participantes, Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu, apresentou as razões pelas quais as

empresas devem trabalhar pela sustentabilidade. A pri-meira é a ética, o compromisso de devolver à sociedade o que dela foi extraído, levando em conta os interesses das partes envolvidas. Em segundo lugar, Mattar apon-ta o receio da escassez de recursos naturais, que induz as empresas a não considerarem apenas a dimensão eco-nômica e o lucro, mas também as implicações sociais e ambientais. A seguir, aparece a pressão dos consumido-res, cada vez mais exigentes sobre os produtos que con-somem, sua origem e os materiais usados na fabricação.

Dona de 250 mil pontos de venda no país, a Souza Cruz encarava o desenvolvimento de estratégias sus-tentáveis para o varejo como desafio. “Descobrimos que a mudança necessária era de comportamento, isto é assumir princípios e valores claros”, conta Simone Veltri, gerente de responsabilidade social corporativa da empresa. Para a companhia, a criação do CDVR não foi só uma iniciativa de indústria, mas algo mais am-plo. “Trata-se de uma criação coletiva sobre o que deve ser o varejo do futuro”, explica a executiva. “Pressupõe a definição de um código de conduta que inclua desde princípios éticos até treinamento e tratamento de fun-cionários, cliente, consumidor e com o meio ambiente”.

Um exemplo é o uso das sacolas plásticas. Algumas re-des varejistas, como a norte-americana Walmart, anteci-param-se à regulação legal, eliminando-as dos pontos de venda e assumindo o compromisso de reduzir seu uso. Para

o comércio alavanca a indústria, gerando demanda por produtos e influenciando as escolhas dos consumidores

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isso, o Walmart oferece desconto para quem dispensar o uso do saco plástico. Funcionando nas 300 lojas da rede nas re-giões Nordeste e Sul, o programa já concedeu R$ 490 mil em abatimento e reduziu o uso de sacolas em 10%, desde 2007. O desconto, calculado no caixa, é de três centavos para cada sacola plástica poupada – ou cinco mercadorias, quantidade média de produtos embalados em uma sacola.

bons negóciosDarien, da Fundação Dom Cabral, avalia que o desafio é au-mentar a adesão de empresas ao pacto. “Somos uma escola de negócios que ajuda o empresário a fazer bons negócios. Não temos dúvida de que, hoje, isso significa considerar aspectos sociais e ambientais, além do econômico, seja no processo, no produto ou na tomada de decisão”, afirma. O professor cita o exemplo do pacto da carne, também ado-tado pelo Walmart, que desde o ano passado exige dos fri-goríficos da Amazônia a comprovação de rastreabilidade. Não se compra carne sem conhecimento da origem do boi, verificada por uma auditoria independente.

O Walmart Brasil foi mais longe. Preocupada com a gera-ção de resíduos sólidos, a rede iniciou em 2008 um processo de melhoria nos processos de compra, estoque, transporte e exposição dos produtos nas gôndolas. Héctor Núñez, presi-dente da rede no Brasil, desafiou 10 fabricantes, de seu uni-verso de 7 mil fornecedores, a analisar a produção de alguns itens – da matéria-prima ao descarte – em busca de maior eficiência. “A ideia do projeto é, junto com os fornecedores, desenvolver produtos que reduzam seus impactos socioam-bientais durante o ciclo de vida e servir de modelo para o de-senvolvimento de produtos mais sustentáveis”, diz Núñez.

Foram convidadas empresas como 3M, Cargill, Colga-te, Coca-Cola, J&J, Nestlé, Pepsico, Procter e Unilever, responsáveis por 40% dos produtos oferecidos nas lojas da rede. O papel do supermercado foi dar suporte técni-co, do início ao fim da cadeia produtiva, sobretudo em embalagens. Como moeda de troca, ofereceu garantia de compra e exposição diferenciada dos produtos mais sus-tentáveis nas gôndolas das lojas.

