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SUMÁRIO

DIREITO PENALProf. Viviane Kaliny

DIREITO PROCESSUAL PENALProf. Viviane Kaliny

DIREITO CONSTITUCIONALProf. Leda Siqueira

DIREITO ELEITORALProf. Leda Siqueira

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DIREITO PENALPROF. VIVIANE KALINY

01- QUESTÃO

Acerca da Legislação Especial Penal, assinale a alternativa incorreta:

a) O art. 1º da Lei nº 9.296/96 não fixa regra de competência, mas sim reserva de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações. Em outras palavras, ele não trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a interceptação deve ser decretada pelo magistrado.b) A conduta de portar granada de gás lacrimogênio ou granada de gás de pimenta se ao delito previsto no art. 16, parágrafo único, III, da Lei nº 10.826/2003.c) O uso de transporte público com a única finalidade de levar a droga ao destino, de forma oculta, sem o intuito de disseminá-la entre os passageiros ou frequentadores do local, não implica a incidência da causa de aumento do inciso III do artigo 40 da Lei n º 11.343/2006.d) Ao contrário do que ocorre nos crimes de receptação e de favorecimento real, é possível o autor do crime antecedente responder pelo crime de lavagem de capitais, ou seja, é possível a autolavagem. e) O sujeito passivo da violência doméstica objeto da Lei Maria da Penha é a mulher, já o sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação.

RESPOSTA: Alternativa B.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Nos termos do art. 1º da Lei nº 9.296/96, verbis:

“Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.”

O Supremo Tribunal Federal, dando interpretação a esse dispositivo, firmou o entendimento de que a Lei nº 9.296/96 não fixa regra de competência, mas sim reserva de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações. Em outras palavras, ela não trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a interceptação deve ser decretada pelo magistrado (STF. 2ª Turma. HC 126536/ES, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 1º/3/2016 -Info 816).

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Diante disso, para a Corte Suprema, é possível a divisão de tarefas entre juízes que atuam na fase de inquérito e na fase da ação penal. Assim, um juiz pode atuar na fase pré-processual decretando medidas que dependam da intervenção do Poder Judiciário, como a interceptação telefônica, mesmo que ele não seja o competente para julgar a ação penal que será proposta posteriormente.

É perfeitamente cabível a Lei Orgânica especializar a Vara de Inquéritos Criminais para a realização de providências anteriores ao oferecimento da denúncia, aí se compreendendo todas as medidas jurisdicionais dessa fase. Trata-se de medida lícita e até recomendável, por tornar mais fortes as garantias de imparcialidade do processo acusatório.

A alternativa A, portanto, está correta, e não deve ser assinalada.

Alternativa B: O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1627028/SP, da relatoria da Min. Maria Thereza de Assis Moura, decidiu que “a conduta de portar granada de gás lacrimogênio ou granada de gás de pimenta não se subsome (amolda) ao delito previsto no art. 16, parágrafo único, III, da Lei nº 10.826/2003. Isso porque elas não se enquadram no conceito de artefatos explosivos.” (6ª Turma. REsp 1627028/SP, julgado em 21/02/2017 -Info 599).

Consta no voto da Relatora que a Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e Outros Materiais Correlatos conceitua o termo “explosivos” como:

”... toda substância ou artigo produzido, fabricado ou utilizado para produzir uma explosão, detonação, propulsão ou efeito pirotécnico, excetuando-se: a. substâncias e artigos que não são explosivos em si mesmos; ou b. substâncias e artigos mencionados no anexo desta Convenção. ANEXO O termo ‘explosivos’ não inclui: gases comprimidos; líquidos inflamáveis; artefatos ativados por explosivos, tais como bolsas de ar de segurança (air bags) e extintores de incêndio; artefatos ativados por propulsores, tais como cartuchos para disparar pregos; fogos de artifício adequados para uso por parte do público e projetados principalmente para produzir efeitos visíveis ou audíveis por meio de combustão, que contenham compostos pirotécnicos e que não projetem nem dispersem fragmentos perigosos como metal, vidro ou plástico quebradiço; espoleta de papel ou de plástico para revólveres de brinquedo; artefatos propulsores de brinquedo que consistam de pequenos tubos fabricados de papel ou de material composto, ou vasilhames que contenham uma pequena carga ou pólvora propulsora de combustão lenta que, ao funcionar, não causem explosão nem produzam chama externa, exceto através do

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bocal; e velas fumígenas, tubos fumígenos, granadas fumígenas, sinais fumígenos, artifícios de sinalização, artefatos para sinalização manual e cartuchos de sinalização do tipo “Very”, projetados para produzir efeitos visíveis com fins de sinalização, que contenham compostos fumígenos e cargas não-explosivas.

Portanto, para a Corte Cidadã, explosivo é, em sentido amplo, um material extremamente instável, que pode se decompor rapidamente, formando produtos estáveis. Esse processo é denominado de explosão e é acompanhado por uma intensa liberação de energia, que pode ser feita sob diversas formas e gera uma considerável destruição decorrente da liberação dessa energia.

Diante disso, não será considerado explosivo o artefato que, embora ativado por explosivo, não projete nem disperse fragmentos perigosos, como metal, vidro ou plástico quebradiço, não possuindo, portanto, considerável potencial de destruição. Para ser considerado artefato explosivo, é necessário que ele seja capaz de gerar alguma destruição.

A alternativa B, portanto, está incorreta, e deve ser assinalada.

Alternativa C: Segundo Lei de Drogas, as penas dos artigos 33 a 37 serão aumentadas de 1/6 a 2/3 quando o tráfico de entorpecentes for realizado no transporte público (art. 40, inciso III)

Em julgados mais antigos, o STF e o STJ entendiam que essa causa de aumento devia incidir nos casos em que o agente se utiliza de transporte público com grandes aglomerações de pessoas para passar desapercebido, tornando a traficância mais fácil e ágil, bastando, para sua incidência, o simples uso desse tipo de transporte, independente da distribuição da droga naquele local. Assim, seria irrelevante se o acusado ofereceu ou tentou oferecer a substância entorpecente para os outros passageiros.

Em julgados mais recentes, contudo, houve uma alteração de entendimento. Vem prevalecendo o entendimento de que o simples uso de transporte público para o transporte da droga não autoriza, por si só, a incidência da majorante do inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006.

DIZER O DIREITO:

Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do meio de transporte, incidirá essa majorante?NÃO. A majorante do art. 40, III, da Lei n.° 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior. É a posição majoritária no STF e STJ.

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STF. 1ª Turma. HC 122258-MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/08/2014.STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/6/2014 (Info 749).STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/6/2014 (Info 543).STJ. 6ª Turma. REsp 1443214-MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/09/2014.

Alternativa D: Há países em que o autor da infração antecedente não pode responder pelo crime de lavagem de capitais (selflaundering), atendendo-se à reserva contida no art. 6º, item 2, “e”, da Convenção de Palermo. Interpretando-se referido dispositivo, fica claro que deve estar expresso na legislação interna o fato de não ser punível o mesmo agente por ambos os crimes.

No Brasil inexiste tal vedação, sendo este um claro indicativo da possibilidade de responsabilização criminal do autor do delito-base pelo crime de lavagem de capitais.

Parte da doutrina nacional assevera não ser possível a punição do autor da infração antecedente em concurso material com o delito de lavagem de capitais. De maneira análoga ao que acontece no delito de receptação, do qual não podem ser sujeito ativo o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente, para o autor da infração precedente o aproveitamento do produto auferido configuraria mero exaurimento impunível, integrando-se ao próprio objetivo desejado da atividade delituosa.

Para Delmanto, a punição do autor do crime antecedente pelo delito de lavagem caracterizaria bis in idem.

Outra parte da doutrina defende que, ao contrário do que ocorre com a receptação e o favorecimento real, nada impede que o sujeito ativo da infração antecedente também responda pelo crime de lavagem de capitais. A uma porque, ao contrário de outros países, a legislação brasileira não veda expressamente a autolavagem, inexistindo a chamada “reserva de autolavagem” prevista em outros países.

Em segundo lugar, não se afigura possível a aplicação do princípio da consunção, incidente nas hipóteses de pós fato impunível. A ocultação do produto da infração antecedente pelo seu autor configura lesão autônoma, contra sujeito passivo distinto, por meio de conduta não compreendida como consequência natural e necessária da primeira.

O Supremo Tribunal Federal tem precedentes no sentido de que o crime de lavagem de capitais não funciona como mero exaurimento da infração antecedente, já que a Lei nº 9.613/98 não excluiu a possibilidade de que o ilícito penal antecedente e a lavagem de capitais subsequente tenham a mesma autoria, sendo aquele independente em relação a esta.

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A alternativa D, portanto, está correta, e não deve ser assinalada.

Alternativa E: Segundo o doutrinador Renato Brasileiro, para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O agressor tanto pode ser um homem como outra mulher.

O próprio art. 5º, parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006, prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento da violência doméstica e familiar contra a mulher independem de orientação sexual.

Esse é o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça:

”3) O sujeito passivo da violência doméstica objeto da Lei Maria da Penha é a mulher, já o sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação.AcórdãosHC 277561/AL, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgado em 06/11/2014,DJE 13/11/2014HC 250435/RJ,Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,Julgado em 19/09/2013,DJE 27/09/2013HC 181246/RS,Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em 20/08/2013,DJE 06/09/2013HC 175816/RS,Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, Julgado em 20/06/2013,DJE 28/06/2013CC 088027/MG,Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em 05/12/2008,DJE 18/12/2008Decisões MonocráticasRHC 046278/AL,Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, Julgado em 09/06/2015,Publicado em 16/06/2015”1

02 - QUESTÃO

Sobre a classificação dos crimes, assinale a alternativa correta:

a) Crimes à distância são aqueles cuja conduta e resultado ocorrem em comarcas diversas, sediadas no mesmo país. Crimes plurilocais são aqueles cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos. Já os crimes em trânsito são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem.b) Crime de mínimo potencial ofensivo é aquele cuja pena privativa de liberdade em abstrato

1 http://www.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp

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não ultrapassa dois anos, cumulada ou não com multa.c) No crime de ação múltipla o tipo penal prevê várias formas de conduta. Para que o crime se consume é necessário que o agente pratique todas as condutas previstas no tipo.d) O crime de extorsão mediante sequestro é um delito de tendência interna transcendente incompleto de dois atos.e) Crimes conexos são os interligados entre si. A conexão material ou penal pode ser teleológica, consequencial ou ocasional.

RESPOSTA: Alternativa E.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Considerando-se o local em que se produz o resultado, o crime pode ser classificado: à distância, plurilocais e em trânsito.

Crimes à distância: também conhecidos como “crimes de espaço máximo, são aqueles cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos.

Crimes plurilocais: são aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em comarcas diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art. 70 do Código de Processo Penal dispõe que, nesse caso, será competente para o processo e julgamento do crime o juízo do local em que se operou a consumação. Há, contudo, exceções.

Crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorrem em um país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem.

OBS: • Crimes de trânsito: crimes praticados na utilização de veículos automotores

em vias terrestres para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga. Aplica-se o Código de Trânsito Brasileiro.

• Crimes no trânsito: crimes sem previsão específica nas leis de trânsito, mas que são praticados na condução de veículo automotor. Ex: atropelamento e morte de pedestre na hipótese de o agente praticar a conduta com dolo eventual. Responderá pelo art. 121 do CP, pois a Lei nº 9.503/97 (CTB) não tipifica o homicídio doloso, mas apenas o culposo (art. 302).

A alternativa A está incorreta porque os conceitos de crimes à distância e plurilocais estão invertidos.

Alternativa B: Está incorreta porque o conceito dado foi o de crime de menor

potencial ofensivo, previsto no art. 61 da Lei nº 9.099/95:“Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,

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para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006).”

Crimes de mínimo potencial ofensivo são os que não comportam a pena privativa de liberdade. No Brasil, enquadra-se nesse grupo a posse de droga para consumo pessoal, tipificada no art. 28 da Lei 11.343/2006, ao qual são cominadas as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Crimes de menor potencial ofensivo: art. 61, Lei nº 9.099/95.

