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Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS)F981s Serviço Social / Fundação Universidade do Tocantins; EADCON.

– Curitiba: EADCON, 2011.558 p.: il.

Nota: Caderno de Conteúdos do 7º e 8º períodos do curso de Serviço Social (apostila).

1. Serviço Social – Estudo e ensino. I. EADCON. II. Título.

CDD 378

Ficha Catalográfica elaborada pela EADCON. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424

Direitos desta edição reservados à UNITINS.É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da UNITINS.

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS

Reitor André Luiz de Matos Gonçalves

Vice-Reitora Maria Lourdes F. G. Aires

Pró-Reitor de Graduação Geraldo da Silva Gomes

Diretora de EaD e Novas Tecnologias Denise Sodré Dorjó

Diretora de Administração Acadêmica Fabíola Peixoto de Araújo

Coordenadora de Planejamento Pedagógico e Midiático Martha Holanda da Silva

Coordenadora do Curso Elizângela Glória Cardoso

SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO CONTINUADA – EADCON

Sócio Proprietário Júlio César Algeri

Diretor Administrativo-Financeiro Armando Sakata

Coordenação Geral Dinamara Pereira Machado

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Sumário

Orientação e Supervisão da Prática Profissional II 5

1 A profissão de assistente social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

2 Algumas áreas de atuação do assistente social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17

3 Sobre os espaços sócio-ocupacionais tradicionais do Serviço Social . . . . . . . . . .25

4 Os espaços sócio-ocupacionais na contemporaneidade . . . . . . . . . . . . . . . . . .35

5 O serviço social e a reestruturação produtiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

6 As categorias cotidiano e mediação na atuação profissional do assistente social . . . .59

7 A instrumentalidade na atuação profissional do assistente social . . . . . . . . . . .69

Questão de Gênero, Etnias e Minorias 77

1 Estudo das categorias de análise: etnias e minorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81

2 Diversidade cultural: os povos indígenas do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91

3 Quilombolas e afrodescendentes no Brasil de hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101

4 Ribeirinhos: outro modo de viver . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .111

5 A categoria gênero: construção e debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .119

6 Do Movimento Feminista às políticas públicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129

7 O exercício da sexualidade: novas identidades de gênero . . . . . . . . . . . . . . .137

Estágio Supervisionado II 147

1 Exigências do estágio supervisionado: diário de campo e plano de estágio . . . .151

2 Alguns antecedentes à elaboração do projeto de intervenção . . . . . . . . . . . .165

3 Vamos aprender a elaborar o Projeto de Intervenção? – parte I . . . . . . . . . .177

4 Vamos aprender a elaborar o Projeto de Intervenção? – parte II . . . . . . . . .189

5 Projeto de Intervenção: a fase da execução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .195

6 Monitoramento e avaliação do Projeto de Intervenção . . . . . . . . . . . . . . . .205

7 Relatório do Projeto de Intervenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .215

Trabalho de Conclusão de Curso I 219

1 Trabalho de conclusão de curso e os diferentes tipos de conhecimento . . . . .223

2 Por onde começar meu TCC?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .233

3 Revisão de literatura: o corpo do trabalho de conclusão de curso . . . . . . . . .243

4 Qual é seu problema? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .251

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5 Metodologia do seu trabalho de conclusão de curso . . . . . . . . . . . . . . . . .261

6 Muito prazer! Eu me chamo artigo científico! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .269

7 Artigo científico de revisão bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .277

Avaliação e Monitoramento de Programas e Projetos Sociais 285

1 Processo histórico da avaliação de políticas e programas sociais . . . . . . . . . .289

2 Processo de avaliação: elementos e características . . . . . . . . . . . . . . . . . .301

3 Processo de avaliação: centralidade nos adversários e nos participantes . . . .309

4 Processo de avaliação: conhecendo tipologia e métodos . . . . . . . . . . . . . .319

5 Metodologia de avaliação de programas e projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . .329

6 Avaliação econômica de programas e projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .339

7 O Serviço Social e o processo de avalia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .349

Trabalho de Conclusão de Curso II 357

1 Origem do TCC e orientações preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .361

2 Áreas de estudo científico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .369

3 Elaborando seu TCC: páginas pré-textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .377

4 Elaborando seu TCC: páginas textuais I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .383

5 Elaborando seu TCC: páginas textuais II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .395

6 Elaborando seu TCC: páginas pós-textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .407

7 Revisão, formatação e postagem do TCC na ferramenta on-line . . . . . . . . . . .421

Política Social Setorial: Habitação e Meio Ambiente 435

1 Moradia: uma necessidade, um direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .439

2 Autoempreendimento, propostas autogestionárias e movimentos de moradia . . .451

3 Histórico da política habitacional no Brasil e o Estatuto da Cidade . . . . . . . .459

4 A nova política habitacional, os fluxos migratórios e os conflitos urbanos . . . .467

5 Responsabilidade ambiental e conflitos ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . .477

6 Desenvolvimento e questão da poluição e sociedade de risco . . . . . . . . . . .485

7 Exploração de recursos naturais e o papel do Serviço Social . . . . . . . . . . . .493

Política Social Setorial: Questão Rural e Urbana 499

1 Políticas sociais: um pouco de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .503

2 Questão agrária brasileira: conceitos e contexto histórico . . . . . . . . . . . . .509

3 Movimentos sociais rurais e novas estratégias: a agricultura familiar . . . . . . .521

4 Questão urbana: a ação dos movimentos sociais urbanos . . . . . . . . . . . . . .535

5 Programas de desenvolvimento rural e urbano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .541

6 Cidades brasileiras e suas demandas sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .547

7 O assistente social e as demandas dos setores urbanos e rurais . . . . . . . . . .555

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EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos Josiane Aparecida Ferreira

Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires

Revisão Linguístico-Textual Domenico Sturiale

Gerente de Divisão de Material Impresso Rogério Adriano Ferreira da Silva

Revisão Digital Leyciane Lima OliveiraRogério Adriano Ferreira da Silva

Projeto Gráfico Katia Gomes da SilvaRogério Adriano Ferreira da Silva

Capa Rogério Adriano Ferreira da Silva

EQUIPE EADCON

Coordenador Editorial William Marlos da Costa

Assistentes de Edição Cristiane Marthendal de OliveiraJaqueline NascimentoLisiane Marcele dos SantosSilvia Milena BernsdorfThaisa Socher

Programação Visual e Diagramação Ana Lúcia Ehler RodriguesBruna Maria CantadorDenise Pires PierinKátia Cristina Oliveira dos SantosSandro Niemicz

Créd

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Caros acadêmicos,

Sejam bem-vindos à nossa disciplina de Orientação e Supervisão da Prática Profissional II. Sabemos o quanto você anseia pelo momento do contato com a tão falada prática do assistente social e o quanto esse processo de preparação pode parecer interminável. O presente material foi construído no sentido de facilitar o processo e o primeiro contato com o campo prático. Aborda vários temas que são indispensáveis ao diálogo anterior ao momento do ingresso no campo de estágio.

O primeiro capítulo faz uma abordagem geral a respeito da profissão de assistente social, com a intenção de aproximar estudante e realidade atual. O segundo aborda algumas áreas de atuação do assistente social, como forma de introdução às principais áreas profissionais. O seguinte traz as áreas de atuação tradicionais do assistente social e aborda as que mais contratam, inclusive atualmente.

No quarto capítulo, estão as áreas atuais, contemporâneas de atuação do assistente social, no sentido de demonstrar o quanto o Serviço Social cresceu desde sua gênese. Já o quinto capítulo faz uma breve abordagem sobre a reestruturação produtiva e suas principais consequências no mundo do trabalho como um todo, em especial do Serviço Social.

No sexto capítulo, você encontrará uma importante reflexão a respeito das categorias cotidiano e mediação e como elas se configuram na vida pessoal e profissional de todos nós. No último, porém não menos importante, você encontrará a pertinente reflexão sobre a instrumentalidade do Serviço Social. Aqui você terá a oportunidade de rever alguns conceitos, sempre imprescindíveis ao fazer profissional do assistente social.

Paz e luz a todos!

Profª. Josiane Aparecida Ferreira

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 9

Introdução

Para que se compreenda melhor este capítulo, é muito importante rever os conteúdos das disciplinas de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I e Serviço Social e Questão Social. Assim será mais fácil para você vislumbrar um panorama geral a respeito da profissão na atualidade e conceituar o Serviço Social como profissão.

O Serviço Social é uma profissão que demanda uma formação superior e um registro no conselho profissional e tem como matéria-prima as expressões da questão social (conforme já visto na disciplina de Serviço Social e Questão Social, no 3º período).

O curso superior de Serviço Social foi oficializado no Brasil por meio da Lei n. 1989/53, e a profissão de Assistente Social foi regulamentada pela Lei n. 3252, de 27 de agosto de 1957. Assim, para ser assistente social, é neces-sário cursar universidade ou faculdade de Serviço Social (bacharelado) e, após, colar grau, registrar-se no CRESS – Conselho Regional de Serviço Social. Sem esse reconhecimento, não se pode ser assistente social.

O assistente social, portanto, é o profissional formado em Serviço Social e registrado no conselho regional, que interfere na realidade e busca sua trans-formação por meio de intervenção investigativa, pesquisa e análise da reali-dade social. Atua também na formulação, execução e avaliação de serviços, programas, projetos e políticas sociais que visam à preservação, defesa e à ampliação dos direitos e da justiça social. Vejamos como surgiu essa profissão.

1.1 O Surgimento do Serviço social como profissão

O Serviço Social surge da necessidade capitalista quando da emergência da questão social e do conjunto de suas expressões que culmina em desigualdade social, econômica e cultura. Ou seja, surge de situações criadas pela sociedade capitalista madura, do antagonismo entre o Capital e o Trabalho.

No Brasil, mais precisamente em São Paulo, o Serviço Social surge em 1936, quando se vivenciava um período historicamente muito importante, que aponta dois grandes fatos sociopolíticos: a Segunda Grande Guerra na Europa e o período do Estado Novo no Brasil. Nessa época, importavam-se modelos

A profissão de assistente social 1

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

10 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

europeus e norte-americanos para a atuação do Serviço Social, que não se enquadravam na realidade brasileira. Isso fez com que a profissão se realizasse como imediatista, assistencial, caritativa, missionária, clientelista e beneficente.

Os anos de 1945 a 1958 trouxeram o desenvolvimento tecnológico moderno, científico e cultural, o que proporcionou maior intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos (potência emergente da época). Os profissionais começavam a se posicionar de maneira a tomar consciência da necessidade de criar novos métodos e técnicas próprias à realidade brasileira.

A partir da década de 1960 até os dias atuais, mais precisamente com o movimento de reconceituação e, em especial, com o chamado Congresso da Virada em 1979, marco referencial da procura de um modelo teórico-prático para a realidade brasileira, o Serviço Social fundamenta sua teoria nas Ciências Sociais. Apoia-se mais precisamente no legado marxista, para inserir-se nos fenômenos em transição, procurando capacitar o homem para a emancipação, a fim de que possa ser capaz de construir sua própria vida e contribuir para as conquistas sociais.

Um dos principais objetivos da profissão é, antes de tudo, contribuir para a emancipação do sujeito social para, dessa forma, contribuir para a construção de uma nova ordem societária. Reconhece, porém, nos determinantes estruturais e nas dificuldades da realidade social, os limites e as possibilidades do trabalho profissional, posicionando-se a favor da justiça e dos direitos sociais.

O contexto da regulamentação da profissão é o de que o Estado Brasileiro assumiu uma perspectiva reguladora delegando aos Conselhos Profissionais a função de controle das profissões. Contudo o Serviço Social compreendeu a profissão e suas entidades em outra perspectiva, a partir da adoção de referen-ciais teórico-metodológicos que possibilitam a construção de um processo critico, enquanto instrumento de proposição de um projeto profissional ético-político.

Na década de 1990, a Lei n. 3252, de 27 de agosto de 1957 foi alterada pela Lei n. 8662, de 07 de junho de 1993, a qual, em seu texto legal, expressa um conjunto de conhecimentos particulares e especializados, a partir dos quais se busca elaborar respostas concretas às demandas sociais. A nova lei de regu-lamentação da profissão e o Código de Ética de 1993, fornecem respaldo jurí-dico e nova dimensão aos instrumentos normativos legais, superando os limites apontados até então.

Não há dúvida de que o Serviço Social Brasileiro, nas últimas décadas, redi-mensionou-se e renovou-se no âmbito de sua interpretação teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, em um forte embate com o conservadorismo profissional, adequando criticamente a profissão às exigências da atualidade, qualificando-a para hoje, sem dúvida, ser uma profissão reconhecida e legiti-mada socialmente.

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 11

Dessa forma, pode-se afirmar que

Assim, trabalho e formação profissional encontram-se estreitamente conectados na resposta a um desafio comum: o seu enraizamento na história contemporânea, de modo que qualifique o desempenho do assistente social e torne possível a atualização e a adequação do projeto ético-político do Serviço Social aos novos tempos, sem abrir mão de seus compromissos com a construção da cidadania, a defesa da esfera pública, o cultivo da democracia, parceira da equidade e da liberdade (IAMAMOTO, 1999, p. 11).

O Serviço Social é uma profissão majoritariamente atuante no âmbito público, e o Estado representa uma ordem social determinada, a capitalista, então necessita da prática profissional do Assistente Social, para a relativização da realidade social gerada pela sociedade capitalista e para controlar ou cana-lizar os conflitos emergentes e recorrentes. Certamente não se deve acatar a ideia de que exista alguma magia que cure todos os males da humanidade, entrando no idealismo inútil. Mas o Assistente Social deve assumir como direito inalienável da população explorada, a busca e a garantia da política social, de forma organizada e planejada. Não deve confundir o assistencialismo com assistência, nem deixar a demagogia ofuscar a realidade e tomar conta dela.

Agora observe suas áreas de atuação.

1.2 Áreas de atuação e panorama atual

Como já foi abordado, o Serviço Social pode se inserir tanto no setor público quanto no privado ou no terceiro setor. Mas o maior empregador do assistente social ainda é o setor público, embora se saiba da realidade estatal, em que “a retração do Estado em suas responsabilidades e ações no campo social mani-festa-se na compressão das verbas orçamentárias e no deterioramento da pres-tação de serviços sociais públicos”, conforme afirma Iamamoto (1999, p. 42).

Aos poucos, o Estado vem se desresponsabilizando e transferindo à socie-dade civil grande parcela das refrações da questão social. Hoje fala-se em filan-tropia empresarial, o que remete a uma refilantropização social por parte das grandes corporações econômicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem cursos de pós-graduação em filantropia social voltados à gestão da pobreza, o que é amplamente divulgado pela mídia e, obviamente, resulta em excelente marketing empresarial.

Não é o renascimento da filantropia do século XIX, mas uma filantropia do grande capital, sob novas bases, a qual evoca a solidariedade entre Estado e Sociedade Civil, porém, se apresenta incapaz de conter ou até mesmo encobrir os efeitos da barbárie social resultante da reprodução ampliada da pauperi-zação. Uma outra fatia do mercado de trabalho do assistente social é, atual-mente, o das organizações não-governamentais que estão empregando muitos assistentes sociais em suas ações.

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

12 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

Para exemplificar as diversas áreas de atuação do Serviço Social, podemos citar primeiramente o primeiro setor (público), no qual há possíveis demandas de assistente social na área de: saúde, assistência social , previdência, educação, habitação, criança e adolescente, idosos, pessoas com deficiência e gestão social de políticas públicas.

No segundo setor (privado), temos as seguintes possibilidades de atuação: recursos humanos, gerenciamento participativo, planejamento estratégico, rela-ções interpessoais, qualidade de vida do trabalhador, treinamentos organizacio-nais, elaboração ou implementação de projetos e programas de prevenção de riscos sociais.

E, no terceiro setor (misto – ONG’s e OSCIP’s): atendimento a pessoas e famílias que estão à margem do processo produtivo ou fora do mercado de trabalho, defesa e garantia dos direitos dessa população e trabalho em conjunto com um corpo de voluntários.

Agora é possível questionar: o que um assistente social faz nesses espaços? Isso será mais aprofundadamente discutido nos capítulos vindouros deste caderno.

O assistente social tem seu trabalho pautado pelas legislações pertinentes à sua área de atuação e pelo Código de Ética profissional, assim como pela lei de regulamentação da profissão. Embora seja uma profissão liberal, no Brasil não se configura dessa forma. O assistente social, no Brasil, é um profissional especializado que vende sua força de trabalho para algumas entidades empre-gadoras de caráter patronal, empresarial ou estatal em que haja essa demanda e que se proponham a contratá-lo para que a supra.

É um profissional que atua desenvolvendo ou propondo políticas públicas que possam facilitar o acesso dos segmentos populacionais aos serviços e bene-fícios socialmente construídos e conquistados, principalmente aqueles da área da Seguridade Social. Geralmente, as instituições requisitantes do profissional de Serviço Social se ocupam de questões relacionadas a: crianças, adolescentes e adultos moradores de rua, crianças em trabalho precoce, com dificuldades fami-liares ou escolares, sem escola, em risco social, com deficiências, sem família, internadas, doentes.

Essas instituições também se ocupam de pessoas desempregadas, em conflito familiar ou conjugal, aprisionadas, em conflito nas relações de trabalho, hospi-talizadas, doentes, organizadas em grupos de interesses políticos em defesa de direitos, pessoas com deficiência, idosos asilados, isolados, organizados em centros de convivência, hospitalizados, doentes, minorias em geral e demais expressões da questão social.

Em razão da experiência acumulada no trabalho institucional, o profis-sional assistente social tem-se caracterizado pelo seu interesse, competência e intervenção na gestão de políticas públicas. Atualmente contribui efetiva-

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 13

mente não só na execução, mas na implementação e defesa dessas políticas, a exemplo do Sistema Único de Saúde – SUS –, da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS – e do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA –, parti-cipando de Conselhos e Conferências Municipais, Estaduais e Federais, em que se estabelecem as diretrizes gerais de execução, controle e avaliação das políticas sociais.

Segundo o sítio do CFESS/CRESS, a inserção no mercado de trabalho tem-se dado por meio de concursos públicos, processos seletivos, amplamente divul-gados em órgãos de imprensa, ou em modalidades escolhidas para oferta de emprego ou solicitação de serviços técnicos especializados. É uma profissão que considera uma questão ética se submeter a processos transparentes, públicos, na medida em que publica e defende princípios de democracia e de probidade. O Mercado de Trabalho para o assistente social compõe-se de

[...] instituições como prefeituras, associações, entidades assisten-ciais e de apoio à luta por direitos, sistema judiciário e presidiário, sistema de saúde, empresas, sindicatos, sistema previdenciário, ONG’s, centros comunitários, escolas, fundações, universidades, centros de pesquisa e assessoria (CFESS, s/d, s/p).

Um paradoxo na profissão é que, como as injustiças sociais e a desigual-dade são persistentes e estruturais, enquanto permanecerem haverá campo de atuação profissional. Nesse sentido, é sempre possível expandir o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, fruto das mesmas injunções políticas e econômicas que enxugam o emprego no país, também se retraem alguns campos, proporcionalmente ao universo de profissionais da área de Serviço Social no país (cerca de 53.000, dados da última atualização do cadastramento dos CRESS).