Há muito que melhorar ao longo da cadeia varejis-ta. Nas questões analisadas para os Princípios Funda-mentais do Varejo Responsável há sugestões de como as empresas devem agir em relação ao cliente, ao meio ambiente, aos funcionários, aos concorrentes, aos for-necedores e à sociedade, além de orientação sobre for-mas sustentáveis de produzir, comercializar e consu-mir. Entre os temas citados, destacam-se, também, a transparência na divulgação de produtos, a remunera-ção justa, a promoção de locais de trabalho seguros, a

concorrência leal, a diminuição do uso de energia e a exclusão de parceiros que não cumprem as leis.

O capítulo mais complexo é o que diz respeito ao vare-jo do futuro. “É importante ousar na construção de um modelo inovador para que as empresas possam se estru-turar em direção a um novo mercado, com a adoção de posturas criativas que vão mudar a lógica de se fazer ne-gócios”, diz Darien.

De acordo com a escola mineira, dentre todos os setores empresariais, o varejo é o que mais tem poder para estabe-lecer vínculos com os consumidores, constituindo um canal efetivo de relacionamento com os produtores. O comércio ocupa também uma posição estratégica em relação à indús-tria, ao gerar demanda por produtos e influenciar o consu-midor em suas escolhas. Por suas características peculiares de dimensão, capilaridade e abrangência, o setor reflete a di-nâmica econômica dominante na sociedade. Comerciantes e fornecedores precisam, assim, vender não apenas produtos, mas marcas de responsabilidade socioambiental.

Compreender o futuro do varejo permitirá conhecer, an-tecipadamente, as tendências do mercado. O estudo da Fun-dação Dom Cabral identifica três grandes questões no topo da agenda do varejo: mudanças climáticas, tratamento dos resíduos e cadeia de suprimentos. As respostas a elas permi-tirão criar um modelo de negócios que assegure a sobrevi-vência das empresas, da sociedade e da natureza.

princípios do varEjo rEsponsávEl1. ética nos negócios2. transparência nas informações3. sustentabilidade dos fornecedores4. boas condições de trabalho5. operações legais6. logística sem impactos7. Qualidade em produtos e serviços8. bom atendimento9. marketing sem exageros10. consumo consciente11. crédito responsável12. concorrência colaborativa13. participação nas comunidades14. mercados inclusivos15. autorregulação 16. preservação do meio ambiente

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lideRança

suRFando na onda dos negócios, o médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, 61 anos, foi um daqueles jovens hippies dos anos 70. Ele largou o estilo de vida que tinha em Porto Alegre e foi curtir o mar em uma vila de pescadores em Santa Catarina. Quase quarenta anos depois, Morongo, como é mais conhecido, virou um empresário de sucesso, inovador e informal, adepto dos óculos escuros, que transformou a Mormaii em uma das principais marcas jovens do País. Hoje, sua empresa produz uma infinidade de produtos – mais de 600 –, desde trajes de esportes aquáticos a biquínis, óculos, roupas, acessórios e cosméticos, exportando para 50 países.

Morongo saiu de Porto Alegre em busca de quali-dade de vida e de realização profissional, o que, para

ele, significa também participação social. Em Garopa-ba, no litoral sul catarinense, encontrou um bucólico povoado sem água encanada e energia elétrica, onde montou o primeiro posto de saúde da região. Apesar de ser pediatra, atendia homens, mulheres e idosos, já que era o único médico na região. No fim do expedien-te, pegava a prancha e corria para o mar.

Nos primeiros dois anos, sua casa não possuía ener-gia elétrica. O doutor Morongo recebia galinhas e pei-xes como retribuição por consultas e tratamentos. Como o inverno catarinense era um problema para o surfe, resolveu costurar seu próprio macacão de borra-cha. A peça fez sucesso entre surfistas e gerou muitos pedidos de amigos. Assim surgiu a empresa, cujos pri-meiros funcionários eram pacientes com hanseníase.

maRco auRÉlio RaYmundo Quem? médico pediatra gaúcho, presidente da mormaii, empresa líder do segmento de trajes para esportes náuticos.

o Quê? mobilizou a comunidade de garopaba (sc) promovendo o desenvolvimento social e a responsabilidade social empresarial.

poR Quê? atraiu a atenção do mundo dos negócios com a estreita relação da sua empresa com a comunidade local, lexibilizando horários de trabalho e concedendo autonomia para os funcionários.