Crimes de médio potencial ofensivo são aqueles cuja pena mínima não ultrapassa um ano, independentemente do máximo da pena privativa de liberdade cominada. Tais delitos admitem a suspensão condicional do processo (art. 89, Lei nº 9.099/95).

Crimes de elevado potencial ofensivo são os que representam pena superior a um ano, ou seja, pelos menos de dois anos, e, consequentemente, pena máxima acima de dois anos. Tais delitos não se compatibilizam com quaisquer dos benefícios elencados na Lei 9.099/95.

Crimes de máximo potencial ofensivo são os que recebem tratamento diferenciado pela Constituição Federal. São os hediondos e equiparados – tráfico de drogas, tortura e o terrorismo, bem como os delitos cujas penas não se submetem à prescrição: racismo e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Alternativa C: Está incorreta porque para a consumação do crime de ação múltipla não é necessário que o agente pratique todas as condutas previstas no tipo.

Crime de ação única: é aquele que contém somente uma modalidade de conduta, expressa devidamente pelo verbo núcleo do tipo. Ex.: matar, subtrair.

Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: é o que descreve vários verbos, várias condutas. Também é chamado de plurinuclear (porque conta com vários verbos como núcleos do tipo). Exemplo marcante é o artigo 33, da Lei 11.343/06 (nova Lei de Drogas), que contém dezoito verbos (dezoito condutas típicas). Vale lembrar que, diante de um contexto fático único, se o agente realiza mais de um verbo o crime é único (princípio da alternatividade).

Alternativa D: No crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP), o tipo objetivo consiste em “sequestrar alguém”. Por sua vez, o tipo subjetivo possui o dolo (consciência e vontade de realizar o tipo objetivo, que é sequestrar alguém) e o elemento subjetivo especial (com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate). Essa intenção especial transcende (vai além) do tipo objetivo (sequestrar alguém).

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Em razão do segundo ato (pagamento do resgate), necessariamente, ser praticado por 3ª pessoa (vítima, parentes da vítima, amigos da vítima e etc), o delito é de tendência interna transcendente de resultado separado.

Alguns crimes possuem, dentro do tipo subjetivo, além do dolo, os chamados elementos subjetivos especiais, que se referem a uma finalidade específica do agente, a uma tendência ou a um motivo. Os tipos penais que possuem esses elementos subjetivos especiais são chamados de delitos de tendência: delitos de tendência interna transcendente (delitos de intenção) ou delitos de tendência intensificada (delitos de tendência propriamente ditos).

1) Delitos De Tendência Interna Transcendente. Nesses delitos, o agente possui intenção de realizar o tipo objetivo, bem como a intenção de produzir um resultado naturalístico que, embora descrito no tipo, não precisa se realizar para a consumação do crime.

Os delitos de tendência interna transcendente podem ser divididos em:

a) Crimes de resultado cortado, antecipado, formal ou de resultado separado: o agente pratica uma conduta com a intenção de causar certo resultado, mas o tipo não prevê a sua produção para a consumação do crime. O resultado visado dependerá de ato de terceiro e não do agente. Ex: extorsão mediante sequestro.

Nesta classificação, o “segundo ato” depende de terceiro e não do agente criminoso.

b) Crimes mutilados de dois atos, atrofiados de dois atos, incompletos de dois atos ou imperfeitos de dois atos: o agente pratica uma conduta com a intenção de futuramente praticar outra distinta, mas o tipo não exige a prática dessa segunda conduta para a consumação do crime.

Desta vez, o ato posterior será praticado pelo próprio agente e não por terceiro.

2) Delitos de Tendência Intensificada: é necessário verificar o ânimo do agente para a realização da infração penal. Esse ânimo está implícito em certos tipos penais, como o propósito de ofender (artigos 138 a 140, CP); o propósito de ultrapassar (art. 212, CP). Outro exemplo a ser dado é o do ginecologista: caso este esteja satisfazendo a sua lascívia praticará o crime de violação sexual mediante fraude, caso aja conforme a profissão o fato é atípico.

3) Delito de Tendência Interna Peculiar: nesses crimes o dolo faz parte de uma vontade maior, que já existia antes do ato e continuará existindo após o ato. Ex. art. 282 - para a caracterização desse crime é necessário que, além do dolo de exercer profissão de médico, dentista ou farmacêutico, o agente possua o animus de praticar reiteradas vezes esse exercício.

A tendência interna peculiar, nesse caso, é a vontade de praticar reiteradas vezes esse

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exercício. Geralmente há tendência interna peculiar em crimes habituais e profissionais.

A alternativa D, portanto, está incorreta.

Alternativa E: Considerando-se o vínculo existente entre dois ou mais crimes, estes podem ser classificados em independentes ou conexos.

Crimes independentes: são aqueles que não apresentam nenhuma ligação com outros delitos.

Crimes conexos: são os que estão interligados entre si. Essa conexão pode ser penal ou processual penal. A conexão material ou penal divide-se em:

a) Teleológica ou ideológica: o crime é praticado para assegurar a execução de outro crime. É o caso de matar o segurança para sequestrar o empresário.

b) Consequencial ou causal: o crime é cometido para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime. Ex: matar uma testemunha para manter impune o crime; assassinar o comparsa para ficar com todo o produto do crime.

c) Ocasional: o crime é praticado como consequência da ocasião, da oportunidade proporcionada por outro delito. Ex: um ladrão, após praticar o roubo, decide estuprar a vítima que estava no interior da loja assaltada. O agente responde por ambos os crimes em concurso material. Trata-se de criação doutrinária e jurisprudencial, sem amparo legal.

Obs: As duas primeiras espécies de conexão têm previsão legal. Funcionam como qualificadoras do crime de homicídio (art. 121, §2º, V, CP) e como agravantes genéricas nos demais crimes (art. 61, II, alínea “b”, CP).

A alternativa E, portanto, está correta.

03 – QUESTÃO

Acerca do Crime de Latrocínio:

I – O crime de latrocínio tentado está caracterizado quando, independente das lesões sofridas pela vítima, há dolo de roubar e dolo de matar, e o resultado agravador somente não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.II – O latrocínio constitui modelo típico próprio, não se lhe aplicando as causas de aumento previstas para o crime de roubo, inscritas no §2º do art. 157 do CP.

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III – Não é possível o reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes de roubo e latrocínio, pois, apesar de se tratarem de delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie, devendo incidir a regra do concurso material.

a) Todos os itens estão corretos.b) Apenas o item III está correto.c) Apenas os itens I e II estão corretos.d) Apenas os itens II e III estão corretos.e) Apenas os itens I e III estão corretos.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

No crime de latrocínio, o agente busca a subtração da coisa, mesmo que para isso resulte a morte da vítima, que pode ser causada a título de dolo ou culpa. Trata-se de crime hediondo (art. 1º, II, lei nº 8.072/90) e complexo (resulta da soma de outros dois delitos autônomos: roubo + homicídio).

O resultado morte deve resultar violência, e não da grave ameaça. A lei não qualifica quando a morte é fruto da grave ameaça. Quando a morte decorre da grave ameaça, o agente responde por roubo em concurso com o homicídio, doloso ou culposo. Há entendimento contrário, no sentido de que a morte pode decorrer da grave ameaça, pois “violência” descrita no art. 157, §3º, deve ser interpretada no sentido de abranger a violência física e a violência mora (grave ameaça).

A violência deve ser empregada durante o assalto (FATOR TEMPO) e em razão (FATOR NEXO) do assalto. São fatores indispensáveis ao latrocínio. Se não for assim, há roubo em concurso com o homicídio. Ex.: agente assaltou o banco e duas semanas depois do crime foi identificado por vítima, então mata a vítima, não é latrocínio, porque o homicídio foi praticado em razão do roubo (NEXO), mas, não foi praticado durante o assalto (TEMPO). Responderá por assalto e homicídio em concurso por decorrência da CONEXÃO CONSEQUENCIAL.

Consumação: Consuma-se com a morte do Ofendido. Segundo a Súmula 610/STF, “há crime de latrocínio consumado, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”.

Tentativa: Predomina ser possível, bastando que o agente tenha atuado com dolo em relação ao resultado morte e não consiga a sua produção por circunstâncias alheias à sua vontade. Impossível se o resultado qualificado for culposo (crime preterdoloso). Se o sujeito age com culpa em relação ao resultado agravador e não ocorre a morte, mas lesão corporal grave, responde pelo art. 157, §3º, 1ª parte. Assim, para que ocorra latrocínio tentado.

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Assim:

SUBTRAÇÃO MORTE CRIME DE LATROCÍNIOConsumada Consumada Consumado

Tentada Tentada Tentado

Consumada Tentada

1ª CORRENTE:- se resultar lesão corporal grave e ausente o animus necandi na violência praticada, responde pelo art. 157, §3º, 1ª parte,

CP.- se a intenção do agente era de matar a vítima, responde

pelo art. 121, §2º, V, CP, na forma tentada, em concurso material com o crime de roubo.

2ª CORRENTE (STF):o agente responde por LATROCÍNIO TENTADO.

Tentada Consumada

STF: LATROCÍNIO CONSUMADO.Súmula nº 610 - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.

Latrocínio e causas de aumento do §2º do art. 157. Ocorrendo o latrocínio não incidem as causas de aumento elencadas no §2º, uma vez que a pena cominada para o latrocínio se mostra suficiente para reprovação e prevenção do crime. Outro motivo para justificar a não incidência seria que o latrocínio é um modelo típico próprio, não se lhe aplicando as causas de aumento previstas para o crime de roubo, inscritas no §2º do art. 157 do CP. No entanto, as circunstâncias do §2º serão consideradas como circunstâncias judicias desfavoráveis para fixação da pena-base.

Inadmissibilidade de crime continuado entre roubo e latrocínio. STJ: “Não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e o de latrocínio porquanto são delitos de espécies diversas, já que tutelam bens jurídicos diferentes.” (AgInt no AREsp 908.786/PB, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 14/12/2016).

04 – QUESTÃO

Sobre os crimes previstos na Parte Especial do Código Penal, assinale a alternativa correta.

a) A omissão de socorro é um crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, salvo por aqueles que têm o dever jurídico de evitar o resultado, caso no qual responderão pelo próprio resultado.

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b) O crime de extorsão mediante sequestro só se consuma quando o agente recebe o resgate.c) Segundo o STJ, a venda de CD’s e DVD’s piratas não configura crime de violação de direito autoral.d) Para o STF a receptação qualificada, prevista no §1º do art. 180, é norma inconstitucional com relação ao preceito secundário, por violar o princípio da proporcionalidade quando comparada à pena prevista para o caput.e) Importar gasolina sem autorização e sem o devido recolhimento do tributo caracteriza crime de descaminho.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: O crime de omissão de socorro é um crime omissivo puro ou próprio, que se caracteriza por um descumprimento a uma norma mandamental, ou seja, o agente não faz o que a lei determina.

A omissão de socorro prevista no art. 135 do CP pode ser praticada duas formas; a): deixar de prestar assistência (Omissão de Assistência Imediata), quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; b) não pedir socorro à autoridade pública (Omissão de Assistência Mediata).

Como há um dever genérico de não se omitir, o crime é comum, podendo ser sujeito ativo qualquer pessoa, independente do vínculo jurídico com a vítima.

Já nos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, o agente possui um dever jurídico especial de agir para evitar o resultado. São os denominados garantes. Com isso, diante de uma determinada situação, o resultado não evitado será imputado ao agente.

Hipóteses de dever jurídico especial (art. 13, §2º, CP):

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: trata-se do dever legal, relativo às pessoas que, por lei, têm a obrigação de. É o que se dá com os pais em relação aos filhos menores. Ex: a mãe que deixa de alimentar o filho está descumprindo uma obrigação imposta por lei (arts. 1.566, IV e 1634, I, CC). Assim, no caso de falecimento do menor, a genitora responderá por homicídio doloso (art. 121 c/c art. 13, §2º, “a”) ou culposo (art. 121, §3º, c/c art. 13, §2º, “a”), dependendo do caso.

