sucessÃo em campo abandonado no vale do...
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I
Universidade Federal de Minas Gerais
Instituto de Ciências Biológicas
Departamento de Biologia Geral
SUCESSÃO EM CAMPO ABANDONADO NO VALE DO
RIO CIPÓ, PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIPÓ –
MINAS GERAIS
Eugênia Kelly Luciano Batista
Orientador: Prof. Dr. José Eugênio Cortes Figueira
Co-orientador: Prof. Dr. Ary Teixeira de Oliveira Filho
Dissertação apresentada ao curso de Pós-
Graduação em Ecologia, Conservação e
Manejo da Vida Silvestre do Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ecologia.
Apoio Institucional: Financiamento:
Belo Horizonte, Março de 2011.
II
À minha mãe - nada menos do que meus seis sentidos.
II
Agradecimentos
A Deus, por cada um dos anjos que cruzaram e ainda cruzarão o meu caminho.
A natureza, por ser minha fonte eterna de inspiração. Por toda a sua exuberância,
mistério e magia, que despertam em mim a paixão pelo que faço. Pela sua infinita
capacidade de me trazer paz e recarregar minhas energias. Por manter dentro de mim a
coragem e a força para lutar por sua preservação.
À minha mãe, por me dedicar cada segundo de sua vida, por acreditar em mim e me
amar como sou. Pelo esforço despendido para que eu chegasse até aqui. Pela
cumplicidade e seu amor inabalável. Por seu exemplo de integridade, bravura e
compaixão. Pelo cheirinho do café no final da tarde e sua presença suave e constante em
minha vida. Por ser a base a partir da qual me edifiquei. Minha melhor amiga, minha
companheira, minha fiel escudeira. Por seu jeito bonito de perdoar e se doar. Por todos
os ensinamentos, por cada esforço, cada “grama” de paciência e cada sábio conselho.
Pela fonte eterna de paz, força e positivismo. Por me mostrar várias vezes que não se
devolve ao mundo as pancadas e que o amor ainda vale a pena. Por me permitir chegar
em casa e me sentir amada, protegida e jamais solitária. Por me somar a cada dia e me
doar em doses homeopáticas um pouco de sua nobreza infinita.
À minha pequena grande família, sobretudo por me darem suporte nos momentos
difíceis, vibrarem com minhas vitórias e compartilharem comigo todas as alegrias
vividas. Ao meu irmão Cacáudio, com seu falso coração gelado. Por seu exemplo de
intelectualidade e sucesso. Por fazer parte da minha história e ser o confortante elo com
o meu passado. Pelas divertidas e sinceras reuniões familiares e boas risadas. Pelo salão
da Barbie, pelo seu jeitinho único de demonstrar carinho e pela aconchegante certeza de
seu afeto. À minha cunhada Bruna, que de “cunhada” não tem nada. Pela sua amizade e
companhia sempre agradáveis. Ao meu grande amigo Marcos, por me amar assim... do
jeito que eu sou: rabugenta. Pelas várias e várias vezes em que esteve ao meu lado
quando mais precisei. Por cada gota de lágrima que ele secou e cada minuto de sua
presença em minha vida. Pela sua divertida e infinita curiosidade em relação à ciência.
Pelas tantas conversas e aluguel sem fins lucrativos dos seus ouvidos. Ao meu primo
Richard, por cada “grama” de sua infinita paciência, pelas horas perdidas no Xadrez,
Combate, Jogo da Vida, Banco Imobiliário... Pelos solucionáticos queijos, samambaias
e axés. Pela sua risada única, “causos” e mais “causos” e sua presença certa em todos os
momentos especiais de minha vida até então.
Ao Joselmar, pelo companheirismo e lealdade. Por cada momento em que, embora
distante, se fez presente. Por me ouvir, entender e apoiar nos momentos de fraqueza e
rebeldia. Por acreditar em mim e me convencer a acreditar também. Por compartilhar
comigo todas as aflições e alegrias. Por diversas vezes ter me reerguido e me ajudado a
seguir em frente. Por cada palavra e gesto de apoio e carinho. Por seu exemplo de
generosidade, esforço e sucesso. Por me mostrar que podemos realizar nossos sonhos
III
começando do zero. Pelo seu ombro sempre tão forte e seu amor sempre tão sincero,
leve e confortante.
Ao meu orientador José Eugênio, por toda a sua sapiência e cada uma de suas idéias
brilhantes. Por sua dedicação acadêmica e vontade de fazer sempre o melhor. Por
acreditar que um dia essa “catarrina” chegaria até aqui. E quem diria... brincando com o
caos... Por cada “grama” de sua paciência e por cada pedacinho do seu infinito
conhecimento. Por ter me edificado enquanto pessoa e profissional. Por todo esse tempo
de paternal convivência, que tornou minha trajetória acadêmica mais leve e divertida.
Por sua leal amizade, seu apoio e sua compreensão. Pela certeza de sua ajuda sempre
que precisei. Pelas calorosas reuniões em sua casa. Pelo exemplo de generosidade, ética
e justiça.
Ao meu coorientador Ary, por todas as suas contribuições, pela ajuda fundamental com
as análises de solo e identificação das espécies. Por toda a sua simplicidade e
conhecimento. E sobretudo, por ter aceito o desafio de se envolver nessa idéia maluca
de enxergar alguma ordem no caos.
Aos meus seletos amigos. Carol e Marininha pela reciprocidade, atenção, carinho,
momentos de alegria e boas lembranças. Pelas pipocas de panela, Coca-colas geladas e
filmes ruins. Por rirem das minhas piadas sem graça. Por me acolherem em suas vidas
como se nos conhecêssemos desde criança. Pelos sábios conselhos amorosos e apoio às
minhas sandices. Pela amizade simples e inocente, sem despeito ou disfarces. Ao meu
amigo Bruninho, por todas as deliciosas e terapêuticas crises de risos e pelos sempre
divertidos encontros. Por me apoiar, estimular e ajudar a colocar planos sempre falíveis
em prática. À Graciele, por sua velha amizade e tantas histórias que hoje tenho para
contar. À Vívian pelo exemplo de serenidade e agradável companhia. Por seu senso de
justiça e apoio nos momentos em que mais precisei. À Fabiana Lopes, minha boa amiga
pela sua companhia sempre certa, sua meiguice, simplicidade e competência.
Aos meus estagiários e amigos, Thomaz, Julianne e Fernanda pela presença
fundamental no campo. Pela dedicação, pelas horas de sofrimento e alegria
compartilhadas e por cada carrapato que atormentou suas vidas. Pelo tão esperado PF da
noite. Pela responsabilidade com os dados e troca de conhecimentos. Por permanecerem
no projeto mesmo com outros planos. Definitivamente, sem esses peões eu não poderia
mexer as peças do meu tabuleiro. Obrigada, turminha! Devo essa a vocês!!! Espero de
alguma forma ter contribuído para o crescimento profissional de vocês. Obrigada
também à Ludmila pela ajuda em campo e por suas mirabolantes estratégias de
orientação e sobrevivência na selva.
À família Cortes Figueira, sobretudo por me acolherem e compartilharem comigo
momentos de reflexão, angústia e alegria antes e durante o período de desenvolvimento
dessa dissertação. À Fabiana Mourão, pelo eterno exemplo de esforço, dinamicidade e
IV
sucesso. Por cada oportunidade que me fez crescer profissionalmente. Pelos conselhos,
troca de experiências, boas risadas e divertidas reuniões e pausas para o lanche. Por
tomar minhas dores quando precisei de um leal escudeiro. Pelo apoio nos momentos
difíceis e pelas vezes em que me convenceu a não colocar fogo em tudo e sair correndo
e gritando. Ao Nissim, um dia no passado meu “chefe”, hoje meu grande amigo. Pelos
sempre divertidos encontros e pelo melhor Réveillon da minha vida. Por ser meu amigo
e estar sempre presente, nem que seja para me amolar. Pelo amor fraternal e seu
exemplo de sucesso e competência. Você faz falta, viu? Ao Rafael Drummond, por sua
infinita prestabilidade e por sua preocupação em fazer do mundo um lugar melhor. À
Fabi Couto, Leo e Luíza pelas oportunidades de crescimento, agradável convivência e
troca de conhecimentos.
Aos meus colegas de departamento por tornarem minha caminhada mais leve e
divertida. Ao Ericson pelas piadas sempre espirituosas e trocas de conhecimentos. Por
tornar as saídas de campo mais divertidas e marcá-las positivamente na minha história
acadêmica. Foi muito divertido trabalhar com você! À Marcela das cornutas, pelas boas
risadas e pelo compartilhamento dos traumas e sandices. Por também ouvir vozes e
reconhecer seres detentores do conhecimento universal. À cada um que, mesmo por
alguns instantes, tenham me acrescentado um pouco mais de alegria.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Conservação e
Manejo da Vida Silvestre (PPG ECMVS) pela amizade e troca de conhecimentos.
À Professora Cristiane Valéria de Oliveira, pela atenciosa colaboração e explicação
sobre o funcionamento dos solos. Ao professor Marcel Giovanni Costa pelas discussões
sobre a interação das plantas com o solo. Ao professor Marcos Sobral pela paciência e
generosa colaboração com a identificação das espécies. Ao Pedrinho e colegas do
Laboratório de Sistemática Vegetal pela ajuda nas identificações. Ao Marco Aurélio e
ao Departamento de Ciências do Solo da UFLA pela fundamental análise dos solos. À
Kátia Torres pela sugestão inicial deste estudo, pelas discussões e trocas de
conhecimentos e pelo exemplo de empenho profissional. Ao IBAMA do Parque
Nacional da Serra do Cipó pelo apoio ao projeto.
A CAPES pela bolsa de estudos. À US-FISH e à FAPEMIG pelo auxílio financeiro. Ao
Departamento de Biologia Geral pela oportunidade de desenvolvimento desse projeto e
obtenção do título de mestrado. Ao Fred e à Cris pela paciência, prestabilidade e
eficiência na secretaria.
Aos membros da banca examinadora composta pelos professores Dra. Claudia Maria
Jacobi, Dra. Kátia Torres Ribeiro e Dr. José Fernandes Bezerra Neto, por aceitarem o
convite e contribuírem com suas valiosas sugestões para este estudo.
A todos aqueles que porventura eu tenha me esquecido, mas que deixaram sua
contribuição para o desenvolvimento deste trabalho.
V
Resumo
Segundo relatos de viajantes, durante o processo de ocupação da região onde hoje está
localizado o Parque Nacional da Serra do Cipó, grandes extensões da paisagem foram
manejadas para fins agropastoris, resultando em desmates, queimadas freqüentes e
plantio de gramíneas exóticas. Após a implementação do Parque e de programas de
combate a incêndios e retirada de gado, teve início a recuperação natural dessas áreas.
No vale do Rio Cipó, próximo à convergência dos rios Bocainas e Mascates, uma mata
ciliar de largura variável é margeada por um campo de gramíneas, localizado em uma
planície de sedimentação arenosa, que permanece encharcada nos períodos chuvosos.
Esse campo, por sua vez, é margeado por uma área de cerrado sensu-stricto, situado em
cotas altimétricas um pouco mais elevadas. No campo existem espécies herbáceas,
arbustivas e arbóreas que indicam um claro processo sucessional impulsionado pelo
encerramento das atividades agropastoris. O objetivo deste trabalho foi compreender os
processos que estão determinando a colonização do campo e propor uma possível
trajetória sucessional para a área. Para isso foram feitos levantamentos florísticos no
campo, na mata e no cerrado pelo método das parcelas, incluindo todos os indivíduos
com altura acima de 50 cm. As síndromes de dispersão foram determinadas com base na
literatura e consulta a especialistas. Em parte dessas parcelas, foram coletadas amostras
de solo para análise de umidade, textura e fertilidade. Adicionalmente, no campo foram
feitas medidas de microclima com um datalogger LICOR-1400. O modelo geométrico,
ajustado aos “ranques” de abundância das espécies, reforça a idéia de um campo em
franco processo sucessional. Nesse campo, entre as herbáceas, dominam
monocotiledôneas com afinidade por solos úmidos, onde também é menor a riqueza de
outras herbáceas, na sua maioria espécies do cerrado. Em contraste com as espécies de
mata que se concentram na borda do campo, as espécies do cerrado são encontradas em
toda a extensão do campo. As três síndromes de dispersão podem ser encontradas no
campo, enquanto na mata e no cerrado a zoocoria é predominante. Diferentes texturas e
fertilidades caracterizam e discriminam bem os solos do campo sucessional, da mata e
do cerrado, mas todos apresentaram concentrações tóxicas de alumínio e pobreza
nutricional extrema. No campo, dentre outras características, é notável o elevado
percentual de silte, que sugere lento intemperismo, provavelmente causado pela
umidade excessiva mais duradoura, que vem se mantendo ao longo do tempo. Isso
sugere que o campo pode não ter comportado vegetação densa e de maior porte, com
elevada capacidade de evapotranspiração, a ponto de permitir processos oxidativos que
resultariam no acúmulo de argila. Em função disso, uma possível trajetória sucessional
seria a manutenção de um campo inundável com grupos de indivíduos lenhosos
inseridos na matriz de monocotiledôneas típicas de áreas alagadas. Esse contexto pode
representar uma forte “base de atração”, originada a partir das intervenções antrópicas
locais, na qual o campo tende a se manter.
Palavras chave: Campo abandonado, Cerrado, Alagamentos, Sucessão ecológica.
VI
Abstract
According to reports from travelers, during the occupation of the region where today is
located the National Park of Serra do Cipo, large tracts of the landscape were managed
for grazing, resulting in deforestation, burning and frequent planting of exotic grasses.
After the implementation of park and the programs of fighting fires and removal of
cattle, began the natural recovery of these areas. In the valley of the Rio Cipo, near to
the convergence of rivers Bocaina and Mascates, a variable-width riparian forest is
bordered by a grassy field, located in a sandy plain sedimentation, which remains
waterlogged in the rainy season. This field, in turn, is bordered by an area of savanna,
located at altitudes a little higher. In the field there are herbaceous species, shrubs and
trees that indicate a clear successional process driven by the closure of agropastoral
activities. The objective of this study was to understand the processes that are
determining the colonization of the field and propose a possible succession trajectory
for the area. For this, floristic surveys were made in the field, forest and savanna by the
method of the plot, including all individuals taller than 50 cm. The dispersal syndromes
were determined based on the literature and consulting experts. In some of these plots,
soil samples were collected for analysis of moisture, texture and fertility. Additionally,
field measurements of microclimate were made with the LICOR-1400 datalogger. The
geometric model adjusted to the "ranks" of species abundance, highlights the idea of a
field successional process. In this field, among the herbaceous, grass with affinity for
wet soils are dominats, where there are species richness. In contrast to the species of
woods that are concentrated at the edge of the field, savanna species are found
throughout the length of the field. The three dispersal syndromes may be encountered in
the field, while in the forest and savanna, the zoochory is predominant. Different
textures and fertility characterize the soils of successional field, the forest and the
savanna, but all of them had toxic concentrations of aluminum and nutritional extreme
poverty. In the field, among other features, it is remarkable the high percentage of silt,
which suggests slow weathering, likely caused by excessive moisture longer, which
have remained over time. This suggests that the field may not have sustained a dense
and larger vegetation, with high capacity for evapotranspiration, enough to allow
oxidation processes that result in the accumulation of clay. As a result, a succession
trajectory would be possible to maintain a field flooded with groups of individuals
included in the matrix of grasses typical of wetlands. This context can represent a strong
"base attraction," originated from local anthropogenic interventions, in which the field
tends to remain.
Keywords: abandoned fields, savanna, floods, ecological succession.
VII
Lista de Figuras
FIGURA 1 - Estimativa da área global de paisagens abandonadas em florestas e
savanas no período de 1700 até 1990 ....................................................................... 10
FIGURA 2 - Paisagem de estabilidade com duas bases de atração mostrando a
posição do sistema e três aspectos da resiliência .................................................... 12
FIGURA 3 - Localização geográfica do Parque Nacional da Serra do Cipó-MG .. 19
FIGURA 4 - Localização geográfica da Serra do Cipó no contexto da Cadeia do
Espinhaço ................................................................................................................... 20
FIGURA 5 - Imagem de satélite mostrando a área de estudo em diferentes escalas
.................................................................................................................................... 24
FIGURA 6 - Imagem de satélite da área de estudo mostrando o campo de
gramíneas, a mata ciliar e o cerrado ....................................................................... 25
FIGURA 7 - Gradiente vegetacional da área de estudo ............................................ 25
FIGURA 8 - Cada uma das três fitofisionomias acompanhada pela respectiva
fotografia hemisférica ............................................................................................... 26
FIGURA 9 - Fotografias da área de estudo. (A) planície de inundação do Rio Cipó
em dezembro de 2009. (B) (C) solo encharcado com formação de lâmina d’água
.................................................................................................................................... 27
FIGURA 10 - Imagem de satélite mostrando o posicionamento aproximado dos
três transectos na área de estudos. .......................................................................... 29
FIGURA 11 - Espécies de gramíneas estudadas. (A) Andropogon bicornis, (B)
Urochloa decumbens, (C) Poaceae não identificada ............................................... 31
FIGURA 12 - Curva espécie/abundância para os três transectos do campo ....... 34
FIGURA 13 - Relações entre as abundâncias das três espécies de gramíneas e a
umidade do solo ......................................................................................................... 35
FIGURA 14 - Relações entre a riqueza de espécies, a umidade e a cobertura das
três gramíneas estudadas (Poaceae (não identificada), Urochloa decumbens e
Andropogon bicornis) ................................................................................................ 36
FIGURA 15 - Aumento da riqueza em espécies com a distância em relação às
bordas do cerrado ..................................................................................................... 37
VIII
FIGURA 16 - Redução da cobertura de Urochloa decumbens e Andropogon
bicornis com a distância em relação às bordas do cerrado ................................... 37
FIGURA 17 - Relações entre a PAR e a cobertura de Urochloa decumbens .......... 38
FIGURA 18 - Porcentagem de indivíduos de cada fitofisionomia registrados no
campo. Espécies típicas de cerrado ou mata ciliar e espécies que podem ser
encontradas nos dois ambientes ............................................................................... 38
FIGURA 19 - Distribuição das espécies características de cada hábitat nas parcelas
do campo. (A) Porcentagem de espécies típicas de cerrado. (B) Porcentagem de
espécies que podem ser encontradas em ambientes de cerrado ou mata ciliar. (C)
Porcentagem de espécies típicas de mata ciliar ...................................................... 39
FIGURA 20 - Distribuição das espécies com diferentes portes pelo campo ........... 39
FIGURA 21 - Distribuição de alturas médias dos indivíduos nas parcelas do campo
.................................................................................................................................... 40
FIGURA 22 - Distribuição das três formas de dispersão nas parcelas do campo.
(A) autocóricas, (B) anemocóricas, (C) zoocóricas ................................................ 40
FIGURA 23 - Percentual de espécies zoocóricas, anemocóricas e autocóricas em
cada uma das três fitofisionomias. (A) mata ciliar (B) cerrado (C) campo ......... 41
FIGURA 24 - Comparação entre as variáveis químicas dos solos do cerrado,
campo e mata ciliar ................................................................................................... 42
FIGURA 25 - Comparação entre as variáveis físicas dos solos do cerrado, campo e
mata ciliar .................................................................................................................. 43
FIGURA 26 - Diagrama bidimensional representando a distribuição dos grupos no
espaço discriminante ................................................................................................. 46
FIGURA 27 - Correlações entre as variáveis físico-químicas e os dois primeiros
componentes da PCA ................................................................................................ 48
FIGURA 28 - Correlações entre os escores resultantes da Análise Discriminante e
da PCA ....................................................................................................................... 49
FIGURA 29 - Distribuição das parcelas no espaço bidimensional formado pelos
dois primeiros eixos da NMDS ................................................................................ 50
FIGURA 30 - Distribuição das parcelas no espaço tridimensional formado pelos
três primeiros eixos da NMDS ................................................................................. 51
FIGURA 31 - Correlações entre os escores resultantes da NMDS e da PCA ......... 53
IX
Lista de Tabelas
TABELA 1 - Processos reconhecidos por Clements como norteadores da sucessão,
com suas respectivas interpretações modernas ...................................................... 04
TABELA 2 - Eigenvalues, porcentagem relativa e correlação canônica das duas
funções discriminantes ............................................................................................. 43
TABELA 3 - Média das variáveis edáficas para cada grupo resultantes da Análise
Discriminante ............................................................................................................ 44
TABELA 4 - Coeficientes padronizados da Análise Discriminante ........................ 45
TABELA 5 - Autovalores e porcentagem da variância explicada por cada um dos
componentes .............................................................................................................. 46
TABELA 6 - Peso das variáveis em cada eixo da PCA ............................................. 47
TABELA 7 - Poder de explicação de cada eixo do NMDS........................................ 49
TABELA 8 - Teste de Permutação de Monte Carlo .................................................. 51
TABELA 9 - Matriz de coeficientes de correlação de Spearman entre os eixos
edáficos e florísticos .................................................................................................. 52
X
Sumário
1. Introdução ................................................................................................................... 1
1.1 Sucessão Ecológica: A Evolução dos Conceitos ..................................................... 1
1.2 A Sucessão nos Campos Abandonados ................................................................. 10
2. Um breve histórico da Cadeia do Espinhaço ......................................................... 16
3. O Parque Nacional da Serra do Cipó ..................................................................... 18
4. Área de Estudo .......................................................................................................... 22
5. Objetivos .................................................................................................................... 27
6. Hipóteses .................................................................................................................... 28
7. Material e Métodos ................................................................................................... 28
7.1. Coleta de Dados ..................................................................................................... 28
7.1.1. Levantamento Florístico ............................................................................. 28
7.1.2. Coleta de Solos ............................................................................................. 30
7.1.3. Cobertura de Gramíneas ............................................................................ 31
7.1.4. Microclima ................................................................................................... 31
7.2. Análise dos Dados .................................................................................................. 32
8. Resultados ................................................................................................................. 33
8.1. As curvas espécie-abundância .............................................................................. 33
8.2. A cobertura de gramíneas ..................................................................................... 34
8.3. Efeitos da distância em relação às bordas ........................................................... 36
8.4. O microclima .......................................................................................................... 37
8.5. Origem e síndromes de dispersão no campo ....................................................... 38
8.6. Os solos e a vegetação ............................................................................................ 41
9. Discussão ................................................................................................................... 53
9.1. As curvas espécie-abundância .............................................................................. 53
9.2. A cobertura de gramíneas ..................................................................................... 54
XI
9.3. Efeitos da distância em relação às bordas ........................................................... 55
9.4. Origem e síndromes de dispersão no campo ....................................................... 56
9.5. Os solos e a vegetação ............................................................................................ 57
10. Conclusão ................................................................................................................ 65
11. Referências Bibliográficas ..................................................................................... 66
APÊNDICE A - Análises Multivariadas ..................................................................... 78
APÊNDICE B - Tabela Florística ............................................................................... 85
APÊNDICE C - Correlação entre as variáveis físico-químicas do solo ................... 92
APÊNDICE D - Esquema da dinâmica no campo ..................................................... 93
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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1
1. Introdução
1.1 Sucessão Ecológica: A Evolução dos Conceitos
Entender porque certos tipos vegetacionais estão restritos a certas combinações
de clima e solo, ou porque a riqueza de espécies é tão grande em algumas regiões e tão
pequena em outras é uma preocupação da Ecologia desde os tempos mais remotos
(Crawley 1997). Sabe-se que diversas causas podem levar a mudanças na vegetação ao
longo do tempo e essa seqüência de mudanças é hoje conhecida como “sucessão
ecológica” (Miles 1987). A partir de meados do século XIX muitos trabalhos
envolvendo teorias sobre as comunidades vegetacionais enriqueceram a literatura
científica (Miles 1987). Warming foi o primeiro a afirmar a universalidade das
mudanças vegetacionais: “Antes, as sociedades de plantas eram vistas como grupos
estáveis, os quais permaneciam em estados de quiescência, com desenvolvimento
completo e vivendo passivamente lado a lado. Na realidade, essas relações não existem
no mundo vegetal. Em todo lugar e constantemente existe uma luta entre as sociedades
de plantas. Cada sociedade empenha-se em invadir o território de outras e cada
pequena mudança nas condições de vida imediatamente produz mudanças nas relações
entre os grupos” (Cooper 1926). Cooper reafirma os argumentos de Warming
colocando que as mudanças são universais e aplicáveis ao passado e ao presente, bem
como às comunidades vegetais e animais (Cooper 1926). O autor compara a dinâmica
vegetacional a um “riacho” e nesse contexto, a vegetação como vemos hoje, é apenas
um “trecho desse riacho”, pois está em constante mudança. Segundo Cooper, a partir de
estudos do presente e do passado, seria possível prever os resultados das mudanças em
um futuro a curto prazo (Cooper 1926). Após os estudos pioneiros de Warming, o
conceito de sucessão foi desenvolvido em mais detalhes nos trabalhos de Clements e
Cowles.