Considera-se em expansão, por exemplo, o contrato de prefeituras para planejamento e/ou programação de políticas sociais, devido à interiorização e descentralização das políticas públicas; solicitação de assessorias ou consulto-rias em projetos e programas sociais; solicitação de projetos para captação de recursos, entre outros.

Quanto à remuneração, não há uma lei de piso salarial. A categoria se orga-niza majoritariamente em sindicatos por ramos de atividade e, geralmente, a remuneração é definida pelos contratos coletivos nas diversas áreas de trabalho. Assim, considerando-se as disparidades regionais e a lógica econômica, os salá-rios têm variado girando em torno de R$ 500,00 a R$ 7.000,00, dependendo da área e da experiência profissional, da natureza técnico-política e teórico-metodológica. Existem atualmente no país, segundo o CFESS, cinco Sindicatos de Assistentes Sociais e uma Federação Nacional.

Maiores informações sobre a profissão de Serviço Social, em nível nacional, podem ser encontradas na página do Conselho Federal de Serviço Social –

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

14 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

CFESS: <http://www.cfess.org.br> e-mail: [email protected] ou ainda na página da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS: <http://www.abepss.org.br>. Nos estados, as informações locais poderão ser acessadas por meio dos endereços dos Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS, localizados também na Home Page do CFESS <http://www.cress-sc.org.br/servicosocial/profissao.php>.

Quanto às condições de trabalho do assistente social, estas devem ser adequadas e dignas, asseguradas pelas instituições contratantes, que lhe permita proceder à escuta, organizar e participar de reunião, estabelecer contatos e fazer os encaminhamentos necessários à atuação técnico-operativa, em cumpri-mento aos artigos 4° e 5° da Lei n. 8.662/93, das competências e atribuições profissionais. É preciso garantir-lhe recursos materiais e humanos para que a sua atuação se realize de forma competente e efetiva.

Para o assistente social, é imprescindível o exercício do sigilo e dos prin-cípios profissionais. Em geral, são contratados assalariados, mas registram-se, também, as práticas de caráter autônomo, lembrando seu caráter de “profis-sional liberal”. Embora o que caracterize o Serviço Social como profissão liberal não seja seu caráter autônomo, e sim o fato de ter um conjunto de conhecimentos específicos, um Código de Ética e uma Lei de Regulamentação. A carga horária de trabalho deve considerar as atividades de planejamento, execução, estudos/pesquisas, avaliação e a relação com a “população” atendida, os usuários do Serviço Social, quantitativa e qualitativamente. Assim tem variado de 4, 6 ou 8 horas diárias, conforme o contrato e/ou a atribuição.

Saiba mais

O dia do Assistente SocialComemora-se o dia do assistente social no dia 15 de maio, data que marca a profissão desde o seu nascimento. O dia 15 de maio foi a data escolhida para a publicação de dois documentos importantes para os fundamentos do Serviço Social: em 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIII publicava a Encí-clica “Rerum Novarum”, apresentando ao mundo católico os fundamentos e as diretrizes da Doutrina Social da Igreja. No Brasil, em 15 de maio de 1931, em comemoração aos 40 anos da Rerum Novarum, líderes da Igreja Católica, inspirados na Doutrina Social da Igreja, publicam a nova Encícli-ca Social: a “Quadragésimo Ano” redigida pelo Papa Pio XI. Entre no sítio <http://www.cfess.org.br> e saiba mais sobre esse importante dia.

Para concluir, podemos afirmar que, neste capítulo, você pôde (re)conhecer a profissão de assistente social e sua situação atual. Pôde receber algumas

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 15

informações sobre o mercado de trabalho, a fim de ter uma visão geral da profissão, e revisou o contexto do surgimento do Serviço Social.

No próximo capítulo, você terá a oportunidade de aprofundar seu conhe-cimento acerca das áreas de atuação profissional do assistente social. Então daremos continuidade a esse assunto.

Referências

ABEPSS. Disponível em: <www.abepss.org.br>. Acesso em: 14 jul. 2009.

CFESS. Disponível em: <http://www.cfess.org.br>. Acesso em: 14 jul. 2009.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1999.

Anotações

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CAPÍTULO 1 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

16 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

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CAPÍTULO 2 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 17

Algumas áreas de atuação do assistente social 2

Introdução

Para melhor compreensão deste tema, é necessário que você já tenha conhe-cimento acerca do significado de organização e instituição, setores do mercado e âmbitos governamentais. Acabamos de ver isso no capítulo anterior. Assim será mais fácil para você compreender o significado de área de atuação e ter uma visão acerca das principais áreas de atuação do Serviço Social.

O profissional de Serviço Social atua em organizações da esfera estatal, empresas mercantis, político-sindicais, ONGs (organizações não governamen-tais) e trabalho autônomo, atuando no sentido de garantir e facilitar o acesso dos cidadãos aos seus direitos. Sabemos que as áreas de atuação do Serviço Social são amplas, como Assistência Social, Previdência Social, Saúde, Educação, Criança e Adolescente, Idoso, Mulher, Indígena, área Organizacional ou Empresarial, Judicial, as quais se subdividem em inúmeros campos de trabalho, possíveis campos de estágio dos estudantes.

Aqui serão abordadas algumas das principais áreas, não tendo a pretensão de abarcar todas elas, o que seria impossível em tão curto espaço.

2.1 O assistente social na área da Assistência Social

A área da Assistência Social é bastante ampla, pois contém vários campos de trabalho, como, por exemplo, os CRASS – Centros de Referência da Assistência Social –, em que se desenvolvem atividades destinadas à atenção e proteção da família. Ainda na área da Assistência, podem ser trabalhados temas como idoso, mulher, prevenção de álcool e drogas, habitação, criança e adolescente e outros, dependendo da localização do CRASS. Por exemplo, em municípios onde há um único assistente social e/ou apenas um CRASS, é comum que se atendam muitas e variadas demandas, mesmo que seja apenas no sentido de encaminhar a outras políticas.

É comum se ouvir falar que o assistente social é o profissional da assistência. Isso é um equívoco. Existem outros profissionais que atuam na mesma área e assistentes sociais em outras áreas. A Assistência Social, portanto, não é exclusi-vamente área do assistente social, mas configura uma das áreas de sua atuação profissional. Na respectiva área, os assistentes sociais atuam com uma demanda cotidiana composta pela população excluída dos direitos básicos.

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Esse profissional realiza triagem, seleciona ou encaminha os possíveis candi-datos para o recebimento de benefícios. Busca satisfazer as necessidades, de ordem variada, de seus usuários. Nessa área, torna-se bastante difícil definir as ações do assistente social e do gestor municipal, uma vez que se imbricam as duas funções nas tomadas de decisão, principalmente aos olhos da população usuária e/ou leiga. O que dá o tom à ação assistencial é a busca da satisfação das necessidades dos usuários.

É um campo muito rico em aprendizagem, devido à demanda muito variada, porém se trata de um campo em que o fluxo de trabalho é muito grande, e o assistente social tem de tomar muito cuidado para não ser “engolido” pelo coti-diano. Isso significa que o profissional deve, além da emergência da demanda, priorizar sua formação teórico-metodológica, que deve ser continuada.

Existe uma dificuldade entre os profissionais do Serviço Social de trans-cender o cotidiano, o que é justificado pela falta de tempo para sistematizar e planejar sua prática. A inserção do profissional nas práticas burocratizadas e a sua submissão à distribuição de recursos, acaba em tendência à desvinculação das ações programáticas (WEISHAUPT citado por SILVA e outros, 1998).

Segundo Karsch citado por Silva e outros (1987), a submersão do profis-sional na prática cotidiana favorece a indefinição da identidade profissional, porém desvendá-la é a possibilidade de descobrir o que representa a realidade e propor alternativas de transformação (IAMAMOTO, 1994).

O assistente social não tem como campo de atuação somente o Serviço Social. Conheça esse profissional na Política Nacional da Saúde.

2.2 O assistente social na Política Nacional da Saúde

A saúde configura uma das áreas mais abrangentes e a que mais emprega assistentes sociais no Brasil. Abriga, em seu interior, campos de atuação de uma especificidade imensa, como câncer, HIV/AIDS, hospitais, clínicas, ambulató-rios, entre outros. É importante enfatizar que cada um desses campos se subdi-vide em outros, como acolhida, internação, UTI etc.

O Serviço Social pode ter sua prática configurada na dimensão educativa, política e assistencial, pois, como afirma Falcão (1981), a dimensão educativa e política desenvolvem relações interpessoais e sociais como condição de expansão humana e fortalecem valores, atitudes e habilidades capazes de desencadear um processo de autorregulação e de progressão pessoal e grupal.

A dimensão política implementa, aciona ou cria recursos sociais, fluxo de relações de informação e participação. A dimensão assistencial atende às polí-ticas imediatas como busca de recursos para transporte, alimentação, medicação entre outros. Essas políticas jamais devem ser abordadas como favor, e sim como direito da população usuária, conforme a LOAS, artigo 1°, n. 8.742/93.

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A área da saúde absorve um grande número de assistentes sociais, o que se faz notar na área hospitalar, cabendo a estes gerenciar conflitos entre demandas e recursos sociais disponíveis. O assistente social soma-se à equipe de técnicos e assim se estabelecem as funções do serviço social médico. Conforme Berezovsky citado por Silva e outros (1977), ele deve atender casos, planejar programas e formular normas, desenvolver programas sociossanitários, realizar programa educativo para a população usuária e pessoal profissional, e realizar a sistema-tização da prática e da pesquisa médico-social.

Na equipe de trabalho, o assistente social é o profissional que identifica as necessidades dos usuários, bem como suas condições socioeconômicas. Partindo dessa visão de totalidade, passa a interpretar, juntamente com a equipe, aspectos relevantes para a efetividade dos procedimentos. Dessa forma, deve estar sempre bem informado quanto aos objetivos e às normativas institucionais para, ao reconhecer as necessidades dos usuários, disponibilizar os recursos existentes. Além disso, deve identificar fragilidades a serem trabalhadas. É o campo de mediações, em que se insere o profissional entre os interesses da classe trabalhadora e os objetivos da instituição em que trabalha (WEISSHAUPT citado por SILVA e outros, 1998).

O assistente social é mais um ator na política de saúde, devendo atuar conforme a proposta de reestruturação do sistema de saúde posta pelo SUS. Segundo pesquisa realizada por Correa e Cunha, no estado do Rio Grande do Sul (SILVA e outros, 1998, p. 113-114), as práticas desenvolvidas são variadas, a exemplo de algumas que você conhecerá a seguir.

a) Participação em conselhos de saúde – as ações devem incorporar elementos de planejamento, que “apresente-se com um valor indiscu-tível na trajetória do Serviço Social e nas organizações, com uma visão moderna de recursos humanos, com uma categoria indispensável para garantia do sucesso” (FRITSCH, 1996, p. 128).

b) Atividades de planejamento – uma prática que deveria ser incorporada nas atividades cotidianas, pois, segundo Fitsch (1996, 128), “junto com outros instrumentos, é um dos caminhos para avançarmos enquanto profissionais no domínio de intervenções, com competência técnica, contanto que munidos, também, de competência política”.

c) Atividades de coordenação – a maioria dos assistentes sociais, em algum momento de sua prática profissional, coordena grupos diversos, como alcoolistas, egressos, mães, idosos, drogaditos, diabéticos, adolescentes, mulheres, entre outros, além de realizarem coordenações diversas de instituições e programas. As atividades de grupo, nesse contexto, configuram como instrumentos do Serviço Social, com o obje-tivo de despertar a consciência das pessoas quanto às problemáticas e perspectivas de mudança.

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d) Prestações de assessoria – as assessorias são prestadas, por exemplo, aos conselheiros de diversas áreas, sob licitação, às prefeituras e insti-tuições quanto a programas e projetos em diversas áreas.

e) Estudos sociais – pesquisas em diversas demandas: demanda de conse-lhos tutelares, situação habitacional, medicina do trabalho, Fórum, Benefícios, transporte e outros.

f) Plantão social – envolve encaminhamento, fornecimento e/ou infor-mação a respeito de obtenção de medicamentos, vale-transporte, auxí-lio-alimentação, passe livre, laudos para benefícios, entre outros.

g) Outras atividades – realização de visitas domiciliares, realização de visitas diárias aos leitos hospitalares, busca de recursos e criação de rede social. O trabalho com rede social surge em função da escassez de recursos e instituições de atendimento especializado, o que permite um atendimento mais eficaz.

Um fator determinante no trabalho do assistente social, em qualquer área, é o domínio das leis que regem a política do setor em que atua, o que pode evitar uma atuação fragmentada e sem embasamento teórico. Pode-se destacar o pensamento de Simionato citado por Silva (1998), em que o assistente social trabalha no sentido de: desenvolver a consciência sanitária da população em múltiplas dimensões; de realizar estudos reveladores do cotidiano populacional, sua relação com os serviços de saúde, como suas necessidades se transformam em demandas e como os cidadãos consumidores se transformam em cidadãos de direitos universais.

Também trabalha para reforçar a percepção dos profissionais atuantes em saúde; reconhecer e fortalecer os microespaços de participação social, indivi-dual e coletiva, contribuindo para a construção de novos sujeitos coletivos; enfa-tizar a importância dos Conselhos nos sentido de colaborar para a promoção de alterações mais profundas e sistemáticas na saúde; resgatar o papel político dos conselhos de saúde, tanto na aprovação de planos e orçamentos quanto na apli-cação e execução dos mesmos; desenvolver um trabalho de capacitação política e técnica dos conselheiros (em especial o segmento dos usuários); democratizar informações, apoiando a criação de sistemas de acesso público que integrem os diversos níveis de gestão. A desinformação favorece a exclusão.

Veja agora as funções do assistente social na área de educação.

2.3 O assistente social na área da educação

Essa área de atuação do Serviço Social é um tanto mais restrita que as outras duas já abordadas. É sabido que o assistente social pode atuar nas instituições de ensino como professor da sua área, em faculdades e universidades. A docência é um dos campos de trabalho em que se pode inserir o assistente social. Porém

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a proposta de se ter um assistente social atuando na escola, compondo a equipe multiprofissional, juntamente ao pedagogo, no sentido de sanar as problemá-ticas socioeconômicas que a escola vivencia, é um novo campo de atuação.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP –, em 2003,

De cada grupo de 100 alunos que ingressam na primeira série do Ensino Fundamental 59 conseguem terminar a oitava série desse nível de escolarização e os outros 41 param de estudar no meio do caminho. Para aqueles que entraram no Ensino Médio, a expectativa de conclusão é maior: 74% conseguem terminá-lo. Os estudantes que concluem, sem interrupção, essas etapas educacionais levam, em média, de 10,2 anos para completar as oito séries do Ensino Fundamental e 3,7 anos para passar pelas três séries do Ensino Médio.

A realidade brasileira já melhorou muito nesse sentido, uma vez que, em 1996, segundo uma pesquisa de Dotti citado por Silva e outros (1998), somente 12 matriculados no início do Ensino Fundamental concluíram a 8ª série. Essa é a realidade dos países ditos em desenvolvimento, em que a educação sofre sérios problemas, entre os quais a escassez de recursos e o acesso discriminatório. Pain (1992, p. 13) ensina que

Os problemas escolares manifestam na resistência às normas disciplinares, na desqualificação do professor, na inibição mental ou expressiva etc.; e geralmente aparecem como formações reativas diante de uma enlutada e mal elaborada transição fami-liar ao grupo social. Em tais casos a orientação se inclina por um tratamento psicoterapêutico grupal com apoio pedagógico a fim de evitar o eminente fracasso escolar.

Quanto aos alunos com essa problemática, devemos percebê-los na sua tota-lidade, evitando posicionamentos unilaterais que percebam apenas dificuldades, déficits e lacunas, mas que valorizem os aspectos progressistas, percebam a experiência de vida e saberes próprios desses alunos. Um fator determinante das condições para o sucesso é partir da especificidade de cada indivíduo.

À criança que fracassa, é comum levantarem hipóteses individuais, mas rara-mente levantam-se as problemáticas político-sociais, estrutura social, inadequação da estrutura escolar ou da política educacional e a real situação de vida da criança. É justamente aqui que se faz importante a presença do assistente social, para que, com seu olhar voltado às mazelas da questão social, possa realizar um trabalho mais totalizante e em uma perspectiva mais complexa, ou seja, entenda as tramas das situações, sua gênese e suas possíveis consequências.

É importante lembrar que, no final do século XIX, a medicina e a psico-logia infantil formavam um sistema que procurava as origens dos problemas nas características das crianças. Já no século XX, em alguns países da Europa, tentou-se patologizar o fracasso escolar. Por volta da época da Segunda Guerra

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Mundial, surgiram novas perspectivas e criam-se as escolas especiais para alunos que não se adaptavam e/ou tinham debilidade mental (COSTA citado por SILVA e outros, 1998).

Nesse período, as causas sociais das patologias remetem ao meio familiar, apontando a má educação como sendo exclusiva das classes menos abastadas, pois fugiam das normas das famílias burguesas. Pinell citado por Silva e outros (1998, p. 160) afirma que “vivendo em meio marginal, há todas as chances de cair na delinquência e de se tornar assim, um perigo para a sociedade se não se tomarem providências. Consequentemente o objetivo explícito do ensino especial será de assegurar a socialização dessas crianças”.

Nessa visão durkeimiana, a educação é igual à socialização que é igual à adaptação, conforme a estrutura social, ou seja, o fracasso escolar é criado por uma cultura desviante. Nesse sentido, não se questiona o processo social, tampouco a estrutura da escola, afirmando-se que a sociedade, as necessidades e a escola são boas. Assim o indivíduo é o responsável por seu fracasso, devendo ser corrigido para poder se integrar em um processo de mascaramento das dife-renças individuais e da questão social. Essa visão é parcial e mutilante, por isso a formação do assistente social a rejeita, buscando uma visão global da situação.

Grossi citado por Silva (1998, p. 161) ensina que

É prenúncio da exclusão. O aluno que é reprovado numa 1ª e numa 2ª vai lendo nas entrelinhas o interdito de que a escola não é seu lugar. A evasão evocada pelos tecnicistas como um problema individual, é, ao contrário, um fenômeno coletivo e sistemático da escola.

A qualidade do básico, como qualidade de vida das famílias das pessoas em questão, deveria ser prioridade nas políticas sociais. Equidade é necessária para que não exista a divisão entre excluídos e incluídos nas políticas sócias, em especial, a da educação. Para tanto, o acesso a melhores níveis escolares poderiam servir para situar os que se convencionou chamar de fracassados esco-lares em cidadãos propriamente ditos. Não são excluídos apenas os que não acessam o direito ao mínimo da educação, mas também aqueles que, mesmo estando incluídos na política, não a recebem com qualidade.

