subsÍdio bÍblico e teolÓgico revista de adultos da ebd

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SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2 RESUMO O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 3º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulada: “O Plano de Deus para Israel em Meio à Infidelidade da Nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Claiton Ivan Pommerening. As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeia Atualizada – NAA (SBB, 3ª Ed.), salvo as indicações em contrário e devidamente referenciadas. Este breve subsídio de apoio à Lição 06, O Profeta Elias e Eliseu, Seu Sucessor”, apresenta um estudo bíblico sobre o processo de sucessão profética de Elias para Eliseu, conforme a narrativa de 1 Reis 19.15- 21 e 2 Reis 2.1-18. Por meio desse conteúdo, busca-se: apresentar um quadro do contexto no qual ocorreu a sucessão profética de Elias para Eliseu; ressaltar os fatores da vocação, do treinamento e da consagração pública no processo de sucessão profética de Elias para Eliseu, conforme 1 Reis 19.15-21 e 2 Reis 2.1-25; e, propor uma linha de aplicação sobre o dever bíblico e espiritual de preparação das novas gerações para o serviço na obra de Deus. INTRODUÇÃO Os profetas Elias e Eliseu exerceram funções especiais na história do Reino de Israel (Norte), especialmente na promoção da verdadeira fé no Único Deus verdadeiro e na erradicação da idolatria generalizada aos falsos deuses Baal e Aserá. O ministério profético de Elias marcou todo o profetismo posterior e o ministério profético de Eliseu foi a continuação do que Deus tinha iniciado com Elias. Por isso, o autor dos Reis concedeu um espaço considerável para a sucessão profética de Elias para Eliseu. O presente subsídio está distribuído em dois tópicos. O primeiro tópico trata sobre o contexto no qual ocorreu o término do ministério de Elias e o início do ministério profético de Eliseu. O segundo tópico apresenta fatores da vocação, treinamento e a consagração de Eliseu em lugar de Elias. Na conclusão, é abordado sobre o dever bíblico e espiritual da Igreja na preparação das novas gerações para a realização da obra do Senhor. Bons estudos! 1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E- mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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Page 1: SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO Revista de Adultos da EBD

SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD

Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2

RESUMO O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 3º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulada: “O Plano de Deus para Israel em Meio à Infidelidade da Nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Claiton Ivan Pommerening. As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeia Atualizada – NAA (SBB, 3ª Ed.), salvo as indicações em contrário e devidamente referenciadas. Este breve subsídio de apoio à Lição 06, “O Profeta Elias e Eliseu, Seu Sucessor”, apresenta um estudo bíblico sobre o processo de sucessão profética de Elias para Eliseu, conforme a narrativa de 1 Reis 19.15-21 e 2 Reis 2.1-18. Por meio desse conteúdo, busca-se: apresentar um quadro do contexto no qual ocorreu a sucessão profética de Elias para Eliseu; ressaltar os fatores da vocação, do treinamento e da consagração pública no processo de sucessão profética de Elias para Eliseu, conforme 1 Reis 19.15-21 e 2 Reis 2.1-25; e, propor uma linha de aplicação sobre o dever bíblico e espiritual de preparação das novas gerações para o serviço na obra de Deus.

INTRODUÇÃO Os profetas Elias e Eliseu exerceram funções especiais na história do Reino de Israel (Norte), especialmente na promoção da verdadeira fé no Único Deus verdadeiro e na erradicação da idolatria generalizada aos falsos deuses Baal e Aserá. O ministério profético de Elias marcou todo o profetismo posterior e o ministério profético de Eliseu foi a continuação do que Deus tinha iniciado com Elias. Por isso, o autor dos Reis concedeu um espaço considerável para a sucessão profética de Elias para Eliseu. O presente subsídio está distribuído em dois tópicos. O primeiro tópico trata sobre o contexto no qual ocorreu o término do ministério de Elias e o início do ministério profético de Eliseu. O segundo tópico apresenta fatores da vocação, treinamento e a consagração de Eliseu em lugar de Elias. Na conclusão, é abordado sobre o dever bíblico e espiritual da Igreja na preparação das novas gerações para a realização da obra do Senhor. Bons estudos!