Cowles (1911), estudando a dinâmica de dunas de vegetação no Lago Michigan,
concluiu que os movimentos de expansão e retração das dunas através da ação dos
ventos influenciavam diretamente na sobrevivência das espécies vegetais. Espécies
arbustivas, por exemplo, eram estimuladas a alongar exacerbadamente seus caules,
enquanto outras espécies tinham sua sobrevivência condicionada à capacidade de
alongar suas raízes adventícias na mesma rapidez com que as dunas avançavam. Ou
Eugênia Kelly Luciano Batista
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2
seja, quanto mais rápidos fossem os movimentos das dunas, menos espécies seriam
capazes de sobreviver. (Cowles 1911). Se por um lado, as dunas de areia definiam a
vegetação residente, por outro lado, seu desenvolvimento também era moldado pela
própria vegetação. Sendo assim, a comunidade de plantas naquele hábitat, definia até
certa forma, a comunidade que se estabeleceria posteriormente (Miles 1987). Nesse
contexto, os trabalhos de Cowles representaram mudanças no foco dos estudos sobre a
vegetação, pois deixaram de enfatizar as formações vegetais como elas são e
começaram a chamar a atenção para a dinâmica destas formações em processo de
mudanças (Cooper, 1926). Cowles acreditava que as sociedades vegetais passavam por
uma série de sucessivos tipos desde sua condição original até a floresta mesofítica,
considerada como um clímax ou tipo culminante, que nunca atinge uma condição de
equilíbrio (Cooper, 1926).
Em 1898, na mesma época em que Cowles publicou seus trabalhos, Clements
estudou as pradarias em Nebraska, sugerindo que as formações vegetais raramente
estariam em equilíbrio estável. Seis anos depois, em 1904, Clements publicou um
trabalho discutindo as causas da sucessão, no qual distinguia entre a sucessão primária
em superfícies expostas, onde nenhum tipo de vegetação chegou a se desenvolver e a
sucessão secundária, onde a vegetação foi destruída ou alterada. Mais tarde, em 1916,
Clements publicou “Plant Succession”, importante obra científica onde foi discutido o
conceito de comunidade climax. Para Clements, o clima funciona como um genoma e a
vegetação, como um organismo cujas características o genoma determina (Clements,
1936). Ou seja, cada área, com sua própria característica climática, desenvolve, ao
longo do tempo, o seu próprio tipo de associação, composta por populações de plantas e
de animais. Caso uma associação sofra distúrbios, como o fogo, a pastagem, o cultivo
ou as inundações, o processo de sucessão levará à mesma composição de espécies que
existia antes do distúrbio, porque apenas essa comunidade está em balanço com o clima.
Clements chamou essa comunidade final da sucessão de clímax (Eliot 2007). Em
síntese, para Clements, qualquer região climática tem uma única comunidade clímax
possível, teoria hoje conhecida como “monoclimax”. O autor fez uma analogia entre a
sucessão e o desenvolvimento de um indivíduo, onde o climax seria como uma entidade
orgânica, cuja estrutura e função estariam conectadas ao clima local e corresponderiam
à estrutura e função de um organismo individual (Miles 1987; Cooper 1926; Clements
1936). O clímax, assim como um organismo, nasce, cresce, se reproduz e morre. Cada
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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comunidade clímax pode se reproduzir, repetindo fielmente os estágios de seu
desenvolvimento em um processo definido, como um organismo individual. Dessa
forma, a comunidade clímax seria o indivíduo adulto e os estágios sucessionais seriam
as etapas de desenvolvimento do indivíduo (Cooper 1926).
Em 1907, Clements publicou o trabalho intitulado Plant Physiology and
Ecology, onde ele afirma que para compreender a fisiologia vegetal, é necessária uma
análise do tipo de ambiente em que uma espécie normalmente vive, ou seja, em que área
do espectro ambiental ela é normalmente encontrada (Eliot 2007). Nesse caso, o
ambiente pode ser entendido como um conjunto de fatores, tais como água, nutrientes,
luminosidade, temperatura, vento, solo, pressão e outros fatores bióticos que
influenciam na sua habilidade de sobrevivência. Na medida em que se afastam das
condições ambientais ótimas, a sobrevivência dos indivíduos passa a depender de suas
respostas funcionais ou adaptativas. Quando seus limites de tolerância são
ultrapassados, os indivíduos acabam morrendo (Eliot 2007). Após um distúrbio, a
colonização é feita por plantas capazes de chegar ao local e sobreviver às novas
condições, que estão dentro dos seus limites de tolerância ambiental (Eliot 2007). Essa
primeira comunidade, chamada pioneira, modifica o ambiente possibilitando o
estabelecimento de outro conjunto de espécies, que tornam as condições desfavoráveis à
sobrevivência da comunidade pioneira. A chegada de plantas viáveis nessas novas
condições, distintas das condições iniciais, marca um segundo estágio na sucessão. Caso
os fatores abióticos permaneçam constantes, as novas plantas residentes continuam a
modificar o ambiente local e a favorecer a chegada de outras espécies, que novamente
comprometem a sobrevivência da comunidade anterior. Na ausência de mudanças
abióticas, a sucessão segue nesse sentido até atingir a comunidade clímax (Eliot 2007).
Dessa forma, as mudanças na vegetação se dão através das modificações locais feitas
pela própria vegetação residente, em um pano de fundo ambiental relativamente estável
(Eliot 2007).
Clements identificou três processos básicos que dirigem a sucessão (Tabela 1).
As causas iniciais, que incluem os processos de nudação, são todos os eventos ou
circunstâncias que levem à formação de áreas descobertas, modificando a
disponibilidade de recursos. Depois que as causas iniciais possibilitaram a sucessão, as
diferentes histórias de vida e a modificação do ambiente pelos organismos continuam a
controlar o desenvolvimento da vegetação. A história de vida de uma espécie inclui seu
Eugênia Kelly Luciano Batista
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potencial de dispersão, estabelecimento, crescimento e longevidade. Todos esses
elementos são atributos que influenciam no sucesso de invasão dos indivíduos (Eliot
2007; Hobbs & Walker 2007). As características e atividades dessas espécies produzem
alterações no ambiente, que variam de simples ajustes na umidade do solo e no
sombreamento à adição ou subtração de nutrientes ou toxinas e redução de vento e
microorganismos no solo. Essas alterações podem favorecer a chegada e o
estabelecimento de novas espécies ou desfavorecer a sobrevivência das espécies já
estabelecidas (Eliot 2007). O autor conclui que a reação, ou seja, a modificação do
ambiente pelas plantas seja um processo fundamental quando a sucessão ocorre em
áreas que nunca comportaram nenhum tipo de vegetação (sucessão primária). Nesses
casos, o grau de modificação do ambiente, ou seja, a facilitação para a chegada de novas
espécies é determinante para a sucessão acontecer.
TABELA 1: Processos reconhecidos por Clements como norteadores da sucessão, com suas respectivas
interpretações modernas.
Fonte: Hobbs & Walker 2007
Em “Further Views on the Succession-Concept”, Gleason reconhece três causas
principais da sucessão: reação da vegetação às condições ambientais, processos
fisiográficos e mudanças climáticas. O autor, assim como Clements, considerou a
migração de novas espécies e posteriormente, Cooper colocou a adaptação das espécies
residentes como mais um fator determinante para a sucessão. Algumas causas operam
mais rapidamente do que outras e seus resultados são mais visíveis, criando a falsa idéia
de que sejam as únicas causas operantes, quando na realidade todas as causas têm
participação nos resultados (Gleason 1927). Ou seja, cada etapa da sucessão representa
um resultado de todas as causas atuantes, sendo que algumas delas podem ter sido mais
ativas no passado e menos ativas no presente ou vice-versa. Segundo o autor, podemos
tentar prever o futuro da vegetação com base nas causas observadas, mas corremos o
PROCESSOS INTERPRETAÇÃO MODERNA
Nudação Distúrbios alogênicos, eventos estocásticos
Migração Características da História de Vida: dispersão
Estabelecimento Características da História de Vida: estabelecimento, crescimento e longevidade
Competição Competição, alelopatia e herbivoria
Reação Modificação do ambiente por organismos, facilitação
Estabilização Desenvolvimento do clímax
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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risco de negligenciar causas ocultas que também estão atuando naquele momento
(Gleason 1927).
Uma interpretação alternativa das causas da sucessão foi proposta por Egler
(1954). O autor sugeriu que a seqüência de colonização estava mais relacionada à
história de vida das espécies envolvidas do que à facilitação. Para ele, as áreas abertas
normalmente possuem representantes de mais do que um estágio sucessional, muitas
vezes em grandes quantidades. Ou seja, no início da sucessão, estão presentes as
sementes e frutos das espécies dominantes de todos os estágios, incluindo as do clímax
(Miles 1987). Essa idéia, da composição florística inicial sugere uma interação mínima
entre as espécies, enfatizando a importância do crescimento diferencial para a seqüência
de colonização (Hobbs & Walker 2007).
Pickett et al. (1987) analisaram os modelos de sucessão propostos por Connel e
Slatyer (1977), que sumarizavam os efeitos positivos, neutros e negativos das espécies
residentes sobre as espécies invasoras durante o processo sucessional. Os três modelos
de relações entre as espécies seriam a facilitação, tolerância e inibição, os quais não são
mutuamente excludentes e podem ocorrer em qualquer estágio do processo sucessional
(Connel & Slatyer 1977). A facilitação, similarmente às idéias colocadas por Clements,
acontece quando as espécies residentes modificam o ambiente de tal forma que
favorecem o estabelecimento de novas espécies. No modelo de inibição, as espécies
residentes regulam as condições de tal forma que novas espécies não conseguem invadir
e crescer naquele ambiente. Já no modelo de tolerância, as mudanças florísticas
acontecem devido a diferenças nas histórias de vida das espécies e na habilidade de
tolerar as condições ambientais iniciais (Pickett et al. 1987). Pickett et al. propõe uma
hierarquia de causas sucessionais que abrangem desde as mais universais até as mais
específicas. Em um primeiro nível, mais geral, o autor aponta como causas da sucessão
a existência de áreas abertas, a disponibilidade de espécies e a habilidade dessas
espécies para lidar umas com as outras e com as condições ambientais no local. Em
níveis mais específicos, o autor argumenta que o tamanho, a severidade e a duração do
distúrbio afetam as condições ambientais, a sobrevivência dos indivíduos e dos
propágulos, cuja disponibilidade depende da sua capacidade de dispersão e do banco de
sementes no solo (Pickett et al. 1987).
Uma questão amplamente discutida entre os autores é se a sucessão inclui todos
os tipos de mudanças vegetacionais, quer elas sejam flutuantes e abruptas ou
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progressivas e graduais (Gleason 1927; Cooper 1926). Por flutuação entendem-se as
variações sazonais e anuais na estrutura da vegetação causadas por flutuações ou
mudanças recorrentes no ambiente, enquanto a sucessão é causada por mudanças
ambientais progressivas ou cumulativas (Gleason 1927). Mas existem muitos tipos de
mudanças progressivas ou cumulativas que são ao mesmo tempo flutuantes em sua
natureza e intensidade. As mudanças cumulativas podem ser tão lentas que seus efeitos
são ocultados pelos efeitos mais óbvios de flutuações relevantes (Gleason 1927). O
fenômeno sucessional pode incluir todos os tipos de mudanças no tempo, mesmo que
elas sejam apenas flutuantes ou produzam alterações fundamentais na associação
(Gleason 1927; Cooper 1926). Gleason utiliza exemplos de sucessão lateral, onde os
efeitos flutuantes mascaram as mudanças progressivas na vegetação. Nesse processo,
duas associações vivem em contato geográfico e entre elas existe uma zona de tensão ou
ecótone, que representa um espaço onde as condições ambientais fazem com que uma
esteja em retração e a outra em expansão. A duração dessas condições está relacionada à
velocidade das mudanças ambientais. Tudo começa quando as mudanças ambientais
permitem a entrada suficiente de plantas da comunidade em expansão para causar uma
visível alteração na vegetação. Tudo termina quando restam poucas plantas da
comunidade em retração, ocasião em que elas deixam de ter importância na
determinação da estrutura da vegetação. Sendo assim, a observação de qualquer
associação em diferentes anos mostraria o aparecimento, desaparecimento e
reaparecimento de algumas espécies, de modo que as flutuações observadas na estrutura
da vegetação poderiam obscurecer qualquer resultado visível a menos que as
observações se estendessem por um considerável período de tempo (Gleason 1927).
Em um determinado momento da sucessão, haverá um conjunto de espécies
capaz de modificar o ambiente de modo que novas invasões sejam inviáveis. Essa seria,
segundo Clements, a fase final do processo sucessional, com a estabilização das
mudanças e desenvolvimento da comunidade clímax (Eliot 2007; Hobbs & Walker
2007). No entanto, tal como Cowles, Clements reconhece que o clímax, embora estável,
nunca estará em equilíbrio completo (Miles 1987). Em “Nature and Structure of the
Climax”, Clements afirma que a unidade da formação clímax é uma resposta a um clima
particular (Clements 1936). Segundo o autor, a visível unidade da formação clímax é
devida às formas de vida dominantes, que são a concreta expressão do clima. Nas
pradarias, por exemplo, as gramíneas são as formas de vida predominantes, enquanto as
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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árvores aparecem principalmente nos ambientes florestais (Clements 1936). A unidade
clímax pode migrar ou desaparecer com as grandes mudanças climáticas ou distúrbios
destrutivos causados pelo homem. Na ausência desses eventos, as formações clímax
poderiam persistir por milhões de anos. Segundo Clements, o clímax é caracterizado
pelo alto grau de estabilidade e essa estabilização é uma tendência universal de toda
vegetação (Clements 1936).
Na idéia de Clements, a sucessão seria uma seqüência de comunidades vegetais
marcada pela mudança das menores para as maiores formas de vida possíveis no
contexto do clima considerado. Nesse contexto, para o autor, a sucessão reversa, da
maior para a menor forma de vida, nunca poderia acontecer porque a sucessão era
inevitavelmente progressiva e a regressão, tão impossível para uma sere quanto para um
organismo individual (Miles 1987). Idéias semelhantes, sobre o determinismo da
sucessão, foram publicadas por Margalef em 1958, onde ele afirma que a sucessão é
gradual e irreversível, substituindo sistemas com organismos pequenos, alta relação
produtividade/biomassa e rápida utilização dos recursos por sistemas mais estáveis,
constituídos por organismos maiores, menor relação produtividade/biomassa e eficiente
utilização dos recursos (Miles 1987).
Em síntese, para Clements, a sucessão ocorre deterministicamente, impulsionada
pelas reações e facilitações, sempre em direção a um clímax, que seria o único ponto
final possível para uma dada região. O autor acredita que essa comunidade clímax
funcione como um organismo que nasce, cresce, se reproduz e morre, teoria que ficou
conhecida como o “superorganismo”. O trabalho de Clements é reconhecido por sua
extensão e visão dinâmica dos sistemas naturais, até então considerados de maneira
estática. Apesar disso, muitas críticas surgiram em torno de suas hipóteses e analogias.
Braun-Blanquet, em 1932, considerou a visão de Clements como “um vôo de
imaginação” (Cooper 1926). Os trabalhos e críticas publicados por Gleason polarizaram
os conceitos de comunidade e sucessão vegetal. O autor chamou a atenção para a
importância do indivíduo e o papel da dispersão e competição no processo sucessional.
Para ele, todo o processo sucessional depende da habilidade de um indivíduo se manter
e reproduzir, teoria hoje conhecida como “conceito individualístico".
Cooper definiu a sucessão como um processo universal, onde todas as mudanças
vegetacionais precisam necessariamente ser sucessionais. Gleason (1927) coloca as
idéias de Cooper e Clements como extremos opostos no conceito de sucessão vegetal. O
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autor argumenta que para Clements a sucessão representa o crescimento de um
indivíduo e mesmo que esse indivíduo possa nascer de maneiras diferentes, seu
crescimento precisa necessariamente seguir uma seqüência determinada que vai levá-lo
a apenas um destino final, o organismo adulto ou comunidade clímax. Já para Cooper, a
associação clímax não é um organismo e sim um agrupamento variável de espécies
vegetais que podem sofrer flutuações em sua estrutura, serem completamente
substituídas por outro tipo de vegetação ou continuar em direção a um clímax. E isso
pode acontecer em qualquer direção e em qualquer ponto ao longo do curso sucessional.
Para Gleason, a sucessão significa a substituição de uma associação vegetal por outra e
ocupa uma posição mais ou menos mediana entre os dois extremos. Ele defende que o
fenômeno sucessional da vegetação inclui todos os tipos de mudanças no tempo, mesmo
que sejam apenas flutuações ou produzam mudanças fundamentais na comunidade.
Gleason acredita que a sucessão pode seguir diversas rotas diferentes e não
precisa necessariamente atingir um clímax definido. Comprovando sua hipótese, o autor
argumenta que a sucessão reversa, também reconhecida por Cooper (1926), pode
acontecer dentro de um tipo de vegetação ou entre tipos diferentes. A sucessão reversa
representa o reaparecimento de uma sere anterior causado pela recorrência de um
complexo ambiental anterior. Como exemplo desse fenômeno, o autor menciona a
sucessão entre as florestas e pradarias de Illinois-EUA. Paisagens de gramíneas e
florestas estão correlacionadas com diferentes tipos de clima e quando esses dois tipos
de vegetação dividem o mesmo espaço, é possível que o clima favoreça uma ou outra.
As espécies de floresta estão adaptadas a germinar e crescer em áreas sombreadas, ao
passo que as espécies de pradarias são predominantemente plantas de sol, não
conseguindo sobreviver na sombra. Os galhos das árvores que crescem nas bordas da
floresta criam uma zona de sombreamento que inibe as espécies de pradaria e permite o
estabelecimento de espécies de floresta onde antes era solo de pradaria. Assim, as
florestas sucedem as pradarias. Mas nas pradarias, a densidade de cobertura de
gramíneas inibe a germinação de sementes e prejudica o estabelecimento de espécies de
floresta em função da alta retirada de água superficial. O fogo, outro fator não menos
importante, consome toda a parte aérea com a qual tem contato e acaba favorecendo as
formas de vida que protegem suas estruturas e rebrotam após a queima, tais como as
hemicriptófitas típicas das pradarias. Então, se as forças se mantiverem constantes, a
sucessão seguirá na mesma direção. Porém algumas causas podem variar sua
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intensidade com o tempo e isso pode ser suficiente para lançar a resultante em outra
direção completamente reversa.
Gleason afirma a inexistência de um clímax verdadeiro, considerando que as
causas sucessionais nunca param de agir. Elas podem agir em taxas diferentes ou em
diferentes direções. Na medida em que a intensidade de ação das causas sucessionais
varia, aparecem na vegetação fases de mudanças lentas e relativa estabilidade
alternando com fases de mudanças rápidas. O clímax representa uma fase de grande
estabilidade, onde não conseguimos observar a ação das causas sucessionais e
conseqüentemente não podemos prever o seu futuro (Gleason 1927). Mas se duas
causas, chamadas por Gleason de forças, que geram efeitos contrários, agirem
simultaneamente com a mesma intensidade, poderíamos supor erroneamente que o
equilíbrio foi atingido (Gleason 1927). Se uma mudança ambiental muito lenta
acontecer ao longo de muitos anos, pode acabar neutralizando o efeito de uma mudança
mais rápida e de curta duração. Embora nesse curto período de tempo as duas forças
tenham operado juntas, os efeitos da mudança mais lenta praticamente não puderam ser
observados (Gleason 1927). Apesar de todas as hipóteses consideráveis, Gleason coloca
que as causas da sucessão são ainda obscuras, os processos são geralmente lentos e os
resultados são visíveis apenas depois de muitos anos.
As observações que revelam a tendência presente da sucessão são bastante
confiáveis, mas passam a perder a nitidez quando tentamos projetá-las para o futuro.
Essas projeções só seriam corretas se as causas sucessionais observadas fossem as
únicas causas operantes, agindo de forma constante ao longo do tempo até que os
resultados esperados fossem atingidos (Gleason 1927). Se as causas agirem lentamente
sem serem notadas pelo observador ou se estiverem sujeitas a flutuações ambientais que
afetem seriamente a vegetação e influenciem a tendência sucessional, qualquer tentativa
de previsão dos resultados estará comprometida.
