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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL 1.119.300 - RS (2009/0013327-2) RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO RECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES EMENTA RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO CONSORCIADO. PRAZO. TRINTA DIAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO. 1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano. 2. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. ACÓRDÃO Prosseguindo no julgamento, a Sra. Ministra Nancy Andrighi proferiu voto-vista antecipado, dando parcial provimento ao recurso, divergindo, em parte, do Sr. Ministro Relator, quanto à tese. Em Questão de Ordem, a Seção, por maioria, decidiu limitar o julgamento à tese do recurso repetitivo considerando-se apenas a lei anterior, vencidos os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha. No mérito, a Seção, por maioria, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencida parcialmente a Sra. Ministra Nancy Andrighi, que fará declaração de voto. Para os efeitos de recurso repetititivo, é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano. Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 14 de abril de 2010(Data do Julgamento). MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Relator Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 de 38

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃORECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO CONSORCIADO. PRAZO. TRINTA DIAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO.

1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano.

2. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Prosseguindo no julgamento, a Sra. Ministra Nancy Andrighi proferiu voto-vista antecipado, dando parcial provimento ao recurso, divergindo, em parte, do Sr. Ministro Relator, quanto à tese.

Em Questão de Ordem, a Seção, por maioria, decidiu limitar o julgamento à tese do recurso repetitivo considerando-se apenas a lei anterior, vencidos os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha.

No mérito, a Seção, por maioria, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencida parcialmente a Sra. Ministra Nancy Andrighi, que fará declaração de voto.

Para os efeitos de recurso repetititivo, é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano. Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 14 de abril de 2010(Data do Julgamento).

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO

Relator

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2) RECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Luiz Carlos Cassiano Rodrigues ajuizou em face de Rodobens

Administradora de Consórcios Ltda (nova denominação de Rodobens Administração e

Promoção Ltda) rescisão contratual com pedido de devolução das parcelas pagas,

referentes a contrato de participação em consórcio para aquisição de bem imóvel.

Requereu, ademais, a anulação da cláusula contratual que prevê a devolução do valor

pago somente após o encerramento do grupo, para que o que fora desembolsado por ele

pudesse ser-lhe restituído imediatamente, com os demais acréscimos.

O Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul/RS julgou

parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial, declarando rescindido o

contrato e condenando a requerida à imediata devolução dos valores pagos pelo

consorciado, descontada a taxa de administração de 10% e os valores atinentes ao

seguro de vida, acrescido de juros de 1% ao mês, a contar da citação. Ante a

sucumbência recíproca, condenou o autor ao pagamento de 20% das custas processuais

e honorários do patrono do réu, estes no valor de R$ 300,00 (fl. 131, e-STJ).

Em grau de apelação, a sentença foi em essência mantida, sendo

reformada apenas no que concerne à taxa de administração, nos termos da seguinte

ementa:

CONSÓRCIO DE IMÓVEL. DEVOLUÇÃO IMEDIATA.A devolução das parcelas consortis deve ser imediata, afastando-se, pois, o abuso cometido pela administradora que retém as parcelas por longos anos, arredando, via de conseqüência, o enriquecimento ilícito.TAXA DE INSCRIÇÃO.Possuindo a taxa de inscrição, também denominada de adesão, o escopo de retribuir ao vendedor do consórcio o serviço prestado, deve integrar, a exemplo da taxa de administração, o elenco de custos básicos do negócio, razão pela qual deve ser retida em favor da Administradora.TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. 10% DO VALOR DO BEM. APLICAÇÃO DO DECRETO Nº 70.951/72.JUROS DE MORA. Incidência a partir da citação. Decorrência da devolução imediata.APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (fl. 173, e-STJ)

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O acórdão foi glosado, todavia, em sede de embargos de declaração, sendo

mantida a sentença integralmente, nos termos da ementa seguinte:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.REDISCUSSÃO DA MATÉRIA JÁ DECIDIDA NO ACÓRDÃO. IMPOSSIBILIDADE.Não pode justificar a interposição de embargos declaratórios a alegação de ocorrência de contradição, obscuridade ou omissão, quando, em verdade, a postulação esconde a pretensão de rediscutir temas já examinados.EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PARCIALMENTE ACOLHIDOS. (fl. 201, e-STJ)

Sobreveio recurso especial amparado em ambas as alíneas do permissivo

constitucional, no qual Rodobens Administradora de Consórcios Ltda alega, além de

dissídio jurisprudencial, ofensa ao art. 427 do Código Civil, sendo de rigor a observância

da cláusula contratual que determina a devolução das parcelas pagas somente após o

60º dia do encerramento das operações do grupo consorcial.

A lastrear a tese alusiva à divergência, a recorrente carreia aos autos

acórdão proferido pela E. Terceira Turma, no REsp. 735.948/DF, de relatoria do saudoso

magistrado Carlos Alberto Menezes Direito.

Admitido o recurso especial na origem (fls. 185/189, e-STJ), ascenderam os

autos à Corte Superior, e, verificando a multiplicidade de recursos a versarem mesma

controvérsia, submeti o feito à apreciação desta E. Segunda Seção, na forma do que

preceitua o art. 543-C do CPC (fl. 195, e-STJ).

O Ministério Público Federal, mediante parecer subscrito pelo ilustre

Subprocurador-Geral da República Washington Bolívar Júnior, opina pelo conhecimento

e provimento do recurso especial.

De resto, a ABAC - Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios

- requereu ingresso no feito como interessada, pleiteando, ademais, vista dos autos fora

do cartório.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2) RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃORECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO CONSORCIADO. PRAZO. TRINTA DIAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO.

1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano.

2. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. A questão posta em debate - por demais conhecida desta Corte - diz

respeito ao prazo para devolução das parcelas vertidas dos consorciados, em caso de

desistência ou desligamento.

2.1. Se, por um lado, a restituição das parcelas pagas é medida que se

impõe, para que não haja, por parte da administradora de consórcios, enriquecimento

ilícito, por outro, a devolução imediata pretendida pelo consorciado causaria uma

surpresa contábil ao grupo, que deve se recompor, no sentido de reestruturar o valor das

prestações devidas pelos demais participantes, ou, até mesmo, a extensão do prazo de

contemplação.

Ou seja, a devolução imediata dos valores vertidos do consorciado

desistente/desligado constitui uma despesa imprevista, que acaba onerando o grupo e os

demais consorciados.

Por outro lado, o consorciado que permanece vinculado ao grupo pode,

porventura, ser contemplado somente ao final, quando termina o consórcio, e é

evidentemente desarrazoado que o consorciado que se desliga antes ostente posição

mais vantajosa em relação a quem no consórcio permanece.

2.2. A regulamentação dos sistemas de consórcios tem origem na

Resolução do Conselho Monetário Nacional n.º 67, de 21 de dezembro de 1967, que foi

seguida pela Lei n.º 5.768, de 20 de dezembro de 1971, que remeteu ao Ministério da

Fazenda o poder regulamentar sobre a matéria. Tal cenário somente foi alterado com o

advento da Lei n.º 8.177/91 - que estabeleceu regras de desindexação da economia -, a

qual transferiu ao Banco Central a regulamentação e fiscalização dos sistemas de

consórcios.

Muito embora inaplicável ao caso concreto, não é ocioso ressaltar que,

atualmente, a legislação que rege os consórcios é a recente Lei n.º 11.795, de 8 de

outubro de 2008, que obteve veto presidencial no art. 29, §§ 1º, 2º e 3º do art. 30 e

incisos II e III do art. 31, que dispunha sobre a restituição das parcelas pagas pelo

consorciado em caso de exclusão do grupo.