A abordagem do fracasso escolar em relação ao Serviço Social, nesse contexto, é um desafio, como em todas as áreas em que se insira com perspec-tiva de mudança, transformação da realidade, mudança estrutural da sociedade. Freire (1983, p. 48) ensina que “a estrutura social é obra dos homens e que, se assim for, a sua transformação será também obra dos homens”. Assim sendo, o Serviço Social deve determinar métodos e técnicas de ação, pois

No momento em que os indivíduos, atuando e refletindo, são capazes de perceber o condicionamento de sua percepção pela estrutura em que se encontram, sua percepção muda, embora

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isto não signifique, ainda, a mudança da estrutura. Mas a mudança da percepção da realidade que antes era vista como algo imutável significa para os indivíduos vê-la como realmente é: uma realidade histórico-cultural, humana, criada pelos homens e que pode ser transformada por eles (FREIRE citado por SILVA e outros, 1998, p. 161).

Porém existem as forças opositoras à transformação, com tendência a se fortalecer, o que demanda a problematização da realidade e tende à desmistifi-cação da realidade mitificada. A intenção do Serviço Social deve ser a mudança no sentido de ser mais, colaborando para a tomada de consciência individual da população usuária.

A área da Educação é mais um desafio para a atuação do Serviço Social, delimitando um novo espaço sócio-ocupacional, em que se deve conquistar a escola como campo profissional, demandando conhecimentos específicos que devem ser buscados. A realidade social, como matéria-prima do agir profissional, é onde incide a vida cotidiana, as relações de classe, a produção, a cultura, o Estado, as redes de relações sociais, contraditórias, exigentes de mudança para uma educação voltada ao exercício da cidadania e da democracia. Antonio Gramsci citado por Silva e outros (1998, p. 167) afirma que

Só uma escola autenticamente formativa pode proporcionar o acesso a uma nova cultura; uma escola em que seja dada à criança a possibilidade de formar-se, de tornar-se um homem, de adquirir os critérios gerais que sirvam ao desenvolvimento do caráter [...]. Uma escola que não hipoteque o futuro da criança e constranja a sua vontade, sua inteligência, sua consciência em formação a mover-se a partir de esquemas bitolados [...] Uma escola de liberdade e de livre iniciativa e não uma escola de escravidão e mecanicidade.

É importante lembrar que os ditos fracassados escolares têm grande chance de se tornar fracassados sociais, pela questão da reprodução social dos que vivem à margem da cidadania. Sposati e outros citados por Silva e outros (1998, p. 30) ensinam que “é preciso inaugurar uma efetiva ação interinstitucional. É necessária a urgente adoção de uma nova definição de competência das várias instâncias públicas (federal, estadual e municipal)”. É importante a conquista da escola para que o Serviço Social amplie seus horizontes de atuação à população escolar.

Por exemplo, a questão do baixo desempenho escolar, a partir de uma leitura social, histórica e de classe social, tem relação direta com o baixo rendi-mento familiar, agravado pela falta de uma estrutura política e educacional comprometida com as particularidades dessa população. O assistente social tem várias opções de intervenção no fenômeno que, além de atuar na perspectiva de mudança, pode atuar na prevenção.

Prevenir é criar condições favoráveis ao processo de aprendizagem e de permanência do aluno na escola, o que deve se sobrepor às condições

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desfavoráveis e consequências sociais. Essa atuação também deve levar em conta os problemas decorrentes do conjunto familiar e as mais diversas situações geradas no meio social. As possibilidades são muitas, porém, para operacionali-zá-las, o assistente social, primeiramente, deve analisar a realidade e se libertar de qualquer discriminação e estereótipo para articular este universo de ação.

Para concluir, você pôde conhecer mais detalhadamente as principais áreas de atuação profissional do assistente social e agora pode formar um conceito a respeito da própria especificidade dessa atuação.

No próximo capítulo, abordaremos os espaços de inserção dos assistentes sociais, os quais pertencem às áreas de atuação. Cada espaço sócio-ocupa-cional pertence a uma das áreas específicas. Muitas vezes esse espaço atua com mais de uma área ou política pública. É o que será visto a seguir.

Saiba mais

Acesse o sítio do jornal Folha Online, <http://www.folha.com.br> e leia o artigo do dia 22 de setembro de 2009, intitulado O profissional de Ser-viço Social atua sobre carências da população, da autoria de Luiz Renato Strauss. O artigo faz uma breve, mas importante abordagem sobre a atua-ção profissional do assistente social.

Saiba mais

Serviço social está mais valorizadoLeia a notícia do Estadão e veja que o serviço social está mais valori- serviço social está mais valori-zado no país. Acesse o endereço <http://www.cfess.org.br/noticias_res.php?id=258> e observe que o artigo informa sobre a atual situação do mercado de trabalho do assistente social.

Referências

MERCADO de trabalho do assistente social. Disponível em: <www.zap.com.br/.../mercado-de-trabalho-assistente-social/>. Acesso em: 28 jul. 2009.

SILVA, Jaqueline Oliveira et al. Práticas do Serviço Social: espaços tradicionais e emergentes. Porto Alegre: Da Casa, 1998.

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CAPÍTULO 3 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

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Sobre os espaços sócio-ocupacionais tradicionais do Serviço Social 3

Introdução

Você precisa ter conhecimento acerca do debate sobre poder institucional versus saber profissional, assim como acerca da especificidade da profissão, para melhor compreender esse novo conteúdo. Sobre isso, você já estudou no semestre passado. Com essa revisão, será fácil compreender o significado de espaço sócio-ocupacional e a atuação do profissional do Serviço Social em cada espaço abordado e visualizar inicialmente os campos de atuação do Serviço Social, possíveis locais de estágio dos estudantes da área.

Os campos mais tradicionais de atuação do assistente social localizam-se nas áreas da assistência social e da saúde. São inúmeros os campos existentes, porém aqui serão tratados alguns, não por serem considerados mais impor-tantes, mas por serem os de maior incidência. Começaremos pelas instituições públicas e privadas.

3.1 O assistente social e sua trajetória em instituições públicas e privadas

Segundo Faleiros (1979), as reflexões acerca de poder institucional e saber profissional remetem ao objeto profissional em uma ótica de luta de classes arti-culada às relações de poder, hegemonia e contra-hegemonia. Por instituição, pode-se entender uma agência de prestação de serviços. Do ponto de vista sociológico mais amplo, as instituições são relações estruturantes do modo de ser de uma sociedade, como a família, a religião, a educação e o exército.

O conceito de instituição vai, portanto, muito além do de organização. As instituições são locais de lutas de poder, em que se localiza o objeto da inter-venção do assistente social. Esse objeto deve responder a um processo complexo de relações sociais que são entrecruzadas por demandas sociopolíticas.

Jean Robert Weisshaupt realizou uma pesquisa sobre instituições e Serviço Social no Nordeste, a qual traz à tona a discussão sobre o objeto profissional institucionalmente construído (SILVA citado por FALEIROS, 2005, p. 32). Nessa ótica, os objetivos profissionais são definidos pela instituição, ou seja, os obje-tivos da profissão se definem conforme as diferentes instituições, sejam elas públicas, privadas ou do terceiro setor. Também as demandas populacionais definem a prática profissional, como pedidos de recursos, capacitação, enca-minhamentos, informações, orientação, organização.

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As relações institucionais podem ser entendidas sob diversos ângulos, valori-zando os conflitos entre os atores institucionais ou tomando o projeto profissional como mediação harmonizadora de conflitos (FALEIROS, 2005, p. 33). Como exemplos de conflitos, temos os que podem ocorrer entre profissionais e auxi-liares, entre profissionais, entre políticas sociais e o projeto institucional, entre profissionais e instituição, entre usuários e profissionais, entre outros, em um processo de contradições de interesses e projetos concretos.

Há nesses conflitos uma relação dinâmica de forças, interesses projetados na dialética universal/particular/singular na ação profissional, que constituem situa-ções de intervenção nos espaços institucionais e profissionais (FALEIROS, 1979). O assistente social atua em meio a esses e outros conflitos, em um processo de mediação que o capacita para dar respostas às necessidades dos usuários dos seus serviços e da política social em questão, sendo esse seu compromisso primordial. Por outro lado, precisa dar respostas também aos objetivos institucio-nais, não em uma perspectiva neutra, o que é impossível, mas de acordo com sua formação teórico-metodológica e ético-política.

Especialmente a partir dos anos de 1980, afirma Iamamoto (1999, p. 83), o Serviço Social, já historicamente institucionalizado, é considerado como uma “especialização do trabalho coletivo, dentro da divisão sócio-técnica do trabalho, partícipe do processo de produção e reprodução das relações sociais”. Essa visão serve de referência à abordagem dos processos e relações de trabalho da profissão.

O setor público historicamente tem sido o maior empregador de assis-tentes sociais, e a administração direta é a que mais emprega, especialmente a instância estadual, seguida da municipal (IAMAMOTO, 1999, p. 123). A área da saúde lidera a absorção dos assistentes sociais, especialmente em decor-rência da implantação do SUS. A assistência social, espaço privilegiado da profissão, a partir da Constituição Federal de 1988, tem ampliado o mercado profissional, representando uma ampliação das possibilidades de trabalho.

E como podemos ver a assistência social como campo de trabalho? Esse é nosso próximo assunto.

3.2 A assistência social como campo de trabalho

A Constituição Federal de 1988, diferentemente da anterior, inaugurou uma nova concepção de assistência, agora política pública, conhecida como Política Nacional da Assistência Social, a qual é não contributiva, sendo direito de todos os cidadãos e dever do Estado.

A Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, de 7 de dezembro de 1993 – traz a Assistência Social como componente da Política de Seguridade Social, não contributiva, a qual prevê os mínimos sociais, mediante um conjunto de

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ações de iniciativa pública e da sociedade para a garantia do atendimento das necessidades básicas da população usuária. Essa Lei prevê a descentralização política e administrativa para os estados, Distrito Federal e municípios, tendo um comando único das ações em cada esfera de governo.

Ainda nos dias atuais, a implantação dessa política é um processo em anda-mento. Decorreu apenas pouco mais de uma década, o que, em tempo histórico, pode ser considerado um tempo ínfimo, em se tratando de uma política tão imbricada de contradições.

Para a compreensão e a apreensão do significado das demandas colocadas aos assistentes sociais, é necessário que se considerem as novas formatações da Questão Social. Devemos partir da consolidação do capitalismo monopolista na sociedade brasileira e da constituição do Estado burguês autoritário e suas consequências para o Serviço Social, como afirma Iamamoto (1999).

Uma Questão Social que é tratada como questão policial, através da parceria repressão-assistência, como condição de manutenção da paz e da ordem imposta pelo Estado, subordinada à Segurança Nacional e à acumulação do capital monopolista, implica, invariavelmente, na ampliação do processo de pauperi-zação absoluta e relativa da classe trabalhadora e segmentos afins. Segundo Iamamoto (1999), a solidificação da dominação burguesa e da expansão do grande capital é dada pela desarticulação dos órgãos político-reivindicatórios dos trabalhadores e na manutenção de uma política salarial achatada.

O assistente social se movimenta no bojo da contradição e, para a implan-tação efetiva da LOAS, materializada pelo SUAS – Sistema Único da Assistência Social –, necessita romper com as práticas assistencialistas contribuintes da visão conservadora da Assistência Social. Afirma Silva (1997, p. 135) que “a reite-ração das práticas de manutenção e reprodução das relações de dominação precisa ser rompida”. O local por excelência onde se desenrola a política da Assistência Social é o CRAS, o Centro de Referência da Assistência Social, em que a equipe mínima deve ser instituída por um profissional assistente social e um psicólogo, como você verá a seguir.

3.2.1 O CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

O CRAS é uma entidade de proteção básica, pública estatal, de base territo-rial, geralmente localizado em áreas de vulnerabilidade social, executa serviços de proteção social, organiza e coordena a rede de serviços socioassistenciais da polí-tica de assistência social. Atua no âmbito individual e familiar, sempre no contexto de comunidade, visando à orientação e ao convívio sociofamiliar e comunitário. É responsável por ofertar o Programa de Atenção Integral às Famílias – PAIF.

A equipe do CRASS deve realizar e organizar o mapa da rede socioassis-tencial e promover a inserção das famílias nas respectivas políticas e serviços,

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assim como encaminhar a população para as demais políticas públicas e sociais, no sentido de buscar ações que visem à sustentabilidade, para romper com o ciclo de pobreza e violação de direitos. Esse processo se dá, em um primeiro momento, pela procura do usuário por política pública. Este é atendido e enca-minhado conforme suas necessidades.

É necessário que o assistente social faça uma cuidadosa avaliação situa-cional, da forma mais efetiva e comprometida possível, evitando juízos de valor em suas leituras da realidade. O compromisso da política pública e do Serviço Social é o de proteção, assistência, desenvolvimento, transformação. Para isso, é imprescindível uma atuação consciente por parte dos profissionais envolvidos. Uma das formas de se ter êxito é buscar a construção das redes sociais, a cons-tituição dos laços que possibilitam o maior e melhor atendimento da população usuária da Assistência Social. Facilitar o acesso aos direitos assegurados em lei ao usuário é um dos mais fundamentais compromissos do assistente social.

Segundo a PNAS – Política Nacional da Assistência Social –, são conside-ão conside-rados serviços de proteção básica de assistência social aqueles que potencia-lizam a família como unidade de referência, fortalecendo seus vínculos internos e externos de solidariedade. Para que isso aconteça, é necessário que os membros da família se sintam protagonistas das ações e que se lhes ofereçam um conjunto de serviços locais que visem à convivência, à socialização e ao acolhimento em famílias cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. É necessária também a promoção da integração ao mercado de trabalho, tais como:

programa de atenção integral às famílias;

programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza;

centros de convivência para idosos;

serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares, ao direito de brincar, a ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das crianças;

serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando à sua proteção, socialização e ao forta-lecimento dos vínculos familiares e comunitários;

programas de incentivo ao protagonismo juvenil e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários;

centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos.

Há serviços que são preventivos, mas há outros em que não só existe a iminência da violação dos direitos, mas a violação de fato e até mesmo os vínculos sociais e familiares rompidos, como é o caso dos serviços de proteção social especial de média e alta complexidade. Veja a seguir.

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CAPÍTULO 3 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 29

3.2.2 Proteção social especial de média e alta complexidade

A proteção social especial é destinada especialmente aos grupos mais vulne-ráveis, como crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas com deficiência, assim como pessoas em situação de abandono e em situação de rua pela falta de renda e outras variantes da exclusão social. Alguns programas componentes da proteção social especial que se destacam são, por exemplo, o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

A proteção social especial de média complexidade é aquela que oferece serviços a indivíduos e famílias que tiveram seus direitos violados, mas conservam os vínculos familiar e comunitário. Requer, portanto, uma atenção especializada e individualizada e/ou acompanhamento sistemático. Exemplos: serviço de orientação e apoio sociofamiliar, plantão social, abordagem de rua, cuidado no domicílio, serviço de habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e medidas socioeducativas em meio aberto (Prestação de Serviço à Comunidade – PSC e Liberdade Assistida – LA).

A proteção social especial de alta complexidade é destinada a indivíduos e famílias que, além do direito violado, tiveram os laços sociais e familiares rompidos, ou seja, encontram-se sem referência e/ou em situação de ameaça, necessitando ser retiradas de seu núcleo familiar e/ou comunitário. Exemplos: atendimento integral institucional, casa lar, república, casa de passagem, albergue, família substituta, família acolhedora, medidas socioeducativas restri-tivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação provisória e senten-ciada) e trabalho protegido.

Você precisa conhecer os campos de trabalho destinados ao assistente social na saúde para decidir se quer atuar em algum deles. Observe o próximo subitem.

3.3 O assistente social na saúde e seus principais campos de trabalho

A área da Saúde incorpora vários campos de atuação ao assistente social. Tradicionalmente, o Serviço Social integra as equipes de hospitais e postos de saúde, assim como serviços especializados como atendimento a doentes e portadores de câncer e HIV/AIDS, hemocentros, clínicas de queimaduras, entre outros.

A Política Nacional da Saúde – também não-contributiva, a partir do processo de Reforma Sanitária, consolidada pela Constituição Federal de 1988, com a implantação do SUS –, passa a ser uma questão coletiva, social e polí-tica. Foi a área que mais sofreu transformações, como o conceito de saúde, a instituição de saúde como direito do cidadão e dever do Estado, a estratégia do SUS, a construção de um novo modelo de atenção à saúde, a descentralização

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das ações para estados e municípios e a democratização do poder local (SIMONATTO citado por PATRIOTA, 2005).

Por meio da Lei n. 8.080/90, a saúde é considerada direito fundamental do ser humano, estando o Estado no compromisso de provisão de condições indis-pensáveis ao ser humano. Em seu artigo 7°, estabelece princípios e diretrizes como universalidade de acesso aos serviços, integridade de assistência, preser-vação da autonomia das pessoas, igualdade de assistência à saúde, direito à informação, utilização de epidemiologia como prioridade, participação da comunidade, descentralização político-administrativa, regionalização e hierar-quização, integração, conjugação dos recursos financeiros, capacidade de resolução e organização dos serviços.

Todas as ações de saúde, inclusive privadas, passam a ser submetidas às normativas do poder público. Carvalho e Santos citados por Patriota (2005, p. 45) ensinam que

Temos assim a Constituição e a Lei Orgânica da Saúde a dizer do direito do cidadão à saúde e impor ao Estado o dever de garanti-lo, seja diretamente, mediante assistência médica e hospitalar e ações preventivas, seja por via de políticas econô-micas e sociais que condicionem e determinem o estado de saúde individual e coletiva.

Uma das diretrizes do SUS é a participação social em sua gestão, processo que tem sido operacionalizado em âmbito municipal via Conselhos Municipais de Saúde, espaço de cidadania e participação, de representação paritária entre sociedade civil e prestadores de serviços. Nesse espaço, embora a popu-lação possa participar, nem sempre a participação é efetiva, ou seja, nem sempre existe um comprometimento com a estruturação do sistema de saúde. Surgem novas demandas com a alteração da relação do Estado e comunidade, assim como surgem novos campos de atuação para várias profissões, tanto na esfera de produção quanto no setor de serviços (ALMEIDA citado por SILVA e outros, 1998).

O Serviço Social se destaca na área da saúde, em especial saúde pública, em que, cotidianamente, está em contato direto com a população usuária. Assim todas as mudanças na esfera política, social e econômica refletem sobre seu trabalho, notadamente por ser uma profissão de caráter interventivo no coti-diano das populações empobrecidas. Martinelli (1994, p. 72) assevera que “o Serviço Social é uma prática social e como social, pressupõe sujeito coletivo que, por sua vez, só se constrói no exercício político. Sem exercício político não se constrói o coletivo”.

A atuação do assistente social na saúde é histórica, pois a profissão nasce atrelada ao contexto desta. Sua presença se faz importante, uma vez que o conceito de saúde ditado pela Organização Mundial da Saúde vai além da

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UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 31

ausência de doenças, mas avança no sentido de bem-estar físico, mental e social. Portanto, para ser considerado saudável, não basta apenas ter as necessidades médicas atendidas, mas há que se ter um atendimento globalizado, no sentido de buscar soluções às problemáticas emocionais e socioeconômicas, as quais, consequentemente, podem agravar o quadro físico.

Assim sendo, o Serviço Social, tradicionalmente integrante do quadro da saúde, tem seu reconhecimento atual, passa a fazer parte do conjunto de profis-sões necessárias à identificação e à análise dos fatores que intervêm no processo saúde/doença, acarretando a ampliação da inserção do assistente social neste campo. Ainda mais com a mudança no processo de gestão da política de saúde, tendo na descentralização político-administrativa sua principal estratégia. A municipalização da política de saúde demandou dos municípios a contratação de diversos profissionais para garantir a gestão local da política, entre eles, o assistente social.