O reconhecimento de múltiplos modelos e causas do processo sucessional tem
resultado em um entendimento menos determinístico e previsível. Glenn-Lewin
considera que os ecologistas modernos têm visto as mudanças vegetacionais como um
resultado da interação de populações dentro de condições ambientais flutuantes (Glenn-
Lewin 1992). Nesse contexto, estão sendo desenvolvidos modelos de sucessão, onde os
resultados são determinados pelas interações entre indivíduos de diferentes espécies,
controlados por suas taxas de crescimento e tolerância ambiental. De fato, a sucessão é
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dirigida por uma combinação de fatores em diferentes níveis, de indivíduo até
ecossistemas. Hoje, a possibilidade de múltiplas trajetórias e pontos finais é considerada
plausível. Isso inclui também a idéia de estados alternativos estáveis, onde diferentes
composições de comunidades são possíveis em qualquer área (Hobbs & Walker 2007).
1.2 A Sucessão nos Campos Abandonados
O abandono de pastagens e a conversão de paisagens naturais em áreas de
cultivo têm se destacado entre os diversos tipos de mudanças no uso da paisagem
(Hobbs & Walker 2007; Ramunkutty 1999) (Fig.1). As causas do abandono constituem
uma mistura complexa de fatores sociais, econômicos e ecológicos. O fenômeno de
migração rural, por exemplo, é uma tendência mundial progressiva e propicia a
transformação dos campos abandonados em oportunidades para a recuperação das
paisagens exploradas (Cramer et al. 2007). Mas no cenário atual, onde o uso de métodos
tradicionais de exploração feitos em pequena escala dá lugar à exploração intensiva em
escala industrial, os campos abandonados passam a ocorrer em paisagens altamente
fragmentadas, impactadas e de difícil recuperação.
FIGURA 1: Estimativa da área global de paisagens abandonadas em florestas e savanas no período de
1700 até 1990. (Ramunkutty 1999).
Atualmente, rápidas mudanças climáticas estão sendo promovidas pelo modo de
vida humano. Essas mudanças se somam a outros impactos como a alteração da
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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biomassa e da hidrologia, a compactação e a acidificação do solo provocadas pela
pastagem (Geissen et al. 2009), o cultivo, a fertilização, a introdução de espécies
invasoras, a fragmentação de habitats e a poluição. Tudo isso pode modificar o
ecossistema de tal forma que é possível visualizar os efeitos na composição e estrutura
das comunidades mesmo centenas de anos depois do abandono da paisagem. Nesses
campos abandonados a vegetação pode permanecer por décadas em um estado
degradado dominado por espécies invasoras (Cramer et al. 2007).
Por resiliência, entende-se a capacidade de um sistema absorver o distúrbio e
reorganizar sua função, estrutura, identidade e feedbacks (Walker et al. 2004). No
entanto, todo sistema possui um limite de mudanças a partir do qual ele perde a
capacidade de se reestabelecer, podendo estar mais ou menos próximo desse limite e ser
mais ou menos resistente a essas mudanças (Walker et al. 2004; Rull 1992). O estado de
um sistema é definido pelas variáveis que o constituem. Se por exemplo, o campo é
caracterizado pela quantidade de gramíneas, arbustos e umidade, o estado será um
espaço tridimensional de todas as possíveis combinações dessas variáveis. Uma base de
atração é a região do estado no qual o sistema tende a se manter (Fig.2). Para sistemas
que tendem a um equilíbrio, o estado de equilíbrio é definido como o atrator e a base de
atração é constituída por todas as condições iniciais que irão levar o sistema a este
estado de equilíbrio. Pode existir mais de uma base de atração para cada sistema, ou
seja, mais de uma combinação de variáveis em direção a qual o sistema pode convergir,
dependendo do ponto inicial. As várias bases que um sistema pode ocupar formam,
junto com as bordas que as separam, uma paisagem de estabilidade. Tanto fatores
externos, como a precipitação e a temperatura, quanto fatores internos, como a sucessão
de plantas, predação e competição podem levar a mudanças na paisagem de
estabilidade. Esses fatores podem alterar o número e a posição das bases de atração
dentro do estado, mudar a posição dos limites a partir dos quais o sistema não consegue
mais se reorganizar ou a profundidade das bases de atração, que determinam a
dificuldade de mover o sistema para fora delas. Esses atores capazes de influenciar a
resiliência de um sistema podem também alterar o diâmetro das bases de atração, mover
o sistema em direção às sua bordas ou a outras bases (Walker et al. 2004). Algumas
vezes o sistema encontra-se em uma base de atração desejável e nesses casos, os
esforços de conservação se preocupam em manter o sistema distante das bordas da base
de atração (maior resiliência). Em outros casos, o sistema está inserido em uma base de
Eugênia Kelly Luciano Batista
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atração indesejável, onde os esforços buscam reduzir sua resiliência e movê-lo em
direção à outra base desejável (Walker et al. 2004).
Alguns estudos afirmam que a taxa de recuperação de uma área varia de acordo
com o tipo, a freqüência e a intensidade do distúrbio (Zahawi & Augspurger 1999;
Collins et al. 2001). Collins sugere que a freqüência de um distúrbio pode afetar a
riqueza de espécies colonizadoras, porque apenas as espécies tolerantes permanecem no
ambiente (Collins et al. 2001). Mas se a freqüência é maior do que o tempo necessário
para a exclusão competitiva, o distúrbio pode acabar promovendo a coexistência e o
conseqüente aumento na riqueza em espécies. Por outro lado, a intensidade do distúrbio,
definida pelo autor como a quantidade de biomassa removida ou grau de impacto na
estrutura da comunidade, poderia afetar os processos competitivos e a proporção das
alterações ambientais (Collins et al. 2001). Quando uma área é explorada com a
utilização de métodos tradicionais em paisagens que mantêm grandes extensões de
vegetação nativa intacta, a sucessão ocorre em uma seqüência de transições
relativamente previsíveis. Mas quando a exploração ocorre durante centenas de anos,
espécies intolerantes ao distúrbio são perdidas devido à pressão de seleção intensa e
novas comunidades podem se estabelecer (Cramer et al. 2007).
D
R L
FIGURA 2: Paisagem de estabilidade com duas bases de atração mostrando a posição do sistema (ponto)
e três aspectos da resiliência: D = Diâmetro. R = Resistência. L = Distância ao limite da base. (Walker et
al. 2004)
Quando a extensão, a duração e a intensidade do distúrbio aumentam, dois
limites podem ser ultrapassados: o biótico e o abiótico. O limite biótico é controlado por
variáveis como a dispersão de sementes e a competição, ao passo que o limite abiótico
está associado a variáveis como a química do solo e o regime hidrológico. Cada limite
retrata a capacidade de uma comunidade se reestruturar e quando esse limite é
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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ultrapassado, os mecanismos naturais de recuperação não podem reparar o dano. Se o
limite biótico for ultrapassado, a restauração exigirá a manipulação da vegetação. Mas
se o limite abiótico for ultrapassado, serão necessárias modificações no ambiente físico
(Cramer et al. 2007).
No caso da agricultura, áreas que apresentam condições adequadas necessitam
de menos correções do que áreas onde o cultivo é limitado em função de restrições
abióticas. A menor intensidade de exploração devido ao uso de métodos tradicionais ou
manutenção de vegetação nativa favorece a dispersão de sementes até a área, assim
como a conservação do banco de sementes no solo (Cramer et al. 2007). Nesses casos,
nenhum limite é ultrapassado e a vegetação consegue se recuperar sozinha.
Em outras situações, a extensão e duração do distúrbio podem ultrapassar os
limites bióticos do ecossistema. Quando isso acontece, a dispersão de sementes até a
área e a manutenção do banco de sementes no solo fica comprometida. A dispersão de
sementes diminui na medida em que se afasta da fonte de propágulos e as sementes de
habitats estáveis geralmente possuem baixa persistência no solo. Os efeitos da pobre
dispersão de sementes das espécies nativas se somam à rápida germinação e à
competição com espécies invasoras, particularmente gramíneas introduzidas (Cramer et
al. 2007).
Os estudos que buscam acompanhar o processo sucessional após o abandono de
uma paisagem trabalham com duas metodologias básicas. Alguns podem comparar
diferentes áreas com o mesmo histórico de exploração e outros podem acompanhar
temporalmente as mudanças progressivas em uma mesma área. Zahawi e Augspurger
estudaram modelos de sucessão de plantas em quatro áreas de pastagem com idades
diferentes e uma floresta secundária no Equador (Zahawi & Augspurger 1999). Nesse
trabalho, os autores documentaram a sucessão de plantas através de pesquisas temporais
e análises de cronosseqüência, descreveu propriedades bióticas e abióticas que poderiam
afetar o curso da sucessão, comparou a sucessão em pastos com cobertura de copa e
totalmente limpos. O principal objetivo era prever se as áreas chegariam ao estado de
floresta secundária ou se permaneceriam em estado arrastado de sucessão. Os resultados
mostraram que a cobertura de copa facilita a recuperação das pastagens abandonadas, na
medida em que reduzem a temperatura e a competição com gramíneas, possibilitando a
chegada de outras espécies (Zahawi & Augspurger 1999). Para os autores, as pastagens
sem nenhuma cobertura de copa estão em processo arrastado de sucessão, com baixa
Eugênia Kelly Luciano Batista
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riqueza de espécies e alta dominância de Baccharis trinervis. Tudo isso demonstra a
importância da presença de espécies arbustivas e arbóreas nas áreas abandonadas, quer
seja pelo sombreamento ou pela viabilização da chuva de sementes.
Espécies com barreiras de estabelecimento facilmente manejáveis podem ser
usadas para estabelecer uma copa para espécies que não toleram as condições iniciais
após o abandono. Entre as possíveis barreiras para o estabelecimento de espécies em
campos abandonados estão a dispersão, a competição com as gramíneas, a predação e
solos nutricionalmente desfavorecidos (Holl et al. 2000; Nepstad et al. 1990).
A dispersão é um fator importante na recuperação dos campo abandonados,
especialmente para espécies arbóreas, que têm seus frutos dispersos a poucos metros de
distancia da planta-mãe, apresentam baixa viabilidade e geralmente não estão presentes
no banco de sementes no solo (Uhl 1987). Árvores, arvoretas ou arbustos podem
funcionar como poleiros e refúgios atrativos para aves e morcegos que levam as
sementes a distâncias maiores. No entanto, quando chegam ao campo, as sementes
ainda precisam sobreviver à predação para que possam germinar e se estabelecer. A
probabilidade dessas sementes sobreviverem está fortemente ligada à sua atratividade
para a comunidade animal. Essa atratividade depende do tamanho e do peso da semente,
que podem influenciar no tipo de animal que poderá manipulá-la. Depende também das
substâncias presentes na superfície da semente, que podem ser atrativas tanto para o
dispersor quanto para o predador (Nepstad et al. 1990).
Zimmerman et al. (2000) encontraram uma forte influência da distância em
relação à fonte de propágulos em uma área de pastagem abandonada em Porto Rico. Os
efeitos da distância da borda da floresta sobre o número de espécies e o número de
sementes no banco de sementes do solo foram significativamente negativos. Segundo o
autor, a dispersão de sementes no campo era predominantemente constituída por
espécies anemocóricas ou por árvores remanescentes que sobreviveram ao distúrbio. As
espécies zoocóricas encontradas no campo já estavam presentes no local ou na floresta
adjacente, indicando que a maioria das sementes dispersas era de espécies da região.
Se o indivíduo consegue se estabelecer, um conjunto de fatores bióticos e
abióticos pode futuramente comprometer sua sobrevivência (Holl et al. 2000). A
herbivoria exerce uma considerável influência sobre as espécies que podem se tornar
maduras no campo abandonado (Nepstad et al. 1990). Por outro lado, a competição com
as gramíneas e herbáceas também é um fator que pode influenciar o estabelecimento de
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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espécies nos campos abandonados (Holl et al. 2000). As gramíneas podem competir
pelos recursos ou sombrear as sementes e plântulas alterando o microclima abaixo de
sua cobertura. Alguns estudos mostram que as gramíneas e herbáceas presentes nos
campos abandonados, muitas vezes podem favorecer a germinação e o estabelecimento
de outras espécies (Zimmerman et al. 2000; Holl et al. 2000). Segundo Zimmermann et
al., poucas espécies germinaram em áreas expostas, sugerindo que a predação de
sementes pode ter diminuído a taxa de germinação nessas áreas, onde as gramíneas
foram removidas (Zimmerman et al. 2000). Por outro lado, a presença de espécies de
gramíneas invasoras pode intensificar o impacto gerado pela exploração, além de
prejudicar a dispersão de sementes por falta de atratividade às aves e morcegos que se
alimentam de frutos na mata (Nepstad et al. 1990). Espécies que produzem sementes
menores podem dispersar pelos campos abandonados, mas não são capazes de
sobreviver em competição com as gramíneas invasoras. Já as espécies que produzem
sementes maiores, geralmente conseguem se estabelecer sob densas coberturas de
gramíneas, mas possuem dispersão limitada (Hooper et al. 2005). Essas gramíneas
também podem intensificar os incêndios de tal maneira que as plântulas já estabelecidas
no campo acabam queimadas e perdidas (Nepstad et al. 1990). Dessa forma, a passagem
do fogo representa mais uma barreira ao estabelecimento de espécies arbóreas nos
campos abandonados cobertos por densas coberturas de gramíneas invasoras (Grigulis
et al. 2005).
A alta luminosidade (fotoinibição), os baixos níveis de nutrientes e matéria
orgânica, bem como o grau de compactação do solo também são fatores que
influenciam negativamente na taxa de estabelecimento dos indivíduos nos campos
abandonados.
Métodos antigos e modernos utilizados em sistemas agrícolas afetam a
distribuição e o suprimento de nutrientes por alterar diretamente as propriedades do solo
e por influenciar transformações biológicas na zona radicular (Fraterrigo et al. 2005).
Alguns autores sugerem que as atividades humanas possam atuar como fatores de
formação de solo e a International Society of Soil Science reconhece grupos de solos
caracterizados pela presença de um horizonte antropogênico, resultante de muitos anos
de cultivo contínuo (McLauchlan 2006). O uso agropecuário do solo altera a biomassa
vegetal na medida em que substitui a vegetação natural por monoculturas, enquanto a
fertilização, uma prática agrícola comum, pode aumentar a entrada de vários nutrientes
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no solo. A irrigação e a drenagem levam a alterações nos regimes hidrológicos, podendo
causar danos irreversíveis, tais como a siltização e salinização (Jacobsen & Adams
1958). Os solos podem ser descritos como resilientes ou resistentes à perturbação
agrícola. Os solos resilientes mudam em resposta à agricultura, mas retornam
rapidamente às suas condições iniciais. Por outro lado, os solos resistentes precisam de
uma perturbação severa para sofrer mudanças, podendo não retornar às suas condições
iniciais (McLauchlan 2006).
Conhecer os processos sucessionais e as barreiras bióticas e abióticas para o
estabelecimento e crescimento de indivíduos em campos abandonados permite criar
metodologias de restauração e prever se há a necessidade de acelerar a taxa de
recuperação natural quando uma área está em processo arrastado de sucessão (Zahawi &
Augspurger 1999).
No Parque Nacional da Serra do Cipó, inserido na porção sul da Cadeia do
Espinhaço, um mosaico vegetacional pode ser observado no vale do Rio Cipó. Uma
mata ciliar de largura variável e às vezes descontínua cobre as margens deste rio. Esta
mata é margeada por uma área de campo, cujo solo permanece encharcado boa parte do
período chuvoso. O campo, por sua vez, é delimitado por uma área de cerrado situado
em cotas altimétricas um pouco mais elevadas que contribuem para maior drenagem do
solo. Durante décadas a área onde hoje se encontram os campos foi repetidamente
queimada e usada para agricultura e criação de gado, atividades que perduraram sem
controle até recentemente. Após a retirada do gado e a implementação de um programa
de controle de incêndios pelo PREVFOGO/IBAMA, notam-se mudanças na fisionomia
da vegetação campestre. Algumas espécies de plantas de porte herbáceo a arbóreo estão
colonizando o campo, sugerindo o início de um processo sucessional.
2. Um breve histórico da Cadeia do Espinhaço
A Cadeia do Espinhaço constitui uma grande cordilheira, que se estende por
cerca de 1.200Km na direção N-S, entre os Estados de Minas Gerais e Bahia, podendo
ser compartimentada em dois setores: o Planalto Meridional e o Planalto Setentrional
(Saadi 1995). O Estado de Minas Gerais está inserido no setor Meridional do
Espinhaço, onde a cadeia se divide em quatro regiões: Norte, Sul, Planalto da
Diamantina e Serra do Cipó (Fig. 4).
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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A Cadeia do Espinhaço teve sua formação ligada aos movimentos geológicos
responsáveis pela junção e fragmentação de continentes ao longo do tempo. A espinha
dorsal formada por essas serras é uma evidência da dinâmica geológica vinculada a uma
antiga área de contato de placas tectônicas. Os dobramentos geológicos resultantes se
formaram a mais de 2,5 milhões de anos atrás, no final do período proterozóico.
O supercontinente Colúmbia é considerado o mais antigo e se consolidou entre
2,3 e 1,8 Ga. No final do Paleoproterozóico, há cerca de 1752 Ma, se deu o início do
processo de fragmentação do Colúmbia, começando com a distensão da crosta terrestre,
o adelgaçamento litosférico, o soerguimento, a abertura do continente, as intrusões
intraplacas e finalmente culminando na formação de oceanos intracontinentais. Todo
esse processo distensivo deu origem a uma bacia, na qual foram acumulados sedimentos
terrestres característicos de ambientes fluviais e marinhos pouco profundos. As
características desta sedimentação, encontradas nas formações basais do Supergrupo
Espinhaço (Formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho) indicam uma grande
instabilidade da bacia, que é típica deste período (Dussin & Dussin 1995). Esses
sedimentos foram posteriormente cobertos por quartzitos de ambientes eólico e marinho
raso (Formação Galho do Miguel), que correspondem à parte superior da seqüência de
sedimentação, indicando o fim da instabilidade neste período (Dussin & Dussin 1995).
No início do Mesoproterozóico, há cerca de 1250 Ma, um novo ciclo
geotectônico começou com outra fusão que formou o supercontinente Rodínia. Os
processos compressivos gerados pela fusão levaram ao fechamento da bacia com
transporte de leste para oeste. Durante os 250 Ma seguintes, um período de relativa
estabilidade tectônica possibilitou a sedimentação do Grupo Macaúbas, parcialmente
glaciogênica. Há 900 Ma, já no Neoproterozóico, um novo evento distensivo,
promovido por outro movimento divergente de placas tectônicas causou intenso
magmatismo basáltico e a subsidência do Cráton São Francisco, formando uma bacia
que acolheu os sedimentos carbonáticos do Grupo Bambuí. A unidade do topo do
Grupo Bambuí (Formação Três Marias) mostra sedimentos de ambiente marinho raso e
fluviais, o que sugere uma significativa regressão marinha antes de 680 Ma. Embora
esse processo de sedimentação caracterizasse um período de estabilidade tectônica, uma
importante glaciação, entre 680 e 550 Ma afetou a maior parte do Cráton São Francisco
e o arraste das geleiras deixou pavimentos estriados e sulcos profundos nas rochas
(Abreu 1995).
Eugênia Kelly Luciano Batista
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No final do Neoproterozóico, um novo movimento tectônico, desta vez
convergente, formou o Supercontinente Gondwana. Os processos compressivos
resultaram em empurrões de leste para oeste, e a conseqüente inversão do relevo, com a
sobreposição da formação mais antiga do Supergrupo Espinhaço à formação mais
recente dos Grupos Macaúbas e Bambuí. Esse processo de empurrão de leste para oeste
provocou uma vergência nítida nas rochas da Serra do Cipó, que sempre estão
apontadas na direção oeste.
Da história sedimentar e metamórfica proterozóica do Espinhaço, resultaram
grandes unidades lito-estratigráficas, que através das diferenças de comportamento
frente ao intemperismo e de resistência mecânica à erosão, vão controlar grande parte da
formação do relevo em escala regional. No setor meridional do Espinhaço, onde se
localiza a Serra do Cipó, a característica fundamental é a predominância absoluta da
unidade quartzítica, que em toda a sua extensão, compõem uma cobertura rígida,
embora densamente fraturada.
3. O Parque Nacional da Serra do Cipó
Em 1978, o Decreto-lei 19.278 de 1978 criou o Parque Estadual da Serra do
Cipó, que foi posteriormente transformado em Parque Nacional da Serra do Cipó pelo
Decreto-lei 90.223 de 25.09.1984. O Parque Nacional da Serra do Cipó está localizado
na porção central de Minas Gerais, próximo à região metropolitana de Belo Horizonte, a
cerca de 100Km de distância da capital mineira (Fig.3). O Parque, que engloba áreas
dos municípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e Itambé do Mato
Dentro, é inteiramente circundado pela Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira,
criada em 1990 pelo Decreto-lei 98.891 de 26.01.90.
A Serra do Cipó está inserida na porção sul da Cadeia do Espinhaço, eleita pela
UNESCO, em 2005, uma Reserva da Biosfera, por representar um importante centro de
diversidade biológica e endemismo.
A APA e o PARNA da Serra do Cipó possuem um valor estratégico em termos
conservacionistas porque além de estarem inseridos na Cadeia do Espinhaço, uma área
de prioridade para a conservação, representam uma faixa de transição entre dois
hotspots de megadiversidade, os biomas Cerrado e Mata Atlântica.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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A Serra do Cipó é um importante divisor de águas nas Bacias do Rio Doce e São
Francisco. A oeste da Serra, praticamente todos os rios que se formam são afluentes
diretos ou indiretos do Rio São Francisco, entre eles os Rios Cipó e das Velhas, que
apresentam um curso altamente sinuoso com muitos meandros abandonados e lagoas
intermitentes e perenes (Schaefer et al. 2008). Os rios que drenam a borda leste da Serra
compõem a bacia do Rio Doce e apresentam seus cursos iniciais bastante encaixados,
como o Rio do Peixe, que desemboca na margem esquerda do Rio Santo Antônio,
principal curso d’água da borda leste da Serra (Schaefer et al. 2008).
FIGURA 3: Localização geográfica do Parque Nacional da Serra do Cipó-MG.
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FIGURA 4: Localização geográfica da Serra do Cipó no contexto da Cadeia do Espinhaço (Adaptado de
Rapini 2000).