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A fábrica cresceu empregando os moradores da re-gião. A princípio, os trabalhadores precisaram de trei-namento. Por falta de máquinas de costura apropria-das, máquinas de costurar calçados foram adaptadas. Aos poucos, consolidou-se a Mormaii (mistura hetero-doxa de Morongo, Maíra, a primeira esposa, e Havaí). Surfistas de várias regiões começaram a comprar os macacões e a encher as praias da Ferrugem e do Silvei-ra, as mais famosas de Garopaba. Com eles vieram na-moradas, famílias e amigos, impulsionando o turismo local – hoje, o motor econômico da cidade de 16,7 mil habitantes, que recebe 40 mil no verão.

A essa altura, Morongo teve de fazer uma escolha: a carreira de médico ou a de empresário. “As doenças eram consequências da falta de infraestrutura e das condições socioeconômicas da região. Percebi que po-deria contribuir mais como empreendedor”, explica. Com o crescimento, a Mormaii tornou-se parte da iden-tidade local. Os vínculos com os moradores permane-cem fortes até hoje. Muitos se lembram do tempo em que o surfista vestia bermuda e jaleco branco para fa-zer atendimentos e distribuía amostras grátis de me-dicamentos. Hoje, a empresa tem 220 funcionários di-retos, mas considerando as 37 empresas licenciadas da marca e as 27 lojas exclusivas no país, o número de em-pregados chega a 10 mil.

compRomisso socialApesar de liderar uma empresa competitiva, que cres-ce 10% ao ano e se espalha pelo mundo, Morongo não trabalha 15 horas por dia, seis dias ou mais por sema-na. Costuma tirar folgas prolongadas e viaja para lu-gares paradisíacos, como Tailândia e Havaí. Nunca deixou de alternar o escritório com a praia. O segredo? “Eu consigo delegar. Às vezes fico dois meses viajando e

encontro a empresa melhor do que deixei. Se você der espaço para as pessoas crescerem, pode se surpreender com elas, porque dar espaço é dar liberdade, e isso in-duz à criatividade.”

A flexibilização do horário de trabalho é uma mar-ca da Mormaii. Os funcionários têm autonomia para planejar a rotina e, se o mar estiver bom para o surfe, chegar mais tarde ou sair mais cedo para aproveitar as ondas. “É uma pena que as leis trabalhistas não este-jam preparadas para esse aumento de consciência, ig-norando as rotinas alternativas”, critica. A estratégia de administração chama a atenção de empresários e de estudantes que visitam a empresa.

Morongo é descrito como um chefe onipresente, que em um momento participa de uma reunião para aprovar um novo produto, e, no instante seguinte, ajuda a cortar a gra-ma do pátio. “Um empresa é feita de pessoas. Ninguém é contra dinheiro, mas nenhum dinheiro no bolso tem mais valor do que surfar na hora certa em que rolam altas ondas. Minha preocupação passa pela qualidade de vida.”

Para resumir sua prática de gestão, nada como a filoso-fia hippie. “O mundo é dividido entre Yin e Yang. O primeiro é cooperativo, pacifista e conservador. O segundo, agressi-vo, competitivo e expansivo. O desafio é percorrer o cami-nho do meio, o equilíbrio, que é o que perseguimos na nossa empresa”, ensina.

