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Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO, BACIA DO RIO DOCE (MG) Leonardo Cardoso Resende Belo Horizonte 2009

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Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida

Silvestre

EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES

NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,

BACIA DO RIO DOCE (MG)

Leonardo Cardoso Resende

Belo Horizonte

2009

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

ii 

 

EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES

NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,

BACIA DO RIO DOCE (MG)

Belo Horizonte

2009

Dissertação  apresentada  ao Programa de Pós‐

Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo 

da  Vida  Silvestre  da  Universidade  Federal  de 

Minas Gerais como requisito para obtenção do 

título de mestre. 

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho 

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

iii 

 

“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória

propriamente dita.”

Mahatma Gandhi

Dedico essa dissertação a meu pai (in

memorian), minha mãe e minha irmã que

sacrificaram parte das suas vidas para

que eu pudesse realizar o meu sonho.

Obrigado!!!

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

iv 

 

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho, meu orientador, por ter aceitado

orientar um recém-formado estudante de graduação vindo do interior querendo

trabalhar com tartarugas marinhas em Minas Gerais!

Ao Centro de Transposição de Peixes por toda estrutura de trabalho

fornecida para que eu pudesse trabalhar.

A Bios Soluções Ambientais por ter fornecido os dados que fizeram parte

desse trabalho.

Ao Consórcio Porto Estrela por ter permitido o uso dos dados coletados

pela Bios Soluções Ambientais para o desenvolvimento deste trabalho.

Ao Cyro Faria e Valter Valentim que concederam permissão para que eu

pudesse visitar a UHE Porto Estrela e pudesse acompanhar o trabalho dos

funcionários da Bios.

Ao Ezonilson, que parou seu trabalho rotineiro para que pudesse me

acompanhar durante a minha visita a UHE Porto Estrela e explicar todo o

trabalho desenvolvido por eles na mesma.

Ao Renê, Márcia e Zoraia, que elucidaram eventuais dúvidas referentes

aos dados coletados na UHE Porto Estrela e que permitiram o uso desses

dados.

Ao Silvestre, “Biguá” (Fred), “Véi” (Rogério) e “Pacumã” (Geovani) que

foram muito solícitos e me receberam muito bem, parando um dia de trabalho

para me explicar todo trabalho desenvolvido pela Bios na UHE Porto Estrela.

Aos amigos de laboratório, “Jota”, Ricardo, Thiago, Alaion, Fábio,

Volney, Rocha e Gisele, que me ajudaram de alguma forma, e que, mesmo que

não ajudaram diretamente, tiveram paciência comigo. Valeu! Em especial a

Clarissa e ao Raoni que me ajudaram ativamente nas fases finais da minha

dissertação dando opiniões e me ajudando a resolver problemas. Muito

obrigado!

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

 

Ao Chico Neto, que me ajudou com opiniões e a esclarecer algumas

dúvidas. Obrigado!

Aos amigos do curso de mestrado, pela amizade, companheirismo e

festas ao longo dessa jornada. Há muito tempo não estudo com uma turma

legal assim!

Aos amigos “Conselheiro” (Fabrício) e Maurício Djalles, pelos auxílios no

Corel Draw, discussões estatísticas, conversas informais e momentos de

descontração.

Aos meus familiares, por toda ajuda despendida a mim, especialmente

ao “Bim”, que me ajudou muito nos primeiros meses em Belo Horizonte. Muito

obrigado!

À minha mãe e minha irmã, que seguraram a barra em Ipatinga para que

eu pudesse estudar em Belo Horizonte; que me deram conselhos ao longo

desses dois anos; e que ajudaram muito a concluir meu curso. Amo vocês!

E, finalmente, mas não menos importante, a Suellen, que viveu e

conviveu comigo nesses dois anos de curso; ajudou-me a superar momentos

difíceis em Belo Horizonte; pela amizade e companheirismo; pelas risadas e

gargalhadas preciosas; pelo amor e carinho; pela tolerância e paciência.

Obrigado por ter aparecido em minha vida! Amo você por demais!

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

vi 

 

Sumário

Introdução .................................................................................................................................... 1 

Metodologia ................................................................................................................................. 4 

Área de estudo ........................................................................................................................ 4 

Transposição de peixes ......................................................................................................... 8 

Amostragem das populações de peixes a montante ........................................................ 9 

Influência da transposição nas populações de montante .............................................. 10 

Marcação e recaptura .......................................................................................................... 10 

Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante .................................... 11 

Resultados ................................................................................................................................. 12 

Influência da transposição nas populações de montante .............................................. 12 

Marcação e recaptura .......................................................................................................... 16 

Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante .................................... 17 

Discussão .................................................................................................................................. 17 

Influência da transposição na CPUE e no tamanho de P. maculatus e P. vimboides a montante ................................................................................................................................ 17 

Influência da transposição na CPUE e no tamanho de L. conirostris e L. copelandii a montante ................................................................................................................................ 20 

Marcação e recaptura .......................................................................................................... 21 

Influência das fases da lua e das vazões no número de peixes transpostos ............. 23 

Implicações sobre conservação e manejo ........................................................................... 25 

Conclusões ................................................................................................................................ 28 

Referências bibliográficas ....................................................................................................... 29 

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

vii 

 

Resumo

Os barramentos são um dos maiores causadores de impactos em ambientes

lóticos, e alternativas têm sido propostas para amenizá-los ou resolvê-los,

como os Sistemas de Transposição de Peixes. Como uma forma de manter a

conexão jusante-montante e de atendimento à legislação ambiental, tem sido

empregada transposição manual em algumas hidrelétricas. O objetivo desse

trabalho foi avaliar os efeitos da transposição manual nas populações de

peixes a montante da UHE Porto Estrela. O trabalho foi realizado no rio Santo

Antônio, bacia do rio Doce (MG), ao longo de três estações reprodutivas. Os

peixes foram capturados com tarrafa, marcados e transpostos manualmente

para montante. As coletas a montante foram realizadas apenas com redes de

emalhar. Em Pimelodus maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus

conirostris e Leporinus copelandii a transposição manual não influenciou suas

populações a montante. Apesar de haver indícios de recrutamento a montante,

os fatores mais decisivos na CPUE e na estrutura em tamanho dessas

espécies foi a variação na produtividade do reservatório e no aprisionamento

dos peixes neste devido ao fechamento das comportas. A captura de P.

vimboides e L. conirostris a jusante indica que alguns peixes têm conseguido

passar pelas turbinas e/ou vertedouro da UHE Porto Estrela. Somente as

capturas de P. maculatus foram influenciadas pela lua, sendo mais capturado

na lua nova e menos na lua crescente. Pimelodus maculatus foi mais capturado

quando as vazões vertida e defluente foram altas e P. vimboides foi mais

capturado quando as vazões turbinada, vertida e defluente foram altas. O

número de peixes transpostos não foi suficiente para alterar as populações de

montante de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii.

Palavras-chave: barramentos, manejo, Pimelodus maculatus, Porto Estrela,

transposição.