Portanto, permanece hígida a orientação pacífica desta E. Segunda Seção,

no sentido de se respeitar a convenção e se aguardar o encerramento do grupo para

requerer-se a devolução das contribuições vertidas, de acordo com os princípios regentes

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do CDC.

Nesse sentido, colaciono diversos precedentes desta Corte, que

demonstram a solidez do entendimento acerca do tema:

RECURSO ESPECIAL - CONSÓRCIO - DESISTÊNCIA - RETENÇÃO DOS VALORES PAGOS - IMPOSSIBILIDADE - RESTITUIÇÃO EM ATÉ 30 (TRINTA) DIAS CONTADOS DO TÉRMINO DO PLANO, MOMENTO A PARTIR DO QUAL INCIDEM OS JUROS DE MORA - PRECEDENTES - RECURSO PARCIALMENTE PROVIMENTO.1. A restituição dos valores vertidos por consorciado ao grupo consorcial é medida que se impõe, sob pena de enriquecimento ilícito dos demais participantes e da própria instituição administradora.2. O reembolso, entretanto, é devido em até 30 (trinta) dias após o encerramento do grupo, data esta que deve ser considerada como aquela prevista no contrato para a entrega do último bem.(...)(REsp 1033193/DF, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 01/08/2008)_________________________

CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA DO PARTICIPANTE. RESTITUIÇÃO. PRAZO.I. Segundo a orientação uniforme do STJ, em caso de desistência do participante, a restituição das parcelas por ele pagas far-se-á corrigidamente, porém não de imediato, mas em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano de consórcio.II. Recurso especial conhecido e provido.(REsp 442.107/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 17/09/2002, DJ 17/02/2003 p. 290)_________________________

Processual civil. Agravo no agravo de instrumento.Reexame de fatos e provas. Inadmissibilidade. Harmonia entre o acórdão recorrido e a jurisprudência do STJ. Cotejo analítico e similitude fática.(...)- A devolução das parcelas pagas deverá ocorrer em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano de consórcio. Precedentes.(...)(AgRg no Ag 1098145/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/05/2009, DJe 14/05/2009)_________________________

AGRAVO REGIMENTAL. CONSÓRCIO DE BEM IMÓVEL. RECURSO ESPECIAL DECIDIDO COM BASE NO ART. 557 DO CPC. CABIMENTO. PREQUESTIONAMENTO.TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. COBRANÇA ABUSIVA NÃO CONFIGURADA.DESISTÊNCIA DO CONSORCIADO. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO.(...)IV - Em caso de desistência do plano de consórcio, a restituição das parcelas pagas pelo participante far-se-á de forma corrigida, porém não de imediato, e

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sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do grupo correspondente.Agravo Regimental improvido.(AgRg no REsp 1066855/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/10/2009, DJe 05/11/2009)_________________________

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA E EXCLUSÃO. DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS DEVIDAMENTE ATUALIZADOS. RESTRIÇÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇA AOS CONTRATOS FIRMADOS SOB A ÉGIDE DA PORTARIA Nº 190/89.(...)2. Em contrato de consórcio, no tocante aos consorciados excluídos ou desistentes, após o término do grupo, é devida a devolução integral das parcelas pagas, com juros e correção monetária.(...)(REsp 702.976/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 22/06/2009)_________________________

Colaciono, ainda, as decisões unipessoais a seguir: REsp. 788.148/MS, rel.

Ministro FERNANDO GONÇALVES; REsp. 1.004.165/RS, rel. Ministro JOÃO OTÁVIO

DE NORONHA; REsp. 812.786/RS, rel. Ministro PAULO FURTADO (Desembargador

Convocado); REsp. 763.361/SP, rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (Desembargador

Convocado).

3.2. Com efeito, nos termos da jurisprudência tranquila desta Corte, para

efeitos do art. 543-C, do CPC, a tese a ser encaminhada é a seguinte: é devida a

restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio,

mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto

contratualmente para o encerramento do plano.

4. Aplicação ao caso concreto

4.1. No caso posto a exame, o acórdão recorrido entendeu que a restituição

das parcelas pagas pelo consorciado deveria ocorrer imediatamente, ao contrário do que

pretende o recorrente, que é a devolução das parcelas pagas após o 60º dia do

encerramento do consórcio.

Com efeito, diante da remansosa jurisprudência colacionada acima, o

recurso deve ser parcialmente provido, para que as parcelas pagas pelo consorciado

sejam a ele restituídas após 30 (trinta) dias do encerramento do grupo.

5. Diante do exposto, para efeitos do art. 543-C do CPC, a tese firmada

sobre a matéria é a seguinte: é devida a restituição de valores vertidos por

consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até

trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 7 de 38

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plano.

No caso concreto, dou parcial provimento ao recurso especial para que as

parcelas pagas sejam restituídas ao consorciado em até 30 (trinta) dias da data

contratualmente prevista para o encerramento do grupo, mantidas as demais disposições

do acórdão.

Diante da sucumbência recíproca, redimensiono os ônus sucumbenciais à

proporção de 50% para recorrente e recorrido, nos patamares fixados na origem.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2009/0013327-2 REsp 1119300 / RS

Números Origem: 10600041487 70024188369 70026195602 70027479906

PAUTA: 24/02/2010 JULGADO: 24/02/2010

RelatorExmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS FONSECA DA SILVA

SecretárioBel. RICARDO MAFFEIS MARTINS

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDAADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Consórcio

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Após o voto do Sr. Ministro Relator, conhecendo do recurso especial e dando-lhe parcial provimento, pediu VISTA antecipada a Sra. Ministra Nancy Andrighi.

Aguardam os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti.

Brasília, 24 de fevereiro de 2010

RICARDO MAFFEIS MARTINSSecretário

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2009/0013327-2 REsp 1119300 / RS

Números Origem: 10600041487 70024188369 70026195602 70027479906

PAUTA: 24/02/2010 JULGADO: 10/03/2010

RelatorExmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. WASHINGTON BOLIVAR DE BRITO JUNIOR

SecretárioBel. RICARDO MAFFEIS MARTINS

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDAADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Consórcio

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Adiado o julgamento por indicação da Sra. Ministra Nancy Andrighi.

Brasília, 10 de março de 2010

RICARDO MAFFEIS MARTINSSecretário

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 0 de 38

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃORECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

VOTO-VISTA

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI:

Cuida-se de recurso especial interposto por RODOBENS

ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA., com fundamento no art. 105, III, “a”,

da CF, contra acórdão proferido pelo TJ/RS.

Ação: rescisória cumulada com restituição de valores, ajuizada por LUIZ

CARLOS CASSIANO RODRIGUES em desfavor da recorrente, tendo por objeto

contrato de participação em consórcio para aquisição de bem imóvel. Requereu o

reembolso imediato das parcelas pagas, com a declaração de nulidade da cláusula

contratual que determina que tal devolução ocorra somente por ocasião do encerramento

do grupo.

Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, para

declarar rescindido o contrato e condenar a recorrente à imediata devolução dos valores

pagos, descontada a taxa de administração de 10% e os valores atinentes ao seguro de

vida, acrescido de juros de 1% ao mês, a contar da citação, e de correção monetária pelo

IGP-M, desde cada desembolso (fls. 120/131, e-STJ).

Acórdão: o TJ/RS deu parcial provimento à apelação da recorrente, nos

termos do acórdão (fls. 389/416) assim ementado:

“CONSÓRCIO DE IMÓVEL. DEVOLUÇÃO IMEDIATA.A devolução das parcelas consortis deve ser imediata, afastando-se, pois, o

abuso cometido pela administradora que retém as parcelas por longos anos, arredando, via de conseqüência, o enriquecimento ilícito.

