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Súmula 584-STJ Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Súmula 584-STJ Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO TRIBUTÁRIO COFINS Alíquota de 4% da COFINS não abrange sociedades corretoras de seguros Súmula 584-STJ: As sociedades corretoras de seguros, que não se confundem com as sociedades de valores mobiliários ou com os agentes autônomos de seguro privado, estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei n. 8.212/1991, não se sujeitando à majoração da alíquota da Cofins prevista no art. 18 da Lei n. 10.684/2003. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/12/2016. Lei nº 10.684/2003 A Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS de 3% para 4% para determinados contribuintes: Art. 18. Fica elevada para quatro por cento a alíquota da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS devida pelas pessoas jurídicas referidas nos §§ 6º e 8º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998. Lei nº 9.718/98 O § 6º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, por sua vez, remete ao § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212/91. O § 8º fala em pessoas jurídicas que tenham por objeto a securitização de créditos imobiliários, financeiros e agrícolas. Veja: § 6º Na determinação da base de cálculo das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS, as pessoas jurídicas referidas no § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, além das exclusões e deduções mencionadas no § 5º, poderão excluir ou deduzir: (...) § 8º Na determinação da base de cálculo da contribuição para o PIS/PASEP e COFINS, poderão ser deduzidas as despesas de captação de recursos incorridas pelas pessoas jurídicas que tenham por objeto a securitização de créditos: I - imobiliários, nos termos da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997; II - financeiros, observada regulamentação editada pelo Conselho Monetário Nacional; III - agrícolas, conforme ato do Conselho Monetário Nacional. Conjugando os dispositivos acima listados, pode-se concluir que o art. 18 da Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS para as entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. São elas: bancos comerciais; bancos de investimentos; bancos de desenvolvimento; caixas econômicas; sociedades de crédito, financiamento e investimento; sociedades de crédito imobiliário; sociedades corretoras; distribuidoras de títulos e valores mobiliários; empresas de arrendamento mercantil;

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Súmula 584-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Súmula 584-STJ Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO TRIBUTÁRIO

COFINS Alíquota de 4% da COFINS não abrange sociedades corretoras de seguros

Súmula 584-STJ: As sociedades corretoras de seguros, que não se confundem com as sociedades de valores mobiliários ou com os agentes autônomos de seguro privado, estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei n. 8.212/1991, não se sujeitando à majoração da alíquota da Cofins prevista no art. 18 da Lei n. 10.684/2003.

STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/12/2016.

Lei nº 10.684/2003 A Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS de 3% para 4% para determinados contribuintes:

Art. 18. Fica elevada para quatro por cento a alíquota da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social — COFINS devida pelas pessoas jurídicas referidas nos §§ 6º e 8º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998.

Lei nº 9.718/98 O § 6º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, por sua vez, remete ao § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212/91. O § 8º fala em pessoas jurídicas que tenham por objeto a securitização de créditos imobiliários, financeiros e agrícolas. Veja:

§ 6º Na determinação da base de cálculo das contribuições para o PIS/PASEP e COFINS, as pessoas jurídicas referidas no § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, além das exclusões e deduções mencionadas no § 5º, poderão excluir ou deduzir: (...)

§ 8º Na determinação da base de cálculo da contribuição para o PIS/PASEP e COFINS, poderão ser deduzidas as despesas de captação de recursos incorridas pelas pessoas jurídicas que tenham por objeto a securitização de créditos: I - imobiliários, nos termos da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997; II - financeiros, observada regulamentação editada pelo Conselho Monetário Nacional; III - agrícolas, conforme ato do Conselho Monetário Nacional.

Conjugando os dispositivos acima listados, pode-se concluir que o art. 18 da Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS para as entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. São elas:

bancos comerciais;

bancos de investimentos;

bancos de desenvolvimento;

caixas econômicas;

sociedades de crédito, financiamento e investimento;

sociedades de crédito imobiliário;

sociedades corretoras;

distribuidoras de títulos e valores mobiliários;

empresas de arrendamento mercantil;

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cooperativas de crédito;

empresas de seguros privados e de capitalização;

agentes autônomos de seguros privados e de crédito; e

entidades de previdência privada abertas e fechadas.

Tese da Fazenda Nacional A Fazenda Nacional defendeu a tese de que a alíquota majorada de 4% de COFINS deveria ser aplicada também para as sociedades corretoras de seguros. O Fisco alegava dois argumentos: 1) sociedade corretora de seguro é uma espécie do gênero “sociedades corretoras” e esta última expressão consta expressamente na lista do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91; 2) caso assim não se entenda, as sociedades corretoras deverão pagar a alíquota de 4% porque são equiparadas a “agentes autônomos de seguros privados”, que estão presentes na lista.

Os argumentos da Fazenda Nacional foram acolhidos pelo STJ? As sociedades corretoras de seguros estão incluídas no rol do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91? As sociedades corretoras de seguros sofreram aumento da alíquota da COFINS promovida pelo art. 18 da Lei nº 10.684/2003? NÃO. As "sociedades corretoras de seguros" estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. Assim, o aumento de 3% para 4% da alíquota da COFINS promovido pelo art. 18 da Lei nº 10.684/2003 não alcança as sociedades corretoras de seguros. A lista do art. 22, § 1º da Lei nº 8.212/91 inclui “sociedades corretoras” e “agentes autônomos de seguros privados”. No entanto, estas duas expressões não abrangem as sociedades corretoras de seguros.

“Sociedades corretoras” X sociedades corretoras de seguros Quando o art. 22, § 1º fala em “sociedades corretoras” a expressão ali empregada está restrita às “sociedades corretoras de valores mobiliários” regidas pela Resolução BACEN n. 1.655/89. Essa conclusão se extrai pelo fato de o legislador ter listado uma série de empresas pertencentes ao sistema financeiro e, dentre elas, incluiu as sociedades corretoras.

“Agentes autônomos de seguros privados” X sociedades corretoras de seguros Também não se pode dizer que “sociedades corretoras de seguros” são equiparadas a “agentes autônomos de seguros privados”. As atividades desempenhadas possuem natureza diferente:

Sociedades corretoras de seguros Agentes autônomos de seguros privados

Têm por função fazer a intermediação a fim de permitir que terceiros celebrem contratos de seguro com a seguradora, atuando no interesse dos segurados. Sua comissão é paga pelo segurado, em percentual calculado sobre o prêmio, e não pela seguradora.

São pessoas físicas ou jurídicas representantes da seguradora e autorizadas a intermediar operações de seguro diretamente com os interessados. O agente de seguros tem interesse direto na colocação de determinadas apólices de seguros, as quais são emitidas pela seguradora que ele representa e de cuja venda sai sua remuneração.

Não possuem relação empregatícia, societária ou de subordinação com as seguradoras.

São representantes da seguradora.

Seu contrato com o cliente é o de corretagem regido pelo art. 722, do CC.

Sua relação com a seguradora rege-se pelo contrato de agência, previsto no art. 710, do CC.

Assim, por ausência de enquadramento legal, as "sociedades corretoras de seguros" estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. REsp 1.391.092-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 22/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 576).