1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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1. A SUCESSÃO PROFÉTICA: de Elias a Eliseu. 2 Reis 2.1-18 contém a descrição da sucessão profética de Elias para Eliseu. Essa sucessão profética foi singular, ocorreu segundo a direção divina e entre dois profetas dos mais importantes do profetismo no Antigo Testamento. No reino de Israel, o povo de Deus tornou-se idólatra, seguindo três principais linhas de idolatria: o culto aos dois bezerros de ouro feitos pelo rei Jeroboão, o culto a Baal e o culto a Aserá. Esse movimento de apostasia ocorreu sob a tutela dos reis Acabe e Acazias, que eram esposo e filho de Jezabel, respectivamente. Foi nesse contexto que Deus levantou Elias e Eliseu como profetas, com funções e demonstração singulares de poder por palavras e obras. Por meio do ministério profético de Elias e Eliseu: reis foram condenados, reis foram consagrados, os falsos deuses foram expostos ao ridículo, falsos profetas foram mortos, o povo foi conclamado ao reconhecimento de Yahweh como o Único Deus verdadeiro e à adoração a Deus segundo a Lei. Nesse cenário, as operações proféticas tinham como pano de fundo o confronto do verdadeiro Deus sobre os falsos deuses. Deus agia por meio dos seus servos. O profeta Elias surgiu de modo contundente, com palavras e obra de poder divino. No caso de Eliseu, seu ministério é retratado desde seu chamado divino até sua consagração pública. Assim, o historiador bíblico descreve, em 2 Reis 2, como Deus fez convergir para a mesma ocasião o fim extraordinário do ministério de Elias e a consagração pública de Eliseu como profeta em lugar de Elias. 1.1 - A TRADIÇÃO DOS PROFETAS NO ANTIGO TESTAMENTO. Elias e Eliseu fazem parte da rica tradição profética na história de Israel no Antigo Testamento. Por isso, é importante situar a narrativa de 2 Reis 2 no contexto do movimento profético na história de Israel. Dois pontos principais são: a escola dos profetas e o tipo profético de Elias.

1.1.1 - A Escola dos Profetas. Na narrativa de 2 Reis 2.1-18, as expressões “discípulos dos profetas” (v.3,5,7,15) apontam para o agrupamento de profetas remetente à “escola dos profetas” da época do sacerdote e profeta Samuel (1 Sm 10.5-6; 19.18-19). A expressão “escola ou discípulos dos profetas” aponta para sua natureza educacional. Era um espaço de formação de profetas com duas principais características: o compartilhamento de um mesmo espaço de convivência entre profetas maduros e novos profetas (1 Sm 19.18-19; 2 Rs 6.1-3) e o compartilhamento das manifestações proféticas (1 Sm 10.5-6). Desse modo, esses espaços serviam para o treinamento no ofício profético, oração e comunhão (cf. 2 Rs 6.1-3). Mesmo no período da apostasia durante o reinado de Acabe, agravado pela perseguição e assassinatos de profetas encabelados por Jezabel, esses grupos de profetas se mantiveram unidos e em atividade (1 Rs 18.4); daí a menção de “discípulos dos profetas” em Betel (v.3) e em Jericó (v.5). Foi no contexto dessa organização de profetas que ocorreu a sucessão profética do poder divino sobre Elias para Eliseu. 1.1.2 - O Tipo Profético de Elias. No ministério de Elias, foi manifestado o poder divino em palavras e obras em uma nova dimensão. Elias apareceu como um tipo profético diferenciado e passou a ser padrão de referência na história do povo de Deus.