A base geológica da Serra do Cipó é constituída predominantemente por uma
matriz de Quartzito, embora as bordas escarpadas ao leste, pertencentes à Bacia do Rio
Doce, sejam constituídas por rochas cristalinas Gnáissico-Graníticas, que suportam
florestas em função de seu maior teor argiloso, fertilidade e capacidade de retenção de
umidade (Schaefer et al. 2008). O PARNA Serra do Cipó pode ser dividido em dois
geossistemas: Geossistema Montanhoso do Espinhaço (conjunto de alinhamentos de
quartzito, entre 1.100 e 1.600 metros, onde ocorrem os campos rupestres) e Geossistema
Semi-Montanhoso da Bacia Inter-planáltica do Médio Rio Cipó (onde se encontram os
vales e outras fitofisionomias do Cerrado) (Derby 1906). Na vertente leste, estão as
fisionomias de Mata Atlântica, e na vertente oeste, nas drenagens que compõem a Bacia
do rio São Francisco estão as fisionomias de Cerrado. Além de grandes extensões de
Cerrado e Mata Atlântica, o PARNA também engloba um dos mais ricos Complexos
Rupestres do Brasil, cuja existência foi a principal justificativa para a criação da
Unidade de Conservação (Schaefer et al. 2008). O alto endemismo que caracteriza os
campos rupestres da Serra do Espinhaço pode estar relacionado à distribuição insular
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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das serras de quartzito, imersas em uma matriz de áreas rebaixadas, com topografia e
solos distintos.
A ocupação da região da Serra do Cipó se deu muito antes da chegada dos
bandeirantes no local. As primeiras ocupações humanas nessa região são datadas de
12.000 anos a.C., durante a transição do Pleistoceno para o Holoceno (Prous 2003).
Dentre os vestígios encontrados em Santana do Riacho, destaca-se uma coleção de 40
esqueletos sepultados, cujas morfologias e datações são compatíveis com os esqueletos
anteriormente encontrados no Carste de Lagoa Santa e que correspondem à ocupação
humana mais antiga da América do Sul (Prous 2003).
Além dos sepultamentos, no Grande Abrigo de Santana do Riacho, foram
encontrados vestígios de cultura material, com importantes informações sobre hábitos
alimentares, aspectos simbólicos organização do espaço e maneiras de produzir
ferramentas de pedra. Nesse local também se destacam os painéis de pinturas rupestres,
nos quais aproximadamente 3.000 figuras já foram identificadas (Prous 2003). Entre os
animais mais comumente grafados estão os cervídeos, os peixes, as aves, os tatus e
outros quadrúpedes. Esses animais estão muitas vezes associados entre si ou com
figuras humanas, que são representados de maneira bastante esquemática (Prous 2003).
Esse conjunto singular de vestígios, portanto, afirma a extrema importância da região de
Santana do Riacho para a compreensão das ocupações pré-históricas, especialmente
quando associada a outras regiões do país e de Minas Gerais.
No século XVIII, quando as cartas de sesmarias foram distribuídas pelo governo
Português, teve início uma nova fase de ocupação da região. Em 1759, por exemplo, foi
concedida a carta de sesmaria ao capitão Manuel Soares Pereira dando-lhe direitos de
uso sobre a fazenda de Santa Ana do Capão Grosso, situada às margens do Rio Cipó.
Na fazenda, haviam “(...)engenho de canas, de pinhões e de moer mandioca, moinho de
mamona, moinho de milho, monjolo, paióis, pombal, currais, chiqueiros, árvores de
espinho, bananal, casas de vivenda de sobrado com pomar e todos os mais pertencentes
e lagradouros, pastos de criar gados vacum e cavalar, um pasto enfezado, pastos
largos, matos virgens, capoeiras e campos até a barra do capão grosso(...)”
(Guimarães 1991).
John Mawe, um viajante que chegou ao Brasil em 1807 empreendeu uma visita
às Minas Gerais e se surpreendeu com a riqueza de minério de ferro da região de Morro
de Gaspar Soares, atual Morro do Pilar: “com grande surpresa, que o ferro formava
Eugênia Kelly Luciano Batista
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camada regulares, de uma polegada de espessura, alternando com camadas de areia.”
(Guimarães 1991). Apesar das condições minerais favoráveis, os investimentos
siderúrgicos na região foram fracassados. A mineração, desde os diamantes até as
siderúrgicas, resultou no surgimento de vilas e desenvolvimento de atividades
agropastoris. Em função das extensas criações de gado para fornecimento de charque
nas áreas de mineração, a Serra do Cipó era antes conhecida como Serra da Vacaria
(Guimarães 1991). Saint-Hilaire, um viajante francês, autor de uma vasta obra sobre
suas viagens ao Brasil chegou ao país em 1816 e permaneceu até 1822. Em sua visita à
Vila do Príncipe, atual Serro, descreveu: “toda a região que se estende até a Vila do
Príncipe é ainda montanhosa, e as florestas, que a cobriram outrora, deram lugar, em
muitos pontos, a imensas pastagens de capim gordura.” (Guimarães 1991). George
Gardner, outro viajante que esteve no Brasil de 1836 a 1841, visitou a região do Morro
de Gaspar Soares (Morro do Pilar) e constatou: “não havia sinal de plantações, embora
ao que me informam, todos esses campos nus tivessem sido cultivados até que o capim
gordura os invadiu. Derrubando florestas virgens, fizeram-se a alguma distancia novas
plantações, que por sua vez terão de ser abandonadas pela mesma causa.” (Guimarães
1991).
Os diversos relatos de viajantes que passaram pela região evidenciam o
importante papel da atividade agropastoril para a ocupação da região e suas
conseqüências devastadoras para a paisagem natural.
4. Área de Estudo
A área de estudo encontra-se no interior do Parque Nacional da Serra do Cipó,
próximo à sede do ICMBIO, nas coordenadas 19º20’54.29”S e 43º36’45.92”O. Trata-
se de um campo inserido na bacia de drenagem do rio Mascates, junto ao encontro com
o rio Bocaina onde ocorre a formação do rio Cipó (Fig.5, 6 e 7). A área é formada por
um mosaico vegetacional composto por uma mata ciliar de largura variável, que é
margeada pelo campo de gramíneas, cujo solo permanece encharcado nos períodos
chuvosos, inclusive com formação de uma lâmina d’água. O campo, por sua vez, é
delimitado por uma área de cerrado senso-stricto, situado em cotas altimétricas um
pouco mais elevadas, com relevo movimentado e solos bem drenados (Fig. 8 e 9).
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A área ocupada pelo campo de gramíneas caracteriza uma região de deposição
de sedimentos e durante décadas foi repetidamente queimada e usada para agricultura e
criação de gado, atividades que perduraram sem controle até recentemente, quando o
Parque Nacional foi criado e um programa de controle de incêndios, PREVFOGO foi
implementado pelo IBAMA. Embora medidas tenham sido tomadas, essa área ainda
sofre com o uso extensivo e conflitante, sendo por isso reconhecida como prioritária
para recuperação e reabilitação.
O controle das atividades antrópicas permitiu a recuperação natural da área, com
a conseqüente ocupação do campo por espécies de gramíneas e outras de porte
herbáceo, arbustivo e arbóreo. A colonização do campo sugere um possível processo
sucessional, cuja dinâmica é o foco central deste trabalho.
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FIGURA 5: Imagem de satélite mostrando a área de estudo em diferentes escalas. Na escala maior, as
linhas azuis mostram os limites da APA Morro da Pedreira e as linhas amarelas, os limites do Parque
Nacional da Serra do Cipó.
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FIGURA 6: Imagem de satélite da área de estudo mostrando o campo de gramíneas ao centro, a mata
ciliar contornando o rio e o cerrado abaixo da trilha. À direita, a união do rio Bocaina ao rio Mascates
formando o rio Cipó.
FIGURA 7: Gradiente vegetacional da área de estudo: abaixo, o rio Cipó e a mata ciliar, delimitada pelo
campo de gramíneas, que se estende até o cerrado sensu-stricto, localizado em cotas altimétricas um
pouco mais elevadas. O gradiente continua até o topo da serra, onde as plantas de cerrado misturam-se às
plantas dos campos rupestres.
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A
Fo
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Gu
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vo
Sch
ifller
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B
F
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C
FIGURA 8: Cada uma das três fitofisionomias acompanhadas pela respectiva fotografia hemisférica,
tiradas com uma lente FISHEYE FCE9 acoplada a uma NIKON PULPIX 5400 em agosto de 2005. (A)
Mata ciliar, (B) Campo, (C) Cerrado.
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27
A
B C
FIGURA 9: Fotografias da área de estudo. (A) planície de inundação do Rio Cipó em dezembro de 2009.
(B) (C) solo encharcado com formação de lâmina d’água.
5. Objetivos
O principal objetivo deste estudo foi determinar uma possível trajetória
sucessional para o campo, compreendendo os processos que estão determinando sua
colonização. Os conhecimentos gerados a partir deste estudo poderão contribuir com
novas pesquisas científicas e futuros projetos de recuperação da área.
Para atingir esse objetivo, as seguintes questões foram formuladas:
1) Quais espécies vegetais compõem a mata ciliar, o cerrado e o campo?
2) As espécies presentes no campo vêm da mata ciliar ou do cerrado?
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3) Quais são suas síndromes de dispersão?
4) Como estas espécies estão distribuídas e que fatores estão determinando essa
distribuição?
5) Quais características físicas e químicas distinguem os solos do campo dos
solos da mata ciliar e do cerrado?
6) Que trajetória sucessional os solos e a vegetação atual indicam?
6. Hipóteses
Hipótese I. O campo é constituído por um mosaico vegetacional com espécies
campestres, de mata ciliar e de cerrado sensu-stricto.
Hipótese II. A zoocoria é predominante no cerrado e na mata ciliar, enquanto a
anemocoria é mais representativa no campo.
Hipótese III. A riqueza de espécies é menor em parcelas com predomínio de
monocotiledôneas com maior afinidade por umidade.
Hipótese IV. As características físico-químicas do solo podem explicar as semelhanças
florísticas encontradas entre o campo, o cerrado e a mata.
Hipótese V. Os solos do campo apresentam características exclusivas e distintas da mata
ciliar e do cerrado.
7. Material e Métodos
7.1. Coleta de Dados
7.1.1. Levantamento Florístico
As coletas florísticas foram realizadas no período seco, entre maio e setembro de
2009. Foram criados três tansectos, que seguiram a linha de drenagem do Rio Cipó e
preservaram uma distância mínima de 30m entre si (Fig.10).
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T1T2
T3
FIGURA 10: Imagem de satélite mostrando o posicionamento aproximado dos três transectos na área de
estudos.
Todos os transectos começavam no cerrado, atravessavam o campo e
terminavam na mata ciliar. Cada um deles possuía uma parcela no cerrado, com 10m
x10m e outra na mata, também com 10m x10m. No campo, as parcelas estavam
distribuídas ao longo de todo o transecto, começando na borda do cerrado e terminando
na borda da mata ciliar. Cada uma dessas parcelas possuía 3m x10m, com intervalos de
10m entre elas. Em função do traço meandrante do Rio Cipó os transectos possuíam
números de parcelas diferentes no campo, sendo 19, 25 e 21 respectivamente. Foi
estabelecido um intervalo de 10m antes e depois de trilhas e obstáculos físicos, tais
como lagoas e troncos de árvores caídos, com a finalidade de evitar os efeitos de borda
e as possíveis interferências antrópicas na vegetação.
Em cada parcela, todos os indivíduos com altura mínima de 50cm foram
incluídos na amostragem. O Diâmetro na Altura do Solo (DAS) e o Diâmetro na Altura
do Peito (DAP) não foram utilizados como critério de inclusão porque excluíam plantas
com altura significativa no campo e plântulas importantes na mata e no cerrado. Todos
os indivíduos foram marcados e exemplares de cada morfoespécie foram coletados e
identificados. A identificação foi realizada com o auxílio de especialistas, consultas à
bibliografias e ao Herbário BHCB/UFMG.
Para classificar as espécies quanto ao seu hábitat, foram utilizadas consultas à
literatura e aos especialistas. Quando uma espécie apareceu apenas uma vez na
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amostragem e informações não foram encontradas na literatura, a espécie foi
desconsiderada. As espécies não identificadas ou identificadas a nível de gênero
também foram deconsideradas nas análises.
7.1.2. Coleta de Solos
Fertilidade e Textura: Para estudos de fertilidade e textura dos solos, 12 amostras de 0-
20cm de profundidade foram coletadas em cada fitofisionomia com o auxílio de um trado
cala dor de 5cm de diâmetro. No cerrado e na mata ciliar, cada parcela foi dividida em 4
subparcelas. Em cada uma dessas subparcelas foram escolhidos 3 pontos aleatórios de
coleta. As 3 amostras foram homogeneizadas e acondicionadas em sacos plásticos
identificados. Ao final, 4 subparcelas em 3 parcelas totalizaram 12 amostras na mata e 12 no
cerrado. Cupinzeiros, trocos em decomposição, ou quaisquer outros fatores que pudessem
causar alterações locais no solo e dessa forma interferir nos resultados, foram registrados e
evitados. No campo, cada transecto foi dividido em 4 grupos de 4 a 7 parcelas. As coletas
para análise de fertilidade e textura foram feitas nas parcelas centrais de cada grupo. Ao
final, 4 parcelas em 3 transectos totalizaram 12 amostras no campo. Todas as amostras
foram encaminhadas para análise no Laboratório de Análise de Solos da Universidade
Federal de Lavras.
Umidade do Solo: Para analisar a umidade do solo, uma amostra de 0-10cm de
profundidade foi coletada em cada subparcela das parcelas da mata ciliar e do cerrado. Já no
campo, 3 amostras foram coletadas em cada parcela, também de 0-10cm de profundidade,
sendo uma no início, uma no centro e outra no final de cada uma delas. Touceiras de
gramíneas foram evitadas sempre que possível, pois nesses locais a umidade se torna
naturalmente mais elevada. Os solos coletados foram colocados em sacos plásticos vedados.
No mesmo dia todas as amostras foram pesadas em laboratório para o registro do peso
úmido. Em seguida, os sacos plásticos foram abertos e as amostras foram deixadas expostas
à temperatura ambiente para secagem. Todas foram pesadas de 10 em 10 dias até que não
houvessem mais variações no peso. O percentual de umidade do solo foi determinado da
seguinte forma:
100 x (Pu – Ps) / Pu
onde Pu = Peso Úmido e Ps = Peso Seco.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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7.1.3. Cobertura de Gramíneas
Cinco categorias de densidade de cobertura foram estabelecidas: 0-20%, 21-40%, 41-
60%, 61-80%, 81-100%. Foram consideradas apenas as três espécies de gramíneas mais
abundantes: Urochloa decumbens, Andropogon bicornis, e uma espécie de Poaceae não
identificada (Fig.11). Outras espécies foram excluídas da análise por ocorrerem em menos de
5% das parcelas. Cada parcela, no cerrado, no campo e na mata, foi dividida em 4 subparcelas e
por estimativas visuais, cada um deles foi inserido em uma das categorias de cobertura.
FIGURA 11: Espécies de gramíneas estudadas. (A) Andropogon bicornis, (B) Urochloa decumbens, (C)
Poaceae não identificada.
7.1.4. Microclima
Um Datalogger LICOR-1400 foi utilizado para registrar medidas de PAR
(Radiação Fotossinteticamente Ativa), temperatura e umidade do ar nas parcelas do
transecto 2, selecionado por ser o maior e mais representativo. As medidas foram feitas
Eugênia Kelly Luciano Batista
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ao nível do solo, em pontos aleatórios, entre 10:30 e 13:30 horas. Nas parcelas da mata
e do cerrado, foram amostrados 3 pontos em cada subparcela, totalizando 36 medições
para cada uma das duas fitofisionomias. No campo, foram amostrados 3 pontos em cada
parcela, totalizando 75 medições. Para as análises, foi calculada a média aritmética das
medições em cada parcela ou subparcela.
7.2. Análise dos Dados
Modelos de abundância foram aplicados aos dados florísticos. Tais modelos,
embora empíricos, possuem aplicabilidade prática na medida em que fornecem um
retrato aproximado da estrutura da comunidade (Magurran 2004).
Análise Discriminante e Análise dos Componentes Principais (PCA) foram
usadas para 1) verificar se solos de cada uma das três fitofisionomias apresentam
características comuns que os distinguem dos solos das outras fitofisionomias e 2)
verificar como se relacionam os diferentes parâmetros físico-químicos desses solos.
Foi utilizada primeiramente a Análise Discriminante. Porém, o método
“stepwise”, utilizado nesta análise, elimina variáveis redundantes e com baixo poder de
discriminação, o que impossibilitou a análise das correlações entre todas as variáveis
físico-químicas. Por outro lado, isso foi possível com a PCA.
O Escalonamento Multidimensional Não-Métrico (NMDS) foi aplicado aos
dados florísticos para detectar possíveis similaridades entre as fitofisionomias. Para esta
análise, só foram consideradas espécies presentes em mais do que 5% das parcelas, o
que exclui as espécies raras. A análise foi aplicada para todas as parcelas e também para
as parcelas com coletas de fertilidade de solo. A NMDS foi usada para ordenar as
parcelas de acordo com o grau de similaridade em abundância e composição de
espécies. Essa técnica não requer a normalidade multivariada e produz a representação
mais apurada da estrutura dos dados (Clarke 1993). A NMDS foi executada no modo
automático do programa PC-ORD usando a distância de Bray-Curtis. Antes da análise,
todas as parcelas foram estandardizadas. O número de dimensões foi definido pelo valor
do estresse final que foi comparado a configurações randomizadas dos dados (Teste de
Monte Carlo) (Mccune & Grace 2002). A distribuição das parcelas no espaço
multidimensional do PC-ORD é definida pelas similaridades na composição e
abundância de espécies.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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Os escores obtidos das análises de solo foram correlacionados com os escores da
NMDS para verificar possíveis relações com as características edáficas.
Correlações simples (Coeficiente de Spearman) foram aplicadas aos parâmetros
microclimáticos (PAR, temperatura, umidade do solo e do ar), assim como foram
utilizadas para relacionar a cobertura de gramíneas à riqueza em espécies, à distância
em relação à borda do cerrado e à umidade do solo. A riqueza, por sua vez, também foi
relacionada à umidade do solo e à distância em relação à borda do cerrado e da mata.
Uma breve discussão sobre as análises multivariadas utilizadas neste estudo está
apresentada no apêndice A.
8. Resultados
No total, foram amostrados 3.530 indivíduos pertencentes a 278 espécies e
morfoespécies. Desse total, foram identificadas 167 espécies, pertencentes a 113
gêneros e 48 famílias. Muitos exemplares não puderam ser identificados em função da
ausência de estruturas reprodutivas. Na área de estudo, foram encontradas 115 espécies
e morfoespécies no cerrado, 171 no campo e 75 na mata ciliar. As famílias com maior
número de espécies foram Fabaceae (24), Myrtaceae (21) e Asteraceae (14). No cerrado
e na mata, as famílias mais abundantes foram Fabaceae e Myrtaceae. No campo, se
destacaram as famílias Fabaceae, Myrtaceae e Asteraceae. As espécies identificadas,
bem como seu porte, síndromes de dispersão e hábitat de origem estão representadas no
Apêndice B.
8.1. As curvas espécie-abundância
As curvas espécie/abundância sugerem forte dominância, indicando a presença
de muitas espécies raras e poucas espécies abundantes (Fig.12). Todas as três curvas
foram melhor descritas pelo modelo geométrico. As espécies mais abundantes no
campo foram Sebastiania hispida, Miconia albicans, Sida linifolia e Ludwigia nervosa.
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34
T3T2
T1
0 34 68 102 136 170
Rank
1
10
100
Ab
un
dâ
ncia
(lo
g)
FIGURA 12. Curva espécie/abundância para os três transectos do campo. Transecto 1 (●), Transecto
2(●), Transecto 3 (●).
8.2. A cobertura de gramíneas
As espécies Urochloa decumbens e Andropogon bicornis demonstraram grande
afinidade por solos úmidos, onde apresentaram as maiores densidades de cobertura
(Fig.13A,B). O primeiro transecto foi omitido nos gráficos que ilustram os resultados
envolvendo a espécie Urochloa decumbens, porque ela estava presente em apenas uma
das parcelas desse transecto.
Por outro lado, a espécie de Poaceae não identificada demonstrou maior
afinidade por áreas mais secas (Fig.13C). A cobertura dessa espécie de gramínea está
negativamente correlacionada à cobertura de Urochloa decumbens e Andropogon
bicornis (rs = -0,424, p<0,001 e rs = -0,370, p<0,01 respectivamente).
Por outro lado, testes qui-quadrado revelaram que as espécies Sida linifolia e
Ludwigia nervosa estão fortemente associadas à presença de Andropogon bicornis (X2
=
7,319, p<0,01 e X2
= 7,820, p<0,01, respectivamente). Testes qui-quadrado também
indicaram uma associação positiva entre a espécie de Poaceae não identificada,
aparentemente indicadora de ambientes secos, e a presença de cupinzeiros (X2 = 15,116,
p<0,001). Essa gramínea também apresentou correlações positivas com o número de
espécies de cerrado, também menos tolerantes à umidade (rs = 0,585, p<0,001). Em
conjunto, esses resultados indicam a presença de ambientes mais secos inseridos no
campo úmido.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
35
(A)
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Umidade (%)
0
20
40
60
80
100
120
Uro
ch
loa
de
cu
mb
en
s (
%)
rs = 0,293 p < 0,02 rs = -0,541 p < 0,001
T3T2
T1
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Umidade (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Po
ace
ae
(%
)
(B) (C)
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Umidade (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
An
dro
po
go
n b
ico
rnis
(%
)
rs = 0,527 p < 0,001
FIGURA 13: Relações entre as abundâncias das três espécies de gramíneas e a umidade do solo.
Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).
A riqueza em espécies reduziu com o aumento da umidade e da cobertura de
Andropogon bicornis e Urochloa decumbens (Fig.14A,B,C). Para descartar a
possibilidade de correlação espúria, foi feita uma regressão simples utilizando somente
os dados das parcelas com cobertura zero de Andropogon bicornis e Urochloa
decumbens. O resultado não foi significativo (n = 26, p = 0,403, rs = 0,171), indicando
que a riqueza em espécies está negativamente correlacionada à cobertura de
Andropogon bicornis e Urochloa decumbens e não à umidade do solo. Se associarmos
ao fato de que as espécies Sida linifolia e Ludwigia nervosa apresentam maior
densidade em manchas de Andropogon bicornis, fica claro que essas gramíneas
estabelecem um ambiente altamente seletivo, caracterizado por forte dominância de
poucas espécies. Como esperado nesse caso, a riqueza em espécies aumentou com a
porcentagem de cobertura da Poaceae não identificada (Fig.14D), uma vez que essa
espécie de gramínea está associada a parcelas com menor cobertura de Andropogon
bicornis e Urochloa decumbens.