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viii 

 

Abstract

The construction of dams is one of the greatest causes of impacts in lotics

environments, and alternatives have been proposed to mitigate them or resolve

them, as the Fish Passage Facilities. As a form to keep the connection

downstream-upstream and attending the environmental legislation, manual

transposition of fishes has been used in some power plants. The objective of

this work was to evaluate the effects of the manual transposing on communities

of fishes of the upstream in the hydroelectric power plant of Porto Estrela. The

work was carried through in the Santo Antonio river, basin of the Doce river

(MG), throughout three reproductive stations. The fishes were captured with

“tarrafa”, marked and transposed manually upstream. The upstream samples

were done only with gill nets. The manual transposing of P. maculatus, P.

vimboides, L. conirostris and L. copelandii not influenced these upstream

populations. Eventhough there are indications of recruitment upstream, the

most decisive factors for the CPUE and size structure of these species are the

variation in the productivity of the reservoir and the capture of fish due to the

closing of the floodgates. The capture of P. vimboides and L. conirostris

downstream indicates that some fish have been able to pass for the turbines

and/or spillway of the power plant of Porto Estrela. Only P. maculatus was

influenced by the moon, being more captured in the new moon and less in the

first quarter. Pimelodus maculatus was more captured when the shed and

emanate outflows were high and P. vimboides more captured when the

turbinate, shed and emanate outflows were high. The number of transposed

fishes not sufficient to modify the upstream populations of the P. maculatus, P.

vimboides, L. conirostris and L. copelandii.

Keywords: dams, management, Pimelodus maculatus, Porto Estrela,

transposing.

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Introdução 

A alteração dos cursos de água é um dos impactos antrópicos mais

antigos e comuns em ambientes lóticos (Petts, 1989). Nesses ambientes, a

construção de barragens para formação de reservatórios, seja com finalidade

de geração de energia ou de abastecimento, é um dos maiores causadores de

impactos. De forma geral, os impactos mais comuns associados às barragens

são: interrupção da conectividade do rio e de movimentos migratórios,

eutrofização, contaminação e assoreamento (para maiores detalhes ver Tundisi

& Straskraba, 1994).

A transformação dos ambientes lóticos em lênticos causa impacto tanto

nos peixes de jusante quanto nos de montante. A magnitude desses impactos

pode aumentar em caso de sucessivos ambientes lênticos em decorrência da

formação de vários barramentos em série (Godinho & Godinho, 1994;

Agostinho et al., 2007). Esses autores ressaltam ainda que os principais

impactos nas populações de peixes de jusante estão relacionados ao

decréscimo na produtividade da água e à regulação na vazão do rio.

Os impactos mais comuns nos peixes de montante são: a redução na

área disponível para migração e destruição das matas ciliares (Godinho &

Godinho, 1994). Além disso, a barragem da usina estabelece uma barreira à

migração reprodutiva e trófica dos peixes (Torloni, 1994).

Alternativas têm sido propostas para amenizar ou resolver os impactos

causados por barragens. Alguns desses impactos afetam a migração dos

peixes, e para amenizá-los tem sido sugerida a construção de sistemas de

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transposição de peixes (STP) como uma estratégia e ferramenta de

conservação e manejo (Pompeu & Martinez, 2005a).

As barragens em operação na América do Sul apresentam sérios

problemas relacionados à migração dos peixes. Por outro lado, algumas

barragens apresentam STPs para permitir a passagem de peixes migradores

para montante. Entretanto, nenhuma das barragens possui mecanismos que

permitam a passagem de peixes para jusante, assim como de ovos, larvas e

jovens (Godinho & Pompeu, 2003; Oldani et al., 2007).

Nesse sentido, antes de construir um STP é necessário conhecer a

biologia e ecologia das espécies-alvo, ambientes de entorno e hidrodinâmica

(Kynard, 1993; Bengeyfield et al., 2001; Fernandez et al., 2007b). Dessa forma,

evita que o mesmo se torne uma fonte adicional de impacto (Agostinho et al.,

2002), e permite que a transposição seja feita por motivos tróficos ou genéticos

(Godinho & Kynard, 2009).

Nos últimos anos, escadas para transposição de peixes são obrigatórios

em barramentos de rios em Minas Gerais. Esse compromisso está firmado na

Lei Estadual n° 12.488, de 09/04/1997 que diz que qualquer barramento em

rios do estado deverá possuir uma escada para transposição de peixes,

ressalvado somente em caso da transposição ser comprovadamente uma

medida ineficaz, segundo o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM).

Nesse contexto, a transposição manual de peixes tem sido utilizada em

algumas barragens de Minas Gerais como forma de estudar a viabilidade de

um sistema de transposição definitivo (Pompeu & Martinez, 2007). Além disso,

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essa forma de transposição tem caráter emergencial de cumprimento à

legislação e pode amenizar os impactos do empreendimento em todas as fases

da construção (Pompeu & Martinez, 2005a).

A transposição manual apresenta algumas vantagens. Ela permite

capturar peixes a jusante de uma barragem e soltá-los a montante de outra

barragem evitando sucessivas transposições; escolher os locais de soltura dos

indivíduos transpostos; flexibilizar a escolha de locais e horários de captura e

número de peixes a serem transpostos (Pompeu & Martinez, 2003a; 2005b); e

podem ter caráter temporário ou permanente, permitindo ser realizados até

mesmo durante a construção da barragem (Bengeyfield et al., 2001).

Contudo, a transposição manual apresenta desvantagens como:

operação onerosa devido ao uso intenso de mão-de-obra; levanta

desconfianças na sociedade com relação a sua efetividade (Pompeu &

Martinez, 2003a); e requer maiores cuidados em localidades em que há

espécies sensíveis ao manejo, pois pode provocar altas taxas de mortalidade

e/ou ferimentos (Pompeu & Martinez, 2005a), o que justifica a necessidade de

conhecimento prévio dos peixes locais. Além disso, é um sistema que transpõe

um número menor de peixes em relação aos demais STPs (Larinier &

Marmulla, 2004).

O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos da transposição manual

na abundância e na estrutura em tamanho das populações de Pimelodus

maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus conirostris e Leporinus copelandii

a montante da UHE Porto Estrela. Também foi determinada a influência das

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fases da lua e das vazões da UHE Porto Estrela na CPUE de jusante dessas

espécies, e foi feito um trabalho de marcação e recaptura para conhecer o

padrão de deslocamento dessas espécies e verificar se a UHE Porto Estrela

tem constituído um obstáculo para o retorno dos peixes para jusante.

Metodologia

Área de estudo

A bacia do rio Doce drena parte dos estados de Minas Gerais e Espírito

Santo. Ela limita-se ao sul com a bacia do rio Paraíba do Sul, a oeste com a

bacia do rio São Francisco e uma pequena parte da bacia do rio Grande, ao

norte com as bacias dos rios Jequitinhonha e Mucuri, e a noroeste com a bacia

do rio São Mateus. A área de drenagem é de aproximadamente 83.400 km2,

abrangendo total ou parcialmente áreas de 228 municípios, desde sua

nascente em Minas Gerais, nas Serras do Espinhaço e Mantiqueira, até sua

foz, em Regência, no Espírito Santo (CETEC, 1983; CBH - Rio Doce, 2008).

O rio Doce possui extensão de 853 km e origina-se a partir da

confluência dos rios Piranga e Carmo, no município de Rio Doce (MG). Os

seus principais afluentes são os rios do Carmo, Piracicaba, Santo Antônio,

Corrente Grande, Suaçuí Grande, Pancas e São José, na margem esquerda, e

os rios Chopotó, Casca, Matipó, Caratinga-Cuieté, Manhuaçu e Guandu, na

margem direita (CETEC, 1983; CBH - Rio Doce, 2008).

A UHE Porto Estrela está localizada no rio Santo Antônio, o segundo

maior afluente do rio Doce. A nascente do rio Santo Antônio localiza-se na

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Serra Tromba D’Anta, próximo à sede do município de Conceição do Mato

Dentro (MG). Sua confluência com o rio Doce ocorre próximo à sede do

município de Naque (MG) (Figura 1). Ele possui uma área de drenagem de

cerca de 10.390 km2 e seus principais afluentes são os rios do Peixe, Preto do

Itambé, Guanhães e Tanque (CETEC, 1983). Quanto às características

fisiográficas, o rio Santo Antônio pode ser dividido em duas porções distintas. A

primeira, da foz até o km de rio 47 (baixo curso), possui menor profundidade,

menor declividade e leito recoberto predominantemente por areia. A segunda

apresenta leito quase que totalmente rochoso, com extensas áreas de

corredeiras intercaladas com poções mais profundos. As principais barragens

da bacia, UHE Salto Grande e UHE Porto Estrela, dividem essas duas porções

do rio (Vieira, 2006).