Do mochileiro que chegou a Garopaba há 40 anos resta mais que o discurso e a “descontração criativa” adotada na gestão. Morongo esbanja convicção. “A lógica dos negócios é muito voltada para o Yang, mas se eu ficasse só no Yin vive-ria na praça, vendendo chinelinho de palha, e nunca gera-ria transformação”, argumenta. O neo-hippie de hoje mora em uma mansão cinematográfica, dá palestras sobre mode-los de negócios e viaja pelo mundo em busca da onda perfei-ta – a próxima. [bs]

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estabilidade climática , chuvas para a agricultura ,

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RepoRtagem eliZabeth oliveiRa

Quanto vale uma FloResta?

o bRasil já tem, em andamento, 17 projetos com base na metodologia REDD – sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação –, que a Convenção da ONU Sobre Mudanças Climáticas deverá oficializar na 16ª Conferência das Partes (COP-16), no México, em dezembro.

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O que poucos se dão conta é que o REDD é um mecanis-mo importante também para a conservação da biodiver-sidade, não apenas para a mitigação dos gases do efeito estufa. Em pleno Ano Internacional da Biodiversidade da ONU, as 17 ações em processo de planejamento ou de implementação implicam proteção de 320 mil km2 de florestas, na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica.

O Brasil exerce papel de liderança na discussão sobre a valorização das florestas em pé, fundamental para conter a perda de diversidade biológica, promover a sustentabi-lidade dos negócios com ativos florestais e assegurar a so-brevivência humana. O impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade está entre os riscos percebidos, por exemplo, pela pesquisa Pegada Florestal, que contou com a participação de 35 empresas globais com operações que afetam florestas (veja box na próxima página).

A importância da conservação florestal para a estabi-lização do clima é clara, mas o seu valor é incalculável e difícil de precificar. Durante a fotossíntese, as árvores ab-sorvem gás carbônico. Quando são cortadas ou queimadas, liberam a substância para a atmosfera. Além disso, man-têm o equilíbrio do ciclo de chuvas, favorecendo a forma-ção de nuvens e protegendo as fontes de água, usadas na energia hidrelétrica e na irrigação. As florestas amazôni-cas influenciam o regime de chuvas do Centro-Oeste e do Sudeste, sustentando o agronegócio brasileiro. Mudanças climáticas globais que afetem o ciclo hidrológico na Ama-zônia podem provocar perdas na biodiversidade, savani-zação de florestas, prejuízos na agricultura e escassez de água para abastecimento.

vitRine amaZônicaO Projeto de REDD da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma, no município de Novo Aripua-nã, Amazonas, foi o primeiro no mundo a ser valida-do como ação de Desmatamento Evitado. Foi pioneiro, também, ao receber a certificação CCBA, da Aliança Clima, Comunidade e Biodiversidade, emitida pela certificadora alemã TÜV SÜD, em 2008. Seu objetivo é de estocar 3,6 milhões de toneladas de carbono, en-tre 2006 e 2016, gerando inclusão social para 340 famí-lias que contribuirão para proteger 7,7 mil hectares de floresta tropical. Até 2050, devem ser negociados cerca de 189,7 milhões de toneladas de créditos de carbono, cujo preço internacional, atual, gira em torno de US$ 5 por tonelada.

A iniciativa atraiu atenções e contribuiu para trans-formar o Brasil em uma importante vitrine interna-cional de negócios de conservação florestal. A COP-15, realizada em dezembro em Copenhague, reforçou essa vocação. “O mecanismo de REDD é uma oportunida-de única para viabilizar alternativas de valorização da floresta em pé”, diz João Tezza Neto, superintendente técnico-científico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). A organização, criada em 2007, está à frente da implementação do projeto desenvolvido na Reserva do Juma, em parceria com o Governo do Estado do Amazo-nas. A FAS criou o Programa Bolsa Floresta para remune-rar famílias que conservam as áreas florestais. A venda de créditos de carbono gerados pelo desmatamento evita-do é uma das fontes de financiamento. A parceria inclui o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentá-vel do Amazonas (IDESAM), atuando no apoio técnico.