O Conselho Nacional de Saúde – CNS –, por meio da resolução n. 218/1997, reconhece o assistente social como um dos treze profissionais de saúde de nível superior, juntamente com o biólogo, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos vete-rinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais.

Por meio da resolução 338/1999, o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS – confirma o assistente social como profissional de saúde, pautando-se na resolução já citada, no conceito de saúde adotado na Constituição Federal de 1988, assim como na própria formação do assistente social e no seu compro-misso ético-político expresso no Código de Ética da profissão de 1993.

Esse código apresenta um dos principais fundamentos do Serviço Social: o posicionamento em favor da equidade e justiça social que assegure universali-dade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática.

Dessa forma, no âmbito municipal, os assistentes sociais avançam em novas funções no setor. Participam do processo de gestão da saúde, atuam nos conse-lhos de saúde, na formulação, planejamento, monitoramento e avaliação da polí-tica, distanciando-se das tradicionais ações rotineiras e burocratizadas, restritas à execução de ações subsidiárias ao saber médico. Assim os assistentes sociais se inserem no processo de trabalho em saúde, como agentes de interação entre os níveis do Sistema Único de Saúde - SUS -com as demais políticas sociais, tendo como principal objetivo assegurar a integralidade e a intersetorialidade das ações.

O assistente social desenvolve, ainda, atividades de natureza educativa e de incentivo à participação comunitária, para atender às necessidades de participação e co-participação dos usuários no desenvolvimento de ações

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preventivas, de recuperação e de controle do processo saúde/doença. A novi-dade que se observa na inserção atual do assistente social na área de saúde é que não é mais mediada pela ideologia da ajuda e do favor, mas pela ótica da garantia de direitos sociais.

A atuação do assistente social se dá justamente nas contradições existentes no SUS, entre as quais constam a exclusão ou a dificuldade no acesso, a precariedade dos recursos e da qualidade dos serviços, a burocratização em excesso e a ênfase na assistência médica curativa e individual. Esse é o contexto em que surge um conjunto de requisições expressivas da tensão existente entre as ações tradicionais da saúde e as novas proposições do SUS. Essas requisições são determinantes no âmbito de atuação do profissional de Serviço Social, a qual se dá nas contradi-ções presentes no processo de racionalização e organização do Sistema.

Dentro dessa relação de dever e direito à saúde, o trabalho dos assistentes sociais se desenvolve e se torna um trabalho necessário para a promoção e atenção à saúde. Sua área de intervenção tem se ampliado e se consolidado diante da concepção de que o processo de construção da saúde é socialmente determinado, o que se reforça pelo conceito de saúde que passa a considerar o atendimento das demandas do setor sob o relevante foco das condições sociais.

Independentemente do campo de atuação do assistente social, é necessário entender que a saúde é construída a partir de necessidades históricas e social-mente determinadas e deve ser defendida como direito de todo cidadão e dever do Estado. O trabalho do assistente social deve contribuir para essa garantia por meio do fortalecimento de seus princípios de universalidade, equidade e integralidade.

Saiba mais

Acesse o sítio <http://www.cress-ce.org.br/duvidas.html> e fique bem in-formado acerca das principais dúvidas dos assistentes sociais. Esse sítio se refere ao estado do Ceará, mas dá uma ideia geral da profissão, como as questões a seguir.

Como faço para denunciar más condições de trabalho?

Por que o Serviço Social não possui piso salarial?

Qual a média salarial do mercado de trabalho do Serviço Social?

O que é a Tabela de Honorários?

Qual a referência salarial estabelecida pela Tabela de Honorários?

Qual o número máximo estabelecido de atendimentos e de usuários por Assistente Social?

Quais são os procedimentos e critérios para a contratação de Assis-tentes Sociais?

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CAPÍTULO 3 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 33

Como deve ser o contrato para o Assistente Social que atua de forma autônoma?

Quais as condições para a contratação de estagiário de Serviço Social?

Onde o Serviço Social está vinculado no quadro de profissionais do funcionalismo público?

O que é a questão do duplo vínculo?

O pagamento da anuidade ao Cress/CE é contabilizado como con-tribuição previdenciária?

Qual a diferença entre Assistência Social e Serviço Social?

O que são Conselhos Profissionais?

Qual o valor da anuidade do Cress/CE?

O que acontece se estou inadimplente com o Cress/CE? Como faço para regularizar minha situação?

O que o Cress/CE faz com as anuidades pagas pelos Assistentes Sociais?

Quais as punições para o Assistente Social que atue irregularmente?

Como consigo informações sobre o andamento de processos éticos e de desagravo?

Em caso de desligamento, o que devo fazer com o material técnico produzido?

Neste capítulo, você se informou sobre como se configuram os espaços sócio-ocupacionais tradicionais de inserção do assistente social, assim como pôde entender a dinâmica institucional e as relações de poder existentes em seu interior.

No próximo capítulo, serão abordados os principais postos de trabalho da contemporaneidade, ou seja, os espaços sócio-ocupacionais emergentes. Você deve estar curioso, não é? São novos postos de trabalho para os profissionais dessa área.

ReferênciasFALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2005.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1999.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 2000.

PATRIOTA, Lúcia Maria. Assistentes sociais e AIDS: um estudo de suas represen-tações sociais. Revista Serviço em Revista, v. 8, n. 1, jul./dez., 2005. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 14 jul. 2009.

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CAPÍTULO 3 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

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Anotações

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 35

Os espaços sócio-ocupacionais na contemporaneidade 4

Introdução

Você tem conhecimento acerca das áreas de atuação da profissão, assim como das relações de poder existentes nas instituições? Com certeza sim, pois discorremos sobre isso nos capítulos anteriores. Agora você vai conhecer os espaços sócio-ocupacionais da contemporaneidade e as novas formas de inserção do assistente social e visualizar genericamente os campos contemporâ-neos do Serviço Social.

Neste capítulo, abordaremos os campos emergentes do Serviço Social, possíveis campos de estágio e atuação profissional. Sabemos que a realidade é um movimento dialético que resulta em mudanças concretas, em especial, apon-tando novos locais de inserção profissional para o assistente social.

Veremos, a seguir, alguns dos novos campos de atuação do Serviço Social.

4.1 O assistente social na escola

Um novo campo de atuação para o assistente social tem sido a escola, campo de trabalho da área da Educação, um desafio à profissão. O assistente social tem sua prática situada em uma perspectiva crítica, participando da trans-formação social. Portanto, segundo Novais citado por Lopes (2006), deverá desenvolver as seguintes atividades:

pesquisar de forma social, econômica e familiar a população escolar para a sua caracterização;

elaborar e executar programas de orientação social e familiar, visando à prevenção da evasão escolar, à melhoria do desempenho e do rendi-mento do educando e à sua formação, para o exercício da cidadania e da democracia;

participar, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que visem prevenir a violência, a drogadição e o alcoolismo, bem como prestar esclarecimento e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais questões de saúde pública;

articular com instituições públicas, privadas, assistenciais e organiza-ções comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas necessidades;

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

36 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

ampliar o conhecimento acerca da realidade social e familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente;

elaborar e desenvolver programas específicos nas escolas em que existem classes especiais;

empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da lei n. 8662/93.

O assistente social nas escolas está presente nas mais variadas expressões do cotidiano, seja nas relações externas como a família, sociedade entre outros, seja nas relações internas, que são os diferentes conjuntos como, diretores, docentes e estudantes, entre outros que compõem o campo da educação.

É possível compreender que a atuação profissional do assistente social não está firmada sobre uma única necessidade. Sua especificidade está no fato de atuar sobre várias necessidades. Dessa forma, para que esta prática contribua com o processo educacional, é preciso que seja crítica e participativa e esteja relacionada com as dimensões estruturais e conjunturais da realidade, ou seja, baseada no conhecimento da realidade.

Para Backhaus citado por Lopes (2006), alguns procedimentos que poderão ser adotados com êxito pela equipe interdisciplinar são:

ter sempre presente que a pessoa deve ser considerada na sua experi-ência, no processo de trabalho grupal e comunitário e no contexto que ela própria constrói e vai se construindo;

levar em conta a questão da “motivação” dos integrantes do grupo, como ênfase à realização de um bom trabalho;

buscar a conquista de espaços dentro e fora do grupo – “posicionar-se”;

expor sentimentos, usar de franqueza e espontaneidade nas trocas com os outros integrantes do grupo nas discussões, trabalhar a “ideia” e, sobretudo, contribuir para a “união grupal ”;

a conquista da liberdade de opinião é primordial à interação grupal; os posicionamentos devem ser discutidos em de equipe (profissionalmente) e não em termos pessoais. Os resultados precisam vir ao encontro do conjunto, visando o seu aperfeiçoamento.

Conforme a autora citada, é notório que os profissionais precisam trocar de saberes e intersubjetividades para a realização da prática, pois quanto maior a integração do grupo na busca de conhecimentos e na realização de um trabalho unificado, maiores serão as condições para intervir na realidade escolar e buscar soluções para os problemas encontrados.

A teoria de Antonio Gramsci reconhece a importância do sujeito nas inúmeras dinâmicas sociais. E o assistente social também contribui com seu

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 37

saber para impulsionar uma reflexão política aos segmentos populacionais, para que também possam reconhecer seus direitos e deveres, no sentido de exercer sua cidadania. É esse mesmo trabalho que deve ser realizado entre escola, educando e seus respectivos familiares e comunidade.

A inserção do assistente social no quadro profissional da educação contribui para que a escola execute sua função social, a de proteger os direitos fundamen-tais da criança e do adolescente, como assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), inclusive o direito à cultura. Situações como evasão escolar, indisciplina, dificuldade econômica, desagregação familiar, envolvimento em drogas, gravidez precoce, desinteresse do aluno, entre outras questões emer-gentes, exigem a intervenção de uma equipe interdisciplinar.

A presença do assistente social na escola é necessária e relevante, o que vem sendo confirmado por meio de pesquisas, nas quais se percebe que a escola, enquanto lócus de conhecimento e cultura, vem perdendo essa identidade, porque assumiu os problemas sociais apresentados pelas famílias. Portanto faz-se neces-sária a aprovação da última versão do Projeto de Lei n. 837, de 5 de Julho de 2005, que dispõe sobre a Introdução de Assistentes Sociais e Psicólogos em cada Escola Pública. Assim se mostra a necessidade do reconhecimento dessa emergência pela categoria que também deve reivindicar a sua atuação na área da educação, colaborando para que se efetive esse novo campo de atuação profissional.

Saiba mais

Leia o artigo de Eleni de Melo Silva Lopes, intitulado Serviço Social e Edu-cação: as perspectivas de avanços do profissional de Serviço Social no sis-tema escolar público, da Revista Serviço Social em Revista, da Universida-de Estadual de Londrina, edição jan/jun/2006, acessando o sítio <http://www.ssrevista.uel.br>. Você terá muitas informações interessantes sobra a atuação desse profissional nas escolas públicas. Leia também a Lei de Di-retrizes e Bases – LDB n. 9.394/96 e o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, n. 8.069/90.

Agora vamos conhecer o trabalho do assistente social com pessoas porta-doras do HIV/AIDS.

4.2 O assistente social e o trabalho com pessoas com HIV/AIDS

Esse campo de atuação é componente da Política Nacional da Saúde, um campo atual e extremamente desafiador, pelo seu caráter desmistificador de mitos e medos relacionados a tão debatido tema.

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

38 7º PERÍODO • SERVIÇO SOCIAL • UNITINS

As últimas décadas trazem em seu bojo um dos acontecimentos mais marcantes da humanidade: o advento, em 1981, nos Estados Unidos, mais precisamente nas cidades de São Francisco e Nova York, da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), mais conhecida como AIDS. No Brasil ela foi identificada pela primeira vez no início da década de 1980, porém estudos revelam que sua introdução no país deve ter ocorrido no final da década de 1970.

Minayo citada por Patriota (2005) pontua que qualquer ação de tratamento, de prevenção ou de planejamento deveria estar atenta aos valores, atitudes e crenças dos grupos a quem a ação se dirige. Em concordância com a referida autora, entende-se, ainda, que os grupos que conduzem tais ações, notada-mente os profissionais de saúde, também devem ser objeto de atenção e estudos. No entanto os profissionais que trabalham com portadores de HIV/Aids, seja no âmbito da assistência ou da prevenção, estão entre os que menos atenção têm recebido por parte das pesquisas.

Destacamos o trabalho de Alain Giami e Claude Veil (1997), enfermeiras frente a aids, que tratou das representações sociais de um grupo de enfermeiras e assis-tentes sociais sobre a AIDS, estudo desenvolvido entre 1989 e 1991, na França.

A atuação do Serviço Social com portadores e doentes de AIDS pode ocorrer nas diferentes Unidades de Atendimento, Pronto-Socorro, clínicas, hospitais ou institutos especializados. Assim o assistente social deve ter uma proposta de trabalho voltada ao “acolhimento” como diretriz da prática profissional, que envolve o paciente e família, para a aproximação médico/família. Pode-se trabalhar no aconselhamento ou no tratamento do doente ou portador do vírus.

A assistente social pode desenvolver ações voltadas à prevenção, à educação, com destaque para a assistência. O enfoque do trabalho é o aconselhamento, pois se deparar concretamente com a doença e com a possibilidade de morte é algo muito impactante na vida do sujeito. É importante trabalhar questões com a família, pois as famílias comumente tendem a esconder o problema devido à discriminação, vendo-se ameaçadas, principalmente quando a doença se mani-festa, e afeta todo o contexto familiar de forma significativa. Esse comportamento em relação à família representa a reação de grande parte da sociedade.

O atendimento individual do Serviço Social pauta-se na abordagem educa-tiva e reflexiva com vista a orientar e informar sobre o tratamento, direitos e deveres do soropositivo, questões trabalhistas, previdenciárias e jurídicas. Pode atuar também diretamente com as demandas sociais relativas à falta de alimen-tação, medicação e transporte, sendo extensivo o acompanhamento social a familiares que enfrentam as mesmas dificuldades dos usuários. Martinelli (1997, p. 45) informa que

[...] somos profissionais [assistentes sociais] que chegamos o mais próximo possível do cenário da vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. O que para muitas profissões é relato, para

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 39

nós é vivência, o que para muitos profissionais é informação, para nós são fatos, plenos de vida, saturados de história.

Como parte da equipe multidisciplinar desde o início do atendimento, o assistente social atua com o paciente, a família e sua rede de relacionamentos em uma perspectiva de educação, prevenção e assistência. A abordagem do Serviço Social aos usuários e familiares se concretiza por meio do atendimento individual, grupal e visita domiciliar. Essas ações podem ser expandidas por meio de participação em comissões municipais e estaduais de prevenção e controle de DST/AIDS, ações integradas com Organizações Governamentais e não Governamentais.

Outra atividade que pode ser coordenada pelo Serviço Social e pela Psicologia é o treinamento de capacitação dos agentes que prestam atendimento direto e/ou indireto a pacientes portadores de HIV e seus familiares, destinado aos profissionais das diversas áreas.

O campo do HIV/AIDS tem peculiaridades e particularidades que o dife-rencia do atendimento a outros pacientes igualmente graves. Não possui um caráter apenas curativo, pois trabalhar com esses pacientes remete a questões que envolvem doença, morte e a própria perspectiva de existência. É um campo de trabalho que tem ampla repercussão, atingindo, além do paciente, todo o seu contexto sociofamiliar, fato que o torna um problema não exclusivamente médico e físico, mas também social, econômico, psicológico, político justificando-se a necessidade de uma atuação em equipe interdisciplinar.

A busca da formação e do aprimoramento profissional deve ser constante, sobretudo no desenvolvimento de um atendimento mais humanizado, pois não basta ter capacidade técnica. Trabalhar com pessoas portadoras do HIV é depa-rar-se frequentemente com situações adversas, dadas as implicações causadas pela doença, ao paciente e à sua rede de relacionamentos. Nesse sentido, Patriota (2005) afirma que as principais demandas sociais que emergem no transcorrer da ação são: questões familiares, hospitalização, direitos sociais (trabalhistas, previdenciários, do paciente...), transporte, medicação.

Faz-se ainda necessário um trabalho voltado a questões como sexualidade, preconceito, discriminação e morte. A questão do sigilo profissional é muito importante, pois esses pacientes vivenciam situações de conflito quanto a expor seu diagnóstico de soropositivo a parentes e amigos, fator que deve ser respei-tado pela equipe. Reuniões interdisciplinares frequentes, formais ou informais, devem ser uma prática constante, o que, certamente, facilitará a compreensão global do paciente e contribuirá para que a equipe assuma uma conduta única e mais consciente frente aos casos.

Uma das principais ações para o enfrentamento da AIDS é a prevenção. É necessário esclarecer a população sobre os aspectos relacionados à doença,

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

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visando à utilização de medidas preventivas, que ocorrem com a mudança de visão e comportamento. Esse é o maior desafio dos profissionais envolvidos nesta temática.

Além dessa área de atuação, você também pode trabalhar com crianças e adolescentes. Veja a seguir.

4.3 O assistente social atuando com criança e adolescente

Esse campo de atuação é relativo à Política Nacional da Assistência Social e pode se dar no âmbito da proteção básica ou especial de média ou alta comple-xidade, dependendo da situação vivenciada. Tanto o ECA como a Constituição Federal preconizam a participação da sociedade civil na formulação, execução e fiscalização das políticas de atendimento à infância e juventude, por meio de conselhos municipais, estaduais e nacional.

Na área específica da criança e do adolescente, por exemplo, no caso de violência, na realidade brasileira, a percepção está centralizada na família e, de acordo com dados da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) de 2003, a principal causa da mortalidade infantil no Brasil é a violência. Conforme o Ministério da Saúde (2001), 80% dos casos de violência contra a população infantil e jovem ocorrem dentro do espaço familiar.

No entanto, Guerra citado por Patriota (2005, p. 34) assevera que

A análise da violência praticada contra a criança e o adolescente deve contemplar aspectos mais abrangentes do que apenas a centra-lização no ambiente familiar, visto que são vários os motivadores destas práticas. A autora destaca como determinantes os tipos de relações interpessoais entre os membros da família, as questões de abuso de poder disciplinador, no caso, a ênfase no autoritarismo, através de ações coercitivas dos pais ou responsáveis.

Por tradição, em muitos casos, a violência intrafamiliar acaba assumindo a característica do sigilo, chancelada pela própria sociedade, protegida sob o manto do espaço privado e inviolável que a família representa. A violência estru-tural e social, refletida na vulnerabilidade em que se encontram muitas famílias brasileiras, reflete outro fator fundamental para se compreender a prática de violência contra crianças e adolescentes.

O assistente social, nesse e em todos os contextos, deve ter claro que a quali-ficação profissional deve ser uma prática e uma procura constante, para que se possa evitar atendimentos pontuais e imediatistas, e/ou ainda não fundamen-tados, colocando em risco a qualidade dos serviços. A construção do trabalho em rede também deve ser uma busca constante. A construção da rede de aten-dimento é urgente e necessária.