O clima na maior parte da sub-bacia é do tipo Cwa (clima mesotérmico

com inverno seco e verão chuvoso; Koeppen, 1948; Antunes, 1986) e a

temperatura média anual está entre 21°C e 24°C (CETEC, 1983; Antunes,

1986). O período chuvoso ocorre de novembro a março (Vieira, 2006), sendo a

precipitação total na sub-bacia entre 900 e 1.500 mm anuais (CBH – Rio Doce,

2008; Hidrotec, 2008). A vegetação da sub-bacia do rio Santo Antônio é

descrita como Floresta Estacional Semidecidual, uma fitofisionomia

pertencente ao bioma Mata Atlântica (Veloso et al., 1991).

Assim como outras bacias do sudeste brasileiro, a sub-bacia do rio

Santo Antônio apresenta impactos ambientais. Além da supressão da Mata

Atlântica (Conservation International, 2000), outros impactos ameaçam os

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peixes do rio Santo Antônio, como agricultura, monoculturas (principalmente de

eucaliptos), introdução de espécies exóticas, agropecuária, pecuária,

assoreamento e barramentos (Drummond et al., 2005; Hidrotec, 2008). As

soluções para sanar os problemas apresentadas por Drummond et al. (2005)

incluem recuperação de matas ciliares, criação de unidades de conservação,

educação ambiental com as populações de entorno e plano de manejo.

Em relação à construção de barramentos hidrelétricos, a bacia do rio

Doce apresenta potencial de geração de energia elétrica em torno de 4.641

MW (ANEEL, 2002). Este potencial está distribuído em 23 barramentos em

operação/construção e 28 outorgados, das quais 39 são pequenas centrais

hidrelétricas (PCH), com geração de energia abaixo de 30 MW. Somente na

sub-bacia do rio Santo Antônio, existem 13 barramentos hidrelétricos em

operação, em construção ou outorgados, dos quais 10 são PCHs (ANEEL,

2008).

A UHE Porto Estrela é um dos barramentos em operação na sub-bacia

do rio Santo Antônio. Esse barramento opera na calha do rio principal (Figura

2), possui turbinas do tipo Kaplan e potência instalada de 112 MW (ANEEL,

2002). Ela começou a operar em 4 de setembro de 2001 (DOU, 2003), e a

transposição manual começou a ser realizada em dezembro de 2003, como

forma de atender a legislação vigente (Minas Gerais, Lei n° 12.488, de

09/04/1997), já que a usina não apresentava outro tipo de STP. A área do

reservatório formado pela barragem da UHE Porto Estrela é aproximadamente

de 4,3 km2. O reservatório da UHE Porto Estrela estende-se até a casa de

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

 

força da UHE Salto Grande. Seguindo o curso do rio Santo Antônio, a distância

desde o vertedouro da barragem da UHE Porto Estrela até a casa de força da

UHE Salto Grande é de aproximadamente 11 km.

Em Braúnas (MG), está localizada a UHE Salto Grande. Esse

barramento hidrelétrico está situado a aproximadamente 29 km a montante da

UHE Porto Estrela, seguindo o curso do rio Santo Antônio. A UHE Salto

Grande começou a funcionar em 1956 e possui dois reservatórios, um no rio

Guanhães com 5,8 km2 e outro no rio Santo Antônio com 1,3 km2. A UHE Salto

Grande possui uma capacidade de geração de energia elétrica de 102 MW. A

jusante dos dois reservatórios que compõem a UHE Salto Grande existem dois

trechos de vazão reduzida (TVR), um maior com aproximadamente 18 km e

outro menor com cerca de 0,65 km (Figura 3). O TVR maior compreende o

trecho desde o vertedouro da UHE Salto Grande localizado no rio Santo

Antônio até o início do reservatório da UHE Porto Estrela. Esse TVR é

completamente pedregoso e possui muitos bancos de areia. O TVR menor

compreende o trecho desde o sopé da UHE Salto Grande localizado no rio

Guanhães até o TVR no rio Santo Antônio. Esse TVR também é pedregoso.

A bacia do rio Doce apresenta notável fauna de peixes que fundamentou

medidas conservacionistas (Drummond et al., 2005). Para essa bacia, são

citadas 64 espécies nativas somente na porção mineira. Dentre as áreas

selecionadas como prioritárias à conservação dos peixes, a sub-bacia do rio

Santo Antônio figura entre as mais importantes por apresentar elevada riqueza

de peixes e diversas espécies endêmicas e algumas ameaçadas de extinção,

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

 

como o andirá Henochilus wheatlandii (Vieira & Alves, 2001; Castro et al.,

2004; Vieira, 2006). Além das espécies nativas citadas por Drummond et al.

(2005), a sub-bacia do rio Santo Antônio apresenta 14 espécies exóticas

(Vieira, 2006).

Transposição de peixes

A transposição manual de peixes para montante da barragem da UHE

Porto Estrela foi realizada nos meses de outubro a fevereiro/março em três

estações reprodutivas: 2003-2004, 2005-2006 e 2006-2007. A transposição foi

feita durante 15 dias consecutivos a cada mês. Dois pescadores foram

empregados para manejar duas tarrafas de malha 7 cm entre nós opostos com

2,20 m de altura e 7 kg de chumbo. As tarrafas foram escolhidas por se

adaptarem mais ao ambiente de jusante. As capturas foram realizadas de 6 h

às 11 h e de 16 h às 19 h, dentro da área de segurança a jusante da barragem

da UHE Porto Estrela, que tem aproximadamente 500 m de comprimento, do

seu vertedouro ao cordão de segurança. Todos os peixes nativos capturados

mais o P. maculatus (que é exótico; Vieira, 2006) foram transpostos. Os peixes

capturados foram colocados em caixas de isopor com água. Depois eles foram

medidos e pesados. Após esses procedimentos, os peixes foram colocados em

um tanque de 250 L com oxigenação e levados para montante num veículo

automotor. Os peixes foram soltos em um ponto do reservatório próximo à

barragem da UHE Porto Estrela, cerca de 400 m do vertedouro e tomada

d’água das turbinas (Figura 4).

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

 

Amostragem das populações de peixes a montante

Amostragens das populações de peixes de montante foram realizadas

trimestralmente de janeiro de 2004 a setembro de 2007 em três pontos: no

reservatório distante cerca de 1 km da barragem da UHE Porto Estrela; no

reservatório da UHE Porto Estrela, próximo a antiga confluência do córrego

Pitangas; e no trecho de 1 km do rio Santo Antônio imediatamente a jusante da

casa de força da UHE Salto Grande. Entretanto, para facilitar a análise e

interpretação, os dados coletados nos três pontos a montante da UHE Porto

Estrela foram agrupados e considerados apenas como “montante”. Apesar de

ter havido amostragens de peixes a montante da barragem da UHE Porto

Estrela em 2004-2005, os dados não foram considerados nas análises, pois

nessa estação reprodutiva não houve transposição de peixes.

Em cada ponto de amostragem, os peixes foram capturados com um

conjunto de redes de emalhar com malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 12 cm entre nós

opostos com comprimento de 10 m e altura entre 1,5 - 1,9 m. As redes foram

armadas às 17 h de um dia e retiradas às 7 h do dia seguinte, permanecendo

na água por mínimo 12 h e no máximo 14 h. As redes foram utilizadas por se

adaptarem ao ambiente de reservatório. Todos os peixes capturados foram

identificados, medidos e pesados.