TAXA DE INSCRIÇÃO.Possuindo a taxa de inscrição, também denominada de adesão, o escopo de

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retribuir ao vendedor do consórcio o serviço prestado, deve integrar, a exemplo da taxa de administração, o elenco de custos básicos do negócio, razão pela qual deve ser retida em favor da Administradora.

TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. 10% DO VALOR DO BEM. APLICAÇÃO DO DECRETO Nº 70.951/72. JUROS DE MORA. Incidência a partir da citação. Decorrência da devolução imediata.

APELO PARCIALMENTE PROVIDO”.

Embargos de declaração: interpostos pela recorrente, foram parcialmente

acolhidos pelo TJ/RS, para decotar do acórdão a questão referente à taxa de

administração, visto que não incluída no pedido inicial (fls. 200/205, e-STJ).

Recurso especial: alega violação ao art. 427 do CC/02 e dissídio

jurisprudencial (fls. 163/175, e-STJ).

Prévio juízo de admissibilidade: o TJ/RS admitiu o recurso especial (fls.

185/189, e-STJ).

Afetação como recurso repetitivo: considerando a multiplicidade de

recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o i. Min. Luis Felipe Salomão

afetou o julgamento deste recurso à 2ª Seção, com fulcro no art. 543-C do CPC,

suspendendo o processamento dos recursos especiais versando sobre tema análogo (fls.

195, e-STJ).

Parecer do MPF: o i. Subprocurador-Geral da República, Dr. Washington

Bolívar Júnior, opinou pelo provimento do recurso especial (fls. 203/206, e-STJ).

Voto do Relator: da parcial provimento ao recurso especial, para que as

parcelas pagas sejam restituídas ao consorciado em até 30 dias da data contratualmente

prevista para o encerramento do grupo, mantendo as demais disposições do acórdão.

Revisados os fatos, decido.

Cinge-se a lide a determinar o prazo para devolução das parcelas pagas ao

consorciado que se retira antecipadamente do grupo de consórcio.

O tema já foi objeto de diversas manifestações desta Corte, mas ainda

suscita divergências, tanto que, recentemente, foi a mim distribuída a Rcl 3.752/GO –

derivada da decisão do STF que possibilitou sua utilização como meio de dirimir

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divergência entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e a jurisprudência do

STJ – versando justamente sobre essa matéria, tendo eu liminarmente determinado a

suspensão de todos os processos em trâmite em Juizados Especiais Estaduais nos quais

tenha sido estabelecida controvérsia semelhante.

A questão, portanto, se amolda perfeitamente aos propósitos do

procedimento do art. 543-C do CPC, cujo escopo é unificar o entendimento e orientar a

solução de lides futuras, conferindo maior celeridade à prestação jurisdicional.

I. Dos precedentes do STJ

Além do julgado alçado a paradigma pela recorrente, AgRg no REsp

735.948/DF, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 05.02.2007,

existem diversos outros acórdãos desta Corte assentando que “em caso de desistência do

plano de consórcio, a restituição das parcelas pagas pelo participante far-se-á de forma

corrigida, porém não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto

contratualmente para o encerramento do grupo correspondente ” (AgRg no REsp

1.066.855/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe de 05.11.2009. No mesmo sentido:

AgRg no Ag 1.094.786/GO, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe de

30.11.2009; AgRg no Ag 1.098.145/MT, 3ª Turma, minha relatoria, DJe de 14.05.2009; e

AgRg no Ag 960.921/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de

03.03.2008).

Entretanto, esse entendimento foi consolidado antes da edição da Lei nº

11.795/08, vigente desde 06.02.2009, que trouxe nova regulamentação para o sistema de

consórcio, bem como da Circular nº 2.766/97 do BACEN, que até então era a principal

norma regulamentadora da matéria.

Indispensável, portanto, que se analise a questão posta a desate sob a luz

dessas normas, com vistas a verificar se a posição deste STJ permanece hígida, ou se há

margem para sua revisão.

II. Do consórcioDocumento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 3 de 38

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O consórcio consiste na associação de grupos de pessoas físicas ou

jurídicas, reunidas por intermédio de uma administradora, para a constituição de um

determinado capital, mediante contribuições mensais dos consorciados, objetivando a

aquisição de espécie semelhante de bens ou serviços. No decurso do prazo de duração do

consórcio, cada um contribuirá com valores que, somados, corresponderão ao bem ou

serviço almejado, a ser disponibilizado pelo sistema combinado de sorteio ou de lances.

Trata-se, pois, de um mecanismo de autofinanciamento ou, como leciona

Maria Helena Diniz, um “sistema cooperativado de poupança (...), isento de juros, não

sofrendo as oscilações de financimentos ” (Tratado teórico e prático dos contratos, vol.

04, 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 262). De fato, como os recursos levantados pelo

consórcio não são captados no mercado financeiro, a contribuição dos consorciados não

se sujeita a juros, correspondendo apenas ao percentual de amortização mensal sobre o

valor do bem, acrescido das taxas de administração cobradas pelo banco e,

eventualmente, se contratados, do fundo de reserva e do seguro de vida.

Para formação desse fundo mútuo, os consorciados se reúnem em torno de

uma sociedade de natureza civil e caráter transitório, representada por uma

administradora. Arnaldo Rizzardo bem anota que “o consórcio é organizado por uma

entidade civil ou comercial, que lança a proposta, recebendo poderes especiais com o

fim de representar o interessado na sua formalização ” (Contratos, 7ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2008, p. 1.279).

Até o advento da Lei nº 11.795/08, os consórcios eram regulados por ampla

e esparsa legislação: Leis nºs 4.728/65, 5.768/71, 7.691/88 e 8.177/91; Decs. nºs

70.951/72, 72.411/73, 97.384/88; Portaria do Ministério da Fazenda nº 191/89; e

Circulares do Banco Central nºs 2.766/97, 2.769/97, 2.774/97, 2.797/97, 2.821/98,

2.861/99, 3.073/01, 3.084/02 e 3.085/02, entre outras.

A nova Lei de Consórcios consolidou essa vasta legislação, reafirmando,

em seu art. 6º e seguintes, o poder regulamentador do Banco Central, que permanece

responsável pela “normatização, coordenação, supervisão, fiscalização e controle das

atividades do sistema de consórcios ”, atualmente efetivados por intermédio das Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 4 de 38

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Circulares 3.432/09 e 3.433/09.

III. Da sujeição dos contratos de consórcio ao CDC

Mesmo antes da vigência da Lei nº 11.795/08, esta Corte já havia se

manifestado quanto à aplicabilidade do CDC “aos negócios jurídicos realizados entre as

empresas administradoras de consórcios e seus consumidores-administrados ” (REsp

541.184/PB, 3ª Turma, minha relatoria, DJ de 20.11.2006. No mesmo sentido: AgRg no

REsp 929.301/PR, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe de 10.09.2009; e REsp

595.964/GO, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 04.04.2005).

E nem poderia ser diferente, tendo em vista que o papel conferido às

sociedades administradoras – de reunir, organizar e gerir o grupo de consórcio, sendo

remunerada para a consecução de tais misteres, mediante cobrança da denominada taxa

de administração – lhe confere a condição de fornecedora.

O grupo consorciado se congrega de maneira ocasional e indireta. Não há

um liame espontâneo e duradouro, como se verifica nas associações (art. 53 do CC/02)

ou nas sociedades (art. 981 e seguintes, CC/02). Alexandre Malfatti, com propriedade, a

identifica como uma “reunião acidental – dentro de uma estratégia de mercado

conveniente para as partes e sem nenhuma confiança ou vínculo semelhante. E dos

interesses em jogo se desponta a clara vocação da administradora de consórcios de

fomentar a comercialização de determinados segmentos de produtos ou serviços ” (O

contrato de consórcio e o direito do consumidor, após a vigência da lei 11.795/2008. In

Revista de Direito do Consumidor, nº 70. São Paulo: RT, 2009, p. 13-14).