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: o agente assume a responsabilidade da não ocorrência do resultado, haja contrato ou não. Ex: um salva-

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vidas particular assume a responsabilidade de evitar afogamentos. Caso perceba que um nadador esteja se afogando, deve agir para evitar o resultado morte. Se podia agir e se omitiu, responderá pelo resultado que deixou de evitar. Se a omissão foi voluntária, e sobrevier a morte, responderá por crime doloso (art. 121 c/c art. 13, §2º, “a”).

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: em um primeiro momento a pessoa cria um risco com seu comportamento (ação ou omissão). Com efeito, fica obrigada a evitar o resultado. O dolo e a culpa têm relevância nesse segundo momento (dever de agir).

Ressalte-se que não basta o dever jurídico de agir para se imputar o resultado ao agente. Deve ser analisado se ele podia agir, verificando-se, para isso, a possibilidade real e física. É necessário, ainda, que o agente tenha consciência da situação de fato e do dever de agir. Se não possui consciência da situação de fato, incide em erro de tipo. Se não tem a possibilidade de conhecer o dever de agir, incide em erro de proibição, decorrente de erro mandamental.

A alternativa A, portanto, está correta.

Alternativa B: Crime de Extorsão – art. 158, CP.

Bem Jurídico Tutelado: São tutelados dois bens jurídicos: patrimônio e liberdade individual. Está-se diante de um crime de dupla objetividade jurídica.

Sujeito Ativo: Trata-se de um crime que pode ser cometido por qualquer pessoa, crime comum, salvo pelo próprio dono da coisa, a não ser que a coisa esteja na legitima posse de terceiro. Deve-se buscar uma indevida vantagem econômica. Sendo a vantagem devida trata-se de exercício das próprias razões. Se o sujeito ativo for funcionário público é possível, que estejamos diante do crime de concussão (art. 316, CP).

Sujeito Passivo: a vítima não é somente a ferida no patrimônio, mas também a pessoa que, alheia ao patrimônio, sofreu a violência ou grave ameaça.

Pessoa jurídica pode ser vítima? Pode ser sim, constrangendo o sócio para buscar uma indevida vantagem econômica que será suportada pela empresa, a empresa será vítima também.

O crime tem como núcleo o constrangimento + a finalidade de locupletamento ilícito. Esse constrangimento pode ser praticado mediante violência ou grave ameaça.

Consumação e tentativa: Havia divergência quanto à necessidade de obtenção da vantagem, tendo a jurisprudência definido tratar-se de crime formal, nos termos da Súmula 96 do STJ (O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida).

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Se o agente obtiver o resultado, ocorrerá o exaurimento do crime, que será considerado na fixação da pena-base.

A alternativa B, portanto, está incorreta.

Alternativa C: Está incorreta a alternativa, pois, segundo a Súmula 502/STJ, “presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, §2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas”.

A alternativa C, portanto, está incorreta.

Alternativa D: O crime de receptação é classificado como crime acessório por pressupor de outro crume para existir. Contudo, não há submissão à punição do crime principal para que seja punido, ou seja, sua punição é independente (art. 180, §4º). Se o crime pressuposto está prescrito ou teve extinta a punibilidade, não desaparece a receptação.

Bem jurídico tutelado: O bem jurídico tutelado na receptação é o patrimônio. Noronha, no entanto, entende que está secundariamente protegido o bem administração da Justiça, embaraçada pela ação do receptador.

Sujeito ativo: Qualquer pessoa, com exceção do concorrente do delito anterior. Existe receptação de coisa própria? Excepcionalmente, pode figurar como sujeito ativo o proprietário do bem, caso o objeto esteja na legítima posse de terceiro.

Sujeito passivo: (crime vago é aquele que tem como vítima sua coletividade despersonalizada, ex.: família, sociedade e outros). A receptação NÃO é crime vago, a vítima da receptação é a mesma vítima do crime anterior.

Tipo Subjetivo: O tipo subjetivo é o dolo e diz respeito a coisa que sabe ser produto de crime.

Aqui se indaga se resta abrangido o dolo eventual. A expressão “coisa que sabe” é indicativa de dolo direto e implicitamente abrange o dolo eventual? Prevalece que a expressão coisa que sabe indica apenas dolo direto. Assim, o caput do artigo não pune o dolo eventual.

Conduta punível: Há duas condutas puníveis como sendo receptação simples:

a) Receptação simples própria: art. 180, caput, 1ª parte: “adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime “Aqui nós temos a coisa saindo do autor do crime anterior para o receptador. É importante observar que a receptação dispensa ajuste entre o autor do crime anterior

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e o receptador. A receptação dá-se sempre por título injusto? Nem sempre a receptação se dá por título injusto. Ex. advogado cobra para receber do cliente, mas recebe como pagamento, coisa que sabe ser produto de crime.

b) Receptação simples imprópria: art. 180, caput, 2ª parte: “ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”A alternativa D, portanto, está incorreta.

Questões comuns em relação a receptação própria e imprópria:

É imprescindível delito anterior: esse delito, não necessariamente precisa ser contra o patrimônio. Ex. adquirir coisa produto de peculato (crime contra a AP);

Coisa produto de crime: não há abrangência de coisa produto de contravenção penal.

OBS: Se o furto anterior foi praticado por menor infrator, há receptação?

1ª Corrente: a lei se refere somente à crime, sem qualquer referência ao ato infracional, caso em que a receptação será atípica. É corrente adotada por Fragoso e deve ser adotada na Defensoria Pública.

2ª Corrente: a lei, ao se referir a coisa produto de crime quer abranger qualquer ato que corresponda a um injusto penal. Logo, configurando o ato infracional um injusto penal praticado por inimputável, trata-se de receptação típica. É adotada por Noronha, sendo a corrente que prevalece.

Consumação: Não se pode falar da consumação sem lembrar ao examinador que existem duas espécies de receptação, a própria e a imprópria, cada uma com momento consumativo diverso.

No que tange a consumação própria, essa se consuma no momento em que a coisa é incluída na esfera de disponibilidade do agente.

OBS: Os núcleos ocultar, transportar, conduzir indicam permanência.

No que tange a receptação imprópria, trata-se de crime formal, bastando influência sobre terceiro de boa fé.

Tentativa: a tentativa, a receptação própria admite tentativa e a imprópria, não. Esse é o entendimento da maioria da doutrina. E na hipótese em que se envia uma carta influenciando outrem a praticar receptação? Nessa hipótese, apesar de entendimento minoritário, entende-se que há receptação.

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Análise da Receptação Qualificada - §1º: O que justifica a qualificadora é a condição pessoal do agente: estar ele no exercício de atividade comercial ou industrial.

Sujeito ativo: Aqui não se fala mais de crime comum, mas sim crime próprio. Somente responde por receptação qualificada, o comerciante que agir em atividade comercial ou industrial. Deve haver um nexo entre a receptação e atividade por ele exercida.

O camelô pratica receptação qualificada? De acordo com o §2º são equiparados a atividade comercial qualquer forma de atividade. Trata-se de cláusula de equiparação. Cite-se:

Elemento subjetivo: O art. 180, caput, fala em coisa que sabe ser produto de crime e aqui não é incluído o dolo eventual. A pena é de 01 a 04 anos. O art. 180, §1º, do CP, por sua vez, fala em “coisa que deve saber ser produto de crime” e a pena é de 03 a 08 anos.

Abrange dolo eventual e dolo direito? Há duas correntes:

1ª Corrente: indica dolo eventual, abrangendo o dolo direto. Se é punido o menos, obviamente deve ser punido o mais (STJ – HC 973.344)

2ª Corrente: indica apenas dolo eventual. Para essa corrente, o dolo direto configura o caput. Se adotada essa corrente, falta proporcionalidade.

Para o STF (HC 97344/SP), tal dispositivo “não ofende os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade (...). De início, aduziu-se que a conduta descrita no § 1º do art. 180 do CP é mais gravosa do que aquela do caput, porquanto voltada para a prática delituosa pelo comerciante ou industrial, que, em virtude da própria atividade profissional, possui maior facilidade para agir como receptador de mercadoria ilícita. Em seguida, asseverou-se que, apesar da falta de técnica na redação do aludido preceito, a modalidade qualificada do § 1º abrangeria tanto o dolo direto quanto o eventual, ou seja, abarcaria a conduta de “quem sabe” e de quem “deve saber” ser a coisa produto de crime. Assim, se o tipo pune a forma mais leve de dolo (eventual), a conclusão lógica seria de que, com maior razão, também o faria em relação à forma mais grave (dolo direto), mesmo que não o tenha dito expressamente, pois o menor se insere no maior”.

A alternativa D, portanto, está incorreta

Alternativa E: A questão está incorreta porque a importação de gasolina sem autorização e sem o devido recolhimento do tributo devido configura crime de contrabando, conforme entendimento do STJ:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME DE CONTRABANDO DE GASOLINA. TRIBUTO DEVIDO INFERIOR AO MÍNIMO LEGAL PARA

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COBRANÇA FISCAL. ART. 20 DA LEI N.º 10.522/2002. ALTO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.1. Em se tratando de gasolina importada com elisão de impostos, não há apenas uma lesão ao erário e à atividade arrecadatória do Estado, mas a outros interesses públicos, configurando a conduta contrabando e não descaminho.2. No caso, muito embora também haja sonegação de tributos, trata-se de produto sobre o qual incide proibição relativa, presentes as restrições na Lei nº 9.478/97 e na Portaria nº 314/2001 - ANP.3. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no REsp 1278732/RR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013)

05 – QUESTÃO

Sobre a Lei Penal, marque a alternativa correta:

a) As leis penais podem ser classificadas em incriminadoras, não incriminadoras, perfeitas e imperfeitas. b) Na lei penal em branco em sentido lato o complemento tem natureza jurídica diversa e emana de órgão distinto daquele que elaborou a lei penal incriminadora. Já na lei penal em branco em sentido estrito o complemento tem a mesma natureza jurídica e provém do mesmo órgão que elaborou a lei penal incriminadora, podendo ser classificada em homovitelina ou heterovitelina.c) As leis excepcionais e temporárias não possuem ultra-atividade. d) A lei penal mais benéfica retroagirá para favorecer o agente, aplicando-se a fatos anteriores, respeitados os fatos já decididos por sentença condenatória transitada em julgado.e) A lei penal mais grave aplica-se ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da permanência. O mesmo não se pode dizer relativamente ao crime continuado.

RESPOSTA: Alternativa A

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A lei penal é fonte formal imediata do direito penal e tem por estrutura dois preceitos, um primário (conduta) e outro secundário (pena). Deve-se observar que a lei penal não é proibitiva, mas descritiva. Não proíbe a conduta, e sim descreve um comportamento como criminoso, impondo a pena a ser aplicada caso seja ele praticado.

As leis penais apresentam diversas divisões. Podem ser:

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DIREITO PROCESSUAL PENALPROF. VIVIANE KALINY

13 - QUESTÃO

Sobre o inquérito policial, marque a alternativa incorreta:

a) Inquérito policial pode ser conceituado como procedimento administrativo de natureza inquisitiva que tramita na polícia judiciária e que tem a finalidade de colher indícios de materialidade e de autoria, que darão suporte ajuizamento da ação penal.b) Segundo o Supremo Tribunal Federal, o arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas fraudadas não faz coisa julgada material.c) O inquérito policial pode ser iniciado de ofício pela autoridade policial; por requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representa-lo; por delação de terceiro ou delatio criminis; por requisição da autoridade competente; pela lavratura do auto de prisão em flagrante.d) A notícia anônima sobre eventual prática criminosa, por si só, é idônea para a instauração de inquérito policial.e) A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

RESPOSTA: Alternativa D.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Inquérito policial é o procedimento administrativo de natureza inquisitiva que tramita na polícia judiciária e que tem a finalidade de colher indícios de materialidade e de autoria, que darão suporte ajuizamento da ação penal.

Por não ser um processo, não há que se falar, em regra, na existência de contraditório no IP, vigendo, pois um sistema inquisitivo, não existindo participação do agente do delito na produção das provas.