Foi determinada a captura por unidade de esforço (CPUE) a montante

por estações reprodutivas, segundo a equação:

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre 

 

10 

 

CPUE = ∑=

12

3m(Nm / Em), onde;

m = tamanho da malha;

Nm = número de peixes capturados pelas redes de malha m;

Em = esforço de pesca (em 100 m2) da malha m.

Influência da transposição nas populações de montante 

A influência da transposição nas populações de peixes de montante foi

analisada para P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii (Figura

5). Essa influência foi avaliada por estação reprodutiva comparando-se a

quantidade de peixes transpostas com a sua CPUE a montante. Comparou-se

também a estrutura em tamanho (média, mínimo e máximo do comprimento

padrão) dos peixes transpostos e capturados a montante para avaliação dessa

influência. Para verificar se havia diferença entre o comprimento padrão (CP)

dos peixes transpostos e o CP dos peixes capturados a montante nas três

estações reprodutivas foi feito o teste de Mann-Whitney.

Marcação e recaptura

As espécies escolhidas para a marcação foram P. maculatus, P.

vimboides, L. conirostris e L. copelandii. A metodologia de captura empregada

nesse trabalho foi a mesma das capturas realizadas a jusante. Contudo, antes

dos peixes serem transpostos e liberados a montante, cada um recebeu

posteriormente à nadadeira dorsal, uma marca de numeração arábica de

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11 

 

quatro dígitos, com auxílio de uma agulha de sutura e linha de nylon. O intuito

do trabalho de marcação e recaptura foi conhecer o padrão de deslocamento

dessas espécies e verificar se a barragem da UHE Porto Estrela tem

constituído um obstáculo para o retorno dos peixes para jusante. A única

exceção mantida ao longo de todas as estações reprodutivas foi a não

marcação de peixes de tamanho reduzido (< 15 cm) ou debilitados. As

recapturas dos peixes ocorreram pelos pescadores locais, nas coletas

trimestrais a montante, bem como nas coletas a jusante, caso algum peixe

conseguisse descer pelas turbinas e/ou vertedouro.

Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante

Para cada uma das quatro espécies transpostas, foi determinada a

CPUE (= número de peixes capturados/número de arremessos de tarrafa) para

cada dia de captura a jusante da barragem da UHE Porto Estrela. A CPUE foi,

então, comparada entre as fases da lua com auxílio do teste de Kruskall-Wallis.

As fases da lua foram determinadas conforme Társia (2008). A CPUE diária foi

correlacionada (correlação de Spearman) com as vazões turbinada (Qt), vertida

(Qv) e defluente (Qd) da barragem da UHE Porto Estrela, fornecidas pelo

Consórcio Porto Estrela.

Optou-se pelo uso de testes não paramétricos porque a CPUE e as

vazões não apresentaram normalidade, mesmo depois de transformadas. A

normalidade foi testada com o teste de Kolmogorov-Smirnov para variáveis

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12 

 

com mais de 51 amostras ou Shapiro-Wilk para variáveis com menos de 50

amostras.

Resultados

A jusante da barragem da UHE Porto Estrela foram capturados 4.576

peixes (Tabela 1). As espécies mais capturadas foram P. maculatus (1.510

indivíduos), P. vimboides (1.210), Prochilodus costatus (875) e Salminus

brasiliensis (632). Essas quatro espécies representaram 92,4% de todos os

peixes capturados a jusante. Com exceção de P. vimboides, as outras três

espécies são exóticas.

A montante foram capturados 3.496 peixes (ver Tabela 1). Desse total

de capturas, treze espécies foram registradas apenas a montante. As mais

capturadas foram Astyanax fasciatus (1.049 indivíduos), Astyanax bimaculatus

(861) e Oligosarcus argenteus (670). Essas três espécies representaram 72,1%

de todos os peixes capturados a montante.

Influência da transposição nas populações de montante

Pimelodus maculatus

O número de P. maculatus transpostos foi relativamente elevado, sendo

2006-2007 a estação reprodutiva com maior número de peixes transpostos,

1.125 peixes. Em 2003-2004, o número de P. maculatus transposto foi

aproximadamente o mesmo. Em 2006-2007, esse número foi cerca de 5 vezes

maior do que nas estações reprodutivas anteriores. A CPUE a montante

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13 

 

aumentou bruscamente de 2003-2004 para 2005-2006 e diminuiu em 2006-

2007 (Figura 6).

A média do comprimento padrão dos P. maculatus transpostos não foi

maior do que aqueles capturados a montante. A média do CP dos peixes

capturados a montante permaneceu semelhante em todas as estações

reprodutivas, embora tenham sido capturados mais peixes menores e maiores

nas duas últimas estações reprodutivas. O tamanho mínimo e máximo do CP

dos P. maculatus capturados a montante foram, respectivamente, 11,5 cm e

33,0 cm. Para os peixes transpostos, a média foi semelhante na primeira e

última estação reprodutiva, sendo maior em 2005-2006 (Figura 10). O tamanho

mínimo e máximo do CP dos P. maculatus transpostos foram, respectivamente,

18,5 cm e 34,5 cm. Desconsiderando o tempo amostral, estatisticamente, não

houve diferença no CP entre os peixes transpostos e os capturados a

montante. Somente em 2005-2006, o CP dos peixes transpostos foi maior que

dos capturados a montante (Z = 5,43; p < 0,01).

Prochilodus vimboides

O número de P. vimboides transpostos foi relativamente elevado,

alcançando 624 peixes transpostos em 2003-2004. Contudo, esse número

diminuiu ao longo das estações reprodutivas, com uma redução acentuada em

2006-2007. A CPUE a montante sofreu um ligeiro aumento de 2003-2004 para

2005-2006, diminuindo bruscamente em 2006-2007 (Figura 7).

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14 

 

A média do CP dos P. vimboides transpostos não foi maior do que

aqueles capturados a montante. A média do CP dos peixes capturados a

montante permaneceu semelhante em 2003-2004 e 2006-2007, sendo menor

em 2005-2006. O tamanho mínimo e máximo do CP dos P. vimboides

capturados a montante foram, respectivamente, 13,0 cm e 49,0 cm. Não houve

diferença significativa entre a média do CP dos peixes transpostos em 2003-

2004 e 2005-2006 (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do CP dos P.

vimboides transpostos foram, respectivamente, 16,0 cm e 45,5 cm.

Desconsiderando o tempo amostral, estatisticamente, não houve diferença no

CP entre os peixes transpostos e os capturados a montante. Somente em

2005-2006, o CP dos peixes transpostos foi maior que dos capturados a

montante (Z = 3,20; p < 0,01).

Leporinus conirostris

O número de L. conirostris transpostos entre 2003-2004 e 2006-2007 foi

reduzido, não ultrapassando 80 peixes (maior número de peixes transpostos).

Esse número diminuiu em 2005-2006 e 2006-2007. A CPUE a montante

oscilou ao longo das estações reprodutivas, com uma queda acentuada em

2005-2006 (Figura 8).

A média do CP dos L. conirostris transpostos foi maior que aqueles

capturados a montante. A média do CP dos peixes capturados a montante foi

maior em 2005-2006 e menor em 2006-2007. O tamanho mínimo e máximo do

CP dos L. conirostris capturados a montante foram, respectivamente, 11,0 cm e

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15 

 

27,5 cm. Para os peixes transpostos, a média do CP foi muito semelhante em

2005-2006 e 2006-2007 (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do CP dos

L. conirostris transpostos foram, respectivamente, 27,7 cm e 44,5 cm. Em todas

as estações reprodutivas os peixes transpostos apresentaram CP maior que os

peixes capturados a montante (2003-2004: Z = 4,50; p < 0,01; 2005-2006: Z =

2,87; p < 0,01; 2006-2007: Z = 3,67; p < 0,01).