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Deus estabeleceu um novo tipo profético em Elias. No panorama bíblico, essa singularidade é demonstrada nos seguintes pontos: 1) O autor dos Reis fez um registro que mostrou semelhanças do ministério de Elias com o ministério de Moisés, pois ambos receberam palavra de Deus no monte Horebe, ambos lideraram a matança de idólatras em momentos decisivos na história de Israel3 e ambos foram citados no fechamento do cânon do Antigo Testamento em Malaquias 4.4-6; 2) O tipo/natureza profético de Elias é prometido em Malaquias 4.5-6 e cumprido no Novo Testamento, no ministério de João Batista (Mt 11.14; 17.10-13; Mc 9.11-13; Lc 1.13-17); e, 3) Na ocasião da transfiguração de Jesus Cristo, apareceram Elias e Moisés; sendo que Elias simbolizava os Profetas que apontaram para a morte sacrificial de Jesus Cristo (Mt 17.1-8; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36). A narrativa de 2 Reis 2.1-18 deve ser considerada à luz desse cenário; o autor bíblico registrou, a um só tempo, o final do ministério profético de Elias e a sua natureza profética, continuando no seu discípulo Eliseu. A narrativa mostra a expectativa pelo translado de Elias e a consagração oficial de Eliseu como substituto de Elias.

Esse contexto histórico e teológico da Bíblia tem grande valor para a compreensão do evento de sucessão profética de Elias a Eliseu: Deus transladando o profeta Elias e, ao mesmo tempo, investindo Eliseu com o poder que havia manifestado por meio de Elias. 1.2 - O PROCESSO DA SUCESSÃO PROFÉTICA DE ELIAS PARA ELISEU. Deus, em sua soberania e sabedoria, vinculou os ministérios de Elias e Eliseu; de modo que a sucessão profética era fundamental. Deus estabeleceu dois principais fluxos: usou o profeta Elias para chamar Eliseu para o ministério profético e usou Eliseu para levar adiante a obra profética iniciada por Elias. Nos dois casos, a capa de Elias sobre Eliseu serviu como símbolo da legitimidade da ascensão de Eliseu como profeta no lugar de Elias (1 Rs 19.19; 2 Rs 2.13-15). A vocação de Eliseu e sua relação com Elias estava embasada sobre os princípios bíblicos que caracterizam a vocação, o treinamento e o ofício na obra do ministério. Nesse particular, por “obra do ministério” é uma referência abrangente aos ofícios de liderança e ministração das Escrituras (seja pastoral, magisterial e outros ofícios eclesiásticos de liderança; ou a liderança principal ou auxiliar). Logo, o estudo desta sucessão profética de Elias a Eliseu oportuniza muitas lições para os ministros e líderes cristãos na Igreja. Na sequência, são esboçados estes três aspectos: a vocação, o treinamento e a consagração pública, conforme a narrativa do autor dos Reis: 1 Reis 19.15-21 e 2 Reis 2.1-25.

1.2.1 - A Vocação de Eliseu – 1 Rs 19.15-21. A vocação de Eliseu envolveu dois fatores indispensáveis a toda vocação divina para os servos que exercem ofícios ministeriais na obra do Senhor (cf. Ef 4.11-16; 1 Ts 5.12-13; 1 Tm 5.17; Hb 13.17). São eles: A. O primeiro fator na vocação divina é o chamado soberano de Deus. Eliseu foi chamado por

Deus, por intermédio de Elias. 1 Reis 19.15-16 diz: “Então o SENHOR disse a Elias... Unja também Jeú, filho de Ninsi, como rei de Israel e Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá, como profeta em

3 BIMSON, John J. 1 e 2 Reis. In: CARSON, D. A. (et. al.). Comentário bíblico: Vida Nova. São Paulo, SP: Vida Nova, 2009, p.554 (p.509-590).

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seu lugar”. Elias, um homem de Deus, recebeu de Deus a direção para chamar Eliseu para junto de si, como aprendiz, até o momento da sucessão profética. Pressupõe-se que os líderes ministeriais tenham o autêntico chamado divino. Elias tinha Eliseu como um homem chamado por Deus; Eliseu tinha consciência do solene chamado divino; e, os discípulos da escola dos profetas reconheceram que Eliseu tinha recebido o chamado divino para servir a Elias até sua consagração pública como profeta em seu lugar (cf. 2 Rs 2.1-15). A vocação divina dos ministros precisa ser reconhecida. Quem serve deve ter clareza do seu chamado e a Igreja servida deve reconhecer as insígnias4 da vocação divina sobre aqueles que presidem nas diversas áreas da obra do Senhor.