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
36
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Umidade (%)
0
10
20
30
Riq
ue
za
de
Esp
écie
s
T3
T2
T1
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Andropogon bicornis (%)
0
10
20
30
Riq
ue
za
de
Esp
écie
s
0 20 40 60 80 100 120
Urochloa decumbens (%)
0
10
20
30
Riq
ue
za
de
Esp
écie
s
(A) rs = -0,341 p < 0,05 rs = -0,568 p < 0,001
rs = -0,569 p < 0,001
(B)
(C) (D)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Poaceae (%)
0
10
20
30
Riq
ue
za
de
Esp
écie
s
rs = 0,399 p < 0,01
FIGURA 14: Relações entre a riqueza de espécies, a umidade e a cobertura das três gramíneas estudadas
(Poaceae (não identificada), Urochloa decumbens e Andropogon bicornis). Transecto 1 (●), Transecto
2(●),Transecto 3 (●).
8.3. Efeitos da distância em relação às bordas
Parcelas mais próximas à borda da mata são mais ricas do que parcelas mais
próximas à borda do cerrado (Fig.15). Já as espécies de gramíneas Urochloa decumbens
e Andropogon bicornis apresentaram maiores coberturas próximo à borda do cerrado
(Fig.16A,B). Esses resultados são coerentes com os anteriores, pois a riqueza de
espécies diminui com o aumento da cobertura dessas gramíneas.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
37
T3T2
T1
0 10 20 30
Parcela
0
10
20
30
Nº
de
Esp
écie
s
rs = 0,469 p < 0,001
FIGURA 15: Aumento da riqueza em espécies no campo com a distância em relação às bordas do
cerrado. As primeiras parcelas estão mais próximas do cerrado e as últimas, mais próximas da mata ciliar.
Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).
T3T2
T1
0 10 20 30
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
An
dro
po
go
n b
ico
rnis
(%
)
0 10 20 30
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
Uro
ch
loa
de
cu
mb
en
s (
%)
(A) (B)rs = -0,596 p < 0,001 rs = -0,451 p < 0,001
FIGURA 16: Redução da cobertura de Urochloa decumbens e Andropogon bicornis com a distância em
relação às bordas do cerrado. Transecto 1 (●), Transecto 2(●),Transecto 3 (●).
8.4. O microclima
Quanto menor a PAR (Radiação Fotossinteticamente Ativa), menor a
temperatura (rs = 0,423, p<0,05) e maior a umidade do ar ao nível do solo (rs = -0,586,
p<0,01). Apenas a espécie Urochloa decumbens foi capaz de alterar significativamente
o microclima, reduzindo a quantidade de radiação fotossinteticamente ativa que chega
ao solo (Fig.17).
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
38
1 11 21 31 41 51 61
Andropogon bicornis
10
15
20
25
30
Um
ida
de
do
Ar
1 11 21 31 41 51 61 71
Urochloa decumbens
0
500
1.000
1.500
PA
R
ρ = 0,366 ρ = - 0,417
rs = -0,417 p < 0,05
FIGURA 17: Relações entre a PAR e a cobertura de Urochloa decumbens.
8.5. Origem e síndromes de dispersão no campo
No campo, a maior parte dos indivíduos pertence a espécies típicas de cerrado
(69,51%). O restante é composto por indivíduos pertencentes a espécies que podem ser
encontradas no cerrado ou na mata ciliar (13,90%) e espécies típicas de mata ciliar
(16,59%) (Fig.18).
Cer
rado
Cer
rado
/Mat
a
Mat
a10
20
30
40
50
60
70
Nº
de
In
div
ídu
os (
%)
FIGURA 18: Porcentagem de indivíduos de cada fitofisionomia registrados no campo. Espécies típicas
de cerrado ou mata ciliar e espécies que podem ser encontradas nos dois ambientes.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
39
As espécies típicas do cerrado ou que podem viver tanto no cerrado quanto na
mata ciliar são encontradas em toda a extensão do campo (Fig.19A,B). No entanto, as
espécies típicas de mata ciliar estão concentradas predominantemente próximo à borda
da mata (rs = 0,436, p<0,001) (Fig.19C).
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e M
ata
Cili
ar
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado/M
ata
Cili
ar
(A) (B) (C)
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e M
ata
Cili
ar
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado/M
ata
Cili
ar
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s d
e M
ata
Cili
ar
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
% E
spécie
s d
e
Cerr
ado/M
ata
Cili
ar
FIGURA 19: Distribuição das espécies características de cada hábitat nas parcelas do campo. (A)
Porcentagem de espécies típicas de cerrado. (B) Porcentagem de espécies que podem ser encontradas em
ambientes de cerrado ou mata ciliar. (C) Porcentagem de espécies típicas de mata ciliar.
Quanto mais próximo à borda da mata ciliar, menor a representatividade de
espécies arbustivas (rs = -0,281, p<0,05) (Fig.20A), maior o percentual de espécies
arbóreas (rs = 0,414, p<0,001) (Fig.20B) e naturalmente a altura média dos indivíduos
(rs = 0,255, p<0,05) (Fig.21) e de espécies típicas desse local.
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
% E
spécie
s
Herb
áceas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Arb
ustivas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s A
rbóre
as
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
% E
spécie
s
Arb
ustivo/A
rbóre
as
(B)(A)
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
70
% E
spécie
s
Herb
áceas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Arb
ustivas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s A
rbóre
as
0 9 18 27
Parcela
0
10
20
30
40
50
60
% E
spécie
s
Arb
ustivo/A
rbóre
as
FIGURA 20: Distribuição das espécies com diferentes portes pelo campo.
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
40
0 9 18 27
Parcela
0
1
2
3
Altu
ra m
éd
ia
Cerrado/MataMata
Campo
Cerrado
0 5 10 15 20 25
Parcela
1
10
Nú
me
ro d
e E
sp
écie
s (
log
)
(A)
(B)
(m)
FIGURA 21: Distribuição das alturas médias dos indivíduos nas parcelas do campo.
As espécies autocóricas e anemocóricas podem ser encontradas em toda a
extensão do campo (Fig.22A,B). No entanto, o percentual de espécies zoocóricas foi
correlacionado ao número de espécies típicas da mata ciliar (rs = 0,328, p<0,01).
Também é possível observar uma tendência de aumento no percentual de espécies
zoocóricas próximo às bordas da mata (Fig.22C), onde a representatividade das espécies
típicas desse local é maior.
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Zoocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Anem
ocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Auto
córicas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Zoocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Anem
ocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Auto
córicas
(A) (B) (C)
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Zoocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Anem
ocóricas
0 9 18 27
Parcela
0
20
40
60
80
100
120
% E
spécie
s
Auto
córicas
FIGURA 22: Distribuição das três formas de dispersão nas parcelas do campo. (A) autocóricas, (B)
anemocóricas, (C) zoocóricas.
A zoocoria aumentou consideravelmente com o número de espécies arbóreas no
campo (rs = 0,329, p<0,01). Mas por outro lado, diminuiu com o percentual de espécies
herbáceas (rs = -0,323, p<0,01), arbustivas (rs = -0,405, p<0,001) e típicas de cerrado
(rs = -0,345, p<0,01). A autocoria foi correlacionada com o percentual de espécies
arbustivas (rs = 0,456, p<0,001) e típicas de cerrado (rs= 0,572, p<0,001), diminuindo
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
41
com o número de espécies arbóreas (rs = -420, p<0,001) e típicas de mata ciliar (rs = -
0,313, p<0,02).
No interior da mata ciliar, as espécies zoocóricas foram mais representativas
(Fig.23A), perdendo importância no interior do cerrado e do campo, onde as espécies
autocóricas e anemocóricas ganharam expressão (Fig.23B,C).
Autocóricas
Anemocóricas
Zoocóricas
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Transecto
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
% E
sp
écie
s
Autocóricas
Anemocóricas
Zoocóricas
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Transecto
0
10
20
30
40
50
60
% E
sp
écie
s
(A) (B) (C)
Autocóricas
Anemocóricas
Zoocóricas
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Transecto
10
20
30
40
50
60
% E
sp
écie
s
FIGURA 23: Percentual de espécies zoocóricas, anemocóricas e autocóricas em cada uma das três
fitofisionomias. (A) mata ciliar (B) cerrado (C) campo.
8.6. Os solos e a vegetação
Os boxplots forneceram um panorama geral das características edáficas e
mostraram os seguintes resultados: a mata apresentou maior capacidade de troca
catiônica, pH mais ácido e maiores médias de alumínio solúvel, H + Al e índice de
saturação de alumínio. O campo apresentou as maiores médias de matéria orgânica, o
pH menos ácido, as menores concentrações de fósforo remanescente e a maior umidade
do solo. O cerrado apresentou a maior concentração de potássio e valores sutilmente
maiores na soma e índice de saturação de bases (Fig.24).
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
42
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
70
80
90
100
m (
%)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
H+
AL
(cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
(T)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
3
4
5
6
pH
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
(t)
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
SB
(cm
olc
/dm
3)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80
90
K (
cm
ol/d
m3
)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
V (
%)
CA CE MA
Grupo
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
Pre
m (
mg
/L)
CA CE MA
Grupo
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Um
ida
de
(%
)
FIGURA 24: Comparação das variáveis químicas dos solos do cerrado, campo e mata. Al=alumínio solúvel,
H+Al=íon hidrogênio+alumínio, m=índice de saturação de alumínio, (t)=capacidade de troca catiônica efetiva,
(T)=capacidade de troca catiônica a pH 7.0, SB=soma de bases trocáveis, K=potássio, v=índice de saturação de
bases, Prem=fósforo remanescente, MO=matéria orgânica. CA = campo; CE = cerrado; MA = mata. Os boxplots que
apresentaram apenas as medianas para os três grupos foram excluídos.
Em relação às características físicas, o cerrado e a mata apresentaram solos mais
arenosos, enquanto o campo se destacou pela predominância de partículas siltosas
(Fig.25).
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
43
CA CE MA
Grupo
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Are
ia (
da
g/k
g)
CA CE MA
Grupo
10
20
30
40
50
60
70
80S
ilte
(d
ag
/kg
)
CA CE MA
Grupo
0
5
10
15
20
25
30
35
Arg
ila (
da
g/k
g)
FIGURA 25: Comparação das variáveis físicas dos solos do cerrado, campo e mata. CA = campo; CE =
cerrado; MA = mata.
A tabela no Apêndice C mostra as correlações entre as variáveis físico-químicas
do solo. A Análise Discriminante apontou diferenças entre campo, cerrado e mata ciliar.
Após a retirada de um outlier no campo, o Wilk’s λ foi 0,007, com p < 0,001, o que
exclui a probabilidade de considerar diferenças entre os grupos quando na verdade elas
não existem.
Os autovalores foram 24,16 e 5,06 para a primeira e a segunda funções
discriminantes respectivamente (Tab.2). A primeira função concentrou 82,67% do poder
de discriminação total, cerca de cinco vezes maior do que a segunda função, que
concentrou 17,33%. Os coeficientes de correlação canônica (R*) são altos, se
aproximando do valor máximo (igual a 1), o que indica fortes associações entre os
grupos e as funções canônicas.
TABELA 2: Autovalores, porcentagem de explicação e correlação canônica das duas funções
discriminantes.
Autovalor % Relativa R*
Função 1 24,163 82,67 0,980
Função 2 5,065 17,33 0,914
Na Tabela 3 estão representados os valores médios das variáveis edáficas de
cada grupo. Uma análise dessa tabela permite observar que o campo apresentou o pH
menos ácido e as maiores médias de matéria orgânica, umidade e silte. A porcentagem
de areia e teor de fósforo remanescente foram maiores na mata ciliar e no cerrado,
ficando o cerrado com as maiores médias de potássio e a mata com os maiores valores
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
44
médios de alumínio, H + Al, capacidade de troca catiônica e índice de saturação de
alumínio. Os valores médios resultantes da análise confirmam os boxplots, das Figuras
23 e 24.
TABELA 3: Média das variáveis edáficas para cada grupo na Análise Discriminante. Grupos: CE =
Cerrado; MA = Mata; CA = Campo. Variáveis: Al=alumínio solúvel, H+Al=íon hidrogênio+alumínio,
m=índice de saturação de alumínio, (t)=capacidade de troca catiônica efetiva, (T)=capacidade de troca
catiônica a pH 7.0, SB=soma de bases trocáveis, K=potássio, v=índice de saturação de bases,
Prem=fósforo remanescente, MO=matéria orgânica. Os valores em negrito representam as médias mais
significativas.
Variável
Grupo
CA CE MA
Ph 5,018 4,783 4,167
K 21,455 49,083 22,833
Ca 0,173 0,108 0,125
Mg 0,1 0,133 0,1
Al 2,018 1,85 2,95
H+Al 9,809 8,083 16,217
SB 0,327 0,375 0,308
(t) 2,345 2,225 3,258
(T) 10,145 8,467 16,525
V 3,609 4,442 1,867
M 85,345 83,275 90,625
MO 4,682 2,258 3,775
Prem 17,027 34,292 34,775
Areia 31,909 68,583 67,5
Silte 54,545 17,333 26
Argila 13,545 14,083 6,5
Umidade 0,242 0,056 0,047
No entanto, apenas as médias não podem explicar a distinção entre os grupos,
porque não dizem nada a respeito das relações de cada variável com o eixo. Para isso,
são utilizados os coeficientes estruturais ou padronizados (Tab. 4). A primeira função,
que separa o campo do conjunto cerrado/mata, foi fortemente influenciada pelas
variáveis SB, v e silte. Para a segunda função, que separa a mata do cerrado inserindo o
campo em posições intermediárias, as variáveis discriminantes mais significativas
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
45
foram o potássio, a areia e também o silte. As demais variáveis foram excluídas por
serem fortemente correlacionadas.
TABELA 4: Coeficientes padronizados da Análise Discriminante. Os valores em negrito significam as
variáveis que mais contribuem para o cálculo dos “escores” de cada função.
Variável
Função Discriminante
1 2
Ph 0,766 0,802
K -0,436 1,158
Ca . .
Mg . .
Al . .
H+AL . .
SB -2,283 -0,325
(t) . .
(T) . .
V 2,104 -0,976
M . .
MO . .
Prem . .
Areia 1,256 -2,84
Silte 2,376 -2,993
Argila . .
Umidade 1,129 0,099
A posição dos grupos (cerrado, mata e campo) no espaço discriminante pode ser
visualizada em um diagrama bidimensional (Fig.26), onde é possível notar que os três
grupos estão relativamente bem separados.
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
46
-10 -5 0 5 10
DISC1
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
DIS
C2
MA
MA
MA
MA
CECE CECE
CA
CACA
CA
MA
MA
MAMA
CECE
CE
CE
CA
CA
CA
MAMA
MA
MA
CE
CECE
CE
CA
CACA
CA
FIGURA 26: Distribuição dos grupos no espaço discriminante de acordo com as características dos
solos. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo (●). O comprimento dos eixos é proporcional ao percentual de
variação a eles associados.
Na PCA, os três primeiros autovalores foram significativos e explicam cerca de
85% da variância. No entanto, somente os dois primeiros componentes foram
analisados, por somarem mais de 70% da variância.
TABELA 5: Autovalores e porcentagem da variância explicada por cada componente.
Autovalor %
Componente 1 6,877 40,45
Componente 2 5,159 30,34
Componente 3 2,466 14,5
As cargas dos componentes representam a correlação de Pearson entre cada
variável e os eixos dos componentes. A análise dessas cargas indica que no primeiro
eixo as variáveis mais relevantes foram o Al, H+Al, (t), (T), m, v e pH. Enquanto que
no segundo eixo, as principais variáveis foram a Umidade do solo, Silte, MO, Areia e
Prem (Tab.6).
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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47
TABELA 6: Peso das variáveis em cada eixo da PCA. Os valores em negrito significam as variáveis significativas.
Variável
Cargas dos Componentes
1 2
Ph 0,728 -0,555
K 0,677 0,18
Ca 0,144 -0,619
Mg 0,611 0,142
Al -0,872 0,067
H+AL -0,898 0,117
SB 0,439 -0,366
(t) -0,815 0,013
(T) -0,89 0,112
V 0,893 -0,236
M -0,865 0,255
MO -0,608 -0,692
Prem 0,23 0,913
Areia 0,247 0,942
Silte -0,358 -0,88
Argila 0,305 -0,575
Umidade -0,164 -0,907
As correlações entre cada variável e os dois primeiros componentes ou eixos da
PCA, assim como a distribuição das parcelas no espaço bidimensional definido por
esses componentes ou eixos podem ser visualizados nas Figuras 27A e 27B. O primeiro
componente tem caráter químico e separa as parcelas de mata das parcelas de cerrado,
enquanto as parcelas de campo encontraram-se distribuídas entre os dois grupos. A mata
apresenta maiores teores de alumínio em relação ao cerrado, que possui pH menos
ácido, índice de saturação de bases e potássio relativamente mais elevados.
O segundo componente possui características físicas e separa o campo do
conjunto formado pela mata e pelo cerrado. A mata e o cerrado apresentaram solos com
textura mais grosseira, com maiores percentuais de areia em relação ao silte e argila, ao
passo que o campo caracterizou-se por umidade de solo elevada e maiores teores de
matéria orgânica e silte.
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
48
-3 -2 -1 0 1 2 3
PCA1
-4
-3
-2
-1
0
1
2
PC
A2
MAT1P1
MAT1P2
MAT1P3
MAT1P4
CET1P1CET1P2
CET1P3
CET1P4
CAT1P3
CAT1P8
CAT1P13
CAT1P18
MAT2P1MAT2P2
MAT2P3MAT2P4
CET2P1CET2P2CET2P3
CET2P4
CAT2P4
CAT2P16CAT2P22
MAT3P1
MAT3P2
MAT3P3MAT3P4
CET3P1
CET3P2CET3P3CET3P4
CAT3P3
CAT3P8
CAT3P13
CAT3P18
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Factor(1)
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0F
acto
r(2
)
PH
K
CA
MGAL
HAL
SBT
CTC
CTC7
ISB
ISA
MO
PRAREIA
SILTE
ARGILA
UMIDADE
(A) (B)
FIGURA 27: (A) PCA mostrando as correlações entre as variáveis físico-químicas e os dois primeiros componentes.
(B) Dispersão das parcelas com relação aos dois primeiros componentes da PCA. Mata Ciliar (●), Cerrado (●),
Campo (●).Variáveis: Al=alumínio solúvel, H+Al=íon hidrogênio+alumínio, m=índice de saturação de
alumínio, (t)=capacidade de troca catiônica efetiva, (T)=capacidade de troca catiônica a pH 7.0, SB=soma
de bases trocáveis, K=potássio, v=índice de saturação de bases, Prem=fósforo remanescente,
MO=matéria orgânica.
Os resultados obtidos com a Análise Discriminante apresentaram algumas
similaridades com os resultados da PCA. Para checar a coerência entre essas duas
análises e assegurar a melhor escolha entre as duas, os “escores” das parcelas obtidos na
Análise Discriminante foram correlacionados aos “escores” obtidos na PCA (Fig.28).
Foram encontradas correlações significativas entre o primeiro eixo da PCA e o segundo
eixo Discriminante, bem como entre o segundo eixo da PCA e o primeiro eixo
Discriminante. Dessa forma, podemos concluir que esses eixos apresentam praticamente
a mesma informação, permitindo-nos utilizar os resultados de apenas uma das análises
com segurança. Em função da Análise Discriminante omitir os coeficientes
padronizados das variáveis redundantes, optamos pela utilização dos resultados da PCA.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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49
-10 -5 0 5 10
DISC1
-4
-3
-2
-1
0
1
2
PC
A2
MA
MA
MA
MA
CECE
CE
CE
CA
CA
CA
CA
MAMA
MAMA
CECECECE
CA
CACA
MA
MA
MAMACE
CECECE
CA
CA
CACA
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
DISC2
-3
-2
-1
0
1
2
3
PC
A1
MA
MA
MAMA
CECE
CE
CE
CA
CA
CA
CA
MA MA
MA
MA
CECECE
CE
CA
CA
CA
MA
MA
MAMA
CECECE
CE
CA
CA
CA
CA
(A) (B)rs = -0,786 p < 0,001 rs = 0,757 p < 0,001
FIGURA 28: Correlações entre os escores da Análise Discriminante e da PCA. (A) Eixo 2 da PCA e Eixo 1 da
Análise Discriminante. (B) Eixo 1 da PCA e Eixo 2 da Análise Discriminante. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo
(●).
No que tange à relação entre o solo e a vegetação, o escalonamento
multidimensional (NMDS) indicou uma solução tridimensional. O terceiro eixo, que
explica 44% da variância total, claramente distingue a mata ciliar do cerrado, enquanto
o campo está situado entre esses dois grupos. Já o segundo eixo, que explica 27% da
variância total, agrupou as parcelas de cerrado e de mata separando-as do campo (Tab.7
e Fig.29). Agrupamentos semelhantes foram encontrados na Análise Discriminante e na
PCA aplicadas às características edáficas.
TABELA 7: Poder de explicação de cada eixo do NMDS.
R2
Eixo Percentual de Explicação
1 0,105
2 0,275
3 0,444
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
50
CET1P1CET1P2
CET1P3
CET1P4
CAT1P3
CAT1P8
CAT1P13
CAT1P18
M AT1P1M AT1P2
M AT1P3
M AT1P4
CET2P1
CET2P2
CET2P3
CET2P4
CAT2P4
CAT2P16
CAT2P22
M AT2P1
M AT2P2
M AT2P3
M AT2P4
CET3P1
CET3P2
CET3P3
CET3P4
CAT3P3
CAT3P8
CAT3P13
CAT3P18
M AT3P1
M AT3P2M AT3P3
M AT3P4
Cor
193032
II
III
FIGURA 29: Distribuição das parcelas no espaço bidimensional formado pelo segundo e terceiro eixos da NMDS.
( ) Cerrado ( ) Mata Ciliar ( ) Campo.
A representação gráfica das parcelas no espaço tridimensional definido pelos três
primeiros Eixos da NMDS pode ser observada na Figura 30, onde é possível visualizar a
separação das três fitofisionomias com base na composição florística.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
51
II
III
III
II
FIGURA 30: Distribuição espacial das parcelas no espaço tridimensional definido pelos três primeiros eixos da
NMDS, destacando o segundo e terceiro eixos que apresentaram o maior poder de explicação. ( ) Cerrado ( ) Mata
Ciliar ( ) Campo.
O estresse foi estabilizado e diferiu significativamente das configurações
randomizadas do conjunto de dados (Teste de Monte Carlo), comprovando sua
consistência (p=0,0196) (Tab.8).
TABELA 8: Teste de Permutação de Monte Carlo.