Leporinus copelandii

O número de L. copelandii transpostos foi reduzido. Em 2006-2007, foi

obtido o maior registro de transposição, 13 peixes. A CPUE a montante

aumentou gradualmente ao longo das estações reprodutivas, sendo o maior

valor registrado em 2006-2007. (Figura 9).

A média do CP dos L. copelandii transpostos foi maior que aqueles

capturados a montante. As maiores médias do CP dos peixes capturados a

montante foi em 2003-2004 e 2005-2006. O tamanho mínimo e máximo do CP

dos L. copelandii capturados a montante foram, respectivamente, 4,8 cm e 27,0

cm. Para os peixes transpostos, a média do CP diminuiu gradualmente ao

longo das estações reprodutivas (Figura 10). O tamanho mínimo e máximo do

CP dos L. copelandii transpostos foram, respectivamente, 20,7 cm e 40,6 cm.

Em todas as estações reprodutivas os peixes transpostos apresentaram CP

maior que os peixes capturados a montante (2003-2004: Z = 2,15; p = 0,03;

2005-2006: Z = 2,72; p < 0,01; 2006-2007: Z = 3,33; p < 0,01).

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16 

 

Marcação e recaptura

O total de peixes marcados foi de 2.268, sendo 1.212 P. maculatus, 977

P. vimboides, 56 L. conirostris e 23 L. copelandii (Tabela 2). O maior número

de P. maculatus marcados foi em 2006-2007, de P. vimboides em 2005-2006 e

de L. conirostris e L. copelandii em 2003-2004.

O total de peixes recapturados foi de 16, sendo quatro P. maculatus em

2005-2006, seis P. vimboides em 2003-2004 e cinco em 2005-2006, e um L.

conirostris em 2003-2004. Não foi recapturado nenhum L. copelandii (ver

Tabela 2). O percentual de recaptura para cada espécie foi de 0,3% para P.

maculatus, 1,1% para P. vimboides e 1,8% para L. conirostris. Dos 11 P.

vimboides recapturados, dois passaram pela barragem da UHE Porto Estrela e

foram recapturados a jusante e nove recapturados a montante (mesmo local

que foram soltos). Todos os P. maculatus foram recapturados a montante e o

único L. conirostris foi recapturado a jusante.

Quanto ao tempo transcorrido desde a marcação até a recaptura, o

maior foi 477 dias para um P. vimboides marcado a jusante, liberado a

montante e recapturado a montante, e o menor foram oito dias para um P.

maculatus marcado a jusante, liberado a montante e recapturado a montante.

Para os dois P. vimboides recapturados a jusante o tempo transcorrido da

marcação até a recaptura foi de 54 e 45 dias, respectivamente, enquanto que

para o L. conirostris foi de 63 dias.

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17 

 

Influência das fases da lua e das vazões na CPUE de jusante

As fases da lua influenciaram significativamente a CPUE de P.

maculatus capturados a jusante (H = 11,03; p = 0,01). As maiores medianas

dessa CPUE ocorreram na lua nova e minguante. Por outro lado, as fases da

lua não influenciaram significativamente as CPUEs de nenhuma das outras

espécies (P. vimboides: H = 2,01; p = 0,57; L. conirostris: H = 2,36; p = 0,50; e

L. copelandii: H = 1,90; p = 0,60; Figura 11).

Os valores de vazão turbinada (Qt), vazão vertida (Qv) e vazão defluente

(Qd) variaram de 56 a 257 m3/s, 0 a 681 m3/s e 56 a 938 m3/s,

respectivamente. A CPUE de jusante de P. maculatus apresentou correlação

positiva com Qv e Qd e a CPUE de jusante de P. vimboides correlacionou-se

positivamente com Qt, Qv e Qd (Tabela 2). As CPUEs de jusante de L.

conirostris e L. copelandii não se correlacionaram com nenhuma das vazões.

Discussão

Influência da transposição na CPUE e no tamanho de P. maculatus e P.

vimboides a montante

A transposição manual de peixes na UHE Porto Estrela parece não ter

alterado a CPUE de P. maculatus de montante. De 2003-2004 a 2005-2006,

poucos peixes foram transpostos. Entretanto, as CPUEs referentes a tais

estações reprodutivas foram altas. Esse aumento na CPUE de montante não

foi devido à transposição de P. maculatus, mas, mais provavelmente, pela

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18 

 

elevada produtividade provocada pela formação do reservatório da UHE Porto

Estrela tal como registrado em outros reservatórios (Agostinho et al., 1999;

Agostinho et al., 2007). Em 2006-2007, o número de P. maculatus transpostos

aumentou, podendo indicar que essa espécie começou a aumentar muito a

jusante da barragem da UHE Porto Estrela. Isto pode ser reflexo da baixa

eficiência da transposição manual em transpor muitos peixes, como sugerem

Santos et al. (2008). Esses autores argumentam ainda que uma elevada

abundância de peixes a jusante de barramentos é comum, principalmente de P.

maculatus, e que pode levá-los à morte, uma vez que, eles entram nas

turbinas. Importante ressaltar que a CPUE da última estação reprodutiva

diminuiu em relação às demais, o que pode ser em função da redução da

produtividade do reservatório (Agostinho et al., 1999; Agostinho et al., 2007).

A redução do tamanho mínimo do CP dos P. maculatus capturados a

montante na última estação reprodutiva indica uma possível ocorrência de

recrutamento no reservatório, pois foram capturados indivíduos imaturos. Isso

significa que essa espécie está conseguindo se reproduzir mesmo sob a

influência da barragem da UHE Porto Estrela e com a presença do ambiente

lêntico. Como P. maculatus foi a espécie mais transposta, existem mais

indivíduos a montante desovando, o que, necessariamente, implica em maior

recrutamento futuro (Myers & Barrowman, 1996). A alteração de ambiente

lótico para lêntico favorece o rápido estabelecimento das espécies exóticas

não-migradoras (Petts, 1989). Como P. maculatus é uma espécie exótica

(Vieira, 2006; Froese & Pauly, 2008) e sua característica migradora tem sido

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19 

 

questionada nos últimos anos por Agostinho et al. (2007b), o fato de ela

conseguir se perpetuar poderá causar problemas futuros às demais populações

de peixes da sub-bacia do rio Santo Antônio, como redução da riqueza e

diversidade, com redução das espécies nativas e aumento da dominância de

poucas espécies, sobretudo das exóticas, como tem sido relatado por diversos

autores em outras bacias hidrográficas do país (e.g. Godinho et al., 1991;

Oldani & Baigún, 2002; Fernandez et al., 2004; Vono et al., 2004; Bizzoto,

2006; Agostinho et al., 2007a; Agostinho et al., 2007b; Fernandez et al., 2007a;

Oldani et al., 2007; Pompeu & Martinez, 2007; Silva, 2008).

Para P. vimboides, a transposição manual não influenciou a sua CPUE

nem sua estrutura em tamanho a montante, com exceção de 2005-2006. A

elevada CPUE de P. vimboides em 2005-2006 pode está associada à

transposição manual, visto que, as capturas nessa estação reprodutiva foram a

segunda maior em número de peixes transpostos e esses foram maiores que

aqueles capturados a montante. Logo, seria resultado da reprodução dos

peixes transpostos. Além disso, o número de P. vimboides transpostos diminuiu

ao longo do tempo (Figura 7). Agostinho et al. (1999) relatam que alterações na

composição e abundância de espécies é um efeito muito comum em

barramentos. Algumas espécies podem se proliferar, como é o caso de P.

maculatus, e outras pode reduzir, chegando, até mesmo, ao desaparecimento,

como parece está acontecendo com P. vimboides neste trecho do rio Santo

Antônio.