Em virtude desse caráter inquisitivo, as provas produzidas na fase de investigação, em regra, somente se prestam para fundamentar o oferecimento da ação penal, não se valendo para embasar uma futura sentença condenatória ao fim da ação penal instaurada. Tais provas devem ser repetidas durante a instrução criminal sob o crivo do contraditório (art. 155, CPP).

Excepcionalmente, porém, é possível a utilização de provas produzidas no IP para a formação da convicção do juiz, quando elas forem cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Provas cautelares são aqueles em que há um risco de desaparecimento do objeto da

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prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o contraditório será diferido. Podem ser produzidas no curso da fase investigatória ou durante a fase judicial, sendo que em regra precisa de autorização judicial (ex: busca e apreensão domiciliar, interceptação telefônica). Provas não repetíveis são aquelas que, uma vez produzidas, não podem ser novamente coletadas ou produzidas, em virtude do desaparecimento, destruição ou perecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e em juízo, sendo que, em regra, não precisam de autorização judicial (ex: exame de corpo de delito em um crime que deixa vestígios). Provas antecipadas são aquelas produzidas com observância do contraditório real, perante a autoridade judicial, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância (ex: oitiva de testemunha que está gravemente debilitada).

Nas provas cautelares e não repetíveis o contraditório será diferido.

Ressalta-se que, também em decorrência de o IP não ser processo, mas sim procedimento administrativo, ele não está submetido ao regime das nulidades.

Natureza jurídica: Administrativa. Não é processo (nem judicial nem administrativo), porque dele não resulta a imposição direta de sanção. Ainda não há exercício da pretensão acusatória, não há partes stricto sensu.

Não obedece a uma ordem legal rígida para realização dos atos, o que não lhe retira caráter de procedimento, pois o legislador estabelece uma sequência lógica de instauração, desenvolvimento e conclusão.

Por ser mera peça informativa, os vícios que possa conter não contaminam o processo penal a que der origem (STF e STJ).

Se determinada prova foi produzida com violação a normas de direito material, será desentranhada, bem como as demais provas que guardem conexão com ela (teoria dos frutos da árvore envenenada). O inquérito não será nulo, é possível que haja elementos de informação não contaminados pela ilicitude originária (teoria da fonte independente).

Características: • Discricionariedade• Inquisitivo • Escrito• Dispensável• Sigiloso• Oficialidade• Autoritariedade• Oficiosidade

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• Indisponibilidade

A alternativa A, portanto, está correta e não deve ser assinalada.

Alternativa B: O arquivamento do IP pode ser solicitado apenas pelo membro do MP (Nota: STF, Pleno, Inq. 2913 AgR/MT, Rel. Min Luiz Fux, j. 01/03/12), sendo ato complexo, ao qual segue a participação da autoridade judicial. O arquivamento poderá ser feito também em relação ao termo circunstanciado, procedimento investigatório criminal, relatório de CPI etc.

Em regra, não cabe recurso contra a decisão judicial que determina o arquivamento, com lastro em pedido do MP, nem tampouco ação penal privada subsidiária da pública. Ressalva importante, entretanto, quanto à recorribilidade, no que se refere aos crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública (recurso de ofício que é condição de eficácia objetiva da decisão), conforme art. 7º, da Lei 1521/51. Ainda, no caso das contravenções do jogo do bicho e de corrida de cavalo fora do hipódromo, há recurso em sentido estrito (Art. 6º, parágrafo único, Lei 1508/51).

Fundamentos do arquivamento: São iguais às hipóteses de rejeição da peça acusatória ou de absolvição sumária, isto é:

a) ausência de pressuposto processual ou de condição da ação (coisa julgada formal);

b) falta de justa causa (coisa julgada formal);

c) atipicidade (coisa julgada formal e material);

d) manifesta causa de excludente de ilicitude (STJ - coisa julgada formal e material; STF –coisa julgada formal).

e) manifesta causa de excludente de culpabilidade (coisa julgada formal e material), salvo inimputabilidade;

f ) causa extintiva de punibilidade (coisa julgada formal e material, ressalvada a declaração de óbito com base em certidão falsa).

Coisa julgada na decisão que homologa o arquivamento do inquérito policial: Grande celeuma que envolve a coisa julgada nas decisões que homologam os pedidos de arquivamento de investigação criminal é se elas se revestem do manto da coisa julgada formal e material.

A regra é que, uma vez determinado o arquivamento do inquérito, a sua reabertura é condicionada ao surgimento de notícias de novas provas, inclusive com possibilidade de

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apresentação de ação penal, condicionando-se à demonstração cabal de surgimento efetivo de novas provas. Por tal razão, aponta-se que a decisão de arquivamento, em regra, é regida pela cláusula rebus sic stantibus.

Diante disso, a regra é de coisa julgada formal, com efeitos endoprocessuais, ressalvando a possibilidade de revisão da decisão caso haja notícias de novas provas (artigo 18 do CPP e Súmula 524 do STF).

Todavia, em alguns casos, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial pode formar coisa julgada material, impedindo tanto o desarquivamento do inquérito quanto a propositura de ação penal.

São as seguintes situações:

a) Atipicidade da conduta delituosa

b) Existência de causa extintiva da punibilidade

c) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude.

Há de se ressaltar que há divergência entre o STJ e o STF quanto à formação da coisa julgada material quando o arquivamento do inquérito com base em excludente de ilicitude.

O Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude), a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas” (REsp 791.471/RJ).

Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal entende que o arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. Logo, surgindo novas provas, seria possível reabrir o inquérito policial, com base no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF (1ª Turma. HC 95211, julgado em 10/03/2009; 2ª Turma. HC 125101/SP, julgado em 25/8/2015 - Info 796).

Recentemente, no julgamento do HC 87395/PR, o Plenário decidiu que “o arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas fraudadas não faz coisa julgada material. (…) Asseverou que o arquivamento do inquérito não faz coisa julgada, desde que não tenha sido por atipicidade do fato ou por prescrição” (Inf. 858).

A alternativa B, portanto, está correta e não deve ser assinalada.

Alternativa C: Início do inquérito policial:

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a) Crimes de ação penal pública incondicionada • Instauração de ofício • Requisição da autoridade judiciária ou do MP – CPP, art. 5º, II • Requerimento do ofendido ou de seu representante legal – CPP, 5º, § 1º• Notícia oferecida por qualquer do povo – delatio criminis simples, comumente

realizada por registro de ocorrência policial. Verificada a veracidade das informações, deve o delegado determinar a instauração do inquérito policial. O cidadão não tem o dever de noticiar o crime, exceto disposições do art. 66 do DL 3688/41; já as autoridades públicas têm (art. 319, CP).

• Auto de prisão em flagrante – é uma das formas de instauração do inquérito policial, embora não conste do art. 5º, CPP. É a peça inaugural.

b) Crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal de iniciativa privada

• Ação penal pública condicionada – a persecutio criminis está subordinada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro de Justiça (CPP, art. 5º, p. 4º); a instauração do inquérito policial está vinculada à demonstração de interesse da vítima ou de seu representante legal para que se apure a responsabilidade penal do autor da infração.

• Ação penal privada – o Estado fica condicionado ao requerimento do ofendido ou de seu representante legal (art. 5º, § 5º, CPP) – condição de procedibilidade do inquérito policial. O prazo para esse requerimento é decadencial de 6 meses, contados do dia em que vier a saber quem é o autor do crime. Após isso, está extinta a punibilidade e a autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial.

• Em ambos os casos acima, a instauração do inquérito policial poderá se dar por auto de prisão em flagrante, precedido de requerimento da vítima ou do representante legal.

A alternativa C está correta, e não deve ser assinalada.

Alternativa D: A CF/88, no seu art. 5º, IV, veda o anonimato, por isso não é possível admitir a instauração de um inquérito policial com base tão-somente em uma delatio criminis anônima ou delação apócrifa ou notitia criminis inqualificada (a popular denúncia anônima).

Todavia, nada impede que a autoridade policial verifique a procedência e veracidade das informações veiculadas na “denúncia anônima” e, então, instaurar o inquérito policial. (Inf. 580/STF).

A alternativa D, portanto, está incorreta, e deve ser assinalada.

Alternativa E: Art. 17, CPP.

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A alternativa E está correta e não deve ser assinalada.

14 - QUESTÃO

Assinale a alternativa incorreta:

a) Não existe nulidade processual pela ausência, em oitiva de testemunha por meio de carta precatória, de réu preso que não manifestou expressamente a intenção de participar da audiência.b) O reconhecimento de pessoas pode ser feito por meio de fotografias e, se acompanhado de outras provas, justifica o regular processamento da ação penal pode servir de elemento de convicção do juiz.c) Segundo o STF, a falta de interrogatório do réu em juízo enseja nulidade absoluta do feito.d) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.e) A confissão no processo penal é divisível, retratável, informal, expressa, pessoal e voluntária.

RESPOSTA: Alternativa C.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Esse foi o entendimento adotado pela Segunda Turma do STF no julgamento do HC 110910/SP, da relatoria do Min. TEORI ZAVASCKI:

“A ausência de réu preso em audiência de oitiva de testemunha, realizada em cumprimento de carta precatória, não constitui nulidade quando a defesa, devidamente intimada, não manifesta expressamente intenção de requisição do acusado. Entendimento reafirmado pelo Plenário desta Corte no julgamento da Questão de Ordem no RE 602.543/RS-RG, Rel. Min. Cezar Peluso. Precedentes.”

Para a Corte Suprema, à luz da norma inscrita no art. 563 do CPP e da Súmula 523/STF, o reconhecimento de nulidade dos atos processuais, exige, em regra, a demonstração do efetivo prejuízo causado à parte.

A alternativa A está correta e não deve ser assinalada. Alternativa B: Reconhecimento de pessoas e coisas: Reconhecer é identificar

(individualizar) uma pessoa (art. 226, CPP) ou uma coisa (art. 227, CPP).

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A medida consiste em convidar a vítima ou testemunha do crime para, diante de várias pessoas colocadas lado a lado, com as mesmas características físicas (quando possível), proceder ao reconhecimento. Quanto mais parecidas as pessoas, maior a credibilidade do reconhecimento.

O reconhecimento é individualizado (art. 228, CPP).

O reconhecimento pode ser: policial ou judicial.

Reconhecimento policial: é válido se ratificado em juízo ou se coerente com a prova produzida em juízo.

OBS: Art. 226, III e p. único, CPP – Embora, literalmente, o inciso III do art. 226, CPP, não seja aplicável ao reconhecimento judicial (art. 226, p. único, CPP), tal conclusão vem sendo flexibilizada. É que, na prática, por medo, muitas testemunhas quedam-se inertes em juízo por estarem frente a frente com o réu. Para viabilizar a o reconhecimento em juízo, então, havendo intimidação da pessoa que irá reconhecer, permite-se a incidência do inciso III do art. 226, CPP .

Reconhecimento indireto ou invertido: o réu reconhece a vítima.

Reconhecimento por fotografia: A jurisprudência vem decidindo que o reconhecimento efetivado por meio de fotografias consubstancia prova idônea para demonstrar a autoria delitiva, em especial quando em harmonia com as demais provas colhidas (STJ; HC 74267-0, 2ª Turma).

Retrato falado: é meio de investigação, não de reconhecimento.

Reconhecimento da voz: é possível, mormente em crimes sexuais.Reconhecimento da autenticidade da voz (espectograma da voz) é possível. Na

linguagem extrajudicial, era chamado de “clichê fônico”. Note-se que o réu pode se recusar a falar (nemo tenetur se detegere).

A alternativa B está correta e não deve ser assinalada.

Alternativa C: Interrogatório é um ato pelo qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação que lhe é feita. Nesse diapasão, o interrogatório é a fase da persecução penal que permite ao suposto autor da infração esboçar a sua versão dos fatos, exercendo, se desejar, a autodefesa.

Natureza jurídica: prevalece o entendimento de que o interrogatório é meio de defesa, podendo ser meio de prova caso haja a confissão do acusado. As outras posições sobre a natureza jurídica são:

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a) meio de prova (é o tratamento dado pelo Código);

b) meio de defesa;

c) interrogatório como meio de defesa, primordialmente, e como meio de prova, de forma subsidiária.