Stress nos dados reais
Stress nos dados
randomizados
Teste de Monte Carlo
Eixos Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo p valor
1 35.021 51.006 56.054 49.121 54.600 56.061 0,0196
2 18.383 21.240 39.568 28.446 31.503 42.155 0,0196
3 12.366 13.490 29.737 18.745 23.431 43.114 0,0196
4 9.053 10.478 26.480 14.005 18.597 44.168 0,0196
Para tentar explicar as similaridades florísticas encontradas os escores do NMDS
foram correlacionados aos escores da PCA e da Análise Discriminante (Fig.31). Os
resultados demonstram que a configuração das parcelas no espaço do NMDS está
correlacionada à configuração das parcelas no espaço do PCA e da Análise
Discriminante (Tab.9). Ou seja, os dados edáficos, obtidos através da PCA e da Análise
Discriminante podem explicar as semelhanças florísticas resultantes do NMDS.
Eugênia Kelly Luciano Batista
______________________________________________________________________
52
TABELA 9: Matriz de coeficientes de correlação de Spearman entre os eixos edáficos e florísticos.
Matriz de Correlação de Spearman
DISC1 DISC2 PCA1 PCA2 MDS1 MDS2 MDS3
DISC1 1
DISC2 0,332 1
PCA1 0,330 0,757 1
PCA2 -0,786 -0,138 -0,075 1
MDS1 -0,080 0,101 0,388 0,278 1
MDS2 0,766 0,264 0,315 -0,619 0,164 1
MDS3 -0,259 -0,789 -0,737 0,099 -0,066 -0,228 1
O segundo eixo da NMDS separa o campo do conjunto formado pela mata ciliar
e cerrado. Esse eixo está fortemente correlacionado ao eixo 2 da PCA (Fig.31A), que
separa as parcelas com base em características físicas do solo. Nesse eixo, o campo
encontra-se isolado das outras parcelas em função de sua elevada umidade, matéria
orgânica e proporção de silte. Ou seja, essas características físicas do solo conferem ao
campo uma composição florística singular. No gráfico da Figura 31A é possível
observar as parcelas de cerrado agrupadas com as parcelas de mata e ambas separadas
das parcelas de campo.
Por outro lado, o terceiro eixo da NMDS separa bem as parcelas da mata ciliar
das parcelas de cerrado. Esse eixo está fortemente correlacionado ao eixo 1 da PCA
(Fig.31B), que separa as parcelas com base em características químicas do solo. Nesse
eixo, as parcelas de mata e de cerrado são bem distintas e essa separação parece ser
fortemente influenciada pela quantidade de alumínio no solo, pH e capacidade de troca
catiônica. Isso significa que essas diferenças químicas no solo podem determinar o
estabelecimento de comunidades com estrutura e composição florística totalmente
distintas, tais como o cerrado e a mata ciliar. No gráfico da Figura 31B é possível
observar as parcelas de cerrado separadas das parcelas de mata ciliar e o campo
localizado em posições intermediárias.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
______________________________________________________________________
53
-4 -3 -2 -1 0 1 2
PCA2
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
MD
S2
MA MA
MAMA
CECE
CE
CE
CA
CA
CA
CA
MA
MAMA
MA
CE
CE
CE
CE
CACA
CA
MA
MA
MAMA
CE
CE
CE
CE
CA CACACA
-3 -2 -1 0 1 2 3
PCA1
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
MD
S3
MA
MA MAMA
CE
CE CE
CE
CA
CA
CA
CA
MA
MAMA
MA
CE
CE
CE
CE
CA
CA
CA
MA MAMA
MA
CE
CE
CE
CE
CACA
CA
CA
(A) (B) rs = -0,737 p < 0,001rs = -0,619 p < 0,001
FIGURA 31: Correlações entre os escores do NMDS e os escores da PCA. (A) Eixo 2 da PCA e Eixo 2 do NMDS.
(B) Eixo 1 da PCA e Eixo 3 do MDS. Mata Ciliar (●), Cerrado (●), Campo (●).
9. Discussão
9.1. As curvas espécie-abundância
As curvas espécie/abundância são típicas de ambientes em sucessão e a
dominância de poucas espécies no campo sugere condições ambientais restritivas
(Magurran 2004). Sabe-se que a área onde hoje se encontra o campo foi por décadas
queimada e utilizada para cultivo e pastagem, atividades que perduraram até
recentemente, quando a área foi desapropriada e os programas de combate a incêndios
foram implementados. Nesse contexto, é esperado que o campo esteja em início de
processo sucessional, com maior representatividade das espécies tolerantes às novas
condições ambientais. Por outro lado, as inundações periódicas também podem causar
diminuição da abundância e riqueza em espécies, refletindo a falta de adaptação de
muitas espécies às condições de alagamento. As inundações funcionam portanto, como
um filtro que seleciona espécies capazes de sobreviver nessas condições (Cianciaruso et
al. 2005).
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9.2. A cobertura de gramíneas
As ocorrências das gramíneas Urochloa decumbens e Andropogon bicornis estão
associadas a solos mais úmidos. Isso pode refletir afinidade por umidade elevada ou
indicar que essas espécies estão contribuindo para aumentar a umidade no solo. Por
outro lado, estudos comprovam que as gramíneas, assim como as espécies lenhosas,
podem ser eficientes na retirada de umidade do solo, diminuindo o teor de água nas
camadas superficiais, especialmente se a textura for arenosa (James et al. 2003). Como a
textura dos solos do campo foi predominantemente siltosa, pode ser que a retirada de
água pela cobertura de gramíneas não tenha sido suficiente para reduzir
significativamente a umidade, pois as partículas mais finas como o silte podem reter
mais água no solo. Além disso, a maior adição de matéria orgânica causada por essas
gramíneas pode contribuir ainda mais para o aumento da umidade. Em outras palavras,
as gramíneas estão de fato associadas a altas umidades e isso pode ser um resultado de
sua ineficiência na retirada de água do solo aliada aos elevados teores de silte e matéria
orgânica, criando um círculo vicioso que pode deslocar a trajetória sucessional em
direção a outro climax.
Por outro lado, a espécie de Poaceae não identificada demonstrou maior
afinidade por ambientes mais secos. O fato de altas coberturas dessa gramínea estarem
associadas a outras espécies do cerrado e também a cupinzeiros, que podem modificar a
dinâmica da água no solo (Abbadie et al. 1992), poderia caracterizá-la como uma
espécie bioindicadora de baixa umidade. Essa possibilidade se torna ainda mais concreta
quando são encontradas correlações negativas, praticamente excludentes, entre a
cobertura dessa espécie e a de Urochloa decumbens e Andropogon bicornis.
Em conjunto, as gramíneas indicam que o campo mantém manchas de solo mais
bem drenados ou de cota altimétrica mais elevada, em meio a uma matriz de solos
inundáveis, propiciando mistura de espécies com afinidades elevadas até baixas por
umidade.
Os resultados sugerem que a riqueza em espécies diminui com a cobertura de
Andropogon bicornis e Urochloa decumbens e não diretamente com a umidade.
Entretanto, é possível que essas duas espécies de gramíneas sejam tolerantes aos
encharcados e dessa forma caracterizem ambientes excessivamente úmidos e situados
acima do limite de tolerância das espécies potencialmente colonizadoras, mesmo as da
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mata ciliar. Isso sugere que apenas um pequeno número de espécies pode colonizar
essas áreas alagadiças (Munhoz et al. 2008). Essa possibilidade é reforçada pela
dominância de Ludwigia nervosa e Sida linifolia nas parcelas cobertas por Andropogon
bicornis. Segundo Munhoz (2007) e Araújo (2002), essas duas espécies são típicas de
ambientes alagadiços, saturados de água durante boa parte do ano, ocorrendo em
campos úmidos e veredas. Além disso, uma espécie de pteridófita, Pityrogramma
calomelanos, pôde ser amostrada em parcelas com 100% de cobertura de Andropogon
bicornis, o que reafirma a umidade excessiva dos locais onde esta gramínea é
encontrada.
Estudos como os de Araújo et al. (2002), Sampaio et al. (2000) e Silva (2001)
revelaram padrões semelhantes de diminuição da riqueza em áreas alagadiças,
geralmente caracterizadas por uma flora específica. Ferreira 1997 encontrou um
aumento na riqueza de espécies com a redução da intensidade e duração do alagamento
em florestas de igapó na Amazônia (Ferreira 1997). Zeilhofer (1999) identificou regiões
cobertas por gramíneas sobre solos com drenagem deficiente no Pantanal do Mato
Grosso e Hall (1946) classificou três comunidades no vale do Tennessee de acordo com
a tolerância às inundações: tolerantes, moderadamente tolerantes e intolerantes. Pode ser
que as áreas cobertas pelas gramíneas no campo correspondam a regiões com
topografias mais rebaixadas, onde a duração e a freqüência das inundações é maior.
Nesse caso, a comunidade vegetal estabelecida será composta predominantemente por
espécies tolerantes aos encharcamentos (Ferreira 1999).
É importante lembrar que outros fatores, além do excesso de umidade, também
podem inibir o estabelecimento de diversas espécies de plantas sob a cobertura de
gramíneas. Geralmente, as gramíneas são eficientes na captação de recursos
(Zimmerman 2000) e em alguns casos, como Urochloa decumbens, podem reduzir
significativamente a luminosidade ao nível do solo ou inibir o desenvolvimento de
outras espécies através da liberação de compostos alelopáticos (Barbosa et al. 2009).
9.3. Efeitos da distância em relação às bordas
A riqueza em espécies também está correlacionada à distância em relação às
bordas da mata ciliar e do cerrado, embora esse efeito possa ser indiretamente
influenciado pela cobertura de gramíneas. Os resultados indicaram que a riqueza é
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maior próximo à mata ciliar, onde as espécies de Andropogon bicornis e Urochloa
decumbens estão ausentes. Talvez o maior sombreamento nessa região tenha impedido o
estabelecimento das espécies de Andropogon bicornis e Urochloa decumbens criando
condições de umidade adequadas à sobrevivência de outras espécies.
9.4. Origem e síndromes de dispersão no campo
A maioria das espécies presentes no campo é típica de cerrado, sugerindo uma
possível trajetória sucessional em direção a essa fitofisionomia. Nesse sentido, a
distância em relação à fonte de propágulos não parece ser uma barreira de colonização
para essas espécies, pois elas podem ser encontradas em toda a extensão do campo,
muitas vezes associadas à Poaceae não identificada, que se estabelece em áreas com
melhor drenagem do solo. Por outro lado, as espécies típicas de mata ciliar são mais
abundantes próximo às bordas da mata, onde há o predomínio de espécies arbóreas em
relação às arbustivas e conseqüente aumento na altura média dos indivíduos. Tudo isso
sugere uma frente de expansão da mata em direção ao campo, possivelmente
relacionada à chuva de sementes.
O percentual de zoocoria tende a ser maior próximo às bordas da mata, talvez
em função do aumento no número de espécies típicas desse local. As espécies
zoocóricas perdem expressão no cerrado e no campo, embora ainda continuem a ser
predominantes no primeiro caso. Diversos estudos falam sobre a importância da
anemocoria na colonização de áreas abertas (Saïd 2001, Oliveira & Moreira 1992).
Segundo Saïd, a redução na pressão de pastagem permite o estabelecimento de espécies
anemocóricas, heliófilas, geralmente herbáceas e tolerantes ao estresse das condições
iniciais (Saïd 2001). E de fato, no campo, as espécies anemocóricas, em sua maioria
herbáceas, ganham representatividade. Já no cerrado, o percentual de espécies
autocóricas aumenta e, apesar destas espécies serem ineficientes na dispersão a longas
distâncias (Vieira et al. 2002), podem ser encontradas em toda a extensão do campo.
Isso sugere que as fontes de propágulos já estão estabelecidas no campo e/ou que
alguma forma de dispersão secundária estaria levando as sementes a distâncias maiores
do que elas seriam capazes de alcançar sem ajuda externa.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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9.5. Os solos e a vegetação
Os fatores edáficos influenciam fortemente a comunidade vegetal e a dinâmica
da sucessão (Davidson 1962; Moreno et al. 2008; Ruggiero et al. 2002; Oliveira-Filho
1989,1994,2001,2005; Rodrigues 2007; Botrel 2002). O quartzito, rocha predominante
na região da Serra do Cipó, apresenta grande resistência ao intemperismo e forma solos
com alta proporção de areia e baixa fertilidade (Resende 2007). Na área de estudo, de
uma forma geral, as três fitofisionomias apresentaram solos distróficos (SBT < 50%),
com alta concentração de alumínio, chegando algumas vezes a níveis suficientes para
serem denominados “alumínicos” (ISA ≥ 50% e Al > 4cmol/dm3), um padrão também
descrito para outras áreas de cerrado. (Goodland & Ferri 1979; Moreno 2008; Ruggiero
et al. 2002).
As partículas de solo, tanto orgânicas quanto inorgânicas, têm cargas
predominantemente negativas em sua superfície (Resende 2007). Os cátions minerais
adsorvem-se às cargas negativas de superfície das partículas orgânicas e inorgânicas,
não sendo perdidos quando o solo é lavado pela água. Dessa forma, esses cátions
oferecem uma reserva de nutrientes disponível às raízes das plantas. Os nutrientes
minerais adsorvidos no solo podem ser substituídos por outros cátions através de um
processo conhecido como troca catiônica. Sendo assim, quanto mais cátions o solo
puder adsorver e trocar, maior será sua capacidade de troca catiônica. Ao serem
absorvidos pelas raízes das plantas, os nutrientes são substituídos por íons hidrogênio
(H+) originários da água da chuva e dos ácidos orgânicos liberados durante a
decomposição da matéria orgânica. A substituição dos cátions presentes na superfície
das partículas pelo hidrogênio mantém o balanço eletrostático da solução do solo, ou
seja, não há sobra de cargas elétricas (Tonhasca 2005). Porém, a concentração do íon
hidrogênio afeta a disponibilidade dos nutrientes (K+, Mg
2+, Ca
2+, Mn
2+) no solo, na
medida em que pode deslocá-los do complexo de troca de cátions e deixá-los
susceptíveis à lixiviação (Taiz & Zeiger 2004). O aumento da concentração de íons
hidrogênio com a lixiviação provoca a elevação da acidez do solo e com isso, o
alumínio (Al3+
) passa a se solubilizar. O alumínio solúvel, por sua vez, também desloca
os nutrientes do complexo de troca (Ruggiero et al. 2002, Boyer 1973) e contribui ainda
mais para a acidez do solo. Esse elemento é tóxico para as plantas em altas
concentrações (Tonhasca 2005), mas outros estudos têm afirmado que as altas
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concentrações de alumínio no solo não limitam o desenvolvimento da vegetação no
cerrado (Haridasan 1992).
Na mata e no cerrado, os solos apresentaram textura grosseira, com maiores
teores de areia, o que reflete seu material de origem, o quartzito. No caso da mata, a
textura arenosa também pode ser reflexo do transporte de materiais no leito do rio. Por
outro lado, o campo apresentou elevadas proporções de silte, o que pode ser resultado
de uma possível topografia rebaixada, que faz com que ele receba sedimentos,
geralmente finos como o silte, carreados das partes mais altas. No entanto, sob a ação do
intemperismo, as partículas de silte tendem a se transformar em argila (Resende 2007).
Por que então grande parte do silte que compõe os solos do campo ainda não se
transformou em argila? Nos períodos chuvosos, o campo permanece encharcado, muitas
vezes com a formação de uma lâmina d’água a níveis que podem chegar a 1 metro de
altura acima do nível do solo. Em condições de excesso de água, o ambiente é de
redução e conseqüente anoxia do solo (Ponnamperuma 1972). O oxigênio é consumido
pela respiração de raízes e (micro)organismos do solo, geralmente desaparecendo um
dia após o encharcamento (Ponnamperuma 1972). Nessas condições de aeração
deficiente, o ambiente se torna inadequado à sobrevivência e atividade dos
microorganismos, resultando na desaceleração do intemperismo biológico (Resende
2007) e na conseqüente manutenção das elevadas proporções de silte em relação à
argila. Além disso, os solos mais siltosos possuem maior capacidade de retenção de
umidade (Jacobsen & Adams 1958), o que contribuiria para o maior acúmulo e maior
tempo de retenção de água no campo. A maior umidade do campo em relação à mata e
ao cerrado também pode estar ligada à maior quantidade de matéria orgânica. A matéria
orgânica retém até seis vezes o seu peso em água (Resende 2007). As gramíneas
incorporam mais matéria orgânica no solo do que as florestas e o encharcamento
periódico impede a decomposição completa dessa matéria orgânica, que passa a se
acumular no solo, retendo mais umidade (Ponnamperuma 1972).
Os alagamentos afetam a dinâmica dos processos edáficos e a comunidade
microbiológica do solo (An 2008, Entray 2008, Maharning 2009, Unger 2009). Segundo
Ponnamperuma 1972, sob condições de anoxia a decomposição da matéria orgânica é
feita por organismos anaeróbios facultativos ou obrigatórios, que operam com menos
energia e de forma mais lenta do que os organismos aeróbios. Em solos bem drenados,
os principais produtos finais da decomposição são o CO2, nitrato, sulfato e húmus. Já na
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decomposição anaeróbia, são liberados CO2, hidrogênio, amônia e metano
(Ponnamperuma 1972). Então em solos alagados, além das menores taxas de
decomposição, uma série de compostos intermediários é formada, alterando toda a
dinâmica da matéria orgânica (Nascimento et al. 2010). Portanto, os alagamentos
periódicos no campo fazem com que a decomposição da matéria orgânica seja lenta e
não resulte em compostos de maior estabilidade, como o húmus. Pouco húmus, somado
ao baixo teor de argila explicaria a menor capacidade de troca catiônica observada no
campo.
Por outro lado, no campo, o alagamento poderia ter desencadeado uma
seqüência de redução que começou com a utilização do oxigênio como receptor final de
elétrons por organismos aeróbios. Quando a concentração do oxigênio chega próximo a
zero, outros componentes passam a ser reduzidos por anaeróbios facultativos ou
obrigatórios, que se tornam predominantes após a anoxia. Entre esses componentes
estão os íons H+, que após reduzidos se transformam em H2 (Ponnamperuma 1972). A
conseqüente queda na concentração de íons H+ poderia resultar na formação de óxidos
de alumínio denominados gipsita [Al(OH)3], um elemento colóide, ou seja, uma argila,
capaz de elevar a capacidade de troca nos solos do campo.
O fósforo remanescente é um índice que possibilita determinar a capacidade de
retenção de fósforo por um solo (Cagliari 2010). A gipsita é um forte adsorvente do
fósforo e, se chegou a ser formada no campo através da precipitação do alumínio,
poderia explicar porque essa fitofisionomia apresentou as menores concentrações de
fósforo remanescente. Por outro lado, estudos revelam que o aumento da umidade deixa
o filme de água ao redor dos colóides mais espesso, diminuindo a interação íon-colóide
e aumentando a difusividade do fósforo no solo (Marcolan 2006). Outros estudos
mostram que os ácidos orgânicos têm a capacidade de diminuir a adsorção do fósforo
por oxidróxidos de alumínio como a gipsita, porque competem com ele pelos mesmos
sítios de adsorção (Mesquita & Torrent 1993). O aumento da difusividade do fósforo
pela umidade e a diminuição de sua adsorção pela matéria orgânica aumentariam a
disponibilidade de fósforo para as plantas. Nesse caso, seriam necessárias análises da
biomassa vegetal para compreender melhor a dinâmica do fósforo nos solos do campo.
Portanto, de uma maneira geral, um conjunto de fatores está contribuindo para a
manutenção das condições atuais do campo (Apêndice D). O relevo mais rebaixado
favorece o encharcamento, o que inibe a decomposição da matéria orgânica e o processo
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de envelhecimento do solo, que levaria à formação de argila. Com a decomposição do
material orgânico comprometida não há formação de húmus e a capacidade de troca
catiônica diminui. O alagamento gera a anoxia do solo, favorecendo os organismos
anaeróbios, que utilizam os íons H+ como aceptores finais de elétrons. A diminuição da
concentração desses íons em solução aumenta o pH do solo e acaba precipitando o
alumínio, que por isso também apresenta concentrações menores. Esse precipitado de
alumínio, denominado gipsita, é um forte adsorvente de fósforo e confere ao solo maior
potencial de retenção deste elemento, o que pode explicar os menores valores de fósforo
remanescente encontrados nesse ambiente.
No cerrado, o solo arenoso aliado ao relevo levemente acidentado favorece a
drenagem da água e causa um déficit hídrico. Nesse ambiente, a produção de biomassa é
menor do que na mata e não existem condições abióticas que dificultem o processo de
decomposição da matéria orgânica. Sendo assim, com menor produção e maior
decomposição, é esperado que o cerrado apresente menores quantidades de matéria
orgânica, o que também desfavorece a retenção de umidade no solo. Com menos húmus
e um solo arenoso, o cerrado também possui menos elementos colóides no solo, o que
pode explicar porque esse ambiente apresentou a menor capacidade de troca catiônica.
Na mata ciliar, apesar da textura arenosa, a proximidade do rio aumenta a
umidade do solo. Nesse ambiente, a maior taxa de decomposição é compensada pela
maior taxa de produção por unidade de tempo, o que acaba levando ao acúmulo de
matéria orgânica no solo e contribuindo para a maior retenção de umidade (Resende
2007). Esse acúmulo de matéria orgânica ou húmus, pode explicar a maior capacidade
de troca catiônica encontrada na mata ciliar. O pH muito ácido aumenta a solubilidade
do alumínio (Al3+
) e o alumínio solúvel compete pelos sítios de troca nos elementos
colóides do solo, deixando os nutrientes expostos à lixiviação. Além disso, o alumínio
solúvel ainda compromete a absorção dos nutrientes na medida em que inibe a divisão
celular nas raízes, levando à redução do sistema radicular (Haridasan 1982; Boyer
1973). Desse modo, a disponibilidade de nutrientes no solo e a absorção pelas plantas
ficam comprometidas, quer seja pela baixa solubilidade dos nutrientes ou pelo excesso
de alumínio solúvel.
Quando a concentração das bases K, Mg e Ca é elevada, a soma de bases
trocáveis e o índice de saturação de bases também será elevada. Por outro lado, quando
o pH se torna ácido, com elevadas concentrações de H+, o alumínio se torna solúvel e
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aumenta a concentração do íon Al3+
. Os íons hidrogênio e alumínio deslocam os outros
cátions dos sítios de troca nos elementos colóides e aumentam o índice de saturação por
alumínio. Uma vez adsorvidos nos sítios de troca acessíveis ao potássio, são
dificilmente deslocados do complexo sortivo por ele (Boyer 1973). Nessas
circunstâncias, se o potássio não for aproveitado pelas plantas, ficará susceptível à
lixiviação, assim como os outros cátions. Assim, quando os índices de saturação por
alumínio são elevados, as concentrações de potássio e de outros cátions serão reduzidas.