A experiência do Juma conquistou o apoio da rede de Hotéis Marriot, que, em 2007, destinou US$ 2 milhões

comunidade de boa Frente, na Reserva do Juma, no amazonas

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ao projeto, em quatro anos. Os recursos são oriundos da compensação de emissões de carbono dos hóspe-des (US$ 1 por noite) espalhados por hotéis no mundo todo. O dinheiro é investido em quatro frentes priori-tárias: fiscalização e monitoramento, desenvolvimen-to social, atividades econômicas sustentáveis para as comunidades,e pagamento direto por serviços ambien-tais. Nas comunidades localizadas na reserva, além da remuneração do Programa Bolsa Floresta, a constru-ção de escolas e o incentivo às atividades econômicas sustentáveis, como criação de peixes, produção agro-florestal e manejo florestal, evitam o êxodo rural para as cidades.

O secretário executivo do Idesam, Mariano Colini Ce-namo, afirma que os projetos de REDD estimulam a con-servação florestal como atividade econômica. “Vejo o REDD como a maior possibilidade que a gente já teve de aliar conservação e desenvolvimento no longo prazo”. Mas a viabilização de uma economia da floresta em pé,

diz ele, demanda mais investimentos e discussão, sobre-tudo no âmbito da Convenção do Clima da ONU, “embo-ra não restam dúvidas sobre a sua viabilidade”.

Na COP-15, segundo Cenamo, a discussão sobre REDD foi a que mais avançou. O documento final do Acordo de Copenhague identifica o REDD como prioridade na luta pela estabilização do clima, destinando-o a um fundo independente que já tem compromissos de do-ação da ordem de US$ 4,5 bilhões, para ajudar a con-servação das florestas tropicais. Novas formas de for-talecimento deverão ser discutidas na COP-16. “Um dos desafios do Brasil é a preparação de um arcabouço legal para regulamentação do REDD”, diz o secretário do Idesam. A definição de regras claras para funciona-mento desse mercado está sendo discutida a partir de um projeto de lei proposto pelo deputado federal Lu-pércio Ramos (PMDB-AM).

Apesar das questões pendentes, o Brasil está apoian-do o governo de Moçambique a desenvolver uma ini-

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ciativa semelhante ao Programa Bolsa Floresta. Em outubro de 2009, o governo do Amazonas já remune-rou 6,8 mil famílias pela conservação de 10 milhões de hectares de Unidades de Conservação (UCs) estaduais – uma área maior do que a de Portugal. “Saímos do refe-rencial teórico para a aplicação prática da metodologia em relação às comunidades, entre outros aspectos”, diz João Tezza Neto.

outRas eXpeRiências No Paraná, em Santa Catarina e na Bahia, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) promove um Programa de Desmatamento Evitado vi-sando à preservação de 2,4 mil hectares de remanescen-tes florestais nativos da Mata Atlântica. O grande alvo é a conservação das florestas de araucária. Só no Paraná, onde resta menos de 1% de floresta araucária em bom es-

tado, já foram evitadas as emissões de 250 mil toneladas de carbono. O esforço, segundo o biólogo Denilson Cardo-so, coordenador do programa, é manter as condições flo-restais de estocagem de carbono e a reprodução dos ser-viços ambientais, como oferta de água, polinização de campos agrícolas e proteção da biodiversidade.

O HSBC Seguros é o principal apoiador do programa da SPVS. A instituição adotou, em 2007, a conservação de dez áreas, que correspondem a 1,5 mil hectares de flo-restas nativas nos estados do Paraná e Santa Catarina, além de uma região de Cerrado com Mata Atlântica, na Bahia.A experiência brasileira já foi estendida para ou-tros países onde o banco atua, tais como México, Argen-tina e Panamá. Segundo a SPVS, as divisões de Cartões e de Eventos do HSBC também adotaram duas áreas, uma de 83,99 hectares e outra de 45,48 hectares, que somadas às do HSBC Seguros totalizam 1,6 mil hectares. [bs]

pEgada florEstal o desenvolvimento econômico também pode contribuir para a manutenção da floresta em pé. trinta e cinco grandes empresas que dependem dos recursos naturais das florestas, e que mantêm operações que impactam globalmente a sua sustentabilidade, participaram da pesquisa pegada Florestal, realizada pela global canopy Foundation, de oxford, no reino unido, em 2009. a pesquisa identificou as cadeias produtivas de biocombustíveis, soja, carne, couro e madeira – todas com forte atuação no brasil – como as mais sensíveis para a conservação da floresta em pé.