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20 

 

Entretanto, outras hipóteses podem ser levantadas para explicar as

elevadas CPUEs de P. maculatus e P. vimboides a montante. As altas CPUEs

nas estações reprodutivas em que foram transpostos poucos peixes podem ser

resultado do aprisionamento de cardumes a montante durante o fechamento

das comportas, como sugere Agostinho et al. (2007), ou então, em função da

descida de peixes, incluindo jovens, dos dois TVRs a montante da UHE Porto

Estrela. Os dois TVRs podem ter aprisionado ovos e larvas nas cheias

anteriores, e lá se desenvolvido. Nessa estação reprodutiva em específico, as

cheias podem ter facilitado a descida dos juvenis para o reservatório da UHE

Porto Estrela. Essa última hipótese não se aplica a P. maculatus, pois não

existem relatos da ocorrência dessa espécie a montante da UHE Salto Grande

(Fábio Vieira, com. pes.).

Influência da transposição na CPUE e no tamanho de L. conirostris e L.

copelandii a montante

A transposição manual de L. conirostris e L. copelandii não influenciou a

CPUE a montante. Somente em 2003-2004, pode-se supor que a transposição

de L. conirostris pode ter contribuído com sua elevada CPUE a montante.

Apesar da variação da CPUE de L. copelandii a montante ser semelhante à

variação do número de peixes transpostos, é provável, assim como em P.

maculatus e P. vimboides, que essa CPUE seja reflexo do aprisionamento de

peixes no reservatório, fazendo com que haja uma manutenção dessa

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21 

 

população, como sugere Agostinho et al. (1999), ou os peixes são provenientes

dos TVRs a montante do reservatório de Porto Estrela. Daí a necessidade da

transposição com fins genéticos, para que não haja uma deterioração gênica

das populações de montante (Agostinho et al., 2002; Godinho & Kynard, 2009).

Em relação à estrutura em tamanho, todos os L. conirostris e L.

copelandii transpostos apresentaram CP maior que os peixes capturados a

montante. A não captura a montante de peixes dos mesmos tamanhos

transpostos sugere que L. conirostris e L. copelandii possam ficar curto período

de tempo nesse local. Ou eles estão passando pelas turbinas e/ou vertedouro,

como observaram Pompeu & Martinez (2003b) na UHE Santa Clara, ou estão

procurando trechos não-represados a montante do reservatório para desovar,

como sugerem Agostinho et al. (2007), e por isso não estão sendo capturados.

Marcação e recaptura

O método de marcação e recaptura é importante em estudos de ecologia

de populações (Greenwood, 1997). Tal método pode ser usado para se

conhecer a estrutura etária e o crescimento de uma população, a distribuição

dessa população no ambiente, o padrão de migrações de seus indivíduos e o

tamanho do estoque pesqueiro de uma região (Nomura, 1975). O

conhecimento das migrações realizadas pelos peixes é fundamental para saber

quais são os locais de desova, de desenvolvimento inicial, alimentação e

refúgio (Godinho & Pompeu, 2003). Além disso, é possível saber se os peixes

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22 

 

estão conseguindo transpor algum obstáculo durante as migrações, como por

exemplo, um empreendimento hidrelétrico.

As recapturas de dois P. vimboides e um L. conirostris a jusante da

barragem da UHE Porto Estrela mostra que as turbinas e/ou vertedouro têm

sido utilizados pelos peixes para retornar a jusante. Entretanto, esses caminhos

podem trazer danos irreversíveis aos peixes que as utilizam, que vão desde

lesões até morte (Pompeu & Martinez, 2003b).

Contudo, as recapturas estiveram muito aquém do número de peixes

marcados. Foi marcado um total de 2.268 peixes e apenas 16 peixes foram

recapturados. O principal fator relacionado ao baixo número de recapturas foi o

pequeno esforço de pesca empregado. O conjunto de redes utilizado nas

capturas a montante e os arremessos de tarrafa realizados a jusante foram

insuficientes para proporcionar uma taxa de recaptura adequada. Além disso, a

outra forma de obtenção das recapturas foi através dos pescadores

profissionais e amadores que existem na região. Entretanto, esse método é

falho, pois os pescadores não costumam devolver as marcas encontradas. Isso

foi relatado por Godoy (1975) em um estudo de marcação e recaptura com L.

friderici no rio Mogi Guaçu, Cachoeira de Emas. Ele comentou que foram

marcados 3.673 peixes e apenas 6,45% (237 peixes) foram recapturados, e

que esse número deveria ter sido maior se alguns pescadores tivessem

devolvido as marcas.

As baixas freqüências de recaptura também foram em função da baixa

durabilidade da marca utilizada em tal procedimento. Tal fato foi testado e

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23 

 

confirmado por Silva (2008) em um trabalho de marcação e recaptura no rio

Grande onde foram marcados ao todo 40.651 peixes com uma pistola do tipo

“Fix Pin” e ela verificou que 22,3% dos peixes haviam perdido a marca. Embora

o método de marcação usado no presente estudo seja diferente, a durabilidade

da marca é muito variável, podendo se perder rapidamente ou permanecer por

mais de 1 ano, como no P. vimboides que foi recapturado após 477 dias da

marcação ter ocorrida.

Influência das fases da lua e das vazões no número de peixes transpostos

Os ciclos lunares apresentam intervalos de aproximadamente um mês, e

esses incluem: fases da lua, o tempo de ascensão lunar, sua relação com o

ciclo solar e sua movimentação no céu (Leatherland et al., 1992). A

sincronização dos comportamentos dos peixes com tais ciclos lunares pode

estimular o crescimento, a alimentação, a migração e o comportamento

(Bayley, 1973; Welcomme, 1985; Petrere Jr., 1989; Rossiter, 1991; Luecke &

Wurtsbaugh, 1993; Gaudreau & Boisclair, 2000; Rahman et al., 2004;

Takemura et al., 2004; Bizzotto, 2006; Bizzotto et al., 2009).

Entretanto, assim como relatam Naylor (2001) e Takemura et al. (2004),

as avaliações dos ciclos lunares sobre os diversos comportamentos dos peixes

ainda são baseadas em suposições ou são circunstanciais. Segundo Takemura

et al. (2004), a iluminação refletida pela lua favoreceria a maturação gonadal, o

encontro de parceiros sexuais e, conseqüentemente, o sucesso da desova.

Contudo, cada espécie possui estratégias reprodutivas diferentes à percepção

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24 

 

dos ciclos lunares. Naylor (2001) acredita que outros fatores como fotoperíodo

e temperatura são mais importantes que as fases da lua no desenvolvimento

de processos reprodutivos em algumas espécies.

Várias são as provas que indicam a influência das fases da lua sobre o

comportamento de peixes. Os peixes têm a capacidade de detectar as fases da

lua através de órgãos fotossensoriais (retina e glândula pineal; Rahman et al.,

2004), e isso resulta em modificações fisiológicas ou comportamentais, como

picos de concentração de estradiol e testosterona na lua cheia (Takemura et

al., 2004), aumento do número de peixes em migrações ascendentes na lua

cheia (Bayley, 1973; Welcomme, 1985; Bizzoto et al., 2009), migrações das

lagoas laterais para os rios principais na lua cheia (Petrere Jr., 1989),

sincronismos das desovas com a lua cheia para facilitar o cuidado parental dos

filhotes contra predadores noturnos (Rossiter, 1991) e grande número de

migrações de algumas espécies em luas que refletem baixa luminosidade

como forma de diminuir a vulnerabilidade aos predadores (Luecke &

Wurtsbaugh, 1993; Gaudreau & Boisclair, 2000).

