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SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2 RESUMO O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 3º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “O Plano de Deus para Israel em Meio à Infidelidade da Nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Claiton Ivan Pommerening. As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeia Atualizada – NAA (SBB, 3ª Ed.), salvo as indicações em contrário e devidamente referenciadas. Este breve subsídio de apoio à Lição 07, O Ministério de Eliseu”, apresenta um estudo bíblico sobre o ministério profético de Eliseu, conforme a narrativa de 2 Reis 2.14 – 13.21. Por meio desse conteúdo, busca-se: apresentar um quadro dos milagres realizados por Eliseu, com suas ênfases teológicas; ressaltar princípios morais e espirituais que serviram de fundamento e direção no ministério de Eliseu; e, propor uma linha de aplicação sobre como a Igreja deve manifestar a multiformidade do amor, graça, sabedoria e poder de Deus, por meio do serviço na obra de Deus. INTRODUÇÃO A narrativa de 2 Reis 2.14 – 13.21 retrata o longo e impactante ministério de Eliseu. O historiador bíblico concedeu grande ênfase aos muitos milagres que confirmaram o ministério profético de Eliseu e proclamavam a fé no Único Deus verdadeiro. O presente texto de apoio trata do seguinte conteúdo: o primeiro subtópico apresenta os milagres realizados por Eliseu e, no segundo subtópico, apresenta princípios morais e espirituais que serviram de base e direção ao ministério de Eliseu. Na conclusão, é abordado sobre como a Igreja, na realização da obra do ministério, deve refletir a multiformidade do amor, graça, sabedoria e poder de Deus. Bons estudos! 1. O MINISTÉRIO DE ELISEU E A OPERAÇÃO DE MILAGRES. A partir do translado de Elias e a sucessão profética, ocorreu o desenvolvimento do ministério de Eliseu (2 Rs 2.1-18). Desde esse tempo, ele foi reconhecido como profeta em lugar de Elias e seu ministério foi caracterizado pela operação de poder divino. O ministério de Eliseu superabundou em graça e poder divino. E, nesse contexto, as operações de milagres evidenciavam a substituição, em lugar de Elias, e testemunhavam o recebimento da porção dobrada do 1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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Page 1: SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO Revista de Adultos da EBD · A cura de Naamã da lepra 5.1-19 Esse milagre mostrou a bondade misericordiosa de Deus para com todo quanto se aproxima

SUBSÍDIO BÍBLICO E TEOLÓGICO – Revista de Adultos da EBD

Pesquisa e produção: Pr. Isaque C. Soeiro 1 Revisão orto-gramatical: Pr. Mário Saraiva 2

RESUMO O presente texto serve de apoio aos Educadores da Escola Bíblica Dominical, especialmente aos que ministram a Revista de Adultos do 3º Trimestre de 2021 (CPAD), intitulado: “O Plano de Deus para Israel em Meio à Infidelidade da Nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel”, cujo conteúdo foi desenvolvido pelo pastor-teólogo Claiton Ivan Pommerening. As citações bíblicas foram retiradas da Nova Almeia Atualizada – NAA (SBB, 3ª Ed.), salvo as indicações em contrário e devidamente referenciadas. Este breve subsídio de apoio à Lição 07, “O Ministério de Eliseu”, apresenta um estudo bíblico sobre o ministério profético de Eliseu, conforme a narrativa de 2 Reis 2.14 – 13.21. Por meio desse conteúdo, busca-se: apresentar um quadro dos milagres realizados por Eliseu, com suas ênfases teológicas; ressaltar princípios morais e espirituais que serviram de fundamento e direção no ministério de Eliseu; e, propor uma linha de aplicação sobre como a Igreja deve manifestar a multiformidade do amor, graça, sabedoria e poder de Deus, por meio do serviço na obra de Deus.

