transposição do rio são francisco

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Declarações enviadas a frei Luiz de 13 a 19 de dezembro de 2007 8 nacional Nova liminar da Justiça Federal fortalece luta contra transposição SEMI-ÁRIDO Movimentos que apóiam greve de fome do frei Luiz Cappio comemoram decisão da Justiça que suspende as obras Luís Brasilino da Redação OS MILITANTES de movimen- tos sociais, ribeirinhos e romei- ros que apóiam a greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese de Barra (BA), recebe- ram uma boa notícia um dia an- tes do religioso completar duas semanas sem comer. No dia 10, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) deu liminar que suspende as obras de transposi- ção do rio São Francisco. Alzení Thomaz, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), conta que o anúncio foi recebi- do em Sobradinho (BA) – local onde frei Luiz realiza o jejum – com uma grande festa. “Foi um grito só. A notícia foi dada no momento da celebração da noi- te, a igreja lotada com umas 400 pessoas”, relata. Entretanto, em meio às come- morações, a saúde de frei Luiz se deteriora. Ao completar du- as semanas de jejum, o bispo já perdeu seis quilos e apresen- ta um quadro de anemia e desi- dratação. Por isso, desde o dia 6, passou a ingerir soro caseiro e não somente água pura, como fez no início da greve. Mas, mes- mo com a liminar, dom Cappio segue determinado a manter a greve de fome até “a retirada do Exército dos eixos e a suspensão do projeto de transposição”. “Foi uma vitória, mas não sig- nica que ganhamos a batalha”, reconhece Alzení, que comple- ta: “o Exército continua lá”. Nesse sentido, ela garante que os movimentos vão continuar mobilizados para pressionar o governo e prevê que outros ges- tos de solidariedade virão. Por isso, uma grande campanha, nacional e internacional, de je- juns solidários deve ser lançada nos próximos dias. Unidade Enquanto isso, os apoios con- tinuam crescendo. Alzení con- ta que a comunidade de Sobra- dinho deu suporte imediato à causa de frei Luiz. “As pesso- as abrem as casas para os visi- tantes, tem muita gente de fo- ra morando nas residências da- qui. O povo também traz comi- da para aqueles que estão acam- pados”, arma. Além disso, diversos movi- mentos, artistas e religiosos en- caminham declarações de apoio ou até mesmo visitam frei Luiz. No dia 11, João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movi- da Redação Alzení Thomaz, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), entende que a decisão do Tribu- nal Federal desmoraliza a trans- posição. Isso acontece porque a decisão tomada, no dia 11, pelo desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), torna nula a resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos que, em ja- neiro de 2005, autorizou o uso da água para a transposição. Para liberar a obra, o Conse- lho cometeu três ilegalidades. Primeiro, suprimiu instância do Comitê da Bacia Hidrográca do São Francisco que ainda julga a quantidade de água que pode ser desviada pela transposição. Em segundo lugar, viola os prin- cípios da gestão descentralizada da água e da participação popu- lar. E, por m, o ponto que, na opinião de Alzení, desmoraliza a transposição: a resolução do Conselho entra em conito com o Plano de Recursos Hídricos da bacia do São Francisco o qual determina que o uso externo das águas do rio só pode aconte- cer se for destinado ao consumo “Lula governa para os destruidores da natureza, latifundiários, grandes empresários e representantes do capital. Por outro lado, impõe aos trabalhadores e ao povo pobre do país um governo com ações que degradam o meio ambiente, que retiram direitos, que geram pobreza e desemprego”, Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), central sindical ligada ao PSTU “O projeto de transposição se coloca dentro das políticas públicas convencionais, que se orientam para a construção de grandes obras, a um alto custo financeiro, ambiental e social, e se baseiam em “modelos de desenvolvimento” que priorizam o agronegócio. Somos contrários ao projeto de transposição e favoráveis à revitalização da Bacia do Rio São Francisco e de outras alternativas para a convivência com o Semi-Árido”, Articulação do Semi-Árido, fórum que reúne mais de 700 entidades da região “(Frei Luiz) Torna-se a voz do Rio São Francisco. Seu gesto é, ao mesmo tempo, corajoso, ousado e profético em favor da revitalização do Rio São Francisco. É um gesto profético que igualmente defende um investimento político nos pequenos projetos de cisternas, de aproveitamento da água da chuva e do subsolo, que de fato possa levar a água aos pobres e a todos os que desejam mais vida”, Conferência dos Religiosos do Brasil , entidade que reúne mais de 50 mil freiras e freis “Gostaríamos de expressar nossa profunda admiração por seu gesto de coragem ao dedicar a própria vida para salvar o rio São Francisco. Esperamos que finalmente o governo desista das obras de transposição e inicie um debate aberto e verdadeiro sobre as necessidades da população local. Esta mensagem expressa nosso apoio, carinho e solidariedade.”, Letícia Sabatella, Camila Pitanga, Carla Marins, Bete Mendes, Chico Diaz, Cristina Pereira, Dira Paes, Eduardo Tornaghi, Leonardo Vieira, Marcos Frota, Marcos Winter, Osmar Prado, Silvia Buarque, Wagner Moura, Zezé Polessa, dentre outros artistas do Movimento Humanos Direitos “O significado de seu gesto é maior do que o senhor mesmo. Ele sinaliza a angústia de quem vê nossas riquezas serem depredadas e