Ampla defesa (art. 5ª, LV, CF/88) compreende:

1) defesa técnica: realizada por advogado. A defesa técnica é irrenunciável (art. 261, CPP). Ao acusado pertence o direito de constituir seu defensor. Somente diante de sua inércia é possível a nomeação de defensor dativo pelo juízo. Quando houver colidência de teses defensivas entre os acusados, não poderão ser defendidos pelo mesmo defensor.

ATENÇÃO: Súmula 523 do STF - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

2) autodefesa: feita pelo próprio acusado no processo penal. É renunciável.

a) direito de audiência: o acusado tem o direito de ser ouvido pelo juiz, manifestando-se por meio do interrogatório.

b) direito de presença: é o direito que o acusado tem de, ao lado de seu defensor, acompanhar os atos da instrução processual. Esse direito de presença pode ser: direta (física) e remota (videoconferência).

c) capacidade postulatória autônoma (ex: impetrar HC, interpor recursos, provocar incidentes da execução).

OBS: O STF considera que a falta de oportunidade do interrogatório enseja nulidade relativa do feito (HC 82933-3/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, 27/03/2003), dependente, pois, da demonstração de prejuízo, já que há direito de o réu não comparecer a este ato ou, comparecendo, ficar em silêncio.

ATUALMENTE, o interrogatório é o ÚLTIMO ato da instrução criminal (art. 400, CPP).

Antes da Lei 11.719/08 (entrou em vigor no dia 22/08/08) o interrogatório era o primeiro ato da instrução probatória (inspiração facista), mas agora o interrogatório passou a ser o último ato da instrução.

OBS: Em homenagem ao direito ao silêncio, boa parte da doutrina reputa inadmissível a condução coercitiva do acusado prevista no art. 260, CPP.

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OBS: Como regra geral, o réu é interrogado uma única vez. Em que pese o interrogatório ser único, não há impedimento para o reinterrogatório quando for necessário, inclusive o MP e o réu podem requerer e o juiz pode determinar de ofício (art. 196, CPP).

Foro competente: o acusado deve ser ouvido perante o juiz da causa.

Características:

• trata-se de um ato personalíssimo. EXCEÇÃO apontada por alguns doutrinadores é a pessoa jurídica em crimes ambientais, em que se interroga o seu representante legal;

• é um ato privativo do juiz (art. 188, CPP). Seguimos o sistema presidencialista, por isso as reperguntas são feitas por intermédio do magistrado. Nada impede que este permita que as partes perguntem diretamente ao réu. OBS: No plenário do Júri, quanto às perguntas das partes e do assistente, estas serão feitas sem intermédio do juiz presidente. Os jurados, por sua vez, farão perguntas por meio do magistrado que preside o julgamento. OBS: Art. 212, CPP (CROSS EXAMINATION), NÃO se aplica ao INTERROGATÓRIO, restringindo-se à inquirição de testemunhas.

• é um ato contraditório. As partes têm direito a reperguntas (art. 188, CPP). OBS: Pode a Defesa do corréu formular reperguntas aos demais acusados, sobretudo nas hipóteses em que houver delação premiada (STF: HC 94016).

• é um ato assistido tecnicamente. Dois aspectos: obrigatoriedade da presença de advogado e entrevista prévia e reservada do acusado com seu defensor (art. 185, caput e §2º, CPP). A ausência de advogado é causa de nulidade absoluta (STJ: RHC 17679). Para a jurisprudência do STJ (HC 47.318), a ausência do MP é causa de mera nulidade relativa, razão pela qual deve ser comprovado o prejuízo.

• é um ato público. O réu preso é ouvido, pelo menos de acordo com a lei, dentro do presídio, desde que haja segurança (art. 185, § 1º, CPP).

• é um ato oral (art. 192, CPP).• é um ato individual. Um acusado não presencia o interrogatório do outro (art. 191,

CPP).

Interrogatório por videoconferência: A lei 11.900/2009 (§ 2º art. 185 do CPP) trouxe previsão de que, excepcionalmente, o magistrado, por decisão suficientemente motivada, possa realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. Poderá ocorrer de ofício ou por requerimento das partes. Tem por finalidades:

• I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

• II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra

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circunstância pessoal;• III – impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que

não seja melhor colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 do CPP;

• IV - responder à gravíssima questão de ordem pública;

OBS: STF (HC 90.900/SP) e STJ (HC 231.501/SP) entendem pela NULIDADE ABSOLUTA de interrogatório por videoconferência realizado ANTES da Lei 11.900/09. Assim, eventual previsão legal anterior existente em norma estadual não tem o condão de legitimar o ato, haja vista que é da União a competência privativa para legislar sobre direito processual (art. 22, I, CF/88).

Livre e espontâneo: não pode haver coação, fraude ou induzimento. É impossível o uso de qualquer subterfúgio no momento do interrogatório (detector de mentiras, sedação).

Fases do interrogatório:i. Identificação (art. 187, §1º, CPP).ii. Esclarecimento sobre os fatos (art. 187, §2º, CPP)iii. Contraditório (arts. 188 a 190, CPP)

A alternativa C, portanto, está incorreta, devendo ser assinalada.

Alternativa D: Art. 155, CPP: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

A alternativa D, portanto, está correta, não devendo ser marcada.

Alternativa E: A confissão é admissão de culpa. Deve ser voluntária, expressa e pessoal, e diante da autoridade competente, em um ato público e formal. A confissão deve ser livre e espontânea (espontaneidade, impondo-se que seja oferecida sem qualquer coação).

Pode ser: JUDICIAL (perante o juiz, como todas as garantias) ou EXTRAJUDICIAL (fora do juízo, na polícia ou no MP).

Quando tomada fora do interrogatório, a confissão se operará por termo nos autos (art. 199, CPP)

Valor da prova: a confissão extrajudicial somente vale se for ratificada (confirmada) em juízo. Vale destacar que a confissão, assim como as demais provas, tem valor relativo, devendo ser cotejada com os demais elementos constantes nos autos (art. 197, CPP)

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Atenuante: a confissão espontânea é uma circunstância atenuante de pena (art. 65, III, d, CP).

Confissão simples: réu confessa e nada invoca em seu favor. É o reconhecimento puro e simples da imputação.Confissão qualificada: réu confessa o fato, agregando novos elementos para excluir a res-ponsabilidade penal.Confissão complexa: o réu reconhece vários fatos criminosos que são objeto do processo.Confissão ficta ou presumida: NÃO existe no CPP (art. 198, CPP, deve ser analisado à luz do disposto no art. 186, p. único, CPP, segundo o qual o silêncio, que não importará em confis-são, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa).

OBS: Réu citado pessoalmente que não comparece: há revelia (sem confissão ficta), e o processo segue seu curso (art. 367, CPP), nomeando o juiz um defensor ao acusado para apresentar a resposta à acusação (art. 396-A, §2º, CPP); Se o réu é citado por edital, e não comparece, nem constituiu advogado, processo e prescrição são suspensos (art. 366, CPP).

Confissão delatória: Réu confessa e delata terceiras pessoas. É o que se chama de DIREITO PENAL PREMIAL. O delator é denominado também de COLABORADOR DA JUSTIÇA.

OBS: Delação Premiada na legislação penal.

a) art. 4º a 7º da Lei 12.850/13 (organizações criminosas): mais correto utilizar o termo da própria lei, “colaboração premiada”, pois a atuação do colaborador pode não se limitar a delatar os comparsas, pois pode abranger também a prevenção de infrações penais, revelação da estrutura hierárquica, recuperação total ou parcial do produto ou proveito do crime ou localização da vítima com sua integridade.

b) art. 8º, p. único, Lei 8.072/90 (crimes hediondos);

c) art. 159, §4º, CP (extorsão mediante sequestro);

d) arts. 13 e 14, Lei 9.807/99 (proteção a vítimas e testemunhas);

e) art. 1º, §5º, Lei 9.613/98 (lavagem de capitais);

f) art. 41, Lei 11.343/06 (drogas)

g) art. 25, §2º, Lei 7.492/86 (crimes contra sistema financeiro nacional);

h) art. 16, Lei 8.137/90 (crimes contra ordem tributária), c/c art. 87, Lei 12.529/11

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i) arts. 86 e 87, Lei 12.529/11 (defesa da concorrência).

Características da confissão:

a) Pessoal e Voluntário

b) Retratável: é possível confessar e retratar-se, cabendo também a retratação da retratação.

Incide a atenuante da confissão (art. 65, III, “ d”, CPP), ainda que haja retratação em juízo, desde que tenha concorrido para a condenação (STJ, HC 184.559/MS; STF, HC 91.654/PR).

c) Divisível: o réu pode confessar uma parte, e não o fazer em relação a outra, ou seja, pode confessar um crime e outro não.

No processo penal, a confissão é divisível e retratável (art. 200, CPP). Já na esfera cível, a confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou coação (art. 214, CC).

d) Informal: não há forma prevista em lei para a sua realização

e) Expressa: não há confissão tácita ou ficta no processo penal, atpe porque a revelia, nesta seara jurídica, em face da indisponibilidade dos direitos em jogo, não induz o efeito da presunção da veracidade dos fatos narrados na exordial.

A alternativa E, portanto, está correta, não devendo ser marcada.

15 – QUESTÃO

Acerca da Lei nº 9.099/95, marque a alternativa correta:

I – Não é inconstitucional ou inválida a imposição, como condição para a suspensão condicional do processo, de prestação de serviço ou prestação pecuniária, desde que adequada ao fato e à situação pessoal do acusado.II –Não é possível a transação penal se o autor da infração tiver sido condenado pela prática de contravenção penal. III – A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, ou por mandado. Não é possível a citação por edital, mas o é por hora certa.

a) Todos os itens estão corretos.b) Apenas o item III está correto.

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DIREITO CONSTITUCIONALPROF. LEDA SIQUEIRA

23 – QUESTÃO

Na teoria do controle de constitucionalidade, a doutrina concebe diversas classificações acerca das formas de inconstitucionalidade. Sobre o tema, assinale a alternativa incorreta:

a) Quanto ao tipo de conduta praticada pelo Poder Público a inconstitucionalidade pode se dar por ação ou por omissão. b) A inconstitucionalidade nomodinâmica se subdivide em propriamente dita, que ocorre nos casos de violação de norma constitucional referente ao processo legislativo e em orgânica que se dá nos casos de violação de norma que estabelece o órgão com competência legislativa para tratar da matéria. c) A inconstitucionalidade superveniente ocorre quando uma lei, que até antes da edição da nova Constituição era constitucional, se torna inconstitucional em razão da nova Carta Magna com ela incompatível. d) A inconstitucionalidade indireta pode configurar-se como conseqüente ou reflexa, de modo que apenas a primeira dá ensejo ao ajuizamento de uma ADI. e) A inconstitucionalidade parcial pode recair sobre apenas uma palavra ou expressão do dispositivo legal desde que sejam autônomas e não alterem o sentido da norma.

RESPOSTA: Alternativa C.

COMENTÁRIOS:

A doutrina classifica as formas de inconstitucionalidade através de cinco parâmetros distintos, a saber:

Quanto ao tipo de conduta praticada pelo Poder PúblicoQuanto à norma constitucional ofendidaQuanto à Extensão da InconstitucionalidadeQuanto ao MomentoQuanto ao prisma de apuração

Alternativa A: A alternativa A concentrou-se na classificação quanto ao tipo de conduta praticada pelo Poder Público. Nessa classificação, a inconstitucionalidade pode se dar por uma ação ou por ação.

A Inconstitucionalidade por Ação ocorre quando o poder público pratica uma conduta comissiva incompatível com o texto constitucional. Exemplo: edição de uma lei que

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viola os preceitos constitucionais.

Por sua vez, a Inconstitucionalidade por Omissão ocorre quando o Poder Público deixa de praticar uma conduta exigida por uma norma constitucional não auto-aplicável. Por exemplo, quando o Poder Público deixa de editar uma lei que a Constituição impõe sua elaboração.

Alternativa B: Quanto à norma constitucional ofendida, a inconstitucionalidade pode ser formal ou material.