INTRODUÇÃO A narrativa de 2 Reis 2.14 – 13.21 retrata o longo e impactante ministério de Eliseu. O historiador bíblico concedeu grande ênfase aos muitos milagres que confirmaram o ministério profético de Eliseu e proclamavam a fé no Único Deus verdadeiro. O presente texto de apoio trata do seguinte conteúdo: o primeiro subtópico apresenta os milagres realizados por Eliseu e, no segundo subtópico, apresenta princípios morais e espirituais que serviram de base e direção ao ministério de Eliseu. Na conclusão, é abordado sobre como a Igreja, na realização da obra do ministério, deve refletir a multiformidade do amor, graça, sabedoria e poder de Deus. Bons estudos! 1. O MINISTÉRIO DE ELISEU E A OPERAÇÃO DE MILAGRES. A partir do translado de Elias e a sucessão profética, ocorreu o desenvolvimento do ministério de Eliseu (2 Rs 2.1-18). Desde esse tempo, ele foi reconhecido como profeta em lugar de Elias e seu ministério foi caracterizado pela operação de poder divino. O ministério de Eliseu superabundou em graça e poder divino. E, nesse contexto, as operações de milagres evidenciavam a substituição, em lugar de Elias, e testemunhavam o recebimento da porção dobrada do

1 Pr. Isaque C. Soeiro, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Satubinha (MA). Graduações em: Bacharel em Administração (UNITINS-TO), Bacharel em Teologia (FATEH-MA). Pós-graduações em: Especialização em Gestão Educacional (UNISEB-COC), Especialização em Ciência das Religiões (ILUSES/FATEH-MA), Mestrando em Ciência das Religiões (ILUSES/LUSÓFONA) e Mestrando em Teologia (FAETAD). Diretor do Instituto Pentecostal de Educação Cristã – IPEC. Membro do conselho de educação e cultura da CEADEMA. E-mail: [email protected]. 2 Pr. Mário Saraiva, pastor auxiliar na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Buriticupu (MA). Graduações em: Licenciatura em Letras, com habilitação em Português, Inglês e suas respectivas literaturas (Universidade Estadual do Maranhão – UEMA). Pós- graduações em: Especialista em Teologia (Universidade Estácio de Sá – UNESA), Pós-Graduando em Exegese Bíblica (Centro de Estudos Bet-Hakam) e Mestrando em Ciências Teológicas (Universidade de Desenvolvimento Sustentável – UDS, Assunção, Paraguai). E-mail: [email protected].

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poder que operou através de Elias. Deste modo, Eliseu ficou conhecido como profeta “homem de Deus” e realizador de “grandes feitos” (2 Rs 8.4). Isso posto, na sequência do texto, são apresentados um quadro das manifestações de poder divino por meio de Eliseu e ressaltadas as verdades que emolduraram seu ministério profético com grande manifestação de poder. 1.1 - O QUADRO GERAL DOS MILAGRES DE ELISEU. O ministério de Eliseu abrangeu os períodos de reinados de Jorão, Jeú, Joacaz e Jeoás, no reino de Israel. Deste modo, o texto de 2 Reis 2.14 – 13.21 registra acontecimentos de cinquenta anos de ministério público de Eliseu.

O historiador bíblico deu importância aos eventos milagrosos de manifestação do poder divino que ajudavam no seu principal propósito teológico: mostrar a razão pela qual os reinos de Israel e Judá caíram no exílio e servir de advertência para a geração pós-exílica. Nessa seção de 2 Reis 2.14 – 13.21, fica claro como Deus nunca deixou de manifestar sua direção e seu poder; na verdade, a abundância de eventos milagrosos, no ministério de Elias, e, ainda mais, por meio de Eliseu, serviu para ressaltar a extensão da incredulidade e apostasia do povo de Deus. Ou seja, não faltaram profetas verdadeiros, não faltou a Palavra de Deus e não faltou a manifestação do poder de Deus. No ministério de Eliseu, houve a manifestação abundante da provisão divina, por meios milagrosos. Nesse sentido, ao verificar os milagres operados por Eliseu, deve-se ter em mente dois fatos: 1) Em relação a Elias, as operações de poder indicavam que a sucessão profética tinha sido legítima, segundo a vontade de Deus. Cada milagre era uma confirmação da porção dobrada recebida por Eliseu. Dessa forma, o historiador bíblico deixou claro que no ministério de Eliseu ocorreram mais milagres do que no ministério de Elias como indicativo do recebimento da porção dobrada; e, 2) Em relação a Deus, as operações de poder mostravam como, por meio de Eliseu, transcorria a grandeza, a bondade e a suficiência do poder de Deus. Os milagres mostraram a ampla ação de Deus na história do seu povo e dos povos vizinhos, como o provedor, o restituidor, o restaurador e o juiz. Abaixo é apresentado um quadro geral dos milagres de Eliseu, com suas principais ênfases teológicas:

AS OPERAÇÕES DE PODER 2 REIS ÊNFASES TEOLÓGICAS

A abertura do rio Jordão 2.14 Esse milagre atestou a legitimidade da sucessão profética e o recebimento de porção dobrada do poder que agia por meio de Elias.

A cura das águas de Jericó 2.19-22 A ação de tomar sal no prato novo e aplicar na nascente de água de Jericó indicava o milagre da purificação efetuado por Deus.

A destruição dos jovens escarnecedores

2.23-24

Esses jovens (não crianças) desprezaram, escarneceram e zombaram publicamente do ministério profético de Eliseu. No contexto judaico daqueles dias, a reação do profeta não foi exagerada; a “maldição em nome do Senhor” era justa e necessária, sendo de Deus a ação de destruição dos 42 adolescentes como a paga justa.

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A providência de água para os três reis: de Israel, de

Judá e de Edom 3.15-17,20

Esse milagre manifestou a provisão divina necessária para a vitória contra os moabitas.

A vitória sobre os moabitas 3.18-19,21-27 A vitória sobre os moabitas foi dada pelo poder de Deus. Esse milagre, por meio da atividade militar da junta Israel, Judá e Edom, foi a manifestação de juízo divino.

A multiplicação do azeite da viúva de um discípulo dos

profetas 4.1-7

Esse milagre de provisão mostrou a afinidade do profeta Eliseu com seus auxiliares (os discípulos dos profetas) e os mais vulneráveis (viúvas, órfãos e estrangeiros).

Profetizou o nascimento do filho da Sunamita

4.8-17 Essas duas manifestações de poder dizem respeito ao dom da vida. Foi a provisão e restituição da vida: em relação à mulher sunamita, o poder divino resolveu tanto a dor da esterilidade como a dor do luto do único filho; e, em relação ao filho da sunamita, o poder divino trouxe seu nascimento como sua ressurreição dos mortos.

Ressurreição do filho da Sunamita

4.18-37

Tirou a morte da panela 4.38-41

Esse milagre é ilustrativo como símbolo da suficiência de Deus em prover o sustento, a cura, a purificação e restauração. A farinha colocada indicava o poder divino atuando sobre a mistura nociva.

A multiplicação dos pães 4.42-44 Esse milagre mostrou a provisão de multiplicação do que é essencial para a subsistência; o pão das primícias foi multiplicado para saciar todo o povo.

A cura de Naamã da lepra 5.1-19

Esse milagre mostrou a bondade misericordiosa de Deus para com todo quanto se aproxima dele com fé e humildade, em obediência à palavra de Deus, independentemente da etnia e posição social.

A maldição da lepra sobre Geazi – seu auxiliar.

5.20-27

Essa manifestação de poder divino mostra o juízo divino sobre seus servos que se desviam pela avareza e orgulho. A palavra de juízo impôs a lepra tirada de Naamã sobre Geazi e seus descendentes.

Fez nadar um machado 6.1-7 Essa operação de poder mostrou como Deus cuida e supre as necessidades materiais no crescimento da sua obra, haja vista que o “ferro” era raro e caro.

