Suplementao de bovinos de corte a pastoEdilane Aparecida Silva1

O processo de globalizao da economia tem causado grandes mudanas em diversos setores do agronegcio. A produo de gado de corte no Brasil tem sido desafiada para estabelecer sistemas de produo que sejam competitivos, sustentveis, capazes de produzir cada vez mais de forma eficiente, carne de boa qualidade a baixo preo, alm disso, esses sistemas tm que ser capazes de produzir animais para abate com menos de 42 meses de idade que a mdia nacional (EUCLIDES et al., 2001). No Brasil a produo de bovinos de corte ocorre basicamente utilizando pastagens, com o avano da maturao fisiolgica das plantas forrageiras, o valor nutritivo dessas cai, retardando a idade ao primeiro parto, reduzindo o ganho de peso e aumentando o intervalo de partos entre os animais. As categorias animais que mais sofrem com a reduo no suprimento de nutrientes so os bovinos em fase de crescimento, devido seus maiores requerimentos nutricionais, e as vacas paridas, pela maior demanda de nutrientes para a produo de leite. Em relao s diferentes raas, os animais de origem europia mantidos em pastagens tropicais, sofrem mais sob condies adversas, devido menor tolerncia ao calor, o que os leva a ingerir menos alimentos, aumentar seus consumos de gua, acarretando reduo nos processos produtivos (crescimento, produo de carne e leite). Nessas condies os animais permanecem mais tempo em locais sombreados, aumentando com isso a infestao de ecto e endo parasitas, agravando ainda mais o problema, pois os mesmos so naturalmente menos tolerantes a essas infestaes. A maior competitividade da bovinocultura de corte, frente a outras modalidades de explorao agropecuria, depende da mxima eficincia de produo e do aumento da produtividade. O bom planejamento das atividades, em funo da correta tomada de decises e da reduo de custos de produo, que selecionar os criadores capazes de obter mais lucros e, portanto, permanecer na1

Professora FAZU, Pesquisadora EPAMIG Rua Afonso Rato 1301 Caixa Postal 351, CEP: 38001-970 - Uberaba, MG - edilane@epamiguberaba.com.br

atividade. Este planejamento depende intimamente do desempenho animal a ser obtido no final da cadeia produtiva, este resultado depende da interao entre os requerimentos do animal e da disponibilidade de nutrientes, bem como das avaliaes econmicas referentes s tecnologias avaliadas (SAMPAIO et al., 2001). O sistema de produo de um ruminante composto por fatores diferentes que interagem entre si, de forma que somente uma mudana parcial, afetando apenas um fator, poder ter efeito nos demais fatores, dificultando a predio do impacto de qualquer mudana no conjunto do sistema como um todo. Assim, a avaliao de um benefcio ou malefcio de uma nova tecnologia dever ser realizada considerando os seus efeitos em todo o sistema. O maior entrave para a produo de carne a pasto, em condies tropicais e subtropicais, a ocorrncia da estacionalidade de produo das plantas forrageiras, onde ocorre excesso de produo no perodo das guas e escassez na seca; isto reflete em oscilaes na produtividade e na qualidade das forrageiras durante o ano. Para buscar maiores incrementos na produo, pode-se fazer uso da suplementao alimentar em pasto, a adubao das pastagens, da utilizao de irrigao, desde que seja economicamente vivel. Para isso, faz-se necessrio adequao do trinmio gentipo-ambiente-mercado. Para Euclides Filho (2000) o gentipo deve ser entendido como sendo o tipo de animal a ser utilizado e a sua raa ou grupo gentico. Por ambiente, importante considerar no s aspectos climatolgicos e de solo, mas tambm aqueles relacionados com elementos socioeconmicos e culturais incluindo capacidade de mo-de-obra, infra-estrutura existente e outros. E por mercado, entende-se aspectos de preo, qualidade do produto final (satisfao do consumidor, alimento saudvel, nutritivo e isento de resduo), da possibilidade de ser socialmente justo e, ainda, adequado com respeito ao ambiente. Paulino (2000) relata que se o rebanho bovino apresenta boas caractersticas genticas e esteja submetido a plano sanitrio adequado, o plano nutricional constitui-se em um fator fundamental para a otimizao dos padres de consumo e, conseqentemente da produo e produtividade animal.