A inconstitucionalidade formal também é denominada de nomodinâmica, uma vez que está relacionada ao processo que é algo dinâmico. Ela é subdividida em:

Inconstitucionalidade formal propriamente dita: ocorre nos casos de violação de norma constitucional referente ao processo legislativo.

Que por sua vez, se fraciona em:

• Subjetiva: é a inconstitucionalidade no que tange ao vício de iniciativa, não se observa o sujeito que deveria deflagrar o processo legislativo. Exemplo: Lei sobre vencimentos de servidor público federal é de iniciativa do Presidente.

• Objetiva: relaciona-se às demais fases do processo legislativo. Exemplo: Quórum de aprovação de leis.

Inconstitucionalidade Formal Orgânica: é aquela que ocorre nos casos de violação de norma que estabelece o órgão com competência legislativa para tratar da matéria. Exemplo: STF entendeu que não cabe à Assembleia Legislativa tratar de crimes de responsabilidade e sim ao Congresso Nacional. Isso se difere da inconstitucionalidade formal propriamente dita subjetiva que trata da pessoa.

Inconstitucionalidade Formal por violação dos pressupostos objetivos: é aquela que ocorre nos casos de violação de norma constitucional que estabelece algum tipo de pressuposto objetivo para a elaboração do ato. Exemplo: medidas provisórias têm que observar a relevância e urgência.

Contrapondo-se à inconstitucionalidade formal, temos a inconstitucionalidade material ou nomoestática. Concretiza-se quando o conteúdo da lei impugnada é incompatível com uma norma constitucional. Exemplo: A obrigatoriedade do regime integralmente fechado prevista na Lei de Crimes Hediondos violava o conteúdo do Princípio da Individualização da

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Pena.

Alternativa C: Na classificação quanto ao momento, a inconstitucionalidade pode ser originária, superveniente ou progressiva.

Originária é aquela que ocorre quando o objeto impugnado surge após a existência do parâmetro. Ou seja, a lei já nasce inconstitucional.

Superveniente é aquela que ocorre quando a norma nasce constitucional, mas em razão de uma mudança do parâmetro decorrente de mutação constitucional, ela acaba se tornando inconstitucional. Assim, quando um ato normativo era perante a Constituição antiga constitucional, mas tornou-se inconstitucional em decorrência da Nova Constituição, não se fala em inconstitucionalidade superveniente e sim em não recepção.

Observa-se que a inconstitucionalidade superveniente se relaciona ao fenômeno da mutação constitucional, que ocorre quando uma norma constitucional passa a ser interpretada de maneira diferente ao longo do tempo. O texto é igual, mas o sentido muda. Neste caso, a lei originariamente é considerada constitucional por ser compatível com a interpretação dada ao dispositivo no momento em que foi elaborada. No entanto, em virtude de uma mutação constitucional (nova interpretação) aquela lei originariamente constitucional passa a ser incompatível com o novo sentido atribuído à norma.

Por derradeiro, a inconstitucionalidade progressiva revela-se em situações intermediárias entre a constitucionalidade plena e a inconstitucionalidade absoluta nas quais as situações fáticas do momento justificam a manutenção da norma que progressivamente irá se tornar inconstitucional. Exemplo: Lei 1.060/50 que estabelece prazo em dobro para a Defensoria Pública, ela ainda é constitucional e só vai se tornar inconstitucional quando a defensoria possuir melhores estruturas de trabalho e de cumprimento de prazos comuns.

Alternativa D: Quanto ao prisma de apuração, a inconstitucionalidade se classifica em direta e indireta.

A inconstitucionalidade direta é aquela que ocorre quando o objeto impugnado viola diretamente uma norma constitucional.

A inconstitucionalidade indireta: é aquela que ocorre quando há um ato interposto entre a constituição e o objeto impugnado, podendo ser:

Consequente: é aquela que ocorre quando a inconstitucionalidade do ato é decorrente da inconstitucionalidade de uma outra norma. Uma ADI poderá ter como objeto não só a lei impugnada como também o decreto que a

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regulamenta, uma vez que se trata de uma consequência da lei. É uma exceção ao princípio da demanda, pela qual uma lei pode ser declarada inconstitucional sem constar expressamente do pedido. Tal fenômeno é chamado de inconstitucionalidade por arrastamento.

Reflexa: é aquela que ocorre quando o objeto impugnado é diretamente ilegal e indiretamente inconstitucional, ou seja, entre ele e a Constituição existe um outro ato normativo interposto. Existe a Constituição, uma lei e um decreto. Apenas o decreto é inconstitucional. Assim, neste caso não pode ser proposta uma ADI, pois a violação à Constituição não é direta, trata-se de controle de legalidade.

Sendo assim, como regra a violação à Constituição apta a ensejar o ajuizamento de uma ADI deve ser direta. Excepcionalmente a violação indireta é capaz de oportunizar uma ADI desde que se trate de uma violação indireta conseqüente.

Alternativa E: Quanto à extensão da inconstitucionalidade, temos:

Inconstitucionalidade Total: ocorre quando toda a lei ou todo o dispositivo são incompatíveis com uma norma constitucional.

Inconstitucionalidade Parcial: ocorre quando parte de uma lei ou de um dispositivo é incompatível com a constituição. A inconstitucionalidade parcial pode recair sobre apenas uma palavra ou expressão desde que sejam autônomas e não alterem o sentido da norma.

24 – QUESTÃO

Levando-se em consideração o controle difuso de constitucionalidade, para se declarar um ato normativo inconstitucional é necessário que o Tribunal o faça mediante deliberação de 50% de seus membros ou órgão especial, tal exigência é designada como “cláusula de reserva de plenário”. Todas as situações abaixo dispensam a observância da cláusula de reserva de plenário. Exceto:

a) Decisão proferida por Turma Recursal. b) Declaração de nulidade sem redução do texto.c) Declaração de não recepção de uma lei. d) Declaração de constitucionalidade de uma lei. e) Decisão que afasta a incidência em todo ou em parte de determinada norma.

RESPOSTA: Alternativa E.

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COMENTÁRIOS:

A Cláusula da Reserva de Plenário também denominada de Regra da “Full Bench” impõe que determinada competência não pode ser exercida por órgãos fracionários do tribunal (turmas), mas somente por todos seus membros.

Nesse sentido, o art. 97 da Constituição anuncia que:

Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

A reserva de plenário se aplica apenas aos Tribunais e somente para a declaração de inconstitucionalidade.

Hipóteses de Dispensa da regra da Reserva de Plenário:

Alternativa A: Decisão proferida por Turmas Recursais de Juizados Especiais bem como decisões de juízes singulares, que incidentalmente podem reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei sem maiores formalidades.

Alternativa B: Declaração de nulidade sem redução de texto: na jurisprudência do STF tanto na declaração de nulidade sem redução de texto como na interpretação conforme não é necessária a observância da cláusula da reserva de plenário. Em ambos os casos não se está declarando a lei inconstitucional, mas sim uma interpretação a ser dada a tal lei.

Alternativa C: Hipótese de não recepção de uma lei. Lei anterior incompatível com a Constituição não é inconstitucional, mas não-recepcionada. Assim, nas hipóteses de não-recepção não é necessário observar a reserva de plenário.

Alternativa D: Na declaração de constitucionalidade não é necessária a observância da reserva de plenário.

Alternativa E: É a resposta da questão. O STF por meio da súmula vinculante 10 decidiu que o Tribunal embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, mas afaste a sua incidência, deve observar a cláusula de reserva de plenário. Vejamos:

Súmula vinculante 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

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Essa súmula foi editada para evitar a declaração “escamoteada” da inconstitucionalidade, ou seja, os desembargadores afastavam a aplicação da lei por ser inconstitucional e alegavam que não estavam declarando a inconstitucionalidade só para não submeter ao Pleno por ser mais dispendioso.

25 – QUESTÃO

Levando-se em consideração as disposições legais sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade, a Ação Direta de Constitucionalidade e a Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental, assinale a alternativa correta:

a) O objeto da ADI e da ADC são leis e atos normativos estaduais e federais. b) O quórum para decisão de mérito exige maioria de 2/3.c) Na ADI, os efeitos da cautelar ocasionam a suspensão da lei ou o ato normativo impugnado com efeito ex tunc.d) De acordo com a lei, na ADI a decisão de mérito se torna obrigatória a partir do trânsito em julgado. e) A modulação dos efeitos nessas três ações é permitida se operando ex nunc ou pró-futuro.

RESPOSTA: Alternativa E.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A ADI admite como objeto leis ou atos normativos estaduais ou federais. Em contrapartida, a ADC só admite como objeto leis ou atos normativos federais.

Art. 13 da Lei 9.868/99:

Podem propor a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.

Relativamente ao objeto dessas duas ações, ele deve que ser uma lei ou um ato normativo. Nesse aspecto, é admitida qualquer lei inclusive leis de efeitos concretos, que são aquelas que têm o objeto certo e um destinatário determinado, por exemplo, as leis orçamentárias.

O STF não admite como objeto de ADI ou ADC:

Atos tipicamente regulamentaresNormas Constitucionais originárias Lei ou norma de efeitos concretos já exauridos e leis ou atos normativos já revogados

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Alternativa B: Para haver o julgamento dessas ações devem estar presentes no plenário pelo menos 8 ministros. Já o quórum de decisão é 6 ministros, nos termos dos arts. 22 3 23 da Lei 9.868/99.

Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.Art. 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade.

O aluno não deve confundir com o quórum exigido para efetuar-se a modulação dos efeitos da decisão, que exige 2/3.

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Alternativa C: A decisão vai suspender a aplicação da lei com efeitos “ex nunc” (art. 11, §1º, Lei 9.868/99). Ao suspender a lei, ocorre o efeito repristinatório tácito da lei anterior (art. 11, §2º, Lei 9.868/99).

Art. 11 § 1o A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.

Alternativa D: No controle abstrato, a decisão se torna obrigatória a partir da publicação de sua parte dispositiva no DJ (Diário da Justiça) ou no DOU (Diário Oficial da União). Não é a partir do trânsito em julgado.

Alternativa E: É a resposta da questão nos termos do art. 27 da Lei 9.868/99:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro

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momento que venha a ser fixado.

Apesar de a lei se referir expressamente apenas à ADI, o mesmo raciocínio se aplica à ADC.

Quanto à ADPF, existe menção expressa na Lei 9.882/99:

Art. 11. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

26 – QUESTÃO

O mentor da Teoria do Poder Constituinte foi:

a) Abade Sieyesb) Hans Kelsenc) Konrad Hessed) Ferdinand Lassallee) Carl Schmitt

RESPOSTA: Alternativa A.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: A Teoria do Poder Constituinte compreende o Poder Constituinte Originário e o Poder Constituinte Derivado.

O Poder Constituinte Originário é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo totalmente com a ordem jurídica anterior criando-se um novo Estado.

O Poder Constituinte Derivado, por seu turno, pressupõe o Poder Constituinte Derivado Revisor que determina que a partir de um determinado lapso temporal a Constituição seja revisada; o Poder Constituinte Derivado Reformador, que é aquele exercido para se efetuarem alterações na Constituição e, por último, o Poder Constituinte Derivado Decorrente que é aquele que se desenvolve a partir da elaboração das Constituições Estaduais.

O mentor da Teoria do Poder Constituinte é Abade Sieyes, o qual atribuía sua

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titularidade à nação.

Alternativa B: Hans Kelsen é mentor da Teoria Pura do Direito, pela qual as normas jurídicas devem sofrer um processo de depuração em relação a concepções religiosas, sociológicas e psicológicas, encerrando apenas conteúdo normativo deontológico.

Alternativa C: Konrad Hesse é autor da concepção moderna da Força Normativa da Constituição. Por ela, a Constituição possui uma força normativa capaz de modificar a realidade obrigando as pessoas a observarem seus preceitos.