Revelou ao rei de Israel o esconderijo dos siros

6.8-10 Essas manifestações de poder indicavam a soberania de Deus sobre os povos no âmbito político e militar. Pelo profeta de Deus, foram realizadas coroações de reis, proclamadas vitórias militares, decretadas curas, profetizados períodos de fome e decretos de morte. Tanto o povo de Deus, Israel e Judá, como os povos vizinhos foram impactados pelo poder divino através do profeta Eliseu.

A visão espiritual dada a Geazi diante dos siros

6.11-17

A imposição de cegueira e retorno da visão sobre os

siros 6.18-23

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O suprimento de alimento em Samaria

6.31 – 7.20

A sentença de morte de um capitão

7.2,16-20

Sentenciou a morte de Bem-Hadade, rei da Síria

8.7-10

Profetizou a maldade que Hazael faria ao reino de

Israel 8.11-15

A unção de Jeú de Israel 9.1-13

A vitória de Jeoás 13.14-25

Profetizou um período de seca por sete anos

8.1

A ressurreição pelos seus restos mortais

13.20-21

Assim como o final do ministério de Elias foi marcado pelo extraordinário de Deus, também, no fim da vida de Eliseu, houve a manifestação do poder de Deus. Além disso, essa ressurreição mostrava que Deus tinha comprometimento com as promessas dadas por meio de Eliseu.

Esses milagres são instrutivos; devem ser estudados separadamente, conforme o contexto em que cada um ocorreu. Porém, o montante deles caracterizou o ministério de Eliseu como autêntico e relevante para o reino de Israel, naquele período, tanto para cuidar o remanescente fiel como para conclamar os infiéis à fidelidade ao Único Deus verdadeiro. 1.2 - OS PRINCÍPIOS QUE QUALIFICARAM OS MILAGRES DE ELISEU. Eliseu fez muito mais milagres do que Elias e até mesmo depois de morto seus restos mortais serviram para a ressurreição de um homem, conforme o poder de Deus. Foi o profeta dos grandes feitos de Deus, conforme a porção dobrada que recebeu. Entretanto, tanta abundância de poder divino não foi usada como pretexto para a quebra dos princípios bíblicos e espirituais que qualificam o ministério autêntico e fiel. A observação do texto de 2 Reis 2.14 – 13.21 permite identificar como o profeta Eliseu foi fiel a Deus, ao seguir os princípios bíblicos e rejeitar os caminhos da prevaricação.

1.2.1 - O Compromisso com os Princípios Corretos. O ministério de Eliseu foi dinâmico e altamente movimentado; porém, em todas as situações, Eliseu conseguiu cultivar a obediência a Deus. Ele desenvolveu a fidelidade a Deus tanto na sua vida

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pessoal como no seu ministério público; foi fiel ao Deus a quem servia e representava no ministério profético. Eliseu fez dos princípios morais e espirituais o fundamento e o parâmetro para a condução da sua vida e ministério. A. Eliseu entregou-se como instrumento da vontade de Deus. Eliseu foi um exemplo sobre como

o servo deve se colocar à disposição nas mãos de Deus. Como servo fiel, ele não ficou nem aquém e nem buscou ir além do que Deus quis fazer por sua instrumentalidade. Ele dispôs a vida como instrumento de manifestação do bondoso, gracioso e suficiente poder de Deus. Isso exige intenção, humildade e dependência quanto ao querer de Deus.

B. Eliseu permitiu que seu ministério fosse expressão da graça e poder de Deus, indistintamente. O ministério de Eliseu foi marcado por dinamicidade. Ele enfrentou diversas situações, desde o veneno na panela e machado perdido sob a água até o enfrentamento de um exército inimigo. Ele foi procurado por diferentes tipos de pessoas, diferentes quanto à raça/étnica, posição social, entre outros fatores social e espiritual. O servo fiel demonstra, no seu serviço, o caráter do seu Senhor. Deus concede a capacitação, dá ordens e oportunidades para que sua multiforme graça e poder sejam manifestados pelo serviço dos seus servos. Nesse sentido, Eliseu não tratou algumas situações com menos indiferença ou outras com maior atenção. Ele não tratou as pessoas com parcialidade, olhando a quem. Ele atendeu desde uma viúva até reis e, desse modo, demonstrou a multiformidade da graça e poder de Deus. Qual o valor de um servo que sonega aquilo que recebeu para servir aos outros? Qual o valor de um servo que desperdiça as oportunidades de serviço por indiferença e questões meramente pessoais? O servo fiel não enterra as capacidades dadas por Deus, mas serve com diligência segundo o que recebeu.