o documento poderia ser mais amplo se as 217 companhias consultadas tivessem aceitado participar, informando sobre suas soluções para minimizar impactos, em vez de apenas 35. no brasil, foram procuradas 19 companhias, mas só duas aceitaram responder: o grupo independência, de são paulo, que atua no setor agropecuário, e a empresa Fíbria, controlada pela votorantim e a aracruz celulose, produtora de papel e celulose. para a canopy Foundation, a baixa adesão ao levantamento deve-se à pouca percepção sobre os riscos do desmatamento e do desequilíbrio climático.

Fernanda Flauzino, gerente de comunicação do grupo independência, considera que as ações empresariais para conciliar a pecuária com a proteção florestal exigem a conscientização dos fornecedores. “criamos procedimentos de cadastramento desses fornecedores para atender aos novos requisitos legais, principalmente no bioma amazônia. somos membros efetivos do grupo de trabalho da pecuária sustentável e buscamos realizar nosso papel com boas práticas dentro da cadeia produtiva.”

com atuação em seis estados (sp, mt, ms, ro, go e mg), o grupo independência aderiu à pesquisa, segundo Fernanda, “porque tem ações efetivas para demonstrar seu comprometimento com a sustentabilidade”. entre os trunfos da gestão ambiental estão a reciclagem de 85% dos resíduos resultantes do abate de cerca de mil bovinos por dia. as ações evitam o despejo de 108,6 mil toneladas, ou 155 mil metros cúbicos anuais, de dejetos em aterros sanitários ou industriais. “isso equivale a 14 campos de futebol”, acrescenta.

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« R e p o R t a g e m c o n R a d o l o i o l a »

Í n d i c e F a R m a s u s t e n t á v e l

FeRRamenta

o que é? Elaborado a partir de reuniões com empresas farmacêuti-cas – num trabalho de planejamento que levou dois anos até seu lançamento, em 2008 –, o Índice FarmaSustentável é um indicador de sustentabilidade setorial coordenado pelo Grupo dos Executivos da Indústria Farmacêutica (Grupe-mef). A entidade é responsável pelo prêmio Lupa de Ouro, um dos mais importantes da área farmacêutica, que gerou a criação do primeiro índice de sustentabilidade aplicável ao setor. “Criamos no prêmio, em 2004, a categoria de Sus-tentabilidade. Mas, logo no ano seguinte, entendemos que premiar ações pontuais não bastava para promover a refle-xão do ponto de vista da gestão”, diz Marcelo Weber, diretor do FarmaSustentável no Grupemef. Segundo Weber, a pri-meira preocupação do foi tornar o novo indicador fácil de compreender para os profissionais de negócios. “Se o ponto principal é a gestão de impactos e de relações gerados e pro-duzidos a partir da área de negócios, o primeiro objetivo é traduzir as questões de sustentabilidade para esse público”, explica. Atualmente, o indicador é utilizado por 13 empre-

sas do setor farmacêutico brasileiro, composto por cerca de 450. Segundo Weber, o objetivo é aumentar a divulgação e, consequentemente, a adesão ao FarmaSustentável.

Qual a vantagem? O objetivo do FarmaSustentável é oferecer às empresas um instrumento de autoconhecimento, facilitador da inserção da sustentabilidade na empresa. Segundo We-ber, o Grupemef pretende divulgar, ainda em 2010, o benchmark básico do setor, com base nas informações de algumas das empresas que já aplicaram a ferramenta. “Isso vai permitir que as empresas saibam se o que es-tão fazendo nessa área vai além ou não do que o merca-do tem feito.”