Os postulados do ECA, em seu artigo 86, apontam uma perspectiva de atenção articulada entre as redes de serviço de atendimento à criança e ao

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CAPÍTULO 4 • ORIENTAÇÃO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL II

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adolescente. A desarticulação entre as entidades tende a fragilizar as interven-ções na área da criança e do adolescente, prevalecendo sobreposições e para-lelismo de ações, que reduz de modo significativo a capacidade de articulação de modo a garantir um trabalho em rede.

O Serviço Social, a partir de sua visão de totalidade e da especificidade profissional, deve reiterar seu posicionamento sempre no sentido de que o poder público substitua ações emergenciais e pontuais, que reiteram continuamente a passividade e o conformismo da população, por políticas sociais assentadas nos princípios da emancipação e da autonomia. Patriota (2005, p. 67) chama atenção para o fato de que

[...] além disso, a prática sistemática de avaliação de programas sociais deve direcionar a ação dos profissionais comprometidos com a intervenção competente das entidades de atendimento, mediante um trabalho articulado e integrado, constituindo uma rede de serviços capaz de consolidar direitos à população referenciada.

As entidades de atendimento à criança e ao adolescente, nessa perspectiva, na pessoa do assistente social e demais agentes, devem priorizar práticas demo-cráticas que garantam a autonomia dos agentes e usuários por meio do diálogo pluralizado capaz de fomentar funções e atribuições de natureza deliberativa, com propostas que beneficiem o coletivo. Devem, ainda, criar condições para a efetivação do processo de participação e do controle social, ultrapassando toda e qualquer postura autoritária por parte do poder constituído, a fim de contribuir para a viabilização de políticas públicas.

Aos assistentes sociais são imensos os desafios existentes. Esses profissionais têm de estar capacitados para motivar e para criar uma nova cultura política na população brasileira Isso envolve fazê-la enxergar a necessidade de mudança na condução da esfera pública, por meio da participação e do efetivo controle social exercido a partir de espaços de construção e de efetivação de direitos. Citado por Patriota (2005), Benevides chama a atenção para a enorme necessi-dade daquilo que define como “educação para a democracia”, entendido como um movimento educacional político, capaz de enfrentar o descrédito, o desinte-resse, o egoísmo político e o desencanto com a própria ideia de democracia.

Cabe não somente ao assistente social essa demanda, mas a toda socie-dade e demais categorias profissionais.

Há outro espaço para o assistente social, como o meio ambiente, assunto do próximo subitem.

4.4 O assistente social e a questão do meio ambiente

O Serviço Social tem, junto às questões ambientais, um espaço tão privilegiado como os permitidos por outras questões mais próximas da sua prática profissional.

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Porém com o agravante de que o meio ambiente, entendido como o mundo, se não for preservado, finda a perspectiva de continuidade, acaba tudo.

É importante entender a relação que existe entre as questões ambientais e o Serviço Social, para assim identificar e justificar o papel e a prática do assistente social em mais esse novo espaço. Apesar de nem todos terem esse entendimento, não se pode falar em meio ambiente sem falar de aspectos sociais e vice-versa, pois meio ambiente numa linguagem simplificada “é tudo o que nos rodeia”.

Antes de construções, como barragens e hidroelétricas, são realizados estudos de viabilidade em que se fazem levantamentos dos recursos existentes na área e relatórios de impactos ambientais (RIMA). Esses são instrumentos obrigatórios para que haja a aprovação da obra junto aos organismos que têm a função de cuidar do meio ambiente. Os levantamentos e os relatórios tratam mais diretamente das consequências que esses empreendimentos poderão causar na paisagem, na fauna, na flora, mas não tratam dos impactos sociais, ou seja, das consequên-cias sociais que vão resultar de tais empreendimentos e que têm o homem como alvo maior. Quando as consequências sociais são lembradas, isso acontece de maneira superficial. E é esse não reconhecimento que também concorre para a emergência das questões ambientais frente as quais o Serviço Social, assim como outras áreas do conhecimento, vai intervir (PAGANI e outros, 1999).

A partir dessa ideia, a intervenção poderá ter como alvo as comunidades rurais e urbanas que sofrerão os impactos direta ou indiretamente. Tem-se como referência que, tanto o espaço rural quanto o urbano, são espaços de moradia e como tais, (re)produzem condições para o desenvolvimento de inúmeros processos sociais, entre os quais as ações das políticas públicas, voltados para essas populações (Souza, 1991). A intervenção social é justificada pela emer-gência de novas situações que são geradas não só pelo confronto que passa a existir entre a população, na condição de expropriados, e a concessionária, mas também pelos efeitos causados pelos próprios empreendimentos.

Esses confrontos poderão surgir em consequência do remanejamento das famílias, do tamanho dos lotes onde deverão ser reassentadas, do preço da terra e das benfeitorias a serem pagos através da ação indenizatória. Outros aspectos conflituosos se referem à cobertura real dos prejuízos, às novas mora-dias, ao tipo de construção, tamanho, material, entre outros, além do traçado das novas estradas vicinais, às novas pontes que devem ser construídas. Os meca-nismos burocráticos estabelecidos para a compensação dessas perdas sociais não oferecem alternativas condizentes com a vida que a população mantinha, criando subsistemas de manutenção da miséria.

O objeto da ação interventiva do Serviço Social será, pois, a situação criada pela proposição do empreendimento que gerará novas condições de vida para a população, a que Scherer Warren (1993), utilizando a classifi-cação de Kowarick citado por Pagani e outros (1999), denomina de os expro-

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priados, os espoliados e os explorados. Entendendo-se como os expropriados urbanos e rurais os diretamente atingidos (lavradores e índios), que são remo-vidos compulsoriamente de suas terras ou moradias, para dar lugar à cons-trução; os espoliados urbanos são aqueles indiretamente atingidos tanto na zona rural como na urbana e que sofrerão os efeitos não só ambientais como também sobre o seu sistema de produção e, na zona urbana, os efeitos serão sentidos na infraestrutura de serviços existentes no local de moradia; e, por fim, os explorados, que são representados pelos trabalhadores não qualificados que são recrutados para o trabalho nos canteiros de obras e que, terminada a construção, se vêem desempregados.

O Serviço Social utiliza estratégias particulares para intervir nos problemas gerados por essas construções. Ele desenvolve um processo metodológico de ação para, primeiramente, elaborar um diagnóstico socioeconômico dessas comunidades para, logo após, procurar capacitá-las para o enfrentamento das questões emergentes. Isso pode ser realizado por meio do repasse das informa-ções técnicas sobre os efeitos do empreendimento na vida da comunidade e da geração futura; por meio da formação de lideranças para garantir o movimento, em defesa de seus direitos e interesses a fim de, posteriormente, levar as comu-nidades a buscar articulações com outros parceiros, como o Movimento dos Atingido por Barragens (MAB), Comissão Regional dos Atingidos por Barragens (CRAB), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ONGs e a Igreja por meio das suas outras pastorais, além de outros, como os movimentos ambientalistas.

As principais dificuldades encontradas nesse processo, pelo assistente social, conforme Pagani e outros (1999), referem-se, primeiramente, ao desconheci-mento dos fundamentos relativos às questões ambientais. Na formação profis-sional, pouco são abordados assuntos que dizem respeito ao meio ambiente. Em segundo lugar, existe certo “desinteresse” da categoria pelos projetos que tenham como alvo as questões ambientais, o que pode estar ligado ao desco-nhecimento da grande importância que tem o meio ambiente na continuidade da vida no mundo.

As questões ambientais configuram um espaço sócio-ocupacional novo e muito importante para o Serviço Social. Isso ocorre não somente pela riqueza de possibilidades de estudos interdisciplinares, mas também pela importância de que se revestem essas questões, que oportunizam inúmeras condições de inter-venção ao Serviço Social, em ações de mobilização, organização das popu-lações quando ameaçadas com a degradação do seu meio ambiente ou de educação dessa mesma população para a sua preservação.

É bom lembrar que, quando se fala de meio ambiente, fala-se das ques-tões ligadas ao tecido da vida, não havendo maior importância do que a sua preservação para a garantia da sua continuidade. Conheça agora a tuação do assistente social em ONGs.

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4.5 O assistente social no Terceiro Setor – ONGs

Outro campo atual, desafiador e que vem cada vez mais requisitando a presença do assistente social, é o chamado Terceiro Setor, configurado nas Organizações Não Governamentais – ONGs. O Terceiro Setor se configurou, no decorrer dos últimos vinte anos, em um contexto socioeconômico e político marcado pela complexidade, incerteza, instabilidade e mudanças aceleradas, em uma dimensão globalizada e de grande desenvolvimento tecnológico e cientí-fico, paradoxalmente ligada ao aumento da pobreza e da desigualdade social.

A abordagem dessa temática jamais pode ser no sentido de endeusar o terceiro setor, como se pudesse ocupar o papel, que é do Estado, na formulação e execução de políticas públicas, sociais, nem de forma a satanizá-lo, a ponto de negar sua importância e a dimensão de suas ações quanto ao enfrentamento das diferentes manifestações da questão social no Brasil. Alguns requisitos são fundamentais a todos os profissionais que desejam atuar em organizações do Terceiro Setor. Entre eles, destacamos, segundo Costa (2005):

ter um conhecimento básico sobre o que é o Terceiro Setor e as institui-ções que o compõem, bem como, mais especificamente, sobre a insti-tuição onde irá desenvolver a sua ação: histórico, objetivos, missão, recursos, proposta de trabalho, dificuldades, possibilidades, limites, público-alvo etc.;

ter a visão da totalidade institucional, conhecendo o ambiente interno e externo da organização e, principalmente, o papel que pretende cumprir naquele determinado momento histórico e pelo qual deseja ser reconhecida;

conhecer a legislação atual que fundamenta a política de atuação junto ao segmento atendido pela instituição. Isso significa buscar nas leis perti-nentes à ação institucional, respaldo legal para a um trabalho voltado para a garantia dos direitos da população atendida. A Constituição Federal de 1988; a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, a Lei Orgânica da Saúde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, etc., são exemplos do aparato legal que podem contribuir para garantir a ação do técnico, do Serviço Social ou de outras áreas, uma ação mais contextualizada, interdisciplinar e abrangente;

ter a concepção clara de que a população atendida pela instituição é constituída por sujeitos de direito e não meros objetos da ação profissional;

saber atuar em equipe, pois essa participação pressupõe o trabalho conjunto de pessoas que discutem e analisam situações e fatos concer-nentes ao âmbito de atuação, tomando decisões de encaminhamento

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e executando-as. Traz a ideia do trabalho coletivo, cujos membros partilham de uma visão claramente definida sobre os objetivos a serem alcançados, tendo em vista a totalidade institucional e a ação interdisciplinar;

produzir respostas profissionais concretas e práticas para a problemá-tica trabalhada pela instituição, a partir de uma postura reflexiva, crítica e construtiva. Exercer a práxis profissional com compromisso e responsa-bilidade, primando pela capacidade de denunciar situações que neces-sitam ser superadas, mas também anunciando as formas de fazê-lo.

Especificamente quanto à atuação do assistente social, é imprescindível um entendimento da relação do Estado com o mercado e o Terceiro Setor, sem esquecer que cabe ao Estado o dever de prover políticas sociais adequadas e eficientes para o enfrentamento da questão social . O terceiro setor é parceiro do Estado e não o contrário.

Além disso, com base na Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social, Lei n. 8.6662, de 7/6/1993, é possível visualizar algumas atribuições específicas ao assistente social que atua na área do terceiro setor. Por exemplo, a implantação, em âmbito institucional, da Política de Assistência Social, conforme as diretrizes da Lei Orgânica da Assistência Social, LOAS/1993 e Sistema Único da Assistência Social, SUAS/2004, de acordo com a área e o segmento atendido pela instituição. Também deve dar subsídio e auxílio na administração da instituição quanto à elaboração, à execução e à avaliação do Plano Gestor Institucional, tendo como referência o processo do planejamento estratégico para organizações do terceiro setor.

Além dessas atribuições, é tarefa do assistente social desenvolver pesquisas junto aos usuários da instituição, com o objetivo de conhecer o perfil social dessa população, obtendo dados para a implantação de projetos sociais, interdisciplinares. Suas ações continuam com a função de identificar continuamente as necessidades individuais e coletivas, apresentadas pelos segmentos que integram a instituição, na perspectiva do atendimento social e da garantia de direitos, implantando e administrando benefícios sociais. Pode realizar seleção socioeconômica, quando for necessário, a partir de critérios pré-estabelecidos, sem perder de vista o direito de acesso universal ao atendi-mento integral e de qualidade.

Outra forma de agir é ampliar o atendimento social às famílias dos usuários da instituição, com projetos específicos e formulados a partir de diagnósticos preliminares, intensificar a relação instituição e família, objetivando uma ação integrada de parceria e fornecer orientação social e fazer encaminhamentos da população usuária aos recursos da comunidade, integrando e utilizando-se da rede de serviços socioassistenciais. Também participa de estudos e discussões de casos com a equipe técnica, coordena-os e os assessora, relacionados à

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política de atendimento institucional e aos assuntos concernentes à política de Assistência Social. Por fim, realiza perícias, laudos e pareceres técnicos relacio-nados à matéria específica da atuação profissional, no âmbito da instituição, quando solicitado.

A atuação do assistente social no interior das instituições do terceiro setor deve se dar sempre com a finalidade de atendimento integral e de qualidade e garantia do direito de inclusão a esse atendimento. Agora você conhecerá o campo de atuação com idosos.

4.6 O assistente social no campo dos idosos

Esse campo de trabalho pertence à Política Nacional da Assistência Social, em conformidade com o Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1° de outubro de 2003.

Os assistentes sociais, como categoria profissional, na tentativa de atender a essa população tão marginalizada e sofrida, buscam a garantia de direitos a esse segmento, dentro dos limites que não acarretem comprometimento à estabi-lidade do sistema. Uma modalidade utilizada pelo serviço social é a de ocupar o tempo dos idosos, pois, a maioria, após completar 60 anos, encontra-se afas-tada, isolada do processo produtivo. Jonas (2004, p. 25) ensina que,

Ao serviço social, cabe pensar nas atividades mais adequadas a esta faixa etária. Deste modo, os programas e serviços ofertados através dos serviços sociais preocupam-se em preencher este tempo ocioso, com atividades formuladas empiricamente (grupos de convivência, atividades artesanais, culturais, físicas e espor-tivas etc.), sem uma base teórica consistente, no mais das vezes reproduzindo o que é feito noutros lugares.

Quanto ao enfrentamento das questões relacionadas ao idoso, urge ao serviço social um esforço científico, o que quer dizer conhecer verdadeiramente as deter-minações presentes no bojo dos trabalhos com idosos, afinal essa é a parcela da classe trabalhadora mais fragilizada para cuidar de sua autorreprodução.

Na medida em que as propostas de trabalho com idosos no âmbito do Serviço Social, em grande parte, tem se concentrado na ocupação do seu tempo ocioso, a análise do uso do tempo torna-se uma questão relevante. É possível afirmar que o emprego do tempo pelos indivíduos na sociedade capitalista varia de acordo com algumas circunstâncias, evidentemente não suscetíveis de escolha pelos indivíduos, mas impostas a eles pelo lugar que ocupam na sociedade ao nascer.

A importância de abordar a questão do envelhecimento numa perspectiva teórica consistente pode ajudar os assistentes sociais não se deixar levar facil-mente pela perspectiva que encara o aumento da população idosa como um problema e nem por aquela que a torna uma oportunidade de negócios.

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Saiba mais

Pagani e outros (1999), em artigo intitulado Conversando sobre as ques-tões ambientais e o Serviço Social, publicado pela revista eletrônica Servi-ço Social em Revista, da UEL, esclarece sobre pesquisa em meio ambiente no Serviço Social. Leia o artigo na íntegra pelo sítio <http://www.ssrevista.uel.br> e fique por dentro dessa temática!

Neste capítulo, você conheceu alguns espaços sócio-ocupacionais contem-porâneos do Serviço Social e pôde visualizar a atuação profissional do assis-tente social, sua rotina de trabalho, instrumentos e estratégias utilizadas.

No próximo capítulo, você estudará a reestruturação produtiva e suas princi-pais consequências no mundo do trabalho e, em especial, no campo específico do trabalho do assistente social.

ReferênciasANHUCCI, Valdir. O Conselho Municipal dos direitos da criança e do adolescente e entidades sociais na garantia de direitos. Serviço Social em Revista, v. 8, n. 2, jan./jun., 2006. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 23 jul. 2009.

LOPES, Eleni de Melo Silva. Serviço Social e educação: perspectivas de avanços do profissional de Serviço Social no sistema escolar público. Serviço Social em Revista, v. 8, n. 2, jan./jul., 2006. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 23 jul. 2009.

PAGANI, Ângela Maria; COLITO, Maria Clementina Espiler. Conversando sobre as questões ambientais e o Serviço Social. Serviço Social em Revista, v. 1, n. 2, jan./jun., 1999. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 23 jul. 2009.

PATRIOTA, Lúcia Maria. Assistentes sociais e AIDS: um estudo de suas represen-tações sociais. Serviço Social em Revista, v. 8, n. 1, jul./dez., 2005. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 23 jul. 2009.

SOLCI, Silvia Maria. A efetivação dos direitos da criança e do adolescente. Serviço Social em Revista, v. 4, n. 2, jan./jun., 2002. Disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br>. Acesso em: 23 jul. 2009.

Anotações

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O serviço social e a reestruturação produtiva 5

Introdução

Você conhece o processo histórico que deságua na atualidade com o neoli-beralismo, a globalização e as consequentes configurações do mercado de trabalho? Faça uma pesquisa na internet sobre esses três tópicos para compre-ender o significado de reestruturação produtiva e como ela influencia nos espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais.

Sabe-se que a reestruturação produtiva e todo o processo da ofensiva neoli-beral acarretaram inúmeras mudanças materiais, sentimentais e comportamen-tais no modo de vida da humanidade. Trata-se de um processo desestruturador, porém, como tudo o que degenera, aponta, talvez mesmo pela sua iminência destrutiva, novas formas de pensar e agir, as quais podem resultar em possibili-dades de sucesso e transformação da realidade.

Começaremos pela reestruturação produtiva. Como ela surgiu? Veja a seguir.

5.1 O surgimento da reestruturação produtiva

A reestruturação produtiva teve seu surgimento na Suécia, na Itália e no Japão. O modelo japonês galgou mais espaço, transformando-se no tão conso-lidado “Toyotismo”, que apresenta sua dinâmica produtiva caracterizada pela flexibilidade e fragmentação. Antunes (2000, p. 54) ensina que podemos compreender isso como

[...] uma produção vinculada à demanda visando atender às exigências mais individualizadas do mercado consumidor [...] [que] fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multi-variedade de funções [...] [com] processo produtivo flexível, que possibilita ao operário operar simultaneamente várias máquinas.

Essas transformações repercutem no mundo do trabalho e na classe traba-lhadora como um sistema de trabalho flexível que necessita de um sistema de regulação também flexível, com “novas formas de estruturação” (IAMAMOTO, 2003, p. 31). Assim as relações de trabalho, nas formas vigentes, apresentaram um descompasso com a dinâmica emergente de acumulação e demandaram a necessidade de desregular em favor de práticas de negociação direta, logo sem intermédio do Estado. É a realidade dos acontecimentos atuais configurados na

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passagem do modo de produção fordista para o toyotista, também conhecido como modelo japonês.