C. Eliseu permitiu que seu ministério fosse uma associação entre Palavra e poder. Eliseu foi um profeta de palavras e obras confirmadas pelo Senhor. Por um lado, ele não impediu a manifestação do poder divino, para que a Palavra fosse proclamada com fidelidade; e, por outro lado, não menosprezou a proclamação fiel da Palavra, para que o poder divino fosse manifestado em sua multiformidade. De fato, Eliseu exemplificou como a Palavra de Deus e poder de Deus são fatores necessários, intrínsecos e insubstituíveis no ministério cristão. Jesus Cristo, o profeta perfeito, evidenciou o equilíbrio entre palavras e obras (At 1.1). O ministério cristão não deve se desequilibrar somente para as manifestações de poder com pouca ou nenhuma proclamação da Palavra. O ministério cristão não deve se desequilibrar para a proclamação da verdade que impede as manifestações do poder divino. Nem movimentos sem Palavra nem ortodoxia morta, mas uma associação entre a Palavra e o poder divino que segue a proclamação fiel da Palavra de Deus.

D. Eliseu demonstrou a cooperação divino-humana no ministério. A essência do ministério cristão consiste na proclamação da Palavra de Deus que exige fé e obediência por parte do homem (Sl 119.4; 2 Tm 2.15; 3.14 – 4.5). Deus fala e opera por meio dos seus ministros e isso reivindica atitudes de fé e arrependimento, conversão e regeneração. Nesse sentido, Eliseu aproveitou as

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oportunidades para proclamação da Palavra que oportunizaram o arrependimento, a fé e a obediência. Além do mais, os milagres ocorreram no contexto da proclamação da vontade divina e, em muitos casos, exigiram respostas de fé dos envolvidos: alguns milagres exigiram atitudes de fé (como no caso de Naamã) e outros exigiram meios naturais para operações sobrenaturais (como na multiplicação dos pães e resgate do machado submerso). “Isso demonstra que os milagres que Deus opera na vida dos seus servos acontecem muitas vezes em cooperação com a operosidade humana, pois o Senhor tem compromisso com pessoas que têm fé, mas também com aqueles que são diligentes e trabalhadores”3.

1.2.2 - A Evitação dos Princípios dos Erros. O profeta Eliseu foi consistente em seguir os princípios morais e espirituais estabelecidos por Deus e, também, agiu ativamente na evitação dos caminhos do orgulho, avareza e ganância; ele se esquivou das seduções do poder, da sexualidade e das riquezas. A grande quantidade de informações bíblicas sobre o ministério de Eliseu mostra seu cuidado em se esquivar das seduções carnais que rodam o exercício do ministério. As principais seduções carnais que foram evitadas pelo profeta Eliseu e que sempre incorrem como desviados no ministério cristão são: A. Eliseu evitou sucumbir às influências políticas pelo abuso do seu ministério. Eliseu foi

reconhecido pela sua importante posição ministerial como o profeta de Deus, constituído em lugar de Elias. Eliseu tinha acesso a reis, capitães, escola dos profetas e pessoas ricas; ele poderia se locupletar e buscar benefícios políticos e econômicos; porém, ele se conservou dentro da posição dada por Deus, não se deixou conduzir por ilusões políticas e não se subjugou aos poderes e riquezas mundanas.