Alternativa D: Ferdinand Lassalle é mentor da concepção Sociológica da Constituição. O autor enxerga a Constituição sob o aspecto da relação entre os fatos sociais dentro do Estado. Nesse contexto, haveria uma Constituição Real que consistiria na soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação e uma Constituição Escrita que reuniria as normas dispostas a reger um Estado. Todavia, a Constituição real poderá coincidir ou não com a Escrita, que se sucumbirá se contrária à Constituição Real ou efetiva.

Alternativa E: Atribui-se a Carl Schmitt a autoria sobre a concepção Política da Constituição. Segundo ela, busca-se o fundamento da Constituição na decisão política fundamental que antecede a elaboração da Constituição – aquela decisão sem a qual não se estrutura um Estado, por exemplo, o sistema de governo adotado.

27 – QUESTÃO Sobre os princípios instrumentais ou metanormas, assinale a alternativa incorreta:

a) Pelo Princípio da Unidade a Constituição deve ser interpretada de forma a evitar contradições entre suas normas.b) O Princípio da Justeza estabelece que não existem direitos absolutos, pois todos encontram limites em outros direitos também consagrados na Constituição.c) O Princípio do Efeito Integrador impõe que nas resoluções de problemas jurídico-constitucionais deve ser dada primazia aos critérios que favoreçam à integração política e social produzindo um efeito criador e conservador desta unidade.d) Princípio da Concordância Prática ou Harmonização são sinônimos. e) O Princípio da Força Normativa prescreve que na aplicação da Constituição deve ser dada preferência a soluções concretizadoras de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes.

RESPOSTA: Alternativa B.

COMENTÁRIOS:

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Enquanto princípios materiais são normas que estabelecem direitos ou impõem deveres a serem observados no caso concreto (exemplos: Princípio da Isonomia, Princípio da Liberdade Religiosa, Princípio da Dignidade da Pessoa Humana), princípios instrumentais (metanormas ou postulados) são normas a serem utilizadas na interpretação e aplicação de outras normas. Tais princípios são propostos por dois autores alemães: Konrad Hesse e Friedrich Müller.

Alternativa A: O Princípio da Unidade institui que a Constituição deve ser interpretada de forma a evitar contradições entre suas normas embora existam muitos dispositivos que aparentemente são conflitantes entre si.

O Princípio da Unidade afasta a tese de hierarquia entre normas originárias da Constituição, ao argumento de que se foi o mesmo poder que criou tais normas, o intérprete deve fazer uma interpretação para conciliá-las, de modo que uma não invalida a outra.

Alternativa B: O Princípio da Justeza ou Conformidade Funcional tem por finalidade não permitir que os órgãos encarregados da interpretação constitucional cheguem a um resultado que subverta o esquema organizatório funcional estabelecido pela Constituição. Assim, cada Poder deve agir conforme as atribuições que lhe foram conferidas.

No caso da questão, o princípio que estabelece que não existem direitos absolutos, pois todos encontram limites em outros direitos também consagrados na Constituição, é o Princípio da Relatividade e não o da Justeza.

Alternativa C: O Princípio do Efeito Integrador ou Eficácia Integradora ordena que nas resoluções de problemas jurídico-constitucionais deve ser dada primazia aos critérios que favoreçam à integração política e social produzindo um efeito criador e conservador desta unidade. Parte-se da premissa que a Constituição é o principal elemento de integração comunitária, assim, ao interpretá-la deve-se buscar decisões que favoreçam a integração e não rupturas.

Alternativa D: O Princípio da Concordância Prática e da Harmonização são sinônimos. Por ele, cabe ao intérprete coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito realizando uma redução proporcional no âmbito de alcance de cada um deles. Quando se tem dois princípios conflitantes entre si, invés de sacrificar totalmente um para que o outro seja aplicado, deve-se aplicar proporcionalmente cada um deles evitando o sacrifício total de um para a aplicação de outro.

Alternativa E: O Princípio da Força Normativa pressupõe que na aplicação da Constituição deve ser dada preferência a soluções concretizadoras de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes. Além disso, por esse princípio, a Constituição deve ser respeitada, ela obriga e possui força normativa capaz de modificar a realidade.

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28 – QUESTÃO

Quanto ao modo de elaboração, as Constituições classificam-se como:

a) Reduzidas ou variadasb) Ortodoxas ou ecléticasc) Dogmáticas ou históricasd) Principiológicas ou preceituais e) Sintéticas ou analíticas

RESPOSTA: Alternativa C COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Reduzidas ou variadas são classificações quanto à sistemática.

Reduzidas ou codificadas são as Constituições que se materializam em um só código básico. Por exemplo, Constituição do Brasil.

Variadas ou legais são aquelas que se distribuem em vários textos e documentos esparsos.

Alternativa B: Ortodoxas ou ecléticas, por sua vez, são classificações quanto à dogmática.

Ortodoxa é a Constituição formada por uma só ideologia. Por exemplo, Constituição Soviética.

Eclética é aquela formada por ideologias conciliatórias. Por exemplo, a Constituição Federal de 1988.

Alternativa C: É a alternativa correta. Quanto ao modo de elaboração às Constituições podem ser dogmáticas ou históricas.

Dogmáticas são aquelas que apresentam os dogmas estruturais e fundamentais do Estado, partido de teorias preconcebidas e elaboradas de uma só vez.

As históricas constituem-se através de um lento e contínuo processo de formação, ao longo do tempo, reunindo a história e as tradições de um povo.

Alternativa D: Constituições principiológicas ou preceituais revelam uma classificação quanto ao sistema.

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Principiológicas são aquelas em que predominam os princípios, ou seja, normas com alto grau de abstração consagradores de valores.

Preceituais são aquelas nas quais prevalecem regras individualizadas revestidas de pouco grau de abstração concretizadoras de princípios.

Alternativa E: Quanto à extensão, as Constituições se classificam em sintéticas ou analíticas.

As sintéticas (concisas, breves, sucintas, básicas) veiculam apenas princípios fundamentais e estruturais do Estado. Por exemplo, Constituição do Estados Unidos da América.

As analíticas abordam todos os assuntos que os representantes do povo entendem fundamentais. Por exemplo, Constituição Federal de 1988.

29 – QUESTÃO

Em relação aos direitos de nacionalidade assinale a alternativa incorreta.

a) No rol dos brasileiros natos encontram-se os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país além dos nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil.b) A “quase nacionalidade” é uma característica atribuída somente aos portugueses. c) Uma das hipóteses de perda da nacionalidade ocorre quando o brasileiro tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional.d) Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato, salvo os casos previstos na Constituição.e) Naturalização expressa extraordinária ou quinzenária é a concedida a estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira

RESPOSTA: Alternativa D

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Nacionalidade Primária (originária) é aquela que o indivíduo adquire com o nascimento. A Constituição adotou um critério misto (jus soli e jus sanguinis) atribuído aos brasileiros natos.

Hipóteses: (art. 12, I da CF)

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DIREITO ELEITORALPROF. LEDA SIQUEIRA

35 – QUESTÃO

Acerca da composição do Tribunal Superior Eleitoral, assinale a alternativa correta.

a) O Tribunal Superior Eleitoral tem sua sede na capital federal e é composto por no mínimo 9 juízes, sendo 3 ministros do STF, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal; 3 ministros do STJ, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal e 3 advogados, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil e nomeados pelo Presidente da República. b) O Tribunal Superior Eleitoral tem sua sede na capital federal e é composto por no mínimo 7 juízes, sendo 3 ministros do STF, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal; 2 ministros de STJ, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal e 2 advogados, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil e nomeados pelo Presidente da República. c) O Tribunal Superior Eleitoral tem sua sede na capital federal e é composto por no mínimo 9 juízes, sendo 3 ministros do STF, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal; 3 ministros do STJ, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal e 3 advogados, indicados pelo Supremo Tribunal Federal e nomeados pelo Presidente da República. d) O Tribunal Superior Eleitoral tem sua sede na capital federal e é composto por no mínimo 7 juízes, sendo 3 ministros do STF, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal; 2 ministros de STJ, eleitos pelos próprios membros deste Tribunal e 2 advogados, indicados pelo Supremo Tribunal Federal e nomeados pelo Presidente da República. e) O Tribunal Superior Eleitoral tem sua sede na capital federal e é composto por no mínimo 9 juízes, sendo 3 ministros do STF, nomeados pelo Presidente da República; 3 ministros do STJ, escolhidos pelo Supremo Tribunal Federal e 3 advogados, indicados pelo Supremo Tribunal Federal e nomeados pelo Presidente da República.

RESPOSTA: Alternativa D.

COMENTÁRIOS:

A Justiça Eleitoral é um ramo do Poder Judiciário da União. Seus servidores são federais. Nos termos, do art. 118 da Constituição Federal, ela é formada por quatro classes de órgãos: TSE, TRE, juízes eleitorais e juntas eleitorais.

Tribunal Superior EleitoralTribunal Regional Eleitoral Juízes eleitoraisJuntas Eleitorais

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Na justiça eleitoral, não existe uma carreira própria da magistratura. Assim, os juízes eleitorais exercem outras funções e, por determinado período, eles se dedicam às atribuições eleitorais. Os membros dos tribunais eleitorais e juízes eleitorais não serão vitalícios. Os juízes dos tribunais eleitorais exercerão suas funções por no mínimo 2 anos e por 4 anos consecutivos no máximo. Nesse sentido, insta mencionar o Princípio da Temporariedade da Investidura pelo qual se compreende que a justiça eleitoral é permanente, mas a investidura das funções é temporária.

Alternativa A: O erro da presente alternativa encontra-se em dois pontos do enunciado. Primeiramente, nos termos do art. 119 da Constituição Federal, o Tribunal Superior Eleitoral será composto de no mínimo sete membros.

O segundo erro encontra-se no que tange à escolha dos advogados que irão compor o TSE. A Constituição determina que sua escolha será feita por nomeação do Presidente da República após indicação de seis nomes pelo Supremo Tribunal Federal. Veja-se, portanto, que a Ordem dos Advogados do Brasil não desempenha nenhum papel da escolha daqueles membros oriundos da advocacia que irão fazer parte do TSE.

Alternativa B: Essa alternativa apresentou o número correto dos juízes que integrarão o TSE, a saber: sete. Todavia, nos moldes da alternativa anterior, ela também atribuiu erroneamente, a escolha dos advogados à OAB.

Alternativa C: Nessa alternativa, o número de integrantes do TSE está equivocado, como já vimos, a Constituição estabelece que ele será composto de no mínimo sete membros.

No tocante, à escolha dos advogados, a alternativa não apresenta qualquer erro, já que de fato eles serão indicados pelo STF e nomeados pelo Presidente da República. Nesse aspecto, a Constituição determina que a escolha se dará mediante nomeação pelo Presidente da República, de dois dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

Alternativa D: É a alternativa correta.

Alternativa E: O erro dessa alternativa encontra-se no fato de que a escolha dos membros oriundos do STF e do STJ se dará mediante eleição pelos próprios membros destes tribunais. Assim, caberá ao STF mediante voto secreto escolher três ministros do próprio STF e ao STJ também mediante voto secreto escolher três ministros do próprio STJ respectivamente. Note-se que eles não serão nomeados pelo Presidente da República e sim eleitos.

36 – QUESTÃO

Em matéria de recursos eleitorais, assinale a alternativa incorreta:

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a) O prazo do recurso especial é de 15 dias. b) Via de regra, os recursos eleitorais não têm efeito suspensivo. Excepcionalmente, haverá tal efeito no caso o recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo. c) São preclusivos os prazos para interposição de recurso, salvo quando neste se discutir matéria constitucional.d) É admissível recurso de decisão da Junta Eleitoral. e) O TSE é o único órgão da Justiça Eleitoral que tem competência para julgar ação rescisória.

RESPOSTA: Alternativa A.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: É a resposta da questão. Nos termos do art. 276, §1º do Código Eleitoral é de três dias o prazo para a interposição do recurso especial. Dessa forma, o aluno deve ter atenção porque embora o recurso especial seja comum a inúmeros ramos do direito, no caso de matéria eleitoral ele terá o prazo de 3 dias e não de 15 como é a regra.

Acerca de seu cabimento, o Recurso Especial é cabível contra decisões proferidas pelo Tribunal Regional Federal e terá como destinatário o Tribunal Superior Eleitoral, nos seguintes casos.