Assim, a participação das sociedades administradoras na relação jurídica

que exsurge da formação de um grupo de consórcio não é secundária, mas principal, na

medida em que cumpre a ela, entre outras coisas, (i) a captação, seleção e aproximação

dos integrantes do grupo; (ii) a gestão do fundo pecuniário do grupo; e (iii) a concessão

das cartas de crédito.

Nesse contexto, a cota de consórcio corresponde a um serviço prestado pela

sociedade administradora, consubstanciado numa participação oferecida no mercado de Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 5 de 38

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consumo, visando ao acúmulo de capital e à futura contemplação com um crédito, que

possibilitará a aquisição de um bem ou serviço de qualquer natureza.

Também a figura do consumidor é de fácil identificação nos contratos de

consórcio, seja na qualidade da pessoa física ou jurídica que adquire a cota de consórcio,

postando-se como consumidor final, de acordo com o art. 2º do CDC; seja na qualidade

de grupo consorciado, de consorciados clientes de uma mesma administradora ou até

mesmo de uma coletividade indeterminada de possíveis consorciados, todos

consumidores por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, do CDC.

Patente, portanto, a relação de consumo que se estabelece nos contratos de

consórcio, tendo como fornecedoras as sociedades administradoras e como consumidores

os consorciados, potenciais ou efetivos, individualmente considerados ou já reunidos em

grupo.

Agora, o art. 10 da Lei nº 11.795/08 torna tal relação ainda mais palpável,

definindo como sendo “de adesão ” o contrato de participação em grupo de consórcio.

Dessa forma, respeitadas as regras mínimas impostas pelo Banco Central, cumprirá à

sociedade administradora fixar as condições do contrato, daí aflorando a vulnerabilidade

do consorciado e a necessidade de que o instrumento seja regido pelo CDC, de modo a

salvaguardar o âmago da autonomia privada e garantir o equilíbrio da relação jurídica.

Finalmente, a corroborar a tese de incidência do CDC nos contratos de

consórcio, vale destacar a Mensagem 762/08 da Presidência da República, vetando

alguns dispositivos do projeto que resultou na Lei nº 11.795/08, fundamentado

justamente na incompatibilidade com o sistema constitucional de proteção ao consumidor

e com as normas de responsabilidade civil objetiva contidas na Lei Consumerista.

IV. Da relação entre consorciados e grupo consorciado

Do quanto exposto até aqui, não resta dúvida de que a relação jurídica entre

administradora e consorciados é de consumo.

Todavia, o contrato de consórcio é um instrumento plurilateral, que cria

vínculos obrigacionais entre três partes distintas: administradora, consorciados e grupo Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 6 de 38

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consorciado.

Assim, não se pode confundir os interesses da administradora com os

interesses do grupo de consórcio, sendo certo que na relação deste último com os

consorciados individualmente considerados não há de se cogitar a aplicação da Lei

Consumerista. Afinal, o grupo de consórcio representa nada mais do que a somatória dos

interesses e direitos da coletividade dos consorciados.

Nessa ordem de idéias, o art. 3º, § 2º, da Lei 11.795/08, dispõe que “o

interesse do grupo de consórcio prevalece sobre o interesse individual do consorciado ”.

Com isso, preserva-se a paridade entre os consorciados, impedindo que a

vontade isolada de um membro do grupo prevaleça sobre o interesse da coletividade,

sobretudo com vistas à proteção da poupança coletiva, vinculada à sua destinação final –

a aquisição de determinado bem ou serviço – de sorte a não frustrar a expectativa que

originou a própria formação do consórcio.

Na realidade, essa orientação já existia bem antes da edição da Lei nº

11.795/08. No julgamento do REsp 116.457, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

DJ de 19.05.1997; esta Corte já havia consignado que “a finalidade da formação do

grupo de consórcio é reunir esforços e recursos para a aquisição de bens, não devendo

sua finalidade ser desviada para transformar-se em meio de poupança daquele que, sem

vontade ou recursos para contribuir até o final à consecução do propósito comum,

retira-se a meio caminho, levando consigo os valores pagos”.

V. Da devolução dos valores pagos ao consorciado excluído

A partir do posicionamento supra, a jurisprudência há tempos assente no

STJ é de que, na hipótese de desistência do consorciado, a restituição das contribuições

por ele pagas seja feita apenas por ocasião do encerramento do grupo.

O passar dos anos, porém, vem mostrando que esse entendimento é incapaz

de solucionar a contento todas as controvérsias surgidas em torno do tema. O cerne desse

insucesso parece derivar do fato de que a regra foi fixada em bases gerais, sem abarcar

isoladamente as diversas situações que envolvem o desligamento do consorciado.Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 7 de 38

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Uma análise mais acurada do funcionamento do sistema de consórcios

permite vislumbrar circunstâncias em que a retirada do consorciado e a pronta restituição

dos valores por ele pagos não implica prejuízos ao grupo.

Não obstante a edição da Lei nº 11.795/08 tenha deixado passar em branco

a oportunidade ímpar de dar contornos finais ao impasse, prevendo expressamente a

forma de reembolso do consorciado dissidente, uma exegese sistemática da norma

permite extrair os anseios do legislador quanto a essa questão.

Inicialmente, há de se ter em mente que não é absoluta a regra segundo a

qual, diante de eventual conflito de interesses entre o grupo e um determinado

consorciado, o fiel da balança deve pender para o lado da coletividade. Essa regra cede

nas situações em que se constatar a violação de direitos tutelados pelo próprio

ordenamento jurídico em prol do consorciado individualmente considerado.

Assim é que, em relação à devolução das parcelas pagas, o art. 22, § 2º, da

Lei nº 11.795/08, dispõe que, além do consorciado ativo, também concorrerão à

contemplação os consorciados excluídos, “para efeito de restituição dos valores pagos”.

O art. 27, § 2º, por sua vez, prevê que, nos contratos em que for prevista a

constituição de um fundo de reserva, este será utilizado “inclusive para a restituição a

consorciado excluído ”.

Aliás, na própria Mensagem 762/08 da Presidência da República,

encontramos como justificativa para o veto dos §§ 1º a 3º do art. 29 da Lei nº 11.795/08,

a alegação de que “os dispositivos citados afrontam diretamente o artigo 51, IV, c/c art.

51, § 1o, III, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelecem regra geral

proibitória da utilização de cláusula abusiva nos contratos de consumo. Com efeito,

embora o consumidor deva arcar com os prejuízos que trouxer ao grupo de

consorciados, conforme § 2o do artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor, mantê-lo

privado de receber os valores vertidos até o final do grupo ou até sua contemplação é

absolutamente antijurídico e ofende o princípio da boa-fé, que deve prevalecer em

qualquer relação contratual. Ademais, a inteligência do Código de Defesa do

Consumidor é de coibir a quebra de equivalência contratual e considerar abusiva as

cláusulas que colocam o consumidor em 'desvantagem exagerada', tal como ocorre no Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 8 de 38

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caso presente. A devolução das prestações deve ser imediata, sob pena de impor ao

consumidor uma longa e injusta espera ”.

Há de se destacar, porém, que a conclusão de que essa devolução deve

sempre ser imediata é contraditória com a própria sistemática adotada pela Lei nº

11.795/08, que, como visto, autoriza que o consorciado excluído continue a participar

dos sorteios mensais “para efeito de restituição dos valores pagos”. Ora, se ao decidir

pelo veto parcial, a Presidência manteve a contemplação como uma das hipóteses de

devolução das parcelas pagas pelo consorciado retirante, é incoerente concluir que essa

restituição deva sempre ser imediata.