A matéria orgânica também parece ter um papel fundamental na dinâmica de nutrientes
desse solo. Quando a quantidade de matéria orgânica é maior, como por exemplo, no
campo e na mata, ocorre um aumento na concentração de alumínio solúvel. Com mais
alumínio solúvel, as outras bases (K, Mg e Ca) acabam sendo lixiviadas ou absorvidas
pelas plantas. Portanto, nos locais mais pobres em matéria orgânica, estarão as maiores
concentrações de bases trocáveis, como por exemplo, no cerrado. Essa maior
concentração de bases trocáveis nos solos do cerrado também pode ser explicada pelo
transporte de materiais oriundos das partes mais altas. Estudos recentes descreveram um
contexto semelhante de relações entre as variáveis edáficas, com maior saturação de
alumínio em solos arenosos, onde a concentração de bases trocáveis era menor e o pH
mais ácido (Oliveira-Filho 2007).
A dominância de umas poucas espécies no campo e o grande numero de espécies
raras sugere condições inóspitas do campo, geradas pelos alagamentos periódicos e/ou
pela competição com as gramíneas. Mas a presença de um grande número de espécies
de cerrado nesse campo pode indicar microtopografias um pouco mais elevadas, e por
isso, mais bem drenadas, favoráveis às espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas. Por
sua vez, o sombreamento causado por essas plantas desfavoreceriam as gramíneas
Andropogon bicornis e Urochloa decumbens. Em áreas alagáveis, as plantas são
distribuídas de acordo com suas tolerâncias à inundação ou saturação de água,
resultando em uma zonação de espécies (Odland 2002, Zeilhofer 1999). Também é
possível supor que as espécies lenhosas estejam modificando as condições de excesso
de umidade no solo através dos processos de evapotranspiração (Cooper et al. 2006,
Chapin III et al. 2002; Hopkins 1992; Holl et al. 2000). Nesse caso, o aumento da
densidade de espécies lenhosas, significa maior biomassa de raízes e folhas e
conseqüente aumento da perda de água para a atmosfera. Além disso, na medida em que
as espécies arbustivas e arbóreas se estabelecem, a maior altura e complexidade das
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copas alimenta a turbulência do ar, contribuindo para o aumento da evapotranspiração
(Chapin III et al. 2002). Se as espécies lenhosas forem mais eficientes na retirada de
umidade do solo do que as gramíneas, existiria a possibilidade do campo se tornar mais
permeável à colonização por espécies do cerrado ou da mata ciliar.
A maior abundância de espécies arbóreas e típicas de mata ciliar próximo às
bordas da mata sugere uma frente de expansão em direção ao campo. Por outro lado, as
espécies de cerrado, geralmente pouco tolerantes ou intolerantes à umidade excessiva
(Oliveira-Filho 1989; Ratter 1992), estão distribuídas em manchas ao longo do campo,
associadas à espécie de Poaceae não identificada, indicadora de solos secos e/ou melhor
drenados. Diversos estudos têm enfatizado a importância da topografia na distribuição das
espécies (Oliveira-Filho 2001, 1994, 2007, 2005) e muitos têm encontrado um padrão
semelhante de distribuição insular de espécies de cerrado em meio ao campo alagável,
associadas a microtopografias mais elevadas e com características físico-químicas do solo
diferentes (Dubs 1992; Furley 1992; Zeilhofer 1999). Após se estabelecerem, as árvores
do cerrado e também da mata formam uma estrutura vertical que pode servir como
poleiros para aves, facilitando a chegada de muitas espécies ornitocóricas ao local (Saïd
2001, Holl et al. 2000). Nesse contexto, tais manchas poderiam iniciar um processo de
nucleação (Holl et al. 2000; Nepstad et al. 1990), a partir do qual se daria a colonização
do campo por espécies de cerrado menos tolerantes ao alagamento. Entretanto, a matriz
de solos encharcados, com densas coberturas de Andropogon bicornis e Urochloa
decumbens representa uma barreira ao estabelecimento desses potenciais colonizadores,
mantendo o campo em um estado arrastado de sucessão, provavelmente com processos
de nucleação esporadicamente abortados durante períodos de umidade excessiva. No
entanto, como discutido anteriormente, quando manchas de espécies arbustivo-arbóreas
se estabelecem em solos mais secos no meio do campo, podem sombrear as gramíneas
na borda (Hopkins 1992; Holl et al. 2000), além de aumentar a evapotranspiração
(Cooper et al. 2006). Com a morte das gramíneas, a adição de matéria orgânica diminui
e conseqüentemente a retenção de umidade no solo, bem como todos os aspectos
inerentes à competição com elas por recursos limitados. O que nos restaria saber é se
essa redução na umidade seria suficiente para permitir a expansão das manchas de
cerrado pelo campo, afinal, mesmo que as espécies lenhosas sejam mais eficientes na
retirada de água do solo, a topografia rebaixada continuará favorecendo os
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encharcamentos nos períodos chuvosos e a textura siltosa continuará dificultando a
drenagem dos solos.
De qualquer forma, a freqüência e a duração dos alagamentos atuais, associados
à topografia, definem a zonação das espécies no campo, selecionando espécies
tolerantes em locais mais encharcados e espécies intolerantes provavelmente em locais
mais secos.
Com isso, cabe refletir se as flutuações nas condições ambientais estão causando
flutuações efêmeras na composição de espécies e até que ponto essas flutuações são
direcionais e cumulativas. Ou seja, será que a comunidade atual do campo constitui uma
fase de equilíbrio com zonações discretas causadas por diferentes ótimos em relação ao
nível da água? Ou será que se trata de uma comunidade em transição, afetada por
fatores alogênicos (alagamentos) e autogênicos (interação entre as espécies e entre elas
e o ambiente) que levarão a mudanças direcionais em sua composição e estrutura?
A ação combinada das características físicas e químicas do solo, das sutis
diferenças de topografia, dos alagamentos periódicos e da expressão da vegetação no
ambiente controla o processo sucessional no campo hoje (Fig.39). Os resultados obtidos
permitem levantar três cenários possíveis. O campo pode ser sucedido pelo cerrado, pela
mata ciliar ou manter a mesma estrutura e composição.
É possível que o campo inundável funcione como um filtro ambiental,
restringindo o número de espécies de cerrado capazes de se estabelecer. Nesse contexto,
parecem existir manchas com espécies de cerrado menos tolerantes à umidade excessiva
inseridas no campo alagável. Essas manchas podem representar micro-relevos mais
elevados e por isso menos sujeitos ao encharcamento e atingidos pelas inundações com
menos freqüência e intensidade. As espécies lenhosas poderiam funcionar como
poleiros e fornecer alimento para aves e morcegos, além de criar condições menos
estressantes em relação ao campo coberto por gramíneas (Nepstad et al. 1990). Com o
aumento da evapotranspiração e conseqüente redução da umidade do solo, surge a
possibilidade dessas espécies se expandirem pelo campo. Caso a sucessão siga essa
trajetória, uma zona de tensão poderá se estabelecer nos limites com a mata ciliar e essa
borda pode se movimentar em direção a uma das duas fitofisionomias ou permanecer
estável (Hopkins 1992). Muitos estudos descrevem o poder do fogo como um elemento
determinante na dinâmica dessas bordas (Hopkins 1992; Ratter 1992). Sem a atuação do
fogo, as matas se expandem em direção ao cerrado, sombreando e excluindo espécies
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adaptadas a alta luminosidade típicas desse ambiente (Hopkins 1992). Geralmente o
fogo termina onde a densidade de gramíneas diminui, ou seja, próximo à borda da mata,
raramente atingindo a serrapilheira (Hopkins 1992). Contudo, quando o incêndio
ultrapassa os limites da borda, exclui as espécies de mata, que são predominantemente
fanerógamas e não apresentam estratégias de sobrevivência ao fogo. Dessa forma,
favorecido pela passagem do fogo, o cerrado se expande em direção à mata ciliar. No
campo, a umidade do solo pode atuar de maneira semelhante ao fogo nas fronteiras
entre as duas fitofisionomias, favorecendo ora a mata ciliar ora o cerrado. Em períodos
chuvosos, a umidade elevada pode comprometer a sobrevivência de espécies típicas de
cerrado, adaptadas a ambientes secos e bem drenados (Oliveira-Filho 1989). Por outro
lado, nos períodos de estiagem o estresse hídrico pode afetar negativamente as espécies
de mata ciliar, geralmente adaptadas a umidades mais altas (Tonhasca 2005). Sendo
assim, a umidade pode também exercer um importante papel na dinâmica dessas bordas,
favorecendo a expansão da mata ciliar sobre o cerrado e vice-versa.
Entretanto, mesmo com a redução da umidade excessiva em função do aumento
da evapotranspiração, as condições ainda poderiam permanecer acima dos limites de
tolerância para a maioria das espécies de cerrado. Nesse caso, as espécies de mata ciliar
poderiam ser favorecidas e a expansão da borda, aparentemente visível hoje, poderia
seguir em direção ao campo. Essa expansão envolveria as manchas de cerrado sensu-
stricto, que poderiam se manter ou não no interior da mata, como observado por Furley
(1992) e por Pennington et al. (2000), que descrevem manchas de cerrado inseridas na
floresta Amazônica determinadas por diferenças edáficas.
Uma terceira alternativa, que parece mais provável, seria um “campo sujo” com
vegetação mais tolerante à umidade, formada por uma matriz de monocotiledôneas
típicas de áreas periodicamente alagadas (como Andropogon bicornis) e herbáceas de
mata e de cerrado. Sobre essa matriz seriam encontradas, espaçadamente ou em
pequenos grupos, lenhosas da mata e do cerrado. Este cenário se baseia nas
características que mais distinguem o campo em sucessão da mata e do cerrado: a
camada superficial do solo predominantemente siltosa e o fato desse solo permanecer
úmido ou mesmo encharcado por mais tempo. O elevado percentual de silte nos solos
do campo sugere taxas reduzidas de intemperismo, provavelmente devido aos
alagamentos periódicos, que retardariam a formação de argila a partir do silte (obs. pess.
Cristiane Valéria de Oliveira). Como esse processo é irreversível, os níveis de umidade
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não parecem ter sido drasticamente reduzidos num passado remoto, o que seria esperado
caso vegetação de maior porte com elevada capacidade de evapotranspiração tivesse se
estabelecido em altas densidades. Assim, o elevado percentual de silte parece guardar a
memória de um solo onde inundações periódicas associadas a topografia mais baixa e
drenagem insuficiente desfavoreceriam o adensamento de arvores e arbustos da mata
ciliar e do cerrado. Nessa paisagem, além de pequenas diferenças na topografia e textura
do solo, a alternância de secas periódicas e inundações favorece temporariamente
espécies com diferentes tolerâncias e habilidades competitivas. Zeilhofer (1999)
descreveu um mosaico ambiental no Pantanal Mato-Grossense, onde relevos mais
elevados, com maior teor de argila ou areia e pouco ou quase nunca sujeitos a
alagamentos, suportam espécies de cerrado e de mata em meio a campos associados a
solos com baixo teor de argila e sujeitos a alagamentos mais intensos.
Se o distúrbio que um dia afetou o campo teve duração e intensidade suficiente
para ultrapassar seus limites bióticos e abióticos de recuperação, essa comunidade pode
ter entrado em um estágio arrastado de sucessão ou simplesmente estar caminhando
para um climax alternativo. Nesse caso, após o distúrbio, as condições iniciais (“base de
atração”), podem ter empurrado o sistema em direção a um novo estado alternativo
estável (“atrator”), no qual ele tenderá a se manter (Walker et al. 2004).
10. Conclusão
A topografia rebaixada leva a uma série de conseqüências ambientais que
conferem ao campo características edáficas singulares e distintas do cerrado e da mata
ciliar circundantes. Como conseqüência, sua diversidade florística também seria
composta por elementos exclusivos, geralmente herbáceos, arbustivos e graminóides.
No entanto, o campo apresenta heterogeneidade ambiental, com topografias
possivelmente mais elevadas inseridas como manchas na matriz de campo inundável.
Isso permite o estabelecimento de espécies oriundas das outras duas fitofisionomias,
muitas vezes de porte arbustivo e arbóreo. Impulsionado ou não pelo histórico de
exploração, é provável que o campo mantenha essa paisagem como um estado
alternativo estável ao longo dos anos, a menos que intervenções sejam feitas buscando
lançar esse sistema em outra base de atração desejável.
Eugênia Kelly Luciano Batista
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Eugênia Kelly Luciano Batista
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78
APÊNDICE A - Análises Multivariadas
1. Por que a Análise Discriminante?
A Análise Discriminante foi aplicada aos dados edáficos por ser uma técnica que
avalia as diferenças entre dois ou mais grupos com respeito a diversas variáveis
simultaneamente. Como resultado, a análise gera uma ou mais equações, chamadas
“funções discriminantes”, que combinam as características de um caso e permitem
classificá-lo como pertencente a algum grupo. As características usadas para distinguir
entre os grupos são chamadas “variáveis discriminantes”. É importante mencionar que o
número máximo de funções é igual ao número de grupos menos um e o número de
casos deve exceder o número de variáveis em mais do que dois (Klecka 1980).
A Análise Discriminante trabalha com alguns pressupostos e um deles é a não
linearidade nas relações entre as variáveis discriminantes, ou seja, duas variáveis
altamente correlacionadas não podem ser usadas simultaneamente. Essa restrição está
associada a certos requerimentos matemáticos da análise, mas sobretudo a aspectos
intuitivos. Uma variável significativamente correlacionada com outra se torna
redundante, porque não agrega novas informações. Assim como as variáveis
redundantes, as variáveis com baixo poder de discriminação complicam a análise, além
de aumentar as chances de erro nas classificações. Uma maneira de eliminar as variáveis
desnecessárias é o uso do método conhecido como “stepwise”, que seleciona para a
análise, as variáveis mais significativas. Uma “stepwise” pode começar selecionando a
variável individual que fornece a melhor discriminação univariada (Foward).
Posteriormente, essa variável é pareada com todas as outras para localizar a combinação
que produz a melhor discriminação. A variável que constituiu o melhor pareamento é
selecionada e as duas são novamente pareadas com todas as outras e a terceira melhor
variável é também selecionada. Esse procedimento continua até que todas as variáveis
discriminantes possíveis tenham sido selecionadas. O método de “stepwise” também
pode trabalhar de forma inversa, quando todas as variáveis são selecionadas
inicialmente e as menos significativas vão sendo eliminadas a cada etapa (Backward).
Se considerarmos as variáveis como eixos que definem um espaço n-
dimensional, cada caso seria um ponto nesse espaço com coordenadas que
correspondem aos seus valores em cada uma das variáveis. Nesse contexto, cada grupo
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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seria um conjunto de pontos concentrados em alguma porção desse espaço. Para
caracterizar a posição típica de um grupo, pode-se utilizar o “centróide”, um ponto
imaginário cujas coordenadas são as médias do grupo em cada variável. Se os pontos
“centróides” são distintos, os grupos diferem em seu comportamento em relação às
variáveis discriminantes.
A contribuição das variáveis individuais são determinadas através de
coeficientes. Os coeficientes não padronizados revelam a contribuição absoluta de uma
variável para o cálculo do escore discriminante. Por outro lado, os coeficientes
padronizados podem ser usados para descrever a importância relativa de cada variável.
Isso é feito através da leitura da magnitude desses coeficientes, desconsiderando seu
sinal, ou seja, quanto maior a magnitude, maior é a contribuição de uma variável. No
entanto, os coeficientes padronizados são calculados levando em consideração a
contribuição simultânea de todas as outras variáveis. Isso gera uma limitação, porque se
duas variáveis estiverem altamente correlacionadas, podem dividir sua contribuição para
o cálculo do escore e conseqüentemente seus coeficientes padronizados se tornam
menores do que quando apenas uma delas é utilizada. Ou então, os coeficientes
padronizados poderiam ser maiores, mas com sinais opostos, de modo que a
contribuição de uma anularia a contribuição oposta da outra.
Para saber o quanto uma variável está relacionada a uma função pode-se avaliar
os “coeficientes estruturais” Os coeficientes estruturais são correlações bivariadas e se
tornam mais eficazes do que os coeficientes padronizados na interpretação das funções
discriminantes porque não são afetados pelas relações com as outras variáveis. A
magnitude desse coeficiente varia de -1 a +1. Quando os valores são próximos a 1, a
função está bem correlacionada à variável, ao passo que valores próximos a zero,
indicam que a função e a variável estão muito pouco correlacionadas.
O poder discriminante de cada função é determinado pelos autovalores. A
primeira função, que apresenta o maior autovalor possui o maior poder de
discriminação, seguida pela segunda função, que possui o segundo maior autovalor e
assim sucessivamente. No entanto, esses valores não podem ser interpretados
diretamente. É preciso comparar a magnitude relativa para saber quanto do poder
discriminante total, cada função possui. Essas são as “porcentagens relativas”, que
permitem fazer comparações entre as funções.
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As “correlações canônicas”, simbolizadas por r*, representam o grau de relação
entre os grupos e as funções discriminantes. Os valores variam de zero a um, com sinais
sempre positivos. Quando estão próximos a zero indicam baixa correlação, enquanto
valores próximos a 1 indicam uma forte relação entre os grupos e a função
discriminante. Ainda que a primeira função tenha sempre as maiores “porcentagens
relativas”, pode estar pobremente relacionada aos grupos, apresentando baixas
“correlações canônicas”. Se os grupos não são distintos em relação às variáveis
analisadas, todas as correlações serão baixas, porque não há como criar discriminação
onde ela não existe. Portanto, a avaliação conjunta da porcentagem relativa e da
correlação canônica permite determinar quantas funções são necessárias e o quanto elas
são importantes para explicar as diferenças entre os grupos, que no caso deste estudo
são: campo, cerrado e mata ciliar.
O teste de Wilk, também chamado de U, é uma mensuração multivariada de
diferenças entre grupos em relação a diversas variáveis. Valores de λ próximos a zero
demonstram alta discriminação entre os grupos, ou seja, os pontos “centróides” estão
bem distantes e separados em relação à dispersão dos pontos dentro dos grupos. Quando
os valores de λ se aproximam de 1, o valor máximo, a discriminação diminui
progressivamente. Quando o λ chega a zero, significa que os pontos “centróides” são
idênticos, ou seja, não há diferenças entre os grupos.
A Tolerância mínima para inclusão utilizada neste estudo foi de 0,001 e o
método selecionado foi o “stepwise”, com direção invertida (backward). Dessa forma,
todas as variáveis foram inicialmente consideradas e aquelas que não se adequavam,
como as variáveis altamente correlacionadas ou com baixo poder discriminante, foram
sendo eliminadas a cada etapa.
A Análise Discriminante nos permitiu observar a existência de três possíveis
grupos com base nas características físico-químicas do solo: cerrado, mata e campo.
2. Por que a Análise dos Componentes Principais?
A PCA é uma técnica de análise multivariada que transforma um conjunto de
variáveis correlacionadas, e portanto, de alguma forma redundantes, em um conjunto
menor de variáveis teóricas independentes chamadas Componentes Principais.
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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Um componente principal é determinado de forma a se obter a menor soma de
resíduos possível. Um resíduo é a distância entre o valor observado e o valor esperado,
representado por uma reta de regressão, portanto, se as distâncias de cada caso forem
somadas, o resultado será a soma total de resíduos. Nesse contexto, o componente
principal é a melhor reta que passa pelos pontos, na medida em que minimiza a soma
total de resíduos (distância perpendicular entre o ponto e a reta). O primeiro
componente do PCA contém o máximo da variância nos dados e isso significa dizer que
ele está correlacionado com algumas ou muitas das variáveis observadas. O segundo
componente, que não está correlacionado ao primeiro, contém o máximo da variância
observada nos dados que não foi explicada pelo primeiro componente. E dessa forma,
cada novo componente terá progressivamente menor quantidade de variância explicada,
porque conterá o máximo de variância que não foi explicada pelos componentes
anteriores, ou seja, contêm apenas a variância trivial.
Embora uma grande quantidade de componentes possa ser criada nessa análise,
apenas os primeiros serão importantes o suficiente para explicar a maioria da variância
nos dados.
Da forma similar à Análise Discriminante, os autovalores representam a
quantidade da variância explicada por cada componente e pode ser usado como critério
para determinar o número de componentes relevantes para a interpretação. O maior
autovalor representa a variância explicada pelo primeiro componente, o segundo maior
autovalor corresponde à variância explicada pelo segundo componente e assim
sucessivamente. Usualmente, componentes com autovalores menores do que 1 são
desconsiderados na interpretação, porque contêm uma variância menor que a
contribuição de uma variável individual. Os autovalores associados a cada componente
podem ser graficamente visualizados nos “screeplots”.
A soma de todos os autovalores é igual ao número de variáveis na análise,
porque cada variável contribui com uma unidade de variância para a analise. Portanto,
se o primeiro autovalor for dividido pelo número de variáveis, o resultado será a
proporção de variância explicada pelo primeiro componente ou eixo. Os cálculos são
repetidos para todos os outros componentes e na maioria das vezes, um componente
passa a ser interessante quando seu percentual de explicação está acima de 10% da
variância dos dados. A soma desses valores fornece as porcentagens cumulativas, que
também podem ser usadas como critério de seleção de componentes. Usualmente, os
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componentes são considerados até que a porcentagem cumulativa da variância explicada
seja no mínimo 70% ou 80%. Desse modo, os componentes restantes, que somam
juntos 30% ou 20% das variância explicada, se tornam irrelevantes e pouco
informativos para a interpretação.
De um modo geral, para minimizar os efeitos da subjetividade implícitos nesses
critérios, a análise combinada parece ser uma alternativa razoável. Ou seja, serão
interpretados os componentes com autovalores acima de 1, com proporção de variância
explicada acima de 10% e porcentagem cumulativa acima de 70% ou 80%.
Os “factor loadings” são coeficientes que medem as correlações entre as
variáveis observadas e os componentes principais. Portanto, assim como os coeficientes
padronizados e estruturais da Análise Discriminante, os “factor loadings” funcionam
como uma leitura do quanto uma variável está relacionada a um componente. Stevens
discutiu em seu trabalho técnicas para testar a significância dos “factor loadings”. Em
suas conclusões, basicamente um “factor loadings” pode ser considerado alto e
significativo se o seu valor absoluto estiver acima de 0,40 (Stevens 1986).
A PCA nos permitiu identificar as semelhanças entre as parcelas com base nas
variáveis físico-químicas do solo.
3. Por que o Escalonamento Multidimensional?
O Escalonamento Multidimensional (NMDS) é um método de escolha para uma
representação gráfica da comunidade baseado em uma matriz de similaridade de
composição de espécies.
O NMDS apresenta vantagens em relação às outras técnicas de ordenação por
ser menos sensível às espécies raras ou valores zero, ou espécies raras (Clarke 1993;
Peterson 2001). As etapas iniciais devem passar pela estandardização dos dados,
seguida pela transformação. A seqüência de transformação de y0.5
, y0.25
, log y,
presença/ausência, segue da menor para a maior contribuição de espécies raras.