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Thiago e Silva (2000) relatam que a eficincia dos sistemas de produo de carne a pasto depende do potencial de dois componentes bsicos: o valor forrageiro da planta, ou plantas que compem a pastagem, e o tipo de animal, ambos limitados pelo meio ambiente (Figura 1).

FIGURA 1. Interao planta animal FONTE: THIAGO; SILVA, 2000.

Durante o perodo seco, as caractersticas qumicas das forrageiras, baixo contedo de nitrognio, baixa digestibilidade, alta fibra e baixa relao protina/energia, limitam o consumo, alm disso, nesse perodo as forrageiras apresentam crescimento insuficiente para suportar adequadamente o nmero de animais que suporta durante o perodo chuvoso. As falhas no planejamento da alimentao para o perodo seco podem levar ao aumento da idade puberdade, baixa taxa de prenhez, maior nmero de partos distcicos, maior morbidade e mortalidade de bezerros, baixos pesos a desmama, reduo da vida produtiva das fmeas e baixos ndices de reconcepo quanto primparas. Os fatores ambientais, o peso vivo, os ganhos de peso pr e ps-desmama, a condio corporal e a idade puberdade so pontos cruciais na reduo da idade ao primeiro acasalamento (LANA, 2002; MARTHA JNIOR, 2002).

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A suplementao utilizada para corrigir deficincia dos nutrientes limitantes (protena e energia) podendo ser fornecida em quantidades controladas, visando manter contnuo o desenvolvimento dos animais, propiciando reduo na idade de abate e promovendo aumento na taxa de desfrute do rebanho, ou pode ser fornecida para permitir ganhos de peso mais elevados que aqueles proporcionados pela disponibilidade de nutrientes da pastagem. Quando os objetivos so ganhos mais elevados deve-se levar em conta a relao custobenefcio com a suplementao, de modo que, a quantidade de suplemento no se torne antieconmica. A associao de pastagens com leguminosas tambm uma estratgica como suplemento alimentar. O uso dessas estratgicas de suplementao visa eliminar as fases negativas do crescimento, reduzindo a idade ao abate e diminuindo o custo fixo, alm de possibilitar aumento no giro de capital. A suplementao uma das formas de se complementar a eventual deficincia de energia e protena que as pastagens apresentam. Esta feita principalmente com alimentos concentrados ou com volumosos de boa qualidade; no entanto, importante ajustar os nveis de energia e protena do suplemento em relao pastagem. As principais vantagens da suplementao so: Utilizar as pastagens de maneira mais adequada. Aumentar a taxa de lotao das pastagens. Aumentar o fornecimento de nutrientes para os animais. Melhorar a eficincia alimentar. Evitar a subnutrio. Reduzir a idade ao primeiro parto. Reduzir o intervalo entre partos, Diminuir a idade de abate: elevada idade de abate reduz a taxa de desfrute e a produo de peso vivo/hectare. Almeida (1998) salienta que existem vrias possibilidades de alimentao, uma delas se refere ao diferimento ou vedao do pasto que deve ser feito no vero, para que se constitua uma reserva de massa para o inverno. Outras alternativas so sal protico, sal mineral com uria ou ainda mistura mltipla. As

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pastagens de inverno, como aveia, milheto, ou mesmo os bancos de alimentos (cana-de-acar, napier), feno ou silagem. O autor considerou como ganhos baixos, valores entre 200 a 300 gramas/dia e ganhos mdios 500-600 gramas/dia. O mesmo ressalta que se a suplementao for bem feita e bem dosada, a produtividade se tornar extremamente econmica (Figura 2).SAL MINERAL COM URIA SUPLEMENTAO DE RECRIA (RAO) BANCO DE ALIMENTO MISTURA MLTIPLA FENO

SUPLEMENTAO

SILAGEM

DIFERIMENTO DE PASTAGENS

PASTAGENS DE INVERNO

ANIMAL

MANTENA DE PESO

MANTENA OU GANHO DE PESO

GANHOS MDIOS

FIGURA 2. Alternativas de alimentao FONTE: ALMEIDA, 1998 (adaptada).

Em termos de utilizao pelos animais, a energia pode ser dividida em vrias fraes (Figura 3). A energia bruta contida nos nutrientes no totalmente aproveitada pelos animais, sendo que uma grande frao desta se perde nos excrementos slidos, lquidos e gasosos. Klosterman (1972) preconiza que somente 13% da energia metabolizvel do alimento vo ser utilizados para a produo e os 87% restantes so requeridos para a produo total do calor de animal, isto , manuteno e incremento calrico.