B. O segundo fator na vocação divina é a resposta humana. Responder afirmativamente ao chamado divino sempre exige sacrifícios pessoais. Esse princípio bíblico lança luz sobre os detalhes acerca da condição de Eliseu, por ocasião da sua resposta. Eliseu estava confortavelmente desfrutando do seu ambiente familiar, como indica 1 Reis 19.19: por um lado, conforme indica a aparelhagem para o arado do campo, Eliseu desfrutava de segurança financeira como filho de uma família de condição financeira acima da média; por outro lado, Eliseu estava dedicado nos negócios do seu pai, sua família. Eliseu, apesar dos fatores favoráveis de que desfrutava na casa do seu pai, respondeu prontamente ao chamado divino. A capa do reconhecido profeta Elias envolveu Eliseu, envolvendo-o e “separando-o para a função profética, e ele abandonou a posição social e os privilégios, para tornar-se ‘servo’ do homem mais velho”5. 1 Reis 19.19-21 apresenta o seguinte desenrolar de atitudes simbólicas: 1) Elias encontrou Eliseu trabalhando dedicadamente nas lavouras da sua família. Essa característica de trabalhador dedicado seria útil na obra de Deus no reino de Israel. A obra do Senhor é lugar para trabalhadores firmes e diligentes, sendo reprovados aqueles que são oscilantes e negligente. A capacitação divina vem sobre a atitude diligente e sempre disposta para o trabalho; 2) Elias lançou sobre Eliseu o seu manto/capa como um gesto simbólico que comunicava o chamado de Deus para servir junto a Elias6. Note-se que o primeiro posto de Eliseu foi como servo e aprendiz do profeta Elias. O chamado divino oportuniza servir e aprender humildemente dos servos de Deus mais maduros; e, 3) Eliseu respondeu ao chamado divino fazendo uma despedida justa com seus familiares para a qual preparou um banquete. Para isso, Eliseu sacrificou os bois com os quais se dedicava aos negócios do pai, sinalizando que sua disposição foi voltada de modo resoluto para o chamado divino. Ele “queimou as pontes” atrás de si. Eliseu saiu do convívio familiar para servir na convivência com o profeta Elias e deixou o serviço nos campos do seu pai para o serviço na obra de Deus. A partir desse momento, Eliseu passou a

4 Entre as quais estão: 1) A evidência de direção e capacitação divina nas oportunidades de trabalho e capacitação para o trabalho; 2) O discernimento espiritual dos líderes mais maduros sobre aqueles direcionados por Deus para as diversas áreas ministeriais; 3) O reconhecimento por parte da Igreja; 4) A bênção divina de consistência e crescimento da área na qual tem sido chamado por Deus (o evangelista: evidência dos frutos evangelísticos; o mestre: evidência de dedicação e capacitação divina na exposição das Escrituras e doutrina; etc. ); e, 5) A palavra profética segundo a manifestação do Espírito Santo. 5 GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo, SP: Editora Vida, 2005, p.173. 6 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Antigo Testamento: volume II, históricos. 1ª ed. 12ª reimp. Santo André, SP: Geográfica editora, 2019, p.495.

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ser conhecido como o aprendiz e servo de Elias. “... Então, se levantou, seguiu Elias, e o servia” (1 Rs 19.21).

1.2.2 - O Treinamento de Eliseu – 2 Rs 2.1-10. O chamado, o preparo e a consagração no ofício ministerial são aspectos desenvolvidos na dinâmica da comunhão do povo de Deus (cf. At 13.1-3; 2 Tm 1.6-7). Esse foi o caso de Eliseu. Eliseu vivenciou um processo de aprendizagem e preparo junto a Elias, que se iniciou no chamado de divino e durou até o tempo da consagração no ofício profético. Além disso, seu treinamento ocorreu tendo como testemunhas os discípulos (escola) dos profetas. A relação estabelecida entre Elias e Eliseu era no molde de “mestre/discípulo”. Nesse sentido, entre os eventos de 1 Reis 19 até os eventos de 2 Reis 2, é possível identificar as seguintes características sobre o preparo vivenciado por Eliseu: A. Eliseu é descrito como servidor. 1 Reis 19.21 diz: “... Então, se levantou, seguiu Elias, e o servia”.