Contudo, antes de realizar o teste, também é necessário escolher o coeficiente de
similaridade. No caso deste estudo, o coeficiente escolhido foi o Bray-Curtis por sua
ampla utilização e confiabilidade.
A NMDS trabalha com a proximidade entre duas amostras. Uma proximidade é
um número que indica o quanto duas amostras são similares ou diferentes (Kruskal
Sucessão em Campo Abandonado no Vale do Rio Cipó
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1978). Partindo dessa proximidade entre as amostras, o resultado é um mapa imperfeito
de suas localizações relativas em três dimensões. Inicialmente, as posições das amostras
no espaço são inteiramente arbitrárias e então o algoritmo começa a refinar as posições
relativas dessas amostras até atingir a configuração ideal. A intenção é mover as
amostras até posições relativas que sejam o mais semelhante possível às distâncias de
similaridade (Clarke 1993). Em outras palavras, os dados de proximidade precisam ser
representados em uma configuração espacial de pontos de modo que as distâncias entre
esses pontos correspondam o máximo possível às proximidades entre as amostras
(Scholten 1997). A coerência entre as proximidades e as distâncias relativas das
amostras no espaço é refletida por um coeficiente de estresse. O estresse igual a zero
indica uma configuração espacial perfeita, onde a distância entre os pontos no espaço é
igual à distância de similaridade entre as parcelas. Se o estresse é < 0,05, a configuração
oferece uma excelente representação dos dados, com probabilidade mínima de erro. Se
o estresse é < 0,1 a ordenação é boa, ainda com pouco risco de erro. Se o estresse é <
0,2 existe alguma possibilidade de fazer inferências falsas e a interpretação dos dados
começa a ficar arriscada (Clarke 1993).
O estresse é usualmente representado de forma gráfica por um diagrama de
dispersão, onde são consideradas as proximidades no eixo horizontal e as distâncias
correspondentes no eixo vertical. Nesse diagrama cada ponto corresponde a um par
(proximidade/distância). As proximidades podem ser medidas pela similaridade e nesse
caso, o diagrama apresentará uma tendência decrescente, porque grandes proximidades
(alta similaridade de espécies) corresponderão a pequenas distâncias entre os pontos. No
entanto, as proximidades podem também ser medidas pela dessemelhança. Quando isso
acontece, o diagrama apresentará uma tendência crescente, porque grandes
dessemelhanças (baixa similaridade de espécies) corresponderão a grandes distâncias
entre os pontos (Kruskal 1978).
A configuração dos pontos no espaço da NMDS pode estar relacionada a
alguma característica. Descobrir qual ou quais são essas características é um dos pontos
centrais da NMDS. Um dos métodos que podem ser usados para essa finalidade é a
regressão linear. Suponha que exista uma variável suspeita de ter alguma relação com a
posição dos pontos na configuração. A regressão pode ser feita de modo que essa
variável seja dependente e as coordenadas da configuração sejam independentes. Em
outras palavras, o objetivo é encontrar uma variável que esteja relacionada à
Eugênia Kelly Luciano Batista
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configuração dos pontos no espaço, sendo aferido a ela o poder de explicação, medido
através dos coeficientes de correlação.
A utilização dessa técnica nos permitiu explicar as similaridades florísticas
encontradas utilizando as variáveis físico-químicas do solo.
85
APÊNDICE B - Tabela Florística
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Acanthaceae Ruellia sp * * *
Anacardiaceae Anacardium humile A.St.-Hil. Zoocoria 2,3,6,8,21,25,30
Herb CE
Tapirira guianensis Aubl. Zoocoria (Av.)
2,3,6,10,17 Arbo CE/MA
Annonaceae Annona tomentosa R.E.Fr. Zoocoria 8 Herb CE
Duguetia fufuracea (A.St.-Hil.) Saff. Zoocoria
2,3,6,9,11,21,25 Herb/Arbu CE
Apocynaceae Aspidosperma tomentosum Mart. Anemocoria 3,6,7,8,9,25
Arbu/Arbo CE
Araliaceae Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin Zoocoria (Av.) 13,25
Arbu/Arbo CE
Asteraceae Ageratum sp. * * *
Baccharis triplinervia DC. Anemocoria Herb CE/MA
Chromolaena cf chaseae (B.L.Rob.) R.M.King & H.Rob. Anemocoria Herb CE
Chromolaena cf maximilianii (Schrad. Ex DC.) R.M.King & H.Rob. Anemocoria Herb CE
Chrysolaena cf herbacea (Vell.) H.Rob. Anemocoria Herb CE
Elephantopus sp * * *
Eremanthus incanus (Less.) Less. Anemocoria Arbu/Arbo CE
Lessingianthus sp * * *
Lepidaploa sp * * *
Vernonanthura cf ferruginea (Less.) H.Rob. Anemocoria Arbu CE/MA
Vernonanthura cf membranacea (Gardner) H.Rob. Anemocoria
17 Arbu CE
Vernonanthura cf phosphorica (Vell.)H.Rob. Anemocoria
21 Arbu CE/MA
Vernonanthura cf puberula (Less.) H.Rob. Anemocoria Arbu/Arbo MA
Vernonanthura sp * * *
Bignoniaceae Anemopaegma glaucum Mart. ex DC. Anemocoria 7,8
Arbu CE
Jacaranda caroba (Vell.) DC. Anemocoria
2,7,9,17 Arbu CE
Zeyheria montana Mart. Anemocoria
2,7,8,9,21 Arbu/Arbo CE
Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos Anemocoria
3,6,7,8,9,13,21,25,30 Arbu/Arbo CE
Boraginaceae Varronia curassavica Jacq. Autocorica Herb CE
86
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Calophyllaceae Calophyllum brasiliense Cambess. Zoocoria (Av., Mt. e Mo.)/Autocoria 5,14,25
Arbo CE
Caryocaraceae Caryocar brasiliense Cambess. Zoocoria (Av. e Mo.) 2,3,5,8,13,17,21,25
Arbo CE
Celastraceae Plenckia populnea Reissek Anemocoria 2,6,7,8,21,25
Arbu/Arbo CE/MA
Chrysobalanaceae Hirtella gracilipes (Hook.f.) Prance Zoocoria 11,25
Arbu/Arbo CE/MA
Hirtella racemosa Lam. Zoocoria Arbu/Arbo MA
Clusiaceae Garcinia brasiliensis Mart. Zoocoria (Av.) Arbo MA
Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. Anemocoria
6,7,8,9,13,21,25 Arbu/Arbo CE
Kielmeyera sp * * *
Combretaceae Terminalia glabrescens Mart. Anemocoria 21
Arbo MA
Connaraceae Rourea induta Planch Zoocoria (Av.) 2,3,6,13,30
Arbu CE
Convolvulaceae Evolvulus cf alopecuroides Mart. Anemocoria Herb CE
Dilleniaceae Davilla elliptica A.St.-Hil. Zoocoria/Autocoria 2,6,8,9,21,30
Arbu CE
Davilla rugosa Poir. Autocoria
2,3,9,17 Arbu CE
Doliocarpus cf dentatus (Aubl.) Standl. Autocoria
11 Cipó MA
Ebenaceae Diospyros hispida A.DC. Zoocoria 2,3,6,17,21,25,30
Arbu/Arbo CE
Erythroxylaceae Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. Zoocoria 8,30
Arbu/Arbo MA
Erythroxylum sp * * *
Erythroxylum tortuosum Mart. Zoocoria
2,6,17,21 Arbu/Arbo CE
Euphorbiaceae Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. Zoocoria (Av.) 4,5
Arbo MA
Croton antisyphiliticus Mart. Autocoria
8,30 Herb CE/MA
Croton campestris A.St.-Hil. Autocoria
8 Herb CE
Croton sp1 * * *
Croton sp2 * * *
Manihot tripartita (Spreng.) Müll.Arg. Zoocoria/Autocoria
2,9 Herb/Arbu CE
Maprounea brasiliensis A.St.-Hil. Autocoria Arbu/Arbo CE
Maprounea guianensis Aubl. Autocoria 3,8,17,25
Arbo MA
87
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Sebastiania hispida (Mart.) Pax ex Engl. Autocoria Arbu CE
Fabaceae Aeschynomene sp * * *
Andira humilis Mart. Ex Benth. Zoocoria
21 Herb/Arbu CE
Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. Anemocoria/Autocoria
10,11 Arbo MA
Bauhinia sp * * *
Calliandra macrocephala Benth. Autocoria Herb/Arbu CE
Canavalia sp * * *
Copaifera langsdorffii Desf. Zoocoria (Av. e Mt.)
2,3,5,17,25 Arbo CE/MA
Desmodium barbatum (L.)Benth. Zoocoria Herb CE
Eriosema strictum Benth. Autocoria Herb CE
Hymenaea stignocarpa Mart. ex Hayne Zoocoria
2,3,6,8,25 Arbo CE
Inga striata Benth. Zoocoria Arbo MA
Leptolobium dasycarpum Vogel Anemocoria/Autocoria
8,9,13,25 Arbu/Arbo CE
Machaerium brasiliense Vogel Anemocoria
14,25 Arbo MA
Machaerium opacum Vogel Anemocoria
8,12,25 Arbo CE
Mimosa sp * * *
Plathymenia reticulata Benth. Anemocoria
2,3,5,20,22 Arbo CE/MA
Pterodon emarginatus Vogel Anemocoria Arbo MA
Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin & Barneby Autocoria Arbo CE/MA
Senna rugosa (G.Don) H.S.Irwin & Barneby Autocoria
3,7,8,9,21,22 Arbu CE
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Zoocoria (Mt.)/Autocoria
3,8,13,17,20,21,25 Arbo CE
Stylosanthes sp * * *
Tachigali cf aurea Tul. Anemocoria Arbo CE
Tachigali rubiginosa (Mart. ex Benth.) Zarucchi & Pipoly Anemocoria Arbo MA
Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Anemocoria
3,6,20,22 Arbo CE
Lamiaceae Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke Zoocoria Arbu/Arbo CE/MA
88
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Aegiphila lhotzkiana Cham. Zoocoria
1,2,3,8 Arbu/Arbo CE
Eriope hypenioides Mart. ex Benth. Autocoria
21,30 Herb CE
Hyptidendron asperrimum (Spreng.) Harley Zoocoria Arbo MA
Hyptis crenata Pohl ex Benth. Autocoria
8,21 Herb CE
Hyptis sp * * *
Salvia sp * * *
Vitex cf cymosa Bertero ex Spreng. Zoocoria
11,25 Arbu/Arbo MA
Vitex polygama Cham. Zoocoria Arbo CE/MA
Lauraceae Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez Zoocoria (Av.) 14,19
Arbo MA
Loganiaceae Strychnos sp * * *
Lythraceae Cuphea pseudovaccinium A.St.-Hil. Zoocoria Herb CE
Lafoensia pacari A.St.-Hil. Anemocoria/Autocoria
5,6,9,17,20,25 Arbo CE/MA
Malpighiaceae Byrsonima coccolobifolia Kunth Zoocoria (Av. e Mt.) 3,6,12,13,17,21,25
Arbu/Arbo CE
Heteropterys byrsonimiifolia A.Juss. Anemocoria
2,3,8,9,25 Arbu/Arbo CE/MA
Heteropterys sp * * *
Malvaceae Sida linifolia Cav. Autocoria 2,9
Herb CE
Sida rhombifolia L. Autocoria
2,9 Herb CE
Sida sp * * *
Urena sp * * *
Melastomataceae Miconia albicans (Sw.) Triana Zoocoria (Av.) 3,6,8,13,17,21,25
Arbu CE
Miconia paucidens DC. Zoocoria
21 Arbu CE
Miconia rubiginosa (Bonpl.) DC. Zoocoria
17 Arbu/Arbo CE
Miconia sp * * *
Miconia stenostachya DC. Zoocoria
21 Arbu CE
Tibouchina sp1 *
Tibouchina sp2 * * *
89
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Tibouchina sp3 * * *
Menispermaceae Cissampelos ovalifolia DC. Zoocoria/Autocoria 2,3,8,30
Herb CE
Moraceae Brosimum gaudichaudii Trécul Zoocoria 2,8,11,25
Arbu/Arbo CE
Myrsinaceae Cybianthus detergens Mart. Zoocoria (Av.) 8,13
Arbu CE
Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. Zoocoria Arbu/Arbo CE/MA
Myrsine gardneriana A.DC. Zoocoria Arbo MA
Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze Zoocoria
8,25 Arbu/Arbo CE
Myrtaceae Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg Zoocoria (Av.) 15
Arbo MA
Campomanesia pubescens (DC.) O.Berg. Zoocoria (Mt.)
2,3,6,8,15,30 Herb/Arbu CE
Eugenia aurata O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.)
2,3,6,15,17,21,30 Arbu/Arbo CE
Eugenia brasiliensis Lam. Zoocoria (Av. e Mt.)
15 Arbo MA
Eugenia dysenterica DC. Zoocoria (Av. e Mt.)
18,25 Arbu/Arbo CE
Eugenia florida DC. Zoocoria (Av. e Mt.)
12,15,19,25 Arbo MA
Eugenia hiemalis Cambess. Zoocoria
2,21 Arbo MA
Eugenia punicifolia (Kunth) DC. Zoocoria (Av. e Mt.)
1,3,8,15,21,30 Arbu/Arbo CE/MA
Eugenia sonderiana O.Berg Zoocoria Arbu/Arbo CE/MA
Eugenia sp * * *
Myrceugenia alpigena (DC.) Landrum Zoocoria
29 Arbu CE
Myrcia guianensis (Aubl.) DC. Zoocoria (Av.)
3,6,15,30 Arbu/Arbo CE/MA
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. Zoocoria (Av.)
2,15,17 Arbu/Arbo CE/MA
Myrcia splendens (Sw.) DC. Zoocoria (Av. e Mt.)
15 Arbu/Arbo CE/MA
Myrciaria delicatula (DC.) O.Berg Zoocoria
30 Arbu/Arbo MA
Myrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.)
11,15,17,25 Arbu/Arbo MA
Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum Zoocoria Arbu/Arbo MA
Plinia trunciflora (O.Berg) Kausel Zoocoria
27 Arbo MA
Psidium firmum O.Berg Zoocoria 30
Herb/Arbu CE
90
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Psidium guineense Sw. Zoocoria (Mt.)
15,21 Arbu/Arbo CE/MA
Psidium rufum Mart. ex DC. Zoocoria
30 Arbu/Arbo CE/MA
Siphoneugena densiflora O.Berg Zoocoria (Av. e Mt.)
15 Arbo MA
Nyctaginaceae Guapira graciliflora (Mart. ex Schmidt) Lundell Zoocoria 8,13
Arbu/Arbo CE/MA
Guapira opposita (Vell.) Reitz Zoocoria
(Av. e Mt.)
28 Arbu/Arbo MA
Neea theifera Oerst. Zoocoria (Av.)/Autocoria
2,6,8,9,13,17,25 Arbu/Arbo CE
Ochnaceae Ouratea hexasperma (A.St.-Hil.) Baill. Zoocoria (Av.) 8,13
Arbo MA
Ouratea sp * * *
Onagraceae Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara Anemocoria 7 Arbu CE
Peraceae Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. Zoocoria (Av.)/Autocoria 6,17,23,25
Arbu/Arbo CE/MA
Plantaginaceae Scoparia dulcis L. Anemocoria/Autocoria 30
Herb CE
Proteaceae Roupala montana Aubl. Anemocoria/Autocoria 2,6,9,13,14,20,21,25
Arbo CE/MA
Pteridaceae Pityrogramma calomelanos (L.) Link * Herb *
Rubiaceae Amaioua guianensis Aubl. Zoocoria 2,17
Arbo MA
Borreria poaya (A.St.-Hil.) DC. Autocoria
7 Herb CE
Faramea cyanea Müll.Arg. Zoocoria (Av.)
24 Arbu/Arbo MA
Palicourea rigida Kunth Zoocoria (Av.)
2,3,6,8,13,17,21,30 Arbu CE
Psychotria capitata Ruiz & Pav. Zoocoria
2,16,21 Herb/Arbu MA
Psychotria officinalis (Aubl.) Raeusch. ex Sandwith Zoocoria Arbu MA
Rutaceae Dictyoloma vandellianum A.Juss. Anemocoria Arbo MA
Zanthoxylum rhoifolium Lam. Zoocoria/Autocoria
12,14,17 Arbo MA
Salicaceae Casearia decandra Jacq. Zoocoria 11,25
Arbu/Arbo MA
Casearia sylvestris Sw. Zoocoria (Av.)
6,10,11,17 Arbu/Arbo CE/MA
Sapindaceae Matayba mollis Radlk. Zoocoria Arbu/Arbo CE/MA
Sapotaceae Micropholis gardneriana (A.DC.) Pierre Zoocoria Arbu/Arbo MA
91
FAMÍLIA ESPÉCIE SD (Primária) PORTE HABITAT
Pouteria torta (Mart.) Radlk. Zoocoria
2,3,6,17,21,25 Arbu/Arbo CE/MA
Siparunaceae Siparuna guianensis Aubl. Zoocoria 2,14,17
Arbo CE/MA
Solanaceae Cestrum sp * * *
Violaceae Hybanthus atropurpureus (A.St.-Hil.) Taub. Autocoria 26
Arbu MA
Vochysiaceae Callisthene sp * * *
Qualea dichotoma (Mart.) Warm. Anemocoria
2,3,12 Arbo CE/MA
Qualea grandiflora Mart. Anemocoria
3,8,9,13,20,21,25 Arbo CE
Qualea multiflora Mart. Anemocoria
3,8,13,17,20,25 Arbo CE/MA
Qualea parviflora Mart. Anemocoria
3,9,13,17,20,25 Arbo CE
Qualea sp1 * * *
Qualea sp2 * * *
Qualea sp3 * * *
Fontes/Referências: 1.Martins & Batalha (2006); 2.Batalha & Mantovani (1999); 3.Weiser & Godoy (2001); 4.Faustino & Machado (2006); 5.EMBRAPA; 6.Jardim &
Batalha (2009); 7.Tannus et al. (2006); 8.Passos (2009); 9.Batalha et al. (1997); 10.Fernandes (2009); 11.Ramos (2009); 12.Saravy et al. (2003); 13.Kutschenko (2009);
14.Aquino & Barbosa (2009); 15.Gressler (2006); 16.Lessa & Costa (2010); 17.Corrêa et al. (2007); 18.Vasconcelos (2006); 19.Vale (2008); 20.Camilotti (2006); 21.Ishara
(2010); 22.Costa et al. (2004); 23.Francisco et al. (2007); 24.Melo et al. (2003); 25.Luz et al. (2008); 26.Rosero-Lasprilla (1997); 27.Schuch (2005); 28.Portal Unicamp;
29.Lima & Bruni (2004); 30.Silva et al. (2009).
92
APÊNDICE C - Correlação entre as variáveis físico-químicas do solo
Variáveis: H+Al=íon hidrogênio+alumínio, SB=soma de bases trocáveis, (t)=capacidade de troca catiônica efetiva, (T)=capacidade de troca catiônica a pH 7.0, v=índice de
saturação de bases, m=índice de saturação de alumínio, MO=matéria orgânica, Prem=fósforo remanescente.
pH K Ca Mg Al H+Al SB (t) (T) v m MO P-rem Areia Silte Argila Umidade
pH 1
K 0,088 1
Ca 0,395 -0,117 1
Mg 0,239 0,546 0,025 1
Al -0,776 -0,138 -0,176 -0,406 1
H+Al -0,775 -0,222 -0,217 -0,307 -0,88 1
SB 0,302 0,511 -0,604 0,506 -0,219 -0,199 1
(t) -0,673 -0,051 -0,009 -0,3 0,953 -0,859 0,006 1
(T) -0,763 -0,203 -0,186 -0,273 0,873 0,998 -0,16 0,862 1
v 0,795 0,367 0,501 0,485 -0,821 -0,883 0,553 -0,693 -0,862 1
m -0,782 -0,341 -0,536 -0,468 0,842 0,808 -0,57 0,703 0,781 -0,967 1
MO -0,188 -0,42 0,182 -0,341 0,608 0,624 -0,04 0,66 0,626 -0,5 0,487 1
P-rem -0,276 0,242 -0,257 0,367 -0,228 -0,12 0,018 -0,266 -0,112 0,092 -0,126 -0,577 1
Areia -0,371 0,288 -0,304 0,375 -0,15 -0,043 0,005 -0,216 -0,039 0,016 -0,05 -0,586 0,948 1
Silte 0,217 -0,47 0,257 -0,396 0,283 0,238 -0,075 0,342 0,235 -0,194 0,212 0,771 -0,838 -0,914 1
Argila 0,406 0,426 0,119 0,047 -0,186 -0,337 0,191 -0,123 -0,335 0,358 -0,308 -0,107 -0,43 -0,427 0,108 1
Umidade 0,465 -0,179 0,445 -0,077 -0,07 -0,091 0,322 0,039 -0,084 0,212 -0,185 0,388 -0,768 -0,746 0,648 0,453 1
93
APÊNDICE D - Esquema da dinâmica no campo
A gibbsita é um forte adsorvente do fósforo
Pouco fósforo em solução (remanescente)
pH ácido
Úmido
Areia
O pH do solo aumenta porque os elétrons excedentes da
respiração dos organismos são descarregados em compostos que reduzem e reagem com o
íon hidrogênio
O aumento no número de íons
hidrogênio solubiliza o alumínio (Al3+) e
eleva suas concentrações no
solo
O alumínio solúvel compete pelos sítios
de troca nos colóides e interfere na
disponibilidade e absorção dos
nutrientes pelas raízes
Anoxiainibe a decomposição da
matéria orgânica e a transformação do silte
em argila
Muita produção de matéria orgânica e
condições desfavoráveis à decomposição
Muito úmido
Gramíneas aumentam a retenção de
umidade
Umidade favorece a
dominância das gramíneas
Adição de matéria
orgânica no campo
Adição de matéria
orgânica na mata
Alta produtividade e muita produção
de matéria orgânica
Baixa produtividade e
pouca produção de matéria orgânica
Menos húmus +
Solo arenoso
Menor CTC
Mais húmus
Maior CTC
Menos húmus+
Solo siltoso
Menor CTC
Alagamento periódico
Entrada e sedimentação de partículas finas (silte) vindas das partes mais
altas
Bioindicadores de ambientes secos:
Poaceae e Cupinzeiro
Seco
Baixa riqueza de espécies
Alta riqueza de espécies
Alta riqueza de espécies
RIO CIPÓ
Adição de matéria
orgânica no cerrado
Silte
Areia
Riqueza de espécies
pH menos ácido resulta em mais íons hidroxila, que
reagem com o alumínio solúvel e formam a gibbsita
Al3+ [Al(OH)3]