roubadas séculos após séculos por uma elite egoísta e indiferente aos destinos de nosso povo. De grande em grande obra, o Nordeste continua com um dos piores índices de desenvolvimento humano do planeta. Irmão dom Luiz, receba nossa solidariedade fraterna. Vamos transformá-la em luta prática e em um chamado a todo o povo, mostrando que sua luta é nossa luta: a busca por um país justo, soberano e ambientalmente sustentável”, Via Campesina , organização internacional de camponeses que, no Brasil, agrega movimentos como o dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Atingidos por Barragens (MAB), Pequenos Agricultores (MPA), Mulheres Camponesas (MMC) e Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dentre outros “Caro irmão e amigo, mantenha a fortaleza do Espírito. Caso se abrir a possibilidade de um diálogo transparente e não oportunista não deixe de se abrir a ele. Seu sacrifício terá alcançado seu significado. E se não houver outra alternativa que a imolação, acolha-a no espírito de Jesus que na cruz gritou: ‘Pai em tuas mão entrego o meu espírito’. Passar assim ao Pai é digno de um discípulo de Jesus que como ele soube ‘amar até o fim’”, Leonardo Boff, teólogo mento dos Trabalhadores Ru- rais Sem Terra (MST) e o depu- tado federal Ivan Valente (Psol- SP) estiveram em Sobradinho. Três dias antes, frei Luiz rece- beu a visita da atriz Letícia Sa- batella. Na ocasião, ela decla- rou: “O presidente Lula deve re- tomar o governo popular, ou- vir o que o povo quer”. No dia 6, três bispos da Bahia passa- ram pela cidade, Itamar Viana, de Feira de Santana, André de Witte, de Rui Barbosa, e Toma- zzo Caccianele, de Irecê. Com isso, os grandes atos de Sobradinho cam cada vez maiores. Cerca de 4 mil pesso- as caminharam ao lado de frei Luiz até o rio na data em que ele completou uma semana sem co- mer. Já no dia 9, domingo, uma romaria em defesa do São Fran- cisco contou com a participação de mais de 6 mil pessoas. Governo De seu lado, o governo não dá mostras de recuo. Enquan- to o presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece sem se pro- nunciar, o ministro Geddel Viei- ra Lima (Integração Nacional) utiliza a imprensa corporativa para atacar a gura de frei Luiz, sem jamais discutir o mérito da greve de fome. No entanto, Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Ter- ra (CPT), entende que o gover- no cou numa situação compli- cada. Na sua opinião, a estraté- gia inicial de isolar frei Luiz não deu certo. “Somada ao crescente apoio dos movimentos, a notí- cia da liminar, que determina o mesmo que dom Luiz pede, tem que ser dada e isso não pode ser feito sem falar no bispo. Já identicamos que alguns veícu- los de imprensa, que antes não nos procuravam, começam a li- gar e aparecer aqui em Sobradi- nho”, observa. Segundo Ruben, o governo es- pera reunião com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), marcada para o dia 12, para se posicionar. Ele entende que a liminar também foi im- portante para fazer a cúpula da Igreja se aproximar de frei Luiz e espera que a CNBB apresente na reunião uma “oportunidade de ouro para Lula sair bem des- sa história, trocar a transposi- ção pelas alternativas de convi- vência com o Semi-Árido”. humano ou animal, em casos de comprovada escassez. Luciana Khoury, coordenado- ra das promotorias de Justiça na Bahia, explica que essa condi- cionante inviabiliza o projeto do governo. “As águas da transpo- sição são para outros usos, como criação de camarão e agricultu- ra”, arma. A informação po- de ser comprovada no próprio estudo de impacto ambiental (EIA) do projeto, produzido pe- lo Ministério da Integração, que destina 70% das águas transpos- tas para irrigação, 26% para uso urbano-industrial e 4% para a população difusa do campo. Desdobramentos A anulação da decisão do Conselho acabou parando as obras da transposição, pois ini- ciou um efeito em cadeia que suspendeu todos os demais atos tomados com base na reso- lução. Assim, tornam-se nulas as licenças ambientais concedi- das pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a ou- torga denitiva do uso da água e o certicado de sustentabili- dade emitidos pela Agência Na- cional de Águas (ANA). Francisco Guilherme Bas- tos, procurador da Repúbli- ca no Distrito Federal e autor do mandado de segurança que culminou na decisão do Tri- bunal Regional Federal, expli- ca que a liminar ainda pode ser revista. Entretanto, ele enten- de que o governo terá dicul- dades se quiser transferir o jul- gamento para o Supremo Tri- bunal Federal (STF). Os movimentos sociais espe- ram que o governo tente essa manobra pois essa esfera é mais suscetível a pressões políticas. Um exemplo disso são as deze- nas de ações contrárias à trans- posição que estão paradas no STF, aguardando uma decisão, e que não impedem o prossegui- mento das obras, nem têm pra- zo para serem julgadas. Segundo Bastos, o normal se- ria o caso tramitar no TRF até o julgamento do mérito. Se isso acontecer, o governo deve per- der a disputa. “O ato praticado (resolução do Conselho) está ei- vado de inúmeras irregularida- des”, analisa o procurador. Ainda assim, a Advocacia- Geral da União (AGU) anun- ciou, no dia 11, que vai recorrer da liminar, tanto no TRF, quan- to no STF. (LB) Decisão desmoraliza obra Liminar anula manobra realizada pelo governo em 2005 para permitir uso econômico das águas da transposição Romaria realizada em Sobradinho (BA), no último dia 9, reuniu seis mil pessoas em apoio a frei Cappio e contra a transposição João Zinclar João Zinclar Joka Madruga