Casos previstos tanto pela Constituição Federal como pelo Código Eleitoral: (art. art. 121, §4º, I e II da CF e art. 276, I, “a” e “b” do Código Eleitoral)

Forem proferidas contra disposição expressa de lei

Ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais

Alternativa B: Em 2015, houve alteração do art. 257 do Código Eleitoral, que passou a admitir o efeito suspensivo em algumas decisões da justiça eleitoral que até então não possibilitava tal efeito.

Assim, a regra é que os recursos eleitorais NÃO possuem efeito suspensivo. A exceção é: o recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em:

cassação de registro; afastamento do titular; ou

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perda de mandato eletivo

Nestes casos, o recurso será recebido pelo Tribunal competente com efeito suspensivo. Isso porque, essas são decisões demasiadamente sérias e que podem acarretar num enorme prejuízo para o candidato e até mesmo para a população, a depender do momento em que ocorrer, se elas produzirem efeitos imediatos.

Alternativa C: Essa é a exata redação do art. 259 do Código Eleitoral. Esse comando não quer dizer que a parte pode interpor recurso a qualquer momento pelo fato de não haver preclusão do recurso de matéria constitucional. Deve ser entendido que, perdido o momento de alegar a matéria naquele recurso, deve-se aguardar uma nova fase para alegá-la no recurso cabível da fase seguinte.

Alternativa D: As Juntas Eleitorais são órgãos colegiados da Justiça Eleitoral de primeira instância e possuem capacidade jurisdicional. As juntas são formadas por um juiz de direito e por dois ou quatro cidadãos, formando um órgão de três ou cinco membros. Hoje em dia estão em desuso, mas continuam existindo. Elas eram responsáveis pela apuração dos votos quando o voto se dava por cédulas de papel, mas como atualmente a apuração é eletrônica, elas perderam a sua utilidade. Nas eleições municipais ainda têm grande utilidade, uma vez que é a junta eleitoral que concede a diplomação ao candidato eleito.

A decisão da junta quanto à apuração dos votos veiculados por cédula de papel desafia o recurso parcial, de forma é que correta a alternativa que afirma ser admissível recurso de decisão de Junta Eleitoral.

Os recursos parciais (arts. 160 e 261 CE) são interpostos diante do julgamento de eventuais impugnações formuladas durante a apuração das eleições. Tais impugnações apresentadas por fiscais e delegados de partidos, além de candidatos devem ser decididas de plano pela Junta. E das decisões referentes a essas impugnações é que caberá o recurso parcial de forma imediata interposto de forma escrita ou oral fundamentado no prazo de 48 horas. Tal recurso remete à época da eleição por cédula. Se o fiscal do partido constatasse que o apurador estava computando o voto errado, poderia interpor uma impugnação e a junta eleitoral teria que decidir sobre essa impugnação de pronto e contra a decisão da junta eleitoral cabia recurso parcial.

Alternativa E: No tocante ao estudo da ação rescisória no direito eleitoral, tal assunto compreende algumas peculiaridades em relação à ação rescisória do direito processual civil. Transitada em julgado decisão judicial do TSE (recursal ou originária) constitutiva de inelegibilidade, faculta-e ao interessado ajuizar, no prazo de 120 dias, ação rescisória eleitoral perante o TSE.

O Tribunal Superior Eleitoral é o único órgão da justiça eleitoral com competência

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para julgar ação rescisória e mesmo assim apenas de decisões por ele proferidas constitutivas de inelegibilidade.

Para o exercício do direito de ação não importa a origem da inelegibilidade, isso é, se decorrente de abuso de poder ou de ação por captação ou gasto ilícito em campanha, captação ilícita de sufrágio ou de conduta vedada a agente público.

A previsão encontra-se no art. 22, I, “j”, do Código Eleitoral. A demanda deve ter por objeto acórdão do próprio TSE que conclua pela inelegibilidade da parte. Assim, o TSE não detém competência para rescindir julgado de Tribunal Regional, tampouco de juiz eleitoral de 1º grau. Eis o texto do artigo:

Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:I - Processar e julgar originariamente:j) a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado.

37 – QUESTÃO

Assinale a alternativa correta quanto aos Partidos Políticos:

a) O partido deve requerer seu registro no cartório de registro civil de pessoas jurídicas do Distrito Federal, quando adquirirá personalidade jurídica. O pedido deve ser subscrito por 101 fundadores com domicílio em 1/5 dos Estados. b) É vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar e utilizar uniforme, bem como é proibido o recebimento de recursos financeiros de entidades e governos estrangeiros. c) Aquele que deseja concorrer a mandatos eletivos deve se filiar a um partido político no prazo de até um ano antes do pleito. d) A criação de novo partido é considerada justa causa apta a ensejar a desfiliação do candidato sem configurar infidelidade partidária. e) A perda de mandato em razão da mudança de partido se aplica a candidatos ocupantes de cargos eletivos proporcionais e majoritários.

RESPOSTA: Alternativa B.

COMENTÁRIOS:

Alternativa A: Partido político é uma agremiação que busca na forma da lei alcançar o poder, composta por pessoas que possuem um pensamento político uniforme. Os partidos conservam atribuições significativas no processo eleitoral eis que possuem uma enorme

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prerrogativa de fiscalização bem como detêm o monopólio das candidaturas. Apesar de exercerem múnus público são pessoas jurídicas de direito privado.

Todo partido político deve ter caráter nacional e isso deve ser levado em conta na sua criação na medida em que se exige para a fundação de um novo partido, apoiamento mínimo da população das mais variadas regiões do país.

Requisitos para constituição dos partidos (arts. 7º e 8º da Lei 9.096/95):

1. O partido deve requerer seu registro no cartório de registro civil de pessoas jurídicas do Distrito Federal, quando adquirirá personalidade jurídica. O pedido deve ser subscrito por 101 fundadores com domicílio em 1/3 dos Estados.

2. Satisfeitas as condições, o partido promove a obtenção do apoiamento mínimo (colheita de assinaturas). Tal obtenção deve ocorrer no período de dois anos mediante o apoio do número de pessoas correspondente a 0,5% dos votos válidos dados nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados. Esse 0,5% deve estar distribuído por 1/3 dos Estados, comprovando que 0,1% dos eleitores que votaram em deputado federal naquele Estado apóiam o partido.

Exemplo: Houve 50 milhões de votos válidos para a Câmara dos Deputados nas últimas eleições. O novel partido precisa comprovar que pelo menos 250 mil eleitores estão o apoiando. Esses 250 mil eleitores devem estar distribuídos por no mínimo 1/3 dos Estados e em cada estado, 0,1%. Ex: na Bahia, foram 3 milhões de votos para deputado federal, lá então é necessário comprovar 3 mil apoiadores.

3. Após a obtenção do apoaimento mínimo, se faz o registro junto ao TSE.

Alternativa B: É a resposta correta, nos termos do art. 17 da Constituição Federal e art. 6º da Lei 9.096/95.

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: RegulamentoI - caráter nacional;II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem

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obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 52, de 2006)§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.§ 3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

Art. 6º É vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros.

Alternativa C: De acordo com a Constituição Federal, é condição de elegibilidade a filiação partidária. Só é possível o exercício de mandato eletivo por aquela pessoa que estiver em pleno gozo dos direitos políticos. Contudo, o eleitor considerado inelegível pode-se filiar a partido político. Assim, não se pode confundir perda ou suspensão dos direitos políticos com inelegibilidade. Perda ou suspensão afetam a capacidade eleitoral ativa e passiva, o inelegível pode sim filiar-se a partido, apesar de não poder ser votado.

O art. 9º da Lei das Eleições (Lei 9.504/97), alterado em 2015, exige prazo de no mínimo 6 meses de filiação para que o filiado possa concorrer a mandatos eletivos e não mais de um ano como era até então.

Art. 9o  Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do pleito, e estar com a filiação deferida pelo partido no mínimo seis meses antes da data da eleição. (Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

Alternativa D: No que pertine ao tema da infidelidade partidária, tal ocorre quando o candidato eleito, sem justa causa e espontaneamente deixa o partido pelo qual se elegeu.

Mesmo não havendo uma norma expressa na lei ou na Constituição Federal regulando isso, o TSE e o STF firmaram a tese de que, se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo que ocupa.

Nesse contexto, as hipóteses de justa causa eram indicadas na Resolução 22.610/2007 do TSE que assim estabelecia:

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a) se o partido em que ele se elegeu passou por um processo de incorporação ou fusão com outro partido; b) se o detentor do cargo sai do partido pelo qual se elegeu para se filiar a um novo partido que foi recém criado; c) se ficar provado que houve uma mudança substancial no partido ou desvio reiterado do programa partidário; d) se ficar provado que o detentor do cargo sofre grave discriminação pessoal no partido.

Com a reforma eleitoral de 2015, esse tema passou a constar expressamente da Lei 9.096/95 que além de elencar as hipóteses, também as modificou.

Agora, de acordo com o art. 22-A da Lei Orgânica dos Partidos Políticos, consideram-se justa causa a ensejar a saída do candidato do partido sem que ele perca o mandato:

I - mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;II - grave discriminação política pessoal; e III - mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede

o prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.

Dessa forma, a criação de novo partido não é mais considerado justa causa.

Alternativa E: Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela Constituição Federal e pela lei para disciplinar a forma como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.

No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais: o majoritário e o proporcional. Pelo sistema majoritário, será eleito o candidato que recebeu mais votos. Por seu turno, no sistema proporcional, as vagas serão distribuídas de acordo com o número de votos que o partido obteve.

Nesse cenário, entende o STF que a perda do cargo em razão de infidelidade partidária (abandono do partido sem justa causa) só ocorre para os cargos proporcionais, tendo em vista que eles pertencem ao partido. Já nos cargos majoritários, o eleitor ao votar, atribui seu voto diretamente ao candidato sem que o partido receba influxo dessa opção.

Assim, a perda de mandato em razão da mudança de partido não se aplica a candidatos ocupantes de cargos eletivos majoritários.

Confira a decisão do STF sobre o assunto:

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A perda do mandato em razão de mudança de partido somente se aplica para os cargos eletivos proporcionais. Essa sanção não vale para candidatos eleitos pelo sistema majoritário. No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário. Nas eleições majoritárias (Prefeito, Governador, Senador e Presidente), os eleitores votam no candidato e não no seu partido político. Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade partidária é antagônica (contrária) à soberania popular. STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

38 – QUESTÃO

Durante as eleições de 2016, no Município de Ouro Branco localizado em Minas Gerais, concorreram às vagas destinadas aos cargos de vereador quatro partidos políticos (A, B, C e D). Considerando que em Ouro Branco 54 mil eleitores votaram validamente bem como existem 9 cadeiras a serem preenchidas por vereadores e que o partido A (obteve 24 mil votos), B (18 mil votos), C (10 mil votos) e D (2 mil votos), quantas cadeiras ocupará cada partido?

a) A ocupará 4 cadeiras, B ocupará 3 cadeiras, C ocupará 1 cadeira e D nenhuma cadeira, ficando uma cadeira vaga a ser ocupada por um suplente. b) A ocupará 4 cadeiras, B ocupará 3 cadeiras, C e D ocuparão cada qual uma cadeira respectivamente. c) A ocupará 4 cadeiras, B ocupará 4 cadeiras, C ocupará 1 cadeira e D nenhuma cadeira. d) A ocupará 5 cadeiras, B ocupará 3 cadeiras, C ocupará 1 cadeira e D nenhuma cadeira. e) A ocupará 4 cadeiras, B ocupará 3 cadeiras, C ocupará 2 cadeiras e D nenhuma cadeira.

RESPOSTA: Alternativa E.

COMENTÁRIOS:

Como dito na questão anterior, sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela Constituição e pela lei para disciplinar a forma como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.

No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais: o majoritário e o proporcional. No sistema majoritário será eleito o candidato mais votado. Por seu turno, no sistema proporcional, as vagas são distribuídas de acordo com o número de votos que o partido obteve.

Como a questão aborda a eleição de vereadores, vamos desenvolver o processo de