B. Eliseu evitou sucumbir ao enriquecimento pelo abuso dos milagres. Eliseu não amou o dinheiro, não fez do seu ministério um meio para acumular riquezas e em nenhum momento propôs abusar do poder divino que operava através dele. Não somente evitou fazer do seu ministério uma fonte de renda financeira como não se associou com a ganância do seu servo Geazi (2 Rs 5.14-27). O dom da graça de Deus manifestada para com um militar estrangeiro do alto escalão do reino da Síria foi explorado como meio de ganho econômico por Geazi; sua busca por riqueza deu em grande perda moral e espiritual, que repercutiu na sua descendência (2 Rs 5.26-27). O comentarista Charles Martin observa que a avareza e ganância deformam a graça e bondade de Deus manifestadas no ministério4. A avareza e ganância caracterizam os falsos obreiros que mercadejam a graça de Deus em Cristo (1 Tm 4.1-2; 6.3-10; 2 Pe 2.1-3).

C. Eliseu evitou fazer espetacularização pelo abuso dos milagres. O profeta Eliseu não se ensoberbeceu pelo poder divino que transcorria por meio dele e não fez demonstrações de poder como se fosse o dono de tais manifestações. Ele não manipulou nem abusou do poder divino. Ele não fez espetáculos com performances públicas. Pelo contrário, Eliseu manteve-se na posição de servo, que deu lugar de evidência a Deus, e como instrumento da direção de Deus.

3 POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação: as correções e os ensinamentos divinos no período dos reis de Israel. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2021, p.92. 4 MARTIN, Charles G. 1 e 2 Reis. In: BRUCE, F. F. (org.). Comentário bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo, SP: Editora Vida, 2008, p.581 (p.537-603).

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CONCLUSÃO – A Manifestação da Multiforme Graça e Poder de Deus O relato do ministério de Eliseu lança luz sobre o ministério cristão que cabe à toda a Igreja. Todos os membros recebem de Deus dons, capacidades e oportunidades para servir na obra de Deus (Rm 12.3-8; 1 Co 12.12-31; Ef 4.7-13; 1 Pe 4.10-11). Além do mais, Eliseu exerceu seu ministério profético de tal forma que permitiu transparecer e transcorrer a graça e poder divino. A Igreja é o povo gerado pelo amor, graça e poder de Deus em Cristo, e, em sua forma de viver, deve exibir a multiforme graça de Deus. Os textos de Efésios 3.6-12, 5.8-20 e 1 Pedro 4.8-11 deixam claro o propósito de Deus de expor sua graça e poder, por meio da sua Igreja, na medida em que cada membro trabalha segundo a vontade divina e para a glória de Deus. A expressão “multiforme graça de Deus” é traduzida pela Nova Versão Internacional (NVI) como “a graça de Deus em suas múltiplas formas” e pela Nova Versão Transformadora (NVT) como “fazendo bom uso da múltipla e variada graça divina”. Esse é um dos propósitos pelos quais cada cristão deve pautar a sua vida: ser trabalhador que coopera na obra de Deus, buscando refletir a múltipla graça de Deus na Igreja e na sociedade.

1. Estou servindo no ministério cristão? No corpo de Cristo, não há espaço para a ociosidade e inoperância. A união com Cristo envolve frutificar trabalhando de modo firme, inabalável e abundante (1 Co 15.58).

2. Minha vida e serviço refletem o amor, a graça e o poder de Deus? A Igreja não deve sonegar a manifestação do amor, graça e poder de Deus. A Igreja não deve limitar a expressão da multiforme graça divina. A Igreja não precisa maquiar a graça e o poder de Deus. A função do cristão unido em Jesus Cristo é refletir tudo quanto Deus propôs testemunhar por meio da Igreja.

O trabalho na obra de Deus deve ter por base o amor, graça, sabedoria e o poder de Deus, regido pelas Escrituras. A Igreja, formada por membros operosos, é o testemunho de Deus neste mundo.

APOIO:

Comissão de Educação da CEADEMA

Conduzindo a Educação Através do Reino