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Aumenta a solidariedade à greve de fome de frei Cappio

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Page 1: Transposição do Rio São Francisco

Declarações enviadas a frei Luiz

de 13 a 19 de dezembro de 20078

nacional

Nova liminar da Justiça Federalfortalece luta contra transposiçãoSEMI-ÁRIDO Movimentos que apóiam greve de fome do frei Luiz Cappio comemoram decisão da Justiça que suspende as obras

Luís Brasilinoda Redação

OS MILITANTES de movimen-tos sociais, ribeirinhos e romei-ros que apóiam a greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, bispo da diocese de Barra (BA), recebe-ram uma boa notícia um dia an-tes do religioso completar duas semanas sem comer. No dia 10, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) deu liminar que suspende as obras de transposi-ção do rio São Francisco.

Alzení Thomaz, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), conta que o anúncio foi recebi-do em Sobradinho (BA) – local onde frei Luiz realiza o jejum – com uma grande festa. “Foi um grito só. A notícia foi dada no momento da celebração da noi-te, a igreja lotada com umas 400 pessoas”, relata.

Entretanto, em meio às come-morações, a saúde de frei Luiz se deteriora. Ao completar du-as semanas de jejum, o bispo já perdeu seis quilos e apresen-ta um quadro de anemia e desi-dratação. Por isso, desde o dia 6, passou a ingerir soro caseiro e não somente água pura, como fez no início da greve. Mas, mes-mo com a liminar, dom Cappio segue determinado a manter a greve de fome até “a retirada do Exército dos eixos e a suspensão do projeto de transposição”.

“Foi uma vitória, mas não sig-nifi ca que ganhamos a batalha”, reconhece Alzení, que comple-ta: “o Exército continua lá”. Nesse sentido, ela garante que os movimentos vão continuar mobilizados para pressionar o governo e prevê que outros ges-tos de solidariedade virão. Por isso, uma grande campanha, nacional e internacional, de je-juns solidários deve ser lançada nos próximos dias.

UnidadeEnquanto isso, os apoios con-

tinuam crescendo. Alzení con-ta que a comunidade de Sobra-dinho deu suporte imediato à causa de frei Luiz. “As pesso-as abrem as casas para os visi-tantes, tem muita gente de fo-ra morando nas residências da-qui. O povo também traz comi-da para aqueles que estão acam-pados”, afi rma.