Dedecca citado por Antunes (2000, p. 45) afirma que, pela ótica neoliberal, o papel das políticas da reestruturação produtiva, pode ser conceituado como

[...] a tendência de flexibilização das relações de trabalho, caracterizada pela perda de espaço da regulação pública para aquela que se realizava nos espaços privados das empresas [...] considera fundamental que as empresas tenham a capacidade de reorganizar rapidamente o processo de trabalho e, consequente-mente, as funções e as tarefas que cada trabalhador realiza.

É visível um ataque frontal aos direitos trabalhistas, o que dá margem ao surgimento de novas formas de contratação de mão de obra, agora precarizado, nas mais diversas formas, como trabalhos terceirizados, temporários, dupla jornada, entre outras. É assim que, de acordo com Antunes (2000), a classe-que-vive-do-trabalho atravessa e é atravessada pela sua “crise mais intensa”, pois vê afetada não somente a sua materialidade (devido à sua heterogeneização), mas a sua subjetividade e consciência.

Nessa ótica, o neoliberalismo respalda ideologicamente o processo da rees-truturação produtiva, concentrando esforços em atacar o Estado e as políticas sociais universais, o que se manifesta na reorganização da estrutura e do papel estatal. A onda neoliberal qualificou a satanização do Estado, colocando-o como o responsável por todas as mazelas sociais: o que se confirma nas políticas do FMI e do chamado “Consenso” de Washington e deixa o mercado como a alter-nativa para superar a pobreza e a exclusão.

O contexto atual da área social é que o Estado investe menos, o que aumenta a exclusão das massas empobrecidas, chamadas por Castel de sobrantes, que cada vez mais apresentam característica estrutural, ou seja, têm sua gênese na estrutura produtiva. Como consequência da onda neoliberal, ocorre uma redefi-nição das relações entre Estado e sociedade civil, que representou dentre outros aspectos, o afastamento do Estado da área social.

Nesse contexto, o sistema de proteção social do Estado de Bem-estar não chegou a se configurar como tal no Brasil, o que acarretou a implementação do legado ideológico e político neoliberal que, aliado aos parâmetros produ-tivos flexíveis, causou a acentuação das desigualdades sociais e o aumento do desemprego no país.

A ofensiva neoliberal no Brasil, segundo Faleiros (2000), teve início no governo Sarney, entre 1985 e 1989, que, enquanto se consolidavam os traba-lhos teóricos da Constituição cidadã, na prática o governo realizava o início do desmanche das políticas sociais desestruturando o aparato estatal. Não obstante, para Raichelis (2000) e Behring (2002), o verdadeiro ator a iniciar as práticas neoliberais de forma mais sistematizada foi o Presidente Collor. Este se alinhou ao

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UNITINS • SERVIÇO SOCIAL • 7º PERÍODO 51

projeto neoliberal desde o início da sua campanha presidencial, com propostas de redução da atuação estatal, incluindo as reformas constitucionais, assim descaracterizando a recente Constituição promulgada em 1988, decretando a tão debatida caça aos marajás (funcionários públicos com altos salários). Merece destaque o Plano Brasil, implementado no governo Collor, que apontou

Mudança significativa na natureza do Estado e nas suas formas de atuação [...] um Estado menor, mais ágil e bem informado [...] a tarefa de modernização da economia terá na iniciativa privada seu principal motor [...] ao Estado cabe, porém, um importante papel de articulador dos agentes privados [...] (RAICHELIS, 2000, p. 96).

A Reforma da Previdência é uma das medidas desestruturantes que caracte-rizam o avanço do projeto neoliberal, em que conquistas sociais têm sido sola-padas sob a justificativa de ajuste fiscal, o que vela suas reais causas políticas, como corrupção, desvio de verbas etc. Isso configura o déficit previdenciário, o que provoca o aumento do tempo de contribuição e a redução dos valores dos benefícios e abre espaço para a previdência privada, atualmente bastante popularizada.

Outra medida que merece destaque aqui é o ataque ao SUS – Sistema Único de Saúde – e a sua desregulamentação. Esse Sistema resultou de lutas demo-cráticas da sociedade brasileira, contempladas na Constituição de 1988 e que se vê, desde o final da década de 1980, em processo de redução efetiva dos investimentos na área da saúde.

É possível visualizar a direção política e ideológica que o Estado brasileiro tem seguido nos últimos anos, contribuindo para uma retração da intervenção estatal, o que garante a precarização dos serviços públicos. De acordo com Soares (1999), os “ajustes” neoliberais têm garantido, na verdade, um desajuste social nos países latino-americanos.

Um peculiar exemplo desses “ajustes” é o projeto colocado pelo Banco Mundial em parceria com o governo FHC quanto à estruturação do SUS, o chamado reforsus, que, nas entrelinhas, busca a focalização do sistema aos mais pobres, rompendo a universalidade preconizada no Sistema Único. Isso demonstra mais uma vez a contradição existente nas políticas sociais de caráter universal: atender apenas aos mais necessitados, mesmo que todos tenham direito.

As diversas e expressivas mudanças provocadas pela reestruturação, tanto na estrutura ocupacional quanto nos requerimentos de qualificação do trabalho, determinam a necessidade de modificações na orientação de políticas públicas e empresariais de formação profissional e treinamento de trabalhadores. Assim é possível afirmar que o verdadeiro papel das políticas neoliberais, as quais são impulsionadas pelo capitalismo monopolista em nível mundial, é a retração do Estado em seu papel social, com aplicação de parâmetros administrativos privados na ação estatal. O Estado, por sua vez, não responde às demandas

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dos trabalhadores, já que ocasiona a “culpabilização das vítimas”, os próprios trabalhadores, de maneira perversa, culpados por sua situação de atraso social e econômico.

Dessa forma, a reestruturação produtiva iniciada na década de 1970, de acordo com a ideologia neoliberal, interferiu de forma contundente na organização do processo produtivo, bem como nas esferas do Estado e das políticas públicas.

O redimensionamento do processo de trabalho contemporâneo, crescente informatização e os procedimentos do capitalismo flexível, exigem um trabalhador de estilo multifuncional, que consiga se adaptar às diversas mudanças, o que se justifica na variedade de produtos industriais. A modalidade flexível da produção, ancorada na informatização, levou a uma redução nos postos de trabalho, seja pelo caráter descartável que tomou o trabalho, ou pela troca do trabalho vivo pelo trabalho morto, a substituição da mão de obra pela maquinaria.

Os níveis de emprego caem e cresce o setor de serviços e da informalidade, o que fragmenta a classe trabalhadora devido às diversas formas de serviços emergentes, com grande impacto nas entidades sindicais, que não conseguem administrar as lutas e as diversas formas de manifestação de assalariamento. Essa situação gera uma nova forma de leitura para o entendimento da classe trabalhadora, que passa a ser entendida como classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2000).

Esse cenário levou a uma flexibilidade das leis trabalhistas, afetando direta-mente os direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores. A nova dinâ-mica de exigências ao trabalhador, aliada à flexibilização das leis trabalhistas, acabou por provocar a emergência de novos modos de trabalho, nas formas dos subcontratos, terceirização, part-time, além da dupla jornada do trabalho feminino indispensável para a reprodução do capital.

A educação para o trabalho, nesse contexto, se faz indispensável para acompanhar as mudanças no seio produtivo, como suposto meio de superação da condição de atraso e pobreza de um país. A formação profissional passou a ser ponto-chave para a inserção do trabalhador no emprego, identificando nesta formação uma forma de manipulação mais ideológica do que concreta.

A retórica neoliberal executa as políticas públicas de forma a desviar a discussão do direito ao trabalho para o empreendedorismo individual, passando a julgar o indivíduo isoladamente sobre a sua condição. Por exemplo, nas polí-ticas de emprego e renda no Brasil, o enfoque na “empregabilidade” estimula a competição e o individualismo entre os trabalhadores de forma crescente e assustadora. Faleiros (2000, p. 193) ensina que

A empregabilidade significa a capacidade individual de encon-trar emprego ou trabalho no mercado, pelo esforço de capaci-tação e de busca de competitividade pessoal. A competitividade

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é que está na base da empregabilidade, fazendo com que os trabalhadores se inscrevam em programas de formação profis-sional [...]. Os programas têm o efeito de manter a expectativa de trabalhar, fazer crer no esforço individual, no seu fracasso e de diminuir a busca do emprego.

Há que se pensar alternativas democráticas para a superação da crise, em que se deve privilegiar, por meio de políticas efetivas de distribuição de renda, um novo modelo de produção industrial mais inclusivo e equitativo. Isso retoma o papel do Estado no controle de capitais, na busca de viabilizar a inserção da população no processo produtivo, incentivando nesta a sua capacidade de ação política.

O Serviço Social, enquanto profissão integrante da divisão sociotécnica do trabalho, não escapa dessa realidade, o que chama bastante atenção para as formas de contratação da mão de obra profissional nas diversas áreas e campos de atuação. São formas precarizadas de contratação, como terceiri-zação, contrato remunerado por horas de trabalho executado, por tempo deter-minado, o que leva à instabilidade profissional, bastante peculiar ao contexto socioeconômico neoliberal.

Agora você já está apto a conhecer o atual cenário em que pode se inserir nessa profissão.

5.2 O Serviço Social e o cenário atual de trabalho

Como já visto, o atual contexto da realidade destitui o trabalhador de seu trabalho e o responsabiliza por sua empregabilidade, envolvendo-o na cultura da crise (MOTA, 1995). Resta ao trabalhador o ingresso na incerteza da infor-malidade, nas contratações temporárias e/ou precárias, ou mesmo o desem-prego, face mais cruel e séria do padrão atual de acumulação, especialmente em países como o Brasil, com milhares de pessoas abaixo da chamada linha de pobreza, de economia periférica e de tradição autoritária, clientelista e subal-terna aos ditames internacionais.

Esse quadro tem incidência sobre o Serviço Social, segundo Grave (2002), de duas formas principais: uma se relaciona à equação das demandas atuais, em que o Estado executa apenas “atividades exclusivas de Estado”, deixando setores como saúde, educação, previdência, assistência não mais como de inter-venção exclusiva do Estado, mas também do setor privado. Isso acontece por meio de parcerias e contratos de gestão, ou seja, combina o enfrentamento das demandas sociais com o setor privado; a outra forma se relaciona com a mão de obra do trabalhador, que atualmente não se limita mais à mão de obra menos qualificada, mas a outros segmentos, como profissões de nível superior, dentre eles o Serviço Social, as quais têm menos oportunidade de ingresso no mercado via serviço público.

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A formação é aqui apontada como um dos elementos determinantes para a garantia da empregabilidade, não se reduzindo essa perspectiva apenas à formação de graduação, mas à sua atualização, que deve ser constante, como recurso estratégico, especialmente nos tempos atuais, de redimensionamento da profissão. Esse cenário apresenta a redução de postos de trabalho, contratos precarizados, duplas jornadas, desemprego e afeta o Serviço Social de forma alarmante, materializada na flexibilidade. Isso se dá de duas formas, conforme Mattoso citado por Grave (2002): a flexibilidade funcional ou interna e a numé-rica ou externa.

A primeira se dá no interior da empresa, no sentido de o trabalhador tentar manter seu emprego, submetendo-se às condições impostas pela empresa, como rodízio e assunção de novas atividades sob sua responsabilidade. A segunda se refere à estratégia da empresa em contratar de forma temporária os trabalha-dores conforme a sua necessidade sazonal. Portanto o trabalho flexibilizado não se reduz apenas aos trabalhadores menos qualificados, estendendo-se a funções técnicas e administrativas, independentemente do nível de formação.

Isso acarreta, também, uma flexibilização do rendimento da classe trabalha-dora, em função da tendência à variação do valor da remuneração, por méritos, gratificações e produções. Empregos e salários instáveis geram insegurança à classe trabalhadora, em especial, quanto ao seu futuro.

Voltando os olhos para o mercado de trabalho específico do Serviço Social, o qual é majoritária e tradicionalmente constituído pelo Estado, podemos afirmar que o contexto atual neoliberal transfere à sociedade civil a responsabilidade de conferir aos excluídos sociais, por meio de princípios de solidariedade, melhores condições de vida. É a chamada refilantropização do enfrentamento da questão social.

O mercado de trabalho do serviço Social, acompanhando as tendências das demais profissões, tende a se contrair e a gerar novas demandas à profissão. É importante lembrar que, embora o cenário seja desolador, não deve ser enten-dido sob a ótica fatalista do fim da era dos empregos. Sobre isso, Netto citado por Grave (2002, p. 45) afirma que

É importante frisar que a escassez na oferta de emprego não é um fenômeno comum apenas aos assistentes sociais, assim como não é um processo que se reverterá a curto prazo. Porque o que está em crise é o padrão da ordem burguesa que se expressa no problema da inserção no mercado de trabalho.

Trata-se, portanto, de um processo que remete a raízes estruturais. Porém que apresenta ao Serviço Social diferenciadas possibilidades de trabalho, cabendo aos assistentes sociais aproveitarem-nas se não quiserem perder espaços sócio-ocupacionais preciosos. Para tanto, estar atento às tendências institucionais e conjunturais é fundamental, devendo estes se constituírem em ingredientes orgâ-

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nicos do fazer profissional. Aqui se põe a prática investigativa do assistente social, não apenas como uma competência técnico-operativa, mas como um dos elementos centrais do cotidiano profissional.

Nenhuma realidade é totalmente sombria, havendo sempre inúmeras possi-bilidades que desabrocham dependendo da visão desenvolvida pelos profis-sionais. Um exemplo disso é dar visibilidade às experiências vivenciadas pelos assistentes sociais em seus campos de atuação, porque muitas delas são repre-sentadas justamente por esforços isolados e surdos nessa prática investigativa.

Assim, não só as dificuldades impostas pelo momento atual, mas o profundo isolamento profissional no campo de trabalho, acarretam, muitas vezes o imobi-lismo, a insegurança e o fatalismo. Netto citado por Grave (2002, p. 48) ensina que

[...] inseguros pelas fragilidades de sua formação (ou por causa de uma formação que não responde à realidade em que se inserem), desmotivados pelas baixas remunerações, pressionados pela concorrência de outros profissionais (aparentemente ‘mais seguros’, ‘mais legitimados’), condicionados ainda por um lastro conservador em relação aos seus papéis e atribuições – por isso e muito mais, é frequente uma atitude defensiva e pouco ousada dos assistentes sociais em face das novas demandas, o que acarreta a perda de possibilidades de ampliação do espaço profissional.

Portanto, aos assistentes sociais, cabe trabalhar na perspectiva de debater as condições atuais da realidade do mercado de trabalho, não somente em relação à sua população usuária, mas em relação à sua própria condição. É preciso pensar sobre a, cada vez maior, redução do trabalho regulamentado e legalmente protegido, substituído pelas formas flexíveis e temporárias de contra-tação, agravado pelo desemprego em massa. Essa é, conforme Grave (2002), o maior desafio para os assistentes sociais, uma vez que é um dos responsáveis pela mediação entre Estado, burguesia e classe trabalhadora quanto às polí-ticas destinadas a tratar da chamada questão social. Essa questão surge com o sistema capitalista, mas transmuta-se, ganha novos contornos nesse quadro formado pelos monopólios e pelo ideário neoliberal.

Algumas atitudes são fundamentais para que os assistentes sociais tenham condições de sucesso na atual realidade, independentemente da área ou campo de atuação. Uma dessas é o compromisso ético-político da profissão, que ultrapassa o nível normativo do Código de Ética Profissional, atingindo o campo dos valores e finalidades, o que pressupõe escolha, compromisso e responsabilidade.

Para realmente assumir o projeto ético-político, o profissional necessita optar pela oposição ao projeto societário hegemônico, o ideário neoliberal, o que significa nadar contra a corrente da história, como afirma Iamamoto citada por Sant’ana (2000). Significa, em linguagem lukacsiana, ir além da particularidade pessoal e profissional, alcançando a constituição do ser humano-genérico, ou

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seja, atingir um nível de consciência para além das percepções individuais, ultrapassando-as sem desconsiderá-las, mas evoluindo para um nível maior de consciência, a consciência da coletividade, da totalidade.

Para isso, exige-se do profissional uma postura comprometida e crítica frente aos fenômenos do mundo, o que requer coragem e determinação, qualidades de poucos, ainda mais se forem consideradas as condições materiais objetivas em que desempenham os serviços: um cenário de fragmentação das políticas públicas que esbarram nos limites institucionais. Esse cenário surge como dificul-tador de uma ação conjunta e interinstitucional necessária para o funcionamento de uma rede integrada de serviços de qualidade.

O constante aprimoramento, a formação continuada, são colaborações efetivas para a melhor compreensão da realidade, assim como a participação em fóruns, conselhos, conferências e demais canais de participação e represen-tação. São instrumentos fundamentais para a transformação dessa realidade. Profissionais teórico-metodologicamente capazes, atuantes, com influência em fóruns de debates e conselhos referentes às diversas áreas relacionadas à profissão e às políticas do setor, estão capacitados a realizar importantes conquistas.

Neste capítulo, você teve a oportunidade de conhecer o surgimento da rees-truturação produtiva e como esta se configura no cenário profissional da atua-lidade, em especial no Serviço Social. No próximo, você estudará sobre as categorias mediação e cotidiano, as quais são extremamente relevantes para a atuação consciente do profissional assistente social.

Saiba mais

Acesse o endereço eletrônico <http://www.urutagua.uem.br/010/10andra de.pdf> e leia o artigo da Revista Urutágua, intitulado Reestruturação Produ-tiva: dos novos padrões de acumulação capitalista ao novo parâmetro de políticas sociais, de autoria de Fabrício Fontes de Andrade. Esse artigo faz excelente historicização do processo de reestruturação produtiva, perpassan-do os ditames do neoliberalismo.

Referências

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.

______. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Bomtempo, 2000.

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FREIRE, Lúcia M. O Serviço Social na reestruturação produtiva: espaço, programas e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.

GRAVE, Fátima. Trabalho, desemprego e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, n. 69, ano 23, Multifaces do Trabalho, São Paulo: Cortez, mar., 2002.

SANT’ANA, Raquel Santos. O desafio da implantação do projeto ético-polí-tico do Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, n. 62, ano 21, Processo de Trabalho e Assistência Social, São Paulo: Cortez, mar., 2000.

Anotações

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As categorias cotidiano e mediação na atuação profissional do assistente social 6

Introdução

Leia o artigo O significado da Categoria Mediação no Serviço Social, de autoria de Eva Maria Bitencourt Vergara, disponível em: <http://cac-php.unio-este.br/projetos/gpps/midia/seminario1/trabalhos/Assistencia%20Social/eixo3/98evavergara.pdf>. Você se preparará para a leitura deste capítulo, ao entrar em contato com as categorias que estudaremos. Assim será fácil para você compreender a significação das categorias mediação e cotidiano, conceitos tão importantes para a atuação profissional.