A relação mestre/discípulo era caracterizada pela postura do discípulo que assumia a atitude de “servidor, ajudante”. Eliseu trabalhou humildemente em tudo quanto era necessário ao profeta Elias. Seu serviço ajudava, em vez impor atrapalhados ou disputas. Eliseu é descrito seguindo e servindo a Elias, da mesma forma como Josué trabalhava como servidor de Moisés.

B. Eliseu é descrito como aprendiz. 2 Reis 2.3,5 mostram como Eliseu estava alinhado como aprendiz de Elias: “o seu mestre”. Essa aprendizagem deu-se na relação diária: por um lado, Eliseu assumiu a postura de ser ensinável. Eliseu dedicou-se na humilde e dependente aprendizagem diante de Elias, em vez do orgulho ou confiança no que já sabia. Por outro lado, Eliseu teve um mestre que ensinava tanto pelo exemplo de vida como pelas verdades compartilhadas.

2 Reis 2.9-11 descreve uma relação profundamente pessoal e comunal entre Elias e Eliseu. Esse texto retrata Elias como um mestre bondoso e Eliseu como um aprendiz sábio e atencioso. Até o último momento eles andavam e conversavam, mantiveram diálogo e comunhão. 1.2.3 - O Momento da Sucessão Profética – 2 Rs 2.1-18. A narrativa de 2 Reis 2.1-18 assume um tom de culminância, convergindo para o momento do translado de Elias para o Senhor e para o reconhecimento de Eliseu como recebedor do poder divino que estivera operando em Elias. Tanto o término do ministério de Elias como a consagração de Eliseu como herdeiro ministerial de Elias foram marcados por acontecimentos sobrenaturais e grandiosos da parte de Deus. Entre outras, destacam-se as seguintes verdades: A. A sabedoria do pedido de Eliseu a Elias: “Quero receber por herança porção dobrada do seu

espírito” (v.9). Por “porção dobrada”, Eliseu não estava pedindo o dobro do poder espiritual, não era a busca de maior prestígio ou superioridade a Elias. Na verdade, esse pedido estava relacionado aos costumes familiares em Israel, mais especificamente à herança que o primogênito recebia e dava prosseguimento aos cuidados da família após a partida do pai. Dessa forma, como o sucessor “primogênito” de Elias, Eliseu pediu por poder e capacidades espirituais,

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assim como Deus tinha capacitado a Elias7. Na tradução da NVI diz: “Respondeu Eliseu: ‘Faze de mim o principal herdeiro de teu espírito profético’”. Eliseu reconheceu a necessidade de que o poder divino em Elias “continuasse vivo por meio dele”8. Ele queria ser reconhecido como sucessor legítimo, em demonstração do mesmo poder divino que operou através de Elias. De fato, a legitimidade de Eliseu como sucessor foi reconhecida pela demonstração do mesmo poder divino que operou em Elias (2 Rs 2.13-15). Eliseu reconheceu que somente pelo poder de Deus teria condições de cuidar do remanescente fiel, cumprir a vontade de Deus nos âmbitos político e religioso e abolir a idolatria a Baal e Aserá no reino de Israel durante aquela geração (1 Rs 19.15-18; 2 Rs 10.18-31).

B. A atitude de vigilância de Eliseu junto a Elias. Quanto mais se aproximava o translado de Elias, mais Eliseu fazia questão de permanecer junto a ele, perseverante e atenciosamente. As sucessivas propostas de Elias diziam a Eliseu: “fique aqui, porque o SENHOR me enviou a...”; porém, Eliseu respondia: “Tão certo como vive o SENHOR, e como você vive, não o deixarei ir sozinho” (v.2,4,6). Seguindo a narrativa, observa-se que a vigilância de Eliseu foi intensificada quando Elias associou o recebimento do seu pedido por porção dobrada com sua vigilância ao momento do translado (v.10-12). Eliseu receberia porção dobrada se fosse capaz de manter-se vigilante. Assim, todos os movimentos de Elias, dentro da direção de Deus, eram seguidos rigorosamente por Eliseu.