como funciona? Para aplicar o indicador é necessário responder a um ques-tionário sobre as iniciativas de sustentabilidade da compa-nhia. As perguntas são divididas em cinco aspectos: Maxi-mização do Acesso às Terapias (iniciativas para promover

saudávelnEgócio

treZe empresas Já usam o índice Farmasustentável ,

o primeiro do setor Farmacêutico

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a ampliação do acesso da população aos medicamentos); Engajamento de Públicos de Interesse (canais de conta-to e comunicação com pacientes, ONGs, parceiros, classe médica, mídia etc.); Inovação (melhoria de práticas em produção, logística, distribuição e negócios); Estímulo ao Consumo e Prescrição Responsáveis (medidas para evitar o consumo inadequado de seus produtos); e Meio Ambien-te (respeito e cuidados com o meio ambiente em todas as etapas da cadeia produtiva).

Cada um desses aspectos é subdividido em subitens que aprofundam o entendimento da questão, incluin-do sugestões de práticas. Conforme a empresa registra as iniciativas, vai marcando pontos, num total de 100. Quando não possui nenhuma iniciativa no tópico es-pecificado, não marca pontos. Com isso, a empresa ad-quire uma visão geral de suas atividades na área de sustentabilidade, o que facilita o planejamento estra-tégico. “Como é dividido por aspectos, a empresa pode avaliar se está deixando de dar atenção a alguma área ou se está concentrando esforços em uma área que não é diretamente relacionada ao impacto de suas opera-ções”, complementa Weber.

Para Rosicler Rodriguez, gerente de Responsabilida-de Social da Roche, uma das empresas que usam o Far-maSustentável, o índice ainda pode ser aprimorado,

mas já é uma boa ferramenta de gestão, tendo sido ado-tado no Relatório de Sustentabilidade da companhia. “O FarmaSustentável representa um grande salto de qualidade para a indústria farmacêutica, porque dina-miza a área de negócios.” Tatiane Oyakawa, analista de Responsabilidade Social na Roche, também aprovou o recurso, mas observa que os indicadores são “muito nu-méricos”. “A exigência de respostas quantitativas difi-culta um pouco a aplicação. As empresas não costumam tomar decisões com base nesse raciocínio. Algumas áre-as não fazem esse tipo de medição”, explica.

Para Celia Wada, consultora de sustentabilidade no setor, as questões que mais merecem a atenção, no Brasil, são a obtenção de matéria-prima, o tratamento dispensado aos funcionários de laboratórios e a preo-cupação com o bem-estar do cliente diante das reações adversas dos medicamentos – a chamada farmacovi-gilância. “Normalmente, os medicamentos têm im-pactos positivos, mas, às vezes, com pesquisas, é possí-vel alterar o radical de algum medicamento e reduzir efeitos prejudiciais ao paciente.” A adequação do pós--consumo aos princípios de sustentabilidade é outra obrigação da empresa. “O fabricante é responsável por orientar o consumidor sobre o descarte do produto que disponibiliza no mercado.” [bs]

para a Roche, o Farmasustentável representa um salto de qualidade c

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Falsa

“Muitos acham que os plásticos ditos oxibiodegradáveis poderiam ser jogados fora sem causar danos ambientais. Não é verdade. Trata-se de plásticos meramente oxide-gradáveis ou fragmentáveis, que não se decompõem como prescrevem as Normas Técnicas nacionais e inter-nacionais. Eles se dividem em pedacinhos e, no fim do processo, transformam-se em um pó que facilmente se espalha pelo solo, pela água e pelo ar. Nossa geração po-derá beber, involuntariamente, plástico oxidegradável misturado à água, assim como os animais silvestres e de criação, causando sérios danos ambientais. Os fatos são comprovados pela Universidades de Michigan e da Cali-fórnia, e Mackenzie, no Brasil, dentre outras. De acordo com elas, os fragmentos depositados no solo não podem ser coletados, reciclados mecanicamente ou recuperado energeticamente. O que a população pode e deve fazer é praticar os 3 R’s: reduzir o desperdício de sacolas; reu-tilizá-las; promover a coleta seletiva e reciclar. O poder público pode ajudar, aumentando a coleta seletiva mu-nicipal dos resíduos urbanos, pois só 7% das cidades bra-sileiras têm esse tipo de serviço. Algumas importantes redes de supermercados já fazem sua parte ao usarem sacolinhas resistentes, fabricadas dentro das normas técnicas, que, com ciclo de vida prolongado, reduzem o consumo total em 30%. Os plásticos são duráveis, leves, impermeáveis, atóxicos, inertes, não mofam nem en-ferrujam. São indispensáveis à vida moderna. Se o ma-terial é tão bom e provém do petróleo, que é um recurso finito, jamais deveria receber um aditivo que acelera a fragmentação, impedindo o reúso.”