Também merece ponderação o argumento apresentado por parte da doutrina

para defender a devolução das parcelas somente ao final, no sentido de que, se de um

lado o afastamento do participante provoca a diminuição de ingresso de capital no grupo,

de outro lado fica reduzido o encargo do mesmo grupo, que terá de entregar um bem ou

serviço a menos.

Do ponto de vista exclusivamente pragmático o raciocínio pode convencer,

pois não cabe dúvida de que, mesmo com o desligamento de um dos consorciados, o

resultado final se manterá inalterado, isto é, cada integrante terá pago quantia

correspondente ao preço do bem ou serviço objeto do consórcio (considerando apenas as

contribuições para a conta destinada à aquisição do bem, ou seja, desprezando os valores

pagos a outros títulos, como taxa de administração e fundo de reserva) e, em

contrapartida, terá sido contemplado com este bem ou serviço.

Porém, não se pode esquecer que, reduzido o número de integrantes do

grupo, para que a arrecadação mensal seja mantida, os consorciados remanescentes serão,

a rigor, obrigados a aumentar sua contribuição, de modo a compensar o valor que deixa

de ser pago pelo consorciado excluído. Assim, ainda que a retirada de um consorciado

implique uma contemplação a menos, é precipitado afirmar que tal fato, por si só, não

acarreta prejuízo aos demais participantes do grupo.

Portanto, o desafio que se projeta na resolução da controvérsia é

compatibilizar a legislação aplicável às diversas hipóteses de desistência do consorciado,

de modo a fixar, para cada uma delas, o momento em que se dará a restituição das Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 1 9 de 38

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contribuições feitas, contemporizando os direitos e os interesses do grupo e dos

consorciados individualmente considerados.

Para tanto, algumas premissas hão de ser fixadas:

(i) as mensalidades pagas por cada consorciado são destinadas a, no

mínimo, duas contas distintas: (a) contribuição ordinária, para aquisição do bem ou

serviço (fundo comum) (art. 5º, II, da Circular nº 3.432/09 do BACEN); e (b) taxa de

administração (art. 5º, IV, da Circular nº 3.432/09 do BACEN). Podem, ainda, ser

contratualmente estipuladas outras duas contas: (c) fundo de reserva (art. 5º, V, da

Circular nº 3.432/09 do BACEN); e (d) seguro de vida (art. 5º, VII, 'a', da Circular nº

3.432/09 do BACEN);

(ii) enquanto a cota do consorciado excluído não for assumida por um

terceiro, a arrecadação mensal do fundo comum será deficitária, na medida em que a

conta não receberá numerário suficiente para aquisição do bem ou serviço daquele que

for contemplado;

(iii) o grupo possui alternativas para suprir a perda da parcela paga pelo

consorciado dissidente, sem a necessidade de majorar as contribuições mensais,

utilizando recursos provenientes: (a) do fundo de reserva (art. 14, I, da Circular nº

3.432/09 do BACEN); (b) de multas e juros de mora recebidos de consorciados

inadimplentes (art. 25, parágrafo único, da Lei nº 11.795/08); e (c) da aplicação

financeira do numerário existente no fundo comum (art. 25, parágrafo único, da Lei nº

11.795/08).

(iv) o princípio da boa-fé objetiva (art. 422 do CC/02) obriga a

administradora a envidar esforços máximos no reembolso do consorciado dissidente,

providenciando a restituição assim que houver recursos suficientes para tanto, desde que

não haja comprometimento da continuidade do grupo.

(v) o consorciado retirante ficará sujeito às penalidades contratuais

estipuladas para os casos de desligamento (art. 10, § 5º, Lei nº 11.795/08), bem como

indenizará os prejuízos suportados pelo grupo, sendo tais encargos descontados do valor

a restituir (art. 53, § 2º, do CDC).Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 0 de 38

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Fixadas essas premissas, cumpre avaliar os possíveis desfechos para o

desligamento antecipado de um consorciado.

(i) existência de reservas para reembolso

O contrato de participação pode prever contribuição a título de fundo de

reserva. De acordo com o art. 27, § 2º, da Lei nº 11.795/08, este fundo “somente poderá

ser utilizado para as finalidades previstas no contrato de participação, inclusive para

restituição a consorciado excluído ”.

O art. 14 da Circular nº 3.432/09 do BACEN enumera outras possíveis

destinações a serem dadas ao fundo de reserva: “I - cobertura de eventual insuficiência

de recursos do fundo comum; II - pagamento de prêmio de seguro para cobertura de

inadimplência de prestações de consorciados contemplados; III - pagamento de despesas

bancárias de responsabilidade exclusiva do grupo; IV - pagamento de despesas e custos

de adoção de medidas judiciais ou extrajudiciais com vistas ao recebimento de crédito

do grupo; V - contemplação, por sorteio, desde que não comprometida a utilização do

fundo de reserva para as finalidades previstas nos incisos I a IV”.

Seja como for, além de outras destinações que o contrato venha a dar para o

fundo de reserva, a lei prevê expressamente que este seja utilizado para reembolso do

consorciado dissidente.

Além disso, dispõe o art. 25, parágrafo único, da Lei nº 11.795/08, que “o

fundo comum é constituído pelo montante de recursos representados por prestações

pagas pelos consorciados para esse fim e por valores correspondentes a multas e juros

moratórios destinados ao grupo de consórcio, bem como pelos rendimentos provenientes

de sua aplicação financeira ”.

Portanto, além das contribuições mensais dos consorciados, o fundo mútuo

é alimentado: (i) por encargos moratórios eventualmente pagos por integrantes

inadimplentes, e (ii) pela remuneração auferida com a aplicação dos recursos existentes

na conta.Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 1 de 38

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Assim, havendo reserva de recursos e ausente circunstância de maior

urgência ou relevo que justifique a sua utilização, deve o numerário ser destinado à

restituição do consorciado retirante, sem que isso implique prejuízos ao grupo.

Evidentemente, na hipótese de coexistirem causas que justifiquem o uso das reservas,

sobressairá o interesse coletivo do grupo, mas desde que tal interesse se mostre ao menos

tão iminente e relevante quanto o reembolso imediato do consorciado excluído.

Dentre as eventuais situações de interesse para o grupo é possível desde já

antever a necessidade de utilização das reservas para fazer frente à queda da arrecadação

mensal proveniente da redução de consorciados, conforme faculta o art. 14, I, da Circular

nº 3.432/09 do BACEN.

Nessa hipótese, não sendo as reservas suficientes para efetuar o reembolso

e compensar o deficit de arrecadação, prevalecerá o interesse do grupo, até porque o

equilíbrio do fundo mútuo vem também em benefício do consorciado dissidente, que não

terá de indenizar os prejuízos derivados da insuficiência de arrecadação mensal.

Acrescente-se, nesse ponto, o dever da administradora, nos termos do art.

6º, III, do CDC, de manter o consorciado desistente informado acerca da disponibilidade

de recursos do grupo e do consequente direito ao reembolso das parcelas pagas.

Esse direito também assiste ao grupo consorciado, por intermédio de seus

representantes, que, de acordo com o art. 17, parágrafo único, da Lei nº 11.795/08, terão

“acesso a todos os documentos e demonstrativos pertinentes às operações do grupo,

podendo solicitar informações (...)”.

Portanto, cumpre à sociedade administradora atuar com lisura e

transparência frente aos consorciados, inclusive os excluídos, sempre tendo em vista a

preservação e o respeito dos direitos e interesses destes, bem como agir de maneira a

priorizar o reembolso dos valores pagos.

(ii) transferência da cota do consorciado para terceiro

De acordo com o art. 13 da Lei nº 11.795/08 “os direitos e obrigações

decorrentes do contrato de participação em grupo de consórcio, por adesão, poderão ser Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 2 de 38

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transferidos a terceiros, mediante prévia anuência da administradora ”.