C. O recebimento da porção dobrada. Eliseu viu com grande admiração quando o Senhor tomou para si Elias. Na sequência, as atitudes de Eliseu foram: 1) Tomou para si a capa de Elias. A capa de Elias era um símbolo do poder divino investido sobre ele. A capa simbolizou o vínculo de Eliseu com o ministério de Elias. Eliseu foi vinculado à capa de Elias tanto na chamada divina como na sua consagração como sucessor9; e, 2) Repetiu a mesma operação de poder de Elias nas águas do Jordão. Eliseu bateu nas águas do Jordão com a capa de Elias e clamou: “Onde está o SENHOR, Deus de Elias?” (v.14). Junto com Elias, as águas tinham sido divididas e os dois tinham atravessado a pés seco, e, como antes, as águas se dividiram mais uma vez; mas, desta vez, Eliseu atravessou sozinho, revestido de poder divino e como sucessor pelo Senhor, Deus de Elias e Deus de Israel. Isso serviu de prova incontestável para Eliseu e para os discípulos dos profetas (v.15).

CONCLUSÃO – O Dever de Preparar as Novas Gerações A história da relação ministerial de Elias e Eliseu lança luz sobre o princípio cristão de que os novos discípulos são preparados pelos discípulos maduros. Assim como Deus levou Elias a preparar Eliseu no contexto dos sete mil do remanescente fiel, também o preparo da nova geração deve ocorrer no convívio de toda a Igreja.

7 WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário histórico-cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2018, p.501. 8 BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, p.477. 9 GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. São Paulo, SP: Editora Vida, 2005, p.19.

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A obra de Deus continua ininterruptamente em avanço e cada geração de crentes tem o dever de preparar a nova geração. Esse é o método estabelecido por Jesus Cristo: discípulo gera discípulos, ou, cada geração de cristãos deve gerar e preparar as novas gerações no convívio da Igreja. O chamado divino não anula a resposta humana de todas as lideranças ministeriais e membros da Igreja. Na vocação e preparo para a obra do ministério, estão associadas a busca pelos dons e capacidades espirituais vindas do Espírito Santo e a convivência, serviço e aprendizagem com discípulos maduros de vida e serviço exemplares. Nesse sentido:

1. A responsabilidade de todos os membros da Igreja abrange: por um lado, a Igreja, que deve orar para que o “Senhor da seara” envie mais trabalhadores e, nas funções de liderança ministerial, sejam levantados cristãos vocacionados e preparados por Deus (Mt 9.37-38; Ef 4.11); e, por outro lado, os membros, que devem estar sensíveis para o reconhecimento das novas lideranças nas diversas áreas de serviço da obra de Deus (Rm 1.3-8; Ef 4.11; 1 Pe 4.10-11; cf. At 13.1-3; 2 Tm 1.6).

2. A responsabilidade dos líderes ministeriais abrange: por um lado, a necessidade de estarem sensíveis aos membros que Deus tem levantado para serem preparados para a obra do ministério (Essa realidade deve fazer parte dos deveres ministeriais, cada um servindo para a preparação das novas gerações); e, por outro lado, o preparo das novas gerações, tanto na vida e serviço exemplares como a comunicação das verdades bíblicas e doutrinárias (At 6.1-7; 1 Tm 3.1-7).

3. A responsabilidade das novas lideranças ministeriais abrange: por um lado, a necessidade de que tenham consciência da vocação divina, sabendo que a direção, as oportunidades e as capacidades sobrenaturais vêm de Deus e ocorrem na comunhão da Igreja; e, por outro lado, a necessidade de que aceitem as condições que acompanham a obra ministerial. É preciso ser humilde aprendiz e respeitoso para com seus líderes, buscando crescer nas verdades bíblicas e qualidades morais e espirituais, tendo o Senhor Jesus Cristo como modelo supremo e a Palavra de Deus como autoridade suprema (At 6.1-7; 1 Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).

O preparo e crescimento para exercer a obra ministerial ocorre no relacionamento de vida, na comunhão diária, nos espaços formais de culto e serviço da Igreja local, nos espaços das salas de aula e cursos formais de preparação doutrinária e ministerial. Exige-se de quem ensina e de quem aprende o comprometimento com a verdade e santidade em Cristo conforme a Palavra de Deus.

APOIO:

Comissão de Educação da CEADEMA

Conduzindo a Educação Através do Reino