“O plástico oxibiodegradável seria uma solução não so-mente para as sacolas, mas para todas as embalagens plásticas inadequadamente descartadas no meio am-biente, não recicladas. Desde 2004, a norma do Guia

Padrão de Exposição e Testes de Plásticos confirma que os plásticos se degradam no meio ambiente combinan-do oxidação com biodegradação. Os testes informam se o plástico é degradável, biodegradável e não tóxico. No Brasil e no exterior, universidades, laboratórios e centros de pesquisa renomados, independentes e cre-ditados testaram a tecnologia chamada oxibio d2w e comprovaram sua eficácia e segurança, inclusive no contato com alimentos. O d2w é um aditivo que age na decomposição das moléculas de carbono, podendo ser adicionado a polietileno, poliestireno ou polipropi-leno, em conformidade com as resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mais de 90 países produzem o plástico oxibiodegradável com essa tec-nologia. No Brasil, já são 260 indústrias. Os produtos podem ser reciclados com outros de plástico convencio-nal ou produzidos a partir de plásticos reciclados. São idênticos aos convencionais, com a diferença única de se decomporem mais rápido, sem deixar resíduos noci-vos – no caso de uma sacola típica de supermercados, o tempo estimado é de 18 meses. Por essas razões, a tec-nologia é uma alternativa baseada nos pilares da sus-tentabilidade para diminuir os impactos ambientais de embalagens. A escolha é um primeiro passo. O ideal é que as pessoas e as indústrias se conscientizem quan-to ao consumo responsável, à utilização e ao descarte.”

o pi n i õ e s d iverg ente s so b re temas p o lêm i cos

« e d i ç ã o R i c a R d o a R n t »

contRovÉRsia

e d u a r d o v a n r o o s t , diretor da res brasil

(plásticos com ciclo de vida útil controlado)

F r a n c i s c o d e a s s i s e s m e r a l d o , engenheiro

químico, presidente da plastivida instituto sócio-ambiental dos

plásticos

sacolas de plástico oXibiodegRadável ReduZem os impactos ambientais?

sim não

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Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável.

Junte-se a nós e descubra que as ideias do varejo para ajudar o planeta

podem ir muito além das ecobags e das garrafas retornáveis.

O varejo tem papel decisivo na promoção da sustentabilidade no planeta. É fundamental que o setor comece

a adotar práticas de desenvolvimento sustentáveis. Tendo isso em mente, a Fundação Dom Cabral criou o CDVR –

Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável, uma iniciativa pioneira focada na gestão responsável

e na sustentabilidade, com o objetivo de pesquisar, avaliar, descrever e incentivar o desenvolvimento dos temas

ligados à responsabilidade das empresas do setor de varejo e de sua cadeia de suprimentos. A ideia é favorecer

a adoção dos princípios do consumo consciente, bem como criar um compromisso ético com as grandes

questões demandadas pela sociedade.

Cuidar do planeta é um dever de todos e sua empresa precisa fazer parte dessa iniciativa.

Ligue para 4005 9200 (capitais) ou 0800 941 9200 (demais localidades)

e faça parte do CDVR. Se preferir, mande um e-mail para

[email protected]

Empresas associadas:

Pão de Açúcar | Fecomércio | Banco Santander | Souza Cruz | Ademig | Grupo Martins | Repense Comunicação | Sebrae MG | Itaú Unibanco

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