Exceto a CPUE de P. maculatus, as fases da lua não causaram efeitos

visíveis nas CPUES de jusante das demais espécies. O maior número de

indivíduos capturados na lua nova, quando as noites são mais escuras, sugere

que P. maculatus prefira migrar nessas condições, em função da menor

vulnerabilidade aos predadores durante as migrações ascendentes, conforme

relatam Gaudreau & Boisclair (2000) para peixes de um lago oligotrófico.

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25 

 

As características de migrações de peixes são bastante complexas,

possuindo algumas semelhanças e várias diferenças de espécie para espécie,

e de bacia para bacia (Petrere Jr., 1985). A migração de peixes a montante, via

de regra, é estimulada por fatores abióticos como temperatura, velocidade da

água, vazão e nível do rio, em complemento aos estímulos endógenos (Bond,

1979; Godoy, 1985; Petrere Jr., 1985; Vazzoler, 1996).

As vazões turbinada, vertida e defluente da UHE Porto Estrela foram

importantes para o número de indivíduos transpostos de P. vimboides, uma vez

que o número de indivíduos transpostos aumentou conforme o aumento das

vazões. Em P. maculatus, o aumento da vazão vertida e defluente

influenciaram o número de indivíduos transpostos. O número de L. conirostris e

L. copelandii transpostos foi indiferente aos níveis das diferentes vazões. Isto

sugere que essas vazões estão exercendo estímulos à movimentação dessas

espécies para montante (Clay, 1995; Larinier, 2002a, b), mas com

comportamentos específicos a cada espécie, conforme relatado por Petrere Jr.

(1985).

 

Implicações sobre conservação e manejo

Toda e qualquer ação proposta para a conservação de populações de

peixes e estoques pesqueiros deve ser baseada em conhecimento científico

robusto. Embora não se tenha feito nenhum trabalho junto aos pescadores

nesse estudo, considero-os importantes peças deste quebra-cabeça, visto que,

conhecem muito bem o seu meio de sobrevivência. Além disso, qualquer

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26 

 

medida tomada os afetará (Agostinho et al., 2002). Com base nessa sabedoria

empírica, é possível elaborar uma metodologia consistente para propor um

planejamento global de ação baseado em objetivos mais focados na resolução

dos problemas.

Para que a transposição tenha sucesso permitindo a reprodução das

espécies transpostas e garantindo a conservação das populações e estoques

pesqueiros, algumas etapas são necessárias. De acordo com Agostinho et al.

(2002), essas etapas são: (i) encontro de locais apropriados à desova; (ii)

desova; (iii) ovos e larvas devem ser carreados pelo rio até atingir ambientes

apropriados ao desenvolvimento inicial; (iv) os adultos transpostos devem

retornar a jusante juntamente com parte da coorte gerada. Por isso a

necessidade de sistemas que também transponham peixes de montante para

jusante (Godinho & Pompeu, 2003; Agostinho & Gomes, 2006; Oldani et al.,

2007). Além disso, para o bom emprego da transposição e para que ela tenha

sucesso, é preciso definir com clareza quais são os objetivos a serem

alcançados. Isso incidirá diretamente sobre os resultados e, principalmente,

fomentará toda ação tomada durante os trabalhos (Agostinho et al., 2007).

Os resultados obtidos nesse trabalho e relatos de Fábio Vieira (com.

pes.) permitem afirmar que há recrutamento na área de estudo, embora não

estejam sendo decisivos na manutenção das populações das espécies

estudadas. Entretanto, não se sabe a origem desses jovens. Hipóteses foram

levantadas para tentar explicá-las: (i) estão vindo a montante da barragem da

UHE Salto Grande (seta verde) no rio Santo Antônio; (ii) são provenientes do

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27 

 

trecho de vazão reduzida entre a UHE Salto Grande e a UHE Porto Estrela

(seta amarela); ou (iii) ambos (Figura 12). Os locais a montante da barragem

da UHE Porto Estrela ainda permitem recrutamento em P. maculatus, P.

vimboides, L. conirostris e L. copelandii, o que é uma prova de que a

transposição manual que tem sido feita na UHE Porto Estrela, apesar de não

transpor uma quantidade significativa de peixes como em outros STPs, tem

garantido a conexão entre jusante e montante. Entretanto, a transposição

manual não está sendo decisiva na manutenção das populações destas

espécies no rio Santo Antônio, visto que, os jovens, provavelmente, são

resultantes de outros processos, conforme já foram comentados. Ainda assim,

defende-se essa transposição, devido ao seu caráter de reduzir o processo de

deterioração gênica dessas espécies, sobretudo das nativas, já que ela tem

garantido a conexão jusante-montante (Godinho & Kynard, 2009). Então, a

transposição não é suficiente para evitar a extinção, mas para criar um fluxo

gênico entre as populações.

Ademais, a transposição manual além de cumprir seu papel como

alternativa de cumprimento à legislação mineira (Minas Gerais, Lei n° 12.488,

de 09/04/1997), não tem funcionado como uma fonte de impacto, como relata

Agostinho et al. (2002). Pelo contrário, há recrutamento, embora pouco, a

montante da barragem da UHE Porto Estrela. Além disso, migrações não

reprodutivas também são importantes, pois possibilitam a conservação de

estoques pesqueiros e conseqüente diminuição da pressão de predação e

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28 

 

pesca pelos moradores do entorno da UHE Porto Estrela (Godinho & Kynard,

2009).

Estudo sobre coletas de ovos e larvas começou a ser desenvolvido na

piracema de 2008-2009 (inf. pessoal), mas ainda está em fase preliminar.

Contudo, existe a necessidade de uma durabilidade maior de tal estudo para

afirmar a(s) origem(ns) certa(s) desses ovos e larvas.

Além disso, mais estudos são necessários para entender outros

processos biológicos. É preciso saber onde essas espécies estão se

reproduzindo; se os adultos que estão sendo transpostos conseguem retornar

para jusante; se a coorte gerada também retorna para jusante ou não; se não

retornam a jusante, o que fazem à montante; se existem locais adequados e

bem conservados que permitem que essas espécies permaneçam à montante;

é necessário avaliar qual a taxa de mortalidade dos ovos e larvas que são

carreados pelo rio; quem são os principais predadores; se a usina é um

obstáculo à migração passiva desses ovos e larvas; qual a taxa de mortalidade

de adultos e coorte gerada ao atravessar a usina; e qual a qualidade gênica

das populações. São todas questões pertinentes que ainda não têm respostas

ou que precisam ser mais aprofundadas.

Conclusões

O número de peixes transpostos não foi suficiente para alterar as

populações de montante de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L.

copelandii a montante, visto que, as variações na CPUE e a estrutura em

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29 

 

tamanho dos peixes capturados foram, provavelmente, devido às oscilações na

produtividade do reservatório e aprisionamento dos peixes neste no

fechamento das comportas.

Embora haja indícios de recrutamento a montante nas espécies

estudadas, ele não é resultado da transposição manual, e sim, à possível

descida de jovens dos TVRs ou aprisionamento de peixes no reservatório

devido ao fechamento das comportas. O trabalho de marcação e recaptura

revelou que alguns peixes estão conseguindo retornar a jusante, ou pelas

turbinas ou pelo vertedouro. Isso significa que a UHE Porto Estrela tem

permitido o retorno de parte dos peixes que foram transpostos.

As vazões da UHE Porto Estrela têm estimulado a captura de P.

maculatus e P. vimboides. Pimelodus maculatus foi mais capturado nas noites

mais escuras, ou seja, lua nova.