Conforme anota Maria Helena Diniz, “a reunião de recursos conduz à

criação de fundo comum em condomínio aberto, pois os consorciados poderão transferir

seus direitos a outros que ingressarão no grupo, uma vez que haverá permissão para

movimentação das cotas, que são suscetíveis de integrar o comércio em geral” (Tratado

teórico e prático dos contratos, vol. 04, 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 262).

A ABAC – Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio

identifica duas hipóteses de cessão: (i) direta pelo consorciado, denominada “cota de

transferência”; e (ii) por intermédio da sociedade administradora, chamada de “cota de

reposição”.

Independentemente da forma como se de a cessão da cota, o art. 31 da

Circular nº 3.432/09 do BACEN estabelece que o consorciado admitido em grupo em

andamento deve “realizar o pagamento integral das obrigações no prazo remanescente

para o término do grupo”.

Em outras palavras, no termo restante para encerramento do consórcio, o

novo consorciado deverá não apenas pagar as parcelas vincendas, mas também valor

correspondente às parcelas vencidas, de modo a compensar o grupo pelo valor a ser

devolvido ao consorciado dissidente.

Nessa situação, a restituição deverá ser feita tão-logo o novo consorciado

recolha, a título de obrigações vencidas, valor equivalente ao crédito do consorciado

desistente, já descontadas as despesas inerentes à cessão da cota, penalidades contratuais

aplicáveis e a indenização por eventuais danos sofridos pelo grupo em virtude do

desligamento.

Importante gizar que o quantum pago pelo novo consorciado a título de

obrigações vencidas deve reverter integralmente para o reembolso do consorciado

retirante, pois, na prática, corresponde à contraprestação pela cessão da cota. Assim, esse

montante não pode ser destinado à quitação de outras despesas, ainda que de maior

urgência ou relevância, salvo se os valores devidos ao consorciado dissidente já tiverem

sido restituídos pelo grupo com recursos próprios. A utilização desse numerário para

outras finalidades caracterizaria o enriquecimento sem causa do grupo, que estaria Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 3 de 38

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recebendo em dobro o valor correspondente às parcelas já pagas pelo consorciado

desistente.

Acrescente-se, mais uma vez, o dever da administradora de manter o

consorciado desistente informado acerca do ingresso de terceiro para substituí-lo no

grupo, atuando de forma a priorizar o reembolso das parcelas pagas.

Nesse contexto, as exigências apresentadas pela administradora para anuir

com a admissão do novo consorciado devem ser as mesmas impostas aos demais

integrantes do grupo, de modo a não tornar a cessão de cotas excessivamente difícil.

(iii) contemplação do consorciado desistente

Existe, ainda, a possibilidade do consorciado excluído vir a ser

contemplado, hipótese em que, nos termos do art. 22, § 2º, da Lei nº 11.795/08, fará jus à

restituição dos valores pagos.

A contemplação possibilita, em princípio, o restabelecimento do equilíbrio

econômico-financeiro do fundo comum, tendo em vista que, de acordo com o art. 24, §

3º, da Lei nº 11.795/08, a devolução das parcelas pagas pelo consorciado excluído “será

considerada crédito parcial ”.

Em outras palavras, no mês em que o consorciado dissidente é excluído, há

uma sobra de caixa para a conta do fundo comum, pois o valor a ser reembolsado (crédito

parcial) será inferior ao arrecadado (correspondente ao preço integral de um bem ou

serviço objeto do consórcio). Essa diferença entre valor devolvido e valor auferido, salvo

despesas extraordinárias, equivalerá exatamente às parcelas que o consorciado retirante

deixou em aberto.

Entretanto, para que a inexistência de prejuízos ao grupo seja certa, a

contemplação do consorciado excluído teria de ocorrer no próprio mês de seu

desligamento, hipótese em que o reembolso das parcelas fica sujeito apenas ao desconto

das penalidades contratualmente previstas. Não sendo esse o caso, o consorciado terá de

indenizar também os danos eventualmente suportados pelo grupo até que haja a sua

contemplação.Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 4 de 38

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VI. Dos prejuízos decorrentes do desligamento antecipado de

consorciados

Ainda com base nas premissas fixadas linhas acima, há de se analisar os

prejuízos a que fica sujeito o grupo em virtude da saída de um de seus consorciados.

Nesse aspecto, impende registrar que, mesmo não havendo a pronta

substituição do consorciado, nem sempre o seu desligamento acarreta danos ao grupo.

Isso porque, como visto, o grupo pode ter outras fontes de renda e garantias que revertam

para a compensação da queda de arrecadação do fundo mútuo, quais sejam: (i) encargos

moratórios pagos por integrantes inadimplentes (art. 25, parágrafo único, primeira parte,

da Lei nº 11.795/08), (ii) remuneração auferida com a aplicação das contribuições pagas

pelos consorciados (art. 25, parágrafo único, primeira parte, da Lei nº 11.795/08); e (iii)

fundo de reserva (art. 27, § 2º, da Lei nº 11.795/08).

Dessa forma, mesmo com a saída de um consorciado, o grupo pode, ao

menos num primeiro momento, ter recursos suficientes para suprir a queda de

arrecadação. Sendo esse o caso, não haverá de se cogitar de prejuízo financeiro ao grupo,

a ser indenizado pelo consorciado dissidente.

VII. Da atualização dos valores a serem reembolsados

O art. 30 da Lei nº 11.795/08 estabelece que o valor reembolsado ao

consorciado seja “acrescido dos rendimentos da aplicação financeira a que estão

sujeitos os recursos dos consorciados enquanto não utilizados pelo participante ”.

Assim, os valores a serem restituídos ao consorciado dissidente serão

atualizados com base na remuneração conferida aos recursos do grupo, ficando sujeitos

também a juros de mora, caso o reembolso não seja feito dentro do prazo legal.

Na hipótese de contemplação do consorciado retirante, o prazo de

restituição será de 03 dias úteis, contados do sorteio, nos termos do art. 11 da Circular nº

3.432/09 do BACEN.Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 5 de 38

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Não obstante a legislação vigente não preveja um prazo para o reembolso:

(i) decorrente da disponibilidade de recursos do grupo; e (ii) das cotas de transferência e

reposição; há de se aplicar, por analogia, o prazo supra de 03 dias úteis, porém contado,

respectivamente: (i) do dia em que houver a disponibilidade de recursos; ou (ii) do

recolhimento pelo novo consorciado, a título de obrigações vencidas, de valor

equivalente ao crédito do consorciado desistente.

VIII. Dos contratos de consórcio anteriores à Lei nº 11.795/08

Apesar da jurisprudência deste STJ antes do advento da Lei nº 11.795/08

ser assente no sentido de que a devolução das parcelas pagas pelo consorciado dissidente

fosse feita apenas ao final, uma análise aprofundada da legislação então em vigor permite

temperar tal entendimento.

Com efeito, é possível identificar nas normas que regiam o sistema de

consórcios antes da Lei nº 11.795/08, uma série de dispositivos que se assemelham

bastante com as regras atualmente vigentes.

Nesse sentido, vale destacar a existência, na Circular nº 2.766/97 do

BACEN, de previsão relativa: (i) à prevalência dos interesses do grupo sobre interesses

individuais dos consorciados (art. 1º, § 6º); (ii) ao fato do contrato de ingresso em grupo

de consórcio ser de adesão (art. 3º, caput ); (iii) à devolução dos valores pagos pelo

consorciado dissidente, acrescida dos rendimentos obtidos com a aplicação financeira do

fundo comum (arts. 3º, XIV e 4º, § 2º); (iv) à possibilidade de cobrança do fundo de

reserva (art. 12, § 1º); (v) à substituição de consorciado excluído (art. 23).