Além disso, diversos movi-mentos, artistas e religiosos en-caminham declarações de apoio ou até mesmo visitam frei Luiz. No dia 11, João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movi-

da Redação

Alzení Thomaz, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), entende que a decisão do Tribu-nal Federal desmoraliza a trans-posição. Isso acontece porque a decisão tomada, no dia 11, pelo desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), torna nula a resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos que, em ja-neiro de 2005, autorizou o uso da água para a transposição.

Para liberar a obra, o Conse-lho cometeu três ilegalidades. Primeiro, suprimiu instância do Comitê da Bacia Hidrográfi ca do São Francisco que ainda julga a quantidade de água que pode ser desviada pela transposição. Em segundo lugar, viola os prin-cípios da gestão descentralizada da água e da participação popu-lar. E, por fi m, o ponto que, na opinião de Alzení, desmoraliza a transposição: a resolução do Conselho entra em confl ito com o Plano de Recursos Hídricos da bacia do São Francisco o qual determina que o uso externo das águas do rio só pode aconte-cer se for destinado ao consumo

“Lula governa para os destruidores da natureza, latifundiários, grandes empresários e representantes do capital. Por outro lado, impõe aos trabalhadores e ao povo pobre do país um governo com ações que degradam o meio ambiente, que retiram direitos, que geram pobreza e desemprego”,

Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), central sindical ligada ao PSTU

“O projeto de transposição se coloca dentro das políticas públicas convencionais, que se orientam para a construção de grandes obras, a um alto custo fi nanceiro, ambiental e social, e se baseiam em “modelos de desenvolvimento” que priorizam o agronegócio. Somos contrários ao projeto de transposição e favoráveis à revitalização da Bacia do Rio São Francisco e de outras alternativas para a convivência com o Semi-Árido”,

Articulação do Semi-Árido, fórum que reúne mais de 700 entidades da região

“(Frei Luiz) Torna-se a voz do Rio São Francisco. Seu gesto é, ao mesmo tempo, corajoso, ousado e profético em favor da revitalização do Rio São Francisco. É

um gesto profético que igualmente defende um investimento político nos pequenos projetos de cisternas, de aproveitamento da água da chuva e do subsolo, que de fato possa levar a água aos pobres e a todos os que desejam mais vida”,

Conferência dos Religiosos do Brasil , entidade que reúne mais de 50 mil freiras e freis

“Gostaríamos de expressar nossa profunda admiração por seu gesto de coragem ao dedicar a própria vida para salvar o rio São Francisco. Esperamos que fi nalmente o governo desista das obras de transposição e inicie um debate aberto e verdadeiro sobre as necessidades da população local. Esta mensagem expressa nosso apoio, carinho e solidariedade.”,

Letícia Sabatella, Camila Pitanga, Carla Marins, Bete Mendes, Chico Diaz, Cristina Pereira, Dira Paes,

Eduardo Tornaghi, Leonardo Vieira, Marcos Frota, Marcos Winter, Osmar Prado, Silvia Buarque, Wagner

Moura, Zezé Polessa, dentre outros artistas do Movimento Humanos Direitos

“O signifi cado de seu gesto é maior do que o senhor mesmo. Ele sinaliza a angústia de quem vê nossas riquezas serem depredadas e roubadas séculos após séculos por uma elite egoísta e indiferente aos destinos de nosso povo. De grande em grande obra, o Nordeste continua com um dos piores índices de desenvolvimento humano do planeta. Irmão dom Luiz, receba nossa solidariedade fraterna. Vamos transformá-la em luta prática e em um chamado

a todo o povo, mostrando que sua luta é nossa luta: a busca por um país justo, soberano e ambientalmente sustentável”,

Via Campesina , organização internacional de camponeses que, no Brasil, agrega movimentos como o dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Atingidos por Barragens (MAB), Pequenos Agricultores (MPA), Mulheres

Camponesas (MMC) e Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dentre outros

“Caro irmão e amigo, mantenha a fortaleza do Espírito. Caso se abrir a possibilidade de um diálogo transparente e não oportunista não deixe de se abrir a ele. Seu sacrifício terá alcançado seu signifi cado. E se não houver outra alternativa que a imolação, acolha-a no espírito de Jesus que na cruz gritou: ‘Pai em tuas mão entrego o meu espírito’. Passar assim ao Pai é digno de um discípulo de Jesus que como ele soube ‘amar até o fi m’”,

Leonardo Boff, teólogo

mento dos Trabalhadores Ru-rais Sem Terra (MST) e o depu-tado federal Ivan Valente (Psol-SP) estiveram em Sobradinho. Três dias antes, frei Luiz rece-beu a visita da atriz Letícia Sa-batella. Na ocasião, ela decla-rou: “O presidente Lula deve re-tomar o governo popular, ou-vir o que o povo quer”. No dia 6, três bispos da Bahia passa-ram pela cidade, Itamar Viana, de Feira de Santana, André de Witte, de Rui Barbosa, e Toma-zzo Caccianele, de Irecê.