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Tabela 1. Lista em ordem alfabética dos peixes capturados no rio Santo

Antônio a jusante e a montante da barragem da UHE Porto Estrela. N jusante =

número de peixes capturados a jusante; N montante = número de peixes

capturados a montante; j = capturada a jusante; m = capturada a montante; t =

espécie transposta; e = espécie exótica.

Taxa N jusante N montante Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) m 0 861 Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) m 0 1049 Astyanax sp. j, m 3 34 Astyanax taeniatus (Jenyns, 1842) m 0 40 Brycon sp. m 0 2 Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) m 0 3 Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842) m 0 1 Clarias gariepinnus j, e 5 0 Delturus carinotus (LaMonte, 1933) j, m, t 17 54 Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) m 0 106 Glanidium sp. m 0 5 Gymnotus carapo Linnaeus (1758) m 0 42 Henochilus wheatlandii Garman (1890) m 0 11 Hoplias intermedius Ribeiro (1908) j, m 19 57 Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) j, m, t 8 11 Hoplosternum littoralle (Hancock, 1828) j, m, e 1 3 Hypostomus sp. j, m, t 37 29 Leporinus conirostris Steindachner (1875) j, m, t 96 73 Leporinus copelandii Steindachner (1875) j, m, t 32 35 Leporinus mormyrops Steindachner (1875) j, m, t 2 25 Leporinus sp. j 27 0 Lophiosilurus alexandri (Steindachner, 1876) j, m, e 53 7 Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855) m 0 6 Oligosarcus argenteus Guenter (1864) j, m 4 670 Oreochromis sp. j, m, e 2 4 Pachyurus adspersus (Steindachner, 1878) j, m 1 60 Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) m, e 0 23 Pimelodus maculatus Lacepède (1917) j, m, t, e 1510 71 Pogonopoma wertheimeri (Steindachner, 1867) j, m, t, e 4 43 Prochilodus costatus (Cuvier & Valenciennes, 1849) j, m, e 875 4 Prochilodus vimboides Kner (1859) j, m, t 1210 17 Pseudoplatystoma sp. j, m, e 19 4 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) j, m, t 3 25 Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) j, m, e 632 2 Tilapia sp. j, m, e 3 7 Trachelyopterus striatulus (Steindachner, 1876) j, m 13 112

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Tabela 2. Número de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii

marcados (M) e recapturados (R) em cada estação reprodutiva. A porcentagem

de recapturas está entre parênteses.

Espécie 2003-2004 2005-2006 2006-2007 Total

M R M R M R M R (%)

P. maculatus 68 0 187 4 957 0 1212 4 (0,3)

P. vimboides 409 6 479 5 89 0 977 11 (1,1)

L. conirostris 35 1 15 0 6 0 56 1 (1,8)

L. copelandii 9 0 7 0 7 0 23 0 (0)

Total 521 9 688 11 1059 0 2268 16 (0,7)

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Tabela 3. Correlação de Spearman entre CPUE de jusante e vazões turbinada

(Qt), vertida (Qv) e defluente (Qd) para P. maculatus, P. vimboides, L.

conirostris e L. copelandii.

*p < 0,05

Espécie Vazão

Qt Qv Qd

Pimelodus maculatus 0,05 0,27* 0,22* Prochilodus vimboides 0,24* 0,23* 0,26* Leporinus conirostris -0,04 0,13 0,0007 Leporinus copelandii 0,41 -0,09 0,22

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Figura 1. Mapa da bacia do rio Doce e em destaque a sub-bacia do rio Santo

Antônio. Os rios destacados na sub-bacia do rio Santo Antônio são seus

principais afluentes.

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40 

 

Figura 2. Sub-bacia do rio Santo Antônio e localização da UHE Porto Estrela.

Fonte: Consórcio Aproveitamento Hidrelétrico de Porto Estrela. Relatório de

consolidação de projeto básico. Volume II – Desenhos.

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41 

 

Figura 3. Vista aérea de um trecho do rio Santo Antônio, a montante do

reservatório da UHE Porto Estrela. O rio Santo Antônio possui um TVR a

jusante de uma das barragens da UHE Salto Grande (1) e existe outro TVR a

jusante da outra barragem da UHE Salto Grande localizada no rio Guanhães

(2).

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Figura 4. Foto aérea da barragem da UHE Porto Estrela, rio Santo Antônio. O

ponto vermelho indica o local de soltura dos peixes capturados a jusante.

Fonte: Consórcio Porto Estrela.

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43 

 

Figura 5. Espécies utilizadas nas análises em função de suas abundâncias na

transposição e nas capturas a montante. De cima para baixo: Pimelodus

maculatus, Prochilodus vimboides, Leporinus conirostris e Leporinus

copelandii.

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2003-2004 2006-20070

1

2

CP

UE

n

A

2003-20042005-2006

2006-2007

Estações reprodutivas

0

1

2

N (x

1000

)

B

 

Figura 6. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de P.

maculatus por estações reprodutivas.

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2003-2004 2006-20070,0

0,2

0,4

0,6

CP

UE

n

A

2003-20042005-2006

2006-2007

Estações reprodutivas

0

3

6

9

12

N (x

100)

B

Figura 7. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de P.

vimboides por estações reprodutivas.

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2003-2004 2006-20070

1

2

CP

UE

n

A

2003-20042005-2006

2006-2007

Estações reprodutivas

0

2

4

6

8

N (x

10)

B

 

Figura 8. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de L.

conirostris por estações reprodutivas.

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2003-2004 2006-20070,0

0,2

0,4

0,6

0,8

CP

UE

n

A

 

2003-20042005-2006

2006-2007

Estações reprodutivas

0,0

0,5

1,0

1,5

N (x

10)

B

Figura 9. CPUE a montante (A) e número de peixes (N) transpostos (B) de L.

copelandii por estações reprodutivas.

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2003 2004 2005 2006 2006 200710

20

30

40C

ompr

imen

to p

adrã

o m

édio

(cm

)P. maculatus

**

  2003 2004 2005 2006 2006 200710

20

30

40

50

Com

prim

ento

pad

rão

méd

io (c

m)

L. conirostris

*

*

*

*

*

*

2003-2004 2005-2006 2006-2007Estações reprodutivas

10

20

30

40

50

Com

prim

ento

pad

rão

méd

io (c

m)

P. vimboides

* *

2003-2004 2005-2006 2006-2007Estações reprodutivas

10

20

30

40

50

Com

prim

ento

pad

rão

méd

io (c

m)

L. copelandii

*

*

*

*

*

*

Figura 10. Média, mínimo e máximo do comprimento padrão de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii transpostos (barras claras) e capturados a montante (barras escuras) por estação reprodutiva. Os asteriscos representam diferenças significativas entre os pares de CP dos peixes transpostos e dos peixes capturados a montante.

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Minguante Crescente0,0

0,2

0,4

0,6C

PU

EP.maculatusp = 0,01

  Minguante Crescente0,0

0,2

0,4

0,6

CP

UE

L.conirostrisp = 0,50

 

MinguanteNova

CrescenteCheia

Fases da lua

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

CP

UE

P.vimboidesp = 0,57

 

MinguanteNova

CrescenteCheia

Fases da lua

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

CP

UE

L.copelandiip = 0,60

 

Figura 11. Captura por unidade de esforço (CPUE) de P. maculatus, P.

vimboides, L. conirostris e L. copelandii a jusante da barragem da UHE Porto

Estrela por fase da lua (barra = mediana; traço vertical = intervalo interquartil). 

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Figura 12. Rio Santo Antônio, bacia do rio Doce. As setas verde e amarela

significam as possíveis origens dos jovens provenientes do recrutamento

comentado no texto.