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ENERGIA BRUTA DO ALIMENTO Energia na fezes

ENERGIA DIGESTVEL Energia na urina

Energia nos gases de fermentao ENERGIA METABOLIZVEL

Incremento calrico ENERGIA LQUIDA MANUTENO PRODUO

Metabolismo basal Atividade voluntria Calor para manuteno da temperatura

Crescimento Engorda Reproduo Leite Trabalho

FIGURA 3. Utilizao de energia pelo ruminante

O animal mesmo em repouso necessita de energia de manuteno para sustentar as funes fisiolgicas essenciais, como respirao, circulao sangnea, secreo, trabalho muscular, assim como para manter a temperatura do corpo. Alm disso, necessita de energia adicional para o incremento calrico. O incremento calrico definido como a produo de calor ou a perda de energia associada com a digesto, absoro e metabolismo dos nutrientes aps a ingesto de alimentos ou a energia perdida acima do metabolismo basal (SILVEIRA, DOMINGUES, 1995). Segundo os autores, se houver minimizao do

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enorme dispndio de energia para a produo total de calor do animal, provavelmente os custos de produo podem ser melhorados. Vale ressaltar ainda que, em condies de pasto, a quantidade de energia requerida para a manuteno considerada cerca de 30% mais elevada, devido esta ser afetada pela complexa interao animal x pasto (FLATT; COPPOCK, 1965 citados por SILVEIRA, DOMINGUES, 1995). A produo animal depende do consumo de matria seca, do seu valor nutritivo e da eficincia de utilizao dos nutrientes ingeridos. O desempenho animal reflexo da qualidade da forragem ingerida, desde que a disponibilidade de forragem no seja fator limitante para o consumo. Restries na quantidade de forragem disponvel acarretam em diminuio na ingesto de matria seca, principalmente devido reduo do tamanho dos bocados, o que leva ao aumento no tempo de pastejo (MINSON, 1990). O desempenho de animais em pastagem afetado por vrias variveis, porte corporal (peso a desmama), suplemento alimentar, disponibilidade e composio das pastagens, diversidade gentica dos animais e diversidade climtica (MARTHA JNIOR, 2002). A qualidade das pastagens varia mais em funo do estdio vegetativo do que em funo da espcie ou variedade da planta. As pastagens durante o perodo seco, em sua maioria, apresentam menos de 7% de protena bruta (PB) na matria seca, havendo, assim, deficincia de protena degradvel no rmen para o crescimento microbiano e atividade fermentativa adequados (VAN SOEST, 1994), reduzindo a digesto da celulose e o consumo, acarretando baixo desempenho animal. A digestibilidade varia de 60% nas guas a 40% na seca, devido ao aumento no teor de lignina e de fibra na planta (VAN SOEST, 1994), reduzindo o suprimento de energia para os animais. O consumo pode ser limitado pelo alimento, animal ou pelas condies de alimentao. O animal ajusta seu consumo e a produo a partir de seus pontos crticos ou timos na tentativa de se ajustar dieta. Se a densidade energtica da rao for alta, isto , com baixa concentrao de fibra, em relao s exigncias do animal, o consumo ser limitado pela demanda energtica do animal e o animal

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poder deixar de consumir alimentos, mesmo que o rmen no esteja repleto. No entanto, se a dieta tiver baixa densidade energtica, o consumo ser limitado pelo enchimento. Entretanto, se a disponibilidade do alimento for limitante, nem o enchimento nem a demanda energtica sero importantes para predizer o consumo (MERTENS, 1994). Alm disso, o consumo pode ser influenciado tambm pela palatabilidade, granulometria e velocidade de digesto dos componentes qumicos da rao no rmen, principalmente da fibra em detergente neutro, que tem correlao negativa com o consumo. Quando a velocidade de digesto alta ocorre esvaziamento mais rpido do rmen, induzindo a um maior consumo. Outros fatores, como o excesso e/ou deficincia de fontes nitrogenadas no rmen podem ter reflexos positivos ou negativos no consumo e na digestibilidade dos componentes da dieta dos ruminantes. De acordo com NRC (1984), as diferenas primrias nas respostas sobre o consumo parecem estar associadas com o teor protico da forragem e a quantidade de suplemento fornecido. Se a forragem apresenta baixo teor de protena, o consumo ser incrementado quando uma pequena quantidade de suplemento protico for fornecido. No entanto, quando mais de 1 kg de suplemento fornecido, o consumo de forragem poder ser reduzido por substituio. A suplementao protica de animais em pastejo pode ser feita utilizando leguminosas, suplemento protico ou mesmo ainda fontes energticas que melhorem a sntese de protena microbiana. O fornecimento de PB propiciar aumento na populao de microrganismos do rmen e, conseqentemente aumentar a digestibilidade da forragem de baixa qualidade e consumo de matria seca (MS) e de energia digestvel. Alm do mais, o fornecimento de PB na dieta, aumenta a sntese microbiana, elevando a quantidade de protena microbiana que sai do rmen. A frao PB das forragens em geral composta de 20-30% de nitrognio no protico (NNP), 60-70% de protena verdadeira disponvel e 4-15% do nitrognio ligado fibra em detergente cido. A protelise a hidrlise da protena