O cotidiano até há pouco tempo era foco de interesse, sobretudo de artistas e escritores, que materializavam em suas obras as passagens cômicas e trágicas da vida. Poucos pensadores se interessavam em estudá-lo. Tido como espaço do acaso, do inesperado, entretanto, é campo de possibilidades infinitas, o qual, atualmente, é centro de atenção do Estado e da produção capitalista, pleno de mediações entre as práticas e suas dimensões mais profundas, inclusive, de caráter eminentemente político.

E por que o cotidiano é considerado tão importante nos dias atuais? Veja no subitem a seguir.

6.1 O Cotidiano como centro de atenção da atualidade

Existe uma relação entre prática social e vida cotidiana, especialmente se se considerar que a prática profissional do assistente social ocorre na vida de todo dia da população usuária dos serviços sociais. O dia a dia, de inte-resse de poetas, pintores, teatrólogos, romancistas ou jornalistas era captado e expresso em relação às banalidades, tragédias e comédias assim interpretadas aos olhos dos observadores externos. Essa interpretação se diferencia totalmente da vivência dos sujeitos internamente envolvidos nas situações e é, atualmente, centro de atenção do Estado e da produção capitalista.

De forma direta ou indireta, o Estado moderno gere o cotidiano, conforme o pensamento de Henri Lefebvre citado por Carvalho (2000, p. 17). Como exem-plos dessa gerência, podemos citar proibições, regulamentos e legislações ou intervenções variadas, fiscalização, aparelhos de justiça, orientação da mídia, controle de informações, entre outras formas.

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Citado por Carvalho (2000, p. 17-18), Lefebvre questiona:

O que é que escapa ao Estado? O insignificante, as minúsculas decisões nas quais se encontra e experimenta a liberdade [...]. Se é verdadeiro que o Estado deixa fora apenas o insignificante, é igualmente verdadeiro que o edifício político-burocrático sempre tem fissuras, vãos e intervalos. De um lado, a atividade admi-nistrativa se dedica a tapar esses buracos, deixando cada vez menos esperança e possibilidades ao que podemos chamar de liberdade intersticial. De outro lado, o indivíduo procura alargar estas fissuras e passar pelos vãos.

Aqui se revelam as relações de dominação e sua reprodução. Com sua gestão apoiada no cotidiano, o Estado moderno assume o papel de gerente da sociedade. Não somente para o Estado, mas para a produção capitalista, o cotidiano desperta atenção central, pois representa uma base de rentabili-dade econômica inesgotável. No cotidiano, incidem técnicas publicitárias das mais sofisticadas, com potencial de transformação radical da vida. Os meios de comunicação seduzem permanentemente as pessoas, que cada vez mais se rendem à praticidade, à magia e à ilusão das aparências, das coisas imediata-mente úteis, à beleza volátil dos lançamentos.

O homem contemporâneo consome de forma condicionante à atualidade tecnológica, o que, por consequência do processo evolutivo da produção, resulta em eliminação de mão de obra humana e das relações diretas, face a face, diariamente. Uma forma de sedução agressiva, que abre espaço para o consumo do fantástico e do ilusório a todos os indivíduos, independentemente das condições materiais em que vivam.

Assim como o mercado lança novidades em produtos, lança as facilidades de acesso por meio de créditos facilitados para a aquisição de bens (cartões de crédito, pagamentos em carnês, empréstimos consignados, consórcios etc.). Tudo para facilitar e felicitar a humanidade tem um preço no mercado. Carvalho (2000, p. 19) afirma que “toda receita pode ser encontrada no mercado para ‘curar’ qualquer mal existencial ou material do cotidiano”.

Tudo está no mercado, ofertado, acessível, de maneira que até o corpo pode ser adquirido de acordo com os padrões estéticos popularizados pela mídia, de forma muito refinada e sedutora. Por exemplo: academias, spas, produtos alta-mente sofisticados, receitas, experiências e inúmeros valores que têm a função de buscar a satisfação e a insatisfação no cotidiano. A felicidade e o sucesso têm a cara dos produtos e serviços disponíveis no mercado.

Assim Carvalho (2000, p. 20) ensina que “a vida cotidiana é, para o Estado e para as forças capitalistas, fonte de exploração e espaço a ser controlado, organizado e programado”. Dessa forma, a classe média é instituída como ponto de apoio e mediação, pois no mundo contemporâneo elas são veículo de expansão e homogeneização da vida.

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Lefebvre citado por Carvalho (2000, p. 21-22) aponta que nos estudos acerca do cotidiano, a questão política pouco aparece, como se esta não exis-tisse, e se enfatiza um otimismo cego desprovido de análise e crítica. Partindo dos estudos de Lefebvre, é possível apreender a vida cotidiana em três perspec-tivas. Veja a seguir.

Busca do real e da realidade – a vida cotidiana contém o dado prático, o vivido, a subjetividade fugitiva, as emoções, os afetos, hábitos e compor-tamentos, assim como o dado abstrato, as representações e imagens que fazem parte do real cotidiano, sem se perder no imaginário. Ou seja, é o material, o concreto e o abstrato, contidos na própria realidade.

Totalidade – a partir da ideia lukacsiana de que o todo não é igual à soma das partes, a realidade deve ser remetida às partes, que encon-tram no todo seu conceito, assim como o todo deve ser considerado nas partes. Ou seja, integrar os diferentes fatos da vida social numa totalidade.

Possibilidades da vida cotidiana enquanto motora de transformações globais – a vida cotidiana contém as possibilidades de transformação societária. É nela que estão contidas as potências revolucionárias, nas relações de poder e dominação. O foco da transformação deve ser o cotidiano vivido pelas classes e grupos sociais em opressão.

Assim, no cotidiano, podemos tanto nos intoxicar pelas aparências e imedia-ticidades, como romper ou suspender esse cotidiano, no sentido de atingir a sensação e a consciência do ser humano total, em plena relação com o humano e a humanidade de seu tempo. Na cotidianidade, o homem se põe na super-ficialidade mobilizadora de sua atenção, jogando nela todas as suas forças. Mas não toda a força, o que se confirma pelo pensamento de Carvalho (2000, p. 26) quando assevera que

[...] o homem não é só sobrevivência, só singularidade. O homem é, ao mesmo tempo, singular e genérico. Apenas na vida coti-diana, este ser genérico, co-participante do coletivo, da humani-dade, se encontra em potência, nem coletivo, nem sempre reali-zável. Na vida cotidiana só se percebe o singular.

O homem singular é o homem na consciência individual, em si, em seu entendimento da vida a partir de si mesmo, de suas necessidades e percepções. Essa categoria carrega dentro de si, em latência, em potencial, ou seja, possível de acontecer a qualquer momento, a categoria do homem genérico, materiali-zado em um outro nível de consciência, para si, de percepção e sentimento de coletividade, de humanidade. É a possibilidade de emergir ou evoluir a cons-ciência de um modo individual a um modo coletivo, de se deixar a percepção individual, até mesmo egoísta, para transcender numa nova forma de perceber o mundo e o universo.

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Essa superação, suspensão do cotidiano, elevação do indivíduo ao gênero, é um fato excepcional, experiência que a maioria da humanidade não realiza. Mas como isso se processa? Conforme Agnes Heller citada por Carvalho (2000), essa passagem ocorre quando se rompe com a cotidianidade, quando um projeto, uma obra, um ideal convoca a inteireza das forças humanas supri-mindo a heterogeneização. Há, nesse momento, uma objetivação, apontando a homogeneização como mediação necessária à suspensão da cotidianidade.

Por heterogeneização, podemos entender as separações que as aparências demonstram. Separações que de fato não existem, uma vez que todos os seres e ocorrências se encontram entrelaçados no real da vida, apontando gêneses e conse-quências relacionadas de uma forma que ultrapassa a visão linear e sistêmica. Ao desvelar essa realidade aos olhos do homem, surge a visão real homogênea, que percebe a união dos contrários, a união dos seres, situações e ocorrências insepa-ráveis em suas gêneses e consequências, assim atingindo a suspensão da cotidiani-dade, em uma forma de objetivação, materialização da percepção consciente.

Heller citada por Carvalho (2000) aponta quatro formas de suspensão da vida cotidiana (passagem do homem meramente singular ao humano genérico): o trabalho, a arte, a ciência e a moral. O autor ensina que a vida cotidiana se insere na história, se modifica e modifica as relações sociais. Mas essas modifi-cações dependem da consciência que os homens portam de sua ‘essência’ e dos valores presentes ou não ao seu desenvolvimento (CARVALHO, 2000, p. 29).

Veja agora cotidiano e mediação, pelo ponto de vista do assistente social.

6.2 A prática do assistente social em relação ao cotidiano e à mediação

Primeiramente, é importante conceituar que a vida cotidiana é questão fundamental à prática profissional dos assistentes sociais, uma vez que comporta o espaço da práxis. É nesse espaço que se consolidam, se perpetuam ou se transformam as condições de vida onde incidem as práticas profissionais. Não raro buscamos a totalidade fora da vida cotidiana, privilegiamos os espaços das relações complexas de produção e dominação e ignoramos esse palco de mediações entre o particular e o global, o singular e o coletivo.

Em segundo lugar, o assistente social é um dos agentes de mediação privi-legiado na relação entre dominados, oprimidos ou excluídos e o Estado, uma vez que o Serviço Social é uma profissão de características singulares. Carvalho (2000, p. 52) ensina que

Ela (a profissão) não atua sobre uma única necessidade humana (tal qual o dentista, o médico, o pedagogo...) nem tampouco se destina a todos os homens de uma sociedade, sem distinção de renda ou classe. Sua especificidade está no fato de atuar sobre todas as necessidades humanas de uma dada classe social, ou seja,

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aquela formada pelos subalternos, pauperizados ou excluídos dos bens, serviços e riquezas dessa mesma sociedade.

Por isso os profissionais de Serviço Social atuam na trama das relações de conquista e apropriação de serviços e poder da população usuária e é por isso também que se pode mencionar a categoria mediação. Mediação se refere a uma categoria da práxis presente na prática profissional, com dimensões profundas e caráter eminentemente político.

Jean Paul Sartre citado por Carvalho (2000, p. 52) equipara o termo mediação à passagem. A mediação, portanto, diz respeito aos processos de passagem: une as partes da totalidade como atributos do movimento. Guiomar de Mello citada por Carvalho (2000) afirma que a mediação se refere aos processos que existem na realidade objetiva, estando presentes nas relações entre as partes, forças e fenômenos de uma totalidade.

Esses processos, extremamente dinâmicos, não apresentam um momento específico da mediação, mas o movimento, os atributos destes, que, uma vez abstraídos, têm a possibilidade de ser sintetizados sob o termo mediação. Mello citado por Carvalho (2000, p. 52) afirma que

O movimento se realiza por mediações que fazem a passagem. A mediação exige o afastamento de oposições irredutíveis e sem sínteses superadoras, o que não significa a negação e ausência de contradições; ao contrário, é preciso compreender que forças e relações contraditórias existem e coexistem no processo, na totalidade, produzindo o movimento.

O Serviço Social apresenta as mediações existentes na prática profissional em dois níveis: 1) passagem da exclusão (não-uso de bens e serviços sociais) para a inclusão (usufruto efetivo); e 2) apreensão das relações e determinações existentes entre o singular e o genérico, pela via da consciência. Passagem do singular ao coletivo. É na mediação que os assistentes sociais trabalham as dimensões contraditórias da população usuária: a dimensão de usuário dos serviços sociais e a dimensão da satisfação das suas necessidades. Assim o assistente social trabalha na perspectiva de realizar a mediação que busca a passagem gradativa da figura de usuário para a de cidadão.

Quanto à mediação, Reinaldo Pontes (2002), citando Netto, aponta a tríade universalidade-particularidade-singularidade, como compreensão dialética da realidade da vida cotidiana. A particularidade tem papel dialeticamente central no processo do conhecimento, por se constituir como campo de mediações. A singularidade é o campo em que se ocultam as essências. É o campo do imediato, do em-si, das coisas fortuitas e rotineiras, as quais emergem despidas de determinações históricas.

É necessário ultrapassar a singularidade para se conhecer a essência da realidade das aparências. Parte-se da aparência, que é a essência que aparece,

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para a busca da apreensão de determinantes ontológicas dos processos sociais. Não é nada além ou transcendente ao próprio ser, mas trata-se de uma captação a partir dos próprios fatos, dos sinais do seu automovimento, das mediações com o campo da universalidade.

É nesse campo, da universalidade, que se colocam as determinações gerais de uma formação histórica, como totalidade social e não somente partes autô-nomas e independentes. A realidade pode ser mais ou menos que a soma das partes, é a própria transitoriedade ou transbordamento das partes com o todo, do todo com as partes e das partes entre si e com o todo. Ontologicamente, a separação entre singularidade e universalidade não existe, sendo ambas compo-nentes da totalidade. Lukács citado por Pontes (2002, p. 86) assevera que

A ciência autêntica extrai da própria realidade as condições estruturais e suas transformações históricas e, se formula leis, estas abraçam a universalidade do processo, mas de um modo tal que deste conjunto de leis pode-se retornar – ainda que frequen-temente através de muitas mediações – aos fatos singulares da vida. É precisamente esta dialética concretamente realizada de universal, particular e singular.

Aí está a articulação entre a tríade antes citada. As mediações são condutos de passagens e conversões entre as várias instâncias da totalidade. A particula-ridade é um campo de mediações onde o universal se singulariza e o singular se universaliza. A elevada universalidade traduz o papel articulador imprescindível da mediação nos processos sociais.

Assim sendo, a direção social que os assistentes sociais dão à sua prática, é uma questão fundamental. Há um posicionamento hegemônico da categoria profissional no sentido de revolucionar radicalmente a realidade brasileira, visando a suprimir a opressão e a desigualdade. Para isso, é preciso considerar a direção social impressa também na sociedade capitalista transnacional, forte-mente penetrante no universo cotidiano brasileiro, na forma de sedução cons-tante do progresso, do possuir e usufruir bens materiais que “encarnam” o dia a dia, ameaçando tomar outras direções possíveis pelos poderosos instrumentos configurados na informação e na informática.

Carvalho (2000, p. 56) afirma que é

[...] preciso pensarmos de forma mais clara e menos leviana a direção social de nossa prática. Não só porque trabalhamos espe-cialmente na mediação dominados/dominantes, mas também porque parece que a leitura da realidade complexa que vivemos hoje e o avenir são tarefas difíceis, assim como a escolha dos processos e das estratégias de ação.

Os esforços e a seriedade com que se deve pensar essa direção social da prática, deve ser coletiva, buscando envolver, inclusive, a própria população usuária nessa reflexão. Outra questão, de crescente importância na práxis

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social, é a questão da confiança social, a qual parece se deslocar do âmbito do saber teórico, ideológico, institucional, estatal, para ser creditado ao próximo, ao local, às pequenas organizações controladas pelos próprios indivíduos e que, por essa razão, aparentam escapar às manipulações maiores.

Dessa forma, a prática social dos assistentes sociais deve levar em conta o nível microssocial e rever os processos e estratégias de ação para tal nível, resgatando o trabalho competente e a articulação junto aos pequenos grupos. Essa articulação pode ser efetivada pela introdução de uma rede de relações capazes de gerar e solidificar o processo de identificação e confiança entre os que compõem a classe oprimida. Carvalho (2000, p. 57) ensina que “é a famosa relação dialética entre o singular e o coletivo, entre o micro e o macros-social. A prática não pode dicotomizar essas instâncias”.

Isso é o que Pierre Rosanvallon citado por Carvalho (2000) chama de multis-socialização, a qual é muito importante e se processa pelo pluralismo de formas e expressões de sociabilidade, descartando formas herméticas de pensar, como “serviço social = Estado = não mercantil = igualdade ou serviço privado = mercantil = lucro = desigualdade” (ROSANVALLON citado por CARVALHO, 2000, p. 58). Esse exemplo é claro ao se referir à noção de causa e efeito, no sentido de clarificar que, nem sempre o serviço social vai estar atrelado ao Estado, sendo não-mercantil e gerando igualdade, assim como não é o fato de ser um serviço não governamental, privado que garante a desigualdade.

Seguindo esse raciocínio, quando se fala em prática social, deve-se repensar o significado e a abrangência do termo, o qual tem múltiplas abrangências. Prática social, independentemente de ser desenvolvida pelo Estado ou pela iniciativa privada, institucionalizada ou não, desenvolvida por agentes profissio-nais, militantes políticos, grupos religiosos, filantrópicos, por grupos dominantes e dominados, designa prática social.

A sua origem busca sobrevivência e existência na sociedade, sendo efeti-vada por indivíduos e grupos sociais, os quais elaboram e realizam uma prática nascida das próprias possibilidades de compreender e intervir na realidade, visando a satisfazer plenamente suas necessidades e motivações.

A prática social é múltipla e apresenta sujeitos múltiplos, contendo uma intencionalidade, um dinamismo, um movimento e uma expressão do vir a ser constante na prática e no sujeito. Portanto não há um único, exclusivo vir a ser, mas um jogo de forças, interesses, motivações e intencionalidades, depen-dentes do nível de consciência e da visão de mundo dos sujeitos, assim como do contexto onde se dá esta prática, e das necessidades e possibilidades rela-cionadas aos sujeitos e à realidade em que se inserem.

Portanto as práticas sociais são diversas e têm significados diferenciados, podendo expressar sentido utilitarista, de ação restrita ao utilitário, limitado. Ou,

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igualmente, pode tomar direção oposta, mais global e aprofundada num processo de reflexão e ação dialético. Essa direção supõe uma atividade humana acima do senso comum, da prática utilitária, mas em um nível superior de consciência, expressa em uma ação criadora, transformadora, realizadora e gratificante, conforme o pensamento de Vázquez citado por Carvalho (2000, p. 59).

Dessa forma, a práxis social jamais se configura em um ato isolado e singular, mas se revela expressão do sujeito coletivo, nos termos de Goldman citado por Carvalho (2000), transindividual, como os sujeitos contidos nas famílias, grupos de amigos, grupo profissional, entre outros, que têm suas ações entre-cruzadas, constituindo a trama social global. Tanto para Goldman como para Marx, existem grupos sociais que englobam sujeitos transindividuais cujas ações têm uma configuração muito particular nas transformações sócio-históricas: são as classes sociais, as quais tanto podem ter sua práxis voltada para a transfor-mação ou para a conservação do status quo.

Nesse processo reflexivo acerca da prática profissional, práxis social, mediação, cotidiano, fica claro que a prática social dos assistentes sociais não se dá isoladamente, mas articulada às demais práticas. Esta, porém, deve procurar se articular e direcionar suas ações e seu compromisso aos grupos sociais oprimidos, pois são esses grupos os portadores em potencial do máximo de consciência em direção à transformação da realidade. A práxis social é, invariavelmente, movida pela visão de mundo do sujeito, que é representada pelo seu máximo de consciência.

Assim sendo, é imprescindível que se tenha uma direção e um entendi-mento claro sobre a prática, que jamais é neutra. O papel da prática é realizar mediação e, para isso, tem de estar ancorada em uma visão de mundo, a qual oferta um horizonte, um norte ou uma direção e as necessárias estratégias de ação, em um processo reflexivo, coletivo, consciente e criativo.