A partir desse contexto normativo é que se deve analisar a exclusão de

consorciados vinculados a contratos celebrados antes da entrada em vigor da Lei nº

11.795/08.

(i) Da restituição de valores ao consorciado excluído

Com base na legislação anterior, é possível vislumbrar três situações Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 6 de 38

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distintas para a restituição de valores ao consorciado dissidente.

A primeira delas se dá com a existência de recursos em caixa suficientes

para o imediato reembolso do consorciado desistente. Mesmo antes do advento da Lei nº

11.945/08, o grupo podia ter outras fontes de renda e garantias para reembolso do

consorciado retirante ou para compensação da queda de arrecadação do fundo mútuo.

De acordo com o art. 4º, § 2º, da Circular nº 2.766/97 do BACEN, os

valores pagos pelos consorciados deveriam ser “aplicados financeiramente junto aos

recursos do fundo comum do grupo, revertendo para esse fundo o rendimento financeiro

líquido dessas aplicações ”.

Ademais, nos termos do art. 13 da Circular nº 2.766/97 do BACEN, 50%

dos valores percebidos a título de multa e juros moratórios reverteriam em benefício do

grupo.

Por fim, o art. 12, § 1º da Circular nº 2.766/97 do BACEN previa a

possibilidade de cobrança do fundo de reserva, cujas finalidades deveriam estar

expressamente previstas no contrato.

Dessa forma, mostrando-se as reservas do grupo suficientes para fazer

frente ao reembolso do consorciado excluído, havendo previsão contratual nesse sentido

em relação ao fundo de reserva e não sendo necessário destinar esse numerário para

finalidade mais urgente ou relevante, de interesse coletivo do grupo, a restituição deverá

ser imediata.

Em segundo lugar, é possível o ingresso de terceiro para substituir o

consorciado retirante, hipótese em que, recolhido pelo novo consorciado, a título de

obrigações vencidas, valor equivalente ao crédito do consorciado desistente, surge o

dever de reembolso.

Em terceiro lugar, na impossibilidade de cessão da cota a terceiro e não

havendo recursos suficientes para restituir as parcelas pagas, a devolução somente se dará

por ocasião do encerramento do grupo, pois, antes da edição da Lei nº 11.795/08, não

havia previsão de contemplação de consorciado excluído.

Não é demais repisar que, em todas as situações de reembolso, do quantum

a ser devolvido serão abatidas as penalidades contratuais e os prejuízos eventualmente Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 7 de 38

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sofridos pelo grupo.

(ii) Dos prejuízos decorrentes do desligamento antecipado de

consorciados

Quanto aos prejuízos decorrentes do desligamento de um dos consorciados,

cumpre frisar, mais uma vez, que isso nem sempre implica prejuízos ao grupo, que, como

visto no item anterior, poderá ter outras fontes de renda para fazer frente à queda de

arrecadação. Nessa situação, não haverá dano a ser indenizado pelo consorciado

dissidente.

(iii) atualização dos valores a serem reembolsados

Consoante entendimento pacificado pelas Turmas que compõem esta 2ª

Seção, ainda sob a égide da legislação antiga, a devolução “far-se-á até trinta dias após o

encerramento do plano, correndo os juros dessa data e a correção monetária de cada

desembolso ” (REsp 612.438/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito,

DJ de 19.06.2006. No mesmo sentido: REsp 486.210/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir

Passarinho Junior, DJ de 10.10.2005. AgRg no Ag 353.695/PR, 3ª Turma, minha

relatoria, DJ de 11.06.2001).

Inicialmente, há de se destacar que os valores a serem devolvidos não estão

sujeitos apenas à correção monetária. Da análise combinada dos arts. 3º, XIV e 4º, § 2º,

da Circular nº 2.766/97 do BACEN, essa restituição deve ser acrescida dos mesmos

rendimentos obtidos com a aplicação financeira do fundo comum.

O prazo de 30 dias, no entanto, há de ser mantido, ante à ausência de

dispositivo legal vigente à época dispondo de modo contrário, bem como porque,

compulsando os precedentes relativos ao tema, constata-se ser esse prazo a praxe

contratual de então.

Nas hipóteses em que o reembolso decorrer: (i) de disponibilidade de

recursos do grupo; ou (ii) da cessão da cota do dissidente para novo consorciado, o dies a Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 8 de 38

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quo desse prazo será, respectivamente: (i) o dia em que houver a disponibilidade de

recursos; e (ii) o recolhimento pelo novo consorciado, a título de obrigações vencidas, de

valor equivalente ao crédito do consorciado desistente.

IX. Conclusão

Do quanto exposto e para efeitos da tese a ser estabelecida para efeitos do

art. 543-C do CPC, conclui-se que a devolução dos valores pagos por consorciado

excluído deve obedecer as regras abaixo.

Para os contratos anteriores à vigência da Lei nº 11.945/08:

(i) assim que o grupo tiver em caixa disponibilidade de recursos, ausente

circunstância de maior urgência ou relevo que justifique a sua utilização, deve o

numerário ser destinado à imediata restituição do consorciado excluído, que ficará sujeito

às penalidades contratuais aplicáveis;

(ii) havendo a cessão da cota para terceiro, mediante prévia anuência da

administradora, o reembolso ocorrerá assim que o novo consorciado recolher, a título de

obrigações vencidas, valor equivalente ao crédito a ser restituído, sem prejuízo de

abatimento relativo às despesas inerentes à transferência, penalidades contratuais

aplicáveis e de indenização por eventuais danos sofridos pelo grupo em virtude do

desligamento;

(iii) sendo impossível ceder a cota do consorciado excluído para terceiro e

não tendo o grupo recursos suficientes para antecipar a devolução dos valores pagos, a

restituição se dará por ocasião do encerramento do grupo;

(iv) os valores a serem restituídos serão atualizados com base na

remuneração conferida às aplicações financeiras dos recursos do grupo, ficando sujeitos a

juros de mora caso o reembolso não seja feito dentro do prazo legal;

(v) o prazo para restituição dos valores pagos será de 30 dias, contados: (a)

do dia em que houver a disponibilidade de numerário, se o reembolso for feito com

recursos do próprio grupo; (b) do recolhimento pelo novo consorciado, a título de Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 2 9 de 38

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obrigações vencidas, de valor equivalente ao crédito do consorciado desistente, na

hipótese da cessão da cota; e (c) do encerramento do grupo, se não for possível a cessão

da cota nem a antecipação do reembolso.

Para os contratos posteriores à vigência da Lei nº 11.945/08:

(i) assim que o grupo tiver em caixa disponibilidade de recursos, ausente

circunstância de maior urgência ou relevo que justifique a sua utilização, deve o

numerário ser destinado à imediata restituição do consorciado excluído, que ficará sujeito

às penalidades contratuais aplicáveis;

(ii) havendo a cessão da cota para terceiro, mediante prévia anuência da

administradora, o reembolso ocorrerá assim que o novo consorciado recolher, a título de

obrigações vencidas, valor equivalente ao crédito a ser restituído, sem prejuízo de

abatimento relativo às despesas inerentes à transferência, penalidades contratuais

aplicáveis e de indenização por eventuais danos sofridos pelo grupo em virtude do

desligamento;

(iii) se o consorciado excluído for contemplado no próprio mês do

desligamento, o reembolso dos valores por este pagos deve ser imediato, descontadas

apenas as penalidades contratuais aplicáveis. Sendo a contemplação posterior à sua

retirada, o consorciado terá de indenizar também os danos eventualmente suportados pelo

grupo até que haja o seu sorteio;

(iv) os valores a serem restituídos serão atualizados com base na

remuneração conferida às aplicações financeiras dos recursos do grupo, ficando sujeitos a

juros de mora caso o reembolso não seja feito dentro do prazo legal;

(v) o prazo para restituição dos valores pagos será de 03 dias úteis,

contados: (a) do dia em que houver a disponibilidade de numerário, se o reembolso for

feito com recursos do próprio grupo; (b) do recolhimento pelo novo consorciado, a título

de obrigações vencidas, de valor equivalente ao crédito do consorciado desistente, na

hipótese da cessão da cota; e (c) do sorteio, na hipótese de contemplação.