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para aminocidos e a sua degradao a aminas, amnia, resultando no aumento da quantidade de NNP em detrimento da protena verdadeira (VAN SOEST, 1994). As principais fontes de protena para os ruminantes so a microbiana e a diettica que escapa da degradao no rmen, sendo que estas, quando digeridas no abomaso e no intestino delgado, suprem os aminocidos para o ruminante. A sntese de protena microbiana no rmen depende do crescimento e da eficincia dos microrganismos na utilizao dos substratos energticos e nitrogenados. Deve haver um sincronismo na utilizao da protena e da energia pelos microrganismos, quando o alimento tem altos teores de nitrognio solvel no rmen deve-se fornecer concomitantemente fontes de carboidratos facilmente fermentveis, para manter a produo de aminocidos essenciais pelos microrganismos ruminais. Quando a velocidade de fermentao intensa pode ocorrer a produo e absoro excessivas de amnia, aumentando com isto a excreo de nitrognio. De acordo com Euclides et al. (1997, 1998) possvel reduzir a idade de abate de animais suplementados durante o perodo seco em pastagens de Brachiaria decumbens. Os autores relatam que esta reduo pode variar de trs a nove meses, dependendo da suplementao utilizada, alm disso, os autores observaram aumento de 24% a 30%, na capacidade de suporte dos pastos, onde os animais receberam suplementao. A utilizao de estratgias de

suplementao durante o perodo seco permite viabilizar sistemas de produo eficientes em pastos de braquiria (Tabela 1).

Tabela 1 Mdias para os ganhos de peso dirios de animais, em pastagens de braquiria suplementados (SUPL) ou no (NSPL) durante o perodo seco g/novilho/dia Pastagens Tipo de animal Fonte SUPL NSPL* B. decumbens Bezerro nelore 320 1030 Euclides et al. (1998) Novilho nelore -95 580 B. decumbens Bezerro Angus-Nelore 70 490 Euclides; Macedo; Novilho Angus-Nelore -190 580 Oliveira, (1997) B. decumbens Bezerro Angus-Nelore 0 610 Euclides et al. (2000) B. brizantha Bezerro Angus-Nelore -30 740* Concentrado energtico-protico fornecido diariamente em quantidades equivalentes a 0,8% do peso vivo.

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Segundo Euclides; Cezar; Euclides Filho (2000) quando se aumenta a taxa de lotao, a produo por rea acrescida e a produo por animal reduzida, no entanto, isso nem sempre desejvel. De acordo com os autores, a produo por animal no deve ser esquecida, uma vez que o desempenho e a terminao do animal so de grande importncia, pois estes podem influenciar o retorno econmico do empreendimento, para tanto, os autores ressaltam que as pastagens devem ser manejadas o mais prximo da sua capacidade de suporte. Blaser (1990) preconiza que quando a energia ou consumo de matria seca aumenta acima do requerimento de mantena, maior quantidade de forragem ingerida transformada em produto animal. Assim para recriar um bezerro de 150 kg de peso vivo at que atinja os 450 kg ao abate, com ganho dirio de 0,250 kg, seriam necessrios 7.320 kg de matria seca de forragem, comparados a apenas 1.903 kg de matria seca, se o ganho fosse de 1.100 kg por dia (Tabela 2).