Com isso, os grandes atos de Sobradinho fi cam cada vez maiores. Cerca de 4 mil pesso-as caminharam ao lado de frei Luiz até o rio na data em que ele completou uma semana sem co-mer. Já no dia 9, domingo, uma romaria em defesa do São Fran-cisco contou com a participação de mais de 6 mil pessoas.

GovernoDe seu lado, o governo não

dá mostras de recuo. Enquan-to o presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece sem se pro-nunciar, o ministro Geddel Viei-ra Lima (Integração Nacional) utiliza a imprensa corporativa

para atacar a fi gura de frei Luiz, sem jamais discutir o mérito da greve de fome.

No entanto, Ruben Siqueira, da Comissão Pastoral da Ter-ra (CPT), entende que o gover-no fi cou numa situação compli-cada. Na sua opinião, a estraté-gia inicial de isolar frei Luiz não deu certo. “Somada ao crescente apoio dos movimentos, a notí-cia da liminar, que determina o mesmo que dom Luiz pede, tem que ser dada e isso não pode ser feito sem falar no bispo. Já identifi camos que alguns veícu-los de imprensa, que antes não nos procuravam, começam a li-gar e aparecer aqui em Sobradi-nho”, observa.

Segundo Ruben, o governo es-pera reunião com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), marcada para o dia 12, para se posicionar. Ele entende que a liminar também foi im-portante para fazer a cúpula da Igreja se aproximar de frei Luiz e espera que a CNBB apresente na reunião uma “oportunidade de ouro para Lula sair bem des-sa história, trocar a transposi-ção pelas alternativas de convi-vência com o Semi-Árido”.

humano ou animal, em casos de comprovada escassez.

Luciana Khoury, coordenado-ra das promotorias de Justiça na Bahia, explica que essa condi-cionante inviabiliza o projeto do governo. “As águas da transpo-sição são para outros usos, como criação de camarão e agricultu-ra”, afi rma. A informação po-de ser comprovada no próprio estudo de impacto ambiental (EIA) do projeto, produzido pe-lo Ministério da Integração, que destina 70% das águas transpos-tas para irrigação, 26% para uso urbano-industrial e 4% para a população difusa do campo.

DesdobramentosA anulação da decisão do

Conselho acabou parando as obras da transposição, pois ini-ciou um efeito em cadeia que suspendeu todos os demais atos tomados com base na reso-lução. Assim, tornam-se nulas as licenças ambientais concedi-das pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a ou-torga defi nitiva do uso da água e o certifi cado de sustentabili-dade emitidos pela Agência Na-cional de Águas (ANA).

Francisco Guilherme Bas-

tos, procurador da Repúbli-ca no Distrito Federal e autor do mandado de segurança que culminou na decisão do Tri-bunal Regional Federal, expli-ca que a liminar ainda pode ser revista. Entretanto, ele enten-de que o governo terá difi cul-dades se quiser transferir o jul-gamento para o Supremo Tri-bunal Federal (STF).

Os movimentos sociais espe-ram que o governo tente essa manobra pois essa esfera é mais suscetível a pressões políticas. Um exemplo disso são as deze-nas de ações contrárias à trans-posição que estão paradas no STF, aguardando uma decisão, e que não impedem o prossegui-mento das obras, nem têm pra-zo para serem julgadas.

Segundo Bastos, o normal se-ria o caso tramitar no TRF até o julgamento do mérito. Se isso acontecer, o governo deve per-der a disputa. “O ato praticado (resolução do Conselho) está ei-vado de inúmeras irregularida-des”, analisa o procurador.

Ainda assim, a Advocacia-Geral da União (AGU) anun-ciou, no dia 11, que vai recorrer da liminar, tanto no TRF, quan-to no STF. (LB)

Decisão desmoraliza obraLiminar anula manobra realizada pelo governo em 2005 para permitir uso econômico das águas da transposição

Romaria realizada em Sobradinho (BA), no último dia 9, reuniu seis mil pessoas em apoio a frei Cappio e contra a transposição

João Zinclar

João

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