A prática social efetiva é produto invariável da ‘paixão’, pois é impossível realizar algo criador, transformador, sem acreditar, sem amar. Essa é a alavanca da ação realizadora. Acreditar e amar para agir. Ação sem transformação é ação vazia. E o vazio resseca o interior do sujeito, até reduzi-lo ao nada. O próprio nada tem um significado, pois nada é tão insignificante que não mereça um pouco de atenção. Tudo é tudo, nada é nada. Afinal, como na frase contida no Fausto, de Goethe, “de que vale o eterno criar, se a criatura em nada acabar” (GAARDER, 1995, p. 453). Pontes (2002, p. 189) chama atenção para o fato de que

[...] expressa-se a expectativa de que, para uma utilidade da presente abordagem nos arraiais do Serviço Social, para que o presente esforço não caia na vala do mero teoricismo, há que se pugnar por uma crescente qualificação teórica da formação profissional, o que não elide o enfrentamento da ingente pesquisa sobre a inexplorada riqueza subjacente à prática profissional do assistente social.

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Ou seja, para que a ação profissional cotidiana não caia no vislumbre da teoria abstrata, há que se procurar fundamentação teórica cada vez mais, porém sem eliminar a importância da riqueza escondida por trás da prática. Para que a prática não seja vazia nem a teoria seja um sonho.

Neste capítulo, você estudou sobre as categorias cotidiano e mediação no âmbito do Serviço Social e pôde verificar a importância delas para a atuação do assistente social. Você viu como é importante refletir sobre as artimanhas da vida de todos os dias e como isso pode desvalorizar o trabalho do profissional. No próximo capítulo, você estudará a categoria instrumentalidade, tema de suma importância para sua formação e posterior atuação profissional.

Saiba mais

A respeito do tema Cotidiano, leia o livro de Maria do Carmo Brant de Car-valho Falcão e José Paulo Netto. O livro, intitulado Cotidiano: conhecimento e crítica, é da Editora Cortez e aborda a categoria cotidiano de uma forma profunda e esclarecedora e, certamente, trará um melhor entendimento de tão importante conceito para a atuação do assistente social.

Referências

CARVALHO, Maria do Carmo Brant de; NETTO, José Paulo. Cotidiano: conheci-mento e crítica. São Paulo: Cortez, 2000.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

PONTES, Reinaldo Nobre. Mediação e Serviço Social: um estudo preliminar sobre a categoria teórica e sua apropriação pelo serviço social. São Paulo: Cortez, 2002.

Anotações

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A instrumentalidade na atuação profissional do assistente social 7

Introdução

Leitura do artigo A prática do assistente social: conhecimento, instrumentali-dade e intervenção profissional, de autoria de Charles Toniolo de Sousa, dispo-nível em <http://www.uepg.br/emancipacao>, da Revista Emancipação, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, ajudará você a compreender melhor este último capítulo. Ao acessar o sítio, clique em edições anteriores. edição 8 – 1.

O presente artigo aborda o tema instrumentalidade com muita propriedade, em linguagem simples e acessível. Além disso, traz uma exposição dos princi-pais instrumentos utilizados pelo Serviço Social, muito útil ao acadêmico. Assim será fácil para você conceituar e entender o significado da categoria instrumen-talidade, o que facilitará a atuação consciente do profissional, quanto à inten-cionalidade de suas ações.

Ao se falar em instrumentalidade, uma das primeiras ideias, senão a primeira que vem à cabeça, são os instrumentos utilizados pelo assistente social e a forma com que são realizados os trabalhos. Isso não está errado, pois é uma parte dos estudos acerca da categoria instrumentalidade, já que a abordagem vai muito além da realização dos atendimentos e de toda a dinâmica prática da profissão. Instrumentalidade, como será visto a seguir, é uma categoria densa, profunda e extremamente importante para a realização de uma prática socioprofissional consciente e comprometida.

7.1 A instrumentalidade do Serviço Social – iniciando o conceito

O Serviço Social se origina e se desenvolve em um contexto de processos políticos e econômicos que se referem à necessidade burguesa de gerência da questão social, que demanda um conjunto de práticas, de ramos de especiali-zação, instituições e profissões para esse gerenciamento.

Como afirma Yolanda Guerra (2000), o Serviço Social é constituído, consti-tuinte e constitutivo das relações sociais capitalistas, as quais são relações porta-doras de interesses antagônicos, incompatíveis e irreconciliáveis. E, enfatizado por Netto citado por Guerra (2000), a sociedade burguesa, com o monopólio organizando e regulando o mercado, produz e reproduz os seus agentes sociais particulares. Assim são criadas as profissões, as estruturas, as instituições, as

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políticas e as práticas de sustentação para a produção e a reprodução do sistema capitalista em seus planos e intenções.

Portanto são as necessidades das classes sociais que ditam as utilidades sociais das práticas profissionais, as quais vão se transformando por meio de mediações, até que se transfiguram em demandas profissionais. De outra forma, os espaços sócio-ocupacionais, nesse caso o do Serviço Social, são criados pelas necessidades sociais traduzidas em demandas, o que, historicamente, se dá quando o Estado passa a interferir na questão social, por meio das políticas sociais, as quais encerram uma modalidade de atendimento.

Com a complexificação da questão social e como decorrência do tratamento que o Estado lhe atribui, instituiu-se um espaço na divisão sociotécnica do trabalho para um profissional que implementasse as políticas sociais, contribuindo para a produção e reprodução material e ideológica da força de trabalho (melhor dizendo, da sua subjetividade como força de trabalho).

Historicamente, as políticas sociais são estratégias do Estado para alcançar consenso e legitimidade política, tanto pela classe capitalista quanto pela classe trabalhadora. Porém, simultaneamente, as mesmas políticas sociais são expres-sões das conquistas da classe trabalhadora, pois representam as inúmeras lutas sociais depreendidas ao longo da história.

A compreensão do contexto em que surge o Serviço Social, com sua parti-cularidade inserida na divisão sociotécnica do trabalho, contribui para entender que seu surgimento facilita a compreensão histórica do significado social da profissão e de sua instrumentalidade. Assim instrumentalidade é um conjunto de condições que a profissão cria e recria no seu exercício e que se diversifica de acordo com variáveis espaço sócio-ocupacional, nível de qualificação do profissional, projetos profissional e societário hegemônicos, correlação de forças sociais, entre outras.

Ao ser concebido como trabalho, a profissão rompe com o ideário que a associa com a racionalização da filantropia e do assistencialismo, um mero instrumento de racionalização de conflitos, da moça boazinha que ajuda aos pobres. Esse ideário se refere à gênese da profissão, que carrega consigo o que Matinelli (1989) chama de ilusão de servir, bem como Mota (1987) chama de feitiço da ajuda.

Quando o Serviço social passa a ser considerado trabalho, inserido na divisão social e técnica do trabalho, com sua inserção ligada à prestação de serviços, ocupação especializada que requer preparo intelectual e técnico, o assistente social passa a ser visto como um trabalhador, vendedor de sua força de trabalho e do conjunto de procedimentos instrumentais reconhecidos socialmente. A cons-trução da instrumentalidade do trabalho do assistente social pode ser pensada como propriedades e capacidades construídas historicamente e reconstruídas pela profissão, sendo condição histórica e social do Serviço Social.

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Assim, segundo Yolanda Guerra (2000), as propriedades ou capacidades da instrumentalidade se apresentam em três níveis. Observe a seguir.

Aspecto da funcionalidade do projeto da reforma conservadora da burguesia, ou seja, o sistema capitalista concede algumas reformas, mas conserva a essência estrutural intacta. Aqui a instrumentalidade revela um caráter de instrumento de controle, servindo à manutenção da produção material e reprodução ideológica da força de trabalho, com função interventiva no sentido de planejar, executar e avaliar no âmbito das mazelas da questão social, por meio de políticas e/ou serviços sociais. Nesse sentido, corrobora para a reprodução ideoló-gica burguesa, contribuindo na reprodução da racionalidade capita-lista, instrumental.

A peculiaridade operatória ou aspecto instrumental-operativo das respostas profissionais, ou seja, o nível de competências adquirido pela profissão frente às demandas das classes, sendo determinante para a sua legitimidade. Aqui a instrumentalidade se localiza no patamar das repostas às demandas, as quais se configuram como operativo-instru-mentais, de caráter manipulatório, com necessidade de mudar o imedia-tamente dado. Essa ação instrumental, que visa ao imediato, subordina os meios aos fins. Por seu caráter imediatista, impede que os sujeitos alcancem o atendimento das finalidades da sociedade, permanecendo no âmbito das finalidades particulares. Na imediaticidade dos fatos, na urgência de atender a finalidades imediatas, os sujeitos não superam o nível do particular, em geral por não terem como realizar escolhas que possibilitem elevar os interesse e finalidades do particular para o genérico, para o humano-genérico, permanecendo no campo da singularidade.

Mediação que permite a passagem das análises genéricas, macroscó-picas, de caráter universalista, para as singularidades da intervenção profissional em contextos, conjunturas e espaços historicamente deter-minados. Já nessa perspectiva, a instrumentalidade é vista como cate-goria ligada às três competências do assistente social, quais sejam, competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. Essas competências, mesmo ligadas aos indicativos teórico-práticos da intervenção, vinculam-se aos objetivos, finalidades e valores profissio-nais e humano-genéricos, permitindo acionar e potencializar os diversos elementos componentes da cultura da profissão.

Ao se restringir o trabalho do assistente social à dimensão instrumental, este não se diferencia das práticas e atividades voluntárias, assistemáticas, carita-tivas e/ou filantrópicas, pois a eficácia, nos padrões burgueses, dispensa a cons-ciência dos nexos processuais. Esses nexos processuais se encontram escondidos na estrutura do cotidiano, que oculta as mediações constituintes e vinculadas

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aos fenômenos, e impera a vinculação direta entre ação e pensamento, o que impede os profissionais de perceberem as mediações ocultas nas aparências imediatas dos fatos. Assim as escolhas dos profissionais se condicionam a crité-rios de utilidade e eficácia prática e imediata. Nessa perspectiva, o pensamento se transforma em meio para a ação e a razão se vincula à resolução de situa-ções imediatas e, perdendo a autonomia frente a elas, perde também seu caráter reflexivo e finalmente sua dimensão crítico-emancipatória.

Assim, até mesmo uma compreensão parcial, limitada ou equivocada do real é capaz de resultar em atos que produzam êxito em nível imediato, posto que os resultados exitosos das ações não dependem apenas de uma adequada leitura da realidade. Daí que, para a profissão, o atendimento às requisições instrumentais não basta. Isso nos permite reafirmar que a dimensão instrumental do Serviço Social é uma condição necessária, mas insuficiente do exercício profissional, posto que ela não permite aos sujeitos as escolhas que engendram a ampliação de seus espaços profissionais.

Os níveis anteriormente mencionados, referentes à instrumentalidade do Serviço Social, se sustentam por visões psicologizantes, individualizantes e mora-lizantes, de cunho disciplinar e visam a controlar e adaptar comportamentos, também forjam personalidades e formas de sociabilidade que os padrões de acumulação capitalista exigem. Essas são evidências da razão instrumental, tendências do metodologismo e do instrumentalismo profissional, que será expla-nado a seguir.

7.2 Metodologismo e instrumentalismo no Serviço Social

Tanto o metodologismo quanto o instrumentalismo são consequências da existência da razão instrumental (decorrente da racionalidade formal-abstrata e instrumental, subjetivista e manipuladora) na profissão. Essa é uma tendência empobrecedora, em que a cientificidade profissional é associada à utilização de procedimentos metodológicos corretos, como considera Netto citado por Guerra (2000), uma racionalidade manipulatória. Essa razão coloca de forma secun-dária os valores, os fins éticos e políticos e a legitimidade social da profissão.

Outra expressão dessa tendência é a concepção do referencial estratégico ou instrumental técnico, voltado diretamente para a ação. Aqui os instrumentos se voltam para atender exclusivamente a essa necessidade (a ação), não conside-rando a questão das finalidades dessa ação. Assim, no interior dessa tendência, a competência profissional fica entendida apenas como o resultado do domínio do instrumental técnico, não considerando que esse é produto da ação humana com a direção voltada para alcançar finalidades.

As duas concepções são tanto limitadas como reducionistas, representantes da ideia de ruptura entre o sujeito e o objeto. Em última instância, essas concep-

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ções resultam no que Guerra chama de deificação (endeusamento) dos instrumen-tais técnicos, o que pode ser traduzido no pensamento de que o assistente social é um profissional altamente técnico e tecnificado em sua atuação, bastando ser tecnicamente competente para ser considerado um excelente assistente social.

Se, no metodologismo, a razão e a vontade dos sujeitos (assistentes sociais) colocam as propriedades dos objetos como suas subordinadas, apenas como meios ou instrumentos, negando a sua subjetividade, o seu em si, no instru-mentalismo, ao contrário, são as propriedades dos meios e instrumentos que se elevam a tal nível de objetividade, que subordinam a razão e a vontade dos sujeitos.

Essa tendência abriga em seu interior, o entendimento de competência profissional como resultado do domínio do instrumental técnico, sendo o saber convertido em técnica.

E como a instrumentalidade pode ser mediadora? Continuaremos nossos estudos no próximo subitem.

7.3 Pensando a instrumentalidade como mediação

Podemos pensar a instrumentalidade como mediação. Em primeiro lugar, por se expressar como particularidade social e histórica da profissão de duas formas: como instrumentalidade do Serviço Social voltada para a ordem burguesa, o que é dado pela forma de inserção na divisão social e técnica do trabalho. Depois como instrumentalidade das respostas profissionais como meio de alcance dos objetivos da ordem social capitalista. Sobre esse assunto, Guerra (2000, p. 29) ensina que

A instrumentalidade é a categoria reflexiva capaz de apontar as diversas formas de inserção da profissão nos espaços sócio-ocu-pacionais e as competências e requisições profissionais, de modo a demonstrar o concreto particularizado das formas de operar da profissão, ou as ‘mediações particularizadoras que conferem existência real’ (Lessa, 1995, p. 119), à profissão em contextos e espaços sócio-históricos determinados.

O Serviço Social vem historicamente ampliando suas funções, até se colocar no âmbito dos direitos sociais, ainda que tenha surgido em um contexto de práticas psicologizantes e moralizantes. Essas práticas visavam ao controle e à adaptação dos comportamentos e personalidades à forma de sociabilidade conformada pelo padrão acumulativo do capital.

A instrumentalidade profissional serve de vetor para a transmissão de elementos progressistas, que buscam rever os fundamentos e as legitimidades. Serve também para questionar a funcionalidade e a instrumentalidade do aten-dimento profissional, para permitir a ampliação da funcionalidade e das bases em que a instrumentalidade se desenvolve.

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Assim o Serviço Social, ao se desprender das condições históricas do seu surgimento como profissão de caráter meramente operativo e manipulatório, instrumento do Estado, pode se colocar no campo dos direitos sociais e forta-lecer a democracia, a cidadania e os direitos coletivos. É no movimento histórico que a instrumentalidade do Serviço Social pode ser vista como mediação, por meio da qual se pode recuperar a ruptura construída entre os meios e a legitimi-dade dos fins, rumo à transcendência das ações e da razão.

Guerra (2000, p. 30) afirma que

A instrumentalidade do Serviço Social como mediação é o espaço para se pensar nos valores subjacentes às ações, no nível e na direção das respostas que estamos dando e pelas quais a profissão é reconhecida ou questionada socialmente. É pela instrumentalidade que passam as decisões alternativas concretas, de indivíduos concretos, em situações concretas. E por isso nela residem as possibilidades da passagem do ser em si dos homens – já que todo fim é sempre particular – para sua genericidade, para os valores e as finalidades humano-genéricas.

As finalidades da profissão só podem ser pensadas no interior do quadro valorativo em que se inscrevem. Esse quadro é entendido como acervo cultural de que dispõe o profissional e que o orienta em suas escolhas teóricas, metodoló-gicas, éticas e políticas, as quais implicam projetar as consequências e os meios e instrumentos de sua realização. Os componentes críticos e progressistas da cultura profissional são escolhidos, identificados, construídos e reconstruídos no âmbito da instrumentalidade e deles depende a recuperação da unidade entre meios e fins, assim como a preocupação com os valores democráticos.

A instrumentalidade é a categoria operativa que permite a ultrapassagem do campo do imediato e possibilita as conexões com o mediato, ou seja, permite estabelecer vínculos com o projeto ético-político da profissão, ‘em defesa dos direitos sociais e das políticas públicas’. Assim as alterações ocorridas no mundo do trabalho, na esfera estatal, nas políticas públicas sociais, no próprio perfil dos trabalhadores, dão origem ao estabelecimento de novas mediações expressas nas condições materiais e espirituais, sobre as quais a instrumentalidade profis-sional é desenvolvida e dá condições de ser das respostas profissionais.

Essas mudanças todas resultam em uma realidade social jamais vista, a qual nunca foi tão propícia ao individualismo e à razão instrumental. O neoliberalismo é alimentado pelo individualismo, assim como dele decorrem as perdas viven-ciadas pela classe trabalhadora (GUERRA, 2002). Como razão instrumental, podemos entender a instauração de relações sociais com base em cálculos racio-nais e racionialidade manipuladora, a qual rompe com as formas do agir demo-crático, assim como com escolhas e finalidades de ideais coletivos.

É na perspectiva denominada por José Paulo Netto de “intenção de ruptura” que está a possibilidade de compreensão e resgate da dimensão emancipa-

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dora da instrumentalidade do fazer profissional e sua vinculação com os inte-resses da classe trabalhadora. Essa “intenção” faz do assistente social, muito além de um técnico, um protagonista do reconhecimento do seu papel social, político e profissional, efetivamente atento para as implicações éticas e polí-ticas do seu agir.

Claro está que a passagem da intenção para a ação e os resultados demanda, primeiramente, um agir instrumental. Porém ele jamais deve ser enten-dido como um fim em si mesmo, independentemente dos valores portados. Daí decorre a necessidade de uma razão que estabeleça a correção dos meios e a legitimidade dos fins. Dessa forma, é premente que a categoria profissional resgate o que da razão substantiva ainda não foi realizado, o que se entende por dimensão emancipatória com capacidade de preservação das conquistas sociais históricas em relação aos valores sociais essenciais dos sujeitos.

Neste capítulo final, apresentamos a importância da intencionalidade contida na atuação dos profissionais. Você viu que, muito além de instrumentos, a instrumentalidade carrega a conotação da direção profissional dada à sua materialização, e o quanto isso determina o posicionamento dos profissionais e as ações por eles desenvolvidas. Esperamos que, ao final de mais uma disciplina que antecede o momento da sua inserção no campo de estágio, você possa real-mente internalizar os valores contidos nos conceitos trabalhados e que, assim, possamos contribuir não somente para o seu sucesso profissional, mas para o seu crescimento pessoal e humano.

Saiba mais

Leia o artigo de Yolanda Guerra, intitulado A instrumentalidade no trabalho do assistente social, disponível em <http://www.cress-mg.org.br>. Esse ar-tigo faz toda uma revisão do que foi abordado neste caderno. Essa autora é referência no estudo dessa categoria.

Referências

GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2002.

______. Instrumentalidade do processo de trabalho e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, n. 62, ano 21, Processo de Trabalho e Assistência Social, São Paulo: Cortez, mar., 2000.

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Anotações