Tabela 2 Requerimento de matria seca (MS) e protena por um novilho para recria/engorda dos 150 aos 450 kg de peso vivo (PV) Ganho de peso Tempo necessrio Requerimento total dirio (kg) (dias) MS (kg) Protena (kg) 0,25 1.200 7.320 652 0,50 600 4.460 434 0,75 400 3.052 310 1,10 273 1.903 224FONTE: BLASER, 1990.

Volumosos de baixa qualidade so importantes fontes de nutrientes utilizadas na alimentao de ruminantes, principalmente em pases de clima tropical. Zebunos utilizam melhor as forrageiras de baixa qualidade que os taurinos. A casca de soja subproduto com grandes perspectivas de uso pela sua disponibilidade e valor nutricional. Santos et al. (2004) avaliaram sistemas de recria de novilhas de corte mantidas em pastagens anuais e verificaram aumento na produo de carne por hectare em todos os sistemas nos quais se utilizaram a suplementao energtica (gro de milho modo, polpa ctrica peletizada e moda e casca de soja). Entretanto, o investimento adicional somente superou

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significativamente o tratamento testemunha quando se trabalhou com a casca de soja como suplemento (Tabela 3).

Tabela 3 Custo Total (CT), receita bruta (RB) e margem bruta (MB) por hectare e retorno financeiro direto (RFD) de novilhas suplementadas em pastagem de inverno. Valores expressos em kg de peso vivo (PV) de novilha Tratamento PAST2 PAST2/M PAST2/C CT 369,8 611,9 548,9 RB 459,0 608,0 602,8 MB 89,2 -3,9 53,9 RFD 1,24 0,99 1,10

PAST2=pastagem de aveia preta e azevm, sem suplementao aos animais; PAST2/M= PAST2+suplementao com gro de milho modo; PAST2/C= PAST2+suplementao com casca de gro de soja. FONTE: SANTOS et al., 2004. (Adaptada)

Os resduos oriundos da produo agrcola e da agroindstria podem ser aproveitados na alimentao de ruminantes, desde que estudos prvios sejam feitos. Estes alimentos podem ser alternativas viveis economicamente, sendo que vrios subprodutos originados do processamento industrial tm potencial de utilizao. Os sistemas ou modelos de determinao de requisitos de protenas nas ltimas dcadas so baseados nas fraes proticas degradveis e no degradveis. De acordo com Sniffen et al. (1992), a proporo de protena verdadeira na protena microbiana de 60% e a digestibilidade desta no intestino delgado assumida como 100%. Ladeira et al. (1999) avaliando nveis crescentes de concentrado e protena, concluram que, ao se elevar protena bruta na rao, principalmente com fontes mais degradveis no rmen, as perdas nitrogenadas se tornaram maiores. Euclides et al. (2001) avaliando o desempenho de novilhos mestios (AngusxNelore) recriados em pastagens de Brachiaria decumbens suplementados raes comerciais fornecidas em quantidades equivalentes a 0,8 e 09% do peso na primeira e segunda seca respectivamente, observaram que a suplementao alimentar com concentrado durante o perodo seco foi capaz de reduzir a idade de abate de 2 a 6 meses dos animais, e possibilitou incrementos de 24 e 30 na taxa de lotao dos pastos, durante o primeiro e segundo perodos secos,

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respectivamente. Os autores ainda ressaltam que os resultados revelam o risco associado adoo de inovaes, em geral, e suplementao de bovinos em particular, sendo que cada caso deve ser analisado cuidadosamente, cabendo ao produtor analisar suas condies, munindo-se do mximo de informaes necessrias de forma a tomar a deciso mais acertada.

Leguminosas

Pastagem consorciadas de gramneas com leguminosas apresentam acrscimos de 10 a 30% na produo animal, em relao s pastagens exclusivas de gramneas (LASCANO; EUCLIDES, 1996). O efeito das leguminosas em pastos consorciados com gramneas, em regies tropicais, pode ser atribudo maior capacidade de suporte da pastagem, ao maior perodo de ganho de peso durante a estao seca e a reduo das perdas em peso vivo animal durante a estao seca. As leguminosas so boas fontes de protena e nitrognio solvel, bem com de minerais (PURCINO et al., 2005). As leguminosas contribuem para aumentar a quantidade e a qualidade nutricional das pastagens sendo importantes nos sistemas de produo de carne. Dentre as leguminosas forrageiras, os gneros Stylosanthes (estilosantes), Leucaena (leucena), Cajanus (guandu), Arachis (amendoim forrageiro), Glycine (soja perene) e Calopogonium (calopognio), apresentam bom potencial de utilizao quando consorciados com gramneas (PURCINO et al., 2005). A compatibilidade entre gramneas e o estilosantes tem grande influncia na permanncia da leguminosa na pastagem, no sendo recomendada a sua consorciao com Panicum maximum cvs. Tanznia e Mombaa. Estas gramneas so agressivas e a permanncia do estilosantes na pastagem fica reduzida a no mximo dois anos (BARCELLOS et al, 2000). Por outro lado, consorcia bem com Andropogon gayanus e com as braquirias, Brachiaria decumbens e Brachiaria Brizantha cv .Marandu. A qualidade de forragem do Arachis pintoi (amendoim forrageiro) considerada melhor que a da maioria das leguminosas tropicais utilizadas, pois a

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digestibilidade da matria seca pode atingir de 60 a 70% e os teores de protena situam-se entre 13 e 25%. A palatabilidade alta e os animais em pastejo selecionam o A. pintoi durante todo o ano (PURCINO et al., 2005). Esta caracterstica contrasta com o pastejo de outras leguminosas como puerria e estilosantes, duas leguminosas mais consumidas pelos animais no perodo seco do ano, ou ainda de desmdio que pouco aceito por animais (ZIMMER et al., 2003). A leucena possui excelente capacidade de rebrota e a forragem produzida de alta qualidade, apresentando teor de protena bruta nas folhas ao redor de 24% e, por isso tambm conhecida como "alfafa dos trpicos" (PURCINO et al., 2005). Zimmer e Euclides Filho, (1997) obtiveram taxa de lotao (1UA/ha/ano) e produtividade (215kg de ganho de peso/ha/ano) em regime de pastagens. Durante o perodo seco do ano, a utilizao da pastagem de B. brizantha cv. Marandu + banco de protena de S. guianensis cv. Mineiro destacou-se em termos de manuteno do ganho de peso dos animais. Contudo, as diferenas entre os tratamentos passaram a ser mais evidentes a partir de novembro de 2002, quando se constatou maiores ganhos acumulados para os animais mantidos na pastagem de B. brizantha cv. Marandu + leucena (11x25). Esses resultados podem ser atribudos utilizao leucena, que confere dieta de melhor qualidade aos animais em pastejo durante as guas. Entretanto, na regio do cerrado, tem-se observado que a contribuio da leucena para a produo e para a qualidade da forragem, na seca, pequena, em razo da queda das folhas da leguminosa nessa poca do ano (Figura 4).

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300 Ganho de peso acumulado (kg/animal)

(b )B . b riza n th a cv . M a ran d u + B c o . d e p ro te n a n a s ec a B . d e cu m b e n s/S . g u ia n e n sis cv . M in e ir o B . b riza n th a cv . M a ran d u /L e u c en a " h b rid o 1 1x 25 "

250

200

150

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FIGURA 4. Ganho de peso de tourinhos da raa Nelore, no perodo de setembro/2001 a maro/2003, recriados em pastagens renovadas. O peso inicial mdio dos animais correspondeu a 217 7,4 kg FONTE: ZIMMER; EUCLIDES FILHO, 1997.

Banco de protena

Dentre as espcies mais recomendadas para constituir os bancos de protena nas regies tropicais, destacam-se as leguminosas: estilosantes, leucena, guandu, gliricdia, e cratlia. Os estilosantes, principalmente as espcies de guianensis, apresentam bom crescimento vegetativo e mantm as folhas verdes durante a estao seca. O guandu e a leucena apresentam bons resultados na estao de chuvas e uso limitado na estao da seca, devido baixa produo de massa e queda das suas folhas. As leguminosas gliricdia e cratlia esto sendo utilizadas mais recentemente. A amoreira (Morus alba), embora no seja uma leguminosa, utilizada como banco de protena na Amrica Central e est sendo avaliada nas diferentes regies do Brasil para este fim (PURCINO et al., 2005). O gnero Stylosanthes um dos mais utilizados para banco de proteina no Brasil Central. A rea recomendada como banco corresponde a 15 a 20% da rea 14

total da pastagem de gramnea. A leucena tem sido largamente utilizada para bovinos, esta leguminosa pode ser utilizada de dois modos, o primeiro consiste cortar os ramos e fornec-los fresco aos animais, triturados ou no. O segundo modo consiste em colocar os animais em reas isoladas cultivadas com leucena para pastejo. Os animais devem iniciar o pastejo quando as plantas atingirem 1,0 a 1,5m de altura, as quais devem ser rebaixadas entre 0,50 a 0,70 cm do solo. A rea do banco de protena deve corresponder em 10 a 30% da pastagem (PURCINO et al., 2005). De acordo com os autores o acesso dos animais deve ser de trs a quatro vezes por semana, sendo o perodo de pastejo de duas a trs horas por dia, dependendo da disponibilidade de forragem. Souza (2002) avaliou a influncia da suplementao em pastagem de Brachiaria brizantha no desempenho e produo por rea de novilhos Nelore em terminao. Os suplementos eram constitudos por banco de protena (leucena) mais 2 kg de polpa ctrica mais 2 kg de refinazil, ou 2 kg de polpa ctrica mais 2 kg de refinazil mais 0,5 kg de farelo de soja mais 0,1 kg de uria ou ou 2 kg de polpa ctrica mais 2 kg de refinazil mais 1 kg de farelo de soja mais 0,1 kg de uria. O tratamento leucena mais suplementao energtica proporcionou ganhos superiores aos observados durante a seca sem utilizao de suplementao energtica. No houve diferena no desempenho dos animais suplementados com farelo de soja, sendo que o acrscimo de 0,5 kg de farelo de soja/animal/dia no proporcionou melhores ganhos aos animais suplementados com apenas 0,5 kg de farelo de soja/animal/dia (Tabela 4).TABELA 4 Ganhos mdios dirios (GMD) de novilhos Nelores em pastagem de Brachiaria brizantha submetidos a diferentes suplementaes no perodo da seca Tratamentos GMD (kg/dia) Pastagem Brachiaria brizantha 0,114a 0,051 B. brizantha + leucena + PC + Refinazil 0,528b 0,042 B. brizantha + PC + Refinazil* + 0,5 kg FS +0,1 kg Uria 0,638c 0,035 B. brizantha + PC + Refinazil + 1 kg FS +0,1 kg Uria 0,613c 0,031*Ingrediente protico de milho. PC = polpa ctrica, FS = farelo de soja FONTE: SOUZA, 2002.

O uso da gliricdia no Brasil, segundo Purcino et al. (2005), recente, apesar da importncia desta como leguminosa arbrea ter sido comprovada nos sistemas

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agrossilvipastoris de outros pases. O cultivo da gliricdia com gramneas para pastejo direto pelos animais em regime rotativo uma opo promissora para aumentar a produtividade e a sustentabilidade das pastagens.

Forrageiras anuais de inverno

Apresentam durante a fase de crescimento, alta qualidade nutricional, no entanto, apresentam consumo de matria seca limitado, devido ao elevado contedo de gua apresentado por essas, durante sua fase de crescimento. Tornando o consumo de energia insuficiente para atender as exigncias energticas para que os animais possam expressar seus potenciais mximos de ganho de peso. As forrageiras anuais de inverno mais utilizadas so a aveia, o azevm e o triticale. A aveia (Avena sativa L.) uma gramnea anual, sendo amplamente cultivada nos estados da regio sul do Brasil, principalmente para alimentao animal, devido facilidade de cultivo e ao bom valor nutricional da planta e dos gros, sendo muito tenra, palatvel podendo ser utilizada por animais de qualquer idade. O triticale um hbrido entre o trigo e o centeio e adapta-se muito bem a solos arenosos, de boa drenagem, pH baixo e com presena de alumnio trocvel (CAMARGO; FEREIRA FILHO; FREITAS, 1998; FELICIO et al., 2001).

Ionforos So aditivos empregados para melhor a eficincia de utilizao dos alimentos consumidos pelos animais, pois proporcionam aumento da produo de cido propinico, diminui a produo de metano, de deaminao e de nveis de cido ltico (NRC, 1989). O uso de ionforo fornecidos para animais em pastagem via suplementao tem apresentado resultados variados, principalmente porque dificuldades no fornecimento dos ionforos a animais em pastejo, pois na maioria das vezes no h cochos cobertos para serem fornecidos. Os ionforos so usados como aditivos em raes para ruminantes, melhorando os ganhos de peso na ordem de 5 a 15% em animais submetidos a

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dietas com baixo valor nutritivo e melhorando a converso alimentar (LUCHIARI FILHO et al., 1990). O fornecimento do ionforo com o sal uma forma vivel e prtica, alm do mais o consumo limitado pelo sal, o que favorece o consumo adequado do produto. Lasolocida e monensina so antibiticos que aumentam a eficincia de utilizao de alimentos pelos ruminantes.

Lasalocida sdica: um ionforo que atua sobre a populao microbiana do rmen, incrementando as bactrias gram-negativas e provocando diminuio acentuada nas gram-positivas (maiores produtoras de hidrognio, precursor do metano), sendo que esta modificao altera as propores finais de cidos graxos volteis, principalmente pelo aumento na proporo de cido propinico e pela diminuio dos cidos actico e butrico. Essa alterao propicia pois o cido propinico energeticamente mais eficiente, alm de reduzir as perdas de metano associadas a produo dos cidos acticos e butrico. A lasolocida atua nas trocas de metais mono ou divalentes e prtons pelo sistema antiporte. Roso e Restle (2001) avaliando o desempenho de fmeas de corte, com idade de 10 meses e peso mdio inicial de 200 kg, mantidas em pastagem cultivadas com uma mistura de aveia preta, triticale e azevm, suplementadas ou no com lasalocida sdica no encontraram efeito da lasalocida sdica via sal no ganho de peso mdio dirio, porm resultou em aumento na carga animal (6,5%) e no ganho de peso/ha (6,9%), alm disso, encontraram maior eficincia alimentar (5,6%) no tratamento que recebeu lasalocida (Tabela 5).

Tabela 5 - Mdias para peso inicial, peso final, carga animal, ganho de peso mdio dirio, eficincia alimentar de fmeas suplementadas com sal associado ou no lasalocida sdica em pastagem de gramneas anuais de estao fria Sal + lasalocida Sal Peso inicial (kg) 199 201 Peso final (kg) 256 259 Carga animal (kg PV/ha) 1382a 1292b Ganho de peso mdio dirio 0,842 0,852 Ganho de peso vivo por ha 347,80a 325,50b Eficincia alimentar kg MS/kg PV 8,56b 9,07aFONTE: ROSO; RESTLE, 2001.

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Monensina: constituda por molculas de baixo peso, que ligam ons de minerais e direcionam sues movimentos atravs da membranas celulares, deprime o crescimento de bactrias gram-positivas, afetando a passagem de nutrientes atravs da membrana dos microrganismos ruminais, modifica a fermentao ruminal pela alterao das propores dos cidos graxos volteis (NRC, 1989). De acordo com Schelling (1984) a monensina atua na manipulao da fermentao ruminal como: 1) modificando a produo de cidos graxos, 2) modificando a ingesto alimentar, 3) provocando modificaes na produo de gs, 4) proporcionando modificaes na digestibilidade, 5) alterando a utilizao de protena, 6) propiciando alteraes no enchimento e taxa de passagem no rmen. No incio era comercializada na preveno de coccidiose em frangos de corte, porm mais tarde outras pesquisas revelaram seus efeitos na fermentao ruminal, onde o produto reduziu em cerca de 30% a formao de gs metano, que representaria perda de mais ou menos 12% de energia do alimento (RUSSEL; STROBEL, 1989). Depois que comeou ser usada como inibidor ruminal da produo de metano, foi constado que atuava tambm na reduo da produo ruminal de amnia com conseqente reduo de perda ruminal de protena. A amnia a principal fonte de nitrognio usada para a sntese de protena microbiana, sendo o produto final resultante do processo fermentativo de protena realizado por microrganismos ruminais. De acordo com Barbosa et al. (2001) a monensina reduz a produo ruminal de amnia (Tabela 6). O excesso de amnia excretado via urina e pode contaminar solos e cursos dgua (NOLAN; NORTON; LENG, 1976).

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Tabela 6 Diferencial de concentrao de amnia em 48 horas dos alimentos por microrganismos ruminais, em alimentos e ionforos (monensina ou rumensin, M/R) Amnia (NH3, mM) Farelo de soja Glten de milho no 26,7a 17,5b M/R sim 24,8a 9,5a EP 1,6 1,6

de fermentao in vitro funo de fontes de

Uria 84,5b 71,4a 1,6

EP 1,95 1,38

Letras minsculas diferentes na coluna, diferem pelo teste de Tukey (P