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 0 de 38

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X. Julgamento do recurso representativo

Inicialmente, considerando que a ação que deu origem ao presente recurso

foi ajuizada no ano de 2006 (fls. 03, e-STJ), é forçoso concluir que o contrato objeto da

controvérsia foi firmado antes da vigência da Lei nº 11.795/08.

A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, para

declarar rescindido o contrato e condenar a recorrente à imediata devolução dos valores

pagos, descontada a taxa de administração de 10% e os valores atinentes ao seguro de

vida, acrescido de juros de 1% ao mês, a contar da citação, e de correção monetária pelo

IGP-M, desde cada desembolso.

O TJ/RS, por sua vez, deu parcial provimento à apelação da recorrente,

apenas para autorizar que, do quantum a ser restituído, seja abatido o valor relativo à taxa

de inscrição, bem como para manter a taxa de administração conforme prevista no

contrato firmado entre as partes.

Assim, o recurso especial há de ser parcialmente provido para, com base

nos fundamentos e conclusões contidos nos itens anteriores, determinar seja a restituição

feita: (i) assim que o grupo tiver em caixa disponibilidade de recursos, ausente

circunstância de maior urgência ou relevo que justifique a sua utilização; (ii) havendo a

cessão da cota para terceiro, assim que o novo consorciado recolher, a título de

obrigações vencidas, valor equivalente ao crédito a ser restituído; ou (iii) por ocasião do

encerramento do grupo; aquilo que ocorrer primeiro.

Em qualquer hipótese, o crédito a ser restituído equivalerá às parcelas pagas

pelo recorrido, acrescida de atualização com base na remuneração conferida às aplicações

financeiras dos recursos do grupo e descontadas as penalidades contratuais aplicáveis,

despesas de transferência da cota, bem como indenização por outros eventuais prejuízos

suportados pelo grupo em virtude do desligamento do recorrido.

Decorrido mais de 30 dias do evento que justificar o reembolso do

recorrido, o montante a ser restituído deverá ser acrescido de juros moratórios de 1% ao

mês.Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 1 de 38

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Forte em tais razões, peço vênia para divergir do voto do i. Min. Relator,

dando PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial, para determinar que a restituição

dos valores pagos por LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES seja feita: (i) assim

que o grupo tiver em caixa disponibilidade de recursos, ausente circunstância de maior

urgência ou relevo que justifique a sua utilização; (ii) havendo a cessão da cota para

terceiro, assim que o novo consorciado recolher, a título de obrigações vencidas, valor

equivalente ao crédito a ser restituído; ou (iii) por ocasião do encerramento do grupo;

aquilo que ocorrer primeiro. Em qualquer hipótese, o crédito a ser restituído equivalerá às

parcelas pagas pelo recorrido, acrescida de atualização com base na remuneração

conferida às aplicações financeiras dos recursos do grupo e descontadas as penalidades

contratuais aplicáveis, despesas de transferência da cota, bem como indenização por

outros eventuais prejuízos suportados pelo grupo em virtude do desligamento do

recorrido. Decorrido mais de 30 dias do evento que justificar o reembolso do recorrido, o

montante a ser restituído deverá ser acrescido de juros moratórios de 1% ao mês, tudo a

ser devidamente apurado em sede de liquidação de sentença.

Diante da sucumbência recíproca, as custas processuais e os honorários

advocatícios serão suportados à proporção de 50% para cada parte, mantidos os valores

das verbas fixadas na sentença. Em relação ao recorrido, a exigibilidade de pagamento

fica suspensa enquanto perdurarem os benefícios da justiça gratuita.

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 2 de 38

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

QUESTÃO DE ORDEM

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente,

entendo como o Sr. Ministro Sidnei Beneti, vamos nos centrar no repetitivo,

que não tem tese relativa à lei nova; depois, julga-se a reclamação. Aí é outro

problema. Mas o repetitivo é esse do Sr. Ministro Luiz Felipe Salomão, sob a

lei antiga. Vamos nos circunscrever a esse julgamento.

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 3 de 38

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

QUESTÃO DE ORDEM

VOTO

EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR: Sr.

Presidente, em tese, eu estaria com o Sr. Ministro Fernando Gonçalves, mas vejo que a

situação é realmente atípica. E, além de poder gerar, eventualmente, uma certa

confusão em relação ao tratamento dos dois diplomas legais, penso que temos – eu,

pelo menos – condições de decidir isso aqui, hoje e agora, se se passar para o exame

do mérito.

Estou em aproveitar a oportunidade e julgar no repetitivo, pelo menos

abordar o tema.

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

QUESTÃO DE ORDEM

O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA:

VOTO VENCIDO

Sr. Presidente, entendo que a lei federal é lei como o é a Constituição. Considero

importante que o Superior Tribunal de Justiça, quando possível, exerça o relevante papel que lhe

foi atribuído pela Constituição Federal e dê a última interpretação acerca da legislação

infraconstitucional. Lembro que os consórcios representam milhares e milhares de contratos por

esse Brasil afora, e isso teria o condão de orientar os Tribunais estaduais, os Tribunais Regionais

e, quiçá, os Juizados Especiais. Estaríamos já antecipando uma decisão que propiciaria

segurança jurídica tanto aos consumidores quanto aos administradores. Considero muito salutar

que possamos ter a oportunidade de sanar de vez essa questão.

Acompanho o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior e a Sra. Ministra Nancy

Andrighi.

É como voto.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS (2009/0013327-2)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃORECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS

LTDA ADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA

JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA) (Relator):

Sr. Presidente, entendo que a situação jurídica concreta que se discute nesse repetitivo é apenas uma situação sob a ótica da lei antiga.

Então, penso que devemos julgar apenas essa situação a que se circunscreve o repetitivo. Estou com o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOSEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2009/0013327-2 REsp 1119300 / RS

Números Origem: 10600041487 70024188369 70026195602 70027479906

PAUTA: 24/02/2010 JULGADO: 14/04/2010

RelatorExmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. WASHINGTON BOLIVAR DE BRITO JUNIOR

SecretárioBel. RICARDO MAFFEIS MARTINS

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : RODOBENS ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDAADVOGADO : ROBERTO LOPES DA SILVA E OUTRO(S)RECORRIDO : LUIZ CARLOS CASSIANO RODRIGUES (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA)ADVOGADO : PAULA CAMUNELLO SOARES

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Consórcio

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Prosseguindo o julgamento, a Sra. Ministra Nancy Andrighi proferiu voto-vista antecipado, dando parcial provimento ao recurso, mas divergindo, em parte, do Sr. Ministro Relator, quanto à tese.

Em Questão de Ordem, a Seção, por maioria, decidiu limitar o julgamento à tese do recurso repetitivo considerando-se apenas a lei anterior, vencidos os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha.

No mérito, a Seção, por maioria, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, vencida parcialmente a Sra. Ministra Nancy Andrighi, que fará declaração de voto.

Para os efeitos de recurso repetititivo, é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano.

Os Srs. Ministros Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 7 de 38

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Brasília, 14 de abril de 2010

RICARDO MAFFEIS MARTINSSecretário

Documento: 947331 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 27/08/2010